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Oncologia – Problema 4 fechamento 1 ao esôfago de Barrett, submetidos à esofagectomia, a

extensão média do epitélio colunar no esôfago foi de 7,7


cm.
Objetivo 1: CA de esôfago Muitos fatores são apontados na etiologia, entre eles:
(1) refluxo gastroesofágico e epitélio de Barrett, em
O câncer do esôfago constitui a sexta maior causa de
adenocarcinomas; (2) baixo consumo de frutas e
morte por câncer no mundo. Em geral, as taxas de
vegetais, com deficiência de vitaminas A, B e C; (3) nos
câncer de esôfago têm se mantido estáveis nos muitos
países com alta incidência, muitas vezes os alimentos
anos, mas na última década tiveram um ligeiro
estão contaminados com Aspergillus ou contêm
decréscimo. O adenocarcinoma é o tipo mais frequente
quantidade elevada de nitrosaminas ou seus
de câncer de esôfago entre pessoas brancas, enquanto o
precursores; (4) relação entre o hábito de fumar e o
carcinoma espinocelular é mais comum em pessoas
consumo de álcool com a prevalência do câncer do
de raça preta.
esôfago. Há a suspeita da ação de acetaldeídos contidos
É mais frequente no sexo masculino - 3 a 5:1. O Instituto no leite fermentado; (5) o hábito de ingerir alimentos
Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do muito quentes, particularmente chá; (6) são conhecidos
triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no casos familiares em até três gerações sucessivas. A
Brasil 11.390 novos casos de câncer de esôfago (8.690 associação de câncer do esôfago com doença celíaca ou
em homens e 2.700 em mulheres). Esses valores com tilose (hiperceratose palmar e plantar) sugere a
correspondem a um risco estimado de 8,32 casos novos existência de fatores genéticos. Cerca de 95% dos
a cada 100 mil homens e 2,49 para cada 100 mil pacientes com tilose desenvolvem câncer do esôfago
mulheres. por volta de 65 anos de idade. É também conhecida a
relação de câncer do esôfago com a síndrome de
Plummer-Vinson; (7) estreitamentos, megaesôfago e
Fatores de risco divertículos; (8) suspeita-se que certos tipos do vírus do
As principais afecções predisponentes são o papiloma humano (HPV) tenham papel na carcinogênese
megaesôfago, a estenose cáustica e, mais raramente, a esofágica.
tilose, síndrome de Plummer-Vinson e os divertículos Análises citométricas, citogenéticas e imuno-
esofágicos. histoquímicas de carcinomas de células escamosas e de
O megaesôfago determina estase esofágica, fator adenocarcinomas do esôfago distal e da cárdia, a
provavelmente determinante do aparecimento de maioria originada no esôfago de Barrett, mostram: (1)
neoplasia. O aumento da concentração de nitritos, anomalias cromossômicas representadas por rearranjos
decorrente da presença de maior concentração de múltiplos e complexos, principalmente nos
bactérias redutoras de nitrato na luz esofágica (devido à cromossomos 1p, 3q e 22p, em especial nos dois
estase), poderia corroborar essa hipótese. últimos; alterações numéricas, como perda dos
cromossomos 4, 18, 21 e Y, esta última em 31% dos
Outra afecção predisponente é a estenose cáustica do tumores em homens; são também frequentes ganhos e
esôfago, especialmente nos doentes tratados de forma perdas nos cromossomos 14 e 20; (2) mutações no gene
prolongada por dilatação endoscópica. TP53, que podem ser precoces no desenvolvimento da
Dois fatores classicamente vêm sendo relacionados ao neoplasia. Anormalidades na p53 são vistas à imuno-
aumento de incidência do adenocarcinoma do esôfago: histoquímica em biópsias de esôfago de Barrett (23%),
obesidade e a doença do refluxo gastroesofágico. Em em áreas adjacentes do tumor e em adenocarcinomas
um estudo recente, cogita-se a possibilidade da ação de (83%); (3) amplificação do gene da ciclina D1 em
nitratos ingeridos nos alimentos estimular a mutagênese esôfago de Barrett, adenocarcinoma e carcinoma de
de células da cárdia, propiciando o aparecimento de células escamosas; (4) baixa expressão de p16 (inibidor
adenocarcinoma. Esse estudo demonstrou que a de CDK), por perda alélica ou hipermetilação no gene.
concentração de óxido nítrico, após ingestão de nitratos,
é maior na cárdia em relação ao esôfago e ao estômago. Histopatologia
O esôfago de Barrett, que consiste na substituição do
O esôfago é dividido em três regiões: superior ou
epitélio esofágico por outro do tipo colunar, decorrente
cervical, média ou torácica e inferior. A inferior é
da ação prolongada de refluxo gastroesofágico, é
constituída pelas porções supradiafragmática e
considerado fator predisponente ao adenocarcinoma do
infradiafragmática, esta incluindo a junção
esôfago.
esofagogástrica. Nas regiões cervical e próximo da
Quanto maior a extensão do epitélio colunar ao longo do junção esofagogástrica, existem os esfíncteres superior e
esôfago, maior tem sido considerado o risco relativo da inferior.
ocorrência de neoplasia. Varia de 1,0, quando a extensão
Histologicamente, o órgão é formado por quatro
do epitélio é menor que 3, até 3,7 cm, quando maior que
camadas: mucosa, submucosa, muscular e adventícia. A
10 cm. Em 12 pacientes com adenocarcinoma associado
mucosa é revestida por epitélio estratificado
pavimentoso não ceratinizado, que se apoia em lâmina Carcinoma de células escamosas
própria formada por tecido conjuntivo frouxo, rico em Em muitos países, o carcinoma de células escamosas é
vasos e que emite papilas que penetram até cerca de um ainda o tipo mais comum de câncer do esôfago, embora
terço da espessura do epitélio. nas últimas décadas a incidência de adenocarcinoma
tenha aumentado mais rapidamente. No Brasil, em 60 a
70% dos casos tumor localiza-se nas regiões distal e
média do esôfago. Mais comum em homens (4 a 6:1), o
tumor aparece especialmente depois de 55 anos de
idade.
Carcinoma do terço superior é cerca de 10 vezes mais
comum em mulheres, principalmente entre 40 e 50 anos
e em portadoras da síndrome de Plummer-Vinson.
A maioria dos carcinomas do esôfago (cerca de 60%) são
polipóides (crescimento exofítico). Dos de crescimento
endofítico, cerca de 15% infiltram a parede causando
estenose (diminuição da luz) através de reação
desmoplásica. Os outros 25% destroem a camada
Mucosa esofágica constituída por epitélio escamoso, muscular levando a atonia e dilatação da luz. A grande
lâmina própria (LP) e feixes da muscular da mucosa maioria dos carcinomas do esôfago são histologicamente
(MM). Notar epitélio de revestimento com camada basal do tipo epidermóide, pois o epitélio de revestimento
(seta) e diferenciação escamosa. A lâmina própria onde se originam é plano estratificado não-corneificado.
contém tecido conjuntivo frouxo rico em pequenos Cerca de metade localizam-se no terço médio, com o
vasos. restante distribuído mais ou menos igualmente nos
terços superior e inferior. A mortalidade é
Neoplasias benignas
desproporcionalmente alta, devido à localização
Tumores esofágicos benignos são raros, sendo
mediastinal do esôfago, o que propicia a invasão precoce
leiomioma e papiloma escamoso os menos raros. Em
de estruturas nobres e torna a ressecção cirúrgica
geral, tais tumores têm crescimento intramural ou
completa difícil ou impossível.
intraluminal e somente pequeno número apresenta
crescimento extramural.
O leiomioma é mais comum entre a terceira e a quinta
décadas, sem predomínio por gênero, estando 80%
localizado no terço médio e inferior do órgão. O tumor
origina-se sobretudo na camada muscular interna e pode
ser múltiplo. Frequentemente, é assintomático; quando
volumoso, pode provocar disfagia. No esôfago, outros
tumores mesenquimais são raros.
O papiloma escamoso, geralmente solitário e pequeno, é
lesão polipoide constituída por delicado eixo conjuntivo
revestido por epitélio escamoso. A maioria ocorre na
região distal do órgão e não recidiva quando removida.
O tumor é mais comum em homens do que em mulheres
(1,8:1), com idade média de 50 anos. O aspecto
morfológico e o encontro de DNA de HPV em alguns
casos levantam a possibilidade de que a lesão pode ser
decorrente da infecção por esse vírus.

Neoplasia maligna
As neoplasias malignas no esôfago são muito mais
comuns do que as benignas. Como a maioria dos
pacientes permanece assintomática por longo tempo,
em geral as lesões são diagnosticadas tardiamente. A
maioria dos casos continua sendo descoberta após o
aparecimento de complicações da doença, com estenose
da luz e disfagia, além de sua disseminação. Por essa
razão, a mortalidade por carcinoma do esôfago continua
elevada.
No início, a lesão apresenta-se como discreta elevação
da mucosa, irregular, às vezes ulcerada, que
corresponde a displasia ou a carcinoma inicial do
esôfago, o qual pode corresponder a carcinoma in situ
ou a carcinoma minimamente invasivo. Este infiltra-se
apenas na lâmina própria (carcinoma intramucoso) ou na
mucosa e na submucosa; tais lesões têm sido
diagnosticadas com frequência cada vez maior pelos
endoscopistas.
No carcinoma avançado, o tumor tem os seguintes
aspectos: (1) ulcerado, formado por lesão de bordas
elevadas, irregulares e endurecidas, com escavação
central anfractuosa. Pode causar hemorragia e,
raramente, perfuração; (2) anular, com crescimento
predominantemente infiltrativo e em anel, ao longo da
Carcinoma de células escamosas infiltrante e ulcerado
circunferência do órgão, provocando disfagia
no terço inferior do esôfago.
progressiva; (3) vegetante, que cresce para a luz do
órgão, em geral como massa sólida, lobulada e, às vezes, O aspecto histológico do tumor é de carcinoma de
de aspecto nodular; (4) infiltrante difuso, com tendência células escamosas ou carcinoma epidermoide,
de crescimento predominantemente infiltrativo na geralmente bem ou moderadamente diferenciado. Às
parede do órgão, menos localizado do que o tipo anular. vezes, a neoplasia contém estruturas glandulares
Nos casos avançados, o crescimento infiltrativo confere atípicas; quando em grande número, o tumor é
aspecto de tubo rígido a grandes segmentos do esôfago denominado carcinoma adenoescamoso. Na região
e provoca deformidades no órgão. limítrofe com a mucosa normal ou em áreas separadas
da neoplasia, podem ser encontradas áreas de displasia
ou de carcinoma in situ.

Displasia do epitélio escamoso do esôfago apresentando


evidente alteração da diferenciação escamosa.

Aspecto histológico do tumor mostrado em B, que é


formado por massas de células escamosas com
ceratinização.

Adenocarcinoma
Como o adenocarcinoma tem aspectos demográficos
semelhantes aos do carcinoma de células escamosas
(predomínio em homens brancos e acima de 65 anos de
idade), acredita-se que tenha alguns fatores de risco em
comum este. Esôfago de Barrett associado a esofagite
de refluxo é a principal condição de risco para
adenocarcinoma do esôfago. Nesses casos, encontram-
se, no mesmo paciente, epitélio de Barrett, displasia e
adenocarcinoma, indicando a sequência evolutiva da
lesão. Pacientes com esôfago de Barrett têm risco muito
maior de desenvolver adenocarcinoma de esôfago do
que a população em geral. Apesar do risco elevado, a
maioria dos pacientes com esôfago de Barrett não morre
por câncer esofágico.
Entre outros fatores de risco, incluem-se tabagismo e
obesidade. Em grande número de adenocarcinomas do
esôfago, contudo, não se identifica qualquer lesão
precursora nem os pacientes têm história pregressa de
doença de refluxo gastroesofágico.
Adenocarcinoma do esôfago é predominantemente
ulcerado ou infiltrativo e em geral encontra-se em Aspecto histológico do tumor mostrado em A, que é
estágio avançado no momento do diagnóstico. A lesão constituído por glândulas atípicas revestidas por células
tem tamanho variado e invade todas as camadas do mucossecretoras.
órgão e, algumas vezes, com extensão ao estômago.
Quando se origina no esôfago de Barrett, o tumor é
geralmente multicêntrico, formando nódulos múltiplos.
Adenocarcinoma ou carcinoma da junção Manifestações clínicas
esofagogástrica pode ter três modos de crescimento:
Em grande número de pacientes, o câncer do esôfago
intraesofágico, intragástrico ou juncional. Quando muito
tem evolução silenciosa, sem manifestações clínicas por
avançado, é difícil afirmar se o tumor originou- no
muito tempo; quando diagnosticado, geralmente
esôfago ou no estômago.
apresenta-se em fase avançada. As manifestações
Histologicamente, o adenocarcinoma é formado por clínicas principais são dor, disfagia progressiva, vômitos,
glândulas atípicas (bem ou moderadamente hemorragia digestiva e perda de peso.
diferenciado), às vezes constituídas por células
A disfagia é o sintoma mais frequente, sendo referida
polarizadas e mucossecretoras; raramente, o tumor tem
geralmente no mesmo nível da localização do tumor.
células do tipo anel de sinete.
Decorre habitualmente do caráter obstrutivo da lesão,
surgindo geralmente quando já há comprometimento de
mais de 50% da luz esofágica. Tem por característica ser
rapidamente progressiva com perda rápida de peso,
odinofagia e regurgitação.
A hematêmese, melena ou anemia, decorrentes do
sangramento da lesão, são raras no CEC e mais
frequentes no adenocarcinoma.
Fases mais avançadas da doença podem propiciar
manifestações decorrentes do comprometimento de
estruturas adjacentes como tosse com expectoração
produtiva (fístula esofagobrônquica e/ou aspiração),
dor torácica e rouquidão (invasão de nervos laríngeo
recorrentes com paralisia de pregas vocais).
A disseminação pode ocorrer por: contiguidade
(estruturas adjacentes), continuidade, via linfática e
hematogênica. A possibilidade, não rara, de
disseminação por metástase intramural submucosa,
pode ter forte implicação na decisão cirúrgica,
especialmente quanto à margem de segurança nas
Adenocarcino esofagectomias.
ma em esôfago de Barrett invadindo o fundo gástrico. As metástases, por via hematogênica, ocorrem
principalmente no fígado, pulmão, suprarrenal e ossos.
A disseminação linfonodal pode ocorrer para cadeias
cervicais, torácicas e abdominais, independentemente
da topografia do tumor. Entretanto, existem cadeias
onde a disseminação é preferencial.
A drenagem linfática é feita para linfonodos ao longo do
seu trajeto. Os principais grupos são linfonodos cervicais
e paratraqueais (esôfago superior), hilomediastinais,
paraesofágicos e para-aórticos (região torácica),
paracárdicos, da pequena curvatura do estômago e
celíacos.

Diagnóstico
Radiografia
O objetivo desse exame é estabelecer o diagnóstico,
localização e avaliar a extensão do tumor. Permite ainda
estudar a morfologia gastroduodenal, importante para o
planejamento cirúrgico. A identificação do desvio do eixo
esofágico, determinado pelas fixações de alguns tumores
avançados, pode ser de utilidade para a indicação de
alguns procedimentos de tratamento paliativo como a
colocação de próteses. Em fases mais avançadas da
doença, pode-se identificar a fístula traqueoesofágica
com passagem de contraste para as vias aéreas.
A técnica de duplo contraste, com distensão gasosa Rastreamento
associada à substância baritada, permite maior Grandes populações com elevada incidência ou grupos
refinamento da imagem, evidenciando-se lesões de até 5 de risco podem ser submetidos a métodos de
mm. rastreamento. Os principais métodos utilizados são a
citologia esfoliativa por abrasão e a cromoscopia com
Estudo endoscópico com biópsia biópsia.
Está indicado em todos os casos, pois permite a
visualização direta da lesão e aquisição de biópsias que A citologia esfoliativa é realizada pela passagem de
permitem o diagnóstico histológico. Em lesões balões ou sondas com esponjas, que permitem recolher
estenosantes do órgão, a dificuldade na obtenção da células descamadas da parede esofágica. É um método
biópsia pode ser contornada com a dilatação de boa especificidade (81 a 92%), porém de baixa
endoscópica progressiva da lesão, ou mais raramente, a sensibilidade (24 a 47%).
realização de citologia esfoliativa. Em grupos especiais de risco como: fumantes e etilistas
do sexo masculino com mais de 50 anos, pacientes com
afecções predisponentes (megaesôfago, estenose
cáustica e esôfago de Barrett), e pacientes com
antecedente ou presença de tumores de cabeça e
pescoço, emprega-se com periodicidade a endoscopia
com uso de corantes.

Estadiamento
Os métodos empregados para o estadiamento buscam
verificar a: profundidade de invasão do tumor na parede
esofágica (T); disseminação linfonodal (N) e a ocorrência
de metástases à distância (M).

Tomografia computadorizada
É o principal método de estadiamento do câncer do
esôfago. Deve compreender avaliação das regiões:
cervical, torácica e abdominal superior, estendendo-se
para o abdome total nos adenocarcinomas.
Seu principal objetivo é avaliar a lesão e suas
correlações com estruturas adjacentes. A suspeita de
invasão traqueobrônquica é baseada no deslocamento Tratamento paliativo
ou distorção da parede posterior da traqueia ou dos 1. Tumores de terço superior e médio
brônquios. Os sinais de invasão da aorta são a perda do
plano gorduroso triangular entre o esôfago, aorta e Nesse grupo de pacientes, quando se detecta a
coluna vertebral (acurácia de 90%), ou ainda, ângulo de irressecabilidade, quer pela ocorrência à tomografia de
contato do tumor para a aorta maior que 90 graus em grande massa tumoral, quer pela invasão da árvore
duas imagens sucessivas (acurácia de 80%). respiratória identificada à broncoscopia, as opções de
tratamento são escassas. Assim, a radioterapia
Ainda, a tomografia tem importante papel na detecção associada a uma via de acesso nutricional (sonda naso
das lesões metastáticas nos principais órgãos de enteral, gastrostomia ou jejunostomia) é o
disseminação da doença (fígado pulmões e procedimento mais empregado, associado à
suprarrenais). Não há vantagem na utilização da quimioterapia sistêmica. Esse procedimento está
ressonância magnética sobre a tomografia contraindicado quando há invasão franca da traqueia,
computadorizada para o estadiamento do câncer do sendo nessas circunstâncias indicada apenas a
esôfago. gastrostomia definitiva.
Laringotraqueobroncoscopia 2. Tumores de terço inferior e junção esofagogástrica
Esse exame deve ser realizado especialmente nos
Nesse grupo de pacientes as opções de tratamento são
tumores proximais e médios torácicos, com o objetivo de
maiores, e nessas circunstâncias pode-se tentar separar
detectar e comprovar histologicamente a invasão da
dois subgrupos de pacientes: aqueles com doença
árvore traqueobrônquica ou a fistulização. É o único
apenas locorregional avançada, que não permitem a
método capaz de visualizar a infiltração tumoral e
ressecção cirúrgica, porém, em razoáveis condições
permitir biópsias. Quando há abaulamento móvel da via
clínicas; daqueles com piores condições clínicas,
respiratória a possibilidade de ressecção é de 91%,
caquéticos e doença sistêmica.
entretanto quando ocorre abaulamento fixo, desvio do
eixo ou invasão a ressecabilidade é nula. No primeiro grupo é indicada, habitualmente, a cirurgia
de derivação com a confecção de tubo gástrico iso-
Ultrassonografia endoscópica peristáltico de grande curvatura. Esse procedimento
É atualmente o método mais eficaz para definir a permite a ingesta oral precoce do paciente e ainda
profundidade da lesão (T) (acurácia de 85%) sendo favorece o tratamento complementar com quimio e
especialmente útil para as lesões restritas à parede do radioterapia no esôfago excluído do trânsito alimentar.
órgão, capaz de distinguir infiltrações intramucosas das
submucosas, que são tratadas de forma diferenciada. No segundo grupo, procedimentos menos invasivos são
mais indicados, e nesse contexto a tunelização esofágica
Tomografia por emissão de pósitrons com prótese autoexpansível de colocação endoscópica
Esse exame permite o estudo funcional de lesões ou tem sido procedimento de escolha.
imagens suspeitas, visualizadas em métodos
convencionais de imagem (por exemplo, tomografia ou Ressecação
ressonância magnética) bem como a visualização de Como regra geral, todos os cânceres de esôfago
nódulos ou metástases a distância. A sua associação com estágios 0, I e II são potencialmente ressecáveis. A
a tomografia (em inglês, PET-CT) pode refinar o maioria dos cânceres estágio III é potencialmente
estadiamento dos tumores do aparelho digestivo. ressecável, mesmo quando se espalharam para os
nódulos linfáticos próximos, desde que o câncer não está
Estudo demonstra acurácia elevada (83%) desse método invadindo a traqueia, aorta, coluna vertebral ou outras
para o câncer do esôfago, entretanto, o elevado custo estruturas próximas importantes. Infelizmente, muitos
ainda impede a utilização rotineira do mesmo. pacientes cuja doença é potencialmente ressecável não
podem fazer a cirurgia por outras condições clínicas.
Tratamento Os tumores que invadiram essas estruturas ou se
espalharam para os linfonodos distantes ou outros
A melhor modalidade de tratamento com intenção órgãos são considerados irressecáveis.
curativa no câncer epidermoide do esôfago e no
adenocarcinoma da junção esofagogástrica é a Esofagectomia radical com
ressecção cirúrgica sem doença residual (também linfadenectomia
chamada R0). Apesar desses tumores ocorrerem em Havendo condições clínica e de estadiamento que
pacientes com características clínicas diferentes, ou seja, permitam um tratamento radical, a esofagectomia com
desnutridos no primeiro caso e com sobrepeso ou linfadenectomia é a melhor opção visando à cura da
obesos no segundo, ambos são diagnosticados em doença. Esse procedimento varia conforme a localização
estádios avançados da doença. Dessa forma, na maior topográfica da lesão.
parte das vezes, o tratamento é paliativo e a
ressecabilidade cirúrgica é baixa. Assim, lesões do esôfago cervical demandam a
esofagectomia total, mais raramente podendo estar
acompanhada de outros órgãos (faringe e/ou laringe) e A bactéria localiza-se na intimidade da camada de muco
cadeias linfonodais cervicais e torácicas. Dessa forma, o gástrico ou aderida à superfície do epitélio de
acesso torácico (toracotomia ou toracoscopia direita) e o revestimento, não penetrando na mucosa.
cervical, com a dissecção em “colar” para a remoção de
A capacidade de sobrevivência da H. pylori em ambiente
cadeias linfonodais até as fossas supraclaviculares
tão ácido como o fornecido pelo estômago,
bilaterais, são os indicados.
característica singular desta bactéria, deve-se a excreção
Nas lesões do esôfago torácico, aplica-se a chamada de amônia que a protege neutralizando parcialmente
esofagectomia com linfadenectomia de “3 campos”, esta acidez. Esta excreção dá-se pela ação da urease,
onde pretende-se a dissecção de linfonodos em nível produzida pela bactéria, que converte a ureia em
cervical torácico e abdominal. amônia e CO2.

Tratamento complementar A sua adesão ao muco e as células epiteliais dá-se pela


1. Quimioterapia e radioterapia produção de adesinas. A produção da amônia e a
liberação, com a consequente ação de proteases,
80% dos pacientes com câncer de esôfago apresentam catalases e fosfolipases da H. pylori são responsáveis
doença localmente avançada ou à distância no pela ação agressora às células epiteliais gástricas e
diagnóstico. Nesse contexto, a radioterapia e a utilizadas para a caracterização laboratorial, pois estas
quimioterapia são modalidades de tratamento bactérias são positivas para teste de oxidase e catalase.
importantes, podendo ser utilizadas de forma exclusiva
ou combinada. O microorganismo apresenta um papel significativo na
patogênese de um largo espectro de afecções em
Radioterapia exclusiva crianças e em adultos, como gastrite crônica, úlceras
No tratamento da doença localmente avançada, a pépticas gástrica e duodenal, adenocarcinoma, linfoma
radioterapia exclusiva tem sido cada vez menos utilizada, gástrico e dor abdominal recorrente.
pois há grande evidência de que o tratamento
combinado, consistindo de irradiação e quimioterapia, é
superior à radioterapia isolada. Em geral, a irradiação
Quadro Clínico da H. pylori
isolada como tratamento primário é reservada a Após a infecção primária, a gastrite é uma consequência
pacientes sem condições clínicas para receber o presente em quase todos os indivíduos infectados,
tratamento combinado. apesar de muitos hospedeiros permanecerem
Quimioterapia e radioterapia exclusivas assintomáticos. No entanto, cerca de 50% poderão
apresentar sintomas de gastrite aguda, tais como
A quimio-radioterapia concomitante permite maior náuseas, vômitos, digestão difícil e demorada. A
controle tumoral, devido ao efeito aditivo persistência pode causar sérios danos à mucosa gástrica,
radiosensibilizador e controle de micrometástases por podendo evoluir para gastrite atrófica, atrofia gástrica e
parte da quimioterapia. metaplasia.
A esofagectomia é a principal modalidade de tratamento Caracteriza-se pelo aumento transitório de secreção
do câncer do esôfago e a linfadenectomia de 3 campos a ácida e hipocloridria, sendo precursora para o
que melhor realiza a ressecção linfonodal e que confere desenvolvimento de uma gastrite crônica ativa, com
a maior probabilidade de sobrevivência. Está denso infiltrado celular na mucosa, que devido à
contraindicada em doença avançada e pode ser realizada persistência pode causar sérios danos à mucosa gástrica,
por toracoscopia com maior conforto pós-operatório. A podendo evoluir para gastrite atrófica, atrofia gástrica,
esofagectomia trans-hiatal é particularmente útil nos metaplasia.
tumores restritos à mucosa, nos pacientes de alto risco e
nos tumores da JEG. No Brasil, o H. pylori é responsável por cerca de 80% dos
casos de gastrite crônica. As lesões caracterizam-se por
graus variáveis de inflamação, atividade (e formação de
Objetivo 2: Helicobacter pylori folículos linfoides – 50% dos casos), aumento da
proliferação celular (que volta ao normal após
A infecção pela bactéria Helicobacter pylori é erradicação do microrganismo), alterações
considerada a principal causa de gastrite crônica ativa e degenerativas, edema, hiperemia e erosões. Após
desempenha importante papel na ulcera péptica, bem décadas de infecção, a mucosa gástrica apresenta
como na gênese do adenocarcinoma gástrico. hipotrofia de intensidade variada e surgem focos de
A bactéria H. pylori é um bacilo gram-negativo, de metaplasia intestinal. Tais alterações correlacionam-se
forma curva ou espiralar, cuja extensão varia de 0,5 a fortemente com a idade dos pacientes, indicando
1µm de largura e 2,5 a 5µm de comprimento. O seu evolução do processo, embora sua intensidade e sua
formato em hélice espiralada, de onde vem o nome topografia dependam também da cepa infectante e das
“Helicobacter”, permite que ela atravesse com facilidade características do hospedeiro.
a camada de muco que protege o epitélio gástrico.
Indivíduos infectados por cepas virulentas, que codificados na cagPAI, nomeadamente as citotoxinas
expressam o gene CagA (marcador da ilha de VacA e CagA.
patogenicidade Cag), têm inflamação mais intensa e com
Acredita-se que a bactéria associa-se ao AG por meio de:
maior dano celular. Tais cepas aderem mais fortemente
(1) capacidade de promover proliferação celular; (2)
ao epitélio gástrico (o microrganismo não invade a
atividade inflamatória, uma vez que neutrófilos liberam
mucosa) e desencadeiam liberação de grande
compostos nitrosos sabidamente mutagênicos; (3)
quantidade de citocinas, sobretudo IL-8, IL-1β, e
indução de gastrite crônica atrófica.
resposta inflamatória mais intensa. Além disso, a
proteína CagA interfere no ciclo celular, estimulando a Proliferação celular é um componente essencial na
proliferação epitelial. carcinogênese, pois potencializa a ação de qualquer
carcinógeno: quanto mais alta a taxa de multiplicação
Maior dano é encontrado também em indivíduos
celular, maior a probabilidade de ocorrerem erros de
infectados com cepas que produzem a citotoxina VacA.
replicação do DNA. O H. pylori induz proliferação celular
De outro lado, o papel do hospedeiro também é
na mucosa gástrica, seja diretamente, por ação de CagA
fundamental na gênese da inflamação e no
ou produção de amônia, seja indiretamente, pelo dano
aparecimento de alterações funcionais. Alguns
celular.
polimorfismos em genes que codificam certas citocinas
pró-inflamatórias (p. ex., IL-1β, TNF-α) associam-se a Metabólitos reativos do nitrogênio podem ter ação
maior grau de inflamação. Da interação de fatores do carcinogênica por meio de inflamação crônica. Tais
hospedeiro com os da bactéria podem surgir quadros de metabólitos derivam da síntese do óxido nítrico (NO)
hiper, hipo ou normocloridria. pela enzima iNOS (sintase indutível do óxido nítrico) em
vários tipos de células, inclusive neutrófilos e
macrófagos. Como a infecção pelo H. pylori resulta em
Relação com adenocarinoma gastrite ativa (com infiltrado de neutrófilos), pode haver
O risco de desenvolver carcinoma gástrico devido à expressão aumentada de iNOS e produção persistente
infecção por H. pylori é semelhante ao risco de de NO. Na presença de radicais livres de O2, também
desenvolver carcinoma pulmonar por um fumante. associados a inflamação, o NO forma compostos nitrosos
potencialmente genotóxicos, como peroxinitritos e íon
O H. pylori é classificado como carcinógeno tipo I pela nitroso.
OMS. Nas populações de alto risco para AG, a
prevalência da infecção é muito elevada. Há evidências A infecção por estirpes de H. pylori cagA positivas
também de que fatores de virulência da bactéria (em regulam a expressão de ciclo-oxigenase-2 (COX-2),
especial cepas CagA-positivas) determinam respostas aumentando a sua libertação nos tecidos inflamados, o
inflamatória e imunitária mais vigorosas do hospedeiro, que leva ao aumento da síntese e libertação de
com maior grau de lesão da mucosa e, prostaglandinas (nomeadamente PGE2). Este
consequentemente, mais repercussões. A proteína CagA mecanismo aumenta a proliferação celular, inibe a
interfere no ciclo celular, modulando a proliferação apoptose e aumenta a capacidade invasora das células
celular epitelial; cepas que expressam o gene CagA são malignas, promovendo a carcinogénese. Após a
as mais comumente associadas ao AG (97%). erradicação da bactéria, a expressão de COX-2 diminui
significativamente.
Polimorfismos nos genes de citocinas influem na
intensidade da resposta inflamatória e no
microambiente gástrico; indivíduos que produzem Diagnóstico
citocinas com forte ação bloqueadora da secreção ácida
O diagnóstico pode ser feito em pacientes com quadro
evoluem mais rapidamente para gastrite crônica atrófica
clínico compatível através de testes não invasivos como
e têm risco aumentado para desenvolver AG. Como a
cultura, teste rápido da urease e reação em cadeia da
infecção pelo H. pylori associa-se aos dois tipos de AG
polimerase (PCR). Todos necessitam da coleta de biópsia
(intestinal e difuso), parece que o aparecimento de uma
gástrica, obtida através da endoscopia digestiva.
forma ou outra da neoplasia depende da evolução da
gastrite (com ou sem atrofia e metaplasia intestinal) no Os métodos diagnósticos podem ser divididos em
momento em que outros fatores, individuais e do invasivos e não invasivos. Entre os não invasivos o mais
ambiente, atuam na mucosa. utilizado é o teste respiratório da uréia. O paciente
ingere uma solução de uréia com carbono marcado
A adesão da bactéria às células epiteliais induz a
radioativamente C14 ou C13. Estando infectado, a H.
resposta inflamatória resultando na deslocação de
pylori degrada a uréia em amonia e CO2 marcado com
neutrófilos, seguidos de linfócitos B e T, macrófagos e
radioisopo, este é absorvido pelo sangue e depois
células do plasma, a maioria dos quais secreta elevadas
liberado para os pulmões e exalado no ar, o CO2
quantidades de espécies reativas de oxigénio ou azoto
marcado com radioisopo excretado é coletado e
implicadas na lesão celular e na carcinogénese. A lesão
analisado.
na mucosa gástrica induzida pela infecção por H. pylori
ocorre devido à presença dos fatores de virulência O exame invasivo mais comum é a biópsia por
endoscopia digestiva, o material biopsiado pode ser
investigado com o teste rápido da Uréase, pode servir de O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para
material para cultura microbiana como também ser feito cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no
a imunohistoquímica para detectar a presença da Brasil 21.230 novos casos de câncer de estômago
bactéria. (13.360 em homens e 7.870 em mulheres). Esses valores
correspondem a um risco estimado de 12,81 casos novos
Sorologia a cada 100 mil homens e 7,34 para cada 100 mil
Na análise de amostras de soro provenientes de mulheres.
pacientes infectados por H. pylori por ensaio de
imunoabsorção enzimática (ELISA) faz-se a pesquisa de Entre homens, é o quarto tipo mais incidente e o sexto
anticorpos IgG e IgA Helicobacter pylori e o anti-H. entre as mulheres. Há também uma predominância da
pylori. A pesquisa de IgG é muitas vezes o primeiro teste incidência em homens em todo o mundo, com taxa de
de diagnóstico efetuado tanto num cenário clínico como 1,5 a 2,5:1, em homens:mulheres.
em estudos epidemiológicos. Como os anticorpos O câncer de estômago afeta principalmente as pessoas
persistem após a erradicação da bactéria, a pesquisa de mais velhas, sendo a idade média do diagnóstico aos 68
IgG não permite fazer a distinção entre uma infecção anos. Cerca de 60% dos pacientes com câncer de
aguda ou terminada, não sendo o método ideal para a estômago têm 65 anos ou mais.
verificação do sucesso da terapia de erradicação.

SAT (detecção fecal de antígenos) Fatores de risco


Este teste baseia-se na pesquisa imunocromatográfica
ou através de enzimoimunoensaio da presença de Além do H. pylori, há outros fatores associados ao risco
antígenos H. pylori presentes em amostras de fezes. Tem de câncer gástrico. A elevada ingestão de sal vem sendo
a vantagem de ser rápido, de custo reduzido, de a implicada como fator de risco, uma vez que o sal pode
colheita das amostras ser relativamente simples, mesmo alterar a mucosa gástrica e aumentar a susceptibilidade
em crianças e de ser tão simples como um teste de aos carcinógenos. Alta ingestão de sal está associada ao
gravidez comum, não sendo necessário equipamento risco de desenvolver câncer, principalmente na presença
laboratorial específico. de H. pylori e gastrite atrófica.
Outros fatores também vêm sendo implicados ao risco
Tratamento
como ingestão de bebidas alcoólicas, tabagismo, baixo
O tratamento clínico padrão para a infecção pela H.
status socioeconômico, precária conservação dos
pylori combina o uso de dois antibióticos, Amoxicilina e
alimentos, compostos nitrosos, dietas pobres em frutas
Claritromicina, com um inibidor de bomba de prótons,
cítricas (vitaminas A e C), excesso de peso/obesidade,
Omeprazol, Lanzoprazol ou Pantoprazol. O Metronidazol
histórico de cirurgia gástrica prévia, pólipos gástricos,
pode substituir a Amoxicilina em pacientes alérgicos.
anemia perniciosa, úlcera gástrica, além dos fatores
O Metronidazol pode substituir a Amoxicilina em genéticos, predisposição familiar, mutações e
pacientes alérgicos. Em casos de resistência a polimorfismos genéticos.
antibióticos mudanças podem ainda serem feitas, como
A dieta tem importância porque alimentos e compostos
a substituição da Claritromicina pela Azitromicina ou
lesivos permanecem na luz do estômago em contato
Levofloxacina.
com a mucosa por tempo considerável. Dietas ricas em
1) Inibidor de bomba protônica (IBP) em dose padrão + alimentos salgados, ou em alimentos e bebidas
amoxicilina 1,0 g + claritromicina 500 mg, duas vezes ao contendo compostos potencialmente mutagênicos,
dia, durante 14 dias. como nitratos (conservantes de alimentos e bebidas
2) IBP em dose padrão, uma vez ao dia + claritromicina derivadas do malte), benzopireno e derivados
500 mg duas vezes ao dia + furazolidona 200 mg duas (alimentos defumados) e tanino (vinho tinto), e/ou
vezes ao dia, durante 14 dias. deficientes em compostos antioxidantes (vitaminas C e
E), cuja fonte principal na dieta são frutas frescas e
3) IBP em dose padrão, uma vez ao dia + furazolidona vegetais, estão associadas a maior risco.
200 mg três vezes ao dia + cloridrato de tetraciclina 500
mg quatro vezes ao dia, durante 14 dias. Sal excessivo é irritante para a mucosa gástrica e tem
sido associado a gastrite crônica, que a longo prazo
A duração do tratamento de erradicação do H. pylori evolui com atrofia da mucosa e metaplasia intestinal.
deve ser de 14 dias, conforme as mais recentes
diretrizes. Gastrite crônica atrófica é considerada condição pré-
cancerosa, sendo mais encontrada em populações de
maior risco para AG. Atrofia gástrica resulta em hipo ou
Objetivo 3: Câncer de estômago acloridria e consequente aumento do pH, possibilitando
o crescimento de bactérias capazes de converter nitratos
Câncer gástrico é uma das principais causas de morte da dieta em nitritos, que, em combinação com aminas
por câncer no mundo. (provenientes da dieta), formam nitrosaminas. A
transformação de nitratos em nitritos é inibida pelas
vitaminas C e E, que são antioxidantes potentes;
vitaminas são produzidas na mucosa gástrica (ácido De acordo com a diferenciação celular e o tipo de muco
ascórbico) ou ingeridas com os alimentos. Como secretado, existem três padrões:
resultado da produção aumentada de nitritos e
1. tipo I: Completo. As criptas são retas, regulares e
nitrosaminas, da deficiência de antioxidantes ou da
revestidas por células absortivas maduras e por células
presença de outros compostos carcinogênicos na luz
caliciformes que secretam sialomucinas. Na base das
gástrica, podem surgir danos no DNA tanto na mucosa
glândulas, são comuns células de Paneth. Assim, é
gástrica sem lesões como no epitélio com metaplasia
chamado de completo porque reproduz quase fielmente
intestinal.
o epitélio do intestino delgado.

Adenocarcinoma
As neoplasias gástricas mais comuns são epiteliais.
Adenocarcinoma é o tumor mais frequente e
importante, correspondendo a cerca de 90 a 95% dos
tumores malignos do estômago.
Pólipos, diagnosticados geralmente à endoscopia de
pacientes dispépticos, constituem na sua maioria lesões
hiperplásicas da mucosa (pólipos hiperplásicos, pólipos
de glândulas fúndicas), não constituindo, portanto,
neoplasias. Menos frequentemente, surgem pólipos
adenomatosos, mais importantes pelo potencial de
transformação maligna.
Adenocarcinomas representam mais de 90% dos
cânceres gástricos e são basicamente de dois tipos
morfológicos: tipo intestinal e tipo difuso.
O adenocarcinoma do tipo intestinal, comum em
populações de alto risco, acomete preferencialmente
homens (1,8 a 2 H:1 M), com média de idade em torno
de 60 anos, associa-se a gastrite crônica atrófica e 2. tipo II: Incompleto. Há distorção arquitetural discreta
metaplasia intestinal e é constituído por glândulas mais e as criptas são irregulares e revestidas por células
ou menos diferenciadas, com escassa secreção de muco. caliciformes que secretam sialomucinas e por células
É mais prevalente em áreas de alto risco e está mais colunares mucossecretoras em vários estágios de
ligado a fatores ambientais como álcool, tabaco e dieta. diferenciação que produzem uma mistura de
Está causamente relacionado ao H.pylori. sialomucinas e mucinas neutras; raramente, há secreção
de sulfomucinas. Algumas células apresentam borda em
O adenocarcinoma do tipo difuso é mais frequente em escova rudimentar e não há células de Paneth.
populações de baixo risco, acomete igualmente ambos
os gêneros, em torno de 50 anos de idade, não tem
relação com gastrite crônica atrófica nem com
metaplasia intestinal, origina-se provavelmente em
epitélio gástrico normal e é constituído por células
isoladas com tendência a produzir e acumular muco
intracelular.
O evento carcinogênico principal nos carcinomas difusos
do estômago é a perda de expressão da E-Caderina, uma
importante proteína de superfície celular responsável
por conexões intracelulares e manutenção da
organização tissular epitelial. Geralmente o tipo difuso
tem pior prognóstico, pode ter relação com
hereditariedade, e ocorre em indivíduos mais jovens.

Metaplasia intestinal
Consiste na substituição do epitélio gástrico por epitélio Notar o aspecto arborescente das fovéolas e epitélio
com fenótipo intestinal, associado ou não a fenótipo com características híbridas, intestinal (células
gástrico. A MI parece representar adaptação da mucosa caliciformes e mucinas ácidas) e gástricas (células
gástrica à agressão prolongada por diversos agentes mucossecretoras contendo mucinas neutras (cor
(alimentos e infecção pelo H. pylori). magenta).
3. tipo III (incompleto). As glândulas apresentam maior de muco e sem alterações arquiteturais expressivas. A
distorção arquitetural do que no tipo II, e o epitélio pode lesão acomete predominantemente o epitélio com MI.
apresentar atipias e perda da diferenciação (displasia de
A displasia de alto grau é reconhecida mais facilmente.
baixo grau). As células colunares secretam
As alterações citológicas são intensas, encontrando-se
preferencialmente sulfomucinas e podem apresentar
pseudoestratificação, núcleos em toda a espessura do
borda em escova rudimentar. As células caliciformes
epitélio, hipercromasia nuclear, macronucléolos e
contêm sialo e/ou sulfomucinas. Não há célula de
mitoses (frequentemente atípicas); as alterações
Paneth.
arquiteturais são muito pronunciadas, havendo
Caracterizada por células não caliciformes que secretam justaposição glandular e aspecto cribriforme.
mucinas sulfatadas (de cor marrom) ao lado de células
No AG do tipo intestinal, admitese que: (1) parte deles
caliciformes (em azul).
desenvolva-se em uma sequência de eventos que
incluem as lesões pré-cancerosas, como MI e displasia
em epitélio com MI; (2) certo número de casos origina-se
na mucosa gástrica sem lesões prévias (neoplasia de
novo) ou com displasia em epitélio gástrico não
metaplásico.

No adenocarcinoma
ÊMBOLOS NEOPLÁSICOS EM VASOS LINFÁTICOS. Na
profundidade, o tumor se propaga extensamente
através de êmbolos em linfáticos. Em muitos, as células
neoplásicas formam luzes glandulares. Os linfáticos são
reconhecíveis pelos espaços em volta dos blocos
celulares, e pelas células endoteliais, cujos núcleos
alongados margeiam a luz.

Notar que à direita há metaplasia tipo I.

Displasia
Displasia é uma lesão plana caracterizada por atipias
citológicas e arquiteturais e distúrbios da proliferação e
diferenciação celulares que se origina, na maioria dos
casos, em focos de MI, quase sempre do tipo
incompleto.
As atipias celulares caracterizam-se por pleomorfismo,
hipercromasia e estratificação nucleares, aumento da
relação núcleo/citoplasma, aumento da basofilia do
citoplasma e perda da polaridade celular.
Diferenciação anormal manifesta-se por redução,
desaparecimento ou alteração na secreção de muco e
perda ou redução do número de células caliciformes e Manifestações clínicas
absortivas (quando presentes na MI). Aumento da
proliferação celular e desorganização arquitetural O câncer gástrico, geralmente, se apresenta com
expressam-se por: (a) figuras de mitose, por vezes sintomas pouco específicos e vagos. Dentre os sintomas
atípicas; (b) núcleos contendo macronucléolos; (c) mais frequentes estão perda de peso, fadiga, anorexia,
irregularidades, projeções ou ramificações das criptas; sensação de plenitude gástrica, epigastralgia, disfagia,
(d) crescimento papilar, intraluminal e superficial do náuseas, desconforto abdominal, melena. Nenhum
epitélio; (e) despolarização e justaposição glandulares. desses sintomas é específico de câncer gástrico, sendo
esse um dos motivos do retardo no diagnóstico inicial.
A displasia é classificada como de baixo ou de alto grau
de acordo com a intensidade das alterações descritas. A linfadenomegalia associada ao câncer gástrico, às
Na displasia de baixo grau, as alterações citológicas e a vezes, recebe nomenclatura especial: linfonodo supra
perda da diferenciação celular são de pequena clavicular à esquerda - Virchow, linfonodo periumbilical
intensidade e caracterizam-se por aumento discreto da – irmã Maria José, axilar a esquerda - Irish; massa
proliferação celular, hipercromasia e despolarização palpável em fundo de saco ao exame retal – platereira
nucleares e núcleos contendo nucléolos, sem de Blumer. A disseminação para ovário é denominada
pseudoestratificação, com discreta redução da secreção de tumor de Krukenberg. Pode haver ascite, icterícia e
massa palpável abdominal, hepatomegalia por
metástases em doença mais avançada.
INFILTRAÇÃO DA CAMADA MUSCULAR. O tumor infiltra
extensamente a camada muscular própria do estômago,
dissecando entre os feixes. Há intenso infiltrado de
eosinófilos entre os blocos neoplásicos.

Tratamento
O tratamento do câncer gástrico varia de acordo com o
estadiamento da doença. O câncer precoce (limitado às
camadas mucosa e submucosa) pode ser tratado com
ressecção endoscópica (em geral lesões menores de
2cm, bem diferenciadas, restritas à mucosa, não
ulceradas e sem invasão angiolinfática) ou gastrectomia
com linfadenectomia a D1.
As lesões avançadas são tratadas com gastrectomia a D2
associada a tratamento (neo)adjuvante, contemplando
quimioterapia e, eventualmente, radioterapia.

TRATAMENTO NEOADJUVANTE
O tratamento neoadjuvante está indicado em pacientes
com doença localmente avançada (DLA). A DLA é
definida como tumores T3/T4 ou N1 potencialmente
ressecáveis sem metástases à distância, identificadas em
métodos de imagem ou laparoscopia.

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