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CÂNCER DE ESÔFAGO - Esôfago de Barrett (EB) - (condição na qual há uma

mudança no revestimento esofágico, tornando-se


• EPIDEMIOLOGIA E HEREDITARIEDADE
similar ao tecido que reveste o intestino, devido refluxo
- No Brasil, o câncer de esôfago é o sexto mais gastroesofágico de longo tempo): aumenta pelo menos
frequente entre homens e o 15º entre as mulheres, em 30 vezes o risco em relação à população geral.
excetuando-se o câncer de pele não melanoma. (INCA)
- Tabagismo: aumenta o risco, particularmente em
- 8º câncer mais frequente no mundo (INCA) e a 6ª pacientes com EB.
causa de morte em todo o mundo, com um pouco mais
- Obesidade
de 600 mil novos casos e 540 mil mortes no ano de
2020. - A dieta também possui uma ampla relação,
principalmente quando se trata de enlatados contendo
- Incidência em homens é cerca de 2x maior do que em
nitrato, carne defumada, bebidas quentes e frituras.
mulheres.
(oncologia, uma abordagem multidisciplinar)
- Os tipos histológicos mais frequentes e que serão aqui
• Predisposição familiar
abordados são o carcinoma epidermoide (CEC) e o
adenocarcinoma, responsáveis por mais de 95% dos - Um risco aumentado de câncer de esôfago é relatado
tumores malignos do esôfago. em condições hereditárias, como a síndrome de Peutz-
Jeghers (pólipos hamartomatosos no trato
• Fatores de risco
gastrointestinal, pigmentação mucocutânea) e a
síndrome de Cowden (pólipos hamartomatosos,
o Carcinoma epidermoide
anormalidades dermatológicas, sintomas
- Tabagismo: o risco de câncer no esôfago é duas vezes neurológicos).
maior em pacientes tabagistas, sendo maior quanto
• HISTOPATOLOGIA
maior for a carga tabágica (anos-maço) (nº de cigarros
ao dia/20 e multiplicado pelo nº de anos) - O câncer de esôfago é classificado de acordo com o
seu tipo histológico e células de origem, como os
- Etilismo: A combinação de tabagismo e etilismo
tumores epiteliais, linfomas e os sarcomas. Os tumores
resulta em um risco estimado de 23 vezes maior que a
de origem epiteliais são os mais comuns, como o
população geral.
carcinoma epidermoide e o adenocarcinoma.
- Consumo de bebidas e alimentos em alta
- O carcinoma epidermoide é o tipo histológico mais
temperatura pode aumentar o risco de câncer de
frequente em todo o mundo, geralmente acometendo
esôfago, gerando lesão térmica na mucosa esofágica.
o terço médio e superior do esôfago e sendo mais
- Baixa ingesta de frutas e vegetais. comum em homens a partir dos 50 anos, porém seus
números vêm caindo devido à diminuição do
- Doença esofágica subjacente, como por exemplo tabagismo.
acalasia (distúrbio nas contrações rítmicas do esôfago)
e estenoses cáusticas (estenoses podem acontecer - Já o adenocarcinoma é muito relacionado à dieta e à
pela ingesta de substâncias que danificam o esôfago, obesidade, que geralmente acomete a parte distal do
ex: soda cáustica.) esôfago, vem aumentando sua incidência desde os
anos 90.
- Infecções por papilomavírus humano (HPV).
- O esôfago de Barret é considerado uma lesão pré-
o Adenocarcinoma maligna do carcinoma esofágico e possui uma clara
- Não tem relação com o tabagismo e o álcool, porém relação entre a doença do refluxo gastroesofágico e o
com o refluxo gastroesofágico (sais biliares e conteúdo adenocarcinoma. A lesão da mucosa ocorre por um
gástrico) – comum na obesidade e doenças esofágicas. estimulo inflamatório continuo, propiciando a
metaplasia gástrica das células colunares da mucosa
- Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): a escamosa e estende-se da junção gastresofágica para
presença de sintomas diários de refluxo está associada cima.
a um risco aproximadamente 7 vezes maior. Pacientes
com sintomas mais intensos e de longa data (> 20 anos) - O esôfago de Barret pode progredir para displasia,
apresentam os maiores riscos. acumulando alterações genéticas que, ao final, podem
chegar às lesões malignas. Porém, esta relação não
está necessariamente presente. Nos pacientes com
este tipo de lesão, está indicado o acompanhamento
por biópsias periódicas, em busca de displasias ou
lesões neoplásicas já estabelecidas (adenocarcinomas).
O tratamento de uma displasia de alto grau deve ser
individualizado podendo, em alguns casos, ser indicada
a esofagectomia. O risco anual de câncer de esôfago é
de aproximadamente 0,25%, para pacientes sem
displasia e de 6%, para os pacientes com displasia de
alto grau.

• ANATOMIA PATOLÓGICA
o Classificação: - Para os adenocarcinomas do esôfago existem
✓ De acordo com o tipo histológico: classificações, de acordo com a localização. Segundo
Siewert, os tumores são classificados em 3 tipos:
- Os tumores do esôfago podem ser classificados em esôfago distal; da região da cárdia e subcárdicos.
benignos e malignos:

I: tumores do esôfago distal; II: tumores da região da cárdia (2cm


acima e abaixo da transição esofagogástrica - TEG) e III: tumores
subcárdicos.

✓ De acordo com a profundidade da lesão

- Os tumores malignos são divididos em: precoces,


- Os carcinomas espinocelulares (CEC) podem ser àqueles limitados à mucosa; superficiais, quando
classificados histologicamente em diferentes graus de restritos às camadas mucosa e submucosa; e avançado,
diferenciação de acordo com a queratinização: quando invadem além da camada submucosa
diferenciado (queratinização > 75%); moderadamente (muscular própria, adventícia e estruturas adjacentes).
diferenciado (25 a 75%) e indiferenciado (< 25%).

- Os adenocarcinomas podem ser classificados segundo


Laurèn (1965), e conforme as normas da Sociedade
Brasileira de Patologia, em: intestinais, onde há melhor
definição da organização tubuloglandular; e difusos,
onde a estruturação glandular é precária com células
tendendo à indiferenciação.

✓ De acordo com a localização

- Os tumores do esôfago podem ser divididos de acordo Anatomia patológica do câncer superficial do esôfago. Classificação
com a localização em: cervicais, torácicos e microscópica.
abdominais. Os tumores torácicos podem ser divididos
nos: superiores (localizados acima da bifurcação
traqueal), médios (desde a carina até o ponto médio
dessa distância ao hiato diafragmático) e os inferiores
(desse ponto médio até o hiato esofágico)
alteração no padrão da mucosa ou nenhuma
anormalidade endoscópica visível.

- Semelhante ao CEC, as metástases em linfonodos


ocorrem precocemente.

- Os adenocarcinomas da JEG são classificados em três


tipos, de acordo com os critérios anatomotopográficos
(classificação de Siewert):

-> Tipo I: tumores do esôfago distal, com o centro


Classificação microscópica do câncer avançado do esôfago. localizado entre 1 e 5 cm acima da JEG anatômica, que
geralmente surge de uma área com metaplasia
▪ Disseminação do câncer de esôfago intestinal (EB) e pode infiltrar a JEG.
- A disseminação pode ocorrer por: contiguidade -> Tipo II: tumores verdadeiramente da cárdia gástrica.
(estruturas adjacentes), continuidade, via linfática e
hematogênica. A possibilidade, não rara, de -> Tipo III: tumores gástricos subcárdicos, com o centro
disseminação por metástase intramural submucosa, do tumor entre 2 e 5 cm abaixo da JEG, que se infiltra
pode ter forte implicação na decisão cirúrgica, na JEG e no esôfago inferior.
especialmente quanto à margem de segurança nas
o Manifestações clínicas
esofagectomias. As metástases, por via hematogênica,
ocorrem principalmente no fígado, pulmão, - Maioria dos pacientes apresenta doença localmente
suprarrenal e ossos. avançada no momento do diagnóstico.

- A disseminação linfonodal pode ocorrer para cadeias - Disfagia progride gradualmente de sólidos pra
cervicais, torácicas e abdominais, independentemente líquidos, acompanhada de perda de peso.
da topografia do tumor. Entretanto, existem cadeias
- Desconforto retroesternal (ou precordial), pirose
onde a disseminação é preferencial.
(queimação – azia), rouquidão ou tosse.
• SINAIS E SINTOMAS
- A perda crônica de sangue gastrointestinal por câncer
de esôfago ou da JEG é comum e pode resultar em
o Patologia
anemia por deficiência de ferro.
o Carcinoma epidermoide (CEC)
- A pneumopatia aspirativa é um fenômeno
- Maioria dos tumores localizada na região média do
relacionado com a passagem do conteúdo esofágico
esôfago;
para a árvore traqueobrônquica, que pode se dar de
- Geralmente surge de pequenas lesões polipoides ou diversas formas:
placas;
1.Fístulas esofágicas (mais comuns nos tumores de
- Lesões iniciais geralmente são sutis e não terço médio);
identificadas na endoscopia
2.Refluxo causado pela obstrução na luz de esôfago;
- Lesões avançadas: massas infiltrativas e ulceradas,
3.Acometimento do nervo recorrente laríngeo,
que podem ser circunferenciais.
responsável pela dinâmica das cordas vocais que,
- Disseminação ocorre por linfonodos regionais ao quando paralisadas, além de comprometer o reflexo da
longo do esôfago na área celíaca e adjacente à aorta tosse e causar rouquidão, não promovem o
(DEPOIS PROCURAR O NOME DESSES LINFONODOS) fechamento da glote, favorecendo a passagem do
conteúdo digestivo. (fonte: abordagem multidisciplinar
o Adenocarcinoma
- As fístulas traqueobrônquicas (comunicação anormal
- Maioria localizada perto da junção esofagogástrica
do trato respiratório com o esôfago) são uma
(JEG) e está associada a evidencias endoscópicas de EB.
complicação tardia. Esses pacientes costumam
- O adenocarcinoma que surge no EB pode se apresentar tosse intratável ou pneumonias
apresentar como uma úlcera, um nódulo, uma recorrentes. A colocação de stent é o tratamento de
escolha.
- Frequentemente, ocorrem sinais ou sintomas o Investigação inicial e estadiamento
relacionados à doença metastática a distância. Os
locais mais comuns de metástases a distância são o o Investigação
fígado, pulmões, ossos e glândulas adrenais.
- Pacientes com disfagia (dificuldade de engolir)
• DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO progressiva, odinofagia (dor ao deglutir) e/ou
emagrecimento não justificável devem ser avaliados
o Rastreamento e detecção precoce com exame de endoscopia digestiva alta (EDA) com
biópsia.
- Não há exames de rastreamento válidos pra câncer de
esôfago. o Estadiamento (avaliar grau de disseminação)

- Considerar exames endoscópicos periódicos para - Tomografia computadorizada (TC) de tórax e


pacientes com risco elevado para câncer de esôfago, abdome: é importante lembrar que a TC tem papel
como DRGE sintomática (doença do ref. Gastroesof.), limitado para o estadiamento locorregional.
EB e pacientes com antecedente de tumores do trato
- (Para lesões no terço superior e médio do esôfago, a
gastrointestinal.
TC de abdome superior é suficiente para a investigação
• Diagnóstico do câncer de esôfago de metástase hepática e adrenal. Para pacientes com
adenocarcinoma no terço inferior do esôfago e/ou
- Endoscopia e biópsia junção gastresofágica, torna-se necessária a TC
- Ingestão de bário completa abdome-pélvico para a avaliação de possíveis
linfonodos metastáticos.)
- Tomografia computadorizada (TC)
- Ultrassonografia endoscópica (EUS - USE): tem
- Ultrassonografia melhor acurácia (exatidão dos resultados) do que a TC
- A endoscopia é o procedimento diagnóstico mais para a avaliação locorregional. Por meio da EUS pode
indicado quando há suspeita de câncer de esôfago, é o ser realizada a biópsia por agulha fina de linfonodos, o
método fundamental de diagnóstico histopatológico, que melhora a sensibilidade do método.
em mais de 90% dos casos A endoscopia permite ao - Tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT): é
médico a coleta de amostras de tecido (biópsia) e considerada, em vários centros, como padrão ouro ou
células soltas (citologia esfoliativa) para análise até mesmo mandatória para a avaliação do estágio da
posterior. (Biópsias devem ser repetidas até que se doença. Quando é aliada à TC: apresenta maior
confirme a real extensão da invasão com limites aonde sensibilidade que a TC na detecção de doença
não são visualizados carcinomas in situ ou displasias, metastática oculta em pacientes com doença
para que se tenha uma conduta mais segura no localizada e candidatos à cirurgia. Porém, em relação
tratamento. – oncologia multidisciplinar) ao EUS, o PET-CT apresenta menor acurácia para o
- Um procedimento radiológico denominado estudo estadiamento locorregional.
radiológico com ingestão de bário (em que a pessoa - A combinação entre a EDA com biópsia, USE e o PET-
ingere uma solução de bário visível nas radiografias) CT é o método padrão para avaliar acometimento
também pode ser útil para evidenciar a pode visualizar linfonodal.
o estreitamento do esôfago.
- Broncoscopia: é recomendada para pacientes que
- Na radiografia de tórax é possível investigar sinais de apresentam tumores no nível da carina ou acima.
doença avançada, como alargamento ou desvio do (analisando possível invasão mediastinal e do nervo
mediastino e padrão metastático pulmonar. recorrente laríngeo, o que inviabilizaria a ressecção
- A tomografia computadorizada (TC) de tórax e de cirúrgica.)
abdome total é fundamental para avaliar a extensão de - Laparoscopia diagnóstica: pode ser considerada em
estruturas vizinhas e doença metastática. A TC de tórax pacientes com tumores da JEG.
deve avaliar o parênquima pulmonar e estruturas
mediastinais. Linfonodos com mais de 1 cm de ▪ Critérios de estadiamento
diâmetro e centro necrótico sugerem doença - De acordo com a “American Joint Committee on
metastática, embora possa haver linfonodos de Cancer (AJCC)”, o estadiamento do câncer de esôfago
tamanho normal, com doença remanescente. é baseado na classificação TNM, visando avaliar o grau
de disseminação da doença, levando em conta,
principalmente, o número de linfonodos acometidos,
auxiliando no prognóstico e na conduta terapêutica. Os
tumores do terço superior ou médio drenam para
linfonodos cervicais profundos, paraesofágicos,
mediastínicos posteriores e traqueobrônquicos. Os do
terço distal drenam para os linfonodos
paraesofágicos, celíacos e do hilo esplênico. As
metástases à distância mais importantes são fígado e
pulmão.

- A investigação laparoscópica dos linfonodos


abdominais é indicada para pacientes T3-T4 de terço
distal, para ter-se uma maior especificidade do
estadiamento

- Na revisão mais recente da AJCC, 8ª edição, os


tumores que envolvem a JEG com o epicentro do tumor
não mais do que 2 cm no estômago proximal são
classificadas como câncer de esôfago, enquanto que os
tumores da JEG com epicentro localizado a mais de 2
cm no estômago proximal são classificados como
câncer de estômago. Existem agrupamentos de
estágios separados para CEC e adenocarcinoma,
independentemente do local.

• FATORES PROGNÓSTICOS: CLÍNICOS E


MOLECULARES

- Em análise de sobrevida em 5 anos, 47% dos pacientes


estão vivos em cinco anos na doença localizada, 25%
na doença regional e apenas 5% na doença
metastática.

- A extensão do tumor também tem papel prognóstico.


Pacientes com tumores > 2 cm apresentaram sobrevida
em 3 e 5 anos de 36% e 29%; já os pacientes com
tumores <2 cm, 85% e 78% respectivamente.

• PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO

- O tratamento do câncer de esôfago depende de um


estadiamento eficaz, investigando metástases
linfonodais e sistêmicas. Tumores localizados
distalmente à bifurcação traqueal mostram condições
anatômicas mais favoráveis à cirurgia. As diferentes
vias de acesso variam quanto às comorbidades
associadas e ao índice de sobrevida e sua escolha deve
ser pautada nas condições clínicas do paciente
(comorbidades cardiovasculares, respiratórias e associada a uma via de acesso nutricional (sonda naso
nutricionais). enteral, gastrostomia ou jejunostomia) é o
procedimento mais empregado, associado à
- A pedra fundamental do tratamento do câncer de
quimioterapia sistêmica. Esse procedimento está
esôfago localizado ou locorregional é a ressecção
contraindicado quando há invasão franca da traqueia,
cirúrgica.
sendo nessas circunstâncias indicada apenas a
- Tumores esofágicos limitados à mucosa (Tis/T1a/T1b gastrostomia definitiva.
superficiais, sem invasão angiolinfática, <2 cm) podem
A permeação tumoral com aplicação de álcool, laser ou
ser tratados de modo endoscópico.
argônio por via endoscópica é procedimento
- Tumores com invasão de submucosa (T1b), o temporário (média de 1 mês de alívio da disfagia) e
tratamento padrão é esofagectomia com pouco empregado.
linfadenectomia devido ao maior risco de
▪ Tumores de terço inferior e junção
envolvimento linfonodal. É recomendada a exérese de
esofagogástrica
pelo menos 15 linfonodos na esofagectomia.
- Nesse grupo de pacientes as opções de tratamento
- Já os tumores de esôfago com linfonodo positivo e
são maiores, e nessas circunstâncias pode-se tentar
invasão de muscular própria (T2) têm como tratamento
separar dois subgrupos de pacientes: aqueles com
de escolha quimioterapia e radioterapia neoadjuvantes
doença apenas locorregional avançada, que não
seguidas de esofagectomia.
permitem a ressecção cirúrgica, porém, em razoáveis
- Em tumores de esôfago recidivados ou metastáticos condições clínicas; daqueles com piores condições
ao diagnóstico, o objetivo do tratamento é paliativo. clínicas, caquéticos e doença sistêmica.

- A decisão de oferecer tratamento sistêmico ou - No primeiro grupo é indicada, habitualmente, a


melhor cuidado clínico é dependente do performance cirurgia de derivação com a confecção de tubo gástrico
status do paciente. Caso o paciente apresente KPS > 60 iso-peristáltico de grande curvatura (difundido por
ou ECOG > 2, a quimioterapia sistêmica melhora a Postlethwait), porém inicialmente descrito por Bell et
sobrevida global. Atualmente, é recomendada a al com ascensão do estômago por via retroesternal até
análise molecular de HER-2, MMR, PD-L1 e NTRK a região cervical, onde realiza-se anastomose com o
visando terapias-alvo que também têm aumentado a coto esofágico. Esse procedimento permite a ingesta
sobrevida desses pacientes. oral precoce do paciente e ainda favorece o
tratamento complementar com quimio e radioterapia
• TRATAMENTO (Tratado de Oncologia) no esôfago excluído do trânsito alimentar. Em poucos
- A melhor modalidade de tratamento com intenção casos, quando ocorre uma boa resposta do tumor ao
curativa no câncer epidermoide do esôfago e no tratamento radioquimioterápico, esofagectomia de
adenocarcinoma da junção esofagogástrica é a resgate pode ser indicada.
ressecção cirúrgica sem doença residual (também - No segundo grupo constituído de pacientes em más
chamada R0). Apesar desses tumores ocorrerem em condições clínicas e nutricionais, associadas à doença
pacientes com características clínicas diferentes, ou muito avançada, procedimentos menos invasivos são
seja, desnutridos no primeiro caso e com sobrepeso ou mais indicados, e nesse contexto a tunelização
obesos no segundo, apresentam uma característica esofágica com prótese autoexpansível de colocação
comum, serem diagnosticados em estádios avançados endoscópica tem sido procedimento de escolha, muito
da doença. Dessa forma, na maior parte das vezes, o embora a radioterapia paliativa pode ser opção que
tratamento é paliativo e a ressecabilidade cirúrgica é alivia a disfagia em 70 a 80% dos casos.
baixa.
o Tratamento por ressecção
o Tratamento paliativo
▪ Tumores de terço superior e médio Muitas são as variáveis que norteiam o tratamento
cirúrgico do câncer do esôfago e da junção
- Nesse grupo de pacientes, quando se detecta a esofagogástrica, sendo as principais:
irressecabilidade, quer pela ocorrência à tomografia de
grande massa tumoral, quer pela invasão da árvore • acesso cirúrgico;
respiratória identificada à broncoscopia, as opções de
• extensão da esofagectomia e gastrectomia;
tratamento são escassas. Assim, a radioterapia
• extensão da linfadenectomia; de alto grau (displasias ou atipias) forem detectadas,
essa forma de ressecção pode ser utilizada com intuito
• condições clínicas e nutricionais;
de esclarecimento diagnóstico mais apurado.
• estadiamento da doença;
Esofagectomia radical com linfadenectomia
• complicações e mortalidade dos procedimentos. Havendo condições clínica e de estadiamento que
permitam um tratamento radical, a esofagectomia com
Estado nutricional linfadenectomia é a melhor opção visando à
cura da doença. Esse procedimento varia conforme a
Particular especial atenção deve ser dada ao estado
localização topográfica da lesão e consequentemente
nutricional. Avaliação nutricional, incluindo o
a distribuição das cadeias linfonodais alvo para uma
percentual de perda ponderal, é fundamental na ressecção radical (D2).
decisão dos procedimentos subsequentes. Dessa Assim, lesões do esôfago cervical demandam a
forma, perdas ponderais, especialmente maiores que esofagectomia total, mais raramente podendo estar
20%, requerem suporte nutricional pré-operatório. acompanhada de outros órgãos (faringe e/ou laringe)
Tem-se demonstrado que nutrição enteral por sonda e cadeias linfonodais cervicais e torácicas. Dessa forma,
em período médio de 10 a 15 dias, no período anterior o acesso torácico (toracotomia ou toracoscopia direita)
à cirurgia, pode contribuir para a reversão do processo e o cervical, com a dissecção em “colar” para a
catabólico e minimizar complicações pós-operatórias. remoção de cadeias linfonodais até as fossas
Assim, a ressecção indicada poderá ser desde a supraclaviculares bilaterais, são os indicados.
mucosectomia endoscópica, passando por ressecções Nas lesões do esôfago torácico, aplica-se (com as
variações da localização topográfica: torácico alto,
limitadas, culminando com as ressecções com
médio e inferior) a chamada esofagectomia com
linfadenectomias ampliadas.
linfadenectomia de “3 campos”, onde pretende-se a
Mucosectomia endoscópica dissecção de linfonodos em nível cervical torácico e
abdominal. Dessa forma, a incisão em “colar” cervical
A ecoendoscopia, especialmente a realizada com associada à ampla toracotomia (ou videotoracoscopia)
transdutores de alta frequência, permite uma direita e laparotomia constituem os acessos cirúrgicos
avaliação detalhada do grau de acometimento das necessários para a realização desses procedimentos
diferentes camadas da parede do órgão, inclusive propostos.
subdivição das mesmas (por Exemplo, a mucosa em
m1, m2 e m3 e a submucosa em sm1, sm2 e sm3). Esofagectomia por viodeotorascocopia

Estudos que avaliaram as peças cirúrgicas e os Nesse particular, cabe destaque o emprego do acesso
linfonodos de lesões que acometiam a mucosa e minimamente invasivo no tórax, através da
submucosa identificaram a ocorrência de linfonodos videotoracoscopia que pode ser empregada na
acometidos quando a neoplasia acomete as camadas modalidade assistida (VATS) ou na forma exclusiva.
além da mucosa, especificamente além da Esse procedimento
profundidade m3 da mucosa. Dessa forma, considera- contém o racional de
se segura a realização da mucosectomia em lesões permitir uma ampla
planas ou elevadas menores que 2 cm, ou deprimidas dissecção linfonodal
sem ulceração menores que 1 cm, que acometam em no tórax reduzindo-se
profundidade as camadas m1 ou m2 da mucosa. Graus as complicações mais
progressivos de acometimento linfonodal, que variam graves decorrentes da
de 6,3 a 12,2% para as lesões m3, ou de 11,1 a 26,5% ampla toracotomia
para as lesões sm1, desencorajam esse procedimento necessária.
nessas formas mais avançadas. Lesões múltiplas ou - Aparente maior conforto do paciente submetido a
maiores que 2 cm, bem como lesões metacrônicas no esse procedimento menos invasivo vem sendo
esôfago de Barrett predizem maior recidiva. Ainda para observado, corroborado na literatura com estudos que
o adenocarcinoma, as lesões do tipo difuso de Laurèn assinalam melhor qualidade de vida e maior
(indiferenciadas) são acompanhadas de maior recidiva, preservação da função respiratória nos pacientes
portanto não devem ser tratadas com essa modalidade submetidos à esofagectomia por videotoracoscopia
de ressecção local. A mucosectomia pode também ter comparada à operação aberta.
emprego adicional em situação diagnóstica. Quando
áreas de esôfago de Barrett, com alterações do epitélio
Esofagectomia transdiafragmática ou à distância no diagnóstico96. Nesse contexto, a
radioterapia e a quimioterapia são modalidades de
Esse procedimento que consiste na dissecção do
tratamento importantes, podendo ser utilizadas de
esôfago por via combinada cervical e abdominal. As
forma exclusiva ou combinada.
principais indicações dessa via de acesso para a
esofagectomia são: tumores intramucosos do esôfago, o Radioterapia exclusiva
situações de indicação de esofagectomia paliativa,
- No tratamento da doença localmente avançada, a
situações de contraindicação para toracotomia e
radioterapia exclusiva tem sido cada vez menos
tumores da junção esofagogástrica.
utilizada, pois há grande evidência de que o tratamento
Adenocarcinoma da junção esofagogástrica combinado, consistindo de irradiação e quimioterapia,
é superior à radioterapia isolada. Em geral, a irradiação
Os adenocarcinomas da junção esofagogástrica (JEG)
isolada como tratamento primário é reservada a
constituem hoje a principal indicação da via
pacientes sem condições clínicas para receber o
transdiafragmática. Esse acesso permite avaliar as
tratamento combinado.
lesões da JEG e subdividi-las do ponto de vista
topográfico. o Quimioterapia e radioterapia exclusivas

A classificação mais empregada é a de Siewert em I A quimio-radioterapia concomitante permite maior


(esôfago distal), II (cárdia) e III (subcárdicos). De acordo controle tumoral, devido ao efeito aditivo
com essa localização topográfica indicam-se as radiosensibilizador e controle de micrometástases por
principais modalidades de ressecção parte da quimioterapia. Em ensaios clínicos
transdiafragmática randomizados, a adição de quimioterapia à base de
cisplatina com radioterapia melhora significativamente
• esofagectomia distal com gastrectomia total: para os
a sobrevida em relação à radioterapia isolada.
tumores restritos à cárdia ou aqueles que crescem
preferencialmente para o estômago; o Quimioterapia e/ou radioterapia paliativas
- Pacientes com doença recidivada ou metastática,
• esofagectomia subtotal com gastrectomia proximal considerada incurável, podem beneficiar-se de
ampliada: para os tumores atualmente mais tratamento paliativo, cujo intuito é prover melhoria na
incidentes, que estendem-se predominantemente qualidade de vida. A radioterapia tem sido usada como
para o esôfago; um tratamento eficaz na paliação da disfagia. Cerca de
metade dos pacientes com disfagia inicial apresentam
• esofagectomia subtotal com gastrectomia total: para
melhora após duas semanas do início do tratamento. A
as lesões que se estendem para ambos os órgãos. associação de quimio-radiação apresenta melhores
resultados na paliação comparada à radioterapia
isolada nos pacientes com boas condições clínicas.
Inúmeros agentes citotóxicos como fluoropirimidinas,
platinas, taxanes e camptotecinas têm sido usados
isoladamente ou associados entre si com o objetivo de
prover melhor qualidade de vida aos pacientes. Mais
recentemente, novos agentes biológicos alvo-dirigidos
vêm sendo testados nesse contexto em associação à
- Nesse contexto, a opção da esofagectomia subtotal quimioterapia, como os anticorpos monoclonais anti-
transdiafragmática com a gastrectomia proximal HER-2 (trastuzumabe, lapatinibe), anti-EGFR
ampliada, ganhou espaço na sua indicação como atesta (cetuximabe) e as pequenas moléculas inibidoras de
a comparação estatística de 2 períodos subsequentes tirosina quinase (erlotinibe, gefitinibe).
do Serviço de Cirurgia do Esôfago do HC-FMUSP. Esse
procedimento vem ganhando adeptos de forma • TRATAMENTO SISTÊMICO
crescente como melhor opção radical nos tumores da o Doença localizada
JEG, especialmente os tipo I e muitos tipo II de Siewert.
- O tratamento para o câncer de esôfago nos estágios I
o Tratamento complementar e II é cirúrgico.
o Radioterapia e quimioterapia
- A sobrevida mediana após a esofagectomia na doença
- De acordo com Person, 80% dos pacientes com câncer localizada é de 15 a 18 meses com 20-25% dos
de esôfago apresentam doença localmente avançada pacientes vivos em 5 anos. Desta forma, quimioterapia
e radioterapia neoadjuvantes são comumente
empregadas para aumentar a taxa de ressecabilidade e
sobrevida global.

- Pacientes com tumores esofágicos e da JEG T ≥ 2 e/ou


N+, com histologia epidermoide, têm como tratamento
padrão radioterapia concomitante à quimioterapia
com carboplatina e paclitaxel. Pacientes com
adenocarcinoma de esôfago e da JEG T ≥ 2 e/ou N+
podem receber como tratamento a quimioterapia
concomitante com a radioterapia ou quimioterapia
perioperatória com esquema FLOT (fluorouracil,
leucovorin, oxaliplatina e docetaxel). Dados recentes
sugerem que imunoterapia com nivolumabe pode
beneficiar alguns pacientes após tratamento
combinado de radioterapia, quimioterapia e cirurgia.

o Doença metastática

- O objetivo do tratamento da doença metastática ou


irressecável é melhorar a qualidade de vida,
amenizando sintomas e aumentando a sobrevida
global. Figura 1: Tratamento da doença localizada. FLOT: fluorouracil,
leucovorin, oxaliplatina e docetaxel.
- Combinações de 2 ou 3 drogas são comumente
utilizadas e incluem fluorouracil, capecitabina,
cisplatina, oxaliplatina, docetaxel e irinotecano. Mais
de três terapias-alvo demonstraram benefício no
contexto de doença metastática quando identificados
alvos terapêuticos: trastuzumabe, se hiperexpressão
de HER-2; pembrolizumabe se CPS > 10 ou
instabilidade de microssatélites; nivolumabe se CPS >
5; e entrectinibe ou larotrectinibe, se fusão de NTRK.
Outras opções para doença avançada são o inibidor de
angiogênese tumoral ramucirumabe e o
quimioterápico oral trifluridina-tipiracil.

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