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Neoplasias I

Epidemiologia

A incidência de cancro em Portugal é inferior à média da UE mas continua a ser substancial

As neoplasias são cada vez mais frequentes?

 Aumento real do número de neoplasias


 Aumento do rastreio
 Melhoria nos métodos imagiológicos
 Alterações nos critérios histológicos

A diminuição do consumo de tabaco é responsável pela redução da taxa de mortalidade por


cancro de pulmão

As melhorias no rastreio e tratamento diminuíram a taxa de mortalidade por cancros


coloretais, da mama e da próstata

Na última década houve um declínio significativo nas mortes por cancro do colo do útero

Esta vitória está intimamente relacionada com o sucesso do rastreio com citologia cervico-
vaginal

A vacinação contra o HPV pode vir a eliminar este tipo de cancro num futuro próximo

1/4 das mortes acontecem por cancro

Incidência aumenta com a idade Após os 25 anos a incidência duplica a cada 5 anos!

Maior taxa de mortalidade em homens

A taxa de mortalidade diminuiu bastante

A incidência varia com a idade, fatores geográficos e contexto genético

É mais comum em indivíduos mais velhos e expostos a fatores ambientais associados à


carcinogénese: infeções, tabagismo, álcool, dieta, obesidade, etc.

Fatores de risco
Idade

 Existe uma relação muito forte entre o risco de cancro e a idade do doente
 Os carcinogéneos têm um efeito cumulativo ao longo dos anos
 O número elevado de divisões celulares representa em si um risco
 Alterações metabólicas e hormonais

Fatores genéticos

 Alguns tumores estão associados a alterações cromossómicas, por vezes alterações


específicas desse dado tumor (translocação 8;14 no linfoma de Burkitt)
 Algumas doenças hereditárias raras que apresentam incapacidade para reparar DNA
têm maior suscetibilidade para desenvolver cancro. (xeroderma pigmentoso)
 Doentes com familiares afetados têm geralmente 2 ou 3 vezes mais risco de
desenvolverem neoplasias
 Nestes casos o desenvolvimento neoplásico pode não ser inevitável -> relaciona-se
com outros fatores ambientais e nutricionais
 Alterações dos genes BRCA1 e BRCA2
o Genes supressores tumorais que codificam proteínas que reparam alterações
do DNA
o Aumento do risco de cancro da mama e do ovário
o O cancro surge se os 2 alelos forem inativados
o A maioria das mulheres com estas mutações tem cancro da mama antes do 70
anos (vs 12%)
 Polipose adenomatosa familiar (PAF):
o Mutações germinais do gene APC
o Desenvolvimento de centenas de adenomas do trato gastrointestinal, com
diferentes graus de displasia
o Desenvolvimento de adenocarcinoma do cólon < 25 anos
o Colectomia profilática

Fatores geográficos e raciais

 Os fatores geográficos estão intimamente ligados aos fatores genéticos, mas sobretudo
ambientais
 Japoneses que emigram para os EUA diminuem a sua taxa de incidência de cancro
gástrico mas continua aumentada em relação com os americanos nativos
 Risco de melanoma aumentado nos australianos de raça caucasiana: Predisposição
racial? Fator geográfico?
 Estes australianos, se migrarem para países com clima frio, o seu risco de melanoma
diminui drasticamente

Fatores ambientais

 Associação entre tabagismo e cancro do pulmão


 Associação entre exposição a asbestos e mesotelioma maligno
 Associação entre beta-naftilamina (indústria da borracha e das tintas) e carcinoma
urotelial da bexiga
 Carcinoma epidermoide escrotal
o Primeira malignidade associada a fatores ambientais e ocupacionais
o Uma das medidas de saúde pública mais bem sucedidas na prevenção do
cancro

Agentes carcinogénicos

 Carcinogénicos químicos
 Radiação
 Agentes infeciosos

Carcinogénicos químicos

 Carcinogénicos completos: agem como iniciador e promotor


 Carcinogénicos incompletos: agem apenas como iniciadores ou promotores
 Carcinogénicos genotóxicos: Reagem com o DNA causando alterações no genoma que
podem ser transmitidas na divisão celular. A maioria precisa de ativação prévia.
 Carcinogénicos não genotóxicos: Exercem a sua ação nas células por estimulação da
divisão celular ou causando dano e morte celular. Hormonas.
 Tipicamente demoram 20 ou mais anos para exercerem os seus efeitos (longo período
de latência)
 A dose necessária varia e depende do tecido afetado, da exposição, absorção,
distribuição e metabolização
 A beta-naftilamina entra no organismo e é ativada pela glucoronidase urinária
 Daí que o seu efeito carcinogénico seja limitado ao epitélio transicional do trato
urinário

Radiação

 Radiação eletromagnética (luz ultravioleta, raios X e raios gama)


 Radiação de partículas (partículas alfa, partículas beta, neutrões e protões)
 A radiação provoca efeitos no DNA análogos aos efeitos iniciadores dos carcinogénicos
químicos
 Causa quebras, translocações e mutações nos cromossomas
 Também provoca danos em algumas proteínas
 O efeito carcinogénico relaciona-se com a sua capacidade de produzir mutações
 Depende da duração da exposição e do tipo de radiação
 Tiroide e medula óssea são particularmente suscetíveis
 As crianças são mais suscetíveis do que os adultos

Agentes infeciosos

 Um grande número de vírus, bactérias e parasitas pode estar implicado na etiologia do


cancro
 HPV
 Vírus da Hepatite B
 HHV-8
 Vírus Epstein-Barr (EBV):
o Linfoma de Burkitt
o Linfoma de Hodgkin
 Human T-Cell leucemia vírus-1 (HTLV-1)
o Único retrovírus causador de cancro
o Implicado na leucemia/linfoma de células T (raro)
o A infeção por este vírus é mais frequente no Japão, América do Sul e algumas
partes de África
 Helicobacter Pylori
o Infeção muito frequente gastrointestinal
o Risco aumentado de carcinoma gástrico
 Schistosoma haematobium
o Um dos agentes infeciosos mais frequentes no mundo
o Mais prevalente em países em desenvolvimento (África e América do sul)
o A infeção ocorre através de água contaminada
o As manifestações clínicas surgem pela reação imune em relação com os ovos
de schistosoma (inflamação granulomatosa) que podem ser encontrados em
qualquer órgão do ser humano (bexiga, rins, fígado, pulmões)
o Infeções crónicas provocam hematúria e fibrose, bem como um risco
significativo de carcinoma vesical (carcinoma epidermoide) e tumores
hepáticos

Carcinogénese
Processo com múltiplos passos que resulta de várias alterações genéticas que constituem uma
vantagem adaptativa

Este dano genético implica que a alteração provocada não é letal e pode ser transmitida pela
divisão celular

As mutações podem ser herdadas (linha germinativa) ou adquiridas (células somáticas) por
mutação espontânea ou por exposição ambiental

Genes reguladores que são alvo de dano genético:

 Proto-oncogenes
 Genes supressores tumorais
 Genes reguladores da apoptose
 Genes reguladores da reparação do DNA

Driver mutations são as mutações que contribuem para o desenvolvimento do fenótipo


maligno

A primeira driver mutation que inicia a carcinogénese é a initiation mutation

Uma única mutação não é suficiente para o desenvolvimento da neoplasia: são necessárias
drivers adicionais

As células neoplásicas sofrem transformação e continuam a replicar-se alheias aos fatores


reguladores de crescimento celular

Estas células possuem um certo grau de autonomia e tendem a crescer independentemente


das características do ambiente que as rodeia

Progressão tumoral:

 Não diz apenas respeito ao aumento de tamanho


 Associa-se à acumulação de mutações com geração de subclones com diferentes
características

Durante a sua progressão, os tumores são sujeitos a pressões seletivas

Um tumor em crescimento tende a possuir subclones que se adaptam e conseguem sobreviver,


crescer, invadir e metastizar

A evolução genética e a selecção podem explicar duas das capacidades do tumor: a sua
agressividade e a menor resposta à terapia

Todos os tumores, benignos ou malignos, apresentam dois componentes básicos:

1. Parênquima: constituído pelas células neoplásicas


2. Estroma: componente de suporte, não neoplásico, constituído por tecido conjuntivo,
vasos e células inflamatórias

O parênquima determina em grande parte o comportamento biológico do tumor e dá origem


ao seu nome

O estroma é crucial para o crescimento da neoplasia uma vez que é ele que oferece suporte
para o crescimento das células parenquimatosas

Nomenclatura
Tumor:

Sinónimo de neoplasia

“Lesão que ocupa espaço”  Ex: associado ao edema inflamatório

Neoplasia = neós (novo) + plásis (formação)

“Neoformação” ou “Novo crescimento”

Sir Rupert Willis, 1952: “Massa de tecido anormal: cujo crescimento excede o dos tecidos
normais, de crescimento não coordenado com o tecido normal, que persiste de forma
excessiva mesmo depois de ser interrompido o estímulo que lhe deu origem”

Classificação

 Órgão/ tecido/ célula de origem


 Características morfológicas
 Comportamento biológico

Neoplasia benigna:

 Apresenta características tanto macroscópicas como microscópicas inocentes


 Implica que o tumor irá permanecer localizado e passível de remoção cirúrgica
 Geralmente o paciente sobrevive
 São designados com a inclusão do sufixo -OMA na célula de origem
o Tumor benigno do tecido fibroso  Fibroma
o Tumor benigno do tecido cartilagíneo  Condroma
 A nomenclatura dos tumores benignos epiteliais é mais complexa
 São classificados de acordo com o aspeto microscópico e por vezes macroscópico
 Outros são classificados pela célula que lhes deu origem
o Neoplasia benigna com formação de glândulas/derivada de glândulas 
Adenoma
o Neoplasia benigna com projeções papilares micro ou macroscópicas 
Papiloma
o Cistadenoma: massa cística que tipicamente surge no ovário

Neoplasia maligna:

 Também chamado de cancro


 Lesão que pode invadir e destruir estruturas adjacentes
 Capacidade para atingir tecidos à distância (metastização)
 O doente pode morrer
 Nomenclatura semelhante à das neoplasias benignas, com algumas excepções
 Quando as neoplasias malignas têm origem nas células mesenquimatosas chamam-se
sarcomas
 Os sarcomas recebem depois um prefixo consoante o tipo de célula que os compõem
(que provavelmente corresponde ao tipo celular que lhes deu origem)
o Cancro com origem no tecido fibroso  Fibrossarcoma
o Cancro com origem nos condrócitos  Condrossarcoma
 Quando têm origem nas células epiteliais chamam-se carcinomas, independentemente
de derivarem da ectoderme, mesoderme ou endoderme
o Cancro que cresce com padrão glandular  Adenocarcinoma
o Cancro com células epidermoides  Carcinoma epidermoide
 Cancro com pouca diferenciação  Carcinoma pouco diferenciado
 Cancro com nenhuma diferenciação  Carcinoma indiferenciado
 Quer seja benigno ou maligno, as células transformadas assemelham-se umas às
outras – origem monoclonal
 Por vezes, estas células podem sofrer diferenciação divergentes – tumores mistos

Tumor misto das glândulas salivares:

 Adenoma pleomórfico
 Componente epitelial e mioepitelial
 Estroma fibromixoide
 Ilhas de cartilagem e/ou osso

Fibroadenoma:

 Proliferação de elementos ductais (adenoma)


 Tecido fibroso laxo (fibroma)
 Apesar de apenas o componente fibroso ser verdadeiramente neoplásico o nome
permanece

Teratoma:

 Tipo especial de tumor misto


 Contém células e/ou tecidos maduros e/ou imaturos representativos de mais do que
uma camada de células germinativas
 Formam-se a partir de células germinativas totipotentes como as que geralmente se
encontram no ovário e testículos
 Estas células têm a capacidade de se diferenciar em qualquer tipo de célula do
organismo
 Podem dar origem a neoplasias que mimetizam osso, epitélio, músculo, gordura ou
qualquer outro tecido

Há algumas excepções nestas regras de classificação!

Por exemplo, tanto os linfomas, como os mesoteliomas, melanomas e seminomas apresentam


o sufixo –OMA apesar de serem neoplasias malignas

Tumores embrionários: Órgão + blastoma  Ex: hepatoblastoma, retinoblastoma


Epónimo do seu descritor:

 Tumor de Brenner: tumor raro do ovário


 Tumor de Wilms: nefroblastoma comum na infância
 Tumor de Warthin: tumor benigno das glândulas salivares
 Tumor de Grawitz: carcinoma das células renais

Hamartoma:

 Do grego, “hamartia”= erro


 Desenvolve-se com o mesmo ritmo do tecido onde se encontra
 Estrutura madura, sem capacidade invasora
 Macroscopicamente: semelhante a neoplasia
 Microscopicamente: compostos por uma mistura anormal e desorganizada de tecidos
em percentagem anormalmente elevada de um elemento normalmente presente
nesse órgão ou tecido
 Pólipo juvenil (Pólipo de retenção)
 Geralmente pediculados, lobulados Lâmina própria abundante com células
inflamatórias e glândulas dilatadas revestidas por epitélio cuboide/colunar
 Glândulas dilatadas contendo muco e células inflamatórias

Coristoma:

 Heterotopia
 Tecido normal deslocado da sua topografia habitual
 Presente desde o nascimento
 Ex: nódulo de tecido pancreático na submucosa gástrica

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