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Outros tumores malignos do esôfago são bem menos comuns e incluem formas raras do adenocarcinoma,
carcinoma indiferenciado, tumor carcinoide, melanoma, linfoma e sarcoma; estes não são discutidos aqui.
Tumores benignos do esôfago geralmente são mesenquimais e surgem dentro da parede do esôfago, sendo que
os leiomiomas são os mais comuns. Fibromas, lipomas, hemangionas, neurofibromas e linfangiomas também ocorrem.
Adenocarcinoma
A maioria surge do esôfago de Barrett - aumento da incidência do refluxo gastroesofágico relacionado à
obesidade pode ser a causa parcial do aumento das taxas deste câncer. Ocorre mais frequentemente em caucasianos,
homens (7:1) e países ocidentais.
Fatores de risco: tabagismo, radiação, Barret | Fatores de proteção: dietas ricas em frutas frescas e vegetais,
alguns sorotipos de HP (causam atrofia gástrica -> redução da secreção ácida e refluxo).
Patogenia
A progressão do esôfago de Barrett para o adenocarcinoma ocorre durante um longo período, com aquisição
gradual de alterações genéticas e epigenéticas: anormalidades cromossômicas, mutação do TP53 e a regulação
negativa do inibidor de cinase dependente da ciclina CDKN2A, também conhecido como p16/INK4a, são detectadas nos
estágios inicias. Em fases mais avançadas, durante a progressão, há uma amplificação dos genes EGFR, ERBB2, MET,
ciclina D1 e ciclina E.
Morfologia
Geralmente ocorre no terço distal do esôfago e pode invadir a cárdia adjacente (Fig. 17-9A). Inicialmente
surgindo como placas planas ou elevadas, na mucosa anteriormente intacta, podem gerar grandes massas (5 cm ou
mais), podem se infiltrar difusamente ou também podem ulcerar e invadir profundamente. Microscopicamente, o
esôfago de Barrett frequentemente aparece adjacente ao tumor. Os tumores produzem mais comumente mucina e
formam glândulas (Fig. 17-10A), geralmente com morfologia semelhante ao tipo intestinal; menos frequentemente, os
tumores são compostos de células em anel de sinete, infiltrantes, difusas (similares àquelas vistas nos cânceres
gástricos difusos) ou, em casos raros, células pequenas, pouco diferenciadas (similares ao carcinoma de pequenas
células do pulmão).
Aspectos Clínicos
Fatores de risco: álcool, tabaco, pobreza, lesões esofágicas cáusticas, acalásia, tilose, síndrome de Plummer-
Vinson, dietas deficientes em frutas e vegetais, consumo frequente de bebidas muito quentes, radiação do mediastino
(5-10 anos depois) também predispõe os indivíduos ao carcinoma esofágico
Patogenia
A maioria está relacionada ao uso de álcool e tabaco, os quais aumentam o risco de modo sinérgico. Deficiências
nutricionais, assim como hidrocarbonetos policíclicos, nitrosaminas e outros compostos mutagênicos, tais como aqueles
encontrados em alimentos contaminados por fungos, também devem ser consideradas. HPV também pode estar
implicado, mas não em áreas de menor risco.
Morfologia
50% ocorre no terço médio do esôfago (Fig. 17-9B). Inicia como uma lesão in situ chamada de displasia
escamosa (esta lesão é conhecida como uma neoplasia intraepitelial ou carcinoma in situ em outras regiões), visível
como espessamentos pequenos, acinzentados, semelhantes a placas. Ao longo dos anos, elas se tornam massas
tumorais polipoides ou exofíticas e se projetam para luz, obstruindo-a. Os outros 50% ou são lesões ulceradas ou
difusamente infiltrativas, que se espalham dentro da parede esofágica e causam espessamento, enrijecimento e
estreitamento da luz. Eles podem invadir as estruturas circundantes, incluindo a árvore respiratória (pneumonia), a
aorta (exsanguinação catastrófica) ou o mediastino e o pericárdio.
A maioria varia de moderadamente diferenciado até bem diferenciado (Fig. 17-10B). Variantes histológicas
menos comuns incluem o carcinoma de células escamosas verrucoso, o carcinoma de célula fusiforme e o carcinoma de
células escamosas basaloides.
Aspectos Clínicos
Início insidioso, apresenta-se mais comumente com disfagia, odinofagia ou obstrução. Os pacientes se adaptam
subconscientemente à obstrução, que aumenta progressivamente, alterando suas dietas de alimentos sólidos para
líquidos. Perda de peso proeminente e debilitação resultam tanto da alimentação prejudicada quanto dos efeitos do
próprio tumor. Hemorragia e sepse podem acompanhar a ulceração do tumor e sintomas de deficiência de ferro são
frequentemente presentes. Ocasionalmente, os primeiros sintomas são causados por aspiração da comida via fístula
traqueoesofágica.
Taxas de sobrevida em 5 anos são de 75% em indivíduos com carcinoma de células escamosas esofágicas
superficial, mas muito mais baixas em pacientes com tumores mais avançados. As metástases nos linfonodos, que são
comuns, estão associadas com um prognóstico desfavorável.
Morfologia
Os pólipos de glândula fúndica ocorrem no corpo e fundo gástricos e são lesões bem circunscritas com uma
superfície lisa. Eles podem ser solitários ou múltiplos e são compostos de glândulas cisticamente dilatadas, irregulares,
delineadas por células parietais e principais achatadas. A inflamação é tipicamente ausente ou mínima (Fig. 17-16C).
Displasia e até mesmo câncer ocorrem nos pólipos de glândula fúndica associada à PAF, mas pólipos de glândula
fúndica esporádica não trazem nenhum risco de câncer.
Adenoma Gástrico
Representam até 10% de todos os pólipos gástricos (Tabela 17-5). Sua frequência aumenta com a idade, e há
uma variação entre diferentes populações (semelhante a dos adenocarcinomas). Os pacientes geralmente estão entre
50 e 60 anos de idade e os homens são afetados 3x mais. Incidência maior em indivíduos com PAF. Similarmente às
outras formas de displasia gástrica, quase sempre ocorrem em um ambiente de gastrite crônica com atrofia e
metaplasia intestinal. O risco de adenocarcinoma gástricos está relacionado ao tamanho da lesão e é particularmente
elevado em lesões maiores que 2 cm de diâmetro. No geral, o carcinoma pode estar presente em mais de 30% dos
adenomas gástricos.
Morfologia
Geralmente lesões solitárias, com menos de 2 cm de diâmetro, mais comumente localizadas no antro. Maioria
composta pelo epitélio colunar do tipo intestinal, o qual apresenta diversos graus de displasia (Fig. 17-16D). A displasia
pode ser classificada como sendo de baixo ou alto grau, e ambos podem incluir o alargamento, o alongamento, a
pseudoestratificação e a hipercromasia dos núcleos celulares epiteliais, além da aglomeração epitelial. A displasia de
alto grau é caracterizada por atipia citológica mais grave e arquitetura irregular, incluindo brotamento glandular e
estruturas de glândula-dentro-de-glândula, ou cribriformes. Da mesma forma que os adenomas intestinais, os
adenomas gástricos são lesões neoplásticas pré-malignas. No entanto, o risco de transformação para um câncer invasivo
é muito maior nos adenomas gástricos.
Adenocarcinoma Gástrico
Malignidade mais comum do estômago, compreendendo mais de 90% de todos os cânceres gástricos. Os
primeiros sintomas são similares aos da gastrite crônica e da doença ulcerosa péptica, incluindo dispepsia, disfagia e
náusea. Como resultado, esses tumores são frequentemente descobertos em estágios avançados, quando os sintomas,
tais como perda de peso, anorexia, plenitude gástrica (principalmente nos cânceres difusos), anemia e hemorragia,
incitam avaliações diagnósticas adicionais.
Epidemiologia
A incidência varia marcantemente conforme a geografia. Causa líder de morte por câncer no mundo, mas em
redução: menor prevalência de HP, menos consumo de carcinógenos e redução no uso de sal e fumaça na preservação
dos alimentos. (OBS: há aumento na incidência de câncer de cardia – associado ao Barrett. Esse câncer tem semelhantes
morfologia, comportamento clínico e resposta terapêutica.)
Metástases são frequentemente detectadas no momento do diagnóstico. Os locais mais comumente envolvidos
incluem o linfonodo sentinela supraclavicular (nódulo de Virchow), linfonodos periumbilicais (nódulo da Irmã Mary
Joseph), linfonodo axilar esquerdo (nódulo de Irish), o ovário (tumor de Krukenberg) ou o saco de Douglas (massa de
Blumer).
Grupos socioeconômicos baixos, indivíduos com atrofia mucosa multifocal e metaplasia intestinal, gastrectomia
parcial para DUP (hipocloridria, refluxo de bile e gastrite crônica). Displasia e adenoma gástricos são lesões precursoras
reconhecíveis associadas ao adenocarcinoma gástrico.
Patogenia
O câncer gástrico familiar está fortemente associado a mutações de perda de função germinativa no gene
supressor de tumor CDH1, o qual codifica a proteína de adesão celular E-caderina. As mutações de perda de função em
CDH1 também estão presentes em cerca de 50% dos casos esporádicos de tumores gástricos difusos, enquanto a
expressão de caderina-E é drasticamente diminuída nos demais, frequentemente pela hipermetilação e silenciamento
do promotor do CDH1. Logo, a perda da função da caderina-E é um passo-chave no desenvolvimento do câncer gástrico
difuso. As mutações do CDH1 também são comuns nos carcinomas lobulares de mama, esporádicos e familiares, os
quais, como o câncer gástrico difuso (ver adiante) tendem a se infiltrar como células isoladas, e indivíduos com mutações
do BRCA2 estão sob maior risco de desenvolver câncer gástrico difuso. A mutação do TP53 também é encontrada na
maioria dos cânceres gástricos esporádicos, tanto no tipo difuso quanto no tipo intestinal.
Em contraste com os cânceres gástricos difusos, os do tipo intestinal esporádico estão fortemente associados
com mutações que resultam no aumento da via de sinalização Wnt: perda de função no gene supressor de tumores na
polipose adenomatosa coli (APC) e mutações de ganho de função no gene codificador da βcatenina. As mutações de
perda de função ou silenciamento de diversos outros genes supressores de tumores também têm sido identificadas,
incluindo as envolvidas na sinalização de TGFβ (TGFβRII), regulação da apoptose (BAX) e controle do ciclo celular
(CDKN2A). Conforme esperado, pacientes com PAF que carregam mutações germinativas de APC possuem um risco
maior de câncer gástrico do tipo intestinal. Isto é particularmente verdadeiro no Japão e outras áreas de alto risco,
quando comparado com indivíduos com PAF que residem em áreas com baixa incidência de câncer gástrico. Dessa
forma, tanto o plano de fundo genético do hospedeiro quanto os fatores ambientais afetam o risco. Conforme discutido
no contexto da gastrite por H. pylori, as variantes genéticas de genes pró-inflamatórios e de resposta imune, incluindo
os que codificam o IL-1β, TNF, IL-10, IL-8 e o receptor Toll-like 4 (TLR4), estão associadas com o risco elevado de câncer
gástrico, quando acompanhadas pela infecção por H. pylori. Dessa forma, fica claro que a inflamação crônica promove
a neoplasia gástrica.
Morfologia
Aspectos Clínicos
Cânceres gástricos do tipo intestinal predominam em áreas de alto risco e se desenvolvem a partir de lesões
precursoras, incluindo a displasia plana e adenomas. A idade média de apresentação é 55 anos, e a razão homem:mulher
é de 2:1. Em contraste, a incidência do câncer gástrico difuso é relativamente uniforme entre os países, não existem
lesões precursoras identificadas e a doença ocorre em frequências similares em homens e mulheres. Notavelmente, a
queda marcante na incidência de câncer gástrico se aplica somente ao tipo intestinal, o qual está mais intimamente
associado à gastrite atrófica e à metaplasia intestinal. Como resultado, a incidência do câncer gástrico do tipo difuso,
a qual era baixa anteriormente, agora é semelhante à do câncer gástrico do tipo intestinal.
Linfoma
Embora os linfomas extranodais possam surgir em praticamente todos os tecidos, eles ocorrem mais
comumente no trato GI, particularmente no estômago. Em pacientes que receberam células-tronco hematopoiéticas
alogêneicas e transplantes de órgãos, o intestino também é o local mais frequente para linfoproliferações da célula B
positiva ao vírus Epstein-Barr. Essa localização preferencial é mais provável porque os deficits da função da célula T,
causados por agentes imunossupressores orais (p. ex., ciclosporina), são maiores nos locais do intestino onde ocorre a
absorção do medicamento. Cerca de 5% de todas as malignidades gástricas são linfomas primários, sendo a maioria os
linfomas indolentes de células B da zona marginal extranodal. No intestino, esses tumores são comumente conhecidos
como linfomas do tecido linfoide associado à mucosa (MALT), ou MALTomas.
Patogenia
Os linfomas de células B da zona marginal extranodal geralmente surgem em locais de inflamação crônica. Eles
podem se originar no trato GI em locais de MALT preexistente, tais como as placas de Peyer do intestino delgado, mas
surgem mais comumente em tecidos que são normalmente desprovidos de tecido linfoide organizado. No estômago,
o MALT é induzido, geralmente, como resultado de gastrite crônica. A infecção por H. pylori é o indutor mais comum
no estômago e, portanto, é encontrada em associação com a maioria dos casos de MALToma gástrico. Notavelmente, a
erradicação do H. pylori resulta em remissões duradouras, com baixas taxas de recorrência na maioria dos pacientes.
Três translocações estão associadas ao MALToma gástrico: a t(11;18)(q21;q21) e as menos comuns t(1;14)
(p22;q32) e t(14;18) (q32;q21). A translocação t(11;18)(q21;q21) traz junto com ela o gene inibidor de apoptose 2 (API2)
no cromossomo 11 com o gene “mutado em linfoma MALT”, ou MLT, no cromossomo 18. Isto cria um gene de fusão
API2-MLT quimérico que codifica uma proteína de fusão API2-MLT. As translocações t(14;18) (q32;q21) e
t(1;14)(p22;q32) causam aumento na expressão do MALT1 intacto e das proteínas BCL-10, respectivamente.
Cada uma das três translocações tem o mesmo efeito na prática: a ativação constitutiva do NF-κB, um fator de
transcrição que promove o crescimento e a sobrevivência das células B. A ativação dependente de antígeno de NF-κB
em células B e T normais requer tanto a BCL-10 quanto o MLT, os quais trabalham em conjunto em uma via paralela
(downstream) dos receptores de antígenos das células B e T. Dessa forma, a inflamação induzida por H. pylori pode
desencadear a ativação do NF-kB através da via MLT/BCL-10 nos MALTomas que não possuem tais translocações. A
remoção do estímulo pode explicar o motivo de estes tumores tenderem a responder à erradicação do H. pylori. Em
contraste, o NF-κB é constitutivamente ativo em tumores que carregam as translocações envolvendo o MLT ou BCL-10,
e o tratamento contra o H. pylori não tem efeito. Outras características tumorais, incluindo a invasão da muscular
própria ou mais além e o envolvimento do linfonodo, também correlacionam-se com a falha na erradicação do H.
pylori para induzir a remissão.
Como ocorre com outros linfomas de baixo grau, podem transformar-se em tumores mais agressivos, os quais
são histologicamente idênticos aos linfomas difusos de grandes células B. Isto é frequentemente associado com
alterações genéticas adicionais, como a inativação dos genes supressores de tumores que codificam o p53 e p16.
Presume-se que os MALTomas que tenham passado por tal transformação não respondam à erradicação do H. pylori.
Morfologia
Aspectos Clínicos
Tumor Carcinoide
Tumores neuroendócrinos bem diferenciados. O termo carcinoide, ou “semelhante a carcinoma”, foi aplicado
porque esses tumores tendem a ter um curso clínico mais indolente do que os carcinomas GI. A maioria é encontrada
no trato GI, e mais de 40% ocorrem no intestino delgado (Tabela 17-6). A árvore traqueobrônquica e pulmões são os
outros locais mais comumente envolvidos. Os tumores carcinoides gástricos podem estar associados a hiperplasia de
células endócrinas, gastrite atrófica crônica autoimune, MEN-I e síndrome de Zollinger-Ellison. Além da gastrite
atrófica crônica autoimune, como já discutido, a hiperplasia das células endócrinas gástricas pode estar associada à
terapia com inibidores de bombas de prótons, mas o risco de progressão para uma neoplasia neuroendócrina nessas
circunstâncias é extremamente baixo.
Morfologia
Macroscopicamente, os carcinoides são massas intramurais ou submucosas que criam pequenas lesões
polipoides (Fig. 17-20A). No estômago, eles geralmente surgem dentro da mucosa oxíntica. Em todos os locais GI, a
mucosa sobrejacente pode estar intacta ou ulcerada, e nos intestinos, os tumores podem invadir profundamente para
envolver o mesentério. Os carcinoides tendem a ser amarelos ou castanhos e são muito firmes, como consequência de
uma reação desmoplásica intensa, o que pode causar torção e obstrução do intestino. Histologicamente, os carcinoides
são compostos de ilhas, trabéculas, cordões, glândulas ou ninhos de células uniformes, com citoplasma granular
rosado escasso e um núcleo pontilhado, de redondo a oval (Fig. 17- 20). Na maioria dos tumores, há um pleomorfismo
mínimo, mas anaplasia, atividade mitótica e necrose podem estar presentes em casos raros. Colorações imuno-
histoquímicas são tipicamente positivas em marcadores de grânulos endócrinos, como sinaptofisina e cromogranina A.
Aspectos Clínicos
O pico de incidência dos tumores carcinoides é na 6ª década, mas eles podem aparecer em qualquer idade. Os
sintomas são determinados pelos hormônios produzidos. Por exemplo, os tumores que produzem gastrina podem
causar a síndrome de Zollinger-Ellison, enquanto os tumores ileais podem causar síndrome carcinoide, a qual é
caracterizada por ruborização cutânea, sudorese, broncospasmos, cólicas abdominais, diarreia e fibrose valvular
cardíaca direita. A síndrome carcinoide ocorre em menos de 10% dos pacientes e é causada por substâncias vasoativas
secretadas pelo tumor na circulação sistêmica. Quando os tumores são confinados ao intestino, as substâncias
vasoativas liberadas são metabolizadas para formas inativas pelo fígado, um efeito de “primeira passagem” similar
àquele exercido sobre os medicamentos orais. Isto pode ser ultrapassado por uma grande massa de tumor ou, mais
comumente, quando tumores secretam hormônios na circulação venosa não portal. A síndrome carcinoide é, portanto,
fortemente associada a doenças metastáticas no fígado, pois os produtos bioativos podem ser liberados diretamente
na circulação sistêmica.
O fator prognóstico mais importante para os tumores carcinoides GI é a localização.
• Tumores carcinoides do intestino anterior, aqueles encontrados no estômago, duodeno próximo ao ligamento
de Treitz e esôfago, raramente originam metástases e são geralmente curados pela ressecção. Isso é particularmente
verdadeiro para os tumores carcinoides gástricos que surgem em associação com a gastrite atrófica, enquanto os
tumores carcinoides sem fatores predisponentes geralmente são mais agressivos.
Epidemiologia
Clinicamente silenciosas, as proliferações microscópicas que podem representar precursores do GIST estão
presentes em 10% a 30% dos estômagos removidos. Estas possuem um índice mitótico baixo e apresentam falta de
pleomorfismo, além de outras características que sugerem malignidade. O risco de que essas proliferações benignas
tornem-se um GIST é estimado em um a cada 2.000.
O pico etário no qual os GISTs são clinicalmente evidentes é de aproximadamente 60 anos, com menos de 10%
ocorrendo em indivíduos abaixo dos 40 anos de idade. Dos incomuns GISTs em crianças, alguns estão relacionados à
tríade de Carney, uma síndrome não hereditária, de etiologia desconhecida e observada principalmente em mulheres
jovens, que inclui GISTs gástricos, paragangliomas e condroma pulmonar. Há também uma incidência aumentada de
GISTs em indivíduos com neurofibromatose tipo 1.
Patogenia
Entre 75% e 80% de todos os GISTs possuem mutações oncogênicas de ganho de função no receptor tirosina-
cinase KIT. Aproximadamente 8% dos GISTs possuem mutações que ativam um receptor α do fator de crescimento
derivado de plaquetas da tirosina-cinase, proximamente relacionado. Por motivos desconhecidos, os GISTs portando
mutações PDGFRA são mais frequentes no estômago. Mutações do gene KIT e PDGFRA são mutuamente exclusivas,
refletindo suas atividades dentro da mesma via de transdução de sinal. Mutações germinativas nos mesmos genes estão
presentes em raros GISTs familiares, nos quais o paciente desenvolve múltiplos GISTs e pode também apresentar
hiperplasia difusa das células de Cajal. Tanto as mutações germinativas quanto as esporádicas resultam em receptores
de tirosina-cinase de PDGFRA ou KIT constitutivamente ativos e produzem sinais intracelulares que promovem a
proliferação e a sobrevivência das células tumorais (Cap. 7). Alguns GISTs sem mutações KIT ou PDGFRA possuem
mutações em outros genes que funcionam nestas vias (NF1, BRAF, HRAS ou NRAS). No entanto, mais comuns são as
mutações que ocorrem em genes que codificam os componentes do complexo da succinato-desidrogenase mitocondrial
(SDHA, SDHB, SDHC, SDHD). Essas mutações, as quais causam perda da função SDH, são comumente herdadas na
germinação e conferem um aumento no risco de TEGI e paraganglioma (síndrome de Carney-Stratakis — não confundir
com a tríade de Carney), com a segunda cópia do gene afetado tendo sofrido mutação ou sendo perdida no tumor. Os
mecanismos através dos quais as mutações de SDH resultam no GIST não são claros; uma hipótese é a de que o acúmulo
de succinato leva à desregulação do fator induzível por hipoxia 1α (HIF-1α), o qual resulta no aumento da transcrição
dos genes do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e no fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF1R).
A mutação do KIT ou PDGFRA é um evento precoce nos GISTs esporádicos e é detectável em lesões com até 3
mm. Portanto, as mutações do KIT ou PDGFRA, sozinhas, são insuficientes para a gênese do tumor. Alterações
associadas com a progressão para o GIST observável não são bem definidas, mas a perda ou supressão parcial dos
cromossomos 14 e 22 é comum e as perdas e ganhos em outros cromossomos também ocorrem. Em particular, a
supressão de 9p resulta na perda do regulador do ciclo celular CDKN2A, um supressor de tumor envolvido em muitos
cânceres. Além de estar potencialmente ligado à progressão, o aumento do número de alterações cromossômicas
correlaciona-se com um prognóstico negativo.
Morfologia
Aspectos Clínicos
O fenótipo molecular é uma consideração importante no tratamento de pacientes com GISTs não ressecáveis,
recorrentes ou metastáticos. Os que possuem mutações em KIT ou PDGFRA frequentemente respondem ao imatinib,
um inibidor de tirosina-cinase. Em contrapartida, tumores sem essas mutações são geralmente resistentes. Além disso,
mutações em KIT ou PDGFRA específicas estão associadas a diferentes sensibilidades a medicamentos. Em pacientes em
tratamento, o desenvolvimento da resistência ao imatinib é comum. Isto ocorre devido a mutações secundárias de KIT
ou PDGFRA. Tumores com mutações secundárias podem responder a outros inibidores de tirosina-cinase, bem como a
terapias experimentais com o alvo em outras vias.