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Resumo
As taxas de incidência do câncer na população têm sofrido previsível avanço nas
últimas décadas, seja pelo fenômeno do aumento da longevidade da população ou estilo
de vida. Apesar dessa previsão, já esperada por órgãos de saúde pública, grande parte
dos espaços de saúde não foram desenvolvidos para lidar com o desafio de ser um
espaço de cura e, ao mesmo tempo, ser um ambiente agradável, confortável, com um
impacto positivo para o paciente. Ainda no campo teórico, são poucos as referências
que abordam o papel do projeto de interiores em unidades de saúde, muito se fala em
decoração, mas pouco em projetos de interiores equacionados com aspectos do
conforto ambiental e voltados para melhoria de atendimento e experiência. Quando se
trata de unidades oncológicas, a bibliografia é ainda mais escassa.
Diante da lacuna de bibliografia que trate desses ambientes através do viés
apresentado e de propostas projetuais que demonstrem como é possível criar esses
ambientes, O objeto desta pesquisa é abordar os aspectos que justificam o projeto de
interiores como item essencial a ser considerado na concepção de clínicas oncológicas
e como equacionar todas as exigências técnicas e ainda criar um ambiente não
excessivamente higienista do ponto de vista estético.
Foram abordadas as legislações para espaços físicos de saúde, sobre conforto
higrotérmico, visual, acústico e outras normativas, além de bibliografia especializada
em ambientes de saúde e em procedimentos médicos. Fêz-se necessário a análise desse
material para desenvolvimento de simulação de um dos setores mais icônicos no
tratamento oncológico, a sala para aplicação de quimioterápicos.
Concluiu-se que, apesar de pouca bibliografia relacionando a influência do projeto de
interiores com o ambiente oncológico, a legislação e a bibliografia estudada dão as
ferramentas e condições necessárias para criar ambientes que impactem positivamente
pacientes, acompanhantes e equipes de saúde, como demonstrado na simulação.
Palavras-chave: Arquitetura de saúde. Humanização. Projeto hospitalar. Oncologia
1. Introdução
O aumento da longevidade junto com o estilo de vida predominante no ocidente tem
aumentado a incidência de câncer, com previsão de alcance em 2030 de 20 milhões de
novos casos diagnosticados por ano (World Cancer Report 2014). Apenas no biênio
2016-2017estima-se que serão 600.000 novos casos no Brasil.
Sucessivas internações, com períodos prolongados de tratamento fazem parte da rotina
dos pacientes e acompanhantes, que precisam adotar esses espaços como uma extensão
de sua própria moradia e comunidade, portantoa preocupação com a qualidade dos
espaços oferecidos se revela de grande importância, pois influencia diretamente o
convívio dentro da população usuária, na relação com os profissionais de saúde e causa
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2. Humanização hospitalar
A arquitetura dos espaços internos é interesse recente na arquitetura de saúde, até o
século XVII a concepção das áreas internas em um ambiente hospitalar era reduzida a
noção de hospedaria para doentes, viajantes e pobres, com nenhuma compreensão da
influência do espaço físico sobre seus usuários. Com a evolução científica, e com o
advento da revolução industrial, deu-se uma nova percepção sobre esses espaços, pois
as doenças e seus agentes causadores passaram a ser melhor compreendidos juntamente
com a influência do ambiente construído, então o ambiente hospitalar passa a ser de
espaço de cura em detrimento da noção anterior de espaço de hospedaria. Essa
tendência se intensifica a partir do século 19, quando se entende que o cuidado com o
espaço físico é essencial para a cura ou ao menos para não agravamento do quadro dos
pacientes.
Segundo Lukiantchuki e Souza (2010), a partir de meados do século 20, o interesse pela
saúde e doença é visto sob um novo viés com as críticas da sociologia e da antropologia
sobre à abordagem estritamente biológica desses conceitos, essas críticas permitiram
que o foco da discussão sobre os espaços hospitalares fosse renovado, mudança que
evidenciou a necessidade de humanizar os espaços dentro da unidade de saúde.
A Política Nacional de Humanização (PNH) defende como uma das diretrizes para a
humanização a criação de“espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que respeitem a
privacidade, propiciem mudanças no processo de trabalho e sejam lugares de encontro entre as
pessoas.”
A humanização do ambiente de saúde, em especial os centros oncológicos, compreende
muito mais que mero tratamento estético, contempla um conjunto de aspectos
responsáveis – funcionalidade, atendimento e conforto ambiental.
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Segundo Jencks, Arquitetura deve envolver mais que a visão e ainda, deve incorporar
outros sentidos em movimento, particularmente o corpo" (JENCKS apudJANELA: 35).
Nesse contexto é muito pertinente que se trate do projeto de interiores em unidades de
saúde através de uma visão mais complexa, como parte de um ambiente de cura.
3. Healing environment
"Não basta minimizar a presença dos fatores de stress, mas também possibilitar as
condições físicas, ambientais e sociais capazes de favorecer o bem estar do usuário"
(NORD, 2012:21)
Segundo Guelli (2014), o espaço está dentro do contexto de atenção à saúde através da
influência no comportamento dos usuários e participando do processo de cura. Esta
abordagem é a base para alguns conceitos humanistas que abordam o espaço físico
dentro do processo de cura, participando da própria realização dos esforços para adoção
de um modelo terapêutico humanístico que abrange a influência do espaço físico na
recuperação do paciente, inclusive quanto a percepção dos usuários.
Dentre esses modelos se destaca o Ambiente Terapêutico ou Healing Enviromentque
explora 4 aspectos:
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4. O projeto de interiores
Com a evolução do conceito de ambiência em espaços internos, e em vista ao estado
fragilizado dos pacientes de um centro oncológico, o projeto de interiores deve
responder ao anseio de criar ambientes centradosno paciente, segundo Cardoso (2014):
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Estes são alguns dos variados questionamentos pertinentes que afloram durante a
concepção do objeto centro oncológico e que influenciam diretamente o projeto de
interiores, visto que criam diferentes composições de áreas, acessos, circulação, luz,
dentre outros aspectos, a serem considerados durante o projeto de interiores.
A RDC 50/2002, define o programa mínimo necessário para atendimento em clínicas
oncológicas, mas também aborda tipos de materiais a serem utilizados, conforto
acústico, luminoso e higrotérmico, conceitos que também devem ser abordados pelo
projeto de interiores.
“A qualidade espacial do ambiente também não pode ser esquecida,
espacialmente se acreditarmos que a própria arquitetura do EAS poderá vir a
constituir um fator importante para o processo de cura. Assim, detalhes como
as cores dos ambientes, os materiais de acabamento, o mobiliário, a
iluminação natural e artificial não podem ser descuidados” (TOLEDO 2002)
5. Iluminação
Luz é a radiação eletromagnética emitida por fonte natural ou artificial responsável por
produzir sensação visual e capaz de afetar a vida e saúde das pessoas, com influência
que incidena execução de tarefas, bem-estar físico, psicológico e ainda em processos de
funcionamento do organismo humano, por meio do ciclo circadiano.
O projeto luminotécnico e a influência da luz na ambiência do ambiente hospitalar,
tanto para pacientes como para colaboradores, cuja importância vem sendo pesquisada
há poucas décadas e quedeve atender a uma série de demandas distintas,têm sido tratado
por alguns arquitetos e designers, a partir das novas abordagens da iluminação para
estes locais (FONSECA, 2000 apud HOREVICZ e DE CUNTO, 2007).
Pelo tipo de atividade desempenhado em projetos de ambientes de saúde e estado
fragilizado em que se encontram seus pacientes, o cuidado com a escolha dos elementos
de iluminação é imprescindível.
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6. Cor
A existência da cor está relacionada a própria decodificação da luz, e em seu conceito
mais puro se traduz pela reflexão de comprimentos de onda, não absorvidos por
determinado material ou substância, interpretados por cones e bastonetes localizados na
retina.Contudo, o processo que permite essa existência e sua percepção como elemento
são visões muito diferentes acerca do mesmo objeto. A percepção da cor é influenciada
tanto por fatores externos como incidência de iluminação quanto por processos internos
de cada indivíduo, e pode ainda fazer parte da representação de valor cultural um
período.
A cor é considerada um estimulante psíquico de grande potÊncia que pode
afetar o humor, a sensibilidade e produzir impressões, emoções e reflexos
sensoriais muito importantes, podendo perturbar o estado de consciência,
impulsionar um desejo, criar uma sensação de ambiente, ativar a imaginação
ou produzir um sentimento de simpatia ou repulsa, atuando como uma
energia estimulante ou tranquilizante.
Seu efeito pode ser quente ou frio, aproximativo ou retrocessivo, de tensão ou
de repouso. (COSTI, 2002:115 apud FROTA 2005)
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Classificação
Exemplos Efeitos
das cores
Motivação, entusiasmo com vivacidade, atividade,
vontade, calor, excitação, iniciativa, disposição para
agir, persistência, força física, estímulo, poder,
Amarelo, laranja,
Quentes afetuosidade, perdão, criatividade, alegria, assim
vemelho
como confiança, coragem, animação,
espontaneidade e atitude positiva frente à vida,
esperança e compreensão
Participação, adaptabilidade, generosidade,
Frias Azul, verde, violeta cooperação, atenua as emoções, facilita o raciocínio
correto e amplia a consciência e compreensão, idéia
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O preto, branco e o cinza são consideradas cores neutras, cujo tipo de estímulo e
percepção que podem induzir depende ainda mais fortemente do contexto
Ainda assim, se percebe que “o efeito das cores sobre as pessoas depende da idade,
cultura, sexo e outros fatores. Nos hospitais, é fundamental a análise das necessidades
dos possíveis usuários de cada setor para elaborar o estudo cromático mais
adequado”(MARTINS 2004)
7. Conforto higrotérmico
O termo Conforto Ambiental carrega consigo grande carga de complexidade, são
diversas variáveis que atuam sobre a fisiologia e processos humanos, sendo uma das
mais mencionadas o conforto higrotérmico. Segundo a NBR 15220/2003- Desempenho
térmico de edificações, conforto térmico é a “satisfação psicofisiológica de um
indivíduo com as condições térmicas do ambiente”
Alcançar conforto térmico significa controlar uma série de variáveis, Frota aponta como
principais variáveis climáticas dentro do conforto térmico a temperatura, umidade e
velocidade do ar e radiação solar incidentee afirma que:
Quando as trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente ocorrem sem
maior esforço, a sensação do indivíduo é de conforto térmico e sua
capacidade de trabalho, desse ponto de vista, é máxima. Se as condições
térmicas ambientais causam sensação de frio ou calor, é porque nosso
organismo está perdendo mais calor ou menos calor que o necessário para a
homeotermia, que passa a ser conseguida com esforço adicional que
representa sobrecarga, com queda de rendimento no trabalho, até o limite,
sob condições de rigor excepcionais, de perda total de capacidade de trabalho
e/ou problema de saúde.
A idéia de neutralidade térmica como único ou principal requisito para o conforto
térmico também é reforçada com a afirmação de Shin-Iche Tanabe, que afirma que
“Neutralidade Térmica é a condição da mente que expressa satisfação com a
temperatura do corpo como um todo” (TANABE 1984 apud LAMBERTS et al 2011).
Por outro lado, ainda que necessária, a neutralidade térmica não é suficiente para
garantir o conforto térmico do usuário, pois ainda que esta se encontre nessa
neutralidade, outros fatores podem influenciar negativamente a condição de conforto,
como a incidência de uma corrente de ar localizada, de radiação solar mais forte em
alguma parte do corpo, entre outros. E ainda que se compreenda que a neutralidade
térmica é importante, existem duas abordagens principais e distintas que tratam de como
administrar as condições microclimáticas do ambiente para o atendimento ao conforto
térmico, são elas:
Estática: Considera o ser humano como receptor passivo do ambiente térmico;
Adaptativa: interage com o ambiente em resposta às suas sensações e preferências
térmicas.
Para o projeto de interiores em clínicas oncológicas a segunda abordagem se mostra
mais eficaz, por abranger a complexidade da existência humana ao analisar o conforto
térmico, considerando fatores biofísicos, fisiológicos e subjetivos. O atendimento a um
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nível de conforto térmico é complexo, pois dentro desses fatores existem muitas
variáveis como clima do local, gênero, idade, biótipo, saúde, entre outras, a serem
consideradas no projeto e que podem alterar a sensação de conforto.
Para Lambert et al (2011), faz parte do fator subjetivo, que ele denomina psicológico, as
“percepções e reações das informações sensoriais”. E ainda complementa,“a percepção
térmica é diretamente atenuada por sensações e expectativas ao clima interno”. Sendo
assim, aspectos do projeto de interiores como tipo de iluminação, cores, materiais e
texturas podem influenciar a percepção de conforto térmico.
8. Conforto acústico
O conforto acústico está relacionado, e depende, da qualidade do som presente no
ambiente. Reprodução de forma clara, não reverberação por longo período após a
produção, ausência de ruídos ou interferências sonoras que prejudiquem a comunicação
ou causem desconforto são alguns dos aspectos a serem observados no atendimento ao
conforto acústico.
Atender esse conforto em unidades de saúde exige um grau de complexidade maior, e
Bittencourt (2014) atribuiisso a uma paradoxal situação ao ambiente hospitalar:
É um local que exige condições de conforto acústico especiais, com níveis de
ruído que atendam às recomendações estabelecidas pelas normas técnicas e,
por outro lado, ser também um local com componentes de situações e
equipamentos que produzem condições extremamente ruidosas
O funcionamento do ambiente de saúde é focado na melhoria de vida do usuário, e para
tal, muitas vezes são necessários equipamentos ruidosos que acabam por provocar
desconforto acústico e prejudicar o processo de tratamento, STERNBERG(2010) em
comunhão com o Evidence based design, afirma que o local também tem efeito sob o
processo de cura, e quando o indivíduo se encontra isolado, distante de amigos e
familiares em um local onde o barulho é constante, como em unidades de saúde, ocorre
estresse e em alguns casos pode haver sobrecarga do sistema imunológico e retardo no
processo de cura.
O impacto do ruído não se restringe a interferir na fisiologia e conforto do paciente, a
necessidade de atenção constante por parte dos profissionais de saúde para a realização
de diversas das atividades cotidianas pode ser prejudicada, o estudo realizado por
Miasso et al (2006) identificou que o processo de preparo e administração de
medicamentos, quando ocorre em ambiente ruidoso, dificulta a concentração dos
profissionais e os induz a erros.
A NBR 10152/2003, que trata dos níveis de ruído para conforto acústico, define uma
faixa entre 35 a 50 dB como aceitável para estabelecimentos de saúde, com exceção as
áreas de serviço onde o valor pode ser de até 55dB, mas a Organização Mundial da
Saúde recomenda que esse tipo de ambiente o ruído não ultrapasse os 40 dBdurante
período diurno e 35 dB em período noturno. Filus et al (2014) aborda a situação das
Unidades de Terapia Intensiva, onde a urgência em manter a vida se mostra de maneira
mais intensa, mas é paradoxalmente um dos ambientes com maior nível de ruído, e que
provocam maior desconforto acústico a pessoas em estado já fragilizado.
UTIs são locais particularmente afetados pelo ruído. Nelas, são empregados
muitos equipamentos dotados de alarmes acústicos, essenciais para alertar
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9. Fluxo e função
O arranjo dos ambientes que compõe as unidades de saúde, quando bem
solucionado,conduz o usuário (pacientes e equipes de saúde) obedecendo ao fluxo de
atividades e procedimentos necessários a qual se destina a unidade. Santos et al (2014)
aborda que existem diversos caminhos a serem percorridos dentro desse fluxo, a
depender do papel de cada indivíduo dentro da dinâmica de funcionamento:
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10. Mobiliário
O projeto de interiores em ambientes de saúde vem sendo estudado como uma extensão
do ambiente residencial, com uma atmosfera acolhedora, de forma que continuem com
sua função de cuidado e atenção à saúde, mas que sejam esteticamente agradáveis e
positivos, voltados para o paciente e suas necessidades.
A questão da proximidade nesse espaço é fundamental para pensarmos em
um ambiente que se proponha a harmonizar e curar o indivíduo. A escala dos
objetos e espaços internos parece que se amplia, em vez de reduzir-se e
atingir um estado de bem-estar humano. O sentido de proximidade entre os
objetos, sujeitos e espaços é necessário para a amenização do vazio do
homem em crise. Urge a necessidade de uma aproximação física, de um
preenchimento pelo afeto, com a respectiva atenuação da dor e a conquista da
aceitação individual e social” (COSTA 2001 apud LUKIANTCHUKI et al
2010)
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e acabamentos de tecido crypton são bastante efetivos para serem usados nos
quartos dos pacientes, em salas de espera e de procedimentos. Mobiliários
com acabamentos antimicrobióticos, como íons de prata em madeira e metal,
também inibem o crescimento de micróbios. (SILVIS, 2011)
11. Superfícies
Dentro dos ambientes de saúde, as superfícies desempenham papel fundamental para o
funcionamento e vida útil dos mesmos. Elas correspondem a pisos, paredes, tetos,
materiais que revestem os equipamentos, bancadas, materiais que compõem e/ou
revestem mobiliário, assim, o cuidado com a especificação desses materiais se justifica
em todos os ambientes destinados ao cuidado da saúde.
Estudos abordados por Weinstein (2004) demonstram que grande quantidade de
bactérias, fungos e vírus, em alguns casos possivelmente letais como o SARS² e o
Influenzapodem resistir até 48 horas em superfícies não porosas e 72 horas em materiais
revestidos por laminados (Ex.: Formica®).
Ao tratar da importância da união de fatores para a correta especificação dos materiais
de acabamento Bicalho e Barcelos (2002:43apud Toledo 2002) afirmam que:
Na definição dos materiais de acabamento a serem aplicados em um EAS³,
deve-se observar, além das questões de estética, acústica, durabilidade, custo,
entre outras, as condições que serão higienizados, com que produto e com
que frequência. De uma maneira geral, o que se busca são materiais que
tornem as paredes, pisos, tetos e bancadas lisas, resistentes, impermeáveis ou
quase, laváveis e de fácil higienização. Os diferentes ambientes de um EAS
podem ser classificados quanto ao risco de transmissão de infecções e isto é
imprescindível para a escolha correta do material, tendo em vista que quanto
mais crítica for a área, maior será a exigência no que diz respeito à
higienização. ((BICALHO E BARCELOS 2002:43 APUD
TOLEDO 2002)
A RDC 50/2002 define que três tipos de zoneamento para classificação dos ambientes
em unidades de saúde: áreas não-críticas, áreas semicríticas e áreas críticas. Considera-
se como não crítica apenas as áreas não ocupadas por pacientes e onde não se realizam
procedimentos de risco, ou seja, qualquer área a qual o acesso do paciente é possível é
considerada como passível para transmissão de infecção em maior ou menor risco. A
norma aborda a importância das superfícies para prevenção de infecções, definindo que
a escolha dos materiais deve estar de acordo com o método de higienização preconizado
nomanual Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de Saúde
(Ministério da Saúde, 1994) e ainda conclui que:
Os materiais adequados para o revestimento de paredes, pisos e tetos de
ambientes de áreas críticas e semicríticas devem ser resistentes à lavagem e ao
uso de desinfetantes;
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AMBIENTES DE APOIO:
-Área para registro e espera de pacientes
-Sala de utilidades
-Sanitário de pacientes ( sala de aplicação )
-Depósito de material de limpeza
*-Sanitários de pacientes ( área de espera )
*-Sala administrativa
*-Copa
*- Área para guarda de macas e cadeira de rodas
Obs.: ¹ Pode ser realizado nos quartos ou enfermarias da internação.
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Legenda: 1 - acesso e circulação; 2 - Posto de enfermagem; 3 - Baia com poltrona para aplicação de
quimioterapia; 4 - Quarto para aplicação de quimioterapia
Figura 2 - Planta baixa da sala de aplicação de quimioterápicos
Fonte: Autora
O ambiente de acesso as baias é um espaço amplo e bem iluminado por luz natural e
artificial, com adoção de cores, fotografia e padrões de acabamento semelhantes a
madeira. O posto de enfermagem foi locado no centro deste espaço, com formato
circular, para auxiliar o cuidado a saúde por parte da equipe para com os pacientes.
Nesse espaço ainda foi aplicada manta vinílica em duas cores distintas, direcionando o
fluxo, e trazendo a noção de movimento e leveza através das linhas curvas, ideia
reforçada pelo desenho da iluminação artificial.Esses elementos foram definidos para,
além de criar um espaço funcional, do ponto de vista das atribuições referentes a
atividade realizada, o espaço possa auxiliar para diminuir a ansiedade dos pacientes.
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As baias para aplicação de quimioterápico foram concebidas para serem locais mais
próximos e confortáveis aos pacientes, uma extensão do conceito de moradia. A
definição do layout e escolha de mobiliário e elementos foram influenciadas também
pelos aspectos suporte social, senso de controle e distração positiva, abordados pelo
Healing Enviroment.
Cada baia contém 1 poltrona para aplicação (ou maca), 1 poltrona para o acompanhante,
mesa lateral, bancada de apoio, armário para armazenamento, televisão e quadros.Cada
um desses espaços possui comunicação direta com a área de circulação e podem ser
monitorados simultaneamente pelo posto de enfermagem, sendo separados por cortinas,
para quando o paciente desejar mais privacidade.
O uso de mobiliário com cores, os acabamentos de parede e painel da televisão em
manta vinílica com padrão em madeira estão de acordo com a legislação, mas criam
uma atmosfera mais aconchegante e agradávelpara paciente e acompanhante. A escolha
de quadros, televisão e vegetação (lado externo as esquadrias) foram definidos para
atuar como distrações positivas durante o tratamento e reforçar a ideia de ambiente
familiar e agradável aos pacientes, auxiliando no tratamento.
As baias também possuem mecanismos para que o paciente possa exercer o senso de
controle, além das cortinas que dão acesso a circulação, cada esquadria possui persianas
internas, que o paciente pode acionar para ter maior ou menor visibilidade para o
exterior e controle de luminosidade.
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13. Conclusão
A previsão de aumento para a incidência de câncer na população mundial mostra um
grande desafio a ser enfrentado dentro da concepção dessas unidades de saúde: Como
projetar ambientes que possam influenciar positivamente o comportamento dos
pacientes e equipe de saúde¿
A bibliografia revisada aponta uma relação muito próxima do ambiente com o paciente
e a própria evolução do tratamento, portanto se entende que a atenção ao projeto de
interiores é item fundamental dentro das unidades voltadas para o tratamento
oncológico para a melhoria da qualidade de vida da população usuária. A compreensão
desse novo modelo de ambiente, em conjunto com o atendimento ao conforto ambiental
é responsável por criar espaços mais funcionais e agradáveis aos usuários
Este trabalho abordou as legislações pertinentes ao objeto pesquisado e bibliografias
referentes ao tema com o intuito de demonstrar a importância do projeto de interiores
em clínicas oncológicas e os desdobramentos provocados pelo mesmo na atenção a
saúde. Tomaram-se esses dados como base para a simulação de um dos ambientes mais
representativos do objeto: a sala para aplicação de quimioterápicos, aqui apresentada
como potencial para influenciar positivamente através de um projeto de interiores de
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acordo com a especificidade normativa referente ao objeto, mas com o uso de elementos
que permitam ao usuário se sentir mais acolhido naquele ambiente.
Considera-se fundamental o aumento de pesquisas que abordem a relação do projeto de
interiores em unidades oncológicas e suas consequências, dentro da concepção do
científica do Evidence Based Design, trazendo comprovação para o que já é
recomendado: a concepção do espaço centrado no bem estar do usuário e influenciando
positivamente comportamentos e processos.
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WEYER, Julian. et al. Healing Architecture for the Common Good. In:
https://issuu.com/cfmoller4/docs/healthcare_c.f._m__ller_print_2015. Capturado em
24/02/2017. 2015
Apêndice
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017
O projeto de interiores em unidades para tratamento oncológico Dezembro/2017
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017
O projeto de interiores em unidades para tratamento oncológico Dezembro/2017
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017
O projeto de interiores em unidades para tratamento oncológico Dezembro/2017
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol. 01 dezembro/2017