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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Resposta de fase aguda.......................................... 4
3. Classificação................................................................. 7
4. Proteína C-reativa....................................................... 9
5. Velocidade de hemossedimentação.................16
6. Fibrinogênio................................................................17
7. Proteína Sérica Amiloide A...................................18
8. α 1 - Glicoproteína ácida (AGP)..........................21
9. Eletroforese de proteínas séricas (EPS)...........21
10. Aplicação Clínica....................................................27
Referências Bibliográficas .........................................33
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 3

1. INTRODUÇÃO que teriam sido alcançadas. Assim,


a análise laboratorial desses marcado-
Agressões deflagradas contra o or-
res permite, juntamente com os dados
ganismo produzem lesões tecidu-
clínicos e outros exames complemen-
ais em diferentes níveis e, diante de
tares, acessar a atividade de algumas
tal situação, ele passa a efetuar uma
doenças e monitorar a resposta à te-
resposta expressivamente marcada
rapêutica, assim como pode sugerir
pela mobilização de recursos que, em
presença de infecção. Não devemos
linhas gerais, se traduzem em mo-
esquecer que quase simultaneamente
dificações capazes de oportunizar a
são desencadeados mecanismos con-
eliminação dos patógenos, limitar os
trarreguladores cuja ação se dá por
danos gerados por eles e restaurar as
uma via que envolve mediadores an-
áreas acometidas pela lesão. Tais mo-
ti-inflamatórios os quais são normal-
dificações, por sua vez, dependem do
mente capazes de manter o processo
quanto varia a concentração sérica de
em equilíbrio.
um importante conjunto de proteínas
as quais atuam como biomarcadores. Precisamos ter sempre em mente al-
guns conceitos que são fundamen-
Certamente, você fez uma associação
tais para encadear o nosso racio-
entre a referida “resposta” e as “modi-
cínio no sentido de compreender
ficações” consequentes ao processo
o racional científico que envolve os
inflamatório em seu vasto conjun-
estudos sobre o universo dos mar-
to de peculiaridades e, sendo assim,
cadores inflamatórios. Vamos, então,
não fica difícil imaginar a importân-
desenvolver a partir de agora um bre-
cia de utilizarmos em nossas inves-
ve resgate de informações, construin-
tigações clínicas as taxas referentes
do juntos um roteiro de entendimento
a quaisquer desses biomarcadores
sobre o assunto. Que tal?
inflamatórios, afinal muitas relações
já foram bem estabelecidas cientifi- Primeiramente, já é de nosso conhe-
camente entre as apresentações de cimento que o sistema imunológico
cada um deles e os mais diversos ti- apresenta em sua composição prote-
pos injúrias aos tecidos. ínas responsáveis pela mediação das
suas respostas, tornando-as mais efi-
Os níveis dos biomarcadores inflama-
cazes. As citocinas, proteínas regu-
tórios assumem uma relevância que
ladoras de baixo peso molecular, são
vai muito além da simples detecção
produzidas por diferentes tipos ce-
de problemas, uma vez que é possível
lulares, principalmente macrófagos
por meio deles correlacionar as titu-
e monócitos dos sítios inflamató-
lações encontradas em determina-
rios, atuando de maneira autócrina,
dos tipos de agravos às dimensões
parácrina e endócrina em resposta
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a inúmeros estímulos. Além de agir Suas alterações refletem a presença


como mediadores das respostas in- e intensidade da inflamação e têm
flamatória e imune, exercem ações sido muito utilizadas, nesse senti-
no crescimento e diferenciação de do, como um guia para o diagnósti-
outras células, podendo participar de co clínico e acompanhamento de di-
mecanismos reguladores positivos ou versas patologias. As análises dos
negativos sobre essas respostas. Os biomarcadores de inflamação são,
padrões de produção de citocinas e portanto, empregadas para monito-
de resposta de fase aguda variam ração de atividade de doença e para
em virtude das diferentes condi- a diferenciação entre doença ativa e
ções inflamatórias. presença de infecções. Acredita- se,
então, que a resposta inflamatória é
SE LIGA! O termo “resposta de fase
iniciada quando citocinas inflamató-
aguda” consagrou-se pelo uso, mas sa- rias, como interleucina-1 (IL-1), fa-
bemos que se trata de um mecanismo tor de necrose tumoral alfa (TNF-α)
fisiopatológico de defesa associado a e interleucina-6 (IL-6) são liberadas
estados inflamatórios e que ocorre tanto
na inflamação aguda quanto na crônica, a partir de um tecido afetado e indu-
sendo caracterizado pelo aumento ou zem a síntese hepática de proteínas
diminuição da concentração sérica de de fase aguda, tais como a proteína
determinadas proteínas em decorrência
C-reativa. A IL-6, a propósito, diminui
de algum estímulo que ocasione injúria
tecidual. Atualmente, é usual a opção a síntese hepática de albumina, além
por utilizar o termo “biomarcador infla- causar a supressão da produção des-
matório” ao se referir às proteínas envol- sas citocinas pelos macrófagos.
vidas nessa resposta.

SAIBA MAIS!
Em 1930, pesquisadores descobriram uma proteína que reagia com o polissacarídeo C da
cápsula de S. pneumoniae obtida do sangue de pacientes durante a fase aguda de pneumo-
nia pneumocócica. A ela, deram o nome de proteína C-reativa (PCR).

2. RESPOSTA DE FASE sérica de certas proteínas após a in-


AGUDA júria tecidual, algumas responden-
do com elevação (biomarcadores
Como já mencionado anteriormente,
positivos) e outras com diminuição
a resposta de fase aguda caracteri-
(biomarcadores negativos) de suas
za-se pela alteração na concentração
concentrações.
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FLUXOGRAMA: BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS POSITIVOS

Fibrinogênio Proteína C-reativa (PCR)

Proteína sérica
Plasminogênio
amiloide A (SAA)

Ativador de α1-glicoproteína
plasminogênio tecidual ácida (AGP)

Ceruloplasmina
Uroquinase Fibronectina

Haptoglobina
Proteína S Ferritina

Hemopexina
Fibronectina Angiotensinogênio

Proteínas de transporte
Inibidor do ativador de Proteína Ligadora
plasminogênio tecidual 1 do Retinol

Sistema de
Outros
coagulação/fibrinólise
Biomarcadores
inflamatórios
positivos
Sistema complemento Antiproteases

C3, C4, C9 α1-Antiprotease


Participantes da
Resposta Inflamatória

Fator B α1-Antiquimiotripsina
Fosfolipase A2 secretória
(sPLA2-IIA)
Inibidor da tripsina
Inibidor C1 (C1 INH)
Proteína ligadora de pancreática
lipopolissacarídeo (LPS)
Inibidor da
Proteína ligadora C4b
Antagonista do receptor de interalfatripsina
interleucina-1 (IL-1 RA)
Lectina ligadora
de manose (MBL) Fator estimulador de colônias
– granulócitos (G-CSF)
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Essas proteínas terão funções pró e α-1 glicoproteína-ácida, ceruloplas-


anti-inflamatórias e podem estimular mina, fibrinogênio, lectina ligadora de
ou inibir a produção umas das outras. manose (MBL), e α-1-antiquimiotri-
Podemos citar como exemplos de pisina. Dentre os biomarcadores ne-
biomarcadores positivos: proteína gativos, vale destacar a albumina, a
C-reativa (PCR), proteína sérica ami- transferrina e a alfafetoproteina.
loide A (SSA ou PSAA), haptoglobina,

FLUXOGRAMA: BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS NEGATIVOS

Albumina

Transtirretina Alfafetoproteína (AFP)

Biomarcadores
Fator de crescimento
inflamatórios Fator XII
insulina-símile-1 (IGF-1)
negativos

α2-HS glicoproteína Globulina ligadora de tiroxina

Transferrina

Apesar da importância desse traba- Alterações neuroendócrinas


lho em conjunto, na prática clínica
Nessa fase, é característica a presen-
somente algumas dessas proteínas
ça de febre, a qual consiste numa
são utilizadas como marcadores,
mudança do ponto de ajuste de tem-
quer pela disponibilidade do método,
peratura, contribuindo, assim, para a
quer pelo custo de sua determinação.
promoção de um meio favorável ao
Devemos levar em conta, ainda, que adequado funcionamento de enzi-
mudanças comportamentais e altera- mas, além de favorecer a estabilização
ções fisiológicas, bioquímicas e nutri- de membranas celulares. O paciente
cionais somam-se para completar a apresenta indisposição e sonolência,
resposta de fase aguda. medidas que reduzem o consumo
energético do organismo. Modulando
a resposta inflamatória, há aumento
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da secreção de hormônio liberador de Alterações hepáticas


corticotrofinas (CRH), hormônio adre-
O fígado participa da produção e da
nocorticotrófico (ACTH) e cortisol,
liberação de muitas das proteínas
hormônio antidiurético (ADH) e ca-
relacionadas à resposta inflamató-
tecolaminas, além de, diminuição do
ria. Fisiologicamente, há aumento de
fator de crescimento similar à insulina
metalotioneína, óxido nítrico sintase,
do tipo 1 (IGF-1).
heme oxigenase, superóxido dismu-
tase, inibidor tecidual de metalopro-
Alterações hematopoiéticas teinase-1 e redução da atividade fos-
foenolpiruvato carboxiquinase.
Em consequência do processo infla-
matório em curso, podemos encon-
trar leucocitose e trombocitose e, 3. CLASSIFICAÇÃO
nos casos mais prolongados, anemia
Os biomarcadores da inflamação di-
de doença crônica.
videm-se em quatro grupos:
• Proteínas de defesa do hospe-
Alterações metabólicas deiro: atuam no reconhecimento e
Podemos citar como elementos im- eliminação de patógenos. Integram
portantes a perda muscular e o ba- esse grupo a proteína C-reativa,
lanço nitrogenado negativo, levan- lectina ligadora de manose, pro-
do, em casos crônicos, à restrição de teína ligadora de lipopolissacarí-
crescimento em crianças e à caquexia deo, proteínas do complemento
em adultos. Há diminuição da glico- e fibrinogênio
neogênese e aceleração de osteopo- • Inibidores de proteinases séricas:
rose. Verificam-se aumento da lipo- neutralizam enzimas proteolíticas
gênese hepática e lipólise de tecido e metabólitos de oxigênio, contri-
adiposo, assim como diminuição da buindo para limitar o dano tecidual.
atividade das lipoproteínas lipases São exemplos: α1-antiproteinase,
muscular e adiposa, com o objetivo α1-antiquimiotripsina, α2-anti-
de, em casos de infecção, haver au- plasmina e inibidor do C
mento da concentração de lipoproteí-
nas, promovendo maior ligação à lipo- • Proteínas de transporte com
polissacáride (LPS) e resultando em atividade antioxidante: efetuam
menor efeito tóxico para o organismo. ações relacionadas à contenção
da reação inflamatória e restau-
ração da estrutura original lesada.
Dentro desse grupo, destacam-se
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a ceruloplasmina, hemopexina, comportamento bioquímico desses


haptoglobina marcadores, torna-se possível esti-
mar a situação presente, além per-
• Outras: proteína sérica amiloide
mitir predizer a evolução do quadro.
A (SAA ou PSAA), antagonista
Portanto, é com base no significado
do receptor de IL-1, α1-glicopro-
dos achados que podemos avaliar
teína ácida, fosfolipase A2 se-
melhor, amplificando a eficácia e a
cretória grupo IIA (sPLA2-IIA)
eficiência das condutas adotadas.
Apenas para ilustrar tais peculiari-
As propriedades de cada um dos dades, vejamos, por exemplo, o que
biomarcadores inflamatórios con- ocorre no caso do PCR e da SAA as
ferem a eles particularidades que quais são detectadas a partir de qua-
se traduzem em termos de cinética, tro horas da agressão ao tecido, sen-
magnitude e duração de respos- do que o pico se verifica entre 24 a
ta. E por que seria importante sa- 72 horas, podendo chegar a mil ve-
bermos disso? Ora, porque favorece zes o valor normal. O fibrinogênio,
uma melhor interpretação dos dados por sua vez, tem pico em sete a dez
obtidos, permitindo um olhar mais dias e eleva-se duas a três vezes o
acurado, afinal, ao conhecermos o normal.

Figura 1. Padrão de resposta de biomarcadores inflamatórios fren-


te à lesão tecidual Fonte: Neto, NSR; Carvalho, JF - Bras J Rheuma-
tol 2009
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4. PROTEÍNA C-REATIVA A ativação do complemento ocor-


re pela via clássica, por deposição
Dentre todos, é o biomarcador mais
dos fragmentos de C3 e C4 na PCR
estudado. Promove a interação en-
e no ligante, formação da C3 con-
tre imunidades humoral e celular.
vertase clivando o C3 em C3a, uma
É produzida no fígado e classificada
anafilatoxina que induz a liberação de
como pentraxina , um pentâmero com
histamina de basófilos e mastócitos, e
uma fenda ligadora de fosfatidilcolina
C3b, que atua como opsonina, atrain-
(dependente de íons cálcio) e outras
do fagócitos (macrófagos) ao local
em face oposta que se ligam ao com-
da inflamação. A PCR e a via clássi-
ponente do sistema complemento
ca do complemento atuam em sinto-
C1q e à porção Fc de imunoglobuli-
nia, promovendo a limpeza de células
nas (Fcγ).
apoptóticas sem ocasionar lise celu-
Sua função é ligar-se a patógenos lar, minimizando a liberação de me-
e células lesadas e/ou apoptóticas diadores que aumentariam a reação
(fosfatidilcolina) e iniciar sua elimi- inflamatória.
nação por meio da ativação do sis-
A interação entre PCR e porção Fc de
tema complemento e de fagócitos
imunoglobulinas dá-se, em fagócitos,
(C1q e Fcγ). Essas ligações e atra-
por meio de receptores FcγRI (CD64)
ções celulares permitem considerá-la
e FcγRIIa (CD32), levando à indução
como uma opsonina.
de fagocitose e à secreção de citoci-
Também atua regulando a exten- nas pró-inflamatórias como interleu-
são e a intensidade da reação in- cina (IL)-1 e fator de necrose tumoral
flamatória e modulação da ativação (TNF)-α. Já em neutrófilos, a interação
plaquetária. Aparece notadamente promove down-regulation da infla-
aumentada em diversas situações mação com inibição da resposta qui-
clínicas, dentre elas: doença corona- miotática, clivagem de L-selectina di-
riana, artrite reumatoide, diabetes minuindo a marginação de leucócitos
mellitus, doença pulmonar obstru- e endocitose de receptores IL-6. Em
tiva crônica e outras. função disso, podemos concluir, por-
tanto, que a PCR tem funções pró e
SE LIGA! Apesar de sua função asse- anti-inflamatórias.
melhar-se à de anticorpos e participar A determinação da PCR reflete,
da imunidade inata, não há descrição de
estados deficientes de proteína C-reati- também, a extensão do processo
va (PCR), o que, a princípio, deve ser in- inflamatório ou da atividade clíni-
compatível com a vida. ca, principalmente em infecções
bacterianas (e não virais), reações
de hipersensibilidade, isquemia e
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necrose tecidual. Podem-se encon- A PCR também é importante como


trar valores discretamente elevados marcador de ativação endotelial e
de PCR em obesidade, tabagismo, indutor de lesão vascular relacio-
diabetes, uremia, hipertensão arterial, nada à inflamação, em especial em
inatividade física, uso de anticoncep- placas de ateroma, podendo ser uti-
cionais orais, distúrbios do sono, ál- lizada como preditor de coronariopa-
cool, fadiga crônica, depressão, enve- tias (angina e infarto do miocárdio).
lhecimento, doença periodontal, entre
outras situações.

INDICAÇÕES CLÍNICAS E LIMITAÇÕES PARA O USO DA PROTEÍNA C REATIVA


Infecção aguda
Infecção crônica
Pós-operatório
Situações clínicas
Neoplasias
possíveis
Doença cardiovascular aguda
Inflamação sistêmica não infecciosa (p.ex. artrite reumatoide, lúpus com serosite ou
vasculite, politrauma, pancreatite necrotizante)
Auxílio ao diagnóstico clínico
Monitoração de atividade inflamatória durante a evolução clínica
Utilidade do
Acompanhamento da efetividade do tratamento antibiótico ou anti-inflamatório
analito
Detecção de complicações infecciosas pós-operatórias
Possível indicador de prognóstico para doenças coronarianas
Inflamações leves e infecções virais: 10 a 40 mg/L
Resultados
Inflamações graves e infecções bacterianas: 40 a 200 mg/L
esperados
Sepse: superior a 50 mg/L
Não está indicada para detecção de doença, seja em pacientes assintomáticos ou na
presença de sintomas vagos
A eventual demora na sua elevação pode causar interpretação errônea e retardar o tra-
Limitações do uso
tamento antibiótico ou anti-inflamatório
Níveis pouco elevados (10 a 20 mg/L) são encontrados na esclerodermia, dermatomio-
site, retocolite ulcerativa e lúpus sem serosite ou vasculite
Tabela 1. Indicações clínicas e limitações para o uso da proteína C reativa. Fonte: Aguiar, FJB; Júnior, MF - Proteína C
reativa: aplicações clínicas e propostas para utilização racional – Revista da Associação Médica Brasileira

A metodologia amplamente utiliza- a interpretação clínica e permitindo


da para dosagem é a imunonefelo- o acompanhamento laboratorial de
metria, que permite a liberação de cada caso.
resultados quantitativos, facilitando
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quando há estímulo para sua pro-


SE LIGA! A denominação de PCR hiper- dução, como no caso, um proces-
sensível, ou ultrassensível, diz respeito a so inflamatório. A PCR tem meia
métodos que possam detectar valores
vida plasmática de 19 horas e mes-
mais baixos (menor do que o percen-
til 97,5) do que os limites dos métodos mo após estímulo único, como trau-
usuais (menor do que percentil 90), ma ou cirurgia, pode levar vários dias
ou seja, exames mais sensíveis, que já até retornar a níveis basais. Por essa
identifiquem alterações inflamatórias
em pacientes aparentemente saudáveis
razão, dosagens seriadas ao longo
ou com fatores de risco conhecidos e de vários dias são mais úteis que
permitam estimar o risco cardiovascular. resultados isolados. Isso reflete as
limitações da PCR para monitoração
de pacientes críticos, uma vez que
A PCR é considerada um bom marca-
sua concentração pode ser baixa ou
dor clínico por apresentar boa esta-
normal nas primeiras 12 horas do
bilidade, sensibilidade, reprodutibi-
início do quadro febril de processos
lidade e precisão, além de estar em
infecciosos.
níveis elevados no sangue apenas

CAUSAS DE ELEVAÇÃO DA PCR


Exercício vigoroso – Frio – Gravidez – Gengivite – Convulsão – Depressão – Diabetes –
<1 mg/dL
Obesidade - Idade
Infarto do miocárdio – Neoplasias – Pancreatite - Infecção mucosa (bronquite, cistite) -
1 a 10 mg/dL
Artrite reumatoide
> 10 mg/dL Infecções bacterianas agudas - Grandes traumas - Vasculite sistêmica
Tabela 2. Causas de elevação da PCR

Por outro lado, em função de sua as concentrações de PCR também


meia-vida longa, pode permanecer podem ser expressas em mg/dL.
elevada durante a fase inicial de re-
cuperação. Considerando isso, seria SE LIGA! Em pacientes com artrite reu-
prudente, na ausência de queda após matoide (AR) e lúpus eritematoso sis-
48-72 horas de tratamento ou de têmico (LES), a inflamação persistente,
pós-operatório, levar a uma reavalia- demonstrada por dosagens sequenciais
de PCR, implica morbidade e mortalida-
ção. Em geral, inflamações leves e in- de cardiovascular precoce.
fecções virais conduzem a elevações
na faixa de 10-40 mg/L, enquanto
inflamações mais graves e infecção Já deve ter ficado claro para você o
bacteriana, concentrações séricas quanto as dosagens de PCR são
entre 40-200 mg/L. Lembre-se que importantes para nortear a nossa
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investigação, no entanto a maior acu- exibida pelo paciente, o que requer,


rácia na interpretação dos resultados claro, bom discernimento por parte
deve encontrar suporte na clínica do médico avaliador.

FLUXOGRAMA: SOLICITAÇÃO DA PROTEÍNA C REATIVA EM PRONTO-SOCORRO


(PCR-US, PROTEÍNA C REATIVA ULTRASSENSÍVEL; PCR, PROTEÍNA C REATIVA)

PRONTO-
SOCORRO

PCR-US PCR

Não é indicada para pacientes Infecção aguda grave bem


em estado clínico crítico. Solicitar definida, com indicação de
sempre a PCR convencional internação hospitalar

NÃO SIM

Repetição recomendada:
Reavaliar se há indicação
A cada 24 h

Na medida em que ampliarmos o al- Paciente apresenta na evolução:


• Queda da PCR
cance dos nossos estudos sobre bio- •Estabilidade clínica
marcadores inflamatórios, agregando
novas linhas de pesquisa, encontra-
SIM
remos, por exemplo, vários estudos
demonstrando que concentração sé-
rica de 100 mg/L teria sensibilidade
de 80 a 85% para infecção bacteria- Reavaliar se há indicação

na, contudo, infecções virais graves


também podem acarretar elevações Aguiar, FJB; Júnior, MF - Proteína C reativa:
séricas dessa ordem. aplicações clínicas e propostas para utilização
racional – Revista da Associação Médica Brasileira
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FLUXOGRAMA: SOLICITAÇÃO DA PROTEÍNA C REATIVA EM UNIDADE DE TERAPIA


INTENSIVA (PCR-US, PROTEÍNA C REATIVA ULTRASSENSÍVEL; PCR, PROTEÍNA C REATIVA)

Unidade
de Terapia
Intensiva

PCR-US PCR

Não é indicada para pacientes Paciente em estado crítico


em estado clínico crítico. Solicitar e/ou apresentando alguma
sempre a PCR convencional das situações abaixo:
• Pós-operatório
• Alto risco de infecção aguda por:
- Ventilação mecânica
Não recomendada
- Aspiração por via aérea
para pacientes internados
- Cateter vascular central

Repetição recomendada:
A cada 24 h

Aguiar, FJB; Júnior, MF - Proteína C reativa: aplicações clínicas e propostas


para utilização racional – Revista da Associação Médica Brasileira

Alguns autores sugerem 50 a 100


mg/L como concentração sérica óti-
ma para separar a sepse da síndro-
me da resposta inflamatória sistêmi-
ca (SIRS). Diante de tudo disso, enfim,
admitimos que uma boa interpretação
levará em conta vários fatores, dentre
os quais o perfil temporal das varia-
ções e o contexto clínico.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 14

FLUXOGRAMA: SOLICITAÇÃO DA PROTEÍNA C REATIVA EM AMBULATÓRIO


(PCR-US, PROTEÍNA C REATIVA ULTRASSENSÍVEL; PCR, PROTEÍNA C REATIVA)

Ambulatório

PCR-US PCR

As evidências científicas Paciente com suspeita ou


indicam que PCR-US não possui em tratamento clínico de:
valor preditivo satisfatório para • Doença inflamatória sistêmica
rastrear DAC na população geral • Infecção aguda ou crônica

NÃO SIM

Repetição recomendada:
Reavaliar se há indicação
A cada visita ambulatorial

Aguiar, FJB; Júnior, MF - Proteína C reativa: aplicações clínicas e propostas


para utilização racional – Revista da Associação Médica Brasileira

SAIBA MAIS!
Estudos demonstraram que a PCR pode ser responsável pelo aumento da ligação da lipopro-
teína de baixa densidade oxidada (LDL-ox) a macrófagos/monócitos, reforçando a ideia do
envolvimento da PCR no processo aterosclerótico.
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FLUXOGRAMA: PROTEÍNA C-REATIVA

Ativação do sistema
complemento (via clássica)

Ativação de fagócitos

Dosagem efetuada por


imunonefelometria Modulação da Estabilidade
(amplamente utilizada)
ativação plaquetária
Classificada
Regulam a extensão Sensibilidade
como pentraxina e a intensidade da
reação inflamatória

Polímero não glicosilado Promove a interação entre Precisão


imunidades humoral e celular

Biomarcador mais estudado Reprodutibilidade

Proteína de fase PROTEÍNA


Considerado bom marcador
aguda positiva C-REATIVA

Produzida no fígado sob


Dosagem reflete:
estímulo de IL-6 e TNF-α

Início da secreção: 4 a 6
Ativação endotelial
horas após o estímulo

Taxa duplica a Reações de


cada 8 horas hipersensibilidade

Pico entre 24 e 72 horas Isquemia

Meia vida longa requer


Necrose tecidual
dosagens seriadas

Dimensões da
atividade clínica

Extensão do processo
inflamatório
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5. VELOCIDADE DE afasta aquelas duas possibilidades


HEMOSSEDIMENTAÇÃO diagnósticas.
Reflete o aumento da concentra- Entendeu? Estimar a utilização dos
ção plasmática de proteínas de biomarcadores em função do seu va-
fase aguda, principalmente a de fi- lor preditivo para determinada doen-
brinogênio, constituindo-se, portanto, ça é muito importante, mas conside-
numa medida indireta. Dessa forma, rar o universo de possibilidades que
o processo pode ser acelerado, então, a clínica oferece amplia ainda mais
pela presença dessa proteínas, nota- as chances de uma abordagem que
damente do fibrinogênio em quadros atenda aos princípios de eficiência
agudos, ou de imunoglobulinas em e eficácia. Portanto, não se esqueça
quadros crônicos. disso!
É bastante sensível, mas pouco es-
pecífica. Exceção deve ser feita a va- CONDIÇÕES ANORMAIS DIVERSAS
lores muito elevados, próximos a 100 ASSOCIADAS A AUMENTO DA VHS

mm/h, verificados na arterite tempo- Infecção bacteriana


Hepatite, colite, pancreatite, peritonite
ral, processos infecciosos graves e al- Idade avançada
gumas neoplasias. O VHS pode ser Sexo feminino
útil na documentação de processos Gravidez
infecciosos, inflamatórios ou neo- Colesterol elevado
Anemia
plásicos, na avaliação do grau de LES, AR, febre reumática, vasculites
atividade ou da extensão da doen- Mieloma, macroglobulinemia
ça de base e, em alguns casos, da Crioglobulinemia
Leucemia/linfoma
resposta à terapêutica instituída.
Metástase
Em função da inespecificidade que Obesidade
lhe é peculiar, você deixaria de consi- Síndrome nefrótica
derar o emprego do VHS? Glomerulonefrite aguda
Pielonefrite
De forma alguma! Apesar de inespe- Insuficiência renal crônica
cífico, o VHS é indispensável na in- Lesão tecidual (trauma, cirurgia)
Temperatura elevada
vestigação e acompanhamento de Uso de heparina
certas patologias como, por exem- Tabela 3. Condições anormais diversas associadas a
plo, a arterite temporal ou a polimialgia aumento da VHS
reumática, orientando o tratamento
mesmo antes do resultado de even-
tual biópsia. Além disso, a comprova-
ção de um VHS normal praticamente
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 17

CONDIÇÕES RELACIONADAS À REDUÇÃO DA de um processo inflamatório. Duran-


VHS te a fase aguda de inflamação, seus
Redução do fibrinogênio níveis podem aumentar de 100%
Lesão hepática grave
Insuficiência cardíaca congestiva
a 200%. Tal elevação ocorre mais
Cardiopatia congênita tardiamente, mantendo-se, ainda,
Sais biliares elevado por mais tempo, sendo que
Caquexia
a quantificação da atividade do fibri-
Coagulação da amostra
Hemoglobinopatia nogênio pode ser efetuada de forma
Microcitose, anisocitose adequada através da velocidade de
Esferocitose hemossedimentação.
Policitemia
Tempo superior a 2 horas para processar a Sua molécula é composta por duas
amostra subunidades ligadas por uma ponte
Temperatura baixa
dissulfato. A clivagem por trombina
Tabela 4. Condições relacionadas à redução da VHS
resulta em dois fibrinopeptídeos, e a
molécula resultante polimeriza-se e
6. FIBRINOGÊNIO mantém-se estável devido ao fator
XIII e a pontes interplaquetárias (liga-
O fibrinogênio é uma proteína abun- ção do fibrinogênio a glicoproteínas
dante no plasma que desempenha IIb/IIIa) formando a fibrina. Por meio
papel fundamental na hemostasia, de receptores semelhantes aos das
assumindo nas reações inflamatórias glicoproteínas IIb/IIIa, interage com
um provável papel no reparo tecidual o endotélio e interfere na adesão,
e na cicatrização. De fato, sua ativida- motilidade e organização do cito-
de caracteriza bem a forte interação esqueleto. Uma vez formada a fibri-
existente entre o sistema inflamatório na, estimula a adesão, a dispersão e a
e o hemostático, afinal representa um proliferação de células endoteliais.
importante componente da coagu-
lação e determinante da viscosida- Os dados disponíveis na literatura
de sanguínea. permitem dizer que se trata de um
marcador independente de risco car-
Nessa perspectiva, temos que níveis diovascular, entretanto, devido a pro-
elevados de fibrinogênio aumentam blemas analíticos, insuficiente padro-
a reatividade plaquetária, sendo es- nização e incertezas em identificar
sencial em seu processo de agrega- estratégias de tratamento, suas me-
ção, relacionando-se com o depósito didas não são recomendadas. Entre
de fibrina, o tamanho do trombo e o os idosos, ele parece ser um fator de
aumento da viscosidade plasmática. risco para mortalidade geral e cardio-
Trata-se de uma proteína positiva vascular, AVC isquêmico e trombose
e, sendo assim, eleva-se na vigência venosa profunda.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 18

FLUXOGRAMA: FIBRINOGÊNIO

Agregação plaquetária

Hemostasia

Funções Cicatrização

Reparo tecidual

Biomarcador
inflamatório positivo

FIBRINOGÊNIO
Mantém-se elevado
Características
por mais tempo

Eleva-se mais tardiamente

Avaliação por meio da VHS

SE LIGA! Tem sido demonstrado que Maior VHS → Maior quantidade


a PCR e o fibrinogênio, marcadores de de proteínas pró-inflamatórias
inflamação sistêmica, predizem eventos
de doença cardíaca coronariana inde-
pendente dos riscos convencionais, e
o estatuto científico do American He- 7. PROTEÍNA SÉRICA
art Association (AHA) tem sugerido a
determinação dos níveis da PCR como AMILOIDE A
uma opção em pacientes com classifica-
ção de risco intermediário pelo Framin-
A SAA é também uma pentraxina
ghan Risk Score. como a PCR e tem três isoformas,
porém somente duas delas são pro-
teínas de fase aguda (SAA aguda) e
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 19

a outra é constitutiva. A maior parte TNF-α e a IL-6. É o marcador mais


é produzida no fígado. Participa do sensível da inflamação aguda e
transporte e do metabolismo do coles- correlaciona-se bem com atividade
terol, ligando-se predominantemente clínica em AR. Pode desempenhar
à lipoproteína de alta densidade. papel relevante na progressão da AR
Durante a inflamação, ocupa o lugar nos casos em que ocorra a estimu-
da apolipoproteína A-1, e essa liga- lação crônica de sua produção, prin-
ção pode ser pró-aterogênica. Tem cipalmente pela indução de enzimas
função de defesa, atuando na qui- que degradam a matriz extracelular.
miotaxia de neutrófilos, monócitos O controle da resposta de fase agu-
e linfócitos T, catalisa atividade da da e a resolução da inflamação, não
fosfolipase A2 secretória, que faci- só no que tange à função da SAA, re-
lita ação da PCR e tem função repa- querem inibição de fatores de trans-
radora tecidual, induzindo a forma- crição e transdução, formação de
ção de metaloproteinases de matriz 2 antagonistas ou falsos receptores,
e 3, colagenase e estromelisina. liberação de citocinas anti-infla-
Da mesma forma que a PCR, atua na matórias e de glicocorticoides pelo
opsonização de células apoptóti- organismo, para que se mantenha a
cas, ligando-se especificamente à homeostase.
fosfatidiletanolamina, ativando a Algumas das doenças que têm sido
via clássica do complemento. Os li- monitoradas pela SAA são: AR, artrite
gantes das pentraxinas incluem lipí- crônica juvenil, artrite reativa, doença
deos e polissacarídeos microbianos, de Still, síndrome de Behçet, doen-
componentes de matriz e antígenos ça de Crohn e neoplasias associadas
nucleares expostos durante morte com a SAA derivada da amilóide, tais
celular. Para que ocorra a fagocito- como doença de Hodgkin e carcino-
se, é necessário haver interação com ma de rim. Outro estudo recente de-
FcγR. monstra que a SAA é um bom marca-
As principais citocinas envolvidas na dor para a espondilite anquilosante.
indução da SAA aguda são a IL-1, o
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 20

FLUXOGRAMA: SAA

Produzida no fígado Opsonização de


(maior parte) células apoptóticas

Marcador precoce de Transporte e metabolismo Catalisa a atividade da


atividade inflamatória do colesterol fosfolipase A2 secretória
Características
Significativa
Defesa Facilitando a ação da PCR
amplitude de resposta

Duas isoformas são


proteínas da fase aguda Marcador mais sensível Ativação da via clássica
da inflamação aguda do complemento
SAA
Atua na quimiotaxia de
Trata-se de uma
Apresenta 3 isoformas neutrófilos, monócitos e linfócitos
pentraxina
T

Citocinas envolvidas na Formação de metaloproteinases


IL-1 Funções
indução da SAA aguda de matriz 2 e 3

Correlaciona-se com a
Il-6 Reparo tecidual Formação de colagenase
atividade clínica da AR

TNF-α Estimulação crônica: Formação de estromelisina


progressão da AR
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 21

8. α 1 - GLICOPROTEÍNA glicosilação, o que altera sua função


ÁCIDA (AGP) biológica. Ela tem atividade tanto
pró como anti-inflamatória. Dentre
suas funções estão a inibição da res-
A α 1-glicoproteína ácida (AGP) é posta quimiotática e da produção
composta por alta porcentagem de de superóxidos por neutrófilos, a
carboidratos e resíduos de ácido siá- inibição da agregação plaquetária e
lico, apresentando grande carga ne- a indução da liberação de citocinas de
gativa e solubilidade em água. É sin- monócitos (IL-1β, IL-6, IL-12, TNF-α,
tetizada pelo fígado, granulócitos e IL-1Ra e receptor de TNF-α solúvel).
monócitos. A metodologia utilizada para aferir a
Durante a fase aguda inflamató- AGP é a imunonefelometria.
ria, ela sofre mudança do padrão de

FLUXOGRAMA: α 1 – GLICOPROTEÍNA ÁCIDA (AGP)

AGP

Funções Locais de síntese Características

Inibição da resposta Método de aferição:


Granulócitos
quimiotática imunonefelometria

Inibição da
produção de superóxidos Fígado Solubilidade em água
pelos neutrófilos

Inibição da agregação
Monócito Carga negativa
plaquetária

9. ELETROFORESE DE Atividade pró e


anti-inflamatória

PROTEÍNAS SÉRICAS
(EPS) Composição

É uma técnica a partir da qual pro-


teínas podem ser separadas do Carboidratos

soro, viabilizando suas quantifica-


ções. Refere-se à migração de solu- Resíduos de
ácido siálico

tos ou partículas carregadas em um


MARCADORES INFLAMATÓRIOS 22

meio líquido sob a influência de um As frações separadas são coradas a


campo elétrico. O exame consiste na partir de um corante sensível às pro-
colocação do soro em um meio es- teínas. Separações mais específicas
pecial e a aplicação de carga elétrica podem ser realizadas corando-se
para que haja deslocamento das pro- com agentes imunologicamente ati-
teínas do polo positivo ao negativo de vos que resultam em imunofluores-
acordo com seus pesos moleculares e cência e imunofixação. Em condições
propriedades físicas. normais, encontram-se cinco bandas:
Assim, a mobilidade eletroforética albumina, alfa-1, alfa-2, beta (po-
de uma proteína individual depende dendo se subdividir em beta-1 e
de uma variedade de fatores, incluin- beta-2) e gamaglobulinas. A banda
do o pI, tamanho e forma da proteína, da albumina é relativamente homo-
a força aplicada do campo elétrico, gênea, porém as demais são com-
e a resistência do meio usado como postas por uma mistura de diferen-
suporte. Além disso, o pH da solução tes proteínas. Portanto, o padrão de
tampão de eletroforese também in- resultados de EPS depende das fra-
fluencia a migração, uma vez que afe- ções albumina e frações globulinas,
ta a carga líquida sobre a superfície alfa-1, alfa-2, beta 1 e beta 2 e gama.
da proteína. Os subconjuntos destas proteínas e
suas quantidades relativas integram,
enfim, o foco da interpretação da ele-
troforese de proteínas séricas.

Figura 2. Principais proteínas encontradas em cada fração. Fonte: SILVA, R. O.; LOPES, A. F.; FARIA, R. M. D.. Eletrofo-
rese de proteínas séricas: interpretação e correlação clínica
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 23

Tipos de eletroforese de proteínas transporte de diferentes substân-


cias e manutenção da pressão on-
Eletroforese de gel
cótica plasmática. Encontra-se com
É a técnica tradicionalmente utilizada níveis diminuídos em doenças he-
na qual ocorre a migração das par- páticas, desnutrição, síndrome ne-
tículas como zonas, em um meio de frótica, infecções crônicas, terapia
suporte poroso como, gel de polia- hormonal, gravidez e queimaduras.
crilamida, gel de agarose ou o ace- Pode estar aumentada em pacientes
tato de celulose, após a amostra ser desidratados.
misturada com uma solução tampão. Admite-se que as doenças inflamató-
As zonas de proteínas são visualiza- rias, agudas e crônicas, são as maio-
das pois o meio de suporte é corado e, res causas de queda da concentração
posteriormente, quantificadas em um plasmática de albumina, sendo que,
densitômetro, ou por eluição com lei- dentre os fatores que predispõem à
tura no espectrofotômetro, que con- queda, estão hemodiluição, aumento
verte o padrão de bandas em picos. da permeabilidade vascular levando à
perda extravascular, aumento do con-
Eletroforese capilar sumo celular local e menor síntese,
decorrente de inibição por citocinas.
É um método de separação de pro-
teínas séricas, e outras substâncias,
como hidrocarbonetos, vitaminas, α1 – Globulinas
fármacos e ácidos orgânicos. Base- A α1-antitripsina (α1-antiproteina-
ado no fluxo através de um tubo ca- se-1) representa cerca de 90% das
pilar confeccionado para diferenciar proteínas que correm nesta faixa. A
diversas moléculas de acordo com o deficiência da α1-antitripsina está
seu tamanho e outras propriedades associada ao enfisema pulmonar e
físico-químicas. à cirrose hepática e só é detectável
pela eletroforese quando homozigóti-
Proteínas séricas ca. Nos 10% restantes, estão a AGP e
a alfafetoproteina, entre outras. Os ní-
Albumina veis se elevam nas doenças inflama-
É a proteína mais abundante no tórias agudas e crônicas, neoplasias,
plasma, aproximando-se de 60% da após traumas ou cirurgias e durante
concentração total de proteínas. Ela a gravidez. Nos hepatocarcinomas,
é sintetizada exclusivamente pelo a elevação pode acontecer pelo au-
fígado. Suas funções compreendem mento da alfafetoproteina. Entretanto,
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 24

doenças hepáticas podem provocar γ – Globulinas


diminuição global desta faixa.
Composta por imunoglobulinas, pre-
dominantemente IgG. As imunoglo-
α2 – Globulinas bulinas A, D, E, M e a PCR encontram-
-se na área de junção beta-gama. A
Compreende a haptoglobina, a ausência ou a diminuição da banda
α2-macroglobulina e a ceruloplas- gama indica imunodeficiência con-
mina. Encontra-se aumentada em gênita ou adquirida. O aumento es-
insuficiência adrenal, uso de corti- tabelece associação com as doenças
coterapia, diabetes mellitus avan- inflamatórias crônicas, imunes ou não,
çado e síndrome nefrótica, e di- doenças hepáticas ou mesmo neo-
minuída em desnutrição, anemia plasias, todas de caráter policlonal.
megaloblástica, enteropatias perde-
doras de proteína, doenças hepáticas As gamopatias monoclonais produ-
graves e doença de Wilson. zem um padrão específico. As ban-
das monoclonais ocorrem devido à
proliferação de um clone de plasmó-
β – Globulinas cito que secreta determinada imuno-
Tem dois picos – o beta-1, compos- globulina que, encontrada em gran-
to essencialmente por transferrina, de quantidade no plasma, torna-se
e o beta-2, composto pelas β-lipo- responsável pelo pico encontrado ao
proteínas (por exemplo, lipoproteína exame.
de baixa densidade – LDL). Também Picos monoclonais podem ser en-
são encontrados nessa banda, C3 e contrados em macroglobulinemia
outros componentes do complemen- de Waldenström, amiloidose pri-
to, β-2 microglobulina e antitrombina mária, gamopatia de significado
III. Há aumento dessas globulinas indeterminado, leucemia de célu-
nas inflamações agudas, síndrome las plasmáticas, plasmocitoma so-
nefrótica, hipotireoidismo, anemia litário e doença de cadeia pesada.
ferropriva, hipertensão maligna, Em reumatologia, utiliza-se principal-
icterícia obstrutiva, gravidez e al- mente na avaliação de gamopatias
guns casos de diabetes mellitus. policlonais.
Encontra-se diminuída nos casos de
desnutrição.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 25

Figura 3. Comparação eletroforética entre gamopatias monoclonal e policlonal. Fonte: Neto, NSR; Carvalho, JF - O uso
de provas de atividade inflamatória em reumatologia - Brazilian Journal of Rheumatology (BJR)

Ferritina (hemofagocítica), na qual também po-


dem ser encontrados valores maiores
É uma proteína encontrada em todas
do que 10.000 μg/L.20. Atualmente,
as células, especialmente nas envolvi-
tem sido utilizada com preditor de
das na síntese de compostos férricos
parto prematuro, de gravidade de
e no metabolismo e reserva do fer-
síndrome do estresse respiratório
ro. Sua concentração aumenta em
agudo, trauma craniencefálico e
resposta a infecções, traumatismos
preditor de doenças cardiovascula-
e inflamações agudas. A elevação
res, assim como a PCR.
ocorre nas 24 a 48 horas iniciais, com
um pico no terceiro dia, e se mantém Pode achar-se elevada em casos de
por algumas semanas. leucemias agudas e crônicas, neuro-
blastoma, melanoma maligno, tumo-
Utilizada classicamente no acom-
res de linhagem germinativa, necrose
panhamento da doença de Still,
hepática aguda e hemocromatose.
em que se correlaciona com ativida-
Entretanto, nessas condições, rara-
de e remissão, a ferritina pode ser
mente seus níveis se encontram aci-
utilizada para a avaliação de sín-
ma de 3.000 μg/L.
drome de ativação macrofágica
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 26

FLUXOGRAMA – ELETROFORESE DE PROTEÍNAS SÉRICAS (EPS)

Transferrina β-1 Inflamação aguda

EPS β-Lipoproteínas Síndrome nefrótica

Β2-Microglobulina Hipotireoidismo
β-2
Ausência ou diminuição indicam Antitrombina III Anemia ferropriva
imunodeficiência congênita ou adquirida
Aumento sugere doença inflamatória C3 Gravidez
crônica, doenças hepáticas e neoplasias
Importante na avaliação de Desnutrição Redução
reflete Hipertensão maligna
gamopatias policlonais

γ-Globulinas β-Globulinas Elevação do


Fracionamento e níveis reflete
quantificação de
proteínas
Albumina α2-Globulinas Haptoglobina
Sintetizada exclusivamente
no fígado
Características α2-
α1-Globulinas Macroglobulina
Proteína mais Corticoterapia
abundante no plasma Enfisema pulmonar
Deficiência reflete Ceruloplasmina
Transporte de substâncias Insuficiência
Cirrose hepática adrenal
Funções α1-antitripsina Elevação do
Manutenção da pressão (aprox.90%) níveis reflete Diabetes mellitus
oncótica do sangue Trauma/Cirurgia avançado
AGP, alfafetoproteina e
Doenças hepáticas outras (aprox. 10%) Doença Síndrome nefrótica
inflamatória aguda

Desnutrição Elevação do Doença Desnutrição


Situações que níveis reflete inflamatória crônica
reduzem os níveis Anemia
Síndromes nefróticas Gravidez Redução reflete megaloblástica

Queimaduras Doença
Neoplasia hepática grave
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 27

10. APLICAÇÃO CLÍNICA doença erosiva progressiva. Há uma


boa correlação da PCR com terapêu-
Artrite reumatoide
tica e progressão radiológica, sendo
Os níveis de PCR podem ser usados melhor que o VHS, entretanto, deve-
para estabelecer o diagnóstico, em es- mos estar atentos, afinal pode haver
pecial, diferenciar de osteoartrite, na grande discordância entre resultados
qual, porém, os níveis também estão de VHS e PCR em até 28% dos casos.
acima dos da população normal. A VHS Assim, podemos observar que pa-
reflete a atividade de algumas sema- cientes com pior quadro clínico são
nas (elevação e declínio lentos) e é in- aqueles com PCR alta/ VHS alta.
fluenciada por diversos fatores, como Em seguida, situam-se aqueles com
idade, sexo e anemia, enquanto a PCR PCR alta/VHS baixa, PCR baixa/
reflete mudanças de curto prazo e VHS alta e PCR baixa/VHS baixa,
não sofre a mesma influência dos fa- nessa ordem, quando se levam em
tores citados, sendo mais sensível para conta avaliação de articulações aco-
mudanças na atividade de doença. metidas, força, HAQ (Health Assess-
Níveis elevados de PCR no início cor- ment Questionnaire), dor e gravida-
respondem a um pior prognóstico e à de global.

Maior gravidade
Escala de gravidade

Menor gravidade

Figura 4. Artrite Reumatoide


MARCADORES INFLAMATÓRIOS 28

Artrite idiopática juvenil Doença de Still do adulto


Altos níveis de PCR associam-se a Caracteriza-se pelo aumento da ferri-
início poliarticular ou sistêmico, porém tina sérica, algumas vezes superior a
não pauciarticular. Há boa correlação 20.000 ng/mL. Vale lembrar que a fer-
com remissão de sintomas (exceção ritina eleva-se por lesão dos hepa-
naqueles com amiloidose dentro de tócitos ou por ativação dos histióci-
cinco anos do início). tos e macrófagos. Lembre-se que foi
mencionado um pouco antes o fato de
a ferritina sem empregada no acompa-
nhamento da doença de Still. De fato,
existe boa correlação com a atividade
da doença, de modo que níveis acima
de 1.000 ng/mL são, na maioria dos
estudos considerados, sugestivos
da doença. Atualmente, o exame de
maior sensibilidade para acompanha-
mento da doença é a ferritina glicosi-
Figura 5. Comparação eletroforética entre bandas α1 e
α2 – diferença entre estados inflamatório e não inflama-
lada, que, em pessoas saudáveis, tem
tório. Fonte: Neto, NSR; Carvalho, JF - O uso de provas seus níveis entre 50 e 80% e, nos ca-
de atividade inflamatória em reumatologia - Brazilian
Journal of Rheumatology (BJR)
sos de doença de Still, seus níveis são,
em geral, menores que 20%. Doenças
inflamatórias em geral têm níveis que
oscilam entre 20 e 50%. Entretanto,
Se ligue nos níveis
de ferritina sérica!
não fazem parte dos critérios para a
definição da doença.

>1000 ng/mL
sugestivo da
doença

>1000 ng/mL

Figura 6. Doença de Still do adulto

Ferritina sérica
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 29

Espondilite anquilosante e artrite sua utilidade em pacientes sem essas


psoriática manifestações.
Nestas doenças, discute-se a corre-
lação entre PCR e VHS e índice de Febre reumática
atividade clínica. Verificam-se discre-
pâncias entre seus valores e os sinto- A dosagem da AGP é de muita
mas dos pacientes, especialmente em importância na febre reumática
espondilite anquilosante (EA), em que aguda, pois auxilia no diagnóstico,
cerca de 50 a 70% dos pacientes com permite a monitoração evolutiva da
doença ativa apresentam elevação da atividade da doença (apresenta ele-
PCR. Não se encontrou relação entre vação mais tardia que a VHS e a
gravidade de entesites e VHS. Os PCR na história natural da doença)
maiores níveis de PCR neste grupo e sua normalização implica remis-
de doenças são vistos em paciente são clínica. A banda eletroforética de
com EA que apresenta artrite pe- α2-globulinas também pode ser utili-
riférica ou uveíte, questionando-se zada para acompanhamento de ativi-
dade de doença.

A dosagem de AGP permite a monitoração evolutiva da atividade da doença

Nível elevado (FA)


AGP apresenta elevação
mais tardia que a VHS e
a PCR na história
natural da doença e sua
normalização implica
remissão clínica!

Nível normal
A
G
P

Curso clínico – FRA aguda

Figura 7. Febre reumática aguda

Gota Caracterizam-se por grandes ele-


vações de PCR e VHS. Há boa cor-
O nível de PCR correlaciona-se ao relação com resposta clínica à predni-
número de articulações acometidas, sona. Postula-se que pacientes com
à temperatura articular e ao valor da diagnóstico firmado com menor VHS
VHS. Os níveis retornam ao normal podem responder a menores doses
com o tratamento ou o término da de prednisona e entrar em remissão
inflamação.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 30

em menor tempo. Os valores de VHS a infecções, embora possam ser en-


e PCR não são determinantes para contrados níveis elevados em pacien-
o diagnóstico da doença, mas apre- tes com quadro articular (sinovite) ou
sentam um excelente valor preditivo serosite mais importantes. Elevações
negativo. discretas da PCR em lúpus podem
também estar associadas à presença
de aterosclerose, já que essa proteí-
Lúpus eritematoso sistêmico na desempenha papel relevante na
Valores de PCR encontram-se nor- aterogênese.
mais ou discretamente elevados, Agora que você revisou alguns dos
mesmo naqueles pacientes com do- principais marcadores inflamatórios,
ença clinicamente ativa e VHS ele- poderá agregá-los ao racional cientí-
vada. De modo semelhante, apre- fico que orienta a sua conduta clíni-
sentam níveis de SAA mais baixos ca, afinal constituem-se em impor-
e menor incidência de amiloidose. tantes ferramentas para a avaliação
Níveis de IL-6 têm melhor correlação diagnóstica e monitoramento quanto
com atividade clínica do que os de à evolução de doenças, viabilizando,
PCR. Em pacientes lúpicos, níveis ele- portanto, uma abordagem mais efi-
vados de PCR estão mais associados ciente e efetiva.
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 31

Eleva-se mais
tardiamente Antiproteases
Sistema de
Características coagulação/fibrinólise
Mantém-se elevado por Participantes da
mais tempo Resposta Inflamatória
BIOMARCADORES
Agregação Fibrinogênio INFLAMATÓRIOS
plaquetária Proteínas de transporte

Hemostasia Sistema complemento


Funções
Outros
Reparo tecidual
Cicatrização Considerado bom Proteína
marcador C-reativa Biomarcadores Biomarcadores
EPS
inflamatórios positivos inflamatórios negativos
Estabilidade
Meia vida longa requer dosagens seriadas
Sensibili-
dade Dosagem efetuada por imunonefelometria Fracionamento e α2-HS glicoproteína
(amplamente utilizada) Transferrina quantificação de proteínas
Precisão
Proteína de fase aguda positiva Transferrina
Reproduti-
bilidade Biomarcador mais estudado β-1
β-Globulinas Alfafetoproteina (AFP)
IL-1 Funções SAA β-2 Globulina
Citocinas envolvidas na ligadora de tiroxina
Il-6 Importante na
indução da SAA aguda
avaliação de gamo- γ-Globulinas Fator XII
TNF-α patias policlonais
Defesa
Fator de crescimento
Formação Haptoglobina insulina-símile-1 (IGF-1)
de metalo- Transporte e meta-
proteinases de bolismo do colesterol AGP
matriz 2 e 3 Transtirretina
α2-Macroglobulina α2-Globulinas
Formação de Reparo tecidual
colagenase Funções β-Lipoproteínas Proteína mais
Ceruloplasmina abundante no plasma
Atividade pró e anti-inflamatória Β2-
Microglobulina α1-antitripsina
(aprox.90%) Albumina
Inibição da produção de superóxidos pelos neutrófilos Antitrombina α1-Globulinas
III AGP,
Inibição da resposta quimiotática alfafetoproteina e
C3 outras (aprox. 10%)
Inibição da agregação plaquetária
MARCADORES INFLAMATÓRIOS 32

FIGURA 8. MARCADORES INFLAMATÓRIOS

γ-Globulina PCR

VHS ALBUMINA

AGP β1- Globulinas

SAA Fibrinogênio

α2- Globulinas α1- Globulinas


MARCADORES INFLAMATÓRIOS 33

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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racional – Revista da Associação Médica Brasileira – 2013; 59(1):85-92
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MARCADORES INFLAMATÓRIOS 34

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