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DE IMUNOLOGIA
Licenciatura em Biologia e Bioquímica (3º Ano)
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Índice
Aula 1 – Breve perspetiva histórica ............................................................................................................ 2
Aula 2 – Visão global do sistema imunológico ............................................................................................ 5
Aula 3 – Hematopoiese e células do sistema imunológico ........................................................................ 12
Aula 4 – Linhagem linfoide e órgãos linfoides primários e secundários ..................................................... 22
Aula 5 – Imunidade inata (I) ..................................................................................................................... 33
Aula 6 – Imunidade inata (II) .................................................................................................................... 39
Aula 7 – Geração de diversidade do BCR e TCR (I) .................................................................................... 58
Aula 8 – Geração de diversidade do BCR e TCR (II) ................................................................................... 73
Aula 9 – MHC (Major Histocompatibility Complex): genética, função e associação a doenças ................... 80
Aula 10 – Continuação do estudo do MHC. Processamento e apresentação antigénica ............................ 94
Aula 11 – Desenvolvimento de linfócitos T ............................................................................................. 114
Aula 12 – Desenvolvimento de Linfócitos T no timo ............................................................................... 128
Aula 13 – Ativação e diferenciação de Linfócitos T na periferia (I)........................................................... 139
Aula 14 – Ativação e diferenciação de Linfócitos T na periferia (II).......................................................... 151
Aula 15 – Desenvolvimento de Linfócitos B (I) ........................................................................................ 165
Aula 16 – Desenvolvimento de Linfócitos B (II) e ativação e diferenciação de linfócitos B ....................... 178
Aula 17 – Ativação e diferenciação de linfócitos B (II) ............................................................................. 188
Aula 18 – Ativação e diferenciação de linfócitos B (III) ............................................................................ 196
Aula 19 – Processos de hipermutação somática e mudança de classe das imunoglobulinas; Mecanismos
efetores da resposta humoral ................................................................................................................ 206
Aula 20 – Mecanismos efetores da resposta humoral: recetores Fc e sistema do Complemento ............ 225
Aula 21 – Resposta imunológica a vírus, bactérias, parasitas e fungos (I) ................................................ 249
Aula 22 – Resposta imunológica a vírus, bactérias, parasitas e fungos (II) ............................................... 260
Aula 23 – Vacinação ............................................................................................................................... 274
Aula 24 – Tolerância imunológica (conceito e mecanismos) ................................................................... 288
Aula 25 – Autoimunidade....................................................................................................................... 301
Aula 26 – Resposta imunológica antitumoral e imunoterapia ................................................................. 316
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A imunologia é o estudo das células e moléculas envolvidas na defesa de um organismo a um agente infecioso
(sistema imunológico, imunitário ou imune). Este termo deriva do latim (immunis) que significa “isento de”.
Note-se que desde a antiguidade que se reconhece que, após a exposição a uma dada doença, algumas pessoas
morrem, enquanto que as que sobrevivem quando expostas uma segunda vez à mesma doença, não adoecem.
“Yet it was with those who had recovered from the disease that the sick and the dying found most compassion.
These knew what it was from experience, and had now no fear for themselves; for the same man was never
attacked twice-never at least fatally. And such persons not only received the congratulations of others, but
themselves also, in the elation of the moment, half entertained the vain hope that they were for the future safe
from any disease whatsoever.”.
Assim, para gerar imunidade sem induzir doença recorre-se à vacinação. Uma vacina (eficiente) foi
primeiramente administrada por Edward Jenner com pústulas de vacas contaminadas com varíola bovina, isto
é, uma forma atenuada da varíola (cowpox) num rapaz de 8 anos, James Phipps (14/05/1796). A doença da
varíola, em inglês, designa-se de smallpox (praga vermelha). Algumas semanas mais tarde Jenner inoculou
James com o vírus da varíola vivo. Esta doença é causada pelo vírus Variola major (pode causar cegueira) e
possui uma mortalidade que ronda os 30%, quando não tratada. Foi devido a esta que no século XVIII metade
dos jovens no Reino Unido não atingiam os 10 anos. Desta forma, a administração da vacina contra a varíola
(vacinação eficiente) foi um passo tão importante na história. Em 1798 Edward Jenner conjeturou que a pré-
exposição à doença protege contra a infeção pelo vírus da varíola. Atualmente (desde 1980) a varíola está
erradicada, devido aos esforços incessantes da OMS (Organização Mundial de Saúde).
- Séculos XI-XV: turcos e chineses induziam imunidade através da inação de fluído proveniente de pústulas de
doentes da varíola (variolação).
- 1718: Lady Mary Wortley Montagu (mulher do embaixador inglês na Turquia) introduziu a prática da
variolação no ocidente ao permitir que os seus filhos fossem inoculados com pústulas. A variolação é a prática
de inalação ou transferência para feridas na pele de smapllpox pústulas.
- 1796: Edward Jenner: inoculou um rapaz de 8 anos (James Phipps) com fluído proveniente de uma pústula
de varíola bovina e, mais tarde, infetou-o deliberadamente com o vírus (cowpox).
- 1878/1879: Louis Pasteur (“Pai” da Imunologia) isolou o microrganismo que causa a cólera nas galinhas
(Pasteurella multocida) onde as galinhas que foram expostas uma primeira vez a uma estirpe atenuada
(“vacina”) e uma segunda vez à estirpe virulenta sobreviviam, ao passo que as que eram imediatamente
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Esta proteção pode ser mediada por células – imunidade celular - ou agentes solúveis – imunidade humoral.
Isto é, a imunidade envolve componentes humorais e celulares.
Imunidade humoral:
As células envolvidas na
imunidade adaptativa são os
linfócitos B e os linfócitos T.
Os linfócitos T têm origem na medula óssea, mas amadurecem no timo. Possuem TCR’s ou T cell receptors nas
suas membranas.
No entanto, ver-se-á posteriormente que existe outro tipo de imunidade (inata) cujas células envolvidas são
outras.
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Ser duradoura.
Ser mais lenta.
Confere uma proteção rápida.
Possuir múltiplos mecanismos efetores
Possui uma duração curta.
ativados.
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Os sistemas imunes dos vertebrados em resposta a patogénios possuem dois sistemas interligados onde a
defesa contra microrganismos é mediada por respostas sequenciais e coordenadas designadas por: imunidade
inata à qual se segue a imunidade adaptativa.
A imunidade inata ou natural é a primeira linha de defesa, rápida (horas) e não-específica, entrando de
imediato em ação. É essencial para a defesa nas primeiras horas e dias após a infeção. A resposta imune inata
é mediada por moléculas de reconhecimento codificadas na linha germinal do genoma e por mecanismos
“prontos” para responder mesmo antes de uma infeção, nomeadamente:
• Barreiras físicas e químicas (pele, mucosa gástrica, suor, lágrimas, pH ácido do estômago, epitélios,…).
• Células com capacidade fagocítica (macrófagos nos tecidos e neutrófilos
no sangue).
• Células NK (natural killer), células dendríticas (apresentam antigénios) e
células linfoides inatas.
• Proteínas circulantes (exemplo: complemento) ou péptidos
microbianos.
• Citocinas – moléculas de comunicação entre células que podem ser do
sistema inato ou indutivo produzidas por linfócitos T auxiliares.
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A imunidade adquirida ou adaptativa é um tipo de imunidade (mais potente) que se adapta à infeção, de tal
forma que as respostas imunológicas adquiridas são específicas para diferentes antigénios e frequentemente
para diferentes porções de uma proteína, polissacarídeo ou outra macromolécula.
Assim, as respostas imunes adaptativas são respostas mediadas por células ou por anticorpos
(imunoglobulinas). Estes anticorpos são produzidos pelos linfócitos B, que usam recetores muito específicos
para antigénio gerados ao acaso. A resposta é lenta (5 a 6 dias, ou mais). A ordem de grandeza dos recetores
das células T e B é dos milhares de milhões.
As células envolvidas na imunidade adaptativa são os linfócitos B e os linfócitos T que expressam na sua
superfície recetores para antigénio designados por BCR (B cell receptor) e TCR (T cell receptor), respetivamente.
Em cada momento existem milhares de milhões (>109) linfócitos que diferem entre si nos recetores para
antigénio que expressam.
Os linfócitos T têm origem na medula óssea, mas amadurecem no timo. Estes não reconhecem diretamente
o antigénio, necessitando de moléculas apresentadoras de antigénios.
Assim, é possível comparar com facilidade os dois tipos de imunidade: inata/natural e adaptativa/adquirida:
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A imunidade adquirida demora bastante tempo a expressar-se, pelo que a imunidade inata é imprescindível.
Note-se que quem não produz linfócitos necessita de um transplante de medula óssea (visto que estas células
derivam de uma mesma célula estaminal). As duas imunidades comunicam.
O epítopo ou determinante
antigénico é o local num
antigénio que é especificamente reconhecido pela molécula de anticorpo ou pelo recetor da
célula T. Este epítopo liga-se a uma molécula de MHC ou complexo maior de
histocompatibilidade, para que a célula T depois se possa ligar. Isto é, o TCR liga-se ao MHC.
Existem duas classes de MHC principais: classe I e classe II. Estas duas classes permitem
distinguir dois tipos de linfócitos T: CD4 e CD8.
Um linfócito TCD4 é um linfócito T que expressa uma proteína denominada de CD4. Esta
proteína é ativada por uma célula apresentadora de antigénio – APC (antigen-presenting
cell). Estas células (TCD4) são células auxiliares que permitem a ativação de macrófagos. A
proteína CD4 destas células reconhece um MHC do tipo classe II (restrito/específico para
células APC) no antigénio.
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Por outro lado, as restantes células (nucleadas) expressam um MHC de classe I que se pode ligar aos linfócitos
T que expressam a proteína CD8.
Assim, em resumo:
➢ As células APC expressam MHC classe II reconhecido por linfócitos T CD4 e MHC classe I reconhecido
por linfócitos T CD8.
➢ Todas as restantes células nucleadas expressam apenas MHC classe I reconhecido por linfócitos T CD8.
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Os anticorpos possuem duas cadeiras pesadas (H) e duas cadeias leves (L)
iguais, sendo que cada cadeia pesada e cada cadeia leve tem uma região
constante (CH e CL) e uma parte variável (VH e VL). É nesta parte variável
que se encontra o local de reconhecimento (reconhece o péptido) e que
confere tamanha diversidade.
Por sua vez, os TCRs também são constituídos por uma região variável e
outra região constante. São, no entanto, constituídos por cadeias diferentes: uma α e outra β.
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Os antigénios ligam-se aos recetores de linfócitos e são capazes de serem reconhecidos por um anticorpo. No
entanto, se não tiver PAMPS pode não conseguir induzir uma resposta imune inata, não sendo, desta forma,
um imunogénio. Um imunogénio é um antigénio que desencadeia uma resposta imunitária adaptativa.
Os haptenos são pequenas moléculas que promovem respostas imunitárias quando conjugadas com o
antigénio de interesse e os imunoadjuvantes são substâncias que melhoram a imunogeneicidade por alteração
das propriedades físico-químicas ou adição de PAMPs.
Por hidrólise do enzima pepsina obtêm-se os fragmentos F(ab’)2 – fragmento duplo – e o fragmento pFc’.
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• Capacidade de se autorregenerarem
• Capacidade de se diferenciarem em diversos tipos
de células, algumas das quais circulam no sangue.
▪ Esterno
▪ Costelas
▪ Vértebras
▪ Bacia
▪ Escápula
▪ Porções proximais dos úmeros e
fémures
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Após possuirmos uma cultura enriquecida com estas células estaminais hematopoiéticas pluripotentes,
observa-se a restauração da hematopoiese num ratinho que foi irradiado de uma forma letal (ficando
imunodeficiente), de tal forma que os ratinhos que recebem as CEH sobrevivem. Dependendo do
enriquecimento da cultura nestas células pluripotentes, a sobrevivência pode dar-se ou não, sendo que
populações de ratinhos onde a cultura em células CEH é superior, sobrevive tendencialmente. Com a diminuição
sucessiva do enriquecimento em CEH, existe uma maior necessidade de se usarem mais células para garantir a
sobrevivência dos ratinhos.
“Unipotentes”
Basophils
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Existem diversas células do sistema imunológico. Em termos de frequência, dos vários leucócitos pertencentes
a este sistema, os neutrófilos são os que se apresentam em maior abundância (cerca de 50 a 70% dos glóbulos
brancos presentes no organismo). Um aumento destes no sangue, implica que estejamos perante um sinal de
infeção.
Os oito tipos principais de células da linhagem mieloide (eritrócitos, monócitos, macrófagos, neutrófilos,
eosinófilos, basófilos, mastócitos e plaquetas) desenvolvem-se a partir de progenitores comuns mieloides. Os
dois primeiros progenitores são:
Os granulócitos diferem na coloração dos grânulos e no seu conteúdo e função proteica. Todos têm núcleos
multilobados. As proteínas dos grânulos têm funções como:
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Neutrófilos:
Eosinófilos:
Basófilos:
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Mastócitos:
De notar, no entanto, que as células dendríticas podem resultar da diferenciação direta de progenitores
(mieloide e linfoide!).
As APC são células que em contacto com o patogénio, são ativadas e depois comunicam este encontro a
linfócitos T nos gânglios linfáticos (LN) mostrando-lhes péptidos provenientes do patogénio num processo
denominado de apresentação de antigénio.
Monócitos/macrófagos:
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Em ratinho: Ly6hiCCR2+
Em humanos: CD14lowCD16hiCX3CR1
Em ratinho: Ly6clow
Notas:
O subtipo intermédio expressa tanto CD14 como CD16, como se pode observar por citometria de fluxo.
Quanto aos macrófagos, dependendo das citocinas presentes no meio, existem dois tipos/subsets:
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- Capturam microrganismos nos locais de infeção e degradam-nos, migrando desse local para órgãos linfoides
secundários onde apresentam a células T na sua superfície os péptidos dos microrganismos. Assim iniciam
respostas imunes adaptativas.
- Todas as DC expressam moléculas MHC classe I e classe II que são necessárias para a apresentação de
antigénios a células T.
DCs clássicas ou
convencionais (cDC): subtipo envolvido na captura de antigénios (Ag) proteicos de microrganismos que entram
através do epitélio e na sua apresentação (dos péptidos) a linfócitos T nos gânglios linfáticos.
DCs plasmacitoides (pDC): produzem IFN-
I (interferão do tipo 1) em resposta a vírus e estão
possivelmente envolvidas na captura de
microrganismos que entram via corrente sanguínea
e na apresentação dos seus antigénios proteicos a
linfócitos T (LT) no fígado. Encontram-se no sangue
e, em menor quantidade nos órgãos linfoides. São
as maiores produtoras de interferões (IFN) em
resposta a vírus, viste que os IFN têm potente
atividade antiviral e têm um papel muito importante
na defesa inata a vírus. As pDC podem capturar
microrganismos no sangue e migrar para o baço
onde apresenta os seus antigénios a células T.
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• Linfócitos B.
• Linfócitos T.
• Células linfoides inatas (ILC) cujas mais
abundantes são células Natural Killer (NK).
Linfócitos T e B:
- Indistinguíveis ao microscópio.
- Imunidade adquirida.
- Únicas células que expressam recetores de Ag (TCR e BCR), cada um com especificidade para um
determinante antigénico diferente.
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Linfócitos B:
- Local de desenvolvimento/maturação:
- Cada LB expressa um BCR com especificidade única e cada LB expressa ≈1.5–3×105 moléculas de BCR com
locais de ligação ao Ag idênticos.
- LB também são capazes de produzir Ab com diferentes funções através de um processo designado por
mudança de classe/isotipo.
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• LB foliculares: subset de LBs mais abundante; produzem os anticorpos de mais alta afinidade e
originam, por diferenciação, células de memória. Encontram-se nos órgãos linfoides e no sangue.
• LB da zona marginal: originam anticorpos produzidos com pouca diversidade. Encontram-se
preferencialmente no baço.
• Linfócitos B1: originam anticorpos com pouca diversidade e são encontrados maioritariamente nas
mucosas e cavidade peritoneal.
Linfócitos T:
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• LT efetores.
• Células T de memória.
- Células T reguladoras:
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Todos os linfócitos T (como os CD4+ e CD8+), tal como quaisquer células nucleadas, expressam moléculas de
MHC classe I à sua superfície. Assim, conseguem apresentar antigénios a linfócitos T CD8 +. No entanto, não
são considerados células apresentadoras de antigénios por excelência.
As APCs profissionais são as DCs, os macrófagos e os linfócitos B. Estes 3 tipos de células expressam moléculas
de MHC classe I e MHC II, podendo apresentar antigénios a linfócitos T CD8+ e T CD4+, respetivamente.
O TCR dos linfócitos T CD4+ é ativado por péptidos apresentados em moléculas de MHC II, isto é, o TCR dos
linfócitos T auxiliares reconhece o complexo péptido-MHC II, esta última expressa à superfície das APCs.
O TCR dos linfócitos T CD8+ é ativado por péptidos apresentados em moléculas de MHC I, isto é, o TCR dos
linfócitos T citotóxicos reconhece o complexo péptido-MHC I, esta última expressa à superfície das APCs.
Os linfócitos T CD4+ efetores (depois de terem sido ativados via TCR por complexos péptido-MHCII expressos
por APCs, proliferarem e diferenciarem-se em células CD4+ auxiliares) são capazes de ativar a função
citotóxica de CD8+. Os linfócitos T CD4+ efetores expressam à superfície MHC I, necessário para a apresentação
de antigénio a CD8+ (que reconhece MHC I) e produzem, por exemplo, IFN-γ.
Para a célula T que é ativada, o importante é interagir com uma APC que lhe apresente o seu péptido
específico no contexto de uma molécula de MHC I se for CD8 ou MHC II se for CD4. Pensar sempre em termos
do TCR da célula T a ser ativada. As DC que são APCs por excelência expressam tanto MHC I como MHC II,
logo conseguem ativar (se apresentarem os péptidos específicos para o TCR da célula T a ser ativada) CD8 e
CD4.
As células CD4 naives só são ativadas por APCs (DC, B, macrófagos) que expressam MHC II. Para ativação
eficiente de uma CD8 também é necessário uma APC, via interação do TCR das CD8 naive com complexo
péptido-MHC I expresso pelas APCs. A atividade citolítica das CD8 efetoras é desencadeada por qualquer
célula que expresse o "seu péptido" específico em MHC I. Concetualmente, como as CD4 expressam MHC I
(como quaisquer células nucleadas; reconhecem MHC II, no entanto – não confundir reconhecimento com
expressão!), podem ativar a função citolítica de CTLs (CD8 efetoras)) – não é eficiente.
As células CD4 efetoras ajudam na diferenciação ótima de CD8 naives em CTLs, mas usualmente via
modulação da atividade das APCs (o designado "APC licencing"). As células CD4 efetoras também produzem
citocinas que atuam diretamente nas CD8 ajudando na sua diferenciação.
Além do sinal via TCR que a célula T naive tem de receber para ser ativada, existem mais 2 sinais necessários
para a sua ativação ótima (coestimulação e citocinas). Quando a célula T naive já se diferenciou em célula T
efetora (auxiliar se CD4, citotóxica se CD8), o sinal via TCR fornecido pela interação com complexos MHC-
péptido expressos pela célula alvo é suficiente para desencadear a sua função efetora.
Todas as células nucleadas expressam MHC I, mas só as APCs é que também expressam MHC II ! Os linfócitos
T CD8 reconhecem MHC I e os linfócitos T CD4 reconhecem MHC II (pelo que ambos reconhecem APCs, que
expressam tanto MHC I como MHC II).
- Imunidade inata.
- Células NK (Natural Killer) são representativas da população (pertencem ao grupo 1, ILC 1).
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- Têm origem no CLP (common lymphoid progenitor), mas não expressam recetores Ag específicos (BCR ou
TCR).
- Reconhecem e eliminam tumores ou células infetadas com vírus (em função, são semelhantes às TCD8).
Sistema linfático:
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- O ducto torácico
(principal ducto do
sistema linfático)
coleta a linfa de todo
corpo exceto do
braço direito e lado
direito da cabeça (recolhida pelo ducto linfático direito) e
drena-o na veia subclávia esquerda.
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Medula óssea
Timo
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Gânglios linfáticos
- Órgão encapsulado.
- ≈500 em humanos.
Os linfócitos T ficam no paracórtex que é a região das células T e os linfócitos B migram para os folículos
linfoides no córtex.
- LT naïve expressam CCR7 (recetor de quimiocinas), respondendo a CCL19 e CCL21 produzidas por células
estromais nas zonas T dos GL.
- DCs ativadas por microrganismos também expressam CCR7, assim também migrando para as zonas T dos GL.
- LB naïve expressam níveis baixos de CCR7, mas elevados de CXCR5, que reconhece CXCL13 produzida apenas
por FDCs (Follicular dendritic cells) nos folículos.
Baço
- Órgão altamente vascularizado cuja principal função é remover eritrócitos envelhecidos ou danificados de
circulação e iniciar respostas imunológicas a Ag resultantes de microrganismos que invadam a corrente
sanguínea
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- Compartimentos:
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Todos os vertebrados possuem ainda 2 populações de populações de linfócitos (B e T), sugerindo que estes
estariam presentes no ancestral comum.
Relembre-se da Aula 2:
A imunidade inata ou natural é a primeira linha de defesa, rápida (horas) e não-específica, entrando de
imediato em ação. É essencial para a defesa nas primeiras horas e dias após a infeção. A resposta imune inata
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é mediada por moléculas de reconhecimento codificadas na linha germinal do genoma e por mecanismos
“prontos” para responder mesmo antes de uma infeção, nomeadamente:
• Barreiras físicas e químicas (pele, mucosa gástrica, suor, lágrimas, pH ácido do estômago, epitélios,…).
• Células com capacidade fagocítica (macrófagos nos tecidos e neutrófilos
no sangue).
• Células NK (natural killer), células dendríticas (apresentam antigénios) e
células linfoides inatas.
• Proteínas circulantes (exemplo: complemento) ou péptidos
microbianos.
• Citocinas – moléculas de comunicação entre células que podem ser do
sistema inato ou indutivo produzidas por linfócitos T auxiliares.
A imunidade adquirida ou adaptativa é um tipo de imunidade (mais potente) que se adapta à infeção, de tal
forma que as respostas imunológicas adquiridas são específicas para diferentes antigénios e frequentemente
para diferentes porções de uma proteína, polissacarídeo ou outra macromolécula.
Assim, as respostas imunes adaptativas são respostas mediadas por células ou por anticorpos
(imunoglobulinas). Estes anticorpos são produzidos pelos linfócitos B, que usam recetores muito específicos
para antigénio gerados ao acaso. A resposta é lenta (5 a 6 dias, ou mais). A ordem de grandeza dos recetores
das células T e B é dos milhares de milhões.
As células envolvidas na imunidade adaptativa são os linfócitos B e os linfócitos T que expressam na sua
superfície recetores para antigénio designados por BCR (B cell receptor) e TCR (T cell receptor), respetivamente.
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Em cada momento existem milhares de milhões (>109) linfócitos que diferem entre si nos recetores para
antigénio que expressam.
A imunidade adquirida demora bastante tempo a expressar-se, pelo que a imunidade inata é imprescindível.
As duas imunidades comunicam.
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Claro está que a sua especificidade é diferente. A imunidade adaptativa é bastante mais específica e envolve
inclusive recetores e linhagens de células diferentes:
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Os recetores relativos à imunidade inata encontram-se codificados na linhagem germinativa (exemplos: Toll-
like receptor, N-formyl methionyl receptor, Mannose receptor e Scavenger receptor), ao passo que os recetores
relativos à imunidade adquirida provêm de recombinações de genes dos precursores que originam os linfócitos
B e T (BCR ou Ig/Ab e TCR). Adicionalmente, a primeira é não-clonal (uma mesma
linhagem de células leva à expressão dos mesmos recetores), ao passo que a segunda
é clonal (os linfócitos expressam recetores específicos e únicos nas suas células, TCR
e BCR). Aqui existe o reconhecimento específico de diferentes e únicos antigénios, ao
passo que na imunidade inata apenas existe o reconhecimento de
padrões moleculares e seus recetores (idênticos recetores de
manose, por exemplo) (PAMPs - pathogen-associated molecular
patterns) dos microrganismos patogénicos, onde células infeciosas
expressam recetores semelhantes e que são reconhecidos. Nesta
imunidade são ainda os padrões moleculares associados ao dano
(DAMPs) que informam o sistema imune inato de que existe um
dano. Estes DAMPs (damage-associated molecular patterns) são moléculas
endógenas produzidas ou libertadas por células danificadas ou mortas.
Várias barreiras quer físicas quer químicas existem para prevenir o acesso dos
patogénios aos tecidos.
37
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os PAMP são moléculas vitais dos patogénios altamente conservadas e invariantes entre uma mesma classe
de patogénios, sendo raramente proteínas. São produzidos pelos microrganismos mas não o são pelo
hospedeiro.
PRR são os recetores nas células do hospedeiro a que se ligam os PAMP. Exemplos: β-1,3 glucano dos fungos,
peptidoglicano e LPS das bactérias, fosfoglicano dos parasitas, ácido lipoteicóico, dsRNA,… Os PRR podem ser
expressos na membrana plasmática (ex: TLR), nos endossomas/lisossomas (ex: TLR) e no citosol (ex: NLR, RLR).
As famílias de PRR reconhecem uma grande variedade de ligandos, os PAMP. Estes podem ser recetores
integrais de membrana (exemplos: recetores semelhantes ao Toll ou TLR; recetores das lectinas tipo C),
recetores citosólicos (NLR - NOD like receptors; RLR - RIG like receptors) ou recetores que reconhecem DNA.
O sistema imune inato recorre a diversos tipos de recetores, presentes em diferentes localizações nas células,
e igualmente moléculas solúveis no sangue e secreções das mucosas para reconhecer os PAMPs e DAMPs.
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Os TLRs localizam-se quer na membrana plasmática (exemplos: TLR-1, TLR-2, TLR-4, TLR-5, TLR-6), permitindo
o reconhecimento de ligandos no meio extracelular, como nas membranas dos endossomas (exemplos: TLR-3,
TLR-7, TLR-8 e TLR-9; cuja expressão na membrana endossomal e função requer a ação de uma proteína, UNC-
93B, cuja deficiência acarreta suscetibilidade a algumas infeções virais como infeções pelo vírus Herpes).
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Isto é, em resumo:
Recetores citosólicos:
Além do domínio extracelular LRR, os TLRs possuem um domínio transmembranar e um domínio intracelular
o TIR (Toll/IL1R domain) responsável pela ativação da cascata de sinalização.
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Lista dos diferentes TLRs conhecidos e respetivos ligandos reconhecidos. A origem de cada um dos ligandos
específicos (a que microrganismo pertencem) também é indicada:
- Todos os TLRs funcionam como homodímeros, exceto o TLR-1, TLR-2 e TLR-6 que formam heterodímeros:
TLR-1&TLR-2 assim como TLR-2&TLR-6.
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• Barreias epiteliais.
• Fagócitos.
• Células dendríticas (DCs).
• Células linfoides inatas (ILCs).
• Células Natural Killer (NK).
• Mastócitos.
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Barreiras epiteliais:
As catelicidinas são produzidas por neutrófilos e barreira epitelial da pele e dos tratos
respiratório e intestinal.
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Fagócitos:
- As DCs plasmacitoides são as principais produtoras de Interferão tipo I, importante nas respostas antivirais.
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- A ILC2 expressa o fator de transcrição GATA-3 e após ativação com as citocinas IL-25, IL-33 e TSLP produz IL-
5 e IL-13 com um papel fundamental na defesa contra helmintas e nas inflamações alérgicas.
- A ILC3 expressa o fator de transcrição RORγt e após ativação com as citocinas IL-1 e IL-23 produz IL-17 e IL-
22 com um papel fundamental na barreira intestinal e na organogénese linfoide (parte do processo de
desenvolvimento embrionário no qual os três folhetos germinativos - ectoderme, mesoderme e endoderme -
se diferenciam e dão origem aos órgãos internos, neste caso linfoides, do organismo).
- A função efetora de células NK consiste em matar células infetadas e em produzir IFN-γ que ativa a função
microbicida de macrófagos.
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Mastócitos:
- Os mastócitos são células sentinela presentes na pele, epitélio das mucosas e tecido conetivo, capazes de
secretar citocinas pró-inflamatórias (exemplo: TNF) e mediadores lipídicos (exemplo: prostaglandinas) em
resposta à infeção.
- Estas células possuem grânulos com vários mediadores inflamatórios que são libertados após a sua ativação,
quer por PAMPs quer por um mecanismo dependente de anticorpos.
- Também providenciam proteção contra infeções por helmintas e são responsáveis pelos sintomas de
alergias.
- Mecanismos de ação:
A ativação da via do complemento pode ser iniciada por 3 vias distintas, todas
levando à produção de C3a, que promove a inflamação, e C3b (fase inicial).
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A ativação, função e regulação do sistema do complemento vão ser discutidos em detalhe mais tarde.
Resposta inflamatória:
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Uma das respostas iniciais do sistema imunológico inato à infeção ou lesão consiste na produção de citocinas
pró-inflamatórias.
Citocinas:
• Promover inflamação.
• Inibir replicação viral.
• Induzir respostas mediadas por linfócitos T.
• Limitar a extensão da resposta imunitária
inata.
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- O TNF, a IL-1 e IL-6 medeiam os efeitos protetores da inflamação sistémica, incluindo a indução de febre,
síntese de proteínas de fase aguda pelo fígado e aumento da produção de leucócitos na medula óssea.
- O efeito de TNF sistémico pode causar choque séptico, incluindo função cardíaca diminuída, trombose,
aumento da permeabilidade capilar e alterações metabólicas devidas à resistência à insulina.
Os microrganismos
são então
internalizados em fagossomas, que se fundem com lisossomas
formando os fagolisossomas, o organito onde os microrganismos
são mortos por ação de espécies reativas de oxigénio ou de
nitrogénio e ainda pela ação de enzimas proteolíticos.
Funções de macrófagos:
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Respostas antivirais:
A principal forma pela qual o sistema inato inibe infeções virais é via indução de
expressão de Interferão tipo I, cuja principal atividade é a inibição de replicação viral.
- Os interferões tipo I (IFN-α e IFN-β) são produzidos por células infetadas por vírus em
resposta a sinalização via TLRs (localizados na membrana endossomal) e a outros sensores
de RNA viral.
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- Existência de vias de sinalização que inibem sinais de ativação induzidos por PRRs ou citocinas pró-
inflamatórias. Exemplo são as proteínas SOCS (Suppressors of cytokine signaling) que são inibidores da via JAK-
STAT induzida por recetores de citocinas.
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As respostas humoral e celular dependem dos recetores de antigénio, nomeadamente o BCR e o TCR.
A imunidade humoral depende fortemente das células B ou linfócitos B cujo BCR se encontra ligado às suas
membranas. Estes linfócitos B quando se diferenciam originam plasmócitos (células B tardias) que produzem
imunoglobulinas/anticorpos e que as secretam para o meio extracelular.
A imunidade celular, por ouro lado, depende das células T cuja ativação/reconhecimento do antigénio
depende das APCs por intermédio do complexo MHC-péptido. Os linfócitos T expressam à sua superfície TCRs
que não devem ser confundidos com anticorpos/imunoglobulinas ou BCRs.
- IgM: pentâmero.
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Este
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Quando havia transcrição ativa (e subsequente expressão e produção) das imunoglobulinas, observava-se que
as sondas iluminavam um único fragmento do DNA.
Concluiu-se assim que no processo de diferenciação das células estaminais em linfócitos B ocorreria um
rearranjo genómico para que as regiões V
(variável) e C (constante) passassem a estar
juntas, no mesmo fragmento de DNA.
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Nos genes das imunoglobulinas existem 3 regiões genómicas distintas associadas à produção de Ig. Duas
regiões em dois cromossomas diferentes para produzirem cadeias leves (λ e κ) e uma única região para produzir
cadeias pesadas.
Poder-se-ia pensar que as “caixas” são exões e a linha representa os intrões. No entanto, não se trata de um
gene único, mas sim de uma coleção de segmentos de genes (“biblioteca”) sendo que cada segmento de gene
tem capacidade de codificar uma parte da Ig, nomeadamente: a região linker inicial (L), a região variável (V),
uma região de junção (J), uma região constante (C) e uma região intermédia de junção/de diversidade (D).
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Assim, cada linfócito B recombina o seu genoma com estas várias possibilidades de combinações para a
produção de uma cadeia de Imunoglobulina única e exclusiva desta célula.
As cadeias leves surgem, portanto, da combinação dos segmentos génicos V, J e C. As cadeias pesadas surgem
da combinação de segmentos génicos V, D, J e C (este último com várias possibilidades distintas que codifica
para os diferentes subtipos de Ig), nomeadamente:
• γ (“gama”): IgG
• μ (“miu”: IgM
• α (“alfa”): IgA
• δ (“delta”): IgD
• ε (“épsilon”): IgE
O nome da Imunoglobulina é,
portanto, dado consoante a
região constante que a
codifica, sendo a letra do
segmento génico C no alfabeto
grego correspondente à letra
do nosso alfabeto do subtipo de Imunoglobulina (região constante C em grego = subtipo de Ig no nosso
alfabeto).
Este último esquema é a continuação do anterior onde o locus está prolongado e onde se mostra que a seguir
à região J nas cadeias pesadas existem diversos “pedaços” que codificam regiões constantes para produção dos
diferentes subtipos de anticorpos. Nesta aula só serão abordados a produção das IgM e IgD (as restantes serão
abordadas no estudo da ativação dos LB).
Sumariza-se o número de opções que existe para cada segmento génico. Por
exemplo, nas cadeias leves para codificar a região variável (V) têm-se entre 34
e 38 opções diferentes, no caso das cadeias do tipo κ. No caso das cadeias do
tipo λ têm-se entre 29 e 33 opções diferentes e para a cadeia pesada 38 a 46
opções diferentes. Note-se que o segmento D não existe nos loci das cadeias
leves.
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Existem 250 possibilidades de regiões variáveis e 4 de regiões J, pelo que se podem ter 250(V) X 4(J) = 1000
combinações possíveis de cadeias leves diferentes que podem ser produzidas por este processo de
recombinação.
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Relativamente às cadeias
pesadas a situação é distinta.
Aqui dá-se a junção entre as
regiões D e J e, mais tarde, das V
com as DJ (nas cadeias leves não
há D, então juntam-se as V e J).
Aqui há 4 segmentos génicos, ao
passo que nas cadeias leves só há
3, existindo apenas uma
recombinação.
Assim, existem 500 (V) X 12 (D) X 4 (J) = 24 000 combinações possíveis de cadeias pesadas.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Nota: note-se que os valores de V’s, J’s, D’s e C’s é diferente dos valores mencionados na tabela anterior. Isto
deve-se ao facto de que essa tabela enumera as famílias dessas regiões, ao passo que nestes esquemas os
segmentos apresentados provieram de duplicação genética das pequenas famílias.
Em suma, nas cadeias leves só existe uma única etapa de rearranjo, com junção dos segmentos V com os
segmentos J (forma-se o segmento VJ), ao passo que nas cadeias pesadas existem 2 etapas de rearranjo, com
um rearranjo inicial que leva à junção dos segmentos D e J e, posteriormente, à junção do segmento DJ com o
segmento V. Forma-se
assim um segmento VDJ.
Os processos de splicing
permitem a união da
região constante às
restantes, formando-se o
transcrito maduro que irá
codificar para as
diferentes regiões
específicas da cadeia
peptídica
correspondente na
imunoglobulina.
O rearranjo dos
recetores de antigénio
envolve as RSS, isto é, as
recombination specific sequences que são sequências semelhantes adjacentes/flanqueadas aos segmentos
génicos a juntar e que permitem, portanto, a hibridação entre si. Estas sequências são reconhecidas por um
complexo proteico por um dímero de proteínas RAG (RAG 1 e RAG 2), recombination-activation genes. Estas
RAG são responsáveis pelo
desencadear da hidrólise e
“junção” dos segmentos
genómicos. É um processo
aleatório que depende da ligação,
ao acaso, das proteínas RAG às
diversas RSS espalhadas pelo gene.
Assim é um fenómeno de
recombinação aleatória.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Considera-se 2 segmentos génicos, V e J e as respetivas RSS (triângulos) que lhes estão adjacentes.
1. Ligação das RAG e clivagem de ssDNA (DNA single-stranded): as proteínas RAG vão ligar-se às RSS e
fazem uma clivagem em cadeia simples e que deixa um grupo hidroxilo liberto/livre (-OH). Cada RAG
realiza a clivagem na RSS a que se liga do DNA em cadeia simples, pelo que as duas RSS adjacentes aos
segmentos genómicos ficam com os seus grupos hidroxilo livres.
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As proteínas envolvidas na reparação do DNA ou as non-homologous end joining, NHEJ, possuem diversas
funções e existem diferentes passos envolvidos no seu uso. Recorrem ao uso de cinases de DNA (DNA-PKcs), às
proteínas Ku70 e Ku86, à proteína Artemis, a um polimerase (Pol μ), ao complexo XRCC4, ao DNA Ligase IV e ao
TdT (Terminal deoxynucleotidyl transferase). Os passos detalhados da ação dos NHEJ são os seguintes:
1. Quebra de dsDNA: a quebra da cadeia dupla é realizada anteriormente (não pelo NHEJ) mas leva ao
recrutamento dos fatores NHEJ que reconhecem esta quebra.
2. Ligação nas extremidades: a ligação das extremidades do DNA é mediada pelos DNA cinases (DNA-
PKcs) e pelas proteínas Ku, Ku-70 e Ku-86.
3. Processamento das extremidades e abertura do hairpin: a proteína Artemis é responsável pela
abertura do gancho para o posterior preenchimento.
4. Preenchimento (1º) e ligação (2º): o DNA polimerase μ (Pol μ), o complexo XRCC4 e o DNA Ligase IV
são responsáveis pelo preenchimento e ligação da cadeia de DNA. É um passo onde o TdT (necessário
para adicionar alguns nucleótidos) pode ser necessário dependendo do tipo de adição (ver Aula 8).
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5. dsDNA: após ligação e preenchimento a cadeia de DNA está fechada novamente, com a junção de
nucleótidos livres e dos segmentos V e J (gene das Ig rearranjado).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
5’ 3’
3’ CT 5’
Terminal
deoxynucleotidyl
transferase
Quando temos um hairpin formado nas extremidades dos segmentos que vão ser
recombinados (neste caso: D e J), existe uma ligação fosfodiéster entre os nucleótidos das
extremidades, “em gancho”. De seguida, este hairpin é clivado pelo que se pode iniciar a
reparação da cadeia de DNA dupla. Repare-se que a clivagem se dá no topo dos segmentos
D e J (ver setas), gerando-se extremidades livres em cadeia simples. Seguidamente existe
o preenchimento de nucleótidos que se pode dar de 2 formas: adição de nucleótidos P ou
adição de nucleótidos N.
Os enzimas de reparação vão, basicamente, adicionar nucleótidos por
complementaridade. Após esta reparação existe a posterior ligação.
A adição de nucleótidos P consiste numa adição
de nucleótidos de tal forma que as cadeias de DNA
resultantes (preenchidas) são complementares
entre si e a sua leitura de 5’ para 3’ ou de 3’ para 5’
é a mesma, isto é, é um palíndromo.
A outra adição possível, a adição de nucleótidos
N, leva à geração de uma maior variedade de
anticorpos (non-templated nucleotide addition).
Nesta adição existe o recrutamento do enzima TdT
(Terminal deoxynucleotidyl transferase) que, como
o nome indica, catalisa a reação de transferência
de novos (desoxi) nucleótidos para extremidades
livres para a criação de novas sequências. Aqui
existe uma adição de um conjunto de nucleótidos
totalmente novo aleatoriamente (porque o
enzima é non-templated, isto é, não usa nenhum molde). Assim, ao invés da junção se dar entre cadeias
palindrómicas (de nucleótidos tipo-P), dá-se entre sequências com uma parte nova.
Isto é, após sequenciação dos genes recombinados dos anticorpos foi possível observar-se que existiam
sequências palindrómicas (adição P, não usa TdT) e sequências com um conjunto novo e aleatório de
nucleótidos (adição N), sendo que nesta última existe o uso de TdT.
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O Quadro de leitura (ou Grelha de Leitura Aberta ou ORF, Open Reading Frame) é definido pelo codão de
iniciação e pelas sequências sucessivas seguintes de 3 nucleótidos reconhecidos que codificam a futura
proteína. Dependendo do tipo de junção ocorrido (consoante o tipo de adição), podem-se gerar rearranjos
produtivos (que mantêm o Quadro de leitura, mas introduzem novos aminoácidos => LB ou LT funcional) ou
rearranjos não produtivos (Quadro de leitura alterado com o aparecimento de codões de terminação,
formando-se mais tarde um linfócito com um tal rearranjo genético que é incapaz de produzir anticorpos). Estes
rearranjos podem dar-se com qualquer tipo de adição de nucleótidos (N ou P) e, portanto, em qualquer destas
adições pode ocorrer alteração no Quadro de Leitura Aberta dependendo apenas do local onde acontece o
corte. O rearranjo é não produtivo quando não dá origem à proteína, sendo a razão principal para isto a perda
do quadro de leitura.
Assim, a aleatoriedade nos processos de recombinação confere uma elevada diversidade de repertório de
anticorpos, mas tem como consequência a existência de um grande número de linfócitos inúteis (que não vão
ser capazes de produzir Ig) por rearranjos não produtivos. Produzem cadeias truncadas pelo que estes LB (ou
LT se estivermos a referirmo-nos ao TCR) acabam por morrer.
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Os rearranjos genéticos (dos segmentos VDJ) são gerados por recombinação aleatória nas cadeias leves (1000
combinações) e nas cadeias pesadas (24 000 combinações) pelo que se obtém cerca de 2 X 107 combinações
possíveis. A estas acrescentam-se outros fenómenos que conferem ainda uma maior variabilidade,
nomeadamente:
- Flexibilidade juncional: o facto de haver grande variabilidade na posição em que ocorre a junção entre dois
segmentos devido ao facto do "corte e costura" não ocorrer sempre no mesmo local como acontece, por
exemplo, nas junções de splicing entre dois exões consecutivos.
- Non-templated nucleotide addition (adição de nucleótidos N pelo TdT).
- Hipermutação somática: após a formação das células naive, ainda podem ocorrer processos de diversificação
dos anticorpos.
Devido a estes fenómenos existem cerca de 1011 anticorpos distintos, pelo que a probabilidade de 2 anticorpos
serem exatamente iguais a nível das células B naive é muito baixa. Ao nível dos linfócitos de memória a
probabilidade é mais alta, pois resultam da expansão clonal de um linfócito naive que foi ativado.
O termo expansão clonal refere-se à proliferação celular seletiva de uma célula (B ou T) que foi ativada em
resposta à presença de um antigénio reconhecido pelos seus recetores. Todas as células que resultam da
divisão da original são seus clones genéticos, que se acumulam na população geral de linfócitos alterando a
frequência relativa com que cada locus rearranjado existe.
Imagine-se um evento específico de rearranjo que leva à formação de uma cadeia pesada de sequência A e
uma cadeia leve de sequência B. Dado o elevado número de combinações que podem ocorrer durante os
rearranjos, assumindo que existem 1 milhão de células naive a combinação A+B deverá aparecer apenas numa
ou duas células (já com muita sorte!), ou seja, numa frequência próxima de 1 por milhão (ou 0,0001%).
Já num indivíduo que tenha tido uma resposta imunitária contra este antigénio, devido à proliferação seletiva
desta célula (com esta resposta específica), ou seja, à sua expansão clonal, é perfeitamente possível que a
combinação A+B esteja presente em ≈10% das células B no pico da resposta imunitária, frequência essa que
será refletida depois na população de células de memória.
Ou seja, a probabilidade de se encontrarem duas células de memória que expressam exatamente o mesmo
anticorpo (porque têm o mesmo rearranjo) é muitíssimo superior à probabilidade de se encontrarem duas
células naive que apresentem o mesmo rearranjo.
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Um linfócito B naive, após a recombinação VDJ, vai ter uma dada organização
genómica das cadeias pesadas da Imunoglobulina (ii) de tal forma que o gene
recombinado ainda se vai conjugar com cadeias constantes com características
diferentes. Após a ativação do LB, isto é, apresentação do antigénio ao BCR, inicia-se
um processo celular que recorre a enzimas específicos que vão introduzir mutações
genéticas (iii) no genoma destas células que se localizam predominantemente nas
regiões CDR (regiões que definem a superfície de interação entre o anticorpo e o
antigénio). O objetivo é a criação de uma diversidade tal para existir o aparecimento
de anticorpos com uma afinidade gigantesca para o antigénio (quanto maior a
afinidade Ab-Ag, maior é o estímulo de proliferação provocado pelo Ag), pelo que
acaba por se dar a seleção do linfócito mais apto, isto é, o linfócito que possui maior
afinidade para aquele antigénio. Além de uma
geração superior de afinidade, gera-se um aumento
de eficácia da resposta (anticorpos mais específicos
=> daí se fazerem imunizações sucessivas para se
obrigar a aumentar esta especificidade de forma a se
obter uma resposta mais eficaz).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
O nome da Imunoglobulina é, portanto, dado consoante a região constante que a codifica, sendo a letra do
segmento génico C no alfabeto grego correspondente à letra do nosso alfabeto do subtipo de Imunoglobulina
(região constante C em
grego = subtipo de Ig no
nosso alfabeto).
As IgG possuem 4
segmentos génicos distintos
(γ1, γ2, γ3 e γ4), ao passo
que as IgA possuem 2
segmentos (α1 e α2). As
restantes (IgM, IgD e IgE)
possuem apenas 1 segmento
génico. Estes segmentos são
usados de forma alternada,
mas regulada.
O linfócito B naive maduro
tem a possibilidade de
produzir IgM e IgD. Ao
observar-se o locus da cadeia
pesada nota-se que são
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
exatamente as regiões constantes mais próximas dos segmentos VDJ. Ou seja, para a região constante pode-se
recorrer aos segmentos μ ou δ pela sua proximidade espacial do segmento VDJ rearranjado.
O linfócito B virgem só consegue produzir um único tipo de anticorpo (aliás várias cópias de Ab idênticos!),
claro. Único pela recombinação génica (VDJ) e pertencente a uma dada classe consoante a cadeia constante (μ
– IgM ou δ – IgD). Note-se que, como a recombinação VDJ é a mesma, a região variável será igual tanto na IgD
como na IgM.
Entretanto, a IgD deixa de ser produzida e a IgM passa a predominar. Com a resposta imunitária, existe uma
transição para os restantes tipos – G (libertadas em circulação), A (predominantemente produzidas nas
mucosas) e E.
O segmento génico a cinzento ψ representa um pseudogene (neste caso pode dar origem a IgE), isto é, ao
longo da evolução acumulou mutações pelo que não tem capacidade de originar a um mRNA funcional (isto é,
não leva à síntese proteica produtiva).
Encontra-se
representado um
locus de cadeia
pesada já
recombinado
(isto é, o exão VDJ
já está formado,
determinante
para a
especificidade do
reconhecimento
do antigénio) com
diversas regiões constantes. Inicia-se a transcrição a montante da região L (líder). Assim, a célula após a
transcrição e quando já se formou o transcrito primário determina de uma forma regulada se faz um splicing
ou poliadenilação (não são mutuamente exclusivos, podem ocorrer ao mesmo tempo) do segmento VDJ para
a região μ (IgM) ou região δ (IgD). Relembrar que a poliadenilação é o processo que define onde termina a
molécula de mRNA (sinais de poliadenilação – pA1 e pA2).
Assim, no linfócito B naive o local de reconhecimento antigénio (VDJ) dos anticorpos produzidos é o mesmo,
mas a região constante pode ser diferente (μ ou δ) devido ao splicing alternativo. Note-se que a região variável
é a mesma na IgM e na IgD e a região constante varia.
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As sequências líder (L) estão codificadas num exão distinto e não são sujeitas a recombinação. Comuns em
todos os Ab. São os primeiros aminoácidos (tanto nas leves como nas pesadas) da Ig.
Existem outras cadeias desenvolvidas a partir de outras regiões constantes e que vão dar origem aos
anticorpos propriamente ditos (imunoglobulinas secretadas por plasmócitos – apesar de que se usam os termos
como sinónimos). Estas cadeias (α, γ e ε) só são usadas após a resposta de ativação dos linfócitos B nos órgãos
linfoides periféricos e a sua utilização envolve um processo de recombinação génica denominado de class-
switch recombination. Aqui os segmentos VDJ vão reunir-se com segmentos α, γ ou ε, dependendo local onde
o linfócito se encontra e o tipo de resposta imunitária em que este se encontra envolvido.
Nas células T todos os processos descritos anteriormente são semelhantes/análogos, à exceção da class-
switch recombination que nos LT não existe.
Os TCRs não têm cadeias pesadas sendo dímeros com cadeias com
aproximadamente o mesmo número de aminoácidos e uma estrutura de
região variável e região constante. Os dímeros mais comuns são os α-β. O
locus α é análogo à cadeia leve e sofre recombinação VJ; o β é análogo à
cadeia pesada e sofre recombinação VDJ, mas não possui a mesma
complexidade ao nível da região constante.
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O MHC é um cluster de genes, altamente polimórficos, que codificam glicoproteínas expressas à superfície das
células que são especializadas na apresentação de antigénios a LT. Isto é, sem MHC não existe a ativação de
linfócitos T, pelo que este é fulcral na sua ativação.
Este complexo de maior histocompatibilidade desempenha também um papel crucial em determinar se um
tecido é aceite (histocompatível) ou rejeitado (histoincompatível) quando transplantado.
Note-se que MHC é o nome genérico:
• Em humanos: HLA (Human Leukocyte Antigen).
• Em porcos: SLA (Swine Leukocyte Antigen).
• No ratinho, por razões históricas, é designado por H2 (Histocompatibility 2).
Conceito de histocompatibilidade:
Graças a estes trabalhos o papel do MHC como responsável pela histocompatibilidade foi descoberto:
• Base genética da rejeição de transplantes:
Os transplantes de pele entre estirpes inbred (todos os genes são idênticos; é como se os animais fossem
gémeos homozigóticos) demonstrou que a aceitação ou rejeição é dependente do background genético.
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Quando se realiza um transplante de pele de um ratinho para outro exatamente igual, o enxerto de pele é
aceite (existe histocompatibilidade). Contrariamente, ao fazer-se um transplante de pele de um ratinho
diferente (B) no primeiro ratinho (A), este enxerto é rejeitado (histoincompatível).
Como já visto ao realizar-se um enxerto de pele do ratinho B no ratinho A existe a sua rejeição em cerca de 10
dias (resposta imunológica primária). Se usarmos linfócitos desse ratinho que rejeitou o enxerto e os
transferirmos para um animal naive e se após 6 meses fizermos novamente um enxerto de pele do ratinho B
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nesse ratinho naive, existe uma rejeição do enxerto muito mais rápida, em cerca de 3 dias (há o
desenvolvimento de uma resposta imunológica secundária).
Por outro lado, se o ratinho naive que recebeu os linfócitos do ratinho A que tinha rejeitado o enxerto de pele
do ratinho B receber um outro enxerto de pele (de outra estirpe, imaginemos C), isto é, um enxerto não
relacionado, também rejeita o enxerto numa resposta primária que se faz sentir em 10 dias, por não ter tido
exposição prévia ao antigénio estabelecendo uma resposta imunológica primária.
Conclui-se, deste modo, que a rejeição de transplantes é devida a uma resposta imunológica específica e com
“memória”.
Ao cruzarem-se duas estirpes parentais (A e B) obtém-se um animal designado por AB ou F1. Este ratinho
possui a capacidade de aceitar enxertos tanto da estirpe B como da estirpe A.
Por outro lado, as estirpes parentais não conseguem aceitar enxertos de ratinhos F1, visto que só expressam
um tipo de MHC.
Se tivermos células T de um ratinho com MHC-A e expusermos estas células a células “estimulatórias”
irradiadas de um ratinho com MHC-A, os LT não respondem (eles só respondem àquilo que acham
“estranho”/diferente). Se, por outro lado, expusermos as mesmas células a células “estimulatórias” irradiadas
de um ratinho com MHC-B, como estas expressam um diferente MHC, gera uma resposta imunitária e os LT
proliferam. Conclui-se que os genes do MHC estão envolvidos na ativação de linfócitos T:
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TCR
MHC’s
APC
O reconhecimento de antigénios por Linfócitos T requer APCs que expressem moléculas de MHC. Este
esquema demonstra em quais situações o antigénio é capaz de ativar os LT e levar à sua proliferação. Isto é, se
o antigénio se encontrar simplesmente solúvel, o TCR não o consegue reconhecer (o BCR consegue!). O mesmo
com casos em que o antigénio se encontre à superfície da membrana plasmática da APC. E a situação repete-se
com péptidos solúveis ou expressos à membrana das APCs. Ou seja, o TCR só consegue reconhecer o antigénio
na presença de moléculas de MHC e após esta apresentação permitir a proliferação das células T onde se
encontra expresso. Assim, o LT estabelece contacto/reconhecimento tanto com os péptidos como com o MHC.
Se o MHC for exógeno dá-se uma reação de alorreatividade onde os LT proliferam em resposta ao MHC
estranho.
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MHC I:
O MHC de classe I apresenta péptidos derivados de proteínas presentes no
citosol (por exemplo: antigénios virais).
É responsável por transportar/ligar péptidos de proteínas de
microrganismos que se repliquem no citoplasma (como os vírus). Estes
péptidos são apresentados a células T CD8 efetoras/citotóxicas (TC) que vão
levar à morte das células portadoras do MHC I.
Se um vírus infeta uma célula, vai existir a síntese de proteínas virais no citosol e de MHC classe I. Existe a
degradação dessas proteínas em péptidos que são transportados para o RE (retículo endoplasmático) e ligados
ao MHC I. O complexo MHC I:péptido migra, de seguida, para a superfície da célula.
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MHC II:
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≥ 13 aminoácidos
Os péptidos carregados na
molécula de MHC de classe II são
maiores tendo, pelo menos, 13
aminoácidos.
A ligação entre o péptido e a
molécula de MHC é estabelecido
essencialmente via pontes de
hidrogénio (pelos resíduos
âncora).
Os péptidos que se ligam a
moléculas MHC II são de
tamanho variável e os resíduos
âncora estão localizados em
diferentes posições (diferente
distância do N e C terminais).
Os péptidos carregados em
moléculas de MHC II têm pelo
menos 13 aminoácidos (até 17
aminoácidos).
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Encontra-se representado
Chr 6 locus de MHC em humanos
(HLA):
Existem regiões com
designações específicas
correspondentes às diferentes
classes de MHC,
nomeadamente:
• MHC classe I: HLA-A +
Chr 17 HLA-B + HLA-C.
• MHC classe II: DR + DQ +
DP (A – codifica a cadeia α e B
codifica a cadeia β) + genes que
codificam proteínas envolvidas no
processamento antigénico (LMP, TAP –
envolvida no processamento antigénico de
classe I, transportando péptidos para o RE -, DM –
envolvido no processamento antigénico de classe II
-, etc).
Existe ainda uma zona que codifica moléculas de
MHC classe III (que não é relevante).
Assim, o locus contém não só os genes que
codificam o MHC em si como todas as proteínas
envolvidas no processamento antigénico.
O MHC em humanos encontra-se no cromossoma
6 e em ratinhos no cromossoma 17.
Em ratinho, o MHC I corresponde às regiões K e D
e MHC II corresponde às regiões IA e IE.
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Mais relevante saber é em humanos. O HLA está então dividido por regiões distintas que codificam as
diferentes classes de MHC, nomeadamente:
• Moléculas de MHC I: HLA-A, HLA-B e HLA-C.
• Moléculas de MHC II: DR, DQ e DP.
Assim, o MHC é poligénico, porque contém diferentes e vários genes que codificam MHC de classe I e MHC
de classe II.
O MHC é polimórfico,
isto é, apresenta alelos
múltiplos num dado
locus genético
(Polimorfismo: presença de alelos múltiplos num dado locus genético).
Em humanos (HLA) alguns loci têm centenas de alelos identificados até agora, sendo os genes mais
polimórficos de qualquer espécie analisada. Por exemplo, a cadeia β da molécula DR (MHC II) possui 1211 alelos
diferentes.
Claro está que existem variantes múltiplas de um gene na população, isto é, podemos expressar diferentes
alelos apesar de os termos a todos.
O polimorfismo concentra-se na fenda de ligação ao péptido (detalhes na Aula 10).
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Uma pequena nota: o interferão γ (ou tipo II) é uma citocina produzida
pelas células TH1 que aumenta a expressão de MHC. Os interferões do tipo I
ou αβ estão envolvidos em respostas antivirais.
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Os genes de MHC são herdados dos nossos pais em blocos (aos pares, 1 de cada progenitor, isto é, existem 2
alelos assim para cada uma dos genes constituintes do locus de MHC (2 alelos para HLA-A, 2 alelos para HLA-B,
etc).
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Observaram-se os resíduos de aminoácidos de determinadas cadeias das moléculas de MHC. Em MHC classe
I a maior variabilidade destes resíduos localiza-se nos domínios α1 e α2, que são exatamente os domínios de
ligação ao péptido. O mesmo se sucede com MHC classe II onde a maior variabilidade está presente na cadeia
de β1 (de ligação ao péptido/antigénio).
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Restrição de MHC:
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Todas as nossas células nucleadas expressam MHC classe I. Isto significa que à superfície de todas as células
nucleadas do nosso corpo, quer façam parte ou não do sistema imunológico, há expressão (presença) de
moléculas de MHC I. Este MHC I é um componente codificado pelo nosso genoma, é self (do próprio). O MHC
I expresso pelas minhas células é diferente do teu (com altíssima probabilidade, dado o elevado polimorfismo
neste locus). O teu MHC seria reconhecido como estranho (non-self) pelas minhas células do sistema
imunológico.
A expressão de MHC classe II é como já referido muito mais restrita e encontra-se apenas à superfície de
células apresentadoras de antigénio. No entanto, as moléculas de MHC II que as minhas células dendríticas
(DCs) apresentam à sua superfície são codificadas pelo meu locus de MHC, isto é, são self (componentes do
próprio).
No timo, as células epiteliais, macrófagos e DCs expressam moléculas de MHC I e II que são self (do próprio).
Não há MHC estranho a fazer apresentação antigénica em situação normal. Tal acontece apenas em situação
de transplantação de órgãos ou nas designadas "mixed lymphocyte reaction" (MLR).
Dito isto:
Um LT naive é ativado (recebe sinal via TCR) quando o TCR que o LT expressa na membrana plasmática
interage com o seu péptido específico (cognate peptide) apresentado numa molécula de MHC (complexo
MHC/péptido) presente na membrana plasmática de uma célula apresentadora de antigénio. Isto é uma
interação entre 2 células, o LT (mediado pelo TCR) e pela APC (mediado pelo complexo MHC:péptido). Não
esquecer que o sinal 2 (coestimulação) também é necessário para a ativação eficiente de um LT naive
(abordado mais à frente).
De qualquer modo, o MHC I e II que é expresso numa APC é um componente do próprio - é self – e os LT
foram selecionados no timo para o reconhecer, ou seja existe restrição de MHC no reconhecimento. Um LT
reconhece o péptido específico apresentado por uma APC em self-MHC. A ativação de um LT por MHC non-
self designa-se por alorreatividade e é uma maneira não normal de ativação estando na base de rejeição de
órgãos e transfusões sanguíneas.
Os péptidos específicos apresentados pela APC em MHC self é que são usualmente (em situação fisiológica)
non-self. Quando os péptidos apresentados em MHC self são também self e são reconhecidos por um LT com
TCR específico, isto pode levar ao desenvolvimento de autoimunidade.
As células T reconhecem péptidos apresentados no contexto de self-MHC. É necessário garantir que estas
sejam capazes de reconhecer péptidos apresentados no “MHC do próprio”, mas eliminar todas que o fazem
com elevada afinidade (abordado mais à frente), senão pode-se gerar autoimunidade.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Alorreatividade:
Como já observado, o
linfócito T tem de
reconhecer o péptido de
uma molécula de MHC
igual (MHC-self).
No entanto, na
denominada por
alorreatividade pode
acontecer existir um MHC
exógeno e um péptido diferentes, mas que induzam uma
resposta no LT. Ou seja, outra combinação péptido e MHC
podem ser reconhecidos na mesma pelo TCR e gerar um tipo
de resposta diferente: resposta alogeneica.
(Em termos de vocabulário, um enxerto transplantado entre
indivíduos geneticamente diferentes da mesma espécie é
conhecido por aloenxerto e, dito isto, as moléculas que
reconhecem este enxerto como estranho são aloantigénios.
Assim, os linfócitos que reagem a esses aloantigénios, por meio
do MHC, são aloreativos.)
(Um aloantigénio é um antigénio presente em apenas alguns
indivíduos da mesma espécie e que assim promove o
estabelecimento de uma resposta imunológica adquirida em
indivíduos que não o expressem.)
Ou seja, se o MHC-
péptido que é
reconhecido pelo TCR não for o “ideal” e que
não permita gerar a resposta “ideal”, pode na
mesma levar à proliferação de LT.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os MHCs I e II (convencionais)
apresentam antigénios proteicos a
linfócitos T αβ. No entanto, existem
antigénios não proteicos (glicolípidos,
lípidos ou lipoproteínas) que podem
ser apresentados por moléculas de
MHC não-clássicas como CD1.
As moléculas CD1 são pouco
polimórficas (pelo menos
estruturalmente) e são capazes de
apresentar estes antigénios não-
proteicos a células NKT.
Não são só antigénios proteicos que
são apresentados!
Superantigénios:
Os superantigénios são antigénios/moléculas produzidas por alguns microrganismos e que contribui para a
sua patogenicidade.
Estes são capazes de realizar um bypass ao processamento antigénico (estes compostos não precisam de ser
processados – mecanismos a seguir detalhados - para induzir uma resposta de células T). Fazem diretamente o
crosslinking do MHC e TCR, levando a uma ativação não específica dos linfócitos T, que está associada a uma
hiperativação destas células.
Os superantigénios não interagem com o peptide-binding groove, fazem sim o tal crosslinking!
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Visão global de processamento de antigénio para carregamento em moléculas de MHC classe I e II:
Existem duas vias de processamento de antigénio e apresentação, que diferem na fonte de antigénio, tráfego
intracelular e associação a MHC
• Os antigénios intracelulares são apresentados em MHC I a células T CD8+.
• Os antigénios extracelulares são apresentados em MHC II a células T CD4+.
A via de processamento a apresentação de antigénio por moléculas MHC classe I é uma via citosólica ou
endógena, ao passo que a via de processamento e apresentação de antigénio por moléculas MHC classe II é
uma via exógena.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Um vírus replica-se no
citoplasma e leva à síntese de
proteínas virais que são
degradadas em péptidos nos
proteassomas (vários tipos: 26 S
expressos na maioria das células,
contrariamente aos
imunoproteassomas – expressos
em células do sistema
imunológico, maioritariamente – e
aos proteassomas específicos do
timo – expressos em células
epiteliais tímicas), presentes no
citosol.
Os péptidos resultantes da
degradação das proteínas são transportados pelas TAP para o retículo endoplasmático (RE) onde se localiza a
molécula de MHC classe I. Aqui esta molécula é carregada e exportada via complexo de Golgi e vesículas
exocíticas para chegar à superfície da célula.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Em resumo:
• Os péptidos para carregamento em MHC I são originados a partir das proteínas
citosólicas que são degradadas em estruturas cilíndricas designadas por
proteassomas.
• A molécula de MHC I, sintetizada no RE, entra em contacto com os péptidos gerados
no citosol via TAP. Os péptidos são transportados pelas TAP (Transporters associated
with antigen processing) num transporte dependente de ATP.
As TAP são constituídas por 2 cadeias polipeptídicas: TAP1 e TAP2. Cada uma destas possui
um domínio hidrófobo (que atravessa a membrana ou transmembranar) e outro domínio de
ligação ao ATP (virado para o citosol; proteína ABC).
No retículo endoplasmático
rugoso a cadeia α da MHC I
encontra-se ligada a uma
chaperona, a calnexina, até haver
a ligação pela subunidade β2-
microglobulina.
Esta associação da subunidade
da β2m leva a que a calnexina se
dissocie do MHC I. O MHC I, agora
completo (com todas as
subunidades ligadas), associa-se a
outras chaperonas,
nomeadamente a calreticulina, a
ERp57 e a tapasina. A tapasina
associa-se às TAPs e forma-se um
complexo denominado PLC
(peptide-loading complex)
constituído pela calreticulina,
ERp57, tapasina, TAPs e MHC I.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Este complexo permite que péptidos gerados no citosol passem via TAPs e que sejam devidamente carregados
na molécula de MHC classe I.
Adicionalmente, está presente o ERAAP (endoplasmic reticulum aminopeptidase associated with antigen
processing) que é um aminopeptidase cuja função é a de catalisar a hidrólise de péptidos demasiado longos ao
nível do N-terminal, permitindo assim o seu carregamento (tamanho ideal: 8 a 10 aminoácidos) em moléculas
de MHC I.
Após a molécula de MHC I estar carregada vai
ser exportada via Golgi para a superfície da
membrana plasmática da célula. Assim, esta
célula passa a expressar MHC I e pode fazer a
apresentação de antigénios a linfócitos T DC8.
Aqui representa-se o processamento antigénico que ocorre numa célula para carregamento em MHC I, assim
como diferentes proteínas expressas por membros da família herpesviridae capazes de interferir com este
processamento.
Para a célula ser eliminada por CTLs é necessário que na célula alvo péptidos virais sejam carregados em
moléculas de MHC classe I. Como está indicado, esta família de vírus codifica uma grande variedade de
proteínas que interferem com múltiplas fases do processamento antigénico para carregamento em MHC I.
Por exemplo, a proteína EBNA1 de EBV inibe a atividade do proteossoma.
Se uma célula “alvo” não apresenta MHC I à superfície ou no caso de células infetadas por vírus não apresenta
péptidos virais no contexto de MHC I, a mesma escapa à atividade de CTLs (a CTL para ser ativada e exercer a
sua função citotóxica tem que reconhecer o seu péptido específico no contexto de MHC I).
Desta forma, vírus desta família conseguem escapar à atividade mediada por CTLs.
Tumores que também são alvo de CTLs, conseguem escapar à ação mediada por estas células, via inibição de
expressão de MHC I.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Em suma, a fagocitose ou endocitose de antigénios extracelulares por pAPCs (APCs profissionais como DCs,
macrófagos e linfócitos B) resulta no seu transporte através de uma série de vesículas intracelulares, com pH
cada vez mais baixo, nas
quais as proteínas são
degradadas em péptidos.
Estas vesículas fundem-se
finalmente com vesículas
contendo a molécula de
MHC com origem no RER.
No RER, a molécula de
MHC classe II é ligada a uma
“proteína” denominada de
invariant chain (Ii) que
impede a ligação de
péptidos ao MHC de classe
II. Ou seja, a ligação do
MHC-II à “invariant chain” (Ii) impede o seu carregamento com péptidos no RE. Adicionalmente, esta invariant
chain garante o endereçamento da MHC II para o compartimento endossomal onde estão as vesículas com os
péptidos resultantes da degradação (LIP10 contém motivos para “endereçamento” do complexo MHC II:Ii para
o compartimento endossomal). Assim, Ii direciona a molécula de MHC-II para compartimentos acídicos onde se
encontram com os péptidos resultantes de antigénios extracelulares.
À medida que o pH se torna mais acídico a Ii é clivada dentro das vesículas deixando um pequeno fragmento,
designado de CLIP. A invariant chain é mesmo clivada de forma a deixar o fragmento peptídico (CLIP, class II-
associated invariant-chain peptide) no groove da molécula de MHC II no RE, que impede a ligação de outros
péptidos.
HLA-DM facilita o carregamento de péptidos em moléculas de MHC II:
Como já visto a Ii (invariant chain) impede que péptidos não-requeridos se associem à molécula de MHC de
classe II no retículo endoplasmático rugoso. De seguida, esta Ii é clivada nos endossomas devido à diminuição
do pH que ativou os catepsinas que hidrolisaram esta invariant chain. No entanto, deixam sempre um pequeno
fragmento/péptido (CLIP) ao peptide-binding groove. Seguidamente, dá-se a fusão de vesículas que contêm os
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
antigénios com a vesícula de MHC II ligada ao CLIP. Ao compartimento de fusão, onde se insere o MHC II + CLIP
e os antigénios designa-se de MIIC (MHC class II compartment) que é um endossoma/lisossoma com o MHC II
+ CLIP + péptidos a carregar na molécula de MHC II.
Para existir a troca do CLIP pelos péptidos resultantes do processamento antigénico é necessário HLA-DM. O
HLA-DM permite a troca CLIP <-> péptidos. Após MHC II estar devidamente carregada com os péptidos, é
endereçada via complexo de Golgi para ser expressa à superfície e poder apresentar antigénios a células T CD4.
MIIC é o nome dado ao compartimento no qual ocorre carregamento de moléculas de MHC II com os péptidos,
ou seja o MIIC resulta da fusão dos endossomas onde as moléculas de MHC II estão associadas com o CLIP,
descritos anteriormente, com os fagolisossomas que contém os péptidos resultantes da digestão de antigénios
extracelulares. Assim, neste compartimento ocorre a substituição do CLIP por péptidos mediada pela molécula
HLA-DM.
Deste compartimento, as moléculas de MHC II carregadas com péptidos são transportadas para a membrana
plasmática, onde podem ativar linfócitos T CD4 cujo TCR reconhece (é específico) para estes péptidos.
O importante é reconhecer que ocorre fusão de endossomas com moléculas de MHCII:CLIP (CLIP este que
resulta da digestão da “invariant chain” por cisteína-proteases nos endossomas) com fagolisossomas que
contém péptidos. E saber a origem dos péptidos que são carregados. O nome que por vezes é dado a este
compartimento e a sequência de digestão da “invariant chain” (primeiro em LIP22, depois em LIP10 e finalmente
em CLIP) não é necessário saber.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Ativação de DCs reduz expressão de MARCH-1 aumentando a semivida das moléculas de MHC II:
Em células dendríticas
imaturas há uma molécula
denominada de MARCH-1 que
leva à ubiquitinação das
moléculas de MHC II, marcando-
as para posterior degradação
pelo proteassoma. Quando não
há infeção (estado estacionário,
situação fisiológica), a MARCH-1
permite a diminuição do tempo
de meia-vida da MHC II.
Em situação de infeção, o TLR
(Toll-like receptor) dimeriza e
ativa uma via de sinalização que
resulta na diminuição da transcrição do gene que codifica o MARCH-1. Assim, este é menos expresso/sintetizado
levando a que MHC II não seja ubiquitinada, permitindo um aumento do seu tempo de semivida. Assim, as
moléculas de MHC classe II podem acumular-se à superfície da célula.
Ora, se o sinal inicial foi uma infeção (daí o TLR dimerizar), então assim o MHC II
pode apresentar péptidos resultantes dos microrganismos patogénicos à superfície.
Apresentação cruzada:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Em resumo:
Existem duas vias de processamento antigénico: a endógena (MHC I) e a exógena (MHC II):
Via endógena (MHC classe I): Via exógena (MHC classe II):
1. Os antigénios endógenos (de microrganismos 1. No RER a invariant chain (Ii) liga-se ao MHC II,
que se replicam no citoplasma, como os vírus) não permitindo a ligação de outros péptidos e
são degradados pelo proteassoma localizado endereça o MHC II via aos endossomas.
no citoplasma. 2. Nos endossomas (via Golgi) começa a haver
2. Os péptidos resultantes são transportados via clivagem da Ii em fragmentos (por catepsinas –
TAP para o RER. proteases – ativados por abaixamento do pH),
3. No RER, a molécula de MHC I está associada à sendo que um deles fica associado ao MHC II, o
chaperona calnexina e, mais tarde, após CLIP.
associação da subunidade β2m a um complexo 3. Endocitose e fusão de vesículas endocíticas
de chaperonas, o PLC (constituído pela com os antigénios/péptidos a carregar
calreticulina, ERp57, tapasina e TAPs) que, por formando-se o MIIC.
intermédio da ERAAP, permitem o 4. Por ação da HLA-DM existe a troca do CLIP
carregamento dos péptidos na MHC II. pelos péptidos e posterior transporte da MHC
4. Transporte para a superfície da membrana via II para a superfície da membrana plasmática,
complexo de Golgi para apresentar antigénios podendo apresentar antigénios a LT CD4.
a LT CD8.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os linfócitos T (αβ) expressam na sua membrana o TCR, constituído por uma cadeia α e uma cadeia β
associadas por uma ligação persulfureto. Este possui uma região variável (V) e uma região constante (C).
Por outro lado, existem células T γδ que possuem, obviamente, uma cadeia γ e uma cadeia δ.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Quanto ao locus da
Chr 7
cadeia α, este possui
vários segmentos de
gene V (região
variável), J (região de
junção) e C (região
constante) da cadeia α.
Esta cadeia α acaba por
possuir bastantes semelhanças com a cadeia leve das Imunoglobulinas (recombinação VJ).
No caso da cadeia β do TCR é necessário haver rearranjo de genes V, D (diversidade) e J tal como nas cadeias
pesadas das Ig (recombinação VDJ).
Isto é, não existe rearranjo da cadeia δ terminando-se a diferenciação para células γδ.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Este DNA epissomal resultante da deleção do locus δ do TCR é mantido nas células T após migração do timo
para a periferia. Os TRECs são estáveis e não se dividem, mas são diluídos por divisão celular.
Se um individuo não produz células T (por exemplo por ausência de timo), não existem TRECs no sangue
periférico.
As células T diferenciam-se no timo, migrando depois para a periferia onde são ativadas por antigénios
exógenos:
Os progenitores T que se desenvolvem na medula óssea migram para o timo e é neste que completam o seu
processo de diferenciação, pelo que tem de haver a interação entre o precursor de células T com uma célula
estromal tímica pela via de sinalização Notch.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
O TCR que é rearranjado vai ser testado recorrendo a self-MHC, sendo que apenas as células que reconhecem
MHC do próprio com uma afinidade intermédia (interação/afinidade intermédia) é que são selecionadas
positivamente. Dá-se uma seleção negativa para as células cuja interação é excessiva (são eliminadas, pois
podiam desencadear doenças autoimunes). Os timócitos com uma afinidade demasiado baixa para o self-MHC
também são mortos, ainda que não seja um processo de seleção negativa. Os timócitos que expressam TCRs
com uma afinidade na gama do baixo-intermédia-alta (não muito baixa nem muito alta) com complexos MHC
próprios (expressos à superfície das células epiteliais) vão sair do timo e são enviados para os órgãos linfoides
secundários.
Após o processo de seleção e pós-maturação, os linfócitos T saem do timo e migram para os órgãos linfoides
secundários (exemplo: gânglios linfáticos) onde podem ser ativados por células dendríticas (apresentação de
antigénio pela APC) e desempenhar as suas funções usuais no contexto de infeção, nomeadamente:
Desenvolvimento de células T:
• Objetivo?
- Produzir células dotadas de (que expressem) um TCR funcional, e por isso capazes de reconhecer um
antigénio na periferia e montar uma resposta imunológica celular.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• Como?
- Através da diferenciação a partir de células pluripotentes (vindas da medula óssea), estas migram para o timo
e aqui sofrem alterações específicas de expressão génica que determinam a linhagem T.
- Cada uma dos muitos milhões de células T (e B) que circula no nosso corpo expressa um recetor de antigénio
(TCR/BCR) único: as células que entram no timo não estão ainda comprometidas para a linhagem T e não
expressam TCR. Ao passo que, as células T que saem do timo são funcionais e expressam um TCR único.
Se o timo não estiver operacional ou for inexistente, não existe diferenciação de linfócitos T. Por exemplo,
ratinhos que são timectomizados à nascença (sem timo), não desenvolvem células T na periferia. Por outro lado,
em humanos existe um síndrome (de DiGeorge) onde existe aplasia tímica (timo mal desenvolvido), pelo que
estes indivíduos têm uma ausência total de células T ou um repertório de células T muito oligoclonal (poucas
células T e com pouca diversidade), tendo consequências severas no estabelecimento da resposta imune. Este
síndrome deve-se a uma deleção no cromossoma 22 que não permite a síntese do fator de transcrição Tbx1.
Os ratinhos nude não têm pelo, por causa de uma mutação no gene do Foxn1 (Forkhead box number 1) que
leva a que os folículos pilosos não se desenvolvam. Nestes ratinhos não há desenvolvimento do timo, porque o
fator de transcrição Foxn1, cujo gene é mutado, é essencial para a diferenciação e manutenção das células
epiteliais do timo (TEC, Thymic epithelial cells).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Realizou-se um transplante de
timo do ratinho scid para a cápsula
renal do ratinho nude e uma
transferência de céulas estaminais
da medula óssea do ratinho nude
para um ratinho scid.
Por outro lado, os ratinhos nude recebem um timo não-deficiente na cápsula renal. Como não existia problema
com os progenitores na medula, estes migram para este timo não-deficiente, havendo desenvolvimento normal
de células T.
Assim em ambos os ratinhos se observa que antes do transplante não existia a proliferação de células T (estas
são sintetizadas e existe a sua diferenciação), que passa a existir após os transplantes (observação do baço,
órgão linfoide secundário).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Timo:
Além dos timócitos existem outras populações de células existentes no timo e que são fundamentais:
• Córtex: células epiteliais tímicas corticais e macrófagos (importantes na eliminação de células mortas
no timo).
• Medula: macrófagos, células dendríticas e células epiteliais tímicas medulares. São populações
importantes para o processo de seleção negativa.
Apenas 2% dos timócitos conseguem completar o processo de diferenciação no timo e migrar para a periferia,
por causa dos diversos checkpoints existentes ao longo do seu desenvolvimento
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
[A diferenciação de linfócitos γδ dá-se quando os timócitos ainda são double-negative (DN), 2 ou 3, pelo que
aqui tem de haver um rearranjo das cadeias δ (logo, não rearranjam a α porque o locus da δ se localiza no locus
da α) e γ do TCR. Nestes estados o locus da cadeia α ainda está intacto (logo também o da δ), daí poder haver
essa diferenciação. Os passos seguintes neste TCRγδ são mais simples e com menos estados (mas há controlos
na mesma!).] Todos os timócitos possuem no estado mais imaturo todos estes locus (α, β, γ, δ) não rearranjados.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os timócitos DN4
diferenciam-se em timócitos
DP (double-positive), isto é, expressam
CD4 e CD8 e estes timócitos já expressam
um TCR αβ completamente rearranjado.
Até chegar a este TCR rearranjado, houve
primeiramente a expressão da cadeia β
rearranjada com uma pré-cadeia α (pre-
Tα) e só depois é que há um rearranjo da
cadeia α que leva à formação do αβTCR DP.
Em alguns estados de diferenciação podem existir checkpoints/controlos (nos estados em que o TCR maturo
ou imaturo é expresso) de tal forma que se um timócito não reconhece um sinal de sobrevivência, pode haver
indução da apoptose. Isto acontece em casos
como, por exemplo, uma cadeia β mal
rearranjada.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Um linfócito γδ é caracterizado pela expressão do TCR constituído por uma cadeia γ (rearranjada primeiro) e
por uma cadeia δ (também rearranjada).
• DN1: estas células expressam a proteína CD44 e ainda não expressam CD25 (CD44+ CD25-).
• DN2: expressam ambas as proteínas CD44 e CD25 (CD44+ CD25+).
• DN3: expressam CD25, mas deixam de expressar CD44 (CD44- CD25+).
• DN4: não expressam nem CD44 nem CD25 (CD44- CD25-).
- Transmitir um sinal à célula para parar o rearranjo da cadeia β, que já está devidamente rearranjada.
As células DN4 (ou pré-DP) ainda expressam pré-TCR, mas no estado a seguir (DP) os timócitos expressam TCR
(já com as cadeias α e β rearranjadas) e CD4 e CD8. Este TCR final ainda assim possui uma sinalização diferente
do TCR das células da periferia, imatura. Esta sinalização imatura faz com que este TCR seja fundamental para
os processos de seleção positiva e negativa.
No processo de seleção positiva as células que conseguem reconhecer MHC do próprio (numa afinidade
intermédia) sobrevivem (o TCR transmite um sinal de sobrevivência). As células que interagem com alta
afinidade com complexos MHC-péptido expressos à superfície de células epiteliais tímicas ou de células
dendríticas são mortas por apoptose (seleção negativa). Se a afinidade do TCR para complexos MHC: péptido é
demasiado baixa, a célula também morre por apoptose (processo designado por death by neglect – não é um
tipo de seleção negativa!). Pensa-se que neste caso o timócito não recebe sinais de sobrevivência via TCR.
As DPs são imaturas e o sinal do TCR é sobrevivência (se o TCR reconhece o MHC do próprio com afinidade
intermédia) ou morte (se o TCR reconhecer o self-MHC com demasiada afinidade).
No estado final SP (CD4+ ou CD8+) a via de sinalização do TCR transmite sinais de:
- Proliferação.
Estes timócitos SP (diferenciadas) já possuem uma via de sinalização igual à dos timócitos na periferia. Os
marcadores ou proteínas de superfícies expressos podem ser detetados por anticorpos e, por exemplo, por
citometria de fluxo é possível distinguirem-se os vários estados da diferenciação.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Apesar de se referir muito a seleção negativa associada ao estado DP, esta dá-se maioritariamente no estado
SP.
A seleção negativa ocorre principalmente no estado single positive (CD4SP ou CD8SP) ou seja, quando os
timócitos estão na medula tímica. No entanto, DP cujo TCR que interage com elevada afinidade com
complexos MHC-péptidos no córtex também são “selecionados negativamente” e assim eliminados. O
objetivo é impedir que células T com potencial autorreativo (que reconhecem na periferia antigénios do
próprio apresentados em MHC do próprio) sejam selecionadas no timo.
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Nas células DP (expressam tanto CD4 como CD8) e nas SP (expressam ou só CD4 ou só CD8), o TCR já é
constituído por cadeias α e β (uma α e uma β) totalmente rearranjadas.
• Seleção positiva, isto é, DP sobrevive se a afinidade entre o MHC do próprio e o TCR for intermédia.
Logo na periferia vai desenvolver a sua função (vai reconhecer os péptidos exógenos expressos à
superfície do self-MHC).
• Seleção negativa, ou seja, DP morre se a afinidade entre o MHC do próprio e o TCR for demasiado
elevada. Se esta célula não fosse eliminada, na periferia poderia reconhecer demasiado péptidos do
próprio podendo desencadear doenças autoimunes.
• Sobrevivência.
• Proliferação.
• Aquisição de função efetora (CD4 – auxiliares – e CD8 – citotóxicas).
- TCR-γδ:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Em termos de desenvolvimento de γδ, pensa-se que os timócitos que rearranjaram a cadeia γ e δ antes da
recombinação da cadeia β, expressam o complexo TCR γδ/CD3 na membrana plasmática. A sinalização via TCR
induz um processo designado por γδ-selection que confirma a geração de um TCR γδ funcional. O commitment
para a linhagem αβ é também inibido.
Durante o período embrionário o timo é primeiro colonizado por timócitos γδ e posteriormente por timócitos
αβ que predominam no adulto. O mesmo em ratinhos:
O TCR para ser expresso à superfície está associado a CD3, daí que seja a percentagem do complexo proteico
que se observa. Como todos os TCRs (sejam eles αβ ou γδ) expressam esta proteína, podem-se usar anticorpos
contra a mesma para observar a sua presença. Portanto, a percentagem avaliada corresponde a todas as células
T existentes (e depois no gráfico é feita a distinção entre os dois subtipos). Assim %CD3 é equivalente a
%linfócitos T.
No período embrionário e desenvolvimento fetal a vasta maioria dos timócitos são γδ. Próximo do tempo de
nascimento (nos ratinhos o período de gestação são 21 dias), cerca de 3 dias antes há um decréscimo acentuado
na diferenciação dos linfócitos γδ. Os timócitos αβ começam a desenvolver-se perto dos 16 dias, mas no 21º
dia, isto é, no nascimento já são a população de timócitos predominante no timo.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Seleção tímica:
- Seleção positiva
- Seleção negativa
• Elimina células T cujos TCRs interagem com elevada afinidade com o MHC do próprio ou com
complexos MHC-péptidos.
- Eliminação da maioria das células autorreativas (ativadas por complexos MHC-péptidos do próprio). Limita-
se assim a autoimunidade na periferia.
Baixa afinidade: vão para a periferia e são células que vão originar células T convencionais.
O esquema encontra-se bastante simplificado. Sabe-se que existem outras células na medula capazes de
permitir a seleção negativa de timócitos, nomeadamente células dendríticas.
NOTA IMPORTANTE: DP: seleção negativa e positiva; SP: seleção negativa (já sofreram seleção positiva em
DP).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Adicionalmente, os timócitos que reconhecem com demasiada afinidade com self-MHC são selecionados
negativamente e são mortas por apoptose. O processo de seleção negativa é mediado pelas cTECs. Os de
afinidade intermédia são selecionados positivamente.
Os timócitos que passam a seleção positiva migram para a medula são expostas a APCs como as mTECs. Aqui,
já no estado SP, podem sofrer seleção negativa se tiverem demasiada afinidade com o MHC que lhes é
apresentado (morte por apoptose). Entretanto, os de afinidade intermédia permanecem na medula 3 a 4 dias
sofrendo maturação e depois podem migrar para a periferia.
Na periferia, os LT CD8 SP são designados de LT CD8 citotóxicos, os LT CD4 SP são designados de LT CD4
auxiliares e os LT Reguladores CD4 SP são designados de LT Reguladores (controlam a ação das células do
sistema imunitário tendo maior afinidade para complexos MHC-péptido). Apesar da alta afinidade destas, estas
conseguem escapar ao processo de seleção negativa, pois a afinidade não é excessiva.
Observa-se no gráfico que células em que o TCR possui baixa afinidade para
o complexo MHC-péptido morrem (death by neglect), pois não conseguem
receber sinais de sobrevivência via TCR.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
De seguida, existe uma gama de afinidades intermédias que são selecionadas positivamente (e escapam à
seleção negativa) e que terminam o seu processo de diferenciação na medula e migram para a periferia.
Adicionalmente, existe uma pequena gama de afinidade mais alta que permite o recrutamento de timócitos
para a linhagem de células T reguladoras.
Por fim, um timócito que possua afinidade demasiado elevada para complexos MHC-péptido é eliminado por
seleção negativa, visto que é induzida a apoptose nessa célula.
• Deficiência em MHC II: analogamente a população DN, DP e CD8 SP sobrevivem, mas a população CD4
SP não.
Os péptidos podem ser apresentados em contexto de MHC classe I aos co-recetores CD8 (portanto qualquer
célula que o expresse, pode ser ativada), mas células (CD4 SP) que apenas expressem CD4 à sua superfície e que
necessitam de MHC II exclusivamente, não sobrevivem (não são selecionadas positivamente).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• 98% de todos os timócitos não terminam o seu processo de maturação, morrendo por apoptose no
timo. (apenas 2% terminam o processo de maturação)
• No entanto, este processo (fino) garante a diferenciação de células T funcionais (reconhecem MHC do
próprio e péptidos exógenos na periferia), com reduzido potencial autorreativo.
A via de deleção de células T no timo é por apoptose que se distingue de necrose, pois a primeira é uma morte
celular programada e garante que não haja libertação dos conteúdos intracelulares pelas células, limitando-se
o processo de inflamação.
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A apoptose pode ser desencadeada por duas vias de sinalização: a via intrínseca e a via extrínseca. A via
intrínseca envolve o mitocôndrio e é a via recorrida durante o processo de diferenciação no timo, pelo que aqui
ocorre libertação do citocromo c no citoplasma e posterior indução dos enzimas caspases.Na periferia, a morte
celular por apoptose dá-se pela via extrínseca ativada por exemplo por CTL FASL+ que induz apoptose nas
células que expressem FAS a interagir com FAS-ligando. Processo na periferia que também leva a ativação de
caspases.
As moléculas da família das Bcl-2 são fundamentais na regulação da apoptose. Estas induzem a sobrevivência
de células T no geral.
Células T reguladoras:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Estas células T reguladoras exibem certos possíveis mecanismos de ação para regularem a função de outras
células do sistema imunológico na periferia, nomeadamente:
1. Privação de citocinas: as células T reguladoras nesta situação expressam elevados níveis de CD25 ou
cadeias α do recetor da IL-2 de alta afinidade permitindo-lhes competir, recorrendo a IL-2, com outras
células por citocinas que células T necessitam para sobreviver e proliferar. Isto é resulta na inibição da
ativação de células T efetoras.
As células T reguladoras (Tregs) expressam CD25 (cadeia α do recetor da IL2), que conjuntamente com
as cadeias β e γ formam o designado high-affinity receptor da IL2. Este recetor de alta afinidade para
a IL2 expresso pelas Treg permite-lhes competir muito mais eficientemente que as outras células T
para a IL2. A IL-2 é uma citocina fundamental para a sobrevivência e proliferação de células T. Ao
“remover” este fator crítico, as Tregs reduzem a sobrevivência e a proliferação das outras células T.
2. Inibição de citocinas: as células TREGs secretam diversas citocinas inibitórias (para células T),
nomeadamente a IL-10 e a TGF-β, que se ligam a recetores de células T ativadas. Aqui induzem a
diminuição da atividade de sinalização.
3. Inibição de APCs: estas células T reguladoras podem interagir diretamente com a molécula de MHC
classe II das APCs e inibir a sua maturação, inviabilizando a sua capacidade de ativar células T. Isto é,
inibem a apresentação de antigénios, pelo que algumas células T naive não são ativadas.
4. Citotoxicidade: as TREGs podem exibir função citotóxica e matar células (por secreção de perforinas e
granzimas), por apoptose (tal como os linfócitos T citotóxicos).
Estas células T emigram, vindas do timo, pelo que podem ser designadas
de recent thymic emigrants (possuem TRECs).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Num ratinho (em humanos é semelhante) ao remover-se o timo, realiza-se uma suspensão celular e marcam-
se as populações de LT CD4 e CD8 usando anticorpos contra estes co-recetores; observa-se o perfil à esquerda
(por citometria de fluxo). Vê-se que a população mais imatura (DN) é a que se encontra em menor quantidade
(≈3%). Estes DNs diferenciam-se em DPs (CD4+ e CD8+) que é a população mais frequente (cerca de 80%). Estas
por seleção positiva originam SPs (ou CD4 SP ou CD8 SP com uma frequência, respetiva, de 12 e 5%). Note-se
que a maioria das DPs não se diferenciaram em SP, pelo que foram selecionadas negativamente, isto é, sofreram
apoptose.
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Existem muitas outras proteínas envolvidas no desenvolvimento de linfócitos T no timo, além dos fatores de
transcrição mencionados anteriormente. Alguns exemplos são os enzimas envolvidos no processo de
recombinação VDJ (RAG1 e RAG2 e TdT), as proteínas envolvidas na transdução de sinal do TCR, a IL-7
fundamental na sinalização, os co-recetores CD4, CD8 e CD3, a pTα (cadeia α não rearranjada associada a cadeia
β já rearranjada nos DN3 e DN4), a Notch (para a via de sinalização mencionada anteriormente) e a Kit para
sinalização.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• Instrutivo.
• Estocástico.
• Sinalização cinética.
O modelo estocástico defende que este processo de escolha da linhagem é ao acaso. Ou seja, o timócito DP
faz aleatoriamente downregulation de um dos co-recetores (CD4 ou CD8), sendo que o co-recetor que
permanece expresso determina a linhagem SP. Adicionalmente, depende ainda se esse mesmo timócito após a
diminuição da expressão de um co-recetor, consegue encontrar um complexo MHC-péptido específicos para o
co-recetor expresso. Senão, sofre apoptose. Por exemplo, se há uma menor expressão aleatória de CD4, o
timócito que expressa maioritariamente CD8 tem de encontrar um complexo MHC I-antigénio para se
diferenciar totalmente em CD8 SP senão morre por apoptose. Por outro lado, se há uma menor expressão
random de CD8, o timócito que expressa relativamente mais CD4 deve encontrar um complexo MHC II-péptido
senão sofre morte celular programada.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Por fim, no modelo de sinalização cinética o timócito DP, aquando da seleção positiva (MHC apresentado por
uma cTEC/APC), sofre uma downregulation de CD8 e uma permanência na expressão de CD4. Se este timócito
que expressa menos CD8 conseguir interagir com um complexo MHC I-péptido e na presença de IL-7
(compromete a linhagem CD8) na seleção, o sinal de downregulation via TCR é interrompido e o timócito DP
acaba por se diferenciar em CD8 SP. Se o timócito encontrar um complexo MHC II-péptido na seleção positiva
então o sinal de CD8 downregulation mantém-se e a célula diferencia-se em CD4 SP.
Sabe-se ainda que existem dois fatores de transcrição envolvidos na determinação da linhagem: o Runx3 e o
ThPOK:
Quando existe knockout de Runx3, os timócitos não se diferenciam em CD8 SP e se houver um knockout de
ThPOK, os timócitos não se diferenciarão em CD4 SP.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Existe um declínio da função tímica com a idade. No painel (a) observa-se um timo de uma criança (exterior,
córtex, mais escuro, estados iniciais de diferenciação e interior, medula, mais clara, seleção positiva) onde se
vê que a maioria do tecido é linfoide (função tímica intacta). No painel (b) observa-se um timo de adulto onde
se vê claramente a redução do tecido linfoide, começando a aparecer espaços no timo.
Aos 20 anos cerca de 80% é tecido linfoide, ao passo que aos 40 anos esta percentagem reduz para 5%. O
tamanho do timo diminui com a idade.
Antigamente, aquando de
cardiopatias severas em crianças existia a remoção total do timo. Agora tenta-se ao máximo manter o timo
(timectomia parcial), por causa da sua importância no sistema imunológico.
Importante: nos jovens a maioria dos timócitos encontram-se no estado DP e em indivíduos mais idosos a
população maioritária de timócitos é SP.
Relembre-se que quando se falou do rearranjo VJ da cadeia α, existe a deleção do locus δ (inserido no locus
α) que circulariza num DNA circular denominado de TREC. Estes TRECs são usados para avaliar a função tímica.
No gráfico observa-se o número de TRECs obtidos por μg de cDNA obtido de PMBCs (peripheral blood
mononuclear cell). Observa-se um decréscimo acentuado no número de TRECs, ou seja, uma diminuição abruta
da atividade tímica ao longo de 80 anos, apesar de que nessa idade ainda existe atividade tímica.
O mesmo conceito é observado no uso de citoqueratina que marca as TECs (células epiteliais tímicas), ou no
uso de CD1a que marca timócitos ou no us de Ki67 que marca células em fase ativa do ciclo celular. Em todos
estes casos observa-se marcação positiva, mesmo sendo um timo de uma mulher de 78 anos (há função tímica!).
A redução da expressão do fator Foxn1 pode ser causadora da redução do timo. Em ratinhos velhinhos, a
indução de Foxn1 pode reverter uma baixa atividade tímica (muita da hematopoiese é recuperada).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
a função microbicida de macrófagos ou o recrutamento de outras células do sistema imunológico via secreção
de quimiocinas e citocinas, em prol da erradicação dos agentes infeciosos.
Quando a célula T virgem recebe sinais via TCR (1) e sinais via moléculas coestimuladoras (2) vai induzir-se:
- Expressão de citocinas, nomeadamente a IL-2, fundamental para a proliferação das células. Esta pode atuar
de forma autócrina (na própria célula T que a produz) ou parácrina (noutras células T).
Novamente, a ativação da célula T naïve requer sempre o sinal via TCR e da coestimulação. As células T
efetoras já só precisam do 1º sinal.
Note-se que as APCs (profissionais: células dendríticas, macrófagos e LB) são as únicas células que expressam
moléculas coestimuladoras, daí serem preferenciais para a ativação de linfócitos T CD8 em contexto de MHC de
classe I, ainda que estes possam ser ativados por outras células nucleadas, mas nunca com a mesma eficiência
(visto que não expressam CD28 e, portanto, não induzem o sinal 2 para uma maior proliferação de células T).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Observa-se a interação
entre as células T e as APCs.
Na interação de T CD4+ e
APC, observa-se uma
molécula de MHC II expressa
na membrana da APC e que
apresenta o péptido
resultante de antigénios
extracelulares para proceder
à ativação desta célula T a interagir com o complexo CD3/TCR. Também se vê o co-recetor CD4 a interagir com
o MHC II. A interação de T CD8+ é semelhante, com a exceção da apresentação do antigénio/péptido
intracelular/citosólico no contexto da molécula de MHC I.
Observam-se ainda dois exemplos de moléculas de adesão das células T: CD2 (que interage com LFA-3 da APC)
e LFA-1 (que interage com ICAM-1 na APC).
Também se observa o tal 2º sinal (de coestimulação) muito importante dado a partir de moléculas
coestimuladoras dos LT naive (CD28), que interagem com CD80 (=B7.1) ou CD86 (=B7.2) da APC.
Após a célula T receber o sinal via TCR ocorre uma reorganização das moléculas na zona de contacto da célula
T com a APC (sinapse imunológica). Esta sinapse imunológica é constituída por duas regiões: a cSMAC (central
supramolecular activation complex) e o pSMAC (peripheral supramolecular activation complex):
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• Na cSMAC, parte central da sinapse imunológica, estão localizados o complexo CD3/TCR e a molécula
de MHC:péptido, o co-recetor CD28 e o co-recetor específico do subset de LT (CD4 ou CD8).
• Na pSMAC, parte periférica da sinapse imunológica, encontram-se as moléculas de adesão
(importantes para haver uma eficiente interação entre o LT e a APC).
Observa-se ao
microscóprio a sinapse
imunológica
(essencialmente o cSMAC)
entre o LT naive e a APC
(célula dendrítica). Não se
observa na primeira figura,
mas existe ainda o pSMAC.
Novamente:
cSMAC:
- TCR/CD3 (liga-se a
MHC:péptido).
- Recetor de coe-estimulação
CD28 (interage com
CD80/B7.1 ou CD86/B7.2).
pSMAC:
- Moléculas de adesão.
Ativação de Linfócitos T:
+ coestimulação (sinal 2)
142
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É estimado que apenas uma célula em cada 105/106 células é específica para um péptido apresentado em
contexto de MHC pela célula dendrítica. Quando se dá esta interação e a célula T virgem reconhece o seu
péptido específico na molécula de MHC por uma APC (ativação), dá-se o processo de expansão clonal
(proliferação das células T específicas) e sua diferenciação em células efetoras. De seguida, dá-se a contração
da resposta (sua diminuição; o organismo regressa à homeostasia), mas subsistem algumas células específicas
para o antigénio, as de memória (caso o organismo volte a ser “atacado”, a resposta é mais rápida).
Em suma, inicia-se uma cascata de eventos bioquímicos que induz uma célula a entrar em fase ativa do ciclo
celular, proliferar e diferenciar-se em célula efetoras e de memória.
As cadeias α e β do TCR possuem um pequeno domínio intracelular que não é suficiente para proceder à
sinalização, pelo que as moléculas de CD3 que expressam os ITAMs são fundamentais para a sinalização via TCR.
O sinal 1 ou o sinal via TCR transmite uma mensagem de iniciação da ativação da célula T. Observa-se desta
forma na figura esta sinalização detalhada.
143
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Quando a célula T interage com o MHC:péptido da APC e com o auxílio do co-recetor de CD4 ou CD8, inicia-se
uma cascata de sinalização:
4. O cinase ZAP-70 ativado catalisa a reação de fosforilação das moléculas adaptadoras de LAT e SLP-76.
5. A fosforilação destas moléculas adaptadoras culmina na iniciação de duas outras vias de sinalização e
ativação de fatores de transcrição, nomeadamente:
a. Sinalização via (iniciada por) RAS-ERK: permite a ativação de AP-1.
b. Sinalização via (iniciada por) PLC-γ: permite a ativação do NF-κB e de NFAT.
6. A ativação destes fatores de transcrição permite a ativação de genes que regulam a sobrevivência das
células, proliferação das células T e aquisição da função efetora (diferenciação em função efetora).
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Coestimulação é necessária
para a ativação de linfócitos T:
A coestimulação é
absolutamente necessária para a
ativação de linfócitos T virgens.
Esta necessidade foi mostrada
em experiências onde se usaram
Células T isoladas de PBMC
células mononucleares T
isoladas de sangue periférico
humano (PBMC). Na ausência de
APCs podem usar-se reagentes
que mimetizam o sinal que as
células T recebem via TCR e via
coestimulação. Adicionalmente,
o uso de anticorpos contra o
complexo CD3 mimetiza a
situação em que o TCR está a
interagir com o complexo
MHC:péptido e contra o CD28
induz na célula T um sinal de coestimulação (se interagisse com CD80/B7.1 ou CD86/B7.2). Por fim, o PMA é
outra forma de ativar as células T via TCR.
Ao observarem a quantidade de uridina tritiada (indicador de síntese de RNA), verificaram que a síntese de
RNA é bastante pronunciada quando tanto o sinal via TCR
como o sinal de coestimulação se encontram presentes
(situações de PMA + α-CD28 e α-CD3 + α-CD28). O par α-CD3 +
α-CD28 revela ser o que consegue ativar mais eficientemente
as células T.
145
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Em relação às moléculas
coestimuladoras, existem o
CD28 (mais importante) e o
ICOS.
A ICOS-L é expressa na
superfície de algumas APCs como LB (e até mesmo algumas células T) e interage com o ICOS do LT. Esta interação
é importante para a manutenção da atividade de células T diferenciadas (quando já são efetoras) e para a
interação células B-T nos centros germinativos (nos gânglios linfáticos ou no baço quando as células B estão a
sofrer o processo de hipermutação somática).
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Para a ativação de uma célula T naive tem de existir sempre o sinal 1 e 2 (via TCR e via coestimulação,
respetivamente), mas quando a célula T já se diferenciou/adquiriu função efetora esta torna-se menos
dependente de coestimulação para exercer a sua função.
A célula dendrítica apresenta um péptido viral a uma célula T CD8 em contexto de MHC I, ativando-a. E aqui
observa-se a presença de CD28 (sinal 2, de coestimulação). Entretanto, esta célula diferencia-se em célula T
citotóxica que, na ausência de coestimulação, consegue via TCR reconhecer péptidos virais em células epiteliais
infetadas (via MHC I) e levar à libertação de grânulos citotóxicos para induzir a apoptose da célula.
Assim, para ativação de uma célula T naive são sempre precisos os dois sinais, mas para a célula T exercer a
sua função o reconhecimento do complexo MHC:péptido (sinal 1) é suficiente. Isto garante que quaisquer
péptidos citosólicos que são apresentados a moléculas de MHC classe I e expressos em todo o corpo vindos das
células infetadas que sintetizaram esses péptidos, possam ativar “diretamente” (apenas sinal 1) células T
citotóxicas e estas levarem à morte das células infetadas, não necessitando de CD28 ou outros coestimuladores
(apenas presentes em APCs).
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- Ajudam a reduzir a inflamação no curso natural de uma infeção e durante infeções crónicas.
A expressão de CTLA-4 é induzida aquando da ativação dos LT naive via sinal TCR (sinal 1) que envia um sinal
negativo à célula (pois liga-se com maior avidez às moléculas de coestimulação, B7.1/CD80 e B7.2/CD86, do que
o CD28).
Existem outros recetores de coinibição expressos pelas células T, nomeadamente PD-1 (programmed death 1)
que se liga aos ligandos PD-L1 e PD-L2 expressos pelas APCs profissionais, algumas células B e T e ainda células
tumorais.
Tanto a sinalização via CTLA-4 como a via PD-1 levam a regulação negativa/inibição da resposta imunológica.
O ipilimumab é um
anticorpo usado contra
CTLA-4, bloqueando-a e
impedindo que esta interaja
com moléculas
coestimuladoras expressas à
superfície da APC. Assim,
este anticorpo impede que
seja dado um sinal negativo
à célula T, permitindo a sua
ativação (e maior
proliferação), sendo usado
como terapia antitumoral
em doentes em fases de
cancro muito avançadas.
Relembre-se que a
ativação de um LT naive
requer uma ativação via TCR
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e via moléculas coestimuladoras (sinais 1 e 2) e que o CTLA-4 ao interagir com moléculas CD28 apresentadas à
superfície das APCs (células apresentadoras de antigénios) leva à inibição da célula T transmitindo-lhe um sinal
negativo, reduzindo a sua proliferação e extensão da resposta imunológica, consequentemente.
O uso de anticorpos que bloqueiem moléculas co-inibidoras como o CTLA-4 ou o PD-1 (como o ipilimumab),
fazem com que não haja este sinal inibitório nas células T, pelo que estas podem eliminar com maior eficiências
células tumorais.
Ausência de coestimulação
Sinais inibitórios
Para a ativação de uma célula T naive são sempre necessários os sinais via TCR e de coestimulação.
Quando uma célula T (CD8) virgem interage com uma célula não-APC profissional (isto é, não é apresentadora
de antigénio profissional pelo que não expressa moléculas coestimuladoras, CD80 ou CD86, e não expressa MHC
II, apenas MHC I) e reconhece o seu complexo MHC I:péptido, a ativação do LT CD8 é ineficiente. Isto é, a célula
T CD8 fica anergizada.
Uma célula T CD8 anergizada é uma célula que não prolifera e que não exibe todas as características de uma
célula efetora/citotóxica, como o facto de não produzir citocinas.
Estas células anérgicas também podem ser geradas quando a célula recebe fortes sinais fornecidos pelas
moléculas co-inibidoras como a CTLA-4 ou a PD-1.
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Em suma, sinais que induzem anergia de uma célula T são quando esta é ativada via TCR na ausência de
coestimulação ou na presença excessiva de co-inibidores.
A indução de anergia pode ser importante na manutenção da tolerância na periferia, isto é, para a célula T
CD8 não ficar com função efetora e acabar por “atacar” o próprio organismo. Por exemplo, no caso (b) uma
célula β pancreática (produtora de insulina) não vai ativar a célula T CD8 eficientemente para esta não ficar
citotóxica e poder atacar as próprias células do pâncreas (mecanismo de controlo da ativação de LT
autorreativos na periferia).
Isto é, células estimuladas com anti-CD3 até podem sobreviver durante algum tempo, mas acabam por
anergizar (nem mesmo voltando a estimulá-las via TCR).
Uma nota importante a ativação de LT CD8 por outras células que não as APCs
O que foi sempre dito é que todas as células nucleadas expressam MHC classe I e assim podem apresentar
antigénios a LT CD8. A questão é que, na realidade, para haver ativação eficiente de células T naive é
necessário sinalização via TCR, providenciada por interação com péptidos apresentados no contexto de MHC
I e coestimulação (sinal 2) providenciada pela interação de moléculas B7 nas APCs com o CD28 nas CD8. Sendo
assim, as células nucleadas apesar de expressarem MHC I, não expressando moléculas coestimuladoras, não
conseguem induzir a ativação eficiente de LT CD8+.
Foi também dito que qualquer célula nucleada pode ativar linfócitos T CD8 citotóxicos, desde que apresentem
o péptido específico destas células em MHC I (por exemplo, no caso das células infetadas por vírus). Isto
porque a ativação da função citotóxica de CTLs (como de outras células efetoras) é apenas dependente de
sinal 1.
Assim, qualquer célula nucleada pode em potência ativar CTLs (sempre dependente de apresentação do
péptido específico) mas não induzir diferenciação das mesmas a partir de células CD8 naive.
A anergia é induzida por ativação de células T via TCR na ausência de coestimulação (uma célula anérgica não
responde ao ser estimulada via TCR). Não se sabe bem o que acontece a estas células, estas podem acabar
por morrer ou contribuírem para a tolerância periférica.
O CTLA-4 e o PD-1 são importantes para o controlo da extensão da resposta imunológica. A sua ligação na
célula T induz um sinal inibitório. Note-se que as células T reguladoras são a única população T que expressa
CTLA-4 constitutivamente na sua superfície.
É possível induzir anergia com estas moléculas co-inibidoras em células T naive, pois quando esta é ativada a
expressão destas moléculas já é regulada. Quando a T naive é ativada (apresentação de antigénio por APC),
passa a expressar CTLA-4 e PD-1 (transmitem um sinal negativo à célula) que competem com moléculas co-
estimuladoras (CD28).
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A ativação de uma célula T naive necessita de dois sinais: um via TCR e outro via coestimulação. Ambos são
garantidos pelas moléculas apresentadas à superfície de uma APC profissional, onde o complexo MHC:péptido
(péptido resultante do processamento antigénico) interage com o TCR do LT e as moléculas CD80/CD86
interagem com a CD28 (coestimuladora) do LT. Além destas, existem ainda moléculas de adesão essenciais para
que se garanta a interação. Note-se ainda que as células T efetoras só necessitam do sinal via TCR (sinal 1).
As células apresentadoras de antigénio profissionais expressam à sua superfície moléculas de MHC I e MHC II.
As profissionais são as células dendríticas (principais na ativação de células T), os macrófagos (importantes na
ativação de células T nos tecidos) e os linfócitos B.
Estas APCs exibem características específicas que as fazem denominar de “APCs profissionais”:
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- Linfócitos B:
• Têm a capacidade de internalizar antigénios via BCR (recetor de antigénios de células B).
• Expressam constitutivamente moléculas de MHC classe II e toda a maquinaria de processamento
antigénico (conseguem apresentar antigénios a LT CD4). (Também expressam, como quaisquer células
nucleadas, MHC I)
• Expressam moléculas coestimuladoras após a ativação (induzem eficientemente a ativação de células
T).
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Expressão de moléculas
após ativação de células
T:
Quando se dá a
interação eficiente célula
T <-> APC (sinais 1 e 2)
dão-se alguns
acontecimentos.
Imediatamente, começa
a existir a expressão de um fator de
transcrição c-Fos cuja expressão é
maior após 1 h e meia da interação se
ter dado.
Após 24 h
(um dia) da
interação começa a haver níveis elevados de CD25 (IL-2R), recetor α da interleucina
2 (para a proliferação dos LT). Este CD25 (cadeia α do recetor de interleucina 2) e
conjuntamente com a cadeia β e γC do recetor da IL-2 formam o high affinity IL-2
receptor.
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A célula T interage com uma célula apresentadora de antigénio, usualmente células dendríticas e recebe sinal
via TCR e CD28 (com ou sem coestimulação com CD80/B7.1 ou CD86/B7.2). Após 24 h (1 dia) desta interação a
célula passa a expressar níveis elevados do ligando CD40 que interage com o recetor de CD40 expresso à
superfície da APC/DC. Este sinal que a DC/APC recebe via CD40 é crucial para a ativação da própria célula
apresentadora de antigénio. Assim, a DC passa a expressar níveis mais elevados de moléculas B7 (aumentando
a coestimulação) e há a indução de secreção de citocinas que auxiliam na ativação e proliferação de células T
efetoras (amplificação da função efetora).
A interação do ligando CD40 expresso na célula T com o recetor de CD40 expresso na APC é essencial para o
licensing of APC (envolvido em vários processos inclusivamente na diferenciação de T CD8 em células
citotóxicas).
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A maioria das células TREG expressa CD25 e juntamente com as cadeias β e γC expressam o
high affinity receptor. Estas células T reguladoras são
muito eficientes em competir pela IL-2.
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Relembrar que a célula T necessita dos sinais 1 e 2 para ficar ativada. Agora, vai detalhar-se o sinal 3, das
citocinas, imprescindível para a diferenciação do LT (para a adoção da sua função efetora).
A importância da diferenciação
das células T recai sobre o facto de
que cada tipo de microrganismo
ou células tumorais possui um
subtipo de célula efetora
apropriado para a sua eliminação.
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diferenciar numa célula designada de auxiliar/efetora 17. Esta célula produz IL-17A, IL-17F e IL-22. Estas células
possuem um papel muito importante no combate a agentes patogénios extracelulares (algumas bactérias e
fungos) nas mucuosas. Um mau funcionamento destas células gera autoimunidade e inflamações nos tecidos.
• TH2: na presença de IL-4, a célula T naive induz a expressão do fator de transcrição GATA3, pelo que
se diferencia numa célula T auxiliar 2. Estas células produzem as citocinas IL-4, IL-5 e IL-13. Esta célula possui
um papel muito importante na resposta imunológica contra infeções por helmintas e na ativação de eosinófilos.
Uma desregulação destas células está associada ao desenvolvimento de alergias. [anti-inflamatórias]
• TH1: a diferenciação de uma célula T naive numa célula T efetora/auxiliar 1 são necessárias as citocinas
IL-12 (é a fundamental/suficiente), IFN-γ e IL-18. Esta célula expressa o fator de transcrição T-Bet (ou TBX21)
para a sua identidade celular. Estas células têm a capacidade produzir IFN-γ e TNF e têm um papel
preponderante no combate a microrganismos intracelulares e ativam a função microbicida dos macrófagos.
Uma desregulação nas TH1 leva a inflamação nos tecidos (células pró-inflamatórias).
As células TH1 são as mais pró-inflamatórias, seguidas das TH17 e as anti-inflamatórias são as células TH2.
• TFH (células T auxiliares foliculares): estas células diferenciam-se na presença de IL-6 e IL-21,
produzindo IL-21 e IL-4. A garantia da identidade destas células é dada pelo fator de transcrição Bcl-6 e são
células relacionadas com a regulação da maturação das células B nos centros germinativos localizados nos
gânglios linfáticos (células muito importantes no processo de maturação no processo de maturação dos LB).
• Células T reguladoras (TREG) na periferia: para a diferenciação a partir das células T naive é necessário
estarem presentes IL-2 e TGF-β (ambas essenciais) e a expressão do fator de transcrição FoxP3. São células que
produzem IL-10 e TGF-β (citocinas efetoras imunossupressoras). São supressores de respostas imunes e a sua
desregulação implica uma inibição de respostas antitumorais. São células importantes no desenvolvimento da
autoimunidade, porque impedem a atividade de células autorreativas. Estas células não são consideradas
células T auxiliares, mas estão no esquema porque são células T CD4+.
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Espera-se que o seu efeito (de M2) se faça sentir após se sentir o efeito de
M1. Assim:
As células Tfh podem produzir citocinas como a IL-4 e a IL-21 que são
essenciais para induzir a proliferação dos linfócitos B nos centros
germinativos, para ajudar na mudança da classe das Ig e no ganho de
afinidade das Ig para o antigénio (hipermutação somática). São ainda
importantes para induzir a diferenciação dos LB em plasmócitos, células
produtoras de anticorpos.
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Quando se diferenciam em CTLs, estas entram em circulação, migram para o local onde foi recolhido o
antigéno pelas APCs, sejam estes locais de infeção, de crescimento de um tumor ou um local onde está a ocorrer
a rejeição de um enxerto.
A resposta final à célula-alvo que expressa os antigénios processados em péptidos reconhecidos pelo TCR dos
LT CD8 é sempre morte celular. Isto é, a CTL induz sempre a apoptose na célula causadora de infeção.
(B) APC Licensing: as células Th1 pela sinalização via CD40 produzem citocinas que garantem o licenciamento
da APC, isto é, expressa mais moléculas
coestimuladoras sendo mais capaz de
ativar LT CD8 (em CTLs).
A ativação de uma célula T CD8 por uma APC que não foi licenciada (não recebeu ajuda de uma célula auxiliar,
Th1) resulta em:
- As células T CD8 possuem um tempo de vida curto, pois existe uma falha na expressão de moléculas anti-
apoptóticas;
As células T auxiliares, Th1, são essenciais assim para a diferenciação de T CD8 em CTLs.
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Aqui representa-se como uma CTL mata uma célula alvo. Representa-
se a sinapse imunológica estabelecida, isto é, a zona de contacto entre
a célula T CD8 citotóxica (já ativada, já lhe foi apresentada um antigénio)
e a célula alvo. Mesmo que essa ativação tenha acontecido (sinais via
TCR e coestimulação), para ocorrer a interação CTL <-> célula alvo tem
de existir sempre o sinal 1, via TCR. Isto para reconhecer o péptido
apresentado em contexto de MHC I e co-recetor CD8, com o auxílio das
moléculas de adesão.
As CTLs vão libertar grânulos que vão entrar na célula alvo e induzir a
apoptose por, por exemplo, ativação de caspases. A célula T citotóxica
“desliga-se” e pode ir matar outras células alvo (que expressem o
mesmo péptido ou um semelhante).
As células T
citotóxicas podem
induzir a morte
das células alvo
por dois
mecanismos
recorrendo a:
Existem 3 fatores de transcrição muito importantes para a função das células T citotóxicas e são estes:
Não esquecer que existe sempre um péptido específico (cognate peptide) e um reconhecimento específico
(cognate recognition) para haver a morte da célula alvo.
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Foi mostrado um modelo para o desenvolvimento de subtipos de células T de memória, mas existem mais:
O modelo linear refere que provém de células efetoras, o modelo assimétrico refere que as células ativadas
se diferenciam em células efetoras e as “distais” (“ao lado”) em células de memória e o modelo simultâneo que
refere que existem subsets de células T auxiliares específicos que darão origem a células T efetoras e memória.
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Fases de desenvolvimento B:
• Os progenitores rearranjam primeiro a cadeia pesada e depois a cadeia leve das imunoglobulinas (para
expressão do BCR à superfície que confere identidade aos LB e geração de diversidade).
• Após a expressão do BCR ocorre um processo de tolerância central onde há eliminação de células
autorreativas.
• Os LB imaturos que não reconheçam antigénios da medula e que expressam IgM deixam a medula =>
Migram para o baço => Onde ocorre o processo de maturação (T1 => T2 => LB maturo). T = transitional
• LB maturo deixa o baço (expressão de IgM e IgD) => migração para os folículos linfoides. Nos folículos
linfoides ocorre o encontro com antigénios nos centros germinativos => Ocorre a proliferação,
hipermutação somática e mudança de classe (mudança de isotipo).
Diferenciação de células B:
O desenvolvimento inicia-se a partir das células estaminais hematopoiéticas que se diferenciam nas linhagens
mieloide ou linfoide. Aqui, diferencia-se num precursor linfoide e que se desenvolve em pró-B. Estas são as
primeiras células da linhagem B e estão já absolutamente comprometidas nesta mesma linhagem, isto é, é a
partir destas células que se dá o comprometimento da linhagem B.
Nas pró-B ocorre o rearranjo da cadeia pesada das Ig. Estas células diferenciam-se nas células pré-B que já
expressa à superfície um pré-BCR que dá um sinal à célula para iniciar o rearranjo da cadeia leve. De seguida, à
diferenciação numa célula B imatura já existe a expressão de um BCR completamente rearranjado (cadeia
pesada e cadeia leve rearranjadas), uma IgM. Ainda neste estado dá-se o processo de tolerância central, em
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que as células autorreativas são eliminadas. As células que escapam a este processo migram para o baço onde
ocorre o processo de maturação. Aqui estas células diferenciam-se primeiro em T1, depois em T2 e, por fim, em
LB maturos. Os LB maturos expressam à superfície IgM e IgD.
O processo inicia-se na medula pelas células estaminais hematopoiéticas (HSC) que se diferenciam em
progenitores que garantem o comprometimento na linhagem linfoide e com cada vez menor capacidade de
autorrenovação (MPP => LMPP => ELP). Por fim, chegam aos CLP e este vai dar origem a um estado pré-pró-B
(muito imaturo) que acaba por se diferenciar em pró-B. Nestas existem duas fases e/ou dois estados de
diferenciação, sendo o mais imaturo designado de early e o mais maturo de late.
Nas early pró-B inicia-se o rearranjo da cadeia pesada, primeiramente o rearranjo DJ e depois o VDJ.
Entretanto, diferencia-se passando a designar-se de late pró-B finaliza-se o rearranjo VDJ e a cadeia pesada fica
totalmente rearranjada.
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De seguida, existe a diferenciação em pré-B e nesta a cadeia pesada rearranjada é expressa com uma
surrogate light chain (uma cadeia leve não rearranjada) expressando-se neste estado um pré-BCR. A sinalização
devido a esta expressão induz proliferação e divisão celulares e, após estas divisões, a célula recebe o sinal para
rearranjar a cadeia leve (não há segmento génico D de diversidade, recombinação VJ). Esta célula depois
diferencia-se na célula B imatura que expressa IgM (BCR) à superfície e que é submetida a um processo de
seleção negativa (células autorreativas são eliminadas) e a um processo designado de receptor editing e que
permite que LB autorreativos possam rearranjar novamente a sua cadeia leve do BCR e expressar um BCR que
volta a ser submetido a um teste de autorreatividade/seleção na medula. Assim, a célula tem uma nova hipótese
de passar o teste na medula.
As células B imaturas que escapam ao processo de seleção negativa e, portanto, que não são autorreativas
migram para o baço onde ocorre o processo final de maturação das células B (estados transicionais: T1 => T2 =
LB maturos). Os LB maturos expressam à sua superfície IgM e IgD.
A diferenciação das células B nos diferentes estados na medula é absolutamente dependente da interação
com nichos que se encontram localizados na medula óssea. Estas dão aos LB sinais que permitem progredir ao
longo da diferenciação B.
HSC e progenitores B estabelecem contacto com várias populações celulares da medula (nichos) à medida que
progridem no desenvolvimento:
A diferenciação de linfócitos B
ocorre a partir de uma célula
hematopoiética estaminal (HSC)
próxima do osso/dos osteoblastos e
estas células expressam um recetor, o
c-kit, que recebe sinais via SCF (stem-
cell factor) produzido pelas células
estromais da medula óssea
perfazendo o primeiro nicho com que
as células interagem. A HSC diferencia-
se no common lymphoid precursor,
CLP. O CLP estabelece interações com
células estromais da medula que
produzem a quimiocina CXCL12
(stromal cell-derived factor 1). O CLP
depois diferencia-se em pré-
pró-B e, posteriormente, em
pró-B. As células pró-B são
absolutamente
dependentes de IL-7
produzida pelas células
estromais (células no
estroma da medula óssea).
As células pró-B
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diferenciam-se em pré-B, que passam a expressar o pré-BCR à superfície e que recebem sinais via pré-BCR para
se diferenciarem em células B imaturas. A migração das células B imaturas para o baço é dependente do
gradiente S1P (sphingosine 1-phosphate). Isto é, estas células expressam o recetor de S1P à superfície, pelo que
seguem o gradiente deste (maior quantidade no baço do que na medula) para o capturarem (o mesmo acontece
com os timócitos a irem para a periferia).
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Além dos fatores produzidos pelas células estromais importantes para a progressão da diferenciação B,
também é importante para a mesma o papel da interação dos progenitores com as células estromais via
moléculas de adesão:
- O CLP estabelece interações com as células do estroma mediadas por moléculas de adesão (CAMs) e via
integrina VLA-4 (α4β1) expressa pelo CLP com a VCAM-1 expressa à superfície da célula estromal. O CLP
expressa o recetor de IL-7 (IL-7R).
- A Pró-B é dependente de IL-7 e interage com a célula estromal a partir do Kit (CD117) – um recetor de tirosina
cinase – que interage com o SCF expresso pela célula estromal.
- A Pré-B também é dependente de IL-7 e adere às células do estroma via CAMs. Não esquecer que esta célula
já expressa o pré-BCR.
Além das interações dos precursores B com as células estromais, sabe-se que existem fatores de transcrição
muito importantes em diferentes estados na diferenciação B. A transcrição primária do Ikaros dá-se nas células
HSC ao qual se segue a transcrição de PU.1. Após a célula se ter diferenciado em CLP começa a existir a
transcrição de E2A, EBF, Foxo1, IRF4/8, c-Myb e de Runx1. Já em Pró-B existe a transcrição de PAX5, Foxp1 e
Foxo1 e em pré-B existe a transcrição de IRF4/8. Por fim, a célula diferencia-se em B imatura.
O PAX5 é absolutamente crítico, pois sem este não existe a diferenciação até às células B imaturas. Todos os
fatores de transcrição são importantes, mas sem este não existem células B diferenciadas na periferia. Além
destes fatores de transcrição, sabe-se que existem diversas modificações epigenéticas que são fundamentais.
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A célula pré-B
expressa à
superfície o pré-
BCR.
Existem duas
cadeias leves não
rearranjadas e duas cadeias pesadas
rearranjadas neste estado.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
3. A célula, entretanto, para de receber sinais via IL-7 e pré-BCR e para de proliferar.
4. Aumenta-se a expressão das RAG1 e RAG2.
5. Dá-se o rearranjo da cadeia leve (α no TCR).
O mesmo acontece com os timócitos no timo.
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Na célula pré-B o pré-BCR é expresso e é constituído pela cadeia pesada completamente rearranjada
(rearranjo funcional) e pela surrogate light chain. Esta é constituída pela Vpre-B e λ5. O pré-BCR associa-se, tal
como no BCR, às moléculas de Igα e Igβ, fundamentais para a sinalização via BCR. A sinalização via pré-BCR leva,
por último, a um sinal que induz rearranjo da cadeia leve e quando esta está completamente rearranjada, a
célula pré-B diferencia-se em célula B imatura e passa a expressar o BCR à superfície (IgM inicialmente).
O BCR é constituído por duas cadeias pesadas e duas cadeias leves completamente rearranjadas, que se
encontram associadas às tais moléculas de Igα e Igβ. No caso de IgM (BCR da B imatura), a cadeia pesada é
designada de μ e a cadeia leve pode ser ou κ ou λ.
Recapitulando…
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- Após o nascimento e durante a idade adulta a hematopoiese, que inclui o desenvolvimento das células B
ocorre na medula e é influenciada por vários nichos que são definidos pelas células estromais que se encontram
na medula.
- Os diferentes estados de desenvolvimento de células B são controlados por uma rede de fatores de
transcrição e por modificações epigenéticas que influenciam a expressão de genes-chave. Ao longo deste
processo as células ficam cada vez mais comprometidas com a linhagem B.
- Os diferentes estados de diferenciação B também são definidos pelo estado do rearranjo genómico das
cadeias leves e pesadas das imunoglobulinas.
- O locus da cadeia pesada é o primeiro locus a ser rearranjado, de tal forma que a região VH é primeiramente
rearranjada nas células pré-pró e pró-B, com a recombinação D-J a ocorrer inicialmente, seguindo-se-lhe a
recombinação V-DJ. Após o rearranjo da cadeia pesada, esta é expressa à superfície (pré-BCR) da célula
associada à surrogate light chain, isto é, a cadeia leve não rearranjada constituída pelo VpreB e λ5. Estas duas
cadeias (na verdade 2 cadeias pesadas e 2 leves associadas) constituem o recetor das pré-B (pré-BCR) associado
aos domínios de sinalização de Igα/Igβ formando-se o complexo pré-BCR.
- Os sinais que a célula recebe via pré-BCR, em ratinhos, e via recetor de IL-7 levam à paragem do rearranjo de
VH (assegurando a exclusão alélica da cadeia pesada, só um dos cromossomas é rearranjado), conferindo a estas
células pré-B sobrevivência, ativação de diversas divisões celulares (proliferação), seguidas pelo rearranjo da
cadeia leve das imunoglobulinas.
- Em ratinhos a IL-7 é essencial para a progressão na diferenciação (sem esta não há células B em ratinhos),
ao passo que em humanos esta não é crítica para a diferenciação/geração de células B! Ainda assim, tem
impacto, pois na presença de IL-7 a proliferação é superior.
- As divisões celulares permitem que múltiplas células B possam usar a mesma cadeia pesada rearranjada com
sucesso em combinação com outras e diferentes cadeias leves. A expressão do pré-BCR e a iniciação destes
eventos na célula pré-B constituem o primeiro ponto de controlo no desenvolvimento de células B.
- Após o rearranjo da cadeia leve no estado pré-B, a expressão completa da IgM à superfície (mIgM) como BCR
à superfície das células B imaturas para o rearranjo genómico da cadeia leve e induz um sinal de sobrevivência,
que constitui o segundo ponto de controlo (checkpoint) na formação de células B maturadas, isto é, o segundo
ponto de controlo dá-se no estado de células B imaturas.
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Quando o animal transgénico expressa antigénios específicos, como em (b), em que o antigénio é específico
do BCR (aqui as células estromais expressam Kk tal como os linfócitos B que são anti-Kk), mas também não
específicos (como em (a), onde Kd é reconhecida por Kk). Nos casos em que o antigénio é reconhecido pelos
linfócitos B como sendo self (aqueles onde o antigénio é o mesmo, Kk), estas células B são deletadas e não são
maturadas (não há maturação na periferia de células anti-Kk).
Em (c) por uma análise mais detalhada revelou que existe o light-chain editing, onde o linfócito B que possua
um BCR que reconheça o antigénio específico expresso à superfície da célula estromal medular e que foi
selecionado negativamente, possa ter uma nova hipótese de rearranjar o novo locus da cadeia leve (que ainda
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Recapitulando…
- As células B
imaturas que
expressam IgM à
superfície são muito
sensíveis à indução de tolerância por eliminação células autorreativas. Este processo de
tolerância e seus mecanismos nas células B foram identificados recorrendo ao uso de
animais transgénicos para diferentes antigénios “do próprio” e BCRs que os reconheçam,
isto é, BCRs transgénicos específicos para aquele antigénio.
- As células B imaturas na medula óssea que são ativadas pelo seu BCR que reconhece
fortemente self antigénios podem sofrer o processo de receptor editing, o que significa que
iniciam o rearranjo do locus da cadeia leve de outro cromossoma alterando a especificidade
do seu BCR.
- No ratinho, 90% das células B produzidas diariamente na medula morrem por este processo de tolerância
central. A maior parte dos LB que chegam a este estado final de diferenciação na medula morrem, sendo um
processo altamente estringente/restritivo.
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O processo de receptor editing, isto é, da capacidade dos linfócitos B imaturos poderem rearranjar novamente
a sua cadeia leve não é ad aeternum. Se fosse assim, então não existiriam células B autorreativas, o que não
é o caso.
Assim, em situações em que a afinidade com os antigénios presentes na medula é muito elevada, pode não
existir morte da célula B garantindo-se-lhe uma nova oportunidade de rearranjar a sua cadeia leve. Dá-se um
segundo rearranjo VJ (onde já tem disponíveis menos segmentos génicos, onde o resto do locus foi deletado
no primeiro rearranjo VJ). Ou seja, estes rearranjos são finitos, pelo que o rearranjo da cadeia leve também é
ele finito e vai chegar a uma altura em que esse rearranjo deixa de ser possível, existindo a morte da célula B.
A célula acaba sempre por tentar este processo de receptor editing, mas este pode já não ser possível.
Tanto a cadeia pesada como a cadeia leve sofrem o processo de exclusão alélica. Note-se
que todos os genes têm dois alelos, pelo que os que codificam para a cadeia pesada e leve
não são exceção. Ora, se existisse um rearranjo em ambos os loci dos alelos, existiria a
expressão de mais do que um tipo de especificidade à superfície da célula.
Ao parar-se o rearranjo do locus de uma das cadeias, impede-se que o locus presente no
outro alelo também possa rearranjar, permitindo-se assim que só haja uma cadeia leve e
uma cadeia pesadas específicas para o recetor de antigénio.
Experimentalmente, vê-se a exclusão alélica das cadeias pesadas (IgH) nos coelhos.
Existindo um progenitor que expresse apenas IgA e outro apenas IgB, o filho poderia
expressar uma combinação dos dois. No entanto, verifica-se que o filho ou expressa IgA
ou expressa IgB e nunca os dois ao mesmo tempo.
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Desenvolvimento de células B:
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linfoides secundários, tecidos onde existe infeção, etc – fora dos órgãos linfoides primários, timo e medula
óssea).
Existe nestes estados T um teste de tolerância/seleção no baço onde os linfócitos T1 são testados. Se estes
são autorreativos (onde o BCR expresso reconhece com demasiada afinidade o antigénio/péptido no baço),
estas células LB T1 não se diferenciam em T2, num processo conhecido por tolerância periférica.
Pensa-se que dos vários LB, “apenas” os LB T2 conseguem migrar do baço para entrar nos folículos e que
algumas destas células migram para a zona marginal do baço dando origem às células B da zona marginal. Além
do mais, as células B2 ou as células foliculares são os LB mais abundantes, mas existem outras como as células
B da zona marginal e as células B1.
Pelo esquema anterior, observa-se que os linfócitos B imaturos e que expressam IgM à superfície entram para
a corrente sanguínea graças à expressão do recetor S1P (seguindo o seu gradiente). Migram para o baço, onde
os linfócitos entram via arteríola central, onde os linfócitos B imaturos já se
encontram diferenciados em T1. Vão para a polpa branca (onde se localizam as
populações linfoides), maioritariamente para a bainha periarteriolar linfoide
(constituída pela zona B e zona T; os linfócitos B maturos localizam-se nos folículos).
As células T1 vão para a zona T, diferenciam-se em T2 onde passam a expressar IgD
(além de IgM que já expressavam) e estas migram para os folículos onde se dá a
maturação final em LB maturos. Alguns LB T2, no entanto, podem ir para a zona
marginal do baço, dando origem às células B da zona marginal.
No estado T1 ocorre um
processo de seleção muito importante para impedir a
autorreatividade, pelo que esta figura pretende
esquematizar esse processo.
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Recapitulando…
As células B T1
que escapam à
seleção negativa,
começam a
expressar níveis
mais elevados de
IgD, de tal forma
que a expressão
desta é uma
característica dos
estados T2 para a
frente. As células B
T1 diferenciam-se em T2 e entram nos folículos. Nos folículos, recebem sinais via citocina
BAFF que se liga ao recetor de BAFF (BAFFR, expresso pelo LB T2 graças à sinalização tónica
via BCR) que são necessários para a sobrevivência destas células transicionais e para a
maturação final em linfócitos B maturos.
Principais populações de LB na
periferia:
As principais populações de LB na
periferia são as células B2 ou
foliculares (cujo processo de
desenvolvimento foi descrito), células
B1 e células da zona marginal.
Expressam todas IgM e IgD à
superfície, ainda que em diferentes
quantidades.
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Células B2:
- Expressam CD19/CD21
(sinalização via células B e
sua resposta) e CD23. Não
expressam CD5 nem CD1.
- Encontram-se em órgãos
linfoides secundários (baço
e gânglios linfáticos,
especificamente nos
folículos).
- O desenvolvimento inicia-
se com as células
hematopoiéticas (HSC) na
medula óssea onde se
diferenciam em células B
imaturas, vão para o baço, onde se dá a maturação final.
- Absolutamente dependente de IL-7 (pré-B => B imaturo) e de BAFF (T2 => B maturo e sobrevivência de B
maturas), em ratinhos.
- Altamente diversa no que toca ao seu repertório na periferia (diversos BCRs originados a partir de muitos
rearranjos).
- Possui hipermutação somática (aumento da afinidade do anticorpo para o antigénio) e é muito importante
e frequente nestas células.
- Para indução de memória ou mudança de classe, estas células precisam de interagir com células T.
- Conseguem produzir níveis muito elevados de IgG (e outros isotipos, ocorrendo mudança de classe).
- Podem responder a antigénios de carbohidratos, mas limitada, pois a interação com células T só é conseguida
via antigénios proteicos.
- A memória é “característica” das células B2 foliculares, quando são auxiliadas pelas células T.
Células B1:
- Não expressam CD19 nem CD21 à superfície, nem CD23 e nem CD1.
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- Expressam uma molécula de CD5 (não restrito a células B1, mas característica desta dentro das populações
de LB; atenuador do sinal recebido via recetor de antigénio).
- Repertório restrito.
- Não induz células de memória (ainda que na tabela diga que pode).
- Podem provir tanto de células B T2 que entrem na zona marginal como de um precursor primordial.
- As que têm origem nas T2, têm origem nas células estaminais hematopoiéticas da medula.
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Recapitulando…
As células B1 (B1a – que expressam CD5 - e B1b) e as células B da zona marginal (MZ) diferem das B2 nos
marcadores de superfície e num repertório de especificidade de anticorpos mais limitando, que inclui reações
cruzadas entre antigénio do próprio e antigénios provenientes de microrganismos. Estas células sem ajuda de
células T, isto é, espontaneamente, conseguem produzir anticorpos de classe IgM e gerar uma resposta rápida
a infeções microbianas.
Estudos recentes mostram fortes evidências que as células B1a derivam de precursores que se diferenciam
em estados embrionários muito precoces (antes das HSC que vão dar origem às B2) e repopulam as cavidades
pleural e peritoneal (onde se localizam essencialmente) e são capazes de se autorrenovarem/replicarem,
garantindo uma pool de população ativa de células B1a durante a vida do indivíduo.
Pelo contrário, as células B1b e as células B da zona marginal (MZ) do baço são derivadas essencialmente de
células estaminais hematopoiéticas e as B2 provêm de células estaminais que se diferenciam em progenitores
linfoides. Algumas células B da zona marginal também se diferenciam a partir das células B2, no estado T2.
- Em ambas existe uma linhagem que repopula a periferia durante o desenvolvimento fetal, sendo válido para
as B1a e para as T γδ.
- Ambas provêm de células hematopoiéticas estaminais na medula óssea, sendo válido no caso das B2 e MZ e
nas T αβ.
- O desenvolvimento continua no timo apenas no caso das células T. Todo o desenvolvimento de células B
ocorre na medula, sendo que a maturação se dá no baço.
- Existe rearranjo VDJ tanto nas células T como nas células B. Existe um primeiro rearranjo da cadeia pesada e
depois da leve no caso dos LB e nos LT primeiro existe um rearranjo da cadeia β e depois da α.
- O pré-BCR e o pré-TCR são expressos à superfície onde a cadeia pesada/β rearranjada é expressa em conjunto
com uma cadeia leve/α não rearranjada.
- A cadeia leve e a cadeia α apenas necessitam de segmentos V e J para a recombinação das mesmas.
- A sinalização via BCR e TCR rearranjados é necessária para a sobrevivência dos LB e LT, respetivamente
(seleção positiva).
- O processo de receptor editing dá-se cadeia leve das Ig, mas é altamente controverso se acontece ou não na
cadeia α do TCR.
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- As células imaturas ao expressarem recetores com alta afinidade para antigénios “do próprio” são eliminadas
por apoptose (seleção negativa) acontece tanto em LB como em LT, nas primeiras nas células T1 e nas segundas
no timo.
- A seleção negativa envolve expressão de antigénios periféricos nos órgãos linfoides primários apenas nas
células T (timo), onde há expressão de antigénios periféricos mediados pelo fator de transcrição AIRE.
- Existe exclusão alélica do recetor de antigénio em ambas as populações (B e T). Nas células B, quando o pré-
BCR é expresso (induz um sinal) leva à paragem do rearranjo da cadeia pesada (silenciamento do locus da cadeia
pesada). O mesmo acontece com a sinalização via BCR para a cadeia leve (cujo locus é silenciado). Nas células T
acontece o mesmo, sendo muito eficiente o silenciamento da cadeia β, mas é menos eficiente no locus da cadeia
α, podendo-se consequentemente expressar mais do que uma cadeia α associada à mesma cadeia β.
- A seleção da maior parte (mais de 90%) dos linfócitos dá-se antes de irem para a periferia nos LB e nos LT.
O resultado destes processos de desenvolvimento são células B e células T maturas com um repertório
(diverso) de recetores de antigénio apropriado que nos vão proteger contra infeções na periferia, evitando-se
claro uma autorreatividade indesejada que poderia gerar doenças autoimunes.
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- RAG 1;
- RAG 2;
- Artemis;
- DNA-PK p350.
- Igα (CD79A);
- Igβ (CD79B);
- BLNK leva a uma ausência de células B, pois esta proteína está associada à sinalização do BCR.
Não esquecer que Igα (CD79A) e Igβ (CD79B) estão associadas ao BCR, permitindo a sinalização (onde se
localizam os ITAMs).
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Consoante a resposta é ou não dependente de LT, a ativação dos LB é mediada por antigénios dependentes
de células T ou independentes das mesmas.
- Antigénios “dependentes de células T” (TD, T-dependent): é necessário haver contacto direto com células T
para ocorrer ativação das células B (nesta há indução de células de memória, hipermutação somática, mudança
de isotipo, etc);
- Antigénios “independentes de células T” (TI, T-independent): não é necessário contacto direto com células
T para haver ativação B. Existem dois tipos de TI:
Para uma célula B ser ativada por uma célula T (CD4+ auxiliar, TH) é necessário que a primeira seja capaz de
apresentar o antigénio/péptido em contexto de MHC classe II. A célula B é uma APC, pelo que expressa MHC I
e MHC II. O péptido que vai ser apresentado provém do antigénio do cross-linking, isto é, o antigénio que
interage com o BCR fazendo cross-linking é internalizado/endocitado (BCR + antigénio internalizados) e
processado para que o péptido dele resultante seja apresentado à célula TH em contexto de MHC II.
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- O antigénio seja específico para o BCR e induza cross-linking do mesmo, existindo internalização do BCR +
antigénio pela célula B, processamento do antigénio e carregamento em moléculas de MHC classe II. Ou seja, é
necessário que o antigénio multivalente se ligue e realize cross-linking com os recetores de imunoglobulinas na
membrana.
- Células T auxiliares ativadas que reconheçam os complexos MHC II: péptido apresentados à superfície do LB
ligando-se-lhe via recetor de antigénio e via CD40 L (expresso na célula T) ao CD40 (expresso na célula B), sendo
esta interação absolutamente necessária.
- TI-1: um exemplo clássico é o LPS (ligando para o recetor TLR-4, expresso à superfície dos LB). É mitogénico
(induz proliferação/mitose/divisão celular das células B) em elevadas concentrações para a maioria das células
B devido à ligação aos PRRs (pattern recognition receptors) expressos à superfície da célula B.
- TI-2: o exemplo principal é a cápsula polissacarídea bacteriana. São antigénios altamente repetitivos, mas
não são mitogénicos (não induzem ativação policlonal ou de células B), apesar de induzir cross-linking dos
recetores de imunoglobulinas (BCR). Muitos estão ligados pela molécula de C3d, reconhecida pela CD21 (ou
complement receptor 2) – associada ao BCR/co-recetor.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Ativação de LB por antigénio dependente de células T vs. Ativação de LB por antigénio independente de
células T:
A ativação de linfócitos B por antigénios dependentes de células T requer necessariamente 3 sinais (via BCR,
via CD40 e via citocinas) que induzem sobrevivência, proliferação e diferenciação (em plasmócitos – células
produtoras de anticorpos/Ig – e em células B de memória). Para existir esta ativação pelo antigénio dependente
da célula TH, é necessário existir o cross-linking dos BCRs pelo antigénio específico multivalente que envia sinal
via BCR e, consequentemente, este BCR e antigénio são internalizados e o antigénio é processado no péptido
que é apresentado na MHC II. Existe ainda um segundo sinal fundamental resultante da interação do CD40 da
célula B e ligando de CD40 (CD40L) da célula T e um terceiro sinal crítico via citocinas produzidas pelas células T
auxiliares, nomeadamente a IL-4, IL-5 e IL-2 (existem outras, no caso da reação do centro germinativo, a IL-21
produzida por células T auxiliares foliculares é fundamental para a resposta de uma célula B).
Estes 3 sinais ocorrem na ordem indicada: 1, 2 e 3. Isto é, existe uma pré-ativação primária via BCR (sinal 1) e
só depois é que o LB interage com o LT (sinais 2 e 3). Note-se que todos estes sinais (1, 2 e 3) são essenciais para
a correta ativação e destino do linfócito B e uma resposta humoral (mediada por células B) eficiente.
No caso da ativação de linfócitos B por antigénios independentes de células T obviamente que nem todos os
sinais anteriormente referidos são requeridos e, inclusive, podem ser diferentes. Existem dois tipos: 1 e 2.
Na situação das células B dependentes de antigénios TI-1, com o exemplo clássico do LPS, para existir a
ativação da célula B são necessários 2 sinais: um via BCR e outro via TLR-4. Aqui tem de existir cross-linking do
BCR com antigénio T-independente 1 e a sinalização via recetores de imunidade inata (recetores Toll). Assim,
requer-se o sinal 1 via BCR e o sinal 2 via TLR-4 (Toll-like receptor 4). Os antigénios TI-1 funcionam como
ativadores policlonais ou mitogénios B, induzindo proliferação de linfócitos B independentemente da
especificidade do BCR.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Na situação das células B dependentes de antigénios TI-2 a sinalização ocorre meramente via BCR, isto é, existe
cross-linking do BCR. Nestes antigénios T-independentes 2 existem epítopos muito repetitivos que permitem a
ativação de múltiplos BCRs. Existe, adicionalmente, reconhecimento do antigénio associado à molécula C3d
pelo CD21 (também designado de CR2), que é co-recetor do BCR (faz parte do complexo BCR e é recetor da
molécula de complemento C3d).
A ativação de linfócitos B por antigénios independentes de linfócitos T (TI-1 ou TI-2 – menos específicos que
os TD) dão origem a anticorpos de baixa afinidade, primariamente IgM (a maturação/o aumento da afinidade
dos anticorpos produzidos requer a presença de LT auxiliares). A vasta maioria (praticamente exclusivamente)
todos os linfócitos B ativados por antigénios T-independentes apenas expressam IgM. Este tipo de ativação, de
células B independentes de LT, não gera resposta imunológica eficiente (isto é, a diferenciação das células B em
células B de memória requer linfócitos T auxiliares – não se gera uma resposta secundária eficiente).
Complexo BCR:
Nos linfócitos B ativados por antigénios TI-2, é necessário o reconhecimento pelo fragmento de complemento
C3d que se encontra associado à superfície do antigénio pelo CD21 (ou CR2, recetor de complemento 2).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Sabe-se que o reconhecimento do C3d associado ao antigénio pelo CD21, com o auxílio dos restantes membros
do co-recetor (CD19 e CD81) – sendo a ajuda do CD19 crucial – levam à amplificação do sinal recebido via BCR
e, desta maneira, permitem ao linfócito B responder a estímulos mais fracos (que na ausência do co-recetor não
seriam capazes de induzir eficiente ativação do LB).
Na figura mostra-se que existem 2 BCRs a ligarem-se ao antigénio (multivalente) que fazem cross-linking. O
BCR sozinho não consegue sinalizar sendo necessárias as moléculas de Igα e Igβ que têm os tais ITAMs para
existir sinalização. Quando há cross-linking do BCR por antigénio, existe a fosforilação dos ITAMs (da Igα e Igβ)
por tirosina cinases da família de Src, nomeadamente Lyn, Fyn e Blk.
Estes tirosina cinases vão permitir o docking de um tirosina cinase denominado de Syk, que é
extraordinariamente importante na sinalização via BCR.
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Sabe-se que mutações em Btk (Burton tirosine kinase) causam agamaglobulemia (ausência de anticorpos)
associada ao cromossoma X ou doença de Burton, provocando uma deficiência em todos os isotipos de
imunoglobulinas e, portanto, uma ausência de linfócitos B nos ratinhos. Em humanos a redução de LB é drástica,
ainda que não seja total (existe, obviamente, uma deficiência em todas as classes de Ig).
192
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
CR2/CD21 + CD19 +
CD81/TAPA-1 => co-recetor do
BCR.
A ativação de linfócitos B por antigénios dependentes de células T dá-se concretamente ao nível das células B
foliculares ou B2 que reconhecem o antigénio via BCR, com internalização do mesmo e processamento do
antigénio e apresentação do péptido resultante em MHC II a uma célula T auxiliar, tendo de existir uma cognate
interaction (interação específica). Este tipo de ativação vai dar origem a anticorpos com alta afinidade, mudança
de classe de isotipos (nomeadamente, de IgM para IgG, IgA e IgE), geração de células de memória e de
plasmócitos (capazes de produzir anticorpos com um tempo grande de vida – são células long-lived), localizados
essencialmente na medula óssea num nicho.
A ativação de linfócitos B por antigénios independentes de células T dá-se ao nível das células B1 e células B
da zona marginal do baço. Esta ativação gera maioritariamente IgM, anticorpos de baixa afinidade e
plasmócitos com um tempo de vida muito curto (short-lived). Não estabelecem uma memória.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Resposta primária – mediada por antigénios T- Resposta secundária – mediada por antigénios T-
dependentes e T-independentes: dependentes:
Isotipo dos anticorpos: geralmente IgM (pode Isotipo dos anticorpos: IgG maioritariamente, mas
haver IgG em baixas quantidades). também IgA e IgE
Afinidade dos anticorpos: baixa Afinidade dos anticorpos: alta (os anticorpos
sofreram maturação da afinidade).
Induzida por todos os imunogénios (antigénios T-
dependentes e T-independentes) Induzida por antigénios proteicos (dependentes
de LT) apenas.
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Ativação de células B por antigénios dependente de células T:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Apresentação de
antigénios a células B
foliculares/B2 nos
gânglios linfáticos
(reação do centro
germinativo):
Um linfócito B maturo,
para se diferenciar em
plasmócitos ou células B
de memória, precisa de
interagir com um
linfócito T (antigénios T-
dependentes). Estes
processos ocorrem no
gânglio linfático,
esquematizado na
figura. Os linfócitos B
estão localizados nos
folículos, na B cell zone.
No entanto, eles (e os linfócitos T) entram nos gânglios via high endothelial venules (HEV) e vão para os folículos,
enquanto que os LT vão para o paracórtex ou T cell zone. Ora, a questão que se coloca é como é que há contacto
entre LB e LT.
Os antigénios, que vêm do local de infeção, circulam na linfa e chegam via vasos linfáticos aferentes ao seio
subcapsular (subcapsular sinus). Aqui encontram uma barreira de macrófagos e os folículos onde estão as
células B. Os antigénios pequenos têm acesso imediato a linfócitos B, porque passam a barreira e ativam os LB
aí presentes. Quanto aos antigénios grandes pensa-se que são capturados via recetores do complemento ou via
recetores FC – recetores para fragmentos de imunoglobulinas (FRCs) – em macrófagos da região do seio
subcapsular. Assim, estas células passam a barreira e conseguem passar estes antigénios grandes aos linfócitos
B.
Existe uma população importante para a reação do centro germinativo e que está essencialmente localizada
nos folículos, que são as follicular dendritic cells (FDCs). Atenção que estas células NÃO são células dendríticas!
Nem sequer derivam de um precursor das células hematopoiéticas estaminais, possuem um processo de
diferenciação completamente diferente, sendo de origem estromal! Estão sempre na zona dos folículos B e
possuem um reservatório de antigénios ao qual os linfócitos B acedem durante o processo de hipermutação
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Então e se os LB se encontram nos folículos e os LT no paracórtex, como é que se encontram para se dar a
ativação dos LB? Então, primeiro que tudo o linfócito T que providencie o sinal via CD40-CD40 ligando ao LB tem
de estar ativado primariamente. A sua ativação dá-se na T cell zone, no paracórtex, providenciada por uma
célula dendrítica. Quando este é ativado e diferenciado numa célula T auxiliar (TH), a expressão de CCR7
(quimiocina que os linfócitos T naive expressam, que lhes permite aquando da migração para os gânglios
linfáticos migrarem para a zona T em resposta à CCL19 e à CCL21 produzidas por células dendríticas desta região)
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
decresce e aumenta-se a expressão de CXCR5 o que leva ao linfócito T ativado migrar para a fronteira entre a
zona B e a zona T. Por outro lado, quando o BCR do linfócito B interagiu com o antigénio específico e a célula
recebeu sinal via BCR, o LB passa a expressar CCR7 que faz com que ela se aproxime da fronteira, da T cell zone.
As células
B e as células T encontram-se numa zona extrafolicular, fora dos folículos
dos linfócitos B.
- Diferenciação em
células de memória
que só produzem IgM quando estimuladas.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
As células T quando
interagem com a célula B
recebem um sinal via
ICOS-ICOSL.
Em relação à primeira
resposta, a localização da
mesma dá-se nos cordões medulares dos gânglios linfáticos (plasmócitos diferenciados extrafoliculares),
necessita de sinais via CD40 (ou seja, precisa de uma célula T auxiliar), necessitam de células T auxiliares
extrafoliculares. Adicionalmente, requerem um enzima denominado de citidina desaminase (AID, activation-
induced cytidine deaminase) e aqui existe mudança de classe das imunoglobulinas. Na resposta extrafolicular
existe algum (pouco) aumento de afinidade do anticorpo para o antigénio (pouca hipermutação somática). As
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
células B diferenciadas deste processo são plasmócitos de curta duração (tempo de vida de 3 dias). Por fim, o
fator de transcrição essencial para a diferenciação das células B ativadas em plasmócitos é o Blimp-1 (B
lymphocyte-induced maturation protein 1) (o IRF-4 também é essencial).
Em relação à reação do centro germinativo dá-se como o nome indica no centro germinativo, precisa de uma
célula T (sinal via CD40) folicular auxiliar. Requerem o AID e aqui existe uma mudança extensiva de classe das Ig
e um elevado aumento da afinidade Ab-Ag (hipermutação somática). As células B diferenciadas deste processo
são plasmócitos de grande duração (que migram para a medula óssea) e células B de memória. Por fim, o fator
de transcrição essencial para a diferenciação das células B ativadas em plasmócitos é o Bcl-6 (B cell lymphoma
6) (Pax-5 também é essencial).
Os plasmócitos originados neste foco primário extrafolicular secretam quantidades elevadas de IgM
(maioritariamente) e algumas quantidades de IgG (não sofreram hipermutação somática, não mutados) que
fornecem uma proteção humoral precoce para controlo inicial da infeção.
Estes fatores de transcrição envolvidos nesta decisão são os mesmos envolvidos, no centro germinativo,
quando a célula se decide diferenciar em plasmócitos ou células de memória.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
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A consequência desta interação ICOS-ICOSL é a diferenciação da célula T em célula T auxiliar folicular com um
concomitante aumento de expressão de Bcl-6 (fundamental para a entrada dos LB nos folículos) nesta célula.
Este resulta de um sinal via TCR elevado (devido à interação com a célula dendrítica). Uma percentagem destas
células, após a interação com DCs (sinal 1 e 2) passam a expressar CXCR5 que as leva a migrar para os folículos.
As células T auxiliares foliculares (TFH ou Tfh) vão para o folículo formar o centro germinativo, onde estão
presentes as células dendríticas foliculares (FDCs) e os linfócitos B que para aí migraram.
Existe uma citocina produzida pelas células T auxiliares foliculares que é a IL-21 e que é fundamental para a
regulação da reação do centro germinativo.
A IL-21 pelas Tfh no centro germinativo é muito importante para: a proliferação dos linfócitos B, para existir a
mudança de classe de IgG para IgA e para a diferenciação do LB em plasmócitos.
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Recapitulando-se…
- Quando os linfócitos B recebem ajuda dos linfócitos T (por antigénios dependentes de células T) entram nos
folículos e dividem-se rapidamente. As células B, conjuntamente com as células T auxiliares foliculares e as
células dendríticas foliculares, formam o centro germinativo.
- Os centros germinativos são constituídos por duas zonas: a zona clara e escura. A zona escura é onde os
linfócitos B se dividem muito rapidamente e sofrem o processo de hipermutação somática. A zona clara é onde
o LB interage com as células T e as células dendríticas foliculares e onde células B que possuam BCRs com alta
afinidade para antigénio são selecionados.
- Os linfócitos B da reação do centro germinativo (GC B cells) são suscetíveis/propensos a sofrerem apoptose.
A sua sobrevivência requer interações produtivas com as células T foliculares auxiliares e com as células
dendríticas foliculares. As células B que mutaram o seu BCR resultando em alta afinidade para o antigénio, vão
ser capazes de apresentar níveis mais elevados de antigénio a linfócitos T e assim receber maior quantidade de
sinais de sobrevivência (fornecidos pelas células T foliculares auxiliares).
Recapitulam-se aqui as
funções e citocinas secretadas
por células T auxiliares:
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No centro germinativo apenas linfócitos B que têm alta afinidade para o antigénio apresentado pelas células
dendríticas foliculares é que são selecionados. A interação com as Tfh também permite que os linfócitos B, que
sofreram a hipermutação somática, recebam um sinal de sobrevivência.
Todas as células cujas mutações acumuladas não aumentem a afinidade para o anticorpo não sobrevivem na
reação do centro germinativo, morrendo.
Há um enzima fundamental tanto para a hipermutação somática como para a mudança de classe que é o AID
(activation-induced cytidine deaminase). O AID é um desaminase que converte a citidina em uridina (também é
correto dizer citosina em uracilo, quando nos referimos às bases no DNA, isto porque citidina é a citosina
associada ao anel de ribose e a uridina é o uracilo ligado ao anel de ribose).
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As imunoglobulinas são constituídas por duas cadeias pesadas e duas cadeias leves
com regiões variáveis e constantes. Na hipermutação somática, a partir de uma
molécula de IgM primária (expressa pelo LB imaturo), existe a introdução de mutações
na parte variável das imunoglobulinas.
Note-se que estas mutações não são aleatórias! Estas mutações tendem a acumular-
se nas regiões hipervariáveis ou determinantes de complementaridade – são as
regiões que entram em contacto direto com o antigénio.
Note-se que apenas os linfócitos B cujas mutações introduzidas nas regiões variáveis
lhes permite ter mais afinidade com o antigénio é que são selecionados.
As mutações, portanto, vão acumulando-se de tal forma que nas regiões V (variável)
das Imunoglobulinas, CDR1, CDR2 e CDR3, vão aumentando o número de mutações
ao longo das imunizações. Isto é, se na primeira imunização existe uma mutação em
CDR3, na segunda ou passados alguns dias já existe em outros e vai aumentando
sucessivamente. Concomitantemente, Kd (constante de dissociação do BCR para o
antigénio) vai diminuindo com o aumento das mutações, ou seja, a afinidade
anticorpo-antigénio aumenta.
O objetivo da hipermutação
somática é aumentar a afinidade
dos anticorpos para os antigénios,
isto à custa de introdução de
mutações nas regiões variáveis.
Apenas mutações que aumentem
a afinidade são depois
selecionadas na reação do centro
germinativo. O AID inicia este
processo porque introduz esta point mutation (C>U),
promovendo a ativação dos mecanismos de reparação de
DNA. A uridina não só não é parte do DNA como não
emparelha com a guanosina na cadeia de DNA
complementar. A ativação destes mecanismos de reparação
de DNA (mismatch repair ou base-excision repair) leva à introdução de novas mutações no local C:G original e
também na vizinhança deste.
Regiões hipervariáveis:
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As regiões hipervariáveis estão localizadas na parte variável das imunoglobulinas isto é, na parte variável das
cadeias pesadas e das cadeias leves. Estas regiões hipervariáveis estão em contacto com o antigénio. A parte
do antigénio que é reconhecida pelo anticorpo são os epítopos ou determinantes antigénicos. As mutações que
ocorrem durante o processo de hipermutação somática tendem a localizar-se nestas regiões hipervariáveis dos
anticorpos.
Mudança de classe/isotipo:
- IgE e IgG4: a IL-4 induz a mudança de IgM para IgE e IgG4, que são importantes na imunidade contra
helmintas, apesar de terem um efeito secundário menos benéfico que é a indução da desgranulação de
mastócitos que pode levar a reações alérgicas (hipersensividade).
- IgA: é um isotipo de Ig fundamental na imunidade das mucuosas e epitélios. A mudança de isotipo de IgM
para IgA requer as citocinas TGF-β, APRIL, BAFF, entre outras.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Diferentes citocinas produzidas por LT auxiliares promovem switching para diferentes isotipos:
IL-4: induz a mudança de IgM para IgG1, IgG4 e IgE. Inibe IgM, IgG3 e IgG2a; esta inibição é um papel indireto,
por indução da mudança para os primeiros isotipos mencionados.
É importante saber que são as citocinas produzidas pelo LT CD4 + que determinam a mudança de classe. Dentro
destas, é importante reter que IL-4 promove a mudança de classe para IgE, que TGF-β promove switch para IgA,
e IL-21 para IgG1 e IgG3.
Não esquecer que IgG2a e IgG2b existem apenas em ratinhos. Em humanos as subclasses de IgG são IgG1,
IgG2, IgG3 e IgG4.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Para existir a mudança de classe, por exemplo de IgM para IgE, existe a
deleção do DNA entre as regiões switch da IgM e da outra classe para a qual se
pretende mudar (neste caso ε, IgE). Assim, a parte variável passa a estar
imediatamente a montante da região Cε (neste exemplo).
Por fim, um anticorpo que faça switch para IgG3 pode ainda fazer switch para IgE, IgG1, IgG2 ou IgA, pois estes
locus ainda não foram deletados. Por exemplo, um linfócito B que realize switch de IgM para IgE, só pode fazer
mais tarde um switch para IgA porque as outras regiões S já foram deletadas (só se mantém S α).
Sobre IgD
Contrariamente a todos os outros isotipos, não existe região switch para IgD no ratinho e assim não ocorre switch de IgM para
IgD. As células B maturas expressam tanto IgM como IgD à superfície. O mRNA da cadeia pesada das Igs nas células B maturas
codifica a região variável rearranjada e as regiões contantes de C μ e Cδ. Splicing alternativo é utilizado para gerar a forma
membranar de IgM ou IgD expressas à superfície dos LB maduros. Como também irá ser mencionado, a mudança de BCR (forma
membranar) para anticorpo (forma secretada) é também controlada por splicing alternativo.
Só por curiosidade (não é suposto saberem), em humanos existem atualmente algumas evidências que poderá haver213
uma região
não canónica de switch (switch-like region) que permite mudança de IgM para IgD. Mas a informação que se pretende que se
retenha, que é válida no ratinho, é a do parágrafo anterior.
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Recapitulando…
- A hipermutação somática é iniciada pela desaminação da citidina catalisada pelo enzima AID. Os mecanismos
seguintes de reparação do DNA causam alterações da sequência da região variável dos genes das
Imunoglobulinas. A atividade do AID relaciona-se com a transcrição de sequências que possuam muitas partes
específicas sinalizadas para transcrição. Estas sequências sinalizadas encontram-se frequentemente em áreas
dos genes das imunoglobulinas envolvidos em SHM (somatic hypermutation) e CSR (class-switch
recombination).
- O processo de recombinação para mudança de classe resulta na substituição da cadeia pesada da região
constante de um anticorpo por uma região constante diferente, originalmente localizada a 3’ (a montante) da
primeira. A regulação para a qual a cadeia pesada da região constante vai ser alterada é mediada pelas citocinas
que são produzidas pelos linfócitos T auxiliares ou por outras células do sistema imune (mas essencialmente
das citocinas produzidas pelas TH).
- A Cμ localiza-se a montante das outras regiões constantes. Pode ocorrer switch de IgM para qualquer outro
isotipo a jusante (com a exceção de IgD). No caso de IgE, o switch só poderá ocorrer para IgA (a única região
constante presente a jusante). As regiões de switch encontram-se a montante de cada uma das regiões
constantes.
AID => crítica para SHR (hipermutação somática) e CSR (recombinação para mudança de classe):
• Ratinhos KO (knockout) para AID não são capazes de efetuar hipermutação somática nem mudança
de classe das imunoglobulinas (Muramatsu et al. 2000 Cell);
• Pacientes com mutações em AID (perda de função) não efetuam mudança de classe e exibem uma
redução dramática na capacidade de hipermutação somática (Revy et al. 2000 Cell);
• Ratinhos KO para AID e doentes com mutações em AID produzem elevados títulos (concentração de
anticorpos que aumenta por imunização) de anticorpos IgM contra proteínas (não conseguem fazer
mudança de classe para outro isotipo, acumulando IgM) => síndrome de hiper IgM tipo 2 (síndrome
de IgM que resulta de mutações no enzima AID).
• O síndrome de hiper IgM tipo 1 resulta de mutações em CD40L (X-linked), sinal crucial vindo do LT.
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A diferenciação de um LB em plasmócito requer alteração das cadeias pesadas da forma membranar para a
secretada:
hidrófoba
Assim, o segmento hidrófobo, para estancar o BCR na membrana, é constituído por aminoácidos hidrófobos.
No entanto, a região C-terminal hidrófoba do BCR, aquando da secreção do anticorpo, é substituída por uma
região hidrófila.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
A forma membranar (BCR) ou secretada (Ab) das Ig deriva da mesma sequência da cadeia pesada e é
determinada por splicing alternativo:
A síntese das porções hidrófilas e hidrófobas são levadas a cabo pelo splicing alternativo, que permite a
distinção da forma membranar da forma secretada.
Mostra-se o locus da sequência de DNA que codifica para a IgM transmembranar é o mesmo da IgM secretada
e encontra-se totalmente rearranjado (sendo a IgM expressa num LB maturo). A diferença vai-se notar na
escolha entre a região SC (secretion-coding, que codifica para o C-terminal da forma secretada) ou a região M
(2 exões - M1 e M2 - que codificam para a região transmembranar). Têm ainda 2 locais de poli-adenilação (AS e
AM), onde apenas se mantém um, tendo em conta se a IgM vai para a superfície (mantém-se AM) ou vai ser
secretada (mantém-se AS).
Assim as regiões para secreção (sequência SC e AS) são deletadas por splicing alternativo se o objetivo for
introduzir a molécula de IgM na superfície (os exões M1 e M2 – região hidrófoba - mantêm-se, assim como AM);
senão, e se o objetivo for secretar a IgM, então eliminam-se por splicing alternativo as regiões que codificam
para a IgM transmembranar (nomeadamente, são excisados os exões M1 e M2 e A M) e mantêm-se SC – região
hidrófila - e AS. Por fim, há a poli-adenilação no local correspondente.
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- A resposta humoral do sistema imune refere-se às atividades dos anticorpos secretados pelos plasmócitos
(diferenciação terminal de linfócitos B).
- Os anticorpos podem exibir várias funções, nomeadamente inibir e eliminar infeções por bloqueio da
capacidade dos microrganismos patogénicos de se ligarem a recetores celulares (não infetado – neutralização),
por cross-linking destes mesmos patogénios (pelo processo de aglutinação), por “revestimento”/ligação aos
microrganismos permitindo que estes sejam reconhecidos e fagocitados pelas células do sistema imune inato
(opsonização), podem recrutar o complemento ao patogénio (ativação do complemento), podem direcionar
outras células do sistema imune inato a matar células infetadas (por exemplo: NK – por um processo de
citotoxicidade dependente de anticorpos) e podem induzir desgranulação e libertação de mediadores dos
granulócitos (exemplo: desgranulação dos mastócitos).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• IgM é sempre secretada por linfócitos B que não interagiram com LT. É um pentâmero.
• A IgG, a IgE e a IgD são monómeros (uma molécula de anticorpo).
• A IgA é um dímero.
A IgA e a IgM funcionam como polímeros (várias moléculas de anticorpos). Para a formação destas moléculas
é necessária a peça secretória (importante para a proteção dos polímeros nos tecidos, impedindo a proteólise)
e a cadeia J (junta os vários monómeros).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• IgG:
• IgA:
- Forma dímeros, sendo duas moléculas de IgA ligadas pela peça secretória e cadeia J.
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- A IgA é a imunoglobulina mais presente nas mucuosas (é a imunoglobulina em maior quantidade no geral,
porque a extensão das mucuosas é superior à do soro).
- A IgA2 tem a vantagem de ser resistente a proteases de bactérias que degradam a IgA1.
Este recetor
Poly-Ig é um
exemplo de recetor Fc (muito importantes para a função que os anticorpos desepenham).
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• IgE:
• IgD:
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- Sabe-se atualmente que a IgD pode ser secretada na mucosa do trato respiratório superior e aí exercer
algumas funções importantes, como a proteção contra patogénios que colonizem o trato respiratório superior.
- Pensa-se que a IgD, no trato respiratório superior, leva à libertação por basófilos de fatores imunoativadores,
pró-inflamatórios e antimicrobianos como a IL-4, BAFF, IL-1β, TNF e catelicidina.
- Tem um tempo de semivida de 3 dias e uma abundância de 0,3 a 3,0 mg/dL no soro.
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- A IgD leva à libertação por basófilos, no trato respiratório superior, de fatores imunoativadores, pró-
inflamatórios e antimicrobianos como a IL-4, BAFF, IL-1β, TNF e catelicidina.
- A IgA possui um papel crucial na resposta imunológica das mucosas (mais abundante no geral).
A IgE liga-se aos FcεRI expressos em mastócitos e basófilos e quando o antigénio se liga a esta ocorre
desgranulação dos mastócitos e basófilos.
O papel da IgD secretada é ainda pouco claro. Mas foi demonstrado recentemente que no trato respiratório
superior esta liga-se a um recetor específico expresso em basófilos (não o FcεRI), induzindo a produção por
basófilos de citocinas como IL-4, IL-13, BAFF, TNF e IL-1β assim como de catelicidina.
É importante realçar que crosslinking com IgD não promove libertação de histamina por basófilos, o que
acontece com a IgE. E o efeito de crosslinking por IgD, contrariamente a IgE, não se traduz em desgranulação,
mas sim na produção destes mediadores.
A IgE quando ligada ao recetor FcεRI e associada ao antigénio, induz desgranulação dos mastócitos e basófilos.
A IgD não se liga via o mesmo recetor e não induz desgranulação de basófilos, mas sim induz produção de
vários mediadores por estas células.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os recetores Fc são
responsáveis pela maioria
dos efeitos/das funções
das diferentes classes das
imunoglobulinas.
Aqui demonstram-se os
diferentes recetores Fc e as
diferentes funções que
estes podem
desempenhar. Existem
diferentes tipos de
recetores e estes são
expressos em diferentes
tipos de células.
Em basófilos e mastócitos existe o recetor Fcε (FcεR), de tal forma que a ligação das imunoglobulinas,
nomeadamente IgE, a este recetor, leva à desgranulação destes, isto é, libertação dos grânulos que contêm,
por exemplo no caso dos mastócitos, histamina.
Algumas imunoglobulinas como a IgG e a IgA (recetores Fcα e Fcγ ou FcαR e FcγR, respetivamente) têm a
capacidade de funcionar como opsinas facilitando a opsonização – capacidade de aumentar a eficiência da
fagocitose. Células como macrófagos e neutrófilos expressam estes recetores, recetores Fcα (IgA) e Fcγ (IgG),
que por ligação às imunoglobulinas aumentam a sua capacidade fagocítica.
Por outro lado, existe o recetor FcRN (recetor Fc neonatal) que se liga à IgG. Este recetor de IgG´s é
fundamental para o transporte de imunoglobulinas (IgG) da mãe para o feto.
Adicionalmente, existe o recetor Fcγ que, além de estas envolvido na opsonização, FcγR está ainda associada
à citotoxicidade mediada por células NK (processo de citotoxicidade dependente de anticorpos). Os recetores
Fcγ são expressos em células NK e a ligação das IgG’s desencadeia a ação citotóxica destas células por libertação
de grânulos citotóxicos.
Por fim, o recetor de imunoglobulinas poliméricas (plgR ou Poly-Ig receptor) auxilia o transporte de IgA – que
forma dímeros – e IgM – que forma pentâmeros. É essencial no transporte de IgA da submucosa para o lúmen,
de tal forma que, por transcitose (passagem/transporte de macromoléculas em vesículas por endocitose e
exocitose), o dímero de IgA passa pelas células epiteliais e forma o componente secretor/peça secretória que
protege os dímeros de IgA contra proteases.
Em suma:
- Os recetores Fc que ligam a classes ou subclasses de imunoglobulinas específicas, são responsáveis por
muitas das funções efetoras dos anticorpos. Estas funções incluem fagocitose de complexos anticorpo-antigénio
por macrófagos e neutrófilos; transcitose de anticorpos através de células epiteliais (dímeros de IgA); lise de
células infetadas, às quais se ligam anticorpos, por células NK (ADCC – antibody-dependent cell-mediated
cytotoxicity); proteção de anticorpos presentes no soro da degradação; indução de desgranulação (Fcε expresso
em mastócitos) com libertação de mediadores dos granulócitos; regulação da atividade de células do sistema
imune inato.
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- Os FcR’s são expressos por muitos tipos de células no corpo e geram/originam sinais quando se ligam a
complexos anticorpo-antigénio. Estes recetores ligam imunoglobulinas que estão associadas a um antigénio.
Estes recetores Fc geram sinais que podem ser tanto ativadores (só se mencionaram deste tipo) como inibidores
da atividade da célula. Se um FcR é ativador ou inibidor depende se na via de sinalização de recetor inclui ou
está associado a um motivo proteico ITAM (ativador) ou a um ITIM (inibidor).
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Sistema do complemento:
- Tem esta designação porque se trata de uma cascata bioquímica que ajuda ou
“complementa” a capacidade dos anticorpos de eliminar microrganismos de um
hospedeiro;
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A figura anterior mostra os diferentes componentes da cascata do complemento que possuem as diferentes
funções biológicas agora excecionalmente detalhadas:
- Inflamação:
A ligação dos compostos pró-inflamatórios C3a, C4a e C5a (também designadas por anafilatoxinas) a recetores
expressos por mastócitos e basófilos leva à libertação de histamina e outros mediadores vasoativos. Estas
mesmas anafilatoxinas, em neutrófilos induzem libertação de prostaglandinas, espécies reativas de oxigénio e
azoto e aumento de expressão de moléculas de adesão e quimiotaxia. No caso de macrófagos e neutrófilos, a
resposta a estas anafilatoxinas é semelhante à exibida por neutrófilos e inclui também produção de IL-1 e IL-6.
- Fagocitose:
Principalmente C3b, mas também iC3b (C3b inativo) e C4b são importantes na ativação de neutrófilos e
macrófagos para o processo de fagocitose (opsonização). Assim, o C3b, o C3b inativo e o C4b ligam-se ao
microrganismo, sendo que o reconhecimento destes componentes do complemento por recetores expressos
em neutrófilos e macrófagos (CR1, CR3 e CR4) vai induzir a fagocitose destes microrganismos pelos neutrófilos
e macrófagos.
O processo de ativação de linfócitos B por componentes de complemento já foi referido, visto que associado
ao BCR encontra-se a molécula de C3d (reveste o antigénio – Ag) que se liga ao CR2 das FDCs (células dendríticas
foliculares). A ligação do antigénio com o fragmento C3d permite uma ativação mais eficiente do LB via BCR por
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Os complexos imunes ativam o sistema do complemento. O C3b gerado liga-se a esses complexos e ao CR1
presente na superfície dos eritrócitos. Durante a circulação das hemácias através dos sinusoides no fígado e
baço, fagócitos aqui residentes removem-lhes os complexos ligados (aos eritrócitos) permitindo a sua libertação
e deposição.
O MAC é um conjunto de proteínas do complemento que forma um poro inserido na membrana dos
microrganismos induzindo-lhes morte celular.
Lectina ligada a manoses, ficolinas (MBL) e C1q ligam-se a dedritos de células apoptóticas, que são
subsequentemente removidas através da ligação aos recetores de C1qR e CR1 em células fagocíticas.
- Presente no soro de todos os mamíferos e outros animais, incluindo aves, anfíbios e peixes.
- Componente sorológico (no soro) não-específico: complemento de uma espécie pode reagir com anticorpos
de outras espécies (exemplo: o complemento de humano funciona bem com anticorpos de galinha).
- Soro inativado (soro do meio de cultura): soro sem complemento ativo (inativado) para impedir que as células
possam ser lisadas.
Componentes do complemento:
- Essencialmente hepatócitos (a maioria das proteínas do complemento são produzidas por células do fígado);
- Monócitos;
- Macrófagos;
- Neutrófilos;
- Células epiteliais (do trato gastrointestinal e geniturinário - relativo aos órgãos genitais e à excreção da urina
= urogenital).
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Apesar da maioria ser produzida por hepatócitos, podem-no ser por célula do sistema imune inato e pelas
células epiteliais como anteriormente referido.
Nota: os componentes do complemento circulam como proenzimas, isto é, circulam como enzimas inativos a
serem ativos no local (inativos – indicado por “i”, como iC3b) que são clivados de modo a expor o sítio ativo.
Designação:
Os fragmentos designam-se por um número e uma letra, sendo o fragmento a o mais pequeno (à exceção do
C2, onde o C2a é o maior) como C3a (os fragmentos menores usualmente têm outras funções, como a C3a e a
C5a que funcionam como anafilatoxinas – aumentam a inflamação) e o b o fragmento maior que continua
envolvido na cascata de ativação como o C3b.
Os fragmentos b são sempre os maiores e são aqueles que participam na cascata do complemento. A única
exceção é realmente o C2. Neste caso o fragmento C2a é o que está envolvido na cascata e é maior que o C2b
̅̅̅̅̅̅̅̅̅
Por fim, a barra em cima dos diferentes complexos significa que eles estão ativos (como, por exemplo, 𝐶4𝑏2𝑎
que é o fragmento “b” do C4 associado ao fragmento “a” do C2 sendo o complexo C3 convertase ativo – pode-
se omitir o segundo C ou não).
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Geração de C3 e C5 convertases:
Na via clássica e na via lectina, o C3 convertase é constituído pelos mesmos fragmentos: fragmento do C4 e
fragmento a do C2 (C4bC2a). No caso da via alternativa, o C3 convertase é constituído pelo fragmento b do fator
B associado ao fragmento b do C3 (C3bBb).
Tal como para o C3 convertase, também o C5 convertase é igual nas vias clássica e da lectina e diferente na
alternativa. Além disso, o C5 convertase é sempre o C3 convertase associado a um fragmento b do C3. (C5
convertase = C3 convertase + C3b). Assim, nas vias da lectina e clássica, o C5 convertase é o C4bC2aC3b e na via
alternativa é o C3bBbC3b.
A iniciação de cada uma das vias será abordada posteriormente. A terminação pode resultar na formação do
complexo de ataque (com lise do microrganismo – C5b), ou de intermediários como para a inflamação pelos
componentes C3a e C5a (pró-inflamatórios/anafilatoxinas) e ainda na opsonização pelo C3b (facilita a fagocitose
por parte dos macrófagos e neutrófilos).
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- Nos estadios iniciais são necessários os componentes: C1, C2, C3 e C4, para formação do C3 convertase.
A cor-de-pele representa-se a
membrana celular do
microrganismo onde se encontram
antigénios expressos e estes são
reconhecidos pelos anticorpos (a
verde). O primeiro componente da
ativação da via clássica do
componente é o C1q. Este liga-se
ao complexo anticorpo-antigénio e
por indução de uma modificação
conformacional ativa a molécula
de C1r. Esta, por sua vez, ativa o
C1s (protease de serina). Após a
ativação deste complexo C1, o C1s
cliva o C4 em C4a e C4b. O C4b liga-
se à superfície do microrganismo
num local perto de onde o C1 se
encontra ligado. O C4b liga-se ao
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C2 e o C1s cliva o C2 em C2a e C2b, de tal forma que o C2a permanece ligado
ao C4b formando o C4bC2a ou C4b2a ou C3 convertase.
O C3 convertase atua sobre C3, clivando-o em C3b e C3a, de tal forma que o
C3a é libertado e o C3b associa-se ao C3 convertase para formar o C5
convertase (C4b2a3b). O C5 convertase cliva C5, em C5a e C5b. O C5b liga-se à
superfície do microrganismo e C5a é libertado.
MAC:
- Forma
poros na
membrana
celular do
microrganismo.
O MAC é “montado” à superfície dos microrganismos. A maioria das bactérias possuem uma parede celular
externa à membrana plasmática e o poro formado pelo MAC tem que atravessar esta parede. De facto, a lise
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mediada pelo MAC tende a ser bem mais eficiente no caso de bactérias gram-negativas que gram-positivas,
uma vez que a camada de peptidoglicano é mais fina nas primeiras.
Recapitulando…
- A ativação do complemento ocorre por 3 vias – clássica, da lectina e alternativa. Todas estas convergem
numa sequência comum de eventos que leva à lise dos microrganismos, apesar de serem iniciadas de maneiras
diferentes.
- O objetivo inicial é formar o C3 convertase e o C5 convertase que funcionam como amplificadores da cascata
do complemento. O C5 convertase permite a clivagem de C5 em C5a e C5b. O C5b é o primeiro componente
que, associado a C6, C7, C8 e C9 forma o poro à superfície da membrana dos microrganismos.
- A via clássica é iniciada por anticorpos das classes de IgM ou IgG a antigénios multivalentes expressos pelos
microrganismos. De seguida, a molécula de C1 liga-se ao anticorpo ativando proteases de serinas associados ao
C1 (C1s) que catalisam a hidrólise do C2 e do C4 (segundo e quarto componentes do complemento), libertando
os fragmentos C2a, C2b, C4a e C4b. O C2a associa-se à membrana num local próximo do C1, a reconhecer o
complexo antigénio-anticorpo. O C4a associa-se ao C2b formando um protease de serina ativado, denominado
de C3 convertase. O C3 convertase cliva C3 em C3a e C3b. O C3b associa-se ao complexo C3 convertase (C2a4b)
formando um protease de serina ativado denominado de C5 convertase (C2a4b3b). O C5 convertase cliva o C5
em C5a e C5b.
- A ativação terminal da cascata do complemento requer o C5b, C6, C7, C8 e C9 que resultam na deposição de
um complexo de ataque de membrana (MAC – membrane attack complex), na membrana celular do
microrganismo. Este complexo introduz poros grandes na membrana, que previnem a célula de estabelecer um
equilíbrio ou uma integridade osmótica, acabando por morrer (por lise celular).
- Existem vários iniciadores da via alternativa do complemento (componentes de microrganismos e até não
patogénicos), por exemplo, LPS e veneno de cobra. Existem outros como o zimosano de fungos e leveduras.
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Um pequeno
esclarecimento:
A ativação da
cascata de
complemento pela
via da lectina ocorre
por
reconhecimento/ligação de
polissacarídeos microbianos
(polissacarídeos expressos à superfície
dos microrganismos) por MBL ou
ficolinas. MBL e ficolinas são
semelhantes ao C1q que ativam a via
clássica do complemento. Tanto a MBL
como as ficolinas (ficolina-L e ficolina-
H) são proteínas plasmáticas.
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Regulação do Complemento:
Existem outras proteínas que regulam o complemento, mas estas são as principais a saber.
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Proteínas reguladoras:
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O DAF ou CD55 encontra-se presente na membrana, atuando nas vias clássica, alternativa e da lectina (todas).
Permite a dissociação do C4b2a e C3bBb (C3 convertases das vias clássica e alternativa, respetivamente).
O CD59 ou MIRL está ligado à membrana e atua no final das 3 vias, com a inibição da formação do complexo
de ataque de membrana (MAC) por ligação ao C5b678, não permitindo a ligação de C9.
A cascata do complemento é tão importante que diversos microrganismos apresentam mecanismos de evasão
da atividade do complemento. Por exemplo:
- Estirpes resistentes de E.coli e Salmonella previnem a inserção do MAC na membrana das bactérias.
- Estirpes resistentes de Neisseria e gonorrhoeae impedem a inserção do MAC na membrana das bactérias.
- Pseudomonas aeruginosa possui elastases que inativam o C3a e o C5a (anafilatoxinas – mediadores da
inflamação).
Assim, a cascata do complemento é tão importante que os microrganismos tentam arranjar mecanismos de
proteção e de evasão da atividade do complemento.
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- Suscetibilidade a infeções.
- Autoimunidade.
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Doenças associadas a
deficiência em proteínas
reguladoras da cascata do
complemento:
- Deficiências no inibidor de C1
ou C1Inh leva angioedema.
- Deficiências em DAF/CD55 e
CD59/MIRL levam a
hemoglobinúria paroxística
noturna.
A expressão de CD59 impede que, à superfície da membrana dos eritrócitos, haja deposição de complexos de
ataque de membrana (MAC), isto é, com CD59 não há formação do MAC. Em indivíduos que não possuam CD59
(proteína reguladora da atividade do complemento), existe ativação do complemento nos eritrócitos (porque
há formação do MAC) e subsequentemente existe lise destas células.
O tratamento destes doentes é feito com eculizumab que é um anticorpo monoclonal que impede a
ação/atividade de C5 (clivado pelo C5 convertase em C5a e C5b), pelo que não permite a formação do MAC,
visto que o C5b não é formado (atividade de C5 impedida) e este era um componente do complexo de ataque
de membrana.
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As doenças infeciosas são uma das principais causas de morte (à volta de 14 milhões de vidas humanas
perdidas anualmente). Em 2016 (WHO – World Health Organization, em português OMS – Organização Mundial
da Saúde) existiam 3 no TOP 10:
- Infeções do trato respiratório inferior: 3.0 milhões mortos. (1º lugar nos países em desenvolvimento)
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Uma infeção ocorre quando um microrganismo evade o sistema imunológico inato e estabelece colonização
num hospedeiro.
Claro está que muitas vezes o sistema imune consegue “dar conta do recado” e não chega a ser necessária a
indução de uma resposta imune adaptativa, porque a eliminação do microrganismo se dá precocemente.
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- Alguns exemplos de infeções agudas são: a do vírus influenza causadora da gripe, a do rotavírus causadora
de diarreias severas, em crianças, que podem ser mortais e ainda o agente causador da tosse convulsa. Nestas
infeções existe um pico do crescimento do microrganismo (da doença/infeção) e um threshold/limite a partir
do qual começamos a sentir sintomas da doença. Nestas também existem os mecanismos da imunidade que
levam ao decréscimo e eliminação do agente patogénico.
Existem outros modelos/outros tipos de infeções, nomeadamente as que originam doenças persistentes:
- Infeção persistente, com reativação: casos como o vírus herpes, varicela, tuberculose e malária que possuem
um controlo inicial semelhante ao da função aguda com uma seguinte persistência latente do microrganismo.
No entanto, após algum tempo existe reativação deste microrganismo patogénico, com um novo crescimento
do mesmo e doença.
- Infeção de evolução lenta: é o que acontece no caso do HIV (AIDS ou SIDA), onde existe um episódio de
infeção aguda e respetiva recuperação da mesma (com decréscimo da carga viral). No entanto, segue-se-lhe
uma evolução lenta do microrganismo ao longo do tempo que culmina com uma doença fatal, sem tratamento.
O HIV é eficazmente conturbado com cocktails antirretrovirais.
Esta infeção, assim, caracteriza-se por longos períodos de incubação. O desenvolvimento da doença tem um
curso longo, progressivo e frequentemente fatal (se não tratado).
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• Entrada do microrganismo (vence as barreiras físicas e químicas da imunidade inata como as mucosas);
- Inata: defesa inicial e está sob uma pressão evolutiva (para os microrganismos escaparem à resposta inata)
=> se os microrganismos escaparem a esta resposta estabelecem uma colonização e infeção eficiente.
• Maneiras distintas e especializadas para diferentes tipos de microrganismos para termos uma resposta mais
eficiente.
• A resposta imunológica por vezes controla, mas não elimina o microrganismo, o qual sobrevive sem propagar
infeção (o caso das infeções persistentes).
A lesão de tecidos do hospedeiro é muitas vezes causada pela resposta imunológica do hospedeiro ao
microrganismo (imunopatologia) e não pelo microrganismo diretamente.
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Neste quadro indicam-se alguns exemplos de bactérias extracelulares, doenças causadas por estas e
mecanismos de patogenicidade que estas bactérias possuem. Muitas delas recorrem a toxinas (difteria, tétano,
cólera) e outras recorrem a superantigénios.
As bactérias extracelulares replicam-se fora das células do hospedeiro nas regiões intersticiais do tecido
conectivo, lúmen dos tratos respiratório, urogenital e gastrointestinal e no sangue. Produzem toxinas,
exotoxinas ou endotoxinas:
- Exotoxinas são proteínas tóxicas ativamente secretadas por bactérias Gram-positivas e Gram-negativas.
Exemplos:
Exotoxina de Vibrio cholerae liga-se a células epiteliais do intestino, provocando diarreia severa característica
da Cólera.
Clostridium botulinum produz uma neurotoxina que bloqueia a transmissão de impulsos nervosos para os
músculos, causando a paralisia característica do Botulismo.
Exemplo: LPS de bactérias Gram-negativas ativa macrófagos induzindo a produção de citocinas pró-
inflamatórias como TNF-α e IL-1. Uma elevada concentração destas citocinas, produzida em resposta a infeção
por bactérias Gram-negativas, pode levar a choque séptico (pode ser letal para o hospedeiro).
• As infeções por bactérias extracelulares são controladas por uma combinação de mecanismos efetores da
imunidade inata e adquirida.
Estes microrganismos não entram nas células do hospedeiro, pelo que são alvo para a ação de anticorpos, no
que toca à imunidade adquirida.
Os principais mecanismos da imunidade inata são a ativação do sistema de complemento, fagocitose (por
neutrófilos e macrófagos) e resposta inflamatória.
• Ativação do complemento:
Via alternativa - peptidoglicano (PG, componente da parede celular de Gram-positivas) ativa a via alternativa
do complemento; LPS (componente da parede celular de Gram-negativas) ativa a via alternativa do
complemento.
- Intermediários de ambas as vias funcionam como anafilatoxinas (C3a, C4a e C5a), aumentando a resposta
inflamatória (pró-inflamatórias).
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Productos microbianos como LPS e PG (o peptidoglicano é um agonista do TLR-2) ativam DCs e fagócitos,
levando à produção de citocinas que induzem recrutamento de leucócitos para os locais de infeção. Leucócitos
recrutados ingerem e destroem bactérias (perpetuação do processo inflamatório).
Células dendríticas e fagócitos como neutrófilos e macrófagos expressam na sua membrana plasmática
recetores Toll (TLRs; Toll-like receptors; uma classe de PRRs, isto é, Pathogen recognition receptors) que
reconhecem PAMPs (Pathogen-associated molecular patterns) presentes em bactérias extracelulares. Dois
exemplos destes padrões moleculares, presentes nalgumas bactérias extracelulares (não esquecer que LPS é
um componente de bactérias gram-negativas e não presente em todas as bactérias), que podem ativar DCs,
macrófagos e neutrófilos são então o LPS (reconhecido pelo TLR-4 expresso em células imunes) e o
peptidoglicano (reconhecido pelo TLR-2 também expresso por estas populações da imunidade inata).
Secretam IL-17, IL-22 e GM-CSF que reforçam a função da barreira epitelial e promovem recrutamento de
neutrófilos para os locais de inflamação (papel contra bactérias extracelulares).
A imunidade humoral (mediada por anticorpos) é o principal mecanismo protetor da resposta adquirida
contra bactérias extracelulares, atuando no bloqueio da infeção (via neutralização), na eliminação de
microrganismos e na neutralização das suas
toxinas.
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bactérias extracelulares com o auxílio de células T auxiliares (para os LB poderem levar à produção de anticorpos
com elevada afinidade e de outros isotipos além de IgM e ainda poderem levar à criação de células B de
memória). Existe a diferenciação de LB em plasmócitos que secretam anticorpos.
- Neutralização (os anticorpos neutralizantes impedem que, as bactérias que não entram nas células do
hospedeiro, mas que adiram a recetores nas células de forma a não serem eliminadas, não se consigam ligar).
- Opsonização (os anticorpos funcionam como opsoninas facilitando a fagocitose pelos fagócitos).
- Ativação da via clássica do complemento (com produção de C3b que funciona como opsonina facilitando a
fagocitose pelos macrófagos e neutrófilos; produção de anafilatoxinas como C3a, C4a e C5a que auxiliam no
processo inflamatório, isto é, servem para recrutar novos leucócitos para o local de infeção; formação de MACs
com lise dos microrganismos).
As células T são necessárias para que os linfócitos B possam orquestrar devidamente a sua resposta. A bactéria
extracelular é apresentada a DCs (células dendríticas), sendo que o antigénio é devidamente processado a
péptidos que são apresentados a linfócitos T CD4 + auxiliares que podem produzir citocinas como:
- IL-17, TNF e outras citocinas: ajudam no processo inflamatório. A IL-17 é crucial para o recrutamento de
neutrófilos para os locais de infeção.
- IFN-γ: fundamental na ativação dos macrófagos por aumento da sua capacidade fagocítica e bactericida.
- Várias citocinas: permitem que a classe de anticorpos produzidas pelos plasmócitos seja adequada. Assim,
controlam o tipo de resposta humoral exibida pelos linfócitos B.
Muitas destas bactérias extracelulares produzem superantigénios (SAg). Algumas características dos SAg:
- SEB: pode ativar células de ratinho e células de humanos, nomeadamente linfócitos T. Nos humanos os LT
são Vβ 3, 12, 14, 15, 17 e 20.
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Os Vβ são os segmentos V utilizados no rearranjo da cadeia β do TCR. A região variável da cadeia β do TCR é codificada por
segmentos V, D e J. Cada um destes segmentos V é identificado por um número (Vβ1, Vβ2,..., Vβn). Só como exemplo, se um
superantigénio ativa LT Vβ2, vai ativar todos os linfócitos T que utilizaram o segmento V β2 no rearranjo da parte variável da
cadeia beta do TCR que expressam.
O superantigénio liga-se
ao TCR e ao MHC II fazendo
um cross-linking forçando
a sua ligação
independentemente da
especificidade do péptido
que está a ser apresentado
pela APC. No caso do SEB,
todas as células T Vβ3 vão
ser ativadas, proliferar e
produzir citocinas na
presença deste SAg.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Existem diversas bactérias com diferentes mecanismos de evasão. Há bactérias que impedem a ativação da
via do complemento por impedimento da ligação do C3b à superfície da membrana por ausência de dadas
proteínas necessárias para a ligação do C3b ou pela presença de proteínas muito grandes que causam
impedimento estereoquímico ou por degradação do C3b, entre outros.
• Heliobacter Pylori contém formas modificadas de LPS e flagelina que ligam anormalmente TLR-4 e TLR-5,
respetivamente, interferindo com a via de sinalização (não é eficiente).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
- Inibição de fagocitose:
As bactérias intracelulares
possuem certas
características:
- Capazes de sobreviver e
replicar em fagócitos.
- Inacessíveis a anticorpos circulantes (o papel destes é reduzido, exceto quando funcionam como opsoninas
– na imunidade celular para os fagócitos).
A principal resposta protetora contra bactérias intracelulares consiste no recrutamento e ativação de fagócitos
por células T (imunidade celular) aquando da resposta adquirida/adaptativa.
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- A imunidade inata a bactérias intracelulares é mediada por fagócitos (neutrófilos e macrófagos) e células NK,
ambas ativados pelas bactérias intracelulares.
- Os fagócitos (neutrófilos e macrófagos) ingerem as bactérias, que são usualmente resistentes a degradação.
- Os fagócitos expressam TLRs e NLRs que reconhecem compostos microbianos, levando à sua ativação (dos
fagócitos por componentes das bactérias intracelulares)
- Bactérias intracelulares ativam células NK via indução de expressão de ligandos ativadores nas células
infetadas e via indução de expressão por macrófagos e DCs de IL-12 e IL-15, ambas citocinas ativadoras de NK.
- As células NKs ativadas produzem IFN-γ que ativa macrófagos e induz morte das bactérias fagocitadas, tendo
assim um papel crucial antes da ativação da imunidade adquirida.
Ratinhos scid (ratinhos que têm uma deficiência numa proteína, PRKDC, que se encontra envolvida na
recombinação VDJ - para a síntese dos TCRs e BCRs - e assim estes ratinhos não possuem linfócitos B e T)
controlam infeção por L. monocytogenes via IFN-γ produzido por NK.
A imunidade inata é, no entanto, normalmente incapaz de erradicar infeções por bactérias intracelulares,
sendo necessária a ação de componentes da imunidade adquirida.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
As bactérias intracelulares são capazes de sobreviver e mesmo replicar-se dentro de fagócitos. São assim
inacessíveis a anticorpos circulantes e à ação do Complemento.
- A imunidade inata a bactérias intracelulares é mediada primariamente por fagócitos e células NK.
- A função microbicida de fagócitos contra bactérias intracelulares é ineficiente sem ativação por linfócitos
Th1.
- Imunidade mediada por LT e constitui a resposta protetora principal. Contrariamente ao caso das bactérias
extracelulares, aqui (nas bactérias intracelulares) a proteção não é transferível por anticorpos, mas por linfócitos
(imunidade celular).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
A imunidade inata é a
primeira a entrar em ação e
possui os seguintes
constituintes fundamentais:
neutrófilos e macrófagos
(fagócitos) e células NK.
- O mycobacterium leprae possui a capacidade de inativar ROS (espécies reativas de oxigénio) e RNS (espécies
reativas de nitrogénio) que são dois mecanismos essenciais para eliminar a bactéria no fagolisossoma. Consegue
fazê-lo pela presença de um glicolípido fenólico.
- A listeria monocytogenes (como visto anteriormente) devido à presença da proteína hemolisina consegue
romper a membrana do fagossoma, conseguindo escapar para o citoplasma (ficando incólume/salva à ação
microbicida dos fagócitos – necessita-se de CTLs).
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Em suma:
- As bactérias intracelulares
desenvolveram uma série de
estratégias para resistir à
eliminação por fagócitos. Estas
incluem inibição da formação de
fagolisossomas ou escapar para o
citosol, protegendo-se assim dos
mecanismos microbicidas de
lisossomas, ou ainda inativando
substâncias microbicidas, como
ROS.
- A resistência destes
microrganismos à eliminação
mediada por fagócitos é também
um fator que contribui para o
estabelecimento de infeções
crónicas por estes
microrganismos, que são assim de longa duração (até anos) e de difícil erradicação.
- Os vírus tipicamente infetam diferentes células do hospedeiro via endocitose após ligação a moléculas de
superfície das células do hospedeiro.
- A replicação viral (que necessita da maquinaria das células do hospedeiro) interfere com a função normal
das células do hospedeiro e com o mecanismo de síntese proteica, podendo levar à morte das células.
- As respostas imunológicas inata e adquirida visam bloquear a infeção e eliminar as células infetadas.
- Os principais mecanismos de imunidade inata contra vírus consistem na inibição da replicação viral por IFN-
I (IFN-1) e indução de morte celular de células infetadas mediada por células NK.
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- A produção de IFN-I é induzida pelo reconhecimento por PRRs de PAMPs (do vírus) como dsDNA e ssRNA. As
pDCs (células dendrítica plasmacitoides) são as principais produtoras de IFN-I (interferão de tipo I). Esta citocina
também é produzida pelas próprias células infetadas.
- IFN-I inibe eficientemente a replicação viral, tanto em células infetadas como em não infetadas (induz o
estadio de proteção nas células).
-Uma vez que a expressão de MHC I é usualmente diminuída em células infetadas por vírus (mecanismo de
evasão dos vírus), como um mecanismo de evasão à atividade por CTLs, as células infetadas por vírus tornam-
se alvo de células NK.
- A resposta da imunidade adquirida protetora contra infeções virais é mediada por anticorpos que bloqueiam
a entrada do vírus nas células do hospedeiro e por CTLs que induzem apoptose de células infetadas, eliminando
a infeção.
- Componente humoral protetora requer anticorpos de alta afinidade, produzidos na reação de centros
germinativos (dependentes de ajuda T).
• Os anticorpos são apenas eficientes durante o estadio extracelular dos vírus (antes de entrar nas
células do hospedeiro), ou seja, no início da infeção ou quando libertados de células infetadas ou
mortas, isto é, os anticorpos previnem tanto a infeção inicial como a propagação da infeção de célula
para célula.
• Os anticorpos (Ab) ligam-se a antigénios (Ag) do envelope ou capsídeo viral, funcionando
primariamente como anticorpos neutralizantes, impedindo assim a adesão e entrada do vírus nas
células do hospedeiro.
• Os anticorpos também podem ter um papel importante na opsonização (os anticorpos na superfície
dos microrganismos são reconhecidos por fagócitos via recetores Fc e facilitam a fagocitose) e na
ativação do complemento (via clássica).
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Influenza:
• 2 glicoproteínas
importantes: hemaglutinina
(HA) e neuraminidase (NA).
• Variação antigénica nestas glicoproteínas (mutações resultando em novas espécies) causam
problemas no desenvolvimento de imunidade a longo prazo na população.
- Possui 8 cadeias ssRNA (cadeia única de RNA) que codificam para todas as proteínas do vírus, nomeadamente
a hemaglutinina e a neuraminidase.
Todos os anos as pessoas têm de ser vacinadas contra a nova espécie de influenza. As pessoas geralmente
vacinadas têm respostas imunológicas menos eficientes como as pessoas mais idosas. Mas por que é necessário
existir essa vacinação anual? Existem dois mecanismos que levam a que isso tenha de acontecer:
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Vários vírus como o EBV (Eipstein-Barr) e o CMV (citomegalovírus) humano têm a capacidade de inibir a
atividade do proteassoma, ou seja, inibe a capacidade de degradação de proteínas que se encontram no citosol.
Assim, os péptidos não são carregados pelas TAPs (que permitem a passagem dos péptidos do citosol para o
retículo endoplasmático rugoso) e, portanto, não se vão ligar à molécula de MHC classe I (presente no RE), pelo
que não serão reconhecidos por CTLs .
Outras situações análogas com consequências semelhantes à do EBV e CMV em inibirem o proteassoma:
- O herpes (HSV) bloqueia o transporte pelas TAPs, com as mesmas consequências anteriormente referidas.
- O adenovírus e o CMV impedem a síntese de MHC classe I ou fazem com que esta permaneça no RER.
Estas situações levam a que não exista reconhecimento por LT CD8+ citotóxicos, não existindo indução da
apoptose.
Outros vírus como o CMV de murganho produzem um decoy (uma armadilha), ou seja, uma molécula viral
semelhante ao MHC I que é um recetor inibitório das moléculas NK, impedindo a ação das mesmas.
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O pneumocystis carinnii é um oportunista muito conhecido porque aparecia em doentes com HIV não
tratados, numa fase inicial, provocando-lhes pneumonia (em indivíduos saudáveis não causa qualquer
transtorno), levando à sua morte.
- Resposta imunológica protetora a fungos envolve células da imunidade inata como neutrófilos, macrófagos
e ILCs (células linfoides inatas), assim como LT Th17 (imunidade celular), que produzem IL-17.
- Os macrófagos e DCs (células dendríticas) expressam PRRs que reconhecem a presença de fungos via TLRs e
recetores de dectina (que reconhecem β-glucanos à sua superfície; é um tipo
de lectina – imunidade inata). Estes libertam citocinas (como IL-23 e IL-17)
que recrutam e ativam neutrófilos diretamente ou via ativação de ILCs
residentes nos tecidos.
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- Evasão de reconhecimento
por PRRs:
• Para evitar
reconhecimento por PRR,
alguns fungos (dimórficos)
alteram a sua morfologia de
levedura para hifas, de modo a
reduzir a presença de PAMPs
(pathogen associated
molecular patterns).
• C. albicans expressa
uma proteína que cobre as
moléculas de β-glucano na sua
parede celular, impedindo o
seu reconhecimento por fagócitos que expressam dectin-1.
- Evadir a fagocitose:
• A morfologia de hifa exibida por C. albicans confere-lhe uma massa demasiado grande para ser
fagocitada por fagócitos.
• Cryptococcus neoformans secreta uma proteína designada por App1, apenas induzida em condições
de baixa glucose como no pulmão. App1 interage com CR1 e CR3 (recetores de complemento de 1 e 3),
impedindo a sua fagocitose por fagócitos).
270
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• Muitos fungos produzem toxinas e outras moléculas com propriedades imunossupressoras e que
promovem desvio da resposta
para Th2, que é ineficiente
(para estas infeções por
fungos).
• Reconhecimento de
ligandos de fungos por alguns
PRRs presentes em células
epiteliais induzem a produção
de TSLP (Thymic stromal
lymphopoietin) e IL-25, que
amplificam respostas Th2 e
promovem diferenciação de
iTreg (células T reguladoras
imunossupressoras).
271
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Nesta tabela encontram-se alguns protozoários como os causadores da malária, leishmaniose (leishmania
donovani) e doença do sono.
No caso de plasmodium os principais mecanismos de imunidade protetora são a imunidade humoral mediada
por anticorpos e a ação de linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTLs).
272
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No caso da leishmania o principal mecanismo de imunidade protetora é a ação de células T CD4 + Th1 que
ativam macrófagos, aumentando a sua atividade microbicida, para matarem os parasitas fagocitados.
O principal mecanismo de defesa contra protozoários que sobrevivem em macrófagos é a imunidade celular,
particularmente a ativação de macrófagos por IFN-γ produzido por Th1.
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As IgE’s (resposta mais importante) em mastócitos provoca a desgranulação de mastócitos que leva à
libertação de histamina (induz a peristalse do intestino para eliminar o microrganismo).
Os eosinófilos também são importantes no combate contra helmintas porque a ligação FcεRI ao anticorpo
induz desgranulação do eosinófilo com possibilidade de matar parasitas.
Além da produção de IgE, a produção de IgA pelos LB/plasmócitos essencial para a proteção das mucosas das
infeções por parasitas (por impedimento da adesão e entrada destes).
Existe, inclusive, uma teoria de que infeções por helmintas induzam bastante bem células T reguladoras, que
pode serem usadas para tratamento de doenças autoimunes.
Aula 23 – Vacinação
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Em 1800 iniciou-se a vacinação da varíola do norte da América e Europa e pelo ano de 1900 esta já teria sido
eliminada da maioria dos países industrializados. Em 1959, elaborou-se o programa contra a erradicação desta
doença e em 1979 foi considerada erradicada pela OMS.
No final do século XVIII, 400000 pessoas morriam por ano na Europa de varíola. A Varíola foi erradicada em
1979.
Antigamente, vivia-se até pouco mais dos 60 anos, agora já se vive até aos 80/90 anos.
Com a introdução das vacinas, nos EUA, levou-se a uma redução dramática do número de mortos por estas
doenças.
No entanto, vacinas eficazes são ainda necessárias no combate de muitas doenças (e.g. SARS-COV-2, HIV,
tuberculose).
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- Delineação prévia dos alvos imunológicos específicos do programa de vacinação (estabelecer os correlatos
de proteção imune – encontrar nos indivíduos vacinados sinais de que a vacina foi administrada com eficiência,
por exemplo contra um vírus quer-se a formação de anticorpos).
- Passiva- via transferência de anticorpos (exemplos: transferência de anticorpos da mãe para o feto, sendo
protetores contra infeções no bebé; leite materno (IgA); transferência de anticorpos é usando na terapia contra
mordedura de cobras (fica-se imune ao veneno); transferência de IvIg [pool de imunoglobulinas] em doentes
com imunodeficiências em linfócitos B, suscetíveis a infeções, ou o uso de antibióticos como o profilaxia).
276
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
277
Objetivo da vacinação:
No entanto, ao existir vacinação e, portanto, subsequente encontro com o patogénio viável, vai ser
estabelecida uma resposta imunológica secundária – forte, de maior longa duração/extensão, rápida e eficaz
(contra a infeção). Isto deve-se ao facto de existirem células de memórias resultantes da vacinação (primeiro
encontro com o patogénio).
Existe uma possibilidade de efeitos adversos num número muito reduzido de indivíduos. É controlado por
programas de vacinação.
- No entanto, os benefícios para a população são muito superiores ao risco de efeitos adversos e as vacinas
têm de ser utilizadas para proteger a maioria da população.
As vacinas têm de ser utilizadas numa grande parte da população. Neste contexto, ouve-se falar do conceito
de imunidade de grupo (Herd immunity) que é importante, visto que existem sempre pessoas que não podem
ser vacinadas (doentes com cancro, alergias, etc). Na situação do SARS-CoV-2, a Inglaterra era um dos países
que defendia este tipo de imunidade deixando a disseminação do vírus e criar esta imunidade de grupo (tendo
acabado por desistir desta ideia, adotando medidas de confinamento).
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Em relação ao limite para se poder proceder à imunidade de grupo, é necessário que uma certa percentagem
da população esteja vacinada para uma dada doença. Alguns exemplos são: para a difteria é 85% (85% da
população tem de estar vacinada para existir imunidade de grupo), no sarampo é 83-94% (à volta de 90% dos
indivíduos têm de estar vacinados para haver imunidade de grupo).
A proporção de indivíduos imunes numa população que vão impedir a disseminação da doença é conhecida
pelo limite de imunidade de grupo. Cada doença tem o seu próprio limite (threshold) e quanto mais facilmente
esta doença é transmitida, mais alto tem de ser este limite. No caso do Covid-19, sendo muito facilmente
transmitida, a quantidade ou percentagem de indivíduos que vão ter de estar imunes (vacinados, recuperados)
para se controlar a transmissão recorrendo a imunidade de grupo vai ter de ser elevada, pelo menos 90%.
Quanto mais alto o threshold, maior tem de ser a cobertura da vacinação e eficiência para interromper a
transmissão da doença. Doenças facilmente transmissíveis como o sarampo, podem continuar a ser
transmitidas na comunidade mesmo com elevada cobertura de vacinação e elevada eficiência da vacina.
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280
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Vantagens: vacinas estáveis e seguras do que as vacinas com microrganismos vivos atenuados. Não é preciso
refrigeração.
Desvantagens: a resposta imunológica licitada por estas vacinas é mais fraca do que vacinas com
microrganismos atenuados, pelo que pode ser necessário existir exposição a novas doses ou múltiplas
inoculações da vacina.
• Vacinas de DNA – está a tentar estudar-se em HPV/vírus do papiloma humano e Zika vírus, pois
conferem elevada e forte resposta imunológica humoral e celular, além de ser um método barato.
• Vacinas de vetores recombinantes – tenta mimetizar uma infeção natural, resultando numa resposta
imune forte (ensaios clínicos com ébola).
- As bactérias são cultivadas por longos períodos de tempo em condições adversas; aquelas que sobrevivem
não são capazes de se adaptar às condições ótimas no hospedeiro. No caso da BCG ou Bacilo de Calmette-
Guèrin, faz-se crescer Mycobacterium bovis in vitro em concentrações elevadas de ácidos biliares durante
bastante tempo e as bactérias que sobrevivem, são as que sofreram mutações e adaptações para crescimento
em ambientes de elevadas [ácidos biliares].
- No caso dos vírus, estes podem ser cultivados em células de hospedeiros não naturais, acumulando mutações
que os podem enfraquecer (reduzindo a viabilidade destes microrganismos para a inoculação em humanos,
posteriormente).
- Exemplos de deste tipo de vacinas: vacina do sarampo, da papeira, da rubéola e da BCG, etc.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Vantagens Desvantagens
Os riscos associados à
toma de uma vacina são
muito menores dos
causados pela infeção
natural.
Na tabela ao lado
encontram-se os riscos
associados à não-toma e
toma da vacina do sarampo
e como se pode observar
nenhum indivíduo vacinado
com a vacina do sarampo
morre, ao passo que a
infeção do sarampo (sem
vacinação) possui
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Podem existir alguns efeitos secundários, mas estes são mesmo muito raros, como encefalomielite de 1 em 1
milhão de indivíduos, mas é muito menos raro aquando da infeção natural por sarampo.
- Os epítopos têm de ser mantidos após o processo de inativação dos microrganismos para a vacina ser
eficiente.
- Riscos associados:
• O microrganismo tem de ser crescido em largos números antes de inativação, o que implica riscos
para quem está diretamente envolvido no processo de manufaturação/produção da vacina.
• A inativação pode não ser 100% eficiente.
- Exemplos: Vacina contra Bordetella pertússis que causa a tosse convulsa, vacina contra febre tifoide, vacina
da gripe, etc.
Vantagens Desvantagens
283
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Vacinas de subunidades:
Vantagens: Desvantagens:
Vacinas de toxoides:
- Algumas bactérias são patogénicas devido à produção de exotoxinas; estas são purificadas, inativadas com
formaldeído dando origem ao toxoide que é utilizado na imunização.
- O sistema imunológico é então capaz de neutralizar a toxina aquando da infeção natural, pela produção de
anticorpos.
Vacinas conjugadas:
284
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
- Vacinas conjugadas utilizam-se em casos em que o antigénio é pouco imunogénico, pelo que se acopla o
mesmo a outro que seja mais imunogénico para se produzir uma resposta imunológica eficiente.
Vacinas de DNA:
• Vacinas de DNA – está a tentar estudar-se em HPV/vírus do papiloma humano e Zika vírus, pois
conferem elevada e forte resposta imunológica humoral e celular, além de ser um método barato.
Vantagens:
Desvantagem:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Esta figura procura demonstrar a capacidade que estas vacinas, que utilizam vetores de expressão eucarióticos
no qual o gene que codifica para a proteína de interesse é clonado, de induzir o desenvolvimento de respostas
celulares e humorais. Vacinas de DNA utilizam “apenas” estes vetores, ao passo que nas vacinas de vetores
recombinantes os genes que codificam para antigénios de microrganismos são introduzidos em vírus atenuados
ou bactérias. O microrganismo atenuado serve como vetor, replicando-se no hospedeiro e expressando a
proteína de interesse do patogénio. Existem alguns exemplos de vacinas de DNA que entraram em ensaios
clínicos contra diferentes agentes infeciosos e cancros.
Dúvidas de nomenclatura
Classificação dos diferentes tipos de vacinas que existem atualmente: as derivadas de microrganismos inteiros, que se podem
subdividir em vacinas que incluem microrganismos vivos atenuados e as que utilizam microrganismos inativados ou mortos (1ª
geração de vacinas); a classe de vacinas que utilizam macromoléculas purificadas de microrganismos, que se podem subdividir
em 3 tipos: toxoide, subunidades ou conjugadas (2ª geração de vacinas); e finalmente uma classe de vacinas que ainda não
estão disponíveis na clínica, mas em teste: as vacinas de DNA e de vetores recombinantes (3ª geração de vacinas). A segunda
classe pode ser designada tanto por vacinas de subunidades como macromoléculas purificadas de microrganismos. Neste caso,
em vez de microrganismos inteiros (estratégia inicialmente utilizada na elaboração de vacinas), esta classe de vacinas inclui
componentes do microrganismo ou antigénios mais relevantes. Apesar desta característica tornar estas vacinas mais seguras e
fáceis de produzir, é muitas vezes necessário incluir na sua formulação adjuvantes para estimular uma resposta imunológica
eficiente. As vacinas conjugadas também podem incluir toxoides, mas toxoides são também uma subclasse independente deste
tipo de vacinas.
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- Tem de ser eficaz: tem de induzir uma resposta protetora apropriada (humoral e celular) e de duração
adequada.
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Tolerância imunológica:
- Refere-se à ausência de resposta a um antigénio que é induzida por exposição prévia a esse mesmo antigénio.
Tolerância imunológica pode então definir-se como a ausência de resposta imunológica agressiva a um conjunto
de antigénios, num sistema imunológico competente. Tolerância imunológica ao próprio ou self-tolerance é a
ausência de respostas a antigénios do próprio (self-antigens). Os mecanismos de tolerância imunológica
também são importantes para impedir que haja respostas imunológicas a antigénios que são inócuos,
nomeadamente alergénios (a tolerância imunológica possui uma resposta mais abrangente).
- Burnet´s “Horror Autotoxicus” (década de 50) - postula que linfócitos específicos para antigénios do próprio
são eliminados durante o período embrionário/neonatal para prevenir respostas imunes anti-self
(autoimunidade).
Em 1957 o imunologista
Burnet desenvolveu a teoria
da Seleção clonal e adicionou
um corolário para explicar
porque é que o organismo se
mantinha tolerante.
288
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
adulto. A teoria da seleção clonal defende que um clone de linfócitos específico para um dado antigénio quando
ativado vai expandir (expansão clonal).
O processo de recombinação VDJ é aleatório; alguns linfócitos podem reconhecer antigénios do próprio;
mecanismos de tolerância imunológica previnem a resposta imunológica mediada por estes linfócitos.
No entanto, se no mesmo ratinho se fizer um enxerto de pele de um ratinho C (para o qual não existiam
leucócitos respetivos), então de uma a duas semanas depois, o ratinho A rejeita o enxerto.
Estas experiências demonstram que a tolerância é específica e que o período neonatal é um período
permissivo para indução de tolerância.
- Existem mecanismos de Tolerância imunológica centrais, que atuam em linfócitos T e B imaturos durante o
seu processo de diferenciação no timo e na medula óssea (órgãos linfoides primários), respetivamente, assim
como mecanismos de Tolerância periféricos, que atuam em linfócitos T e B maturos na periferia (órgãos
linfoides secundários).
- Tolerância central ocorre durante o estadio de diferenciação de linfócitos no qual uma interação de elevada
afinidade com antigénios do próprio pode levar à apoptose ou substituição do recetor de antigénio por outro
não reativo (restrito para LB – reedição do BCR).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
- Mecanismos periféricos de indução de tolerância incluem indução de anergia ou deleção clonal, pelos quais
linfócitos maturos que reconhecem antigénios do próprio na periferia se tornam ou “não responsivos” após
nova exposição ao antigénio ou morrem por apoptose, respetivamente. Na periferia existem (até agora) dois
mecanismos: anergia e deleção clonal.
Existem 3 formas pelas quais a ignorância pode ocorrer, mas só se descreverão duas. Imaginemos que temos
um LT específico para um antigénio do olho. O mecanismo que mantém este LT sob controlo designa-se por
ignorância, porque o antigénio que é específico para este linfócito T encontra-se num local “imunologicamente
privilegiado”. Há também a possibilidade da [antigénio] específico ser demasiado baixa para ativar o linfócito,
ou seja, este não responde a este antigénio.
- A tolerância periférica é também mantida por células T reguladoras (Treg) que suprimem a ativação de
linfócitos específicos para auto-antigénios (antigénios/componentes do próprio). A manutenção de tolerância
mediada por Tregs é considerada um mecanismo ativo de tolerância periférica.
- A indução de tolerância imunológica é uma possível estratégia terapêutica para prevenir respostas
imunológicas indesejáveis, sendo explorada na prevenção e tratamento de autoimunidade, na aceitação de
transplantes de órgãos, tratamento de alergias, terapia genética (exemplo: deficiência em fator VIII ou
hemofilia, importante para a coagulação, por indução do mesmo sem haver resposta imunológica de rejeição
deste), etc.
- A seleção negativa elimina timócitos que possuem TCR’s que reconhecem com elevada afinidade complexos
MHC:péptido.
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Mecanismos de tolerância
central a Linfócitos T:
Durante o processo de
diferenciação no timo, timócitos
imaturos que reconhecem
antigénios com elevada avidez
morrem por apoptose. Alguns
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Mutações hipomórficas (quando um alelo produz uma quantidade reduzida de produto ou um produto com
menor atividade) em AIRE (mutações não tão graves) na periferia também podem levar ao desenvolvimento de
outros tipos de autoimunidade (não APS-1 ou APECED que leva a hipotiroidismo, candidíase, etc),
nomeadamente autoimunidade específica de órgãos.
Aqui (p. 293) ilustram-se os mecanismos de tolerância a que os linfócitos B imaturos são submetidos na medula óssea (daí a
designação central). No caso dos Linfócitos T, existem "apenas" 2 mecanismos de tolerância centrais: a deleção (seleção
negativa) e o recrutamento para a linhagem de Tregs. Olhando atentamente para a figura acima, a deleção, anergia e ignorância
também estão indicados como mecanismos de tolerância periférica para linfócitos B (“migração para a periferia”). No caso de
linfócitos T, a tolerância periférica também é mantida por estes mecanismos, e adicionalmente pela atividade de células T
reguladoras. Na realidade, também é verdade que as Tregs podem controlar a ativação de Linfócitos B autorreativos na periferia,
visto impedirem a ativação de LT autorreativos que poderiam providenciar ajuda a LB autorreativos.
O esquema da página 290 ilustra os principais mecanismos de tolerância que operam em linfócitos. Apesar de se focar
primariamente em LT, é verdade que menciona a reedição de BCR, que é exclusiva de LB. No entanto, apesar de deleção e
reedição de BCR serem os mecanismos de tolerância central mais importantes para LB, a anergia e ignorância clonal também
podem ocorrer (como mecanismos de tolerância central – e periférica, menos importante - em LB, periféricos em LT).
293
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
A questão que se
coloca é a de qual é
a necessidade
existirem
mecanismos de
tolerância na
periferia se os
mecanismos de
tolerância central
são eficientes. A
resposta prende-se
com o facto de que
os mecanismos de
tolerância central
não são 100%
eficazes. No caso dos linfócitos T (também se aplica aos B), existem sempre linfócitos T autorreativos que
conseguem migrar para a periferia, ou seja, conseguem escapar ao processo de seleção negativa.
Além disso, apesar da expressão do fator de transcrição AIRE que garante expressão de muitos dos antigénios
expressos nos tecidos da periferia, nem todo o espetro de antigénios que um linfócito T pode encontrar na
periferia são expressos no timo (como antigénios que só aparecem em determinados períodos, por exemplo,
na puberdade) => contribui para que haja mais células T autorreativas (que reconhecem antigénios do próprio)
na periferia (fora dos órgãos linfoides primários).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Portanto, em células T CD4+ controlo que não expressem CD25 ou cadeia α do recetor de IL-2 e cujo tetrâmero
não é específico para GAD (MHC controlo sem um antigénio específico), possuem uma menor frequência, ou
seja, as células T efetoras específicas para esse antigénio não-específico são menos abundantes. Quando se usa
GAD, antigénio específico ou autoantigénio, na ausência de células T reguladoras (mais autorreativas), o número
de células específicas e autorreativas para este antigénio aumentam (5,3%). Conclui-se que na periferia existem
células T autorreativas.
Imunização de ratinhos saudáveis com autoantigénios pode quebrar tolerância e induzir autoimunidade:
Outra maneira de
evidenciar a presença de
células T autorreativas é de,
em ratinhos saudáveis,
imunizá-los com antigénios
self induzindo-lhes doenças
autoimunes como a
encefalomielite (por
injeção em B6/ratinho
saudável com MOG ou
myelin oligodendrocyte
glycoprotein).
Basicamente, usa-se um
adjuvante num animal
saudável, quebra-se-lhe a
tolerância por inserção de
um autoantigénio como o
myelin basic protein e o animal fica doente. Mas também há estirpes que não ficam doentes; isto deve-se ao
repertório nos ratinhos, isto é, o seu MHC que influencia a seleção tímica ou do repertório e a apresentação de
péptidos na periferia.
Assim, a quebra da tolerância na periferia faz-se por injeção de péptidos de autoantigénios em adjuvantes
fortes como o complete freunds adjuvant (CFA), que é um óleo mineral com microbactérias mortas. Ativam-se
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
TLRs e induz-se a inflamação, potenciando-se assim a apresentação de antigénios. A estirpe de ratinhos usada
é muito importante, pois nem todos ficam doentes. Por exemplo, em B6 não se conseguem induzir cardiopatias
com miosina cardíacas, mas em BALB/c já se consegue.
Principais mecanismos de
manutenção de tolerância na
periferia:
As células T reguladoras têm a capacidade de bloquear a ativação de células T efetoras (existem diversos
mecanismos pelos quais as Tregs podem exercer esta função).
Na periferia, células T autorreativas podem ser deletadas quando reconhecem o antigénio à superfície de uma
célula dendrítica.
Note-se que a presença de antigénios do próprio na periferia é devido a shading/oclusão de órgãos, etc em
situações de homeostasia, não sendo normalmente num contexto de inflamação. No entanto, uma lesão por
inflamação num órgão numa resposta imunológica extensa pode levar à apresentação de autoantigénios e levar
à ativação de células T autorreativas. Num contexto normal, os autoantigénios da periferia são apresentados na
ausência de coestimulação ou de moléculas coestimuladoras, podendo ficar anérgica, bloqueada ou morrer por
apoptose. Ainda assim, a apotose de células T autorreativas na periferia deve-se normalmente por activation-
induced cell death, onde uma célula T ativada autorreativa passa a expressar FAS e por interação com o ligando
de FAS, há morte celular programada desta célula. Mutações em FAS-FASL leva a linfoproliferação, doenças
linfoproliferativas em humanos.
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Ignorância:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
• O antigénio específico está presente em concentrações muito baixas (abaixo do threshold para
ativação do TCR) => célula não é ativada.
• O antigénio encontra-se sequestrado em “locais privilegiados” (exemplos: olhos, cérebro, testículos e
útero/feto). Um trauma no olho (uma simples cirurgia) pode levar à libertação destes antigénios e possível
desenvolvimento de oftalmia simpática (doença autoimune).
Um linfócito T autorreativo pode não ser ativado mesmo que o seu antigénio específico esteja presente na
periferia se este estiver pouco expresso ou presente num local onde os LT não possam aceder (onde não há
estabelecimento de respostas adaptativas, como os locais imunologicamente privilegiados).
Na oftalmia simpática existe um trauma no olho que resulta na libertação dos antigénios sequestrados, que
vão ser levados por células dendríticas (DCs) para gânglios linfáticos onde ocorre a ativação T. Aqui há a ativação
de células T autorreativas e vão migrar de volta para o olho, onde podem causar a doença autoimune.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Existem evidências de que pode existir indução de células T reguladoras na periferia, isto é, células T naive que
em dados contextos como na mucosa intestinal, na presença de TGF-β1 – citocina fundamental para esta
diferenciação em células T reguladoras na periferia. Estas células T reguladoras designam-se de pTreg ou
peripherally-derived Tregs (Tregs diferenciadas na periferia).
No entanto, quando em humanos (sangue periférico) ou ratinhos (gânglio linfático ou um baço) são tanto
células T reguladoras que vieram do timo como as que vieram da periferia. Em situações normais, as que migram
do timo encontram-se em maior quantidade do que as que são geradas na periferia. Existe um terceiro tipo de
células T reguladoras que são as iTregs ou induced Tregs (Tregs diferenciadas in vitro a partir de células T naive,
por ativação via TCR na presença de TGF-β1 e IL-2).
As células T reguladoras in vivo (tTregs e pTregs) – a tolerância é uma propriedade dos indivíduos – expressam
o fator de transcrição Foxp3 e são fundamentais para impedir a ativação de células T naive autorreativas
mediando a proliferação de células T efetoras. Mas a ação destas não é exclusiva para os LT CD4 +, e inclusive
conseguem atuar em linfócitos B, em células NK, LT CD8+, outras células do sistema imune inato como
macrófagos, etc. As células T reguladoras são capazes de regular a função de todas as células do sistema
imunológico.
O Foxp3 é o master transcriptional regulator destas células T reguladoras, sendo o fator de transcrição que
confere identidade a estas células e é fundamental para a geração destas células, sua função e manutenção
destas na periferia.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os humanos que possuem perda de função do fator de transcrição Foxp3, desenvolvem síndromes de
autoimunidade múltipla (diferentes órgãos afetados) sendo uma autoimunidade que começa muito cedo,
inclusivamente crianças que nascem logo com diabetes tipo I. É uma autoimunidade letal se as crianças não
forem submetidas a transplantes com células estaminais hematopoiéticas.
Por citometria de fluxo, observa-se que num indivíduo IPEX a população de Tregs que expressa Foxp3 e CD25
está ausente, em contraponto a indivíduos normais Foxp3+ CD25+.
300
Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Aula 25 – Autoimunidade
Autoimunidade:
- Resposta imunológica adaptativa a antigénios (Ags) do próprio que induz dano de tecidos e doença.
- As doenças autoimunes (DAI) afetam aproximadamente 5% da população ocidental, e a sua incidência tem
vindo a aumentar consideravelmente nas últimas décadas. Existem à volta de 80 DAI distintas.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Classificação em específica de órgão ou sistémica, dependendo da distribuição dos autoantigénios que são
reconhecidos pelos LT ou autoanticorpos.
• Específicas de órgão: Função efetora visa autoantigénio(s) restrito(s) a órgão(s) particular(es). Nalguns
casos, a destruição mediada pelo sistema imunológico do órgão alvo leva à cessação da reação autoimune (à
terminação desta resposta imunológica).
- Diabetes tipo I: início em idade muito jovem, causada por LT que reconhecem componentes das células β
pancreáticas produtoras de insulina, causando destruição destas com consequente perda de produção de
insulina e dependência de insulina exógena para a vida.
- Esclerose múltipla: DAI neurológica causada por células T autorreativas que reconhecem componentes do
SNC (sistema nervoso central), levando à destruição da bainha de mielina que envolve os nervos e disfunção
neurológica progressiva.
- Miastenia gravis: causada por autoanticorpos que reconhecem recetores de acetilcolina nos músculos,
bloqueando a ligação deste neurotransmissor e levando à fraqueza progressiva dos músculos (pode ser fatal).
• Sistémica: Causa inflamação em múltiplos órgãos porque os autoantigénio alvo estão presentes na
maior parte das células do corpo. Tendem a ser crónicas se não tratadas (autoantigénios não são eliminados).
- Lúpus sistémico eritematoso (SLE): resulta da produção de anticorpos dirigidos contra componentes celulares
comuns, especialmente proteínas nucleares, levando à formação de complexos imunes que bloqueiam vasos
sanguíneos (exemplo: dos rins) e causam progressivamente falência de órgão.
- Artrite reumatoide: DAI que aparece em idade mais tardia (em jovens é diferente), causada por anticorpos
contra antigénios proteicos citrunilados (citrunilação é a conversão do aminoácido arginina em citrulina,
modificação pós-traducional), induzindo a formação de complexos imunes que se depositam nas articulações e
levam à destruição progressiva destas via atividade do sistema do complemento.
Nota: nem todas as DAI podem ser estritamente classificadas. Dois exemplos:
- Anemia hemolítica autoimune (destruição de eritrócitos) pode ocorrer como entidade única (específica de
órgão – antigénios reconhecidos expressos pelos eritrócitos) ou conjuntamente com SLE/lúpus (sistémica).
As doenças autoimunes são geralmente causadas por respostas adaptativas a antigénios do próprio, mas há
uma exceção => IBD.
- Doença inflamatória do intestino (IBD), em humanos inclui Colite ulcerosa e doença de Crohn’s.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
A IBD é considerada uma doença autoimune (inclui as doenças autoimunes colite ulcerosa e doença de
Crohn’s) apesar do antigénio alvo reconhecido pelos linfócitos T não ser componente do próprio, mas sim
antigénios pertencentes à microbiota do intestino que de alguma forma se pode designar de self. É uma
resposta que visa primariamente um órgão que é o intestino.
Esta tabela indica uma lista de doenças consideradas autoimunes específicas de órgão ou sistémicas, onde se
encontra o ou os órgãos alvos de ação do sistema imunológico e o tipo de mediadores responsáveis pelo
estabelecimento da lesão do órgão.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Sabe-se que soro de doentes afetados por Miastenia gravis podem transferir esta doença para animais
saudáveis, demonstrando a patogenicidade dos autoanticorpos.
Os autoanticorpos em doenças autoimunes podem ser patogénicos, causadores de doença (como é neste
caso) ou podem ser biomarcadores de doenças. Esta última também é importante no diagnóstico de doenças
autoimunes por ELISA.
Um autoanticorpo só é patogénio se, por transferência do soro que contém esses autoanticorpos, conseguir
transferir doença para um indivíduo saudável. Usualmente usam-se ratinhos para testar a patogenicidade
desses autoanticorpos.
Usa-se o sangue recolhido de doentes com esta doença, pois o soro destes doentes
contem estes autoanticorpos. Por imunoprecipitação, usando-se lisados de músculo
conseguem-se identificar os autoanticorpos específicos para o recetor de acetilcolina.
Assim, a doença pode ser transferida para animais por transferência destes
autoanticorpos.
O conceito de “linked recognition” defende que os linfócitos T e linfócitos B têm de reconhecer determinantes
antigénicos na mesma molécula para que eficiente ativação de linfócitos possa ocorrer, isto obviamente no
âmbito de uma interação B-T específica. Assim, este conceito é válido para todos os exemplos de interação de
linfócitos B com T que se falou nas aulas teóricas, nomeadamente ativação de Linfócitos B por antigénios
dependentes de células T, interação T-B nos gânglios linfáticos, etc.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
As células mononucleares do sangue periférico contêm LT que se podem demonstrar in vitro que são
específicos para o recetor de acetilcolina, podendo ser expandidas a partir de células de um doente.
A gravidez é um setup natural que permite identificar a presença de autoanticorpos patogénicos em doenças
autoimunes. No caso de uma grávida que possua a doença de Graves (doença mediada por autoanticorpos
específicos contra o recetor da hormona estimuladora da tiroide ou thyroid-stimulating hormone receptor ou
TSHR), os autoanticorpos atacam especificamente a tiroide. Os anticorpos da classe IgG podem atravessar a
placenta (para o feto), isto é, os anticorpos contra a TSHR passam para o feto e o recém-nascido sofre de doença
de Graves. Atualmente o que se faz é o tratamento do bebé por plasmaferese que remove os autoanticorpos
patogénicos vindos da mãe, curando a doença no recém-nascido.
Em suma:
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Neste tipo de doenças autoimunes (como a encefalomielite ou EAE), os LT reconhecem autoantigénios (DT1
ou diabetes tipo 1, psoríase, EM ou esclerose múltipla) ou péptidos derivados da microbiota (IBD, doença
inflamatória do intestino) que são apresentados por moléculas de MHC do próprio.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
EAE é um modelo animal de esclerose múltipla que é induzida, no ratinho, por injeção de myelin basic proteins
(MBP) com o adjuvante complete Freund’s adjuvant e dependendo da estirpe pode ou não haver indução da
doença por esta proteína. Também são usados MOG’s (outros péptidos para imunização).
EAE é uma doença mediada por linfócitos Th17 que produzem IL-17 e Th1 que produzem IFN-γ e TNF-α, que
faz com que a transferência da doença de animais doentes para animais saudáveis seja eficiente.
Tanto anticorpos como linfócitos T efetores podem causar dano de tecidos em doenças autoimunes:
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1. RBC com anticorpos IgM e IgG associados são removidos de circulação por
interação com recetores Fc ou de complemento, expressos em macrófagos do
baço, sendo assim eliminados.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Os autoanticorpos contra
recetores podem funcionar como
agonistas ou como antagonistas.
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Eliminação ineficiente de complexos imunes contendo ácidos nucleicos promove uma produção excessiva
de BAFF e IFN-I que podem causar lúpus:
Células necróticas libertam ssRNA e células apoptóticas libertam dsDNA, de tal forma
que estes componentes são reconhecidos por anticorpos formando-se complexos
imunes que são reconhecidos via recetores Fc por células dendríticas plasmacitoides
(pDCs). As moléculas de cadeia simples de RNA e de dupla cadeia de DNA são
reconhecidas por recetores Toll no endossoma, TLR-7 e TLR-9, respetivamente. Aqui
ocorre a produção de IFN-α.
É uma forma pela qual se pensa que os autoanticorpos podem ser patogénicos,
nomeadamente neste caso em lúpus.
Outra forma pela qual os autoanticorpos via formação de complexos imunes podem
ser patogénicos:
Uma eliminação deficiente de complexos imunes (exemplo: redução da expressão de componentes do sistema
do complemento ou seus recetores em SLE/lúpus) levam à sua deposição em vasos no rim, articulações, etc, e
consequente ativação de fagócitos, via recetores Fc.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Linfócitos T em doenças autoimunes promovem dano de tecidos indiretamente via produção de citocinas
pró-inflamatórias ou diretamente por morte celular de células alvo:
Diabetes tipo I:
No pâncreas existem células α que produzem glucagina (glucagon), células β produtoras de insulina e células
δ produtoras de somatostatina. O que acontece é que os linfócitos T citotóxicos (CTLs) apenas induzem a
apoptose das células β pancreáticas produtoras de insulina (pois reconhecem antigénios específicos de células
β e não de células α e δ), na diabetes tipo 1. Portanto, as células α e δ escapam incólumes à ação dos CTLs e
continuam a libertar glucagina e somatostatina, respetivamente.
Por imunohistoquímica observa-se a insulina a castanho claro e a glucagina a castanho escuro (à esquerda) e
à direita observa-se a ação das CTLs onde a insulina praticamente desaparece por completo (as células β
pancreáticas são eliminadas mas as células α pancreáticas permanecem).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Nesta tabela encontra-se indicado um conjunto de doenças autoimunes mediadas por linfócitos T e qual o
tipo de LT envolvidos, sendo que geralmente estão envolvidos os Th1, Th17 e CTLs.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Ainda não se sabe muito bem como se dão as associações HLA-DAI, isto é, não
se sabe bem como os haplótipos específicos conferem maior probabilidade de
desenvolver a doença, mas pensa-se que pode ter a ver com apresentação de
antigénios a células T autorreativas. Isto é, na presença destes
haplótipos/alelos a apresentação antigénica a estas células T autorreativas
poderá ser mais
eficiente.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Existem diversos tipos de fatores genéticos de suscetibilidade a DAI independentes de HLA conhecidos (fora
da região de HLA), como: genes envolvidos na sinalização e fatores de transcrição, genes envolvidos na
imunidade inata (NOD2 e componentes da cascata do complemento, estes últimos muito importantes no
desenvolvimento de lúpus porque diminuem a eficiência de clearance/libertação destes complexos imunes e
de células apoptóticas), citocinas, recetores de citocinas ou moléculas envolvidas na sinalização das citocinas,
moléculas associadas a regulação de linfócitos (como CTLA-4, inibidor da ativação de LT e importante na função
das células T reguladoras, e Fcγ que confere um sinal inibitório a LB, envolvido na suscetibilidade a lúpus),
polimorfismos nos autoantigénios associados a desenvolvimento de doenças autoimunes, etc.
No caso de doenças poligénicas, existem diversos fatores de suscetibilidade. No entanto, existem outras
doenças autoimunes causadas por perda de um fator genético ou gene essencial para regulação de tolerância
imunológica. Por exemplo, mutações em AIRE que leva a APECED ou APS-1, CTLA-4 relacionado com a doença
de Graves, Foxp3 relacionado com a doença de IPEX e FAS em ALPS sendo causas monogénicas que conduzem
a mecanismos de autoimunidade. C1q em SLE, ATG16L1 em IBD, IL10Rα e IL10Rβ em IBD e polimorfismos em
INS (insulina) associada a baixa expressão no timo podem aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes
tipo 1 (não é causa única da doença).
Na tabela estão indicados um grupo de genes que estão associados ao desenvolvimento de autoimunidade.
No caso de alguns destes genes, mutações com perda de função são responsáveis sozinhas pelo
desenvolvimento de autoimunidade (exemplos: AIRE, FOXP3, FAS, C1q e CTLA4), e assim estes são considerados
causas monogénicas de autoimunidade. Noutros, como por exemplo o caso do gene INS (insulina), existem
variantes que estão associadas com o desenvolvimento de diabetes tipo 1 (DT1), mas estas variantes em INS
não desencadeiam sozinhas o desenvolvimento de DT1. Aumentam sim consideravelmente o risco de
desenvolver DT1. No caso de variantes na INS, o mecanismo envolve diminuição da expressão de insulina no
timo com consequente impacto no processo de seleção negativa.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
- Indução de tolerância (exemplos: doses baixas de IL-2 em DT1 ou diabetes tipo 1 por aumento de TRegs ou
transferência de Tregs para reverter a doença autoimune).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Esta tabela mostra anticorpos contra citocinas que estão a ser usados na clínica atualmente.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
A vacina BCG é usada no tratamento cancro de bexiga, inspirado por experiências de Lloyd Old em 1959.
Ao longo do tempo o conceito de vigilância imunológica foi recebido com aceitação/entusiasmo, mas em
determinados períodos este conceito não era tão bem recebido. Os tumores são componentes do próprio, onde
mecanismos de tolerância imunológica estabelecem respostas adaptativas contra esses mesmos componentes,
pelo que se esperaria que a eficiência de respostas antitumorais fosse limitada. A partir dos anos 2000, esta
vigilância e manipulação do sistema imunológico é considerada uma mais-valia. Algumas experiências
importantes foram: uma em que ratinhos imunodeficientes tinham respostam antitumorais menos eficientes
contra tumores inoculados; o aparecimento de inibidores de pontos de controlo (checkpoints) imunológicos
como CTLA-4, PD-1 e ligando de PD-1.
Em 2018, James Allison e Tasuku Honjo receberam o prémio nobel da Fisiologia/Medicina pela descoberta da
terapia contra o cancro por inibição de imunorregulação negativa.
- Proteção do hospedeiro contra infeções virais, impedindo assim o desenvolvimento de tumores induzidos
por vírus.
- Elimina células tumorais, uma vez que estas frequentemente expressam ligandos de recetores expressos em
células do sistema imunológico inato (tumores muitas vezes expressam ligandos ativadores de células NK) e
antigénios tumorais reconhecidos por recetores de antigénios expressos em linfócitos.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Estes resultados mostram que os linfócitos são essenciais no impedimento de desenvolvimento de tumores e
o papel do IFN-γ na proteção contra estes sarcomas.
Mostra-se ao lado a
percentagem de ratinhos WT
(imunocompetentes) e até aos
21 meses de idade, só 20% é
que desenvolveu lesões pré-
malignas ou adenomas sendo
que 80% nem desenvolveu
qualquer tipo de cancro.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
E, por fim, animais com 12 a 18 meses de idade sem LB, LT (RAG2KO) e impedidos de sinalizar para IFN-γ
(STAT1KO), a incidência de tumores é ainda maior (à volta de 80%).
As populações não-linfoides que produzem IFN-γ são as células NK, pelo que estas terão um papel
fundamental na prevenção de incidência de tumores (as Th1 são a população linfoide fundamental, por
excelência, produtora desta citocina e, portanto, também serão fundamentais).
- Remissão parcial de melanoma primário é comum, ao passo que que remissão espontânea total é muito rara.
- Histologicamente, lesões de melanoma que regridem estão associadas a infiltrados de linfócitos, expansão
clonal e acumulação de LT auxiliares, indicativos que rejeição envolve um mecanismo imunomediado.
2. Infiltração linfocitária em tumores sólidos (o tipo de infiltração linfocitária está associada a um prognóstico):
Neste paper procedeu-se à análise de células T que infiltram tumores (cancro de ovário). O cancro de ovário
é bastante letal porque o diagnóstico costuma já dar-se em fases muito tardias onde já existe
metastização/metastatização para a cavidade peritoneal.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
que a sobrevivência dos que possuíam células T intratumorais (CD3+) era muito superior à dos que não tinham
infiltração.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Se a transferência se der para um novo ratinho geneticamente igual, o tumor cresce. Mas quando se
transferem linfócitos T CD8 do animal de onde se retiraram as células antitumorais (o primeiro) para o novo
ratinho com tumor, as células T CD8 conseguem eliminar o tumor (isto é, os LT CD8 confere-lhes proteção
antitumoral).
Antigénios tumorais reconhecidos por linfócitos T humanos (e em ratinhos) pertencem a quatro categorias
(de duas classes, TSA e TAA):
1. Antigénios codificados por genes expressos exclusivamente por tumores (TSA; Tumor-specific antigens) –
não há muitos destes, pois a resposta imunológica contra estes antigénios seria extraordinariamente eficiente
(seria uma remissão eficiente);
2. Antigénios codificados por variantes de genes normais que sofreram mutação (TSA) – introduz algo
específico ao tumor, o que é bom para o combater.
1. Antigénios expressos apenas em alguns estadios do desenvolvimento ou por linhagens específicas (TAA;
Tumor-associated antigens). Por exemplo, antigénios expressos no desenvolvimento fetal são expressos após o
nascimento apenas em tumores.
2. Antigénios codificados por variantes de genes normais, que são sobreexpressos em alguns tumores (TAA).
Antigénios normais altamente expressos em células tumorais, funcionando como TAA.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Numa célula normal, péptidos que resultam de proteínas citosólicas são apresentados a moléculas de MHC
classe I a linfócitos T CD8+.
- Se ocorrer uma mutação no gene que codifica para a proteína citosólica, vão existir péptidos “novos” a serem
apresentados em MHC classe I, designando-se de neoantigénios (neoantigens), sendo antigénios específicos de
tumor (TSA). Também existem antigénios TSA específicos de “genes tumorais” (não representados).
- Se ocorrer expressão inapropriada em vida adulta de genes expressos no período embrionário – um exemplo
é a alfafetoproteína A (AFP, marcador para diagnóstico e monitorização de cancro) – existem
péptidos/antigénios apresentados oncofetais ou ainda a sobreexpresão destes mesmos antigénios/proteínas
associados a um tumor (TAA).
Muitos dos antigénios da tabela seguinte são utilizados em monitorização clínica e em imunoterapia.
Já houve tentativas de imunização com antigénios específicos de tumores para aumentar a eficiência das
respostas antitumorais.
Um exemplo: o CEA é um TAA muito frequentemente expresso por células tumorais do cólon e os níveis deste
antigénio (CEA) são controlados quando há suspeita de cancro do cólon. Isto faz-se observando os títulos de
anticorpos contra este autoantigénio, que tendem a aumentar num tumor. Com cirurgia e quimioterapia estes
níveis tendem a reduzir (os níveis portanto, pretendem observar a eficiência da quimioterapia).
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
Células tumorais, por morte celular ou lesão, libertam DAMPs que ativam células dendríticas (DCs). As DCs
fagocitam antigénios tumorais e migram via vasos linfáticos aferentes para os gânglios linfáticos onde ativam
LT CD8+ específicos para os antigénios tumorais apresentados no contexto de MHC classe I. Os LT CD8+ ativados
(citotóxicos, CTLs) migram para os tumores onde exercem a sua função.
As DCs que fagocitam antigénios tumorais também são eficientes a fazer o priming de células T CD4+. Apesar
destas não serem os mediadores mais importantes nas respostas antitumorais, estas são fundamentais para
uma eficiente diferenciação de CTLs. Assim, as DCs que apresentem antigénios a LT CD4 (MHC II) e LT CD8 é
extraordinariamente importante para a eficácia deste processo. Isto é, as respostas T CD4+ também são
importantes no contexto antitumoral.
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Imunologia: Rodrigo Barriga Alves nº 50958 Bioquímica FCUL 3º Ano 2019/2020
As DCs endocitaram antigénios de células tumorais e depois apresentam-nos a linfócitos T CD8+ que
reconhecem antigénios presentes no citosol. Isto é possível devido à existência de apresentação cruzada dos
antigénios tumorais a CTLs.
As células dendríticas fazem uptake de células (e antigénios) tumorais. Os antigénios presentes nas vesículas
endocitadas são boas para apresentação via MHC classe II (e ocorre), mas alguns destes antigénios vão para o
citosol, são processados e apresentados em MHC I (apresentação cruzada a linfócitos T CD8+).
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angiogénicos e de crescimento – e MDSC’s (myeloid-derived supressor cells) que inibiriam a atividade das células
efetoras primordiais nas respostas antitumorais como as CTLs e as Th1.
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A teoria vigente em termos de respostas antitumorais designa-se de imunoedição de cancro, sendo a resposta
antitumoral constituída por 3 fases (3E’s): eliminação (cancer immunosurveillance, LT CD8+ eliminam células
tumorais), equilíbrio (crescimento das células tumorais mantido sob controlo , apesar de que começa a existir
uma pressão seletiva do sistema imunológica para haver o aparecimento de mutações para escapar ao sistema
imunológico, seleção de clones de células tumorais) e escape (os tumores escapam por completo à ação do
sistema imunológico).
Na fase de eliminação estão envolvidas células T CD8+, NKT, NK, T CD4+ e macrófagos do tipo M1 e as citocinas
envolvidas são IFN-γ, IL-12 (ajuda na diferenciação de Th1), IFN-α/β (importante para aumento da expressão de
MHC classe I). Estes mecanismos levam a uma eliminação muito extensa de células tumorais.
A fase de equilíbrio, onde o cancro se encontra dormente, é mantida por T CD8+, T CD4+, IFN-γ e IL-12. A
posterior pressão seletiva do sistema imune faz com que haja células que escapem aos mecanismos do sistema
imunológico.
A fase de escape é mantida por macrófagos do tipo M2, MDSC’s, PD-L1, CTLA-4 em TRegs e em LT CD8+,
contribuindo para a progressão de cancro.
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Existem diversas
imunoterapias existentes
contra o cancro,
nomeadamente:
- Anticorpos monoclonais
contra proteínas expressas
por tumores: os anticorpos
monoclonais podem ou não
estar conjugados com
toxinas e se estiverem
conjugados induzem
apoptose direta da célula
maligna, tratamento usado
contra leucemias; anti-CD20
contra linfomas.
- Reinfusão de DCs
carregadas com TAA ex vivo
(fora do organismo): isolamento a partir de doentes com cancro células dendríticas e carregá-las com os tumor-
associated antigens específicos para o tumor e reeinfudi-las de novo no doente, esperando que as DCs sejam
capazes de ativar eficientemente respostas antitumorais mediadas por CTLs.
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- Expansão de TILs: faz-se rescisão do tumor de indivíduos doentes, isolando-se os linfócitos infiltrados no
tumor (TILs) e ou expandem-se-los (usando IL-2) ou modificam-se-los, infundindo-se-los de volta nos doentes.
Era uma terapia muito usada nos anos 2000.
- Células CAR-T específicas para proteínas expressas por tumores: para tratamento de leucemias, são
transferidas células T do doente e que são manipuladas de modo a expressar recetores que reconhecem
proteínas especificamente expressas pelos tumores, como as células T CAR que reconhecem CD19.
Expansão de TILs:
Terapias adotivas celulares na tentativa de superar barreiras que impedem respostas T antitumorais efetivas.
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Lista de anticorpos que foram aprovados, sozinhos ou associados a toxinas, aprovados para o tratamento de
cancro.
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Pode-se observar, por mera curiosidade, o que se tem tentado incluir na parte citoplasmática destas células
CAR-T para melhorar a resposta antitumoral.
FIM!!!!!
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