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IMUNOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 1

Introdução à Imunologia CAP. 1 - ABBINHAS / PROF. DANIEL


INTRODUÇÃO

OBS.: O que é imunologia? “Imuno” = Senado / “Logos” = Estudo. Imunologia é o estudo ou conhecimento de algo
que nos deixa protegido (deixa “Intocado”), o sistema imune.

O sistema imune é composto por órgãos, células de defesa e moléculas. Esse sistema tem a função de manter
a homeostase do organismo, para isso ele reconhece patógenos, reage a eles, responde, regenera, repara, elimina etc.
A função do sistema imune não é basicamente “proteger” ou “defender” o organismos.

Esse sistema imunológico, além de outras funções, tem a função de controlar alguns componentes que,
inclusive, fazem parte do próprio sistema. Porém, a função não é so exclusiva para defesa/agressão de patógenos.
Tendo em vista que ele é responsável pela manutenção da homeostase e para isso ele deve controlar componentes
próprios (células alteradas/tumorais, por exemplo) e componentes externos, entra a questão de quem são os
invasores, que irão desequilibrar o estado de homeostase e induzir o estado de doença?

ANTÍGENOS
Antígenos são componentes externos ao corpo que não apresentam normalmente reconhecimento dele, são
qualquer coisa que pode vir a ser reconhecida, que pode gerar ou não uma resposta imunológica. Podem ser e vir de
microrganismos (bactérias, vírus, protozoários etc.) ou até partículas não vivas do ambiente (ex.: pólen, pó da vale).

Há coisas que desencadeiam respostas do organismo, porém não são antígenos (Ex.: uma pancada). Existem
antígenos próprios, que são reconhecidos pelos sistemas, porém em situações de homeostase não geram resposta. O
que gera resposta é o reconhecimento de componentes/antígenos estranhos a minha composição.

OBS.: Para uma resposta antígeno-específica, são necessários 3 componentes: a célula que apresenta o antígeno,
o antígeno e a célula que reconhece esse antígeno. Na falta de qualquer um desses 3 componentes, não há
resposta antígeno-específica (resposta imunitária dependente de célula T).

Além disso, a maior fonte de substâncias estranhas que entramos em contato imediatamente vem da nossa
alimentação, porém criamos tolerância durante a vida aos antígenos alimentares, já que eles são apresentados num
ambiente anti-inflamatório (trato gastrointestinal), por isso uma resposta a eles é menos comum. Resumindo, o
reconhecimento de um antígeno num contexto anti-inflamatório inibe uma resposta.

OBS.: Células imunes associadas ao trato gastrointestinal estão sobre constante permanência de citocinas anti-
inflamatórias, duas delas são a Interleucina 10 (IL10) e a TGF, que suprimem a ativação da célula T.

Entretanto, pode ocorrer uma alteração nesse ambiente supressor durante a apresentação de antígenos e
essa apresentação das proteínas de alimentos (Ex.: camarão, chocolate) acontecer em um momento sem o ambiente
anti-inflamatório, gerando a possibilidade de resposta.

Sendo assim, percebe-se que a via de administração é importante para modular o tipo de resposta
imunológica. É a partir desse conceito que há a diferenciação entre vacinas subcutâneas, vacinas intramusculares etc.

Além da via de administração, a resposta imunológica depende de características genéticas do indivíduo,


quantidade de antígeno administrado e a característica mais alergênica/imunogênica do antígeno. Além disso, a
exposição antigênica ao longo da vida do indivíduo também interfere na ocorrência ou não de resposta.
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OBS.: Imunogenicidade é a capacidade do antígeno de gerar uma resposta imunológica. Existem antígenos mais
imunogênicos do que outros por causa da sua composição antigênica.

Resumindo, a exposição à antígenos por via oral, que são apresentados em um ambiente anti-inflamatório,
tendem a não induzir respostas imunológicas.

HISTÓRICO
Embora a imunologia seja uma ciência nova, existem indícios muito antigos dos
fenômenos imunológicos. Existe uma escrita, feita pelo historiador Tucídides em 430 a.C
durante a Guerra do Peloponeso. Durante essa guerra ocorreu um surto de peste que dizimou
uma grande quantidade de soldados, porém Tucídides percebeu que os indivíduos que
tomavam conta dos soldados doentes eram indivíduos que já tinham pegado a peste e
sobrevivido, então pessoas que pegaram praga uma primeira vez, não desenvolviam uma
segunda vez.

Nesse relato, Tucídides diz que ninguém adquiriu a doença duas vezes ou, se adquiriu,
o segundo ataque nunca foi fatal. Este é o primeiro relato sobre a memória imunológica, o
princípio da vacina.

A primeira vacina criada foi a da varíola. Edward Jenner,


o pai da imunologia, foi quem desenvolveu. Jenner fugiu do surto
de varíola indo para o interior, daí ele percebeu que as
ordenhadeiras tinham lesões nas mãos muito parecidas com as
de varíola. As ordenhadeiras eram as serviçais das fazendas, que
também eram colocadas para tratar dos doentes, porém nunca
se infectaram. Sendo assim, Jenner utilizou as secreções dos
machucados para “vacinar” o filho e a esposa, que desenvolviam
uma doença bem parecida com a varíola humana, porém não
fatal, e de fato não desenvolveram a varíola humana.

A varíola, inclusive, foi explorada no Brasil, em um relato de 1534 por um bandeirante chamado João Ramalho.
Ele utilizou da varíola para dizimar as populações indígenas goitacás, do Campo dos Goytacazes, pegando os corpos
dos portugueses, que tinham morrido de varíola, perto das tribos indígenas e as dizimava. Esse é um dos primeiros
relatos de utilização de arma biológica no mundo.

Outro relato importante no histórico da imunologia é a Revolta


da Vacina em 1904, onde Oswaldo Cruz foi um dos chefes numa
campanha de vacinação forçada.

Albert Calmette e Camille Guerin foram imunologistas


importantes também nesse histórico, com o desenvolvimento da BCG
(Bacilo Calmette-Guérin), que é a vacina utilizada até hoje em crianças
para a prevenção de tuberculose.

COMPONENTES DO SISTEMA IMUNE


As células do sistema imune são dividas em 2 grandes precursores, um precursor linfoide e um precursor
mieloide. O precursor linfoide vai dar origem às células linfoides (linfócito B, linfócito T e célula natural killer). O
precursor mieloide vai dar origem a todas as demais células (basófilos, monócitos, megacariócitos, eosinófilos etc.).

Os linfócitos B e T são células relacionadas à imunidade adaptativa, já a célula natural killer e as células da
linhagem mieloide estão associadas à imunidade inata.

OBS.: Imunidade inata é a imunidade que nasce com o indivíduo. Já imunidade adaptativa é a imunidade que se
adapta ao contato antigênico, a essa especificação, ela requer exposições para se adaptar a resposta.
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ÓRGÃOS LINFOIDES
Essas células, seja da imunidade inata ou da adaptativa, vão ter origem nos órgãos linfoides, que podem ser
divididos em primários e secundários. Os órgãos linfoides primários estão associados a geração e maturação das
células do sistema imune, como por exemplo medula óssea e timo, visto que a medula óssea produz os linfócitos B e
T e matura o linfócito B, já o timo é responsável pela maturação do linfócito T. Os órgãos linfoides secundários (pele,
baço, linfonodo etc.) são qualquer outro órgão, que gera o reconhecimento antigênico e a resposta imune.

Os órgãos linfoides primários são representados pelo timo e pela medula óssea. A medula óssea se encontra
principalmente nos ossos chatos e longos (fêmur, costela etc.). Já o timo se encontra no mediastino superior, e é um
órgão extremamente importante, principalmente para as respostas de células T. Além disso, o timo possui uma
característica importante que é sua involução a medida que envelhecemos, isso está diretamente relacionado a nossa
diversidade clonal, visto que quanto mais velhos ficamos, menos clones de células P e D temos, o que é um limitante
importante da imunidade, fazendo com que populações senis sejam mais suscetíveis a processos infecciosos.
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Os órgãos linfoides secundários são representados pelos linfonodos e outros órgãos como baço, fígado, entre
outros, que são os órgãos onde há o encontro antigênico e a resposta imunológica.

CIRCULAÇÃO LINFÁTICA
Outro fator importante no sistema
imune inato é a circulação linfática, onde vai
circular a linfa, num sistema independente
ao sistema circulatório sanguíneo. Esse
sistema drena os fluidos intersticiais para
dentro dos dutos/vasos linfáticos, que são
por sua vez conectados a órgãos linfoides
secundários, linfonodos principalmente.

Portanto, em termos de
importância, o baço é um órgão linfoide
secundário que está associado
principalmente a resposta de antígenos
sanguíneos, enquanto os linfonodos são
órgãos linfoides que estão associados a
antígenos teciduais. Então, quando o
antígeno não cai na circulação,
preferencialmente ele cai na drenagem
linfática e é apresentado em linfonodos, enquanto aqueles que caem na circulação são apresentados no baço.

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