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MECANISMOS BÁSICOS DE AGRESSÃO E

DEFESA

UNIDADE 4 - HIPERSENSIBILIDADE
Mauricio Peixoto

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Introdução
Nesta unidade, você irá conhecer aspectos relacionados às reações de hipersensibilidade, às doenças parasitárias
humanas e à resposta imunológica frente aos parasitas. Quando escutamos a palavra “parasita”, não imaginamos
quantos deles (protozoários e helmintos) podem causar danos à nossa saúde, não é mesmo? Você verá, contudo,
que existe uma variedade de parasitas que podem ser classificados quanto à sua relação com o hospedeiro e seu
ciclo biológico.
Em relação às inúmeras doenças parasitárias de que temos conhecimento, veremos, também, que existem vários
meios de transmissão. Os insetos são os vetores bem “adaptados”, que transmitem, por meio da picada, o
protozoário causador de uma doença. Assim, é possível citar alguns exemplos de doenças transmitidas por
insetos, como a malária, a leishmaniose e a doença de Chagas. Mas como podemos evitar essa transmissão? Você
descobrirá isso ao longo desta unidade.
Além disso, você sabia que muitos desses causadores de doenças, como os vermes, são bem maiores que nossos
macrófagos? Mas se eles são tão grandes, a ponto de o macrófago não conseguir fagocitá-los, como o sistema
imunológico atua? Para isso, você verá que nossa resposta imunológica utiliza de outra célula de defesa para
combater o inimigo. E o que tudo isso tem a ver com as alergias? Você consegue imaginar qual a relação que uma
infecção por helmintos possui com as alergias? Para responder a essas e outras perguntas, acompanhe esta
unidade com atenção!
Vem com a gente e bons estudos!

4.1 Reações de hipersensibilidade


No decorrer da resposta imune, ocorre a liberação de mediadores inflamatórios que aumentam a
permeabilidade vascular e o recrutamento de leucócitos, causando o infiltrado leucocitário (inflamação no tecido
local). A hipersensibilidade causa um dano no tecido em resposta inflamatória exagerada. A hipersensibilidade
se refere, então, às reações exageradas e indesejáveis que o sistema imune produz.

VOCÊ O CONHECE?
Robin Coombs (1921-2006) foi um imunologista britânico responsável por classificar,
juntamente com o imunologista Philip Gell, as reações de hipersensibilidade em quatro tipos (I,
II, III e IV), em 1963. Os pesquisadores se basearam nos mecanismos efetores responsáveis
pela lesão e no tipo de resposta imunológica. A classificação proposta por eles ainda na década
de 1960 é utilizada até os dias atuais.

As reações de hipersensibilidade podem ser classificadas em quatro tipos. São eles: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV
(ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2017).

4.1.1 Tipos de reações de hipersensibilidade


A seguir, você conhecerá os quatro tipos de reações de hipersensibilidade, compreendendo como eles ocorrem e
conhecendo os seus mecanismos efetores. Clique nas abas para aprender mais sobre o tema.

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Tipo I (imediata)
Trata-se de uma reação de hipersensibilidade mediada pela ige, na qual as células que possuem maior
participação são os mastócitos. Sua participação tem início com a sensibilização, que ocorre quando há a ligação
dos receptores de fcεri expressos na sua superfície aos anticorpos ige. A produção de anticorpos ige acontece em
resposta imunológica de padrão TH2 contra antígenos que, teoricamente, não oferecem risco ao hospedeiro. Um
exemplo são as pessoas que possuem alergia à proteína do leite de vaca: para os indivíduos que não possuem
essa alergia, essa proteína não causa nenhum problema. As reações alérgicas com ação de ige e mastócitos são,
portanto, chamadas de reações de hipersensibilidade do tipo I.

Tipo II (citotóxico)
Conhecida como hipersensibilidade citotóxica, pode atingir vários órgãos e tecidos. A reação do tipo II pode ser
“disparada”, na maioria das vezes, pelos antígenos endógenos, porém, alguns agentes químicos exógenos
(haptenos) podem se ligar à membrana celular e iniciar a reação de hipersensibilidade. Essa reação inicialmente
é mediada pelos anticorpos igg e igm. As células fagocíticas e as NK também participam desse tipo de reação.

Tipo III (imunocomplexos)


É também chamada de hipersensibilidade mediada por imunocomplexo. Nesse tipo de reação, os anticorpos igg e
igm podem formar imunocomplexos que se depositam nos tecidos e, assim, ativam o sistema complemento.
Os imunocomplexos possuem concentrações semelhantes de alérgenos e anticorpos, o que ocasiona uma reação
inflamatória cutânea e subcutânea (reação de arthus).

Tipo IV (tardia)
Conhecida como reação de hipersensibilidade tardia mediada por células T. Aqui, o alérgeno causa uma reação
inflamatória na derme por contato direto.

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Quadro 1 - As reações de hipersensibilidade são geradas por respostas imunológicas contra antígenos não
associados a patógenos, causando uma reação/doença séria. Essas reações são mediadas por mecanismos do
sistema imune que causam lesão ao tecido.
Fonte: ABBAS, LICHTMAN, PILAI, 2015; ABBAS, LICHTMAN, PILAI, 2017; MURPHY, 2014.

No quadro anterior, é possível verificar exemplos de reações de sensibilização para cada tipo de reação de
hipersensibilidade. Mas como tratar essas reações? A seguir, você descobrirá como isso acontece, por meio das
terapias de dessensibilização.

4.1.2 Terapia de dessensibilização


A dessensibilização é o tratamento para as reações de hipersensibilidade. Nessa terapia, o indivíduo recebe
repetidamente injeções do agente alérgeno, começando o tratamento com doses pequenas, e aumentando com o
passar do tempo.

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VAMOS PRATICAR?
O sistema imunológico é composto por diversas células e é responsável pela identificação e
eliminação de substâncias potencialmente prejudiciais aos organismos. O indivíduo pode
desenvolver reações alérgicas caso o sistema imune se torne hipersensível. As
imunoglobulinas – ou anticorpos – são responsáveis pelo desencadeamento das reações
alérgicas, e nesse processo, a IgE, em especial, liga-se aos alergênicos e ativa os mastócitos.
Uma vez ativados, eles liberam histaminas que causam os sintomas clássicos das alergias,
como espirros, tosse, vermelhidão e falta de ar.
Nesta atividade, você irá exercitar sua capacidade de pensar sobre uma situação relacionada às
alergias.
Situação-problema:
Várias pessoas possuem alergias a alérgenos ditos normais, como poeira, camarão, frutos do
mar, proteína do leite e picadas de insetos. Mas você já imaginou ser alérgico à água? Essa
alergia foi descrita em 1964 e causa lesões na pele pouco tempo após o contato com a água,
que dura entre dez a quinze minutos e, junto com as lesões, tem-se uma grande coceira,
inchaço e vermelhidão da pele. Se você fosse um médico e recebesse um paciente com os
sintomas de alergia à água, quais medidas profiláticas e para tratamento você indicaria?

Esse tratamento de dessensibilização altera o isotipo do anticorpo de IgE para IgG. Sem a presença de IgE, não
ocorre a sensibilização dos mastócitos e, como resultado, não ocorrem os efeitos prejudiciais que são observados
com a ativação exagerada dos mastócitos.

4.2 Parasitas
Por definição, o parasitismo é qualquer relação ecológica que ocorre entre indivíduos de espécies diferentes, em
que se observa uma dependência metabólica de grau variável, além de uma associação íntima e duradoura entre
eles (REY, 2009). Os parasitas, quando analisamos sua relação com o hospedeiro, podem ser classificados em
estenoxenos ou eurixenos. Os estenoxenos são aqueles que parasitam apenas uma ou poucas espécies muito
próximas de hospedeiros, como o Ascaris lumbricoides. Já os eurixenos parasitam uma enorme variedade de
hospedeiros, como é o caso do Toxoplasma gondii.

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Figura 1 - Um representante dos parasitas eurixenos é o Toxoplasma gondii, que durante seu ciclo de vida possui
uma variedade de espécies que servem como hospedeiros. A transmissão para humanos e outros mamíferos
ocorre por meio da ingestão de oocistos de fontes contaminadas.
Fonte: Blamb, Shutterstock, 2019.

As doenças causadas por protozoários têm como característica importante sua disseminação por longas
distâncias. Uma vez que várias dessas doenças são transmitidas por insetos, conhecidos como vetores, os
protozoários atingem várias regiões, podendo infectar os humanos.

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VAMOS PRATICAR?
Inúmeras parasitoses são transmitidas por insetos vetores, dentre elas a malária, a doença de
Chagas e a leishmaniose. Outras são transmitidas pela falta de saneamento básico e pela
ingestão de água contaminada. Temos, como exemplo, a giardíase, causada pela Giardia
lamblia, a esquistossomose, entre outras doenças.
Nesta atividade, você vai exercitar sua capacidade de pensar sobre uma situação relacionada
às doenças parasitárias.
Situação-problema:
A Organização Mundial da Saúde apresenta inúmeras medidas para a prevenção das doenças
parasitárias. Para preveni-las, é necessário, então, conhecer o transmissor e o ciclo das
doenças. Suponha que você seja um agente de saúde que está visitando áreas endêmicas para
várias doenças parasitárias causadas por protozoários ou helmintos. Conforme o histórico
local, quais as medidas preventivas que você irá indicar para os moradores daquele ambiente?

Durante seu ciclo de vida, em determinada fase, os protozoários sobrevivem no interior da célula hospedeira
(REY, 2009).

4.2.1 Ciclo biológico


Existe uma variedade muito grande de parasitas que podem desenvolver seu ciclo biológico de duas maneiras
possíveis. Assim, quanto ao seu ciclo biológico, os parasitas podem ser monóxenos ou heteróxenos (REY, 2009).

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Figura 2 - O verme Ascaris lumbricoides, um exemplo de parasita monóxeno, causa a ascaridíase, uma doença
que é transmitida aos seres humanos pela ingestão de ovos. O Ascaris cresce e se reproduz no corpo humano, e a
produção de ovos ou larvas é passada pelas fezes para o meio ambiente.
Fonte: Designua, Shutterstock, 2019.

Os parasitas monóxenos necessitam somente de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida. São exemplos
de parasitas monóxenos os Ascaris, os Enterobius e os Strongyloides.

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Figura 3 - O Plasmodium (parasita heteróxeno) é o causador da malária, doença parasitária que é transmitida
aos seres humanos pela picada de um mosquito Anopheles infectado.
Fonte: solar22, Shutterstock, 2019.

Diferentemente dos parasitas monóxenos, os heteróxenos necessitam de dois ou mais hospedeiros para
completar seu ciclo de vida. Dentre os representantes desse grupo, temos a Taenia, o Plasmodium, o
Trypanosoma e a Leishmania.

4.2.2 Formas de prevenção


Muitas doenças parasitárias são transmitidas por insetos, que chamamos de vetores. Temos como exemplo
dessas doenças a malária, que é causada pelo protozoário Plasmodium spp., transmitido pelo inseto Anopheles.
Podemos citar também a leishmaniose, doença causada por protozoários do gênero Leishmania, que são
transmitidos pelo flebótomo, inseto da subfamília dos flebotomíneos.

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VAMOS PRATICAR?
Como vimos, oToxoplasma gondii, um parasita eurixeno, pode parasitar uma enorme
variedade de hospedeiros, ocasionando, por exemplo, a toxoplasmose. Essa doença pode ser
transmitida de diversas formas, dentre elas, pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
A fase aguda da doença tem cura, porém, o parasita pode ficar sem manifestar nenhum
sintoma por vários anos.
Nesta atividade, você vai exercitar sua capacidade de pensar sobre uma situação relacionada
aos efeitos dessa doença em uma gestante.
Situação-problema:
Quando uma gestante descobre que está grávida, dentre os inúmeros exames que são
solicitados, está o exame de toxoplasmose. A toxoplasmose pode ser transmitida pela ingestão
de água e alimentos contaminados, mas também pelas fezes de gatos e outros felinos. Qual a
atitude que você, na posição de um médico obstetra que acompanha uma gestante que possui
gatos em casa, mas que teve resultado negativo em seu exame para os anticorpos da
toxoplasmose, tomaria para evitar a contaminação pelo Toxoplasma gondii?

A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, tem como via de transmissão principal o
inseto triatomíneo, popularmente conhecido como barbeiro. Porém, sabe-se que esse protozoário também pode
ser transmitido por via oral, como observado em vários casos no Norte do país, por meio do consumo de açaí.

Figura 4 - Várias doenças parasitárias têm como vetor os insetos. Na figura, podemos ver um triatomíneo,
popularmente conhecido como barbeiro, transmissor da doença de Chagas.
Fonte: schlyx, Shutterstock, 2019.

Para as doenças em que o modo de transmissão é a picada de um inseto, as medidas de prevenção são: utilização
de mosquiteiros e telas de proteção em portas e janelas; uso de repelentes; medidas que interrompam o ciclo de
reprodução e desenvolvimento do inseto (REY, 2009).

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VOCÊ O CONHECE?
O biólogo, médico sanitarista e cientista Carlos Chagas descobriu e descreveu pela primeira
vez, em 1909, um ciclo completo de uma doença infecciosa. Sua descoberta passou pelo
patógeno (Trypanossoma cruzi), seu inseto vetor (barbeiro), os hospedeiros, epidemiologia e
as manifestações clínicas até a doença, que recebeu seu nome: doença de Chagas.

Contudo, existem mais vias de infecção pelos protozoários, como aquelas que são causadas pela falta de
saneamento básico e pela ingestão de água contaminada. Temos como exemplo disso a giardíase, causada pela
Giardia lamblia, que é transmitida pela ingestão de água contaminada com os ovos da giárdia.

Figura 5 - Uma das causas que contribuem para o aumento das doenças parasitárias no Brasil e no mundo é a
falta de saneamento básico.
Fonte: Phatranist Kerddaeng, Shutterstock, 2019.

Assim como a giardíase, outras parasitoses podem ser transmitidas pela ingestão de água contaminada. Para
esses casos, a prevenção se dá por meio de medidas como as elencadas a seguir. Clique e confira!

Acesso à água potável e ao saneamento básico.


Lavar bem os alimentos antes de consumi-los.
Beber somente água filtrada ou fervida.
Ter hábitos de higiene pessoal.

Mantenha-se concentrado e aprenda mais sobre as doenças parasitárias humanas e à resposta imunológica
frente aos parasitas

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4.3 Doenças parasitárias e resposta imunológica frente a
parasitas
As doenças parasitárias são iniciadas quando um fungo, helminto, ectoparasita ou um protozoário consegue
ultrapassar as barreiras imunológicas do nosso corpo. Esses parasitas podem causar diversos danos, diretos ou
indiretos, aos tecidos do hospedeiro. Os danos causados nos tecidos de forma direta são aqueles cujos
mecanismos são mediados pela produção de exotoxinas ou endotoxinas que causam danos citopáticos diretos às
células hospedeiras. Já os danos causados de forma indireta ocorrem com a formação de imunocomplexos,
imunidade celular e a produção de anticorpos contra o próprio hospedeiro.

VOCÊ QUER LER?


Flávio Chame Barreto apresenta, em seu livro “Os parasitas mais importantes do Brasil: das
amebas aos governantes”, as principais parasitoses de interesse médico no país. Para isso, ele
faz uso de várias ilustrações, mostrando, de forma didática e bem-humorada, como se
desenvolvem essas parasitoses, e apresenta, ainda, de modo crítico, como a população e os
governantes devem agir para controlar e prevenir tais doenças (BARRETO, 2017).

Em virtude das diferentes características dos parasitas, as infecções podem se desenvolver no espaço
extracelular (no caso de protozoários, fungos, algumas bactérias e helmintos) ou intracelular (no caso de vírus,
alguns protozoários e microbactérias).

4.3.1 Infecções no espaço extracelular e intracelular


Os parasitas que têm preferência pelo espaço extracelular precisam inicialmente vencer as barreiras
imunológicas. A primeira barreira a ser vencida é o epitélio, que elimina os parasitas por meio de peptídeos
antimicrobianos, um importante mecanismo do sistema inato. Os anticorpos IgA também podem neutralizar os
parasitas que conseguem passar pelo epitélio. Caso o parasita tenha ultrapassado a barreira imunológica, os
fagócitos residentes, neutrófilos, proteínas do complemento e várias classes de anticorpos entram em ação para
eliminar o patógeno e, assim, proteger o interstício, o sangue e a linfa (ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015).
Alguns exemplos de parasitas que têm preferência pelo espaço extracelular são:
• vermes intestinais – Ancylostoma, Necator;
• vermes na linfa – Filária;
• vermes no sangue – Schistosoma;
• protozoários gênito-urinários – Trichomonas;
• protozoários intestinais – Giárdia.

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VOCÊ QUER VER?
O documentário Esquistossomose: quebrando o ciclo, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz
em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), mostra
a situação da esquistossomose no Brasil. Essa doença é predominante em regiões onde não
existe saneamento básico disponível para a população. Diante disso, o documentário mostra a
importância de se conhecer o ciclo, o agente etiológico e as formas de transmissão da doença
para que, assim, possamos tomar as medidas preventivas cabíveis para o seu combate. Confira
o documentário em: <https://www.youtube.com/watch?v=w7RXt8d1u6g>

Diferentemente dos parasitas que vivem no meio extracelular, há os que necessitam sobreviver no espaço
intracelular, seja no citoplasma (como os vírus) ou dentro de vesículas no interior das células (por exemplo,
Mycobacterium spp. e Leishmania spp.). Caso o patógeno desenvolva a infecção no citoplasma, a eliminação se dá
via atividade citotóxica. Agora, se o parasita causa a infecção no interior de vesículas, a eliminação ocorre via
ativação dos macrófagos com a ajuda das células T e NK.

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Figura 6 - Invasão e disseminação do Toxoplasma gondii na célula do hospedeiro. O Toxoplasma gondii é um
protozoário parasita intracelular obrigatório que causa a toxoplasmose.
Fonte: Designua, Shutterstock, 2019.

São exemplos de parasitas que têm preferência pelo espaço intracelular:


• Toxoplasma gondii (toxoplasmose);
• Plasmodium sp. (malária);
• Trypanosoma cruzi (doença de Chagas);
• Leishmania sp. (leishmanioses).

4.3.2 Infecções causadas por helmintos


Popularmente chamados de vermes, os helmintos são organismos multicelulares e maiores que os macrófagos
(célula fagocítica importante na ação do sistema imune). Eles podem parasitar o corpo humano e, assim,
desenvolver uma doença.

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VOCÊ QUER LER?
O livro “Medicina no Brasil Imperial: clima, parasitas e patologia tropical”, de Flávio Coelho
Edler, mostra a origem dos estudos na área de medicina tropical enfocando, em especial, as
doenças causadas por helmintos e toda a trajetória do pensamento médico do século XIX
(EDLER, 2011).

Clique nas setas e conheça mais sobre o tema.


Por terem um tamanho bem grande, impossibilitando os macrófagos de realizarem a fagocitose, o sistema imune
utiliza outra estratégia para eliminar esses vermes. A principal célula que combate os helmintos são os
eosinófilos, que ao serem recrutados para os locais de infecção, eliminam seus grânulos. Inúmeras moléculas
tóxicas para o parasita são liberadas, dentre elas as enzimas, as proteínas toxicas, as citocinas, os mediadores
lipídicos, as quimiocinas e a MBP (proteína básica principal).
A MBP é altamente tóxica para os vermes, e sua ação estimula a desgranulação dos basófilos e mastócitos. Além
das células já mencionadas, os linfócitos T CD4+ e B também combatem a infecção causada pelo helminto
(COURA, 2013).
O linfócito T CD4+, ao se diferenciar em linfócito TH2, aumenta a resposta de combate ao verme. Os linfócitos
TH2 liberam as citocinas IL-4 e IL-5. A IL-4 é responsável pela troca da classe do anticorpo por células B
ativadas, induzindo à secreção de IgE, que é responsável, por sua vez, por intermediar o processo de ativação dos
eosinófilos. Já a IL-5, juntamente com o GM-CSF (fator de estimulação de macrófagos e granulócitos), estimula a
produção de eosinófilos na medula óssea. O aumento de eosinófilos circulantes leva ao quadro de eosinofilia
(ABBAS; LICHTMAN; PILAI, 2015).

Figura 7 - A degranulação (ou desgranulação) é um processo inflamatório nos mastócitos. A interação antigênica
com moléculas de IgE na membrana celular faz com que as células liberem os grânulos.
Fonte: Soleil Nordic, Shutterstock, 2019.

Os anticorpos IgE vão se ligar à superfície do helminto e estimular a ativação de mastócitos, basófilos e

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Os anticorpos IgE vão se ligar à superfície do helminto e estimular a ativação de mastócitos, basófilos e
eosinófilos, que possuem expressos na sua superfície o receptor FcεR. No momento que os parasitas estiverem
cobertos com os anticorpos à sua superfície viram alvo das células que tenham receptores da porção Fc dos
anticorpos em questão. Com a ligação, ocorre a liberação do conteúdo de seus grânulos diretamente no local da
ligação com o parasita (FERREIRA, 2012).

CASO
Como vimos, os linfócitos TH2 liberam várias citocinas que são responsáveis pela troca da
classe do anticorpo para a IgE. Os anticorpos IgE secretados podem ter dois destinos: ligar-se à
superfície do verme que deve ser combatido ou, em vez de se ligar ao helminto, o anticorpo IgE
pode também se ligar ao receptor FcεRI expresso na superfície dos mastócitos. Aqui, vemos
uma ligação entre as alergias e as respostas contra os helmintos. Isso mesmo que você leu! Nas
alergias, os mastócitos ficam sensibilizados por meio da ligação dos FcεRI que estão presentes
na superfície dos mastócitos com a porção Fc da IgE. A IgE mantém o sítio de ligação dos
antígenos livre, enquanto estão ligados ao receptor do mastócito. Nas pessoas alérgicas, os
sintomas comuns no quadro alérgico se dão quando ocorre a ligação de duas moléculas de IgE
que estão ancoradas no receptor FcεRI, disparando a desgranulação dos mastócitos.

Os linfócitos TH2 também impedem que os helmintos se infiltrem nos tecidos dos hospedeiros. Isso porque as
citocinas liberadas têm a capacidade de elevar a produção de muco, aumentar as contrações das células
musculares lisas e estimular a troca das células epiteliais, maneiras de o epitélio expulsar o invasor (ABBAS;
LICHTMAN; PILAI, 2015).

4.3.3 Infecções causadas por protozoários


Os protozoários possuem algumas características que permitem uma evasão imunológica, dificultando a ação do
sistema imune.

VOCÊ SABIA?
A variedade antigênica que os protozoários possuem ajuda no escape do nosso sistema
imunológico. Um exemplo disso são os tripanossomas africanos, que possuem somente uma
glicoproteína revestindo sua superfície e que podem ser alvos dos anticorpos do hospedeiro.
Entretanto, um enorme número de genes pode codificar as proteínas que revestem esses
tripanossomas, resultando em uma enorme variedade de proteínas com propriedades
antigênicas distintas.

Clique nas abas e amplie seus conhecimentos sobre o assunto.

Para combater as infecções causadas pelos protozoários, o sistema imunológico inicia sua

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Para combater as infecções causadas pelos protozoários, o sistema imunológico inicia sua
Protozoários
ação via linfócitos T CD4+, em especial pela resposta padrão TH1, visando aumentar a ação
dos macrófagos.

Os macrófagos e as células T podem produzir uma quantidade muito grande de citocinas


Macrófagos
IFN-γ e TNF-α em resposta às infecções causadas por esses protozoários, e essa produção
e as células T
exagerada pode agravar os sintomas dessas enfermidades (COURA, 2013).

Sabe-se, ainda, que o anticorpo IgG também auxilia no combate às infecções causadas por
Anticorpo
protozoários, porém, os mecanismos envolvidos nesse combate ainda não são conhecidos
IgG
(FERREIRA, 2012).

Dentre as doenças causadas por protozoários que causam inúmeras mortes no mundo, estão a malária e a
doença de Chagas, ambas consideradas doenças negligenciadas. As doenças negligenciadas são aquelas que
atingem, especialmente, as populações que vivem na pobreza e, por isso, não despertam tanto interesse do poder
público, recebem pouco investimento em pesquisa para novos medicamentos e para atividades de prevenção.
Agora, clique nas setas abaixo e confira mais sobre essas doenças.
A malária, causada pelo Plasmodium, é transmitida pelo mosquito do gênero Anopheles, responsável por
“injetar” durante a picada o protozoário na sua forma esporozoito. Esses esporozoitos invadem os hepatócitos,
onde se reproduzem até o momento em que se rompem e liberam na corrente sanguínea os merozoitos.
Os merozoitos, por sua vez, infectam os eritrócitos, e no seu interior, multiplicam-se até provocar seu
rompimento. Tanto os esporozoitos como os merozoitos, quando se encontram no meio extracelular, viram alvos
dos macrófagos. A ação citotóxica das células T CD8+ é especialmente importante no ataque a hepatócitos
infectados.
Os eritrócitos, por serem alvos dos merozoitos, tornam o baço um local importante para a ativação das células do
sistema imune. Macrófagos e células dendríticas produzem grande quantidade de TNF-α e IL12, levando ao
aumento da produção de IFN-γ por células NK e potencializando a ativação de células T CD4+.
Ocorre também a ativação das células B em plasmócitos e, consequentemente, produção e secreção de
anticorpos contra os antígenos dos plasmódios. A forma grave da doença é decorrente da resposta exagerada
dos mecanismos efetores do sistema imune.
A outra doença de relevância causada por um protozoário é a doença de Chagas. Essa doença é causada pelo
Trypanosoma cruzi e é transmitida pelos triatomíneos, insetos hematófagos. Após se alimentarem com o sangue
do hospedeiro, eles defecam e, junto, eliminam a forma infectante do Trypanosoma, os epimastigotas.
As células-alvo das formas infectantes são os macrófagos, os fibroblastos, as células musculares lisas e estriadas,
as células de Schwann e as células da micróglia. Uma vez que uma célula é parasitada pelo Trypanosoma, os
parasitas se multiplicam até causar o seu rompimento, liberando, assim, a forma tripomastigota.
No momento do rompimento, também são liberados fragmentos da própria célula no meio extracelular, o que
desencadeia uma resposta inflamatória local. A ativação contínua do sistema imune é a responsável pelos danos
causados nos tecidos, principalmente nos casos crônicos da doença.

Síntese
Chegamos ao final desta unidade, que abordou as reações de hipersensibilidade, doenças parasitárias e a
resposta imunológica frente aos parasitas.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• identificar os diferentes tipos de hipersensibilidade;
• conhecer os mecanismos de danos mediados pelo sistema imune;
• compreender o conceito de parasitismo;

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• conhecer os mecanismos de danos mediados pelo sistema imune;
• compreender o conceito de parasitismo;
• explorar os principais tipos de parasitas e seus diferentes tipos de ciclos biológicos;
• conhecer as formas de prevenção aos parasitas;
• inteirar-se sobre as infecções no espaço extracelular e intracelular;
• aprender sobre as infecções causadas por helmintos e protozoários.

Bibliografia
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