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CURITIBA
2020
O filme 28 dias se passa em uma clínica de reabilitação privada e conta a
história de uma mulher que faz uso abusivo de álcool e medicações. Desde o princípio,
vamos tendo notícias dos efeitos que essa substância produz em sua vida - uma
relação afetiva atravessada pelas drogas, desafetos com a irmã e problemas com a
terapia para que note que possui uma relação problemática com as substâncias e
memórias de infância em que ela e sua irmã cuidavam de sua mãe que também fazia
uso abusivo de álcool. ‘’Se não é para se divertir, qual o ponto?’’, sua mãe dizia. Essas
lembranças boas de diversão com sua mãe, estas eram recheadas de riscos e
sofrimento às duas crianças. Essa ambivalência constitui também o uso das drogas: há
morte permeando esta relação. Logo, não é possível uma satisfação plena por meio do
uso, há elementos que escapam, e diante disso, Gwen percebe que seu uso tal como
estava a direcionava para uma aniquilação de si, precisando, portanto, apontar para
uma mudança.
algo na subjetividade dos sujeitos. Por essa razão, não basta um ‘’querer parar’’, mas,
ao mesmo tempo, talvez não seja possível prescindir disso para que a relação abusiva
pode pedir ajuda, que ela pode cuidar e ser cuidada, que não é só o noivo que pode a
amar, que sua irmã a ama mesmo com todas as problemáticas. Essa nova dinâmica
que se abre ao longo do filme possibilita que Gwen saia da repetição do uso abusivo de
modo a introduzir novos objetos para se destinar. Como diz um personagem do filme a
diferentes’’, no mesmo sentido, é pela linha de fuga da repetição que Gwen introduz
Outro ponto a ser levantado é que, neste filme, a única via para produção de
brechas para o vício é pela abstinência completa. Não por acaso, um dos pacientes
comenta que a cada 10, 7 pessoas irão retornar à clínica. Ou seja, embora seja um
modelo de tratamento possível e possa dar certo para alguns, há um imperativo que se
mostra impossível para outros. Esse tipo de produção cinematográfica pode muito bem
fardo para aqueles que diante da abstinência ‘’não deram conta’’ e por isso voltariam
ao uso. Afinal, ‘’deus dá o frio conforme o cobertor’’ e se alguém não suportou, talvez
Ademais, após a pesada cena em que a jovem morre por overdose, a palestra
do dia foi num tom de ‘’é isso que acontece quando você usa mais uma vez, a droga
pode te matar’’. O que reduz toda a dinâmica psíquica complexa da relação com a
droga, de ser algo que pode ser destrutivo mas que também dá prazer ao sujeito, para
cair em uma moralização simplista que finca seu imperativo na culpa e no medo - em
padrinho, tenha uma planta, se em um ano ela não morrer, compre um animal, se em
um ano não morrer, você pode ter uma relação sexual. Como vemos no final, o
sofrimento pode ser grande para aqueles que seguem essa lei e não dão conta de uma
etapa, gerando culpa, sensação de que é um fracasso e nunca mais poderá ter prazer
na vida. Parece que diante dessa abordagem o estigma de ‘’viciado’’ irrompe em todos
os aspectos da vida do sujeito, cabendo a ele aceitar esse lugar de renegar prazeres
tidos como ‘’fáceis’’ para ser considerado um bom reabilitado. Nesse sentido, ao seguir
sustentando toda uma indústria que fatura em cima daqueles que não se encaixam na
lógica de abstinência.