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CONCEPÇÕES DE SAÚDE
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A cura pela mente
dele e marcando a identidade entre o homem e o Cosmos, entre o Todo e as
suas partes.
Platão admite que, na alma, a saúde consiste numa boa
ordem, o bom equilíbrio das suas crenças, saberes,
sentimentos e impulsos, em suma, o equilíbrio psíquico e
moral que denominará sofrosine3 (VALLS, 1994).
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Temperança. Virtude da serenidade, equivale ao autodomínio, à harmonia
individual.
forma de liberdade inquestionável. O vício, já ensinava Sócrates (PLATÃO,
2007) em seu diálogo com Alcibíades, é a escravidão, portanto, livramos
dos vícios através do cuidado de si mesmo é uma forma de liberdade.
Nesse diálogo Sócrates ensina Alcibíades que para podermos
cuidar de nós próprios é necessário que nos conheçamos profundamente,
pois só cada um conhecendo o que é, como é e o que pensa, pode realmente
cuidar de si a partir desse conhecimento de si.
Revel (2005) afirma que o cuidado de si é uma retomada do
epimeleia heautou, o que corresponde a um ideal ético de transformar a
vida pessoal em um objeto da tekhnê, ou seja, tornar a própria vida em uma
obra de arte. Não em, apenas, um projeto de conhecimento sobre a vida,
mas uma preocupação que cada um deve ter por si mesmo de modo
continuado. Trata-se de uma vigilância permanente, ampla e focada na
preocupação com todos os distúrbios do corpo e da alma, das relações com
os outros, respeitando a si mesmo de uma maneira ampla, incluindo aí até a
privação de prazeres de natureza sexual, se necessário, limitando seu uso
exclusivamente à procriação. Para que se pudesse chegar à esta situação
onde a vigilância sobre si e sobre seu próprio corpo era necessário o
autoconhecimento, sintetizado na frase gnôthi s'autón (conhece-te a ti
mesmo).
Se a vida de cada pessoa se torna uma obra de arte no entender de
Sócrates e de Foucault, o comportamento ético torna-se um imperativo
quase absoluto, algo também proposto por Kant (2012) em sua
“Fundamentação da Metafísica dos Costumes”.
O que deve resultar desta prática é uma convivência harmônica
entre as pessoas, de modo a compor uma sociedade onde cada um, não só
respeita e reconhece o outro como legítimo outro na convivência, como
também cuida desse outro como cuida de si mesmo. Sem esta base de
cuidado não se tem saúde.
Para a sociologia a saúde representa o resultado de interações de
natureza humano-social, consignadas como modo de vida, como a forma
com que as pessoas e os grupos sociais se organizam e se interagem de
modo a construir um espaço de viver compatível com cada organização,
cultura, decisões políticas e econômicas. A saúde é percebida, então, como
um processo mais amplo que incorpora a dimensão de grupos sociais, não
mais delimitadas pelo espaço do corpo humano, o território da doença.
Ayres (2007, p. 50) esclarece que saúde não pertence ao âmbito de
[...] regularidades dadas que nos permitem definir um modo
de fazer algo, mas diz respeito à própria busca de que algo
fazer. Estamos sempre em movimento, em transformação, em
devir, e porque somos finitos no tempo e no espaço e não
temos a possibilidade de compreensão da totalidade de nossa
existência, individual ou coletiva, é que estamos sempre, a
partir de cada nova experiência vivida, em contato com o
desconhecido e buscando reconstruir o sentido de nossas
experiências.
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Disponível em: http://conceito.de/. Acesso em 20 jan. 2015.
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Se aplica al organismo que es incapaz de elaborar su propia materia orgánica a
partir de sustancias inorgánicas y se nutre de sustancias elaboradas por otros
seres vivos: los animales son seres heterótrofos. Disponível em:
http://es.thefreedictionary.com. Acesso em 21 jan, 2015.
A definição de saúde da OMS está ultrapassada por que ainda
faz destaque entre o físico, o mental e o social. Mesmo a
expressão "medicina psicossomática", encontra-se superada,
eis que, graças à vivência psicanalítica, percebe-se a
inexistência de uma clivagem entre mente e soma, sendo o
social também inter-agente, de forma nem sempre muito
clara, com os dois aspectos mencionados (SEGRE e
FERRAZ, 1997, p. 540).
O que fazer, então, para que uma determinada população ou, pelo
menos, parte dela possa obter este ponto de chegada a que chamo saúde?
Para isso é necessário estabelecer políticas públicas que possam
permitir, pelo menos, a aproximação ou, em outro caso, possibilitar que as
pessoas, por seu próprio empenho e conhecimento, consiga alcançar tal
desiderato. Para uma melhor governança, a administração pública divide a
região (Estado, Município, etc.) em subáreas ou setores para melhor gerir
cada um desses setores.
Mário Chaves (1998, p. 6) em um excelente artigo “Complexidade
e Transdisciplinaridade: uma abordagem multidimensional do setor saúde”
esclarece que:
O setor saúde, como os demais setores da sociedade, tem
fronteiras imprecisas. É um dos setores sociais, ligado
intimamente a outros setores sociais, como educação,
trabalho e seguridade social, e dependente dos setores
econômicos. A expressão setor saúde é usada principalmente
para o nível macro, nível de país. Seu objetivo é proporcionar
à população de um país o nível mais alto de saúde que é
possível alcançar num dado momento histórico com os
recursos disponíveis. Saúde é parte integrante do bem - estar
social. Os indicadores de saúde, por conseguinte, são
componentes essenciais de indicadores mais complexos de
qualidade de vida.
CONCLUSÃO