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Clínica Ampliada

em Saúde Mental
AULA 02

CONCEPÇÕES DE
SAÚDE X DOENÇA

SIDNEY JUNIOR
PSICÓLOGO
Antes de iniciarmos
nossas discussões,
vamos a algumas
perguntas norteadoras:
a) O que significa ter saúde? O que contribui para que
as pessoas tenham saúde?

b) O que significa estar doente? O que favorece o adoecimento


das pessoas?

c) O que você faz quando adoece? O que significa para você ser
cuidado?

d) Como os trabalhadores de saúde interferem no processo


saúde x doença das pessoas?
Sendo assim, concepções sobre Saúde x Doença são
as definições e as formas de atuação da sociedade,
instituições e pessoas em relação aos processos de
adoecimento e cura. Mas não é só isso.

Esses conceitos também são históricos, modificados


de acordo com o tempo, com as inovações da sociedade
e com as necessidades mais atuais da humanidade.
E QUAIS SÃO ESSES MODELOS PROFESSOR?

Aqui nós trabalharemos com 6 perspectivas


diferentes, de acordo com a história.
MODELO MÁGICO-RELIGIOSO OU XAMANÍSTICO

Essa era a modalidade predominante na Antiguidade,


onde se viam tanto os processos de adoecimento,
quanto os de cura, baseados em elementos naturais
e sobrenaturais.
Adoecer nesse caso era uma transgressão e se fazi
necessária a figura de interlocutor entre a divindade
e o acometido.

ESSE PAPEL ERA REALIZADO PELOS SACERDOTES,


FEITICEIROS E XAMÃS.
Esse modelo tinha como ponto central a relação
do indivíduo com o mundo baseada na compreensão
da religião.
(não estamos falando aqui de cristianismo apenas,
mas de quaisquer religiões disponíveis a época!)
MODELO HOLÍSTICO
Baseado nas medicinas Hindu e Chinesa, esse modelo
era calcado pela noção de EQUILÍBRIO.
O equilíbrio se baseia na ideia de que os processos
de saúde e doença deve ter uma proporção justa
e adequada.

Sendo assim, a saúde era tida como o equilíbrio entre


todos os elementos e humores que nos compõem,
enquanto que a doença seria o desequilíbrio desses
elementos.
Uma das figuras importantes desse modelo é Alcmeon
de Crotona, um filósofo que acreditava que equilíbrio
consistia em duas forças opostas, convivendo em
harmonia e sucedendo-se constantemente.

Para ele, o que desequilibrava essa relação era o ambiente


físico: Astros, clima, insetos, etc.
De acordo com tal visão, o cuidado deveria
compreender o ajuste necessário para a obtenção
do equilíbrio do corpo com o ambiente, corpo este
tido como uma totalidade. Cuidado, em última
instância, significa a busca pela saúde que, nesse
caso, está relacionada à busca do equilíbrio do corpo
com os elementos internos e externos. (CRUZ, 2012)
MODELO EMPÍRICO-RACIONAL (HIPÓCRATICO)

Esse modelo remonta já desde o Egito Antigo,


onde os pensadores buscavam conceber explicações
para os fenômenos, que não fossem de origem
sobrenatural.
Hipócrates por exemplo, em sua Teoria dos Humores,
estabelece a relação do homem com o meio.

Para ele, os processos de saúde e adoecimento


estavam relacionados aos elementos água, terra,
ar e fogo, por exemplo.
A saúde aqui é vista como um equilíbrio
dos humores, e o cuidado passa justamente
pela compreensão dos desequilíbrios, para
que seja possível atingir novamente
o equilíbrio.
MODELO DE MEDICINA CIENTÍFICA OCIDENTAL (BIOMÉDICO)

É um dos modelos que predomina até os dias atuais


e tem suas raízes no contesto do Renascimento,
com toda a Revolução Artístico Cultural, desde o
século XVI.
FOI A DESCARTES, QUEM DEFINIU OS FUNDAMENTOS DA FORMA
COMO SE PENSAVA O CONHECIMENTO DA ÉPOCA:

Não se deve aceitar como verdade, nada que não possa


ser identificado dessa forma;

Cada dificuldade deve ser separada em quantas partes


forem necessárias para que seja solucionada;

O pensamento deve ser conduzido de forma ordenada,


do mais fácil ao mais complexo;

Devemos sempre revisar exaustivamente cada


componente dos nossos argumentos.
Dessa forma, podemos definir a doença, a partir do
conceito biomédico:

“Desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação


do organismo ou ausência de reação aos estímulos
a cuja ação está exposto [...], processo que conduz
a uma perturbação da estrutura ou da função de
um órgão, de um sistema ou de todo o organismo
ou de suas funções vitais”. (Jenicek; Cléroux, 1982 apud Herzlich, 2004).
TECLA SAP:
Nosso corpo possui defesas internas e externas,
além de mecanismos de adaptação a situações de
dano ou perigo, com o objetivo de preservar a vida.

Quando essas defesas de alguma forma falham


ou não são suficientes e o organismo sofre as
consequências, isso se configura como adoecimento.
O modelo biomédico, no intuito de compreender a doença,
passa a tratar o corpo em pequenas partes, com a saúde
tendo um funcionamento mecânico.

Essa perspectiva recebe críticas até


hoje por ser muito mecanicista, vendo
o sujeito como um corpo-maquina.
É dessa perspectiva também, vinda do Renascimento,
que as explicações para as doenças passam a ser
relacionadas com o ambiente, ou seja, fatores
externos ao homem, que se torna então uma espécie
de receptáculo da doença.

Teoria dos Miasmas


Teoria Microbiana.
De modo geral, essa perspectiva é reducionista,

centra na percepção do sujeito como Corpo-máquina,

baseada na figura do médico como o mecânico que

concertaria essa máquina em uma situação de doença.


MODELO SISTÊMICO
Na busca de uma compreensão mais abrangente
do processo de saúde x doença, ganha forma uma
concepção baseada no conceito de sistema.
PARA COMPREENDERMOS:

Sistema aqui é visto como um conjunto de elementos


relacionados entre si, que qualquer modificação em
um desses elementos, acarreta uma mudança nos
demais também.

Essa noção incorpora a noção de TODO, na tentativa


de superar a visão UNILATERAL do Modelo Biomédico
Para essa concepção, a estrutura de um problema de
saúde é entendida enquanto uma função sistêmica,
onde um SISTÊMA EPIDEMIOLÓGICO se constitui num
equilíbrio dinâmico.
ESSE SISTEMA TENTA SE APROXIMAR ENTÃO DA

NECESSIDADE DE UM SISTEMA DE SAÚDE COMPLEXO, QUE

SEJA CAPAZ DE IDENTIFICAR OS VÁRIOS DETERMINANTES DO

PROCESSO DE ADOECIMENTO E SEJA CAPAZ DE

ATUAR SOBRE ELES.


MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS

Esse modelo é desenvolvido pode Leavell e Clark,


a partir de 1976 e é definido como:

“o conjunto de processos interativos que cria o estímulo


patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar,
passando da resposta do homem ao estímulo, até as
alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação
ou morte”. (Leavell; Clark, 1976 apud Almeida Filho; Rouquayrol, 2002).
ISSO QUER DIZER QUE ESSE MODELO BUSCA

ACOMPANHAR O PROCESSO DE SAÚDE-DOENÇA EM

TODA A SUA REGULARIDADE, COMPREENDENDO TODAS

AS INTERPELAÇÕES ENVOLVIDAS ANTES, DURANTE E

DEPOIS DO ADOECIMENTO.
ESSE MODELO É BASEADO ENTÃO NA DIMENSÃO QUALITATIVA DE TODO
ESSE CICLO, E É DIVIDIDO EM DOIS MOMENTOS:
“A sistematização sugerida no modelo da HND
orientou a organização do cuidado por diferentes
níveis de complexidade, em termos de recursos e
ações. Ao considerar a possibilidade de evitar a
morte, são trazidas com este modelo diferentes
possibilidades de prevenção e promoção da saúde,
como interromper a transmissão, evitar o caso e
promover vida com qualidade”.
O PROCESSO SAÚDE X DOENÇA
Até aqui pudemos entender que esse processo ocorre
de forma dinâmica, complexa e multidimensional,
justamente porque ele engloba as dimensões:
“O processo saúde-doença é um conceito central da
proposta de epidemiologia social, que procura
caracterizar a saúde e a doença como componentes
integrados de modo dinâmico nas condições concretas
de vida das pessoas e dos diversos grupos sociais; cada
situação de saúde específica, individual ou coletiva, é o
resultado, em dado momento, de um conjunto de
determinantes históricos, sociais, econômicos,
culturais e biológicos”.
AQUI PRECISAMOS FAZER UM
BREVE RESGATE HISTÓRICO, PARA QUE
POSSAMOS DEFINIR O NOSSO CONCEITO
DE SAÚDE ATUAL.
Primeiramente tínhamos a saúde como a “ausência de doenças”,
então um conceito mais determinista.

Depois, em 1948 a Organização Mundial da Saúde (OMS)


define esse conceito de saúde como um:

“ESTADO DE COMPLETO BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL”


Mas esse conceito ainda não é suficiente por si só,
então, em 1990, aqui no Brasil, nós buscamos
extrapolar essas definições e, na Lei Orgânica da
Saúde (LOS), nós definimos a saúde de forma
mais completa:
A saúde tem como fatores determinantes
e condicionantes, entre outros, a alimentação,
a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o
transporte, o lazer, o acesso a bens e serviços
essenciais; os níveis de saúde da população
expressam a organização social e econômica
do país. (Brasil, 1990, Art. 3).
ATIVIDADE:

Vocês se lembram das perguntas do início?


Vamos respondê-las!

Escrevam um parágrafo, dissertativo argumetativo


respondendo a ultima pergunta, pensando no trabalho
da psicologia.

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