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NJVIKTOR

FRANKMLW
0 SOFRIMENTO
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DE UMA VIDA
SEM SENTIDO
CAMlNHOS PARA ENCONTRAR
A RAZÃO DE VIVER
VIKTOR E. FRANKL
Cupyrighl 0 Viklur Lü Prankl publicado cm acurdu cum us hcrdciros dr Victor E. ankL Pnra mais
infotmaçàcs sobrc o aulnn aasac o silc hllp://www.viku›rfr.1-nkLorglclslnndardlcxlauhlmL
Copyrighl dd cdiçào bmsilcim M 2015 É Rcalizações líduorn

U SUFRIMENTD
Tllulo origimL Das Lcídcn um sinnlosvn chm

Editar
Edsun Manoel de Olivcira Filho
Produçâo sdímrial c projcto grújico
É Realizaçóes Editura

Prcpamçáa dc tcxm
DE UMA VIDA
SEM SENTIDO
Lucas Carmxo

Revisâo
Dyda Bessana

CAMINHOS PARA ENCONTRAR


Capa
AZlMika Matsuzake

Crédim dc imagcm da capu A RAZÃO DE VIVER


Copyright @ Roy Ooms¡/ Masterñlc / Latinstock

Rcservadus lodos 05 dircnm Llesta obra. Pmihida ludn c qualqucr rcprodução


deam edlçàu pnr qualqucr mcio ou forn|a, sc)a cla ulelrónicn ou mccàmcm folocópia.
gmvação ou qualquer nulm meio de reprnduça'u, scm permlssão expressa dn cditon

CIP-Bk^s¡L. CATALUGAÇÃO-N^-FON'I'E
SINDICATO NACIONAL nos EanoREs m LIVR()S. RI

F915$

FrnnkL \'ikmr l':. (\'Iklur Em|l). 1905~l997


O sofnmenln de umn vidn scm ›r:mido : cammhos para cncunlrar a mzão de viverl
VIklor Franld ; lmdução Karlcno Bocarm - l. cd. › Sàu Paulo : É Rcalizaçôcs. 2015
128 p. ; ..3 cm.

deuçào de: Das leidcn nm smnlosen lcben


lnclui btbliugmña c índlce
ISBN 978~8578033›209A4

l. Psicnnálise 2. Psicologia cxis|enC|aL I.T1tulo.

15725038 CDD: 150.l95


CDU2 1593642

27/0712015 28/07/2015 Tradução


Karleno Bocarro
E Rcahzações Ed|'lom. Ijvmria c Dlstribuldora Ltda.
Rua Frdnça Pintcn 498 ~ São Paulo Sl' - 04016-002
Rcvisão técnica
Calxn Poslalz 45321 -04010-970 Tclclhxz (5511) 5572 5363
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Lm Ilvro rm xmpmssn pcln |'-.d|çucs' Loyoln m agnam de 2015. Os hpoA sãn da mnilu
(SOBRAL - .›\'s.50ciaç30 Brasilcira dc
Mnuon Pm c Frcvboolcr Scnpl chulan O papul du mwln é u uíÍ whne norbritc sbg. e u d4 cap.l. carlàu nmgbu mr ZSOg Logolcrapia c Análísc l'- islcnc1'.x-l Y-r.\'nl\'li.'1na)
FSUMÁRIO

Introduçãoz O sofrimemo dc uma vida scm scnlido .................................................. 9

A REUMANIZAÇÃO DA PSICOTERAPIA

1. Freud, Adler e Iung ................................................................................................... 33

2. A logoterapia .............................................................................................................. 43

3. A intenção paradoxal ................................................................................................ 51

4. A derreñexão .............................................................................................................. 59

5. A vontade de sentido

6. A frustração existencial ............................................................................................ 69

Jli '
7. O semido do sofrimento .......................................................................................... 73

' . ,.~1:
8. Pastoral médica .......................................................................................................... 79

9 . Logolcrapía c rcligião ................................................................................................ 85

10. A crílica do psicologismo dinàmico

ANEXO

Índice onomástico ....................................................................................................... 119

Indice analítico ............................................................................................................ 123


~_
_Winu
Introdução

O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO|

Cada época tem suus ncuroscs c CdLLl lcmpo prccisa dc sua p'~.icotcrupia.
De falo, hojc não nus defmnlalnns mais, comn nm lcmpns dc Frcud. cnm
uma frustração sexuaL mas, sinL com unm fruslmçàu cx1's.lcncx'ul. li o paciemc
típico de nossos dias nào snfre talm›, como nm tcmpos dc Adlcn dc um scntimcn~
to de 1'nferioridadc, mus dc um svmimcmo abismnl dc fuha dc scnlidm quc cx.ta'
associado a um sentimcmo dc vnzio intcrior, mmo pclu quul lcndo u fdhr dc um
vazio existcnciaL
!
g 'lo'memus uma carla quc mc c.scrcvcu um csludunlc umcricuno c da qu.11 mc
( contentarci em cilar duas frascsz “líncnnlr07mc uquL nm lísladus Unld0s., ccrcadn
T
por jovens de minhzl 1'dadc, que buscum dcscspcmdumcnw um scmidn p.1m sun
emslêncim Um dc mcus mulhorcs amigm lhlucu rcucnlcmcnlc purquc nàu c011s:c-
guia cncomrur cste sentiddÍ li minhu c.\'pcriónci.1' cm univcrs.|'d.1'dcs. .'unerican.1'.s* -

' O le.\l0 quc sc scguc corrcspondc a confcrúlmias. Lleds cm \'.1rsu\id. .I mnvnc d.1 Suucdadc
Poloncsa du Psiqlualrim na Aula dJ Um'\'cr.sldadc dc /'.unquc. .\ cnnvilc d.\ l-und.|ç.|'n lilnnmh c
em Munlque, n cnnvnc dn líundaçam Carl |~ricdridrvun Slcmcnx l)cmm d rsLl inlroduçím n lilulu
de "0 sofrlmcnln Llc umu vlda scm scmuln" purquc h(›.1 purlc dclu rupmdul pmugcm LIC dum
cnnlLTéncias com cssc mcsmo lilulu DU lcxlu d.1 pruncmL pl'u|n1ml.\d.1 n.¡ Auld d.l Unlvcrudddc
dc /,'un'quc. u hmdaçàu I.Imm.¡l (Rnwl1bll|xl~kra›sc ÂL (III-X(I~H, /'.lllIL|llL') dixpàc dc xUPldh cm
Íorma dc vídco c a'udu›. Quanln à scgundm a l-'un(›lcc.1 Auslr¡'.n-.n (\'\'chL,›'.¡ssc 2'. ›.\ |U(~(). \'Icn.1) ~
um inslilutu dn \.1inislúrlodc('.i'-u)c'ms ~ utcrccc rcpruduçücs vm mn mssclu Adcxu.\ls. .I Pundaçàn
Limmal I.Inçou s.cpam(a.s dc um nmgn pubhudo nn Srlnv :crl\.(hm .-\kudvmíkcr› umi Snulmlvn
vamg cnm u lilulo “() sufrinwnlu dc uma v1d.1 scm xcnliduÍ lonmndu pur hnsu wm Inudlhkdçócsn
a gravaçâo cm ñlu magnéncm
'..
ãnvm
IU U \Ul RHH \,' IU l)I l'\.|.r\ \'1D.r\ SIÂ\| 51\I|¡)U |\ i KUlll( \(l I l

alé o momcmo devu lcr proferido 129 confbréncias somente nos Estados Unidos, o Emcrging Africa › Logothcrupy in 'I.¡"n/.'an|'n'2 pódc coníirmar quc n VMÍO cxislcn-
que me otbreceu ocasiãn pmpícia para entrar em comato com os estudantcs - corro- ciul sc fa'1.' moslrar clurnmcntc c sc infundc no 'l'crccir0 Mund0. sobrctudo - c pclo
bora que as partes da citadu carta sâo represemativa5, à medida que retlctem o estado menos ~ entre os jovcns univcrsitzirinsz Uma 1'ndic.1'ç.\"o análnga dcvemm a Io:~.cph
de ânimo e 0 semimemo dc vida predominames na juvemude acadêmica aluaL L. Phílbríck (“A Cmss-Cultural Study of I'<r.111kl's Thcory nf Mcaning-in-Lifc").
No emnnm, não someme entre os jovens. A respcito da geração dos adul- Quando mc perguntum como cxplicar 0 advenm dcssc vazio cxislemíaL
¡(›s. limitar-mc-eí a apontar o resultado das pesquisas levadas a cabo por Rolfvon cuido então de otbrcccr a seguimc tórmula abrcviada: cm conlrapoüçào an ani~
Ecknnsbcrg jumo aos alunos lbrmados da Universidade Harvardz vime anos após maL os instimos não dizem ao homcm 0 quc clc tcm dc thzcr c. ditbrcnlcnwntc do
a conclusãu de sua graduaçãq uma porcemagem considerável desscs estudantes - homcm do passada 0 homem dc huje nào lcm mais a tradição quc lhc diga u quc
que, cnlrcmentes, tinham feito carreira em suas respectivas árcas c, além disso, deve fazen Não sabendo 0 que tcm c lampuuco 0 que dcve tàzcn muilas vczcs já
aparcntemcnte lcvavam uma vida digna e feliz - queixavam-se de um sentimento nào sabe mais 0 que. no fund(›, qucn AssinL sú qucr 0 quc US outros fazcm - con~
abismal c dcñnitivo de auséncia de sentidcx formismo! Ou sÓ thz o quc os oulros qucrcm que fuçn - lotalilarisnmx2
E nmltipHcam-5e os indícios de que o scntimcnto de absurdo e falta de No cntant0, esses dois sinmmas não dcvcm induzir-nm: u omilir uu csquc-
sentido granjeia uma crescentc propagaçàa Sua presença é hoje constatada tam- cer um lerceir0, nomeadnmcntc um ncurolicismo c*s.pcciñco « a prcscnça daquilo
bém pclos colcgas de orientação puramentc p51'canalítica, bem como por aqueles que tenho designado como ncurosc naogôniaL Ao cnmrárin da neumse no seu
do campo marxism Assim, num reccnte cncnntro internacional de discípulos de sentido estrito. que constitui, pcr dtjfínitiwmm umn afetação psícogêln'ca. a ncum-
Frcud. lodos estiveram de acordo em .s'alientar que se confrontam cada vez mais se noogênica não se reportu a Complexos e cnnílilos nn scntido cl:1's.s'ico. mas de›
com paciemes cujos achaques consistem essencialmente em um sentimento dc riva de contlítos de consciênc1'a, de colisóes de valores c. Iust but not IeusL dc uma
completo vazio a afctar suas vidas. Mais aindaz CSSCS nossos colegas chegaram frustração existenciaL a quaL uma vez ou oulrm pndc c'›\pre~.;sar-sc e nmnitbstarse
inclusive a presumir que, em não poucos casos das chamadas análises incomple- sob a forma dc uma simomatologia llellrÓtÍCiL E é gmças a Jzunes C. CrumbauglL
tas, 0 lraiamcnlu pbicanalítico enquanto lal acabava por tornar-sc - por assim diretnr de um laboralório de psicologm cm Miss sipL que já dispnmos de um
dizer,_cfmte dc micux [na falla dc uma deñniçào mclhorJ -, o u'nico conteúdo na teste (0 PIL ou Purpose in LI_'/e'-7L'›sl). elaborado pelo própriu Crumbnugln com 0
vida dos pacienles. objetivo especíñco de difbrcnciur o diagnósüm da ncurose noogénica duquele da
No quc diz respeito ao Círculo marx1'sla, mencionaremos tão somcntc o p51'c0¡g,ênic.1'.I Após avaliar os dados com zl ajudu de um computadou clc chcgou à
nnmc VymetaL antigo diretor da Clínica Psiquiátrim da Universidade de Olmütz conclusão de que a neurose noogênica constitui uma nova patnlog¡.-1, que supem o
(Tchecoslováquia), o qual ~ em consonância com outros autores da Tchecoslo-
va'an'a, bem como da República Democrática Alemã - chamou expressamente a
" Como 1)iam Yuung. uma dnutorundd pcl.\ Ulúvcrsidddc dc liurkulcyg púdc dcnmmlmr cnm \c~tcs
atenção para a presença da frustraçâo cxistencial nos países comunistas e, a ñm c cstulíhticasz U scnlimcmo dc vuio sc cnconlm signitimummcmc nmix difundidu cnlrc os imcns dn
de lidar com esse fenómeno de maneíra adequada, salientou a exigéncia de novos quc enlrc os adullust Ancormsc nisso um nrgumcntu n lavnr de nossa lcuria du perdn da lmdiçào como
uma dus duas causas pam o udvcmo dn mmimcnlu dc \'.1¡in. l)c l'-.zln, scgundo casa lerL d scmeçào
princípios e novas formas de intervenções terapêuticas.
da lradl'çà1), lãn c.'1r.x'clcri.xlica cnlrc us jn\'cn_s. lrm mlcnsilimdo u scntuncnln dc Jusüncid dc bcnlth
Finalmente, dever-se-á aqui também mencinnar Klitzke, profeAssor ame-
\ Disponivcl cm Psyrlwnwlrir Ajfilíumx Pnsl Uliicc Hox 31(›7. Munslcn Indiann 4632L US.›\.
ricano visitante em uma universidade afr1'cana, que num estudo recentemente lDisponívcl on line cmz hltp://|hcuhyfurtlcwi.s'.cdu/burkc_h/|'cr~.'on'.1|¡l_\'/PlLpdíl .›\ccssn cm 18 de
publicado no Amerícan Iournal of Humanistic Psycholagy. chamado “Students in junho dc 2015.]
U NUHUAH \.H7 lJl L'\.l.\ \ ll).\ SHI >k\'lll)u IN1R011L'\,.\L) l \
xl

âmbito dn psiquiatria tradicional não só da pcrspectim do di.1'gn('›su'co, mas um- dcslina-sc vcrdadcimmentc ~ c ondu nàu mais, zm mcnos nriginalmentc - a cn~
bém da terapêut1ta. cnmrar um sentido em sua vida e a rcalizar ussc scntid(›. lssn é 0 que também
Com rcspcito à frcquênciu da ncurose noogênica, Contentar-nos-emos em procuramos descrevcr na logoterapia com o conccito mmivacional tcóricn dc
reporlar aus rcsullados da invcstigaçãu estatíslica alcançada por Niebauer e Lucas “vontadc dc scutiddí À primciru vista podc parecen ccrtamcnta quc sc tmla
em Vicna. ank M. Buckley cm Worcesten \u1'.155., Estados Unidos, Werner em dc uma supervalori'/.açà0 do lwman como se qun"›.e'sscnms cnlocáJo sobre um
Londrcs, Langcn e Volhard em Tu"bingen, Prill em Würzburg, Popielski na Polónia pedestal bem alt0. Em reluçãu a isso, vcío-me à mente o quc me di5_sc, certa vcz,
e Nína Toll em Middlclowm Conn.. Estados Unidos. Análises dos lestcs mostra- 0 meu instrutor de voo culilbrníannz
ram que as neuroscs noogênicas cstão presenles em média em 20“,\'n' dos resultados,
Considerandn quc prelcndn vonr para n lcsm cnquamu do nortc sopra
Por finL Elísabcth Lukas desenvolveu um novo teste que permile um
um vcmo latcraL mcu zwhío lcrmílmria por dcsviarasc para o sudcslc; ›c,
diágnóstico mais exato da fruslração existenciaL que comprcendc lambém o
pelo comrár1'o, manobro a máquim puru n nordcstc, cnlão voarci dc falo
propúsilo de obter possibilidndes de intervenção 1ant0 terapéutica como pro~
pam o Icstc e aterrissn ondc prctcndiu .1'tcrrissar.
filáticm 0 “Logu-Test'."'
As eslatístltas tém mostrado que, entre os estudames american05. o suicídio Nào acontece o mcsmo com o homem? Tomcmo-lo pura c simplesmemc

ocupa - depois dos acidemes de trànsito - o scgundo lugar como causa mais fre- como ele é, torna'-lo-emos conscquentememe pion 'Ibmc¡m›-lo comn deve s.er, e
quentc de óbilo. Adexmís, o número de tcnratims de suicídio (não resultando em convertêJmemos no que ele pode tornar~se. Mas isso nâo me foi dito pclo mcu
morte) é quinzc vezes maior. instrutor de v00. Essa é uma scntcnça de Goclhc.
Recentemenla foi-me apresemada uma e.s'tatística 111arcante, aplicada a Como se sabe, existe uma ps.1'cologia que se chama a si mesma de “p.s*icolo-

scssenta estudantes da Idaho State Uni\'crsity, na qual se índag0u, com grande gia profunddÍ Entrctant0, ondc se encontra a “p.s*icologia1 das alturas" - que inclui

precisàm o motivo pclo qual inlcntaram o suicídia Dcla resultou que 85% deles a vontade de sentido em seu campo de vísão? Em todo caso, não sc pode menUS-

não conseguimn ver nenhum senlido em suas vidas. O interessante, entretamo, prezar a vomadc dc sentido como um mero desejo, um “wi5h_/1'll tlzinlcing'.' Trata~se

é que 93% eram física e psiquicamcnte suuda'vcis, Iinham uma boa .síluação ñ- antes de uma “sc1_f_~'htljíllingpraphccy" [pr0te'cia autorreaHI,.'¡'vcl|, como nomciam

nanceira e um excelente enlendimento cum a famílizu desenvolviam uma vida os umericanos uma hipótese de lrahalho que, no ñm das contas. lem an mcsmo

socialmente ativa e estavam satistéitos com seus pmgressos acadêmicos. Não ñm que projetou. E n0's, médicos, presemizunos isso diariauncnle e de hora cm

se poderia falar em hipótesc alguma de satisfação insuñciente de necessídadcs. hora em nossos consultór1'(›s. Assim é. por exemplo, quando medimos a pressâo

Pnr isso, devemos perguntar-nos qual foi a “c0ndição de possibilidade" dessas arterial de um pacieme e verificamus quc alinge 160. Sc o paciemc pcrgu11ta-x1os

tentativas de suicídio. o que deve achar~se íncorpomdo na “rondition humaine” sobre a prcssâo arteriaL e dizemos a cle “160'.' jà não lhc Llizemos mais a vcrdadc.

para quc se possa chegar a uma tcntativa de suicídio apesar da satisfação das pois ele se agíta c imediatamcntc a pressâo Chegn a 180. Se, pelo contrári0. lhe

necessidades mais ubíquas. Bem, isso só é possível se se admite que 0 homem dizemos quc a sua pressão é pmlicameme normaL não 0 cnganumos, e clc cmào

respira aliviado e nos confessn que rcceavn tratapse realmeute de um acidentc


vascular cerebraL mas quc, aparcntemenlc, se tratava de reccio infundudo. E, de
' \'ikt0r là l'~rankl. "Zur \'alidierung der LogmhcrapieÍ In: Dcr Willc :um SlmL Berna. Hans Huber,
falo, se lhe medíssemos ncssc momento n pressãa poderíumos constatar que cstu
1972 [Ed|çán brasileirm Vikmr E. FrankL A \u'nmde dc Scnnda Trad. Ivo Studan Percira. Sào Paulo,
havia voltado ao seu nível normaL
Paulus. lOl 1.|
IJ U \7()|-1U.'\1L-\.'I(Y Dl l'\.l.n\ \'I[)A Sl.\.1\|\'l›ll)0 l\' HHHH (V \n l 1

v .v
».w.,_.
Isso nos mostra, alia's, que é pcrfeilamentc possível provan de uma perspec- o leilciro no musical Um violinistu no tclhado). No cnlanlo. é incgávcl quc ambm
tiva mcramentc cmpír1'ca, 0 conceito de vontade dc sentid0. Limitar-me-ei aqui desejam conduzir a vida ao scu scnlid(›, para podcr rualizar o .w¡1tidode suas vidasl
a rcte'r1'r-me an trabulho de Crumbaugh e Maholick5 bem como ao de Elisabeth Bastante conhecidu é a distinção que Maslow tbz cmrc as neccszsidadcs inteW

?qu_m- r - rw
SA l.ukas. que desenvolveu testes cuidadosamente elaborados a Íim de quantiñcar riores e superioresz a sutisíílçào das ncccssidauies intkriores é n condiçào indispcn~
a vontade de scnt1'do. Ademaís, cxistem dezenas de dissertações, príncipalmente sável para sc poderem satíslhzer as supcriorcs. Enlre as ncccssidadcs supcriurcs clc

5°"W
com auxílio dcsses testes, que podem validar a teoria da motívação da logoterapia. inclui também a vontadc de sentid0. E não npenas íssm clc a qualiñca dc “molivaçàn
Nâo é possível aquí, dentro do tempo disponíveL uma análise de todos esses primária do homcnfÍ Isso equivale a dizcr que ao homem só é dado conhccer a
estudos. Nào posso, conludo, privar-me de trazer ao debale os 1'es_ultados de pes› exigência de um scntido dc \'ida quando elc está bcm (“primcir0 vcm u esto'nmg0,
quisas concluídas por aqueles que não são alunos meus. Quem podcría, portanto, depois a moral”). Entretanto, comrariamemc a issq tcmos - c não somcnte no's.
duvidar da vontadc de scntido - note~se bem: nada mais, nada menos do que a os psiquiatras - a oportunidade de ubservnn repclidas vc¡.'cs. que a nccussidadc c a
motivação especiñcamemc humana - ao ter em mãos 0 relalório do American questão de um sentido de vida irmmpcm justamcnte quando as coisas beiram 0 dc-
Council on Education, segundo o qual o intcresse primárío de 73,7% de 189.733 sespero. É o que podem testemunhan enlrc nossos pacicmcm os moribund0s, bcm
cstudantcs de 360 universidades rcsidc em “conseguir uma concepção de mundo como os sobreviventes dos campos dc concemmção e os prisioneirus dc gucrra!

. WMUTÍÁTVNW1&ÍÇ
n partír da qual a vída cncomra um sentido"? Ou considcremos 0 relatório do Na- Por outm lado, a questào do sentido da vida evoca nâo só a frustração das
tional Institute of Mental Healthz entrc 7.948 estudantes de escolas superiores, 0 necessídades inferíores, mas também. evidememcnle, a satistàção das ncccssi~
grupo dos mclhorcs (78%) qucria “encomrar um sentido cm suas vidas°Í dades ínferiores, no âmbito, por excmplo, da "a_[fluvnl x.*oa'cty" (\'cr p. 28). Claru
O mesmo se pode dizer de adultos. e não apcnas de jovens. O University que não estaremos em erro sc disscrmos que ncssa aparcntc contradíção avista~
of Michigan Survey Research Center te'z uma pesquisa entre 1.533 trabalhadores mos uma conñrmação de nossa hipo'tesc. segundo a quzll a vomadc de semido é
a respeito do valor que davam ao próprio trabalho. A pesquisa constatou que 0 uma motivaçào sui generi$, que não pode rcduzirse a outras neccs.~;idades nem
intercsse por uma boa remuneração ocupava 0 quinto lugar na escala de valores. pode deduzir-sc delas (conforme empirícamentc demonslmdo por Crumbuugh e
A comraprova, do citado exemplo, tbi conduzida pelo psiquiatra Robert Coles: os Maholick e também por Kratochvil e Plamova).
trabalhadores com os quais teve a oportunidade de conversar queixavam~se, aci- Deparamo-nos aqui com um tknómeno humano quc considero fundamem
ma de tudo, de um semímento de vazio. Assim, pode~se compreender aquilo que Ialdo ponto de vista anlropológícoz a '.1ul0lranscendénCia da cxisléncia humanal
Ioseph Katz, da State University of New York, profetizouz a próxima leva dc pesso- O que pretendo descrcver com isso é o futo de que o scr humano scmpre upunta
as que entrar na indústria só tem interesse por proñssões que não apenas rendam para algo além de si mesmo. para algn que não é cle mesmo - para algo (›u para
bom sala'rio. mas que também deem um sentido à vida. alguémz para um sentido que se deve cumpn'r, ou para um oulro ser hL1n1ano,
Ev1'dentememe, o que mais deseja 0 d()enle, em primeiro lugar e antes de a cujo encontro nos dirigimus com amur. Em scrvíço a umu causa ou no amor
tudo. é recuperar a saúde; e o pobre, ter um bom dínheiro (“se eu fosse rico',' canta a uma pessoa, realiza~se 0 homcm a sí mesm0. Quamo mais se absorvc em sua
tarefa, quamo mais se entrcga à pessoa que ama, tanto mais ele é humem c lanto
mais é si mesmo. Por conseguinte, só pode realizar a si mcsmo à mcdida que se
' Iamcs C. (Irumbaugh; I.conard T. Maholíckz “Eín psychometrischer Ansalz zu Viktor Franlds
csquece de si mesmo, que não rcpara em si mcsmo. Não é issu que acontcce com
Kumcpl dcr 'noogcncn Neurose".' lnz Nikolaus Pctrilowitsch, Die Simflmge in der Psychoterap1'e.
DarmsladL 1972. o 01ho, cuja capacidade ótica depcnde dc quc não veju u si mcsnm? Quando u
lh 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA \l›\.| SF.\T|II(\ Ilelmuçku

olho vê algo de si mesmo? Somcmc quando está doemcz por cxemp10, quando numa suhsmncia quimicm Dc falo. 0 acnlimcnto dc fclicidadm quc cm circunsmm
sofro de uma camrata, cnlão vejo uma nuvcm - e cnm isso percebn a turbidez cias normais nunca é proposlo como uma mcm da aspimçào humana. mas snmcn~
dn crislaüna L'- quando padeço dc um glaucoma, vejo entào um halo de cores do te como um lbnómeno concmuilanlc do ¡¡laznrc-d0-prápr¡o-cscopo - um “cfcito"
arco-íris cm torno das fonlcs de luz - que é. por sua vez, o glaucoma. No cnlanto, de menor 1'mpurtànu'a. que Ibi juslamcnlc possibililado pcln consumo do álcuoL
na mmma proporçãu, cssa percepção afeta e míngua a capacidadc do meu olho de B. A. MakL dirclor do Naval Alcohol Rclmbilitation Ccntcn atirmuz “n(›tr.ll.1mcnm
perceher o ambicntc ao mcu rcdor. dos alcooli'/.¡1dns, muitas vczes. conslatamm quc a vída parccc tcr pcrdido mdo
Aqui dcvemus falar, porém, dos rcsultados parciais (de um tmal de no- sentido para 0 indivídudÍ Uma dc minhas nlunns Lla Unilcd Statcs lnwrnalional
vcntaJ de uma pesquisa empírica tbita pela Sra. Lukas. Esta revela que. entre os Universily de San Dlego póde uprescnlan no undamcmo de suns pcsquisas (cuj(›s
visilantes do célcbre Wicner Pruter <um grande parque público de Viena). um lu- rcsultados rcuniu depuís cm tbrma dc di*.sscrt'.1ç1.'n). a prova de quc 90% dos caws
gar de divcr5ã0. o nívcl objetivo de frustração exismncial era signíñcativamente crónicos de alcoolismo agudu por cla cmmínados rcvclavam um prnnunciado va-
superior à médiu do nível da população vienensc (o quaL por seu turno, revelava zio exístencialz então se compreendc mclhor 0 tlltn dc que numa lagoterapia dc
valores sensivclmune iguais àqueles medidos \e publicados por aumres amcri~ grupo para superar a t'ru's.lr-.1çào exislencmL conduzidu por CrumbauglL obtivc-
Canos c japonescs). Em oulros tcrmos, a pcssoa que sc dcdica mpecialmente ao mm-sc mclhorcs resultados nos cusos dc alcoolisnm do quc nu àmhim de grupos
pmzer e às divcrsõcs é aqucla que. em relação à sua vomade dc sentido. ao ñm, dc commle tratados cnm os métndns dn tcrapiu convcmionaL
se mostra frustrada ou - para usar novamente as palavras de Maslow - presa ao O mesmo se pode dizen de modo amu'logo, dos dupendenlcs de drogas. Se
seu desejo primário. lcvarmos em conla a opínião de Stanlcy Krippncn o scnlimcnln dc vazio nos vi-
lsso me faz lcmbrar uma anedota americana a rcspeito dc um homcm quc se ciados cm drogas cslá cm 100% dos casns. lím 10090 dos cnsm. ao sc Ihes colocur a
encontra na rua com scu médico particular, o qual lhe pergumn pelo seu estndo de perguma se tudo lhcs parccia scm scntínlm a rcspnsla í(')i. scm cucaim añrmalivm
5aúdc, Durante a conversa, o pacicme coníexssa que vem snfrendo ultimamentc de Uma de minhas doutorandas. Bctty Lou Padellhrd. dcmunelrom como Shean c
uma certa surdc7.. “E pmvável quc 0 senhor esteja bebendo n1ui10',' adverte-o o mé- Fcclmnan, que nos dependenlcs de drogas u frustrnçào cxislcncial ú mais dc duas
dico. Alguns meses mnis tarde, voltam a cncontrarAse na rua, e novamente 0 mé- vezcs maior do que no grupo dc comparuçño. L-' nnvumcnlc ó comprwnsível quc
dico toma intercsse pela saúde dc seu pacicnte, elcvando a voz paru se fazer ouvir. Fmiser, quc dirige um cenlm de reabilimção dc dcpcndentcs dc drngn na Califór-
"Oh'§ díz estc entãa "O senhor não precisa falar lão alml Voltei a ouvir muito bexn'Í nia, onde x'nlr(›du1,'iu a logolcrapl'a, lenha alcançado uma laxa média dc éxito dc
"Cerlamcnlc 0 senhor parou de bebcr',' retruca o médico. “lsso é pertbilamenle 40% - muito acima da média comum dc l l%.
corrcto, continue assinfÍ Alguns outros mescs mais turdcz "C(›mo vai o scnh0r?'.' Nessc contextm cuhe ñnnlmcntc citur Black c Grcgwm cstudiosus du Novu
“O que disse?'Í “Pcrguntei como vai o scnhor'.' Finalmente 0 pacientc entende. Zelándia. chundo cles. os criminosns .'1prcs.cntzun um gmu de fruslnaçíwn exisv
“Bem. como o senhur percebe, minha audição piorouÍ “É provável que 0 senhor tencial substancíalmeme supcrior à múdia da pupulaçâu (Iusa-.s'e bcm com isso
tenha voltado a beber'.' O paciente emão explica toda a convcrsaz “Veja 0 senhorz o trabalho rcalízado por Barbcr entre jovuns criminusns lcvadm a scu Ccmro dc
anles eu bebía e ouvia mal. Depois, dcixei de bcber c cstava ouvindo melhor. No rcabilitaçào calitbrniano e trulados com n métudo dn logutcraplku rcdu1.'iu-sc aí 0
cntanto. o que eu ouvia não era tão bom Como n uisqudÍ Podelm›s, p0is. dizer o índice dc reincidéncia dc 40% parn l7%.
scguinte na auséncia dc um sentídu de Vida, Cuja realização o tería mrnndo íe'h'7., Podcríamos agoru dar mais um passo c cstcnder nossas rctlexóes c consi~
cle procurou alcançar a felicidade cvitando loda realização de sentidm apoiando-se dcmçõc.s' a uma escala plunctárizL lsto c'. lançarnurmw à pcrgunlu sc nàu sc fhz
Êáw'
0 hOFIHMlNTO DI: UMA \'H)A 51 .\| \l-,\.'lll)() IN1 R()l)l'ÇA() lu

necessária uma reoríentação no domínio da investigação da paz. De fato. desde Quão injustos para com os combalentcs da rcsisténcin cuntra o nacional-
há muilo essa invesligação vem de braços dados com a problemática do poten- -socíalismo. se os considerássemos mcms vílimas de um "potcncial agressivdl 0

.
cial agrcsxcivo segundo o senlido cumpreendido por Sígmund Freud e também por quaL maís ou nwnos ulcatorialmntc, se havin dirigidu conlra Adolf Hítlcn lnlrin-

.›.y.
Konmd LorenL Na realidade, permanecemos como antes, com as mesmas ques- secamente, eles nào pensavan1, com auas lutas, cstar num combalu cnntra clc, se-

Ww
Iões, em uma dimensâo sub-humana sem ousar asccnder a uma dímensão huma~ não contra 0 nacíonal-socialismo. um sistema. Não sc \'(›haram comra 21 pessoa,

qn
na. Todavim é na dímensào dos tewnómenos especiñcamente humanos - a úníca na mas contra um 0bjeto. E, intrinsecamente, só somos rcalmcnlc nós mesmos quan-
qual podemos cnconlrar algo como a vontade de sentido - que se poderia verihl do podemos sen nesse sen11'do. “objetivm".' tumbém vcrdndcirameme humanos;

gtfpnznw
can em dcñnitivo. que a frustração dessa mesma vontade de sentido, a frustração somente quand0, a partir dessa objctl'v1'dude. somos Capauns nào sú de viver para

. N -.u.«
existencial e 0 senlimento de vazio cada vez mais cresccnte - note«$e bem2 não no uma causa, mas também de morrer por clzL

f:*
animaL mas no ser humano, no plano humano! - promovem a agressiv1'dade, ou, Enquanto a invesligação da paz rcsl1'ingir-se a imorpretar a agressividade
ao menos, são seu alicerce. como um fenómeno sub~humuno c nào .1'n.'llisur o fcnómcno humano do “o'di0“,'
Tanto 0 conceito de agressividade delfundamento psicológico, no senti- estará condenada à esterilidada O homem não cessará dc odiar se 0 levurmos a
do da psic.1'nálise de Sigmund Frcud, como o dc fundamento b1'ológico, no sen~ crer que é dominudo por ímpulsos c mcc.1'nismos. Essc tíualísnm ignora que. sem-

wewrivr
lido de investignção comparada do comporlamento feita por Konrad Lorenz, pre que sou agressivo, náo contam os mccanisnws e us impulsos quc cxislem em
careccm de um elemcnto; a saber, a análise da 1'ntencíoxmlídade. que é o que mim, que podem estar em meu “id',' scnão quc sou aquele quc odciu e que para isso
caracteriza 0 impulso vital do homem enquanto tal, enquanto ser human0, não há desculpas, e sim responsabilidade.

PF
Na dimcnsão dos fcnômcnos humanos simplesmeme incx1'stc, ern uma quan- Acresce aíndu 0 fato de quc o díscurso sobrc os “polcnciui5 agressiv05“ trazem

TñTZÊS
.'' TJ"_
tidade detern1inada. uma agressividade que force uma saída e me impulsione em si a intenção de canali/.'á-los ou .s*ublimá-lo.x*. 'I(')davia. como provmmn os pcsqu¡-
como “sua vítima indefesa',' procurando determinados objetos concretos sobre sadores da escola dc Konrad I.orenz, a agrcssividade - por cxcn1p10,d1'anlc da telcví-
L

í
os quais, ao fim, “aquielar-se)í Por mais que a agressividade tenha uma pré~ são - deveria ser dírigida a objetos inotbnsivos c neutralizando sohrc cles seu p<›der.
l_,
~formação biológica e um fundamemo psicológíco, ao nível humano eu a deixo quando na rcall'dade, ao contrário, é provocada c. como um reílcx0. mais tbmenladu.
de lad0. deixo que ela se disperse por supcração (numa perspectiva hegeliana) A1én_1 disso, a socíóloga Carolyn Wood Sherifrelatou que é falsa a noçào po«
cm uma outra coisa completamente diferenlez ao nível humano cu 0dei0! E 0 pular de quc as competições csportivas sejnm um sub.s*t1'tuto. scm derramumcnlo
ódin, precisamente em contraposíção à agressividade, é inlencionalmente di- de sangue, da guerraz trés grupos de j(›vcns, colucados num acampanwmo i5(›|.'1- E
f
rigido a algo que 0deío. do, tinham kHrtalecidq e não mítígad(›, as agrcssõcs dc uns contra os oulros cm
Ódio e amor são te'nómenos humanos porque são intencionaís, porque 0 Competíçóes esp<›rtivas. Mas 0 inesperado vcio (lepois: uma única vez demram dc
homem tem sempre motívos para odiar algo e para amar a alguém Trala~se sempre lado suas mútuas agressóes, como se tivessem sido levzldas pam longc. Foi quando
dc um motivo sobre o qual ele atua. e nâo de uma causa (psía›l<›'gica ou biológica) tiveram dc mobilizar~se para tirur de um amleiro um dos carms cncarregudos de
quc, "às suas coslas” e “sobre sua cabeçzfí tenha como consequéncia a agressividade levar víveres ao acampamemo; essa "enlrcga a uma tarufa'.' dcsgastantc porém sen-
c a sexwalidade (encontramo-nos diante de uma causa biológica no experimento de sata. literalmente os fez “esquecer“ suas agressóex.'.
W R. He›s, no âmbito do qual se conseguiu provocar acessos de cólera em um gato - Aqui vejo uma indícação frutífera para uma invcstignçào da paz muito mais
por mcío de eletrodos colocados na região subcortical de seu cérebro). apropriada do que as intermináveis ruminações de discursos sobre os potenciais
0 50FR1\¡1FNT() Dlz UMA \'IHA ShM \¡ N HDO INTRODUCAO 21

mwxma
~.F-;.
agressivos. conccito com 0 qual se faz crer aos homens que a violéncia e a guerra com a dcsvalor1'zação. Na verdada a scxualidadc ustá lão dcsvalnrizada quanm cslà
sejam partes de seu deslimx dcsumanizada. Entrctanla a sulmlidadc hummm é muís do quv mcm svxualidada
Essc tcma íbi por mim analisado cm oulro lugar." Comentar-mc-ei emão c o é à medida que - cm um plano humuno - cla ó um vcículo dc rclaçócs tmn-
dc indicá-lo e ccder a palavra a Robcrt Jay Liñon - um especialista inKernacional sexuais (para ulém do s.cxo), pessoalisz quc. natumlmcnm não sc dcixa apcrtar cm
na área - que cm seu livro History and Human Survival escreveu o seguintez “Os um lcito dc Procustn tbitn de clíchês lais como “anscio*~. de objclívo inibitw0" ou
homens sào propensos a matan sobretudo quando se cncontram em um vazio de “meras subl¡'n1.1çócs',' somcntc porquc 50 prcfcrc negar a rcalidadc cnquanlo se
semido'.' De fat0, os impulsos agressivos parecem proliferar, pr1'ncipalmente. ali rompe 0 quadm dc sixnp11'h“c.'1çóes poplll.'trcs. ((Êomo dcmonslmu Eileiibchk1dt.
ondc se faz preseme 0 vazío exislencíaL essa deformação do funciommcnto da sexunlidude nàu sc pmduz apcnas no pla~
0 que vale para a criminalidade, aplica~se também à sexualidadez no hummw mas mmbém cm um nívcl sub-humano: lambém a sexualidadc ani-
somente no vazio exz"›tcncia1prolfíera a libido scxuaL Essa hipertrofia no mal podc ser mais do quc mera sscxmnalidada L3vidcnlcn1cntc não sc encomra csta.
vazio aumcnta a disposição às reações sexuais neurólicas. Pois 0 que se disse cumo a hunmnn, a serviço das rclaçócs pc.s'.s'om's, ainda quc cstcjamos cicntcs dc
untes a respeito da felicidade e de scu caráter de “efeito”. não é menos válido que a copulação do babuín()-sagradm por excnnplo, sirva n um hhm sociaL do mcs-
em rclaçãu ao prazer sexualz quanm mais alguám busca o prazen tanta mais mo modo que, em lermos g8mis, o comportamcnm scxunl dus “vcrtebradus sc
ele o perde. E com base em uma experiéncia clínica de várias décadas, ouso encontra a serviço dc uma ñnalidadc sucial do grupo").
afirmar que as perturbações de poténcía e orgasmo redu7.em-se, na maioria Seria inclusive do mais i11tr1'n.scco intcressc daquclcs aus qu.1is nâo resta
dos casos, n esse padrão dc reação, quer di7,er, ao fato de que a sexualidade outra cnisa senão o prazer c o gozo sexual xc cslcs sc prcocupmscm em culocar
é distorcida na exata medida cm que é reforçada a sua intenção e se c0n- seus comatos sexuais num nívcl dc relação com o purcciro pam além do simples
cenlra subre ela a atençào. Quanto mais sc desvia a atenção do parceiro sexo, elevand(›-os, portant0. a um nível humunu Dc 11no. a scxunlidadc lem ncsta
para se concentrar no alo sexual em si, tanlo mais compromelido fica o ato dimensão humana uma funçào dc expressàoz na dimcnsão humana cln sc torna .¡
sexuaL Isso é bem verificável naqueles casos cm que nossos paciemes se expressão de uma relaçào dc amon dc uma “Flcischwcrdung" - uma cncurnaçíu -.
semem impelidos a demonstrar, amcs dc tudo. sua potência. ou nos quais de algo como amar uu eslar amzmdo. Quc a scxualidudc só podc scr fcliz sob cs-
nossas pacientes se interessam, antcs de tudo. em provar a si mesmas que sas condiçócs revela um cstudo recentcmcntc rcnli'/.'.1dn pelu rcvism mncriulna
são realmenle capazes de alcançar um orgasmo completo e que, ao fim, não Psydmlogy 7bdayz das vinle mil rcspnslas à pergumu sobrc uquilu quc mais cs~
sofrem de fríg1'de'/.. Vemos novamente que se trala de “ulcançar" algo que é timulava a potência e 0 0rgasmo_ concluiu-.w quc 0 csllmulo dc muiur conliança
normalmente um "efeito" - e é assim que devc pcrmanccen a não scr que era o romanlisma ou sej.'1, eslar apaixonadn pcln parmiroz ponumo. 0 amur u elc.
isso também já esteja destruído. Porém, não apcnas cm dircção à pcssou do parccirm considcmdn a parlir

< ,
Esse perigo se mostra maior quando a sexuulidadc prolifera em larga escala de um ponto dc vista da pr0ñl;\.\'ia dus ncumscs scxuais, é dcsejlivtl u máxi-
no vazio existenciaL Confromamomoc hoje em dia com uma inñação sexual que, ma “pcr5(mali/.'.1ç.1"0” possívcl da scxualidadm mas nunbém em rcluçñu à prúpria

“ITE'J WIJ
como toda inflação - a do mercado moneta'r1'o, por exemplo - anda lado a lado pcssoa. O desenvolvimcnto .sexual nurmul e 0 amadurecimenlo normal do scr

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humano tende a uma crcscente 1'ntcgrm;ão da sexualidade na eslruluru gcrdl da

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" Viklnr E. ankL “Exislentie|le Frustratinn aIs '- iologischer Faklnr in Fãllen von agressivem pcssoa. A partir disso, vê-se clnrameme quc 0 wnlrário. o isulamcnm complelo
Verhallen'.' Inz Fesrschrtjifür Ridmrd Lunge :um 70. GeburtSMg Berlim, Walter dc Gruyten l976. da sexual¡'dadc, comraria todus as lcndé11c1'.1'«».~ dc integração c, com isso. famrecc

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0 SOFRIMIÊNTO DE UMA VIDA SEM SFNTllJO IN l RODUÇÀO 2|
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as tendéncias neurotizantes. A desintegração da sexualidade - o “seu romper“ da uma provisão de libido insat1'ste'ilaf.' Pessoalmcnla não posso acrcdilar nisso.
totalidade transexual pcssoal c interpcssoal - sígníñca uma regressão. Julgo que não só é algo espcciñcamcnle humanu pcrguntarsc pclo scmido da
No entantq por trás dessas tendências regressivas pressente a indústriu do vida, senão que é também próprio do homem colocar cssc scntido em qucslã0.

T'n,w._ (
prazcrsvxmzl sua chance u'm'ca, um negócio singulan Põe em jogo a dança ao redar É um privílégio partícularmente dos jovcns dar provas de scu amadurccimcnto

: v-,.
do porco de ouroA Visto, novamente, a partir de uma perspectiva da proñlaxia das ao considerar em primeim lugar o sentido da vida e. dcsle privi1égi0. fazcr bas-
neuroses sexuais, 0 grave nisso tudo é a waçüo uo consumo sexual que procede da tante uso (ver nota na p. ll).
indústria da ir_1fo'rmaça'o. No's, psiquíatras, conhecemos de nossos pacientes como Einstein añrmou uma vez que quem scnte quc sua vida não lcm .~;entid0.

zvcw uva
eles se scntem ao se verem coagidos, por uma opinião pública manipulada pela in- não apenas é infeliz senão também pouco capaz de viven Dc fato, pcrlencc à von-
dústria da íníbrmaçã0, a interessar-se pelo sexual em si mesmo. ou scja, no sentido tade de semido algo daquílo quc a psícologia amcricann qualiñca como "survival
de uma sexualidade despersonali1.'ada e desumanizadzL Mas sabemos igualmente value'Í Não tbí essa, añnal de contas, a lição que pude Icvar comigo dc Auschwitz c

< ,
quanlo ísso se preslou para enfraquecer a poténcia e 0 orgasmu E quem, por c0n- Dachau: que os quc se mostraram mais aptos u sobrcviven ainda maís em tais situ-

-.:~>-:-n:,.c
seguinte, pondera que sua salvação está no rcñnamentn de uma técnica do amor, ações limites, foram aqueles que, rcañrmo, estavnm orientadm pura o futuro, paru

.¡.,-.¡:,:_.
nâo faz mais do que matar 0 resto daquela cspontaneidade, daquilo que é direto, uma tarelh que os esperava maís ad1'.'111te. para um scmido quc dcsejuvam realizan
daquela naturalidade e duquela ingenuidadc que são a condíção e o pressuposto E os psiquiatras americanos puderam conñrmar muis tarde csta expcriência com
de um funcionamento sexual normal de que tanto precisam os neuróticos sexuais. os campos de prisioneiros de guerra japoneses, nortc-v¡'etn.1'mitas e norte~c0rea-
Isso não quer dizer dc modo algum que pretendemos manter qualquer tabu ou nos. Ag()ra. o que vale para os indivíduos não pode valcr iguulmente para a huma~

,¡.¡ w._,vmq:~.,w :.
que nos posicionamos contra a liberdade da vida sexuaL Mas a ll'berdade, defen- nidade imeira? E nào deveríamos tambénL no âmbito da denuminada investigação
dida por aqueles que a têm sempre na ponta da língua, é, em última instáncia, a da paz, colocar a questão de que talvez a única oportunidade de sobrcvivéncía da

P
liberdade de fazer bons negócios com ajuda da assim chamada informaçãa Na humanidade se encontre numa vontadc geral para com um scntido colclívo?
realidade, é nada mais do que alimentar os psícopatas sexuais e os voyeurs com Essa questão não pode ser resulvida someme por nós psiquiatras. Ela deve

v vyrhrv rz
material para suas fantasias. Informação, tudo bem. Mas devemos perguntar-nos1 manter-se aberta, ou ao menos prccísa ser lcvamadu. E ser lcvantada, cumo já
informação para quem? E temos de esclarecer, antes de tudo, a opiníão pública dissemos, no plano humano, o único no qual podemos encontrar a vomadc de
acerca do fato de que, não faz muito tempo, 0 proprietário de um cincma que pas- scntído e sua frustração. E isso valc também parn a patologia do cspírito du épom,

w(›N-¡
sava princípalmente os chamados ñlmes de ínformação declarou numa entrevista assim como a conhecemos pela teoria das neuroses c da p.s'icmerapia do indivíduo:
à televisàoz com raras exceço'es, 0 seu público sequioso compunha-se de pessoas prec1'samos, contra as tendéncias despcrsonalizantcs c dcsumanizuntes, quc por

AÍÇHVZ§~W

udkw.
com idade emre seus 50 e 80 anos... Contra a hípocrisia na vida sexual somos toda parte se amplíam, de uma psicolerapia reunuznizndLL

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uk
todos; mas é preciso também proceder contra aquela hipocrísia dos que dízem O que dissemos anteriormente? Cada época tcm suas neuroscs, e cada épo~

mr
i
ca precisa de sua psicolerap1'a. Agora sabemos maisz somcntc a psícotempia reu~

m
“liberdade" pensando, contudo, no lucro.

M
Retornemos ao vazio existenciaL ao sentímento de vazio. Certa vez, Freud manizada pode compreender os síntomas da época - e rcagir às neccssid.1'de.s* de
escreveu numa carta o seguintez “N0 momento em que alguém se pergunta pelo nosso temp0.
sentido e valor da vida, este alguém eslá doente, porque os dois problemas nâo No entant0, retomando agora o sentímcnlo de vazi0. perguntemos: pode-
exislem de forma objetíva; a única coisa que se pode reconhecer é que se tem mos por acaso dar um sentido ao homem de hoje, existencialmcnte frustrad0?
1\.'1RunUL,Au H
0 SOFRIMENTO IJF UMA VIDA SEM SENTIDO

Podcmos sentir-nos satisfcitos sc não já foi arrancado ao homem de hoje esse semido cada vcz mais difuso, crie arbitmriamcntc scnlidos subjclims ou conlras~
sentido em conscquéncia de uma doutrinação reducioni.'sta. Devcria 0 Scntidu sentidosz enquanto aqucle acomece num palco - tcnlro do ub~.urdo! -. cste se dá na
scr factívcl? embriaguey., no êxlase, cspecialmentc naquele cstímulado pclo LSI). No enlant0,
É possível reanimarmos as tradiçóes perdidas ou mesmo os instinlos per- nessa embriaguez corre-se U risco dc passar longc do vcrdadeiro sentido. da mi5-

,mw›sw-
5

didos? Ou ainda vigoram as palavras de Novalis segundo as quais não há volta à são autêmica que nos espera lá fora. no mundo (em conlraposiçãn às vivéncias de
ingenuidade e que a escada pela qual ascendemos veío abaixo?
Dar sentido implica uma ñnalidade moralizante. E a moraL no semído anli-
g sentido meramente subjetivas, em si mcsmas). lsso mc la'/,' lembrar os animais
de laburatório que tivcram elctmdos plantados em scu hipotálamo pur pesquisa-
i
go. ebgolar-se-á em breve. Mais dia menos dia. deixaremos de moralizar, passando, LJ dores c.1'lifornianos. Sempre quc a corrcmc era conectmla. os animais cxperimcn-
l
contrar1'a1n1entc, a ontologizar a moral ~ o bem e o mal não serão mais dcñnidos
no senlido dc algo que dcvemos ou não devemos fazer. AssinL 0 bem é aquilo que
g tavam um sensaçào de contentamenlo. quer dc impulso sexuaL qucr dc impulso
uo alimcnto. Por ñnL cles própríos aprenderam a conectar a correnle, ¡'gnornndo,
promove o cumprimento de um sentido aplicado e exigido a um ser, e o mal aquilo contudo, n parceiro sexual e o alimento verdadciro que lhes eram otbrecidos.
que ímpede esse Cumprimenla O sentido mio só dcvc, mas padu scr cnmntrudu, c a co¡1.sc¡'énc1'a conduz o
O smtido nâo pode ser dado; rmtes, tem de ser cncomrada E esse processo de homem em sua busca. Em .s*íntesc. a con.«:iéncia é um órgào do senlida Podemos
encontro do sentido tem como ñnalidadc a percepção dc uma Gestall, uma ñgura. deñm'-la, entâo, como u capacídade íntuítiva dc descobrir o rastro do sentido -
Os fundadorcs da psicologia da Gestalt, Lewin e Wertheímer, já falavam de um único e singular - escondido cm cadu situ.'\ç.1-'0. ¡ll
al
caráter de ex1'gência, que vem ao nosso encontro em cada uma das situações com A consciênciu é um dos fcnómcnos muis espcciñcamente humanos; mas
1
as quais confrontamos a realidade Wertheimer chcgou ao ponto de atribuir a cada nào apenas humano. É também dcmasiadamente humano. e de ml' maneira que
exigência (“reqzu'rcdncss"), ímplicada cm cada situação, uma qualidade objetiva participa na condition hunwinc, e portanto c' marcudn por sua ñnitudc. Só assim í
k
(“olj›'ective quulity"). A pmp0'51't0, diz também Adorno: “O conceito de sentido en- se compreende como a consciência pode, às ve/.'us, cng.'m.1'r-s›c. e lambém desvínr o 1.

volve a objctividade além dc lodo agir'Í homem. Mais do que issoz até o derradciro moment0, até o último suspiro, n ho~
O que distingue 0 encontro de semido, em comparaçâo com a percepção mem não sabe se realmeme cumpriu u senlido da vida ou nntcs somente acreditou

mwvacprw
gcstáltica, é, no meu entender, o seguintez o que se percebe nâo é simplesmen- té-lo cumprid0: ignommus ct ignombinms. Desde Peter WusL “incerte7._1 e risco"

vv.--
Ie uma figura, que nos salta ante os olhos a parlir de um “fundo).' Mas sim› na penencem ao mesmo grupo. Por muis que a coustiéncm possa deixur o homcm na
pcrcepção-de-sentido, a descoberta de uma possibilidade a partir do fundo da re- incerteza quamo à questão de sabcr se comprccndeu e capturou o scmido de sua

Mc
alidade. E essa possibilídade é sempre únic.1'. Efémera. Contud0, somente ela é vida, essa “incerteza” não o desmuiná do “risco" de obcdecer à sua constiéncia ou.
efêmera. Sc essa possibilidade de sentído se realiza, se 0 sentido é cumprido, então em prímeiro lugur, de escutar n sua vo7..

zwqurr
se cumprirá de uma vez por todas. Mas não só o “risco” pcrtcncc àquclu “inccrteza',' senão igualmcnte a hu-
O scntidv devc scr cncontrada mas náo pode ser produzido. O que se deixa mildade. O fato de que nem em nosso leito de morte chcgaremos a saher se 0
produzir ó um sentido subjctiv0, um mero sentimento de sentído, ou de absolu- Órgão-d0›sentido, nossu consciénc1'a, tbi ou nào subjugado a um cngano-du-
ta falta de sentído. E ísso é naturalmente compreensível se pensarmos que 0 h0- -sentido. signiñca igualmeme que é a consciéncm dm outros aquela que pode ter

¡› ›~ rsozxuausr
mcm, que não é mais capaz de encontrar um seutido em sua vida, ncm tampouco razão. Isso não quer dizer quc não existe ncnhuma verdadc Só pode cxístir uma

a
de inventá-lo, a ñm de -cvad1'r-se do sentimento de vazi0, de absurdo ou de falta de verdade; mas ninguém pode sabcr se é ele e não um outro que a lem. Humildade
lú O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO IN |'R()|)UÇÀ()

s¡'gniñca, portant0, tolerância. Tolerância, contudo, não quer dizer indiferença. e não há nenhuma pessoa para qucm a vida não coloque à dísposição um dcven
porque respeítar a fé dos que pensam diferente não signiñca necessariameme A poswsibilidadc dc realízução dc um sentido é, em cada caso. u'm'ca, e a pcrsonah'-
identiñcar-se com esta. dade que pode realizar~sc é ígualmcnte .s*ingular em cada caso. Na Iitcralum Iogotc-
Vivemos numa era em que o scntimento de vazio se propaga ímensamente. rapêutica encontram-se os traballms publicados dc CnscíanL Crumbaugh, Dansart,

mm
Nesta nossa época, a educação tem de cuidar não só de transmitir o conhecimento, Durlak, KratochviL Lukas. Mason, Mc¡'er, Murphy, Planova, Popiclski. Richmond.
Ruch, Sallee, Smith, Yarnell e Young, dos quais sc conclui que a possibilidadc de sc

_
mas também de reñnar a consciéncia, de modo que o homem aguce 0 ouvido a
ñm de perceber as exigências e desaños ineremes a cada situaçãa Em um tempo encontrar um sentido na vida é independeme dn sex0, do coeticiente de ínteligén-

m
no qual os Dez Mandamentos parecem perdcr 0 seu valor para tantos e muitos, cia, do nível de formaçãm é independente de scrmos religiosos ou não." e, se somos
o homem tcm de estar preparado para perceber os dez mü mandamemos cifra- religiosos, de que profcssemos esta ou aquela conñssão. Pur h'm, demonstrou-se
dos em dez mil situaçóes com as quais ele confronta sua vida. Porque isso não que a descoberla de um sentido é indcpcndcnle do carátcr e do ambieme.
só faz com que sua vida se apreseme novamente plena de sentido, senâo que ele Nenhum ps¡'qu1'atra, nenhum psicoterapeuta - também nenhum logotera~

cwm
próprio também se imunize contra o conformismo e o totalítarísmo - essas duas peuta - pode dizer a um paciente qual é o sentído; comudo, podc muito bem ah'r-

: -4.: ,.n
consequências do vazio exislencial; pois somente uma consciência dcsperta 0 tor« mar que a vida tem um sent1'do. Sim, e maisz que cste sc conscnm sob quaisquer
na “resistentemenlewapazí de modo que ele nem se sujeile ao conformismo nem
n condições e circunstância5. graças à possibilídade de encontrar um sentido tam-
se curve ao totalitarisma bém no sofrimenm Uma análisc fenomen0lógica da vivéncia in1ediata, aute'ntíca,
De um modo ou de outroz mais do que nunca a educação é, hoje em dia, uma tal como podemos experimentar no despretcnsioso e simples “homcm da rua',' e
educação para a responsab1'lidade. E ser responsável signiñca ser seletívo, ser mai- que precisa apenas ser traduzida para uma tcrminologia cientíñcau propriamcnte
culoso. Vivemos no Ventre de uma ajluent sociery, vívemos inundados de estímulos revelaria que o homem não só - em virtudc de sua vontade de sentido - procuru
provenientes dos mass media e vivemos na era da pílulzL Se não quisermos at0'gar- um sentíd0, senão que igualmente 0 encontra, por três cam1'nlms. Em primeim
-nos numa torrente de estímulos, e nem perecer numa promiscuidade completa, lugar, vê um sentido no que faz ou crizL A par disso, descobre um senlido nas ex-
enlão devemos aprender a distinguir emre 0 que é essencial e 0 que não é, entre o períências que víve ou em amar alguém. Mas também descobrc, evcntu.'llmenle,
que tem sentido e o que não tem, entre 0 que é responsável e 0 que não é. um sentido em uma situação desesperadora com a quaL desampa1'ado, se defronta.
Sentido é, por consegu1'nte, o sentido concreto em uma situação concreta. O que realmente conta é a firmeza e a atitude com que ele vai ao encontro de um
É sempre “a exigência do momento'.' Esta, por seu turno, encontra~se sempre dire- destino inevitável e irrevogáveL Somente a ñrmeza e a atítudc pcrmitcm que o
cionada a uma pessoa concreta. E assim como cada sítuação tem sua singularídade, homem dê testemunho de algo daquilo que só ele é capazz transthrmar e rcmodc-
F'" 7r'."f, m "rí':"t~

de igual modo cada pessoa tem algo de singular. lar o sofrimento no nível humano para lomá-lo uma realização. Um estudanle de
Cada dia, cada hora, atende, pois, com um novo sentido, e a cada homem medicína dos Estados Unídos me escreveuz
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espera um semido distint0. Existe, portanto, um sentido para cada um, e para cada
um existe um sentído especiaL
' Algo de que nâo precisamus admirarmu~nos, visto que considcnunos que alguénn tcnhn consciéncia
De tudo isso resulta o fato de que o sentído, de que aqui se trata, deve mudar
religiosa ou nn'u, pode muíto bcm ser rcligioso dc mnncira incunsciente, ainda que 0 seja no scnlido
de situação para situação e de pessoa para pessoa. Ele é, contud0, onipresente. Não lato do tcrmo, tal como o fomm. por exemplo. Alhen Einstein, Paul Tillich c Ludwig ngcnhlcín
há nenhuma situação na qual a vida cesse de oferecer uma possíbilidade de sentido, (vcr p. 88-89).
ZE 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO INTRODUCÃO 20

qugbsñ
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Recentemente. ta'|eceu um de meus mclhores amigos porque não con- A técnica poupou-nus dc emprcgar lodas as nnssas cnpacidadcs cm

4~W
scguia cnconlrar um scmida Hojc. contudo, eu sei que pudcria muilo bem prol da lula pela existência'. Criamos. purlamol um Estado dc hcm-csmr

- ~.z»;-
té-lu ajudado, graçns à lugoterap1'a, se ele cstivcsse Vivo. A sua mone. to- social quc garanle quc sc possu enfrcnmr a v1d.1 scm csfurço pcsan

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davia. me scrvirá para ajudnr aqueles que sofrcm Acrcdito não haver um Quando se chcgar ao ponm cm quv. grnças à lécnicn. 1590 da populaçáo

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molivo mais profundo. Apcsar da tristeza pela mortc de meu amigo. apesar americana scrá sulkicmc pura atcndcr .15 ncccxaidadcs dc Imla a naçâo.
dc minha corrcsponsabilidade pela sua morte, sua existência - c scu não- enlão se apresemarão n nós dois prohlcmag qucm furá parte dcsscs l5%

.A ,_. ._-
-mais-acr - é algo excepcíonalmenlc carrcgado de scntidu Se algum dia eu que irão lrabalhar c o quc dcvcrâo fazcr 05 dcmm'.s com acu Icmpo Iwrc -

._; -,\ v'a.~o.;~:_


tiver tbrças para trahalhar Como médíco e mc encontrar à allura de minha e com a pcrda du wnlido da vida? Pode scr quc a Ingotcrapia Icnha nmis
rcsponsabilidadc, cnlão cle não tcrá morrido cm vão. Mais do quc qualquer o quc dizcr ans Estudos Unidns dn próximn século do quc jà lcnha dadn
outru coisa no mundo. qucro rcalizar istoz impcdir quc uma tragédia como aos Estndos Unidos dcstc sécula
csta acontcça novumcnte - que não acomcça a mais ninguénL
lnfeh'21nenle. a problem:itica. nqui c .'|g()r.'l, é outnu frcqucnlcmcnte é 0
Não há nenhuma situaçâo dc vida que seja realmeme sem sentido. Isso desemprego que conduz à abumiáncíu dc tcmpo livrc, c já cm 1933 dcscrcvi u
ocorre porquc os aspcctos aparentemente ncgativos da cxisténcia humana, espe- patologia de uma “neurose dc dcscmprcgnfÍ Scm lmbnlho. a vida parccia às pes-
cialmente aquela tríade trágica na qual convergem 0 sofrimento, a culpa e a morte soas um absurdo - elas mesnms semium-.s'c imilcisx 0 muis oprcssivo nào em 0
também podem plasmar-se cm algn positivo. numa realizaçãa Mas, é clar0, me- desemprego em si, mas o scmimenlo dc vulxio cxistcnciaL 0 homcm nào vivc 56
diante uma atitude e ñrmeza adequadas. dc seguro~descmprcgu
E ainda há um vazio existenciaL E isso no meio de uma “ajlucnt socicryÍ Em contraposição aos anos l930. a crisc cconómica hoje é de ordcm
que nào deveria deixar insaxisfeita ncnhuma das neces.s'idades que Maslow deno› energét1'ca. Pura nosso cspantm tivcmus dc dcacobrir quc us fomcs de encrgiu
mínou fundamcnlais. Isso se deve ao fato de que essa sociedade só satisfaz neces~ não são perenes. Espero que nàn se tnmc pur uma frívulidadc a .\'ñrnmç.1'-u quc
sidades, mas não a vontadc de sentida “Tenho 22 anos',' escreveu~me certa vez ouso fazer de que a crisc energética c scu impedimcnlo incrcmc ao crcscimcnlo
um estudante amerícano. “Tenho uma formaçào um'versita'ria. tenho um carro de econômíco oferecan no quc di7. rcspeilo à nussa vuntndc dc scntidu frustruda.
lux0, usufruo de uma completa indepcndéncia ñnanceíra c tenho à minha disp0- uma oportunidade u'nica e grandiosu. Tcmos u oporlunidadc dc rccupcmr 0
sição mais sexo e prestígio do que sou capaz de suporlan Mas 0 que me pergunto “sen-ti-d0'.' À época do bcm-estar sociaL u muiuriu das pcswus tinha o suli-
é qual 0 sentido de tudo isso." ciente para viver. Mas muitas não sabinm para quc vivcr. Donwunlc podc muilu
A sociedade do bem~cstur traz consigo uma profusão de tempo livre que bem acontecer uma transposição dc énfusc nos mcins dc vidu puru um objctivo
oferece. é verdade, ocasião para se conñgurar uma vida plena de sentido, mas que, de vida, para 0 sentidu da vida. E, ao comrário dns fontes dc cnergl'a, o scntido
na realidade, não faz senão aflorar o vazio exislenciaL tal como podem observar é inesgntável e 0nipresente.
os psiquiatrzls nos casos da chamada “neurose dominicaPÍ E esta, ao que parece, Com quc direito, porém, arrismmomos u dizcr que u vida ccssa dc ler um
encontra-se a aumentar. Quanto a isso, enquanto 0 Institut für Demoskopie de sentído para algue'n1? lsso se devc ao fato dc quc n homcm ó capaz de convcrtcr uma
AllensbaclL em l952, comprovava que a quantidade de pessoas que considerava situação que, humanamentc consl'derada. nào lcm saídu cm ncnhuma rcalização.
o domingo um dia dcmasiadamente longo perfazia os 26%, hoje a cífra chega aos É por isso que existe no sofrimcnto uma pnssibílidadc dc semidu Evidcntcmcmn
37%. E toma compreensível 0 que añrma Jcrry Mandelz cslamos a falar de situaçõcs insolúveis c incvitáwis quc não sc dcixam mudiñcan
30 0 SUIJRIMFNIU l1I3 l7M¡\ \'l|),\ .\l-M \›I'N I IIIlI

'vJ~à .J'

dc um 's.ol'rimcnto cnm quc nào sc podc acabnn Comn médim. pcnsu nntu¡'n|1nc¡1|c
'-"W~-¡~" *--«--=N.L_ sapm ..t"3' -' T›'" '
\.
nas dncnças incuráwi5. cm carcimmms que nño sc podcm muis opcrmz
.›\(› cumprír um scmid(), 0 hnmcm rculilxu n si 1ncsmo. Sc cumprimos u
sentido du sofrinlmto, rculimmos cnlào 0 que dc nmis humnnn u lmmcm tcnu
-.1madurcccmus. crcsccmm ~ c1'c.s'ccnw.s pam ulém dc nós mcsn1os. Prccismncnlc
'.u', omlc nus mcontrunms dcx.”.\n1p¡u".1dns c dcscspcra1dos. quundn cnfrcnlaumw si
luaçõu quc nãu sc podcm mudan prccisamcntc aí Ó quc somos cl1.'\nI:uI(›s.', c nos
ó cÀ\'igidn. a mudar u nós mc.s'mos. E ninguém dcscrcvcu isso com mais cmuidào
do que Ychuda Bacom que cstcvc cm Auschwiu quundo aimla cm um mcnino c
sofrcu dc (›bsess(›c.s' depois dc suu lÍbCl'l'.lçkl-():

' ”A” RWEÇUFMAN|ZAÇÃO


Vi um cnlcrro, com nuísica c um magníiico cníxàu morltuirim c cumccci
a rirz cstão Inucns, ludn isso por causa dc um únicu c-.\dávcr? lendu ia a

DA PSICOTERAPIA
um mnccrto ou zm tcalru. linhn dc calculnr quunm lcmpn cra prcciso para
cxlcrmimr. cm càmnram dc gás. us lwssuas ali rcunidnsx c quunlaw pcças dc
roupaL dcmcs dc ouru c sacos dc cubclus sc podcriam juntaua

E então pcrgunmmm a Ychuda Bacon quc scnlido podcriam lcr os anos cm


quc passaru em Au.s*chwiU,':

Quando rapa7,. pelrsavm vuu contar uo mundo 0 quc vi cm Auschwilz ~


na cspcmnçn dc quc 0 mundo su lornaaxsc outm. Mas 0 mundo nào mudou. c
o mundo nuda quis quir sohrc Auschwilz. SÓ muilo nmis lardc comprccndi
Vcrdadcirumcnlc qual é u scmido do sofrimcnta O snfrimcnlo lcm um scn-
tido quando m mcsmo tornas~lc outm

Conlerênclas pmíeridas no comexlo da


Semana Unlversllárla da Universldade de Salzburg
em 1957, a convlle de sua dlreção.
1
Freud, Adler e Jung

Defrontar-$e com 0 dever de thlar da contribuíçào da psicoterapia à íma~


gem do homem de hoje signiñca defrontar~se com uma escolhm a saben a escolha
de proceder príncipdlmeme de maneira histórica ou emào principalmeme de ma~
neira sislemática. E essa escolha 's.igniñca uma torturm porque no caso concreto
da maneira sistemàticm terinmos de desenvolver uma polissistcmálica; p0is, pam
o atual estado do conhecimento e método psicoterapêutiv:os. vale unm \'nriante
da sentença. que soarín assimz Quut mpim mr sysrenmm Em outras pal.¡-\'ras. sería
algo ilimitado pretender aqui .1-nalisar mmbém ns mais imporlantes e correntes
sistemas psicoterapêuticos. A nào ser quL= imentawse exigir de meu público uma
paciência sobre-humana. Sim. mais do que issoz teria de presumir uma aprecia-
ção insuñciente sobre o conhecimemu da psicoterapia que já tum. Dinnte desse
dilema. decídi~me a abordar o tema não de modo histórico ou sistemátícm mas
cr1'tican1ente. Mas tambénL a respeilo di550. dá~se que nem podemos limitar-nos
a um só dos grandes sistemas, nem tampoucn estender~nos ao conteúdo geml de
cada um deles. O que somente intcressa. pormnto, é destacar um denmninndor
comum, isto é, no semido concreto de sublinhar a tbnte de perigos e crros inercn~
tes a todos os sistemas.
Espero que, no àmbito de minha e.\'posição. se evidencíe que o psicologismo
dinámico é uma das mais consideráveis to_n¡e'› de perigos e errOS prescmes nn atual
psicoterapia. Muito menos conseguiram manter~se livre de todo o psiculogisnw.
H U SUFRXMFNIH IHÍ lÍMA \'Il)r\ \F.\1\H\'l'll)0 fRIliH HDLI lll lUNh |\

ou atuar livrcmente sobre cle, os três clássicos da sistemática psicoterapéutica, Compreendc-56 de igual modo que. para aquclcs pacicmcs pudicos da pnssagcm
Freud, Adlcr c lung. Considcrando que a psicoterapia atual jaz nas trés colunas da do sécula o quc primciro sc lcvava cm conm cra n rcprcssño da scxualidadc. Nào
psicanáll'se, da psicologia indivídual e da psicologia analíüca, parece aconselhável esqueçanws. porénL quc a c.\^tcnsào do cnnccitn dc ~.cxuahdadc na psicanállsc c'. dc
ponderar as duvidals ames mcncionadas e depois passá-las em rev1'sla. u1111ado. mais amplo do que 0 dc genimL c. de nutro. mms rcstritu dn quc 0 conccilu
É-nns cvideme quc Freud tbi “o” pionciro puro c simples no campo da psico- de libido cunhado por Frcud.
lerapia e "0" gónio no que diz respeito à sua própria pcrsonalidada Se de repcnte - Para a psicanálisc. n ncurose inc|I'n.1'-sc. nñnnL a um cnmpmmism a um
se assím possn cxpressarmc - me tbssc cxigido fazer um esboço dos ensínamcntos cmnpmmissu cmrc os inminlm connitivos entrc si ou cmãn cnlrc .1s¡,1rclcnsócs dc
de Frcud, eu diria que foi mérito scu haver colocudo a questâo do senüd0, conquan- divcrsas insmncias intrapsiquicahz cumn as quc âào dcnumindes pclal psicanálhc
to lhc dessc um signiñcado difercmc do nosso ou mesmo não lhe dcsse nenhuma dc id, ego u .s*upercgo. Um Compmnússu é tamhúm a nalurclxn duquiIu quc Frcud
resposla. À medida que o fez. essa queslão foi colocada no âmbilo do cspírito dc chamou de atos fhlhng c o mcsmo sc podc dizcn por ñnL dn nalurcla do sonho.
scu tempo, islo é, cm um duplo aspectoz primeiro no aspecto matcriaL uma vez que Assim, paru cilar um exenlplo, qunndo um n.-1cíonal-socialisla dizia quc. cm umn
Freud encontrava-se preso ao espíríto da chamada cullura de veludo vitoriana - pu- daquelas famigcradas 1'nstí1uiçóc.s' nndc sc praticmmm a cutanalsiag sc “.1's.s^asu'n.'1-
dica de um lado. ldsciva. dc outro -, c segundo, no aspccto tbrmaL uma vez que suas vam" - e não sc “intcmavam" - p.'|c1'cmCS, ou qu.1ndu um pnhtico socialllsta thlava -
concepçóes tinham como basc um modelo mecânico que não era de ncnhum modo c cu a isso prescnciei ~ nào dc “prcvcnç.\"u cnntm .1conccpçào". nma dc "prc\'cnç.io
o mais eñcaz só porque se chamara (eufemisticamente) “dinâmico'Í contra a famlidadél é claru quc em ambos ns cusos sc impós algo que furu vítimu
Em especiaL Freud se empenhou em interpretar 0 senlido dos sintomas da rcpressão ou que pclo menos fora condcnadn a cLL
ncuróticos, o que o levou a avançar sobre a vida inconscienle da alma, descobrindo Quanto ao sonho, 0 cnmpmmissu sc Llai por calusu du prctcnsa ccnsum do
assim, nem mais nem mcnos, toda uma dimensão dn ser p51'quico. Mais tarde, no sonho, e lbi Max Schelcr qucm primciro chumnu u alc¡1ç.1"n para cssc ponlu fraco
ámbito do "inc0nsciente“.' conscguimos ver e reconhecer nlgo maís do que meros da p51'cana'lise, a sabcr. a aporia dcssc cnnccílu. quc rcaidc m idciu dc quc a inst.in-
instimos e inconscicme inslint1'vo, tendo conseguido comprovar a ex1's.'tênc1'a de cia que rcprime, censura e sublima nún é algo quc sc pmsa dcdunr dns insh'ntos.
algo assim como um inconscienle espirituaL uma cspiritualidade inconsciente e os quais proporcionam o quc do rcprimido ~ c, conscqucnlcmcnm nào podcm acr
até uma te" inconscientc;' tudo isso tàz parte de uma outra página e nào reslrínge o por si mesmos o quom da rcpressàa Cuslunm axplicur cssc aspccto alus nuvimcs
mérim hístórico que observamos na obra c no pcns.1'mcnto de Frcud. de minhas conferéncias por mcio dc uma cnmparaçãm aindu nãu acontcceu dc um
Para Frcud, 0 sentido dos sintomas neurólicos era ínconsciente não apenas rio construir sua própriu rcprcsa.
na acepção de “esqucciddl mas também na accpção dc “reprimido”.' Qucr dizer, No enta1m›, a psicwálisc cumctcu u crm dc limilar u campo dc visào nãn sú
lratava-se de um sentido que fora empurrado para 0 inc0115c1'ente. Isso porque tudo em relação a uma “genc.1'login da mnral'.' qucr d¡/.cr, Cnmu um hllPUSlO apoiu u th~
que se lomara inconscienle ou sc ñzera inconscieme cra algo desagradáveL No en- vor da repressão do 1'nstinlo, mas taunbóm cm rcl.'1g.1"oà lclcologiu quc dominu o scr
tnnto. os conteúdos respectivos da conscPCnCía eram dcsagradáveis segundo 0 siste- psíquico, visto que prcssupõc U príncípiu -- dcduxido da hiologiu - du humwslusc.
ma de coordenadas daquela cultura vitoriana de veludo, de que se falou há pouco. o qual valeria, em primcim lugaln no âmbitu dn naturuum c. cm scgundo. no da
cultura. Em síntese, e em scnlido cstr1'lo, isso s.*igniñcaria mmn quanln admitir quc

\'iktor E. FranU', A Pwsvnça lgnomda de l)cus. de. Walter 0. Schlupp e Helga H. Rcinhoch Sáo
0 humem está deslinudo ou sc dcixa destinur "a duminar c a rcmuvcr (› ncúmulo
'

Lcopoldo, Sinodal l Petrópoh's, \'ozes. 2008. de excilações e estímulos que recaem sobre elc dc dcmm c de Íbrafl c quc “para
0 SOFRIMENTO Dlí UMA VIDA SEM SFNTIDU l› FREUD. ADLER E IUNG

H
isso serve 0 aparato anímicdÍ2 'A's tendências principais admitidas por Freud estão senão também como reação diante da doença, da fmqucm e da deforn1idade. iz
pcnsadas em termos hmneostáticos. Quer dizer, Freud explica toda açâo como O sentimento dc infcriorídadc cxigc por sua vcz a compensação; scja no ãmbilo H
colocada a serviço do rcstabelecimento do equilíbrio perturbado. Todavia. essa da comunidade. e eventuulmente na sua cxprcssão, o "scntimcnto dc solidaric-
hipótese, vinda da física de seu tempo, e segundo a qual a distcnsão seria a única dade" - a parrir daqui se moslra quc, para além do biológ|'co, sc comprccndc
tendéncia básica primária do ser vivo, está completamente errada. O crescimento um momento sociológico -. seja na condução a uma compensação ou a umn
e a reprodução são processos quc resistem à explicação através e tão someme do supercompensação desse sentimenlo pam alóm da a›nmn1'dnde. 0 que, segun~
princípio homeostálicoÊn Portant0, nem sequer no âmbito da dimensão biológica do a teoria da psicologia individuaL constítui a naturcza da ncurusa A pctilio
se faz valer 0 princípio homcostát1'co, para não falar do àmbito psicolo'gico-noo~ principii da impulsividad'(. quc se rcprimc a si mcsnm, scgundo a pcrspcclm psi-
lógicoz “A“qucle que cria',' por exemplo, “coloca seu produto e sua obra em uma re- canalitica, corresponde tambc'm, nu âmbilo da psicologia individuaL a uma nu~
alidade posítivamente concebidm enquanto a aspimção ao equilíbrio daquilo que tra petitia principii à medida que, comn conscquênau du tcoria de Alfrcd Adlcr,
se acomoda à realidade é concebida ncgalivamente'Í" Gordon W. Allport também não é uma instância pessoaL senão uma instâncm social quc delcrmina a aliludc
assume uma posição crítica em relação ao princípio da homeostascz e a oriemação do homem para com a comunidadez decisivos sã0, cm relação a
ísso, as círcunstância5, a educação e 0 ambiente social - sc podemns acreditar na
A molivação é considerada um esmdu de lensãu, que nos leva a buscar
psicologia individuaL
o cqu1'líbrio, o Sosscga a aconwdação, a salisfaçào e a homeoslasc. No qua›
Ao discorrermos agora sobre C, G. lung e sua psiculogiu anal¡'tica, nunca é
dro dussa visão do 5cr humamn a personalidndc não é nada mais do que 0
bastante saliemar o mérito a ele impumdo dc, cm seu tcmp0, islo é, nos primeims
modo dc dimínuir nnssas tcnsÕcs. Naturalmel1le, essa pcrspcctiva casa per~
anos do século, ousar deñnir a neurosc como “o sofrimento da alma que não en~
tc'ilameme bem com a concepça-'o, que servc de basc ao empir1'smo, scgundo
controu seu sentiddÍ À vista diss0, tanto maís tcmador é o p*s.icologismo analítico
a qual o homem é imrinsecamente um ser passivo que recebe impressóes
associado à psícologia analíüca. O mérito de tê~lo delinitivamcnle dcsnmscarado
úníca c exclusivumcntc do cxlerior c rcage única e cxclusivamentc a e|as.
pertence, sobretudo, ao barão Victor E. von GebsattcL que, em seu Christcntum
Isso podc scr baslantc correto quando temos dc lidar com a natureza da
Lmd Humanismusf apresema a pessoa como uma instâncía suprapsicolo'gica. a
aspiraçâo cspeciñcameme humana, cuja característiü própria é justumentc
qual ele sente faltar na imagcm dc homem aprcscmado porlu11g. Só essa instâ11cia,
a de não se cncontran de modo algum, \'0cnci0nada ao equilíbrio ou à redu-
orienlada a critérios adcquados a ela, é capaz dc instituir uma ordcm igualmcnte
ção das tensñes - pelo contrário; é vocacionada à manutenção das tensões.
no caos dos motivos religiosos e das expcriências intcrnas quc lhc ofcrccc o ¡ncuns~
Alfred Adler, em contraposição a Sigmund Freud, vai muito além do psi- cieme - ao aceitar uns e ao rejeitar outms. Todavia. nessa imagcm de ser hum\ano
cológico, uma vez que recorre, em primeiro lugan ao biológico sob forma de falta a instância capaz de encontrar a decisào perante as “crinç(›es du inmnsc1'ente'.'
"inteári0ridade ()rg.1'm'c.1".' Esta, como fato somálic0, conduz ao “Scnlimemo de infe- Deus é escolhid0, mas não na decisão da fé. “Se isso não é psicologismo'.' díz von
rioridade" como rcaçâo psíquica - não só cm relação a uma ínferioridade orgânica, GebsatteL concluindo, assim, sua exposição. “então sc pode dizer que o clefame é
uma margarida e añrmar justamemc que se é um bolân1'co'."'
'~ Sigmund Frcud, Gesammclre Wcrka Frankfurt, S. Fischen voL XI, 1940 p. 370.

“ Charlolte Bu"hler. Psyclwlagische Rundschau. H.1n1burgo, vol. VIlll l, 1956. 'Vicl0r E. von GcbsaltcL Chrtsrvnlum zmd Hmmlnismui SluugarL chlL l947.

* lhidenL " Ibídem. p. 364


3N O SOFRIMENTO DF UMA VlDA SLM SENTIDO l PRBUD. ADLER E IUNG 39

Amargas palavras dirigidas à psicologia junguiana também se encontram AppelL Lhamon, Myers e Harvey). E somentc em casos cxccpcionais. como na
em Schmid. quando estc diz - e a censura por isso - que aquela se lornou uma reli› clinica ambulatorial psicotcmpêulicu dc Eva Nicbauer, dirigida scgundo os prin-
J
1
gião. Os novos dcuscs scriam os arquétipos. Só com rete~rência a eles se proporciona cípios da lugolerap1'a. rcgistra-se uma indice de alú 75%. Mnis do quc issoz B.
à vida seu scntido. O derradeiro apoio metafísico do homem enconlrar~se-ia. con- Stokis póde mostrar quc casos cxlmordinários de sua “união pcssonV dc pacicm

:mmmrrKWmm
sequentenaente, em si mesmo, e sua “psique” seria algo assim como um modemo tes tratadus com ajuda de métudos psicoterapéumos antagónicus tinham alcan~
Momc Olimpo povoado de dcuses arquctípic05. A psicotcrapia individual tornar- çado os mesmos rcsullados favorávci5. É também igualmenm conhccido quc a
-se-ia uma açãn sagrada, c a psicologl'a, uma concepção de mundo. “Perguntamo- porcentagem de curas permuncnlm é indcpcndentc do métodn psicoterapéulico

mwrz
-nos'l segundo as palavras de Hans Jórg Wtitbrechn “com cerla admiraça'0. como é empregado; a única coisa quc divcrgc é a duraçàn do lratamcnlo. Para além dis-
possível quc haja teólogos que não se dào conta dessa rcdução consequente de toda so, deve-se acrescentar quc numa clínicn eslrangcira se pódc comprovar quc os
lranscemíência à imanéncia psicológica e p(›dem. além d1'ssu, ser convictos discí~ pacíentes que se encnnlrawun na lista de cspcra. islo é, ainda nãn apreciadns

.
pulos dc lung'.' A transccndência é reduzida até mesmo a uma imanéncia biológi- pelo tratamento psícolcrapéutic0, aprescntaranh mediante tcstes, mclhoras ob~
caz "Herdam-se os arquétipos com a estrutura ccrebrah são inclusive seu aspecto jetivas cujas porcemagens revelanuwse signiñcativamente mais elcvadas do quc
psíquicoÍ" Mais do que issoz dois estudiosos americanos “parecem ter conseguid0',' aquelas de pacientes cm lratamcnm Quem nào se lcmbm aqui da indicação dc
dísse Jung com ar de triunfo, “provocar, através de cstímulos ao tronco encefálic0, Schaltenbrand, scgundo a qual as mcdídas tempêutims comm a csclcrose mu'l-
a visão alucínada de uma thrma arquetíp1'ca'.' isto é, “do chamado símbolo de man- tipla, quando não conduzem a mclhoras cm uma porccnmgem delerminada de
dala, cuja localizm;ão, neste tronco enccfálico',' C. G. Jung “há muito tempo presu~ casos - ou seja, em uma porccnlagem que corresmmda à tcndéncia cspontànca
mia. Sc tbr possível conñrmar essa idcia dc uma localização do arquétipo mediante de remissão da doença -, equivnlem já u uma Icsão do paciente?

L
experiências po.s'teríores, então se aumentaria consideravelmente a probabilidade Para entender ludo isso, é precíso distunciarse do prccunccito cliológico dc
da hipótese da autodestruição do complexo patogénico por meío de uma toxina
que a psicoterapia, em especial a psicanálllm nào é cñcicnle no scnlido de uma tera-
especíñca, e então sc predisporia a possibílidade de entcnder o processo destrutivo pia inespecíñca, senão no scntido de uma 1erapia causaL Mus ncm todos os tão incri-
como uma espécie de reação de defesa biológica falida'.' Em toda essa questã0, não
minados complexos, conHitos e sonhos aqui mencionados ~ c u cujo dcscobrimcnto
podemos ignorar que Medard Boss, por excmplo, denominou “a noção do arqué-
atribuem os métodos psicolcrupéuticos seus possívcis êxitos - são tãu patogéni~
tipo como um produto abslrato, e hipostasiado, do isolamento mental'Í
cos como se pensa ou se sup›(e. Na vcrdadc, como mcus colaboradorcs thcilmcntc
Seria insistir no erro pretender veriñcar a leoria do psicologismo dinàmi-
puderam demonstrar ao longo de levuntumcntos CSldÍÍSliC()S. uma série não sele-
co a partir da terapia, ou seja, “cx iuvantíbusÍ Há muito tempo que descobrimos
cionada de pacientes de nossa clínica neurolúgica lraziam consígo muilo muis com~
quc. no àmbito da psioterapia, o respeito muilo difundido para com (f'acts” e
plexos de traumas e conflitos quc uma outra série de casos, lambém não selctivos,
"ejfíciency” encontra~se descolocado e obsolet0; já não é mais possível ater-se
da enfermaria ambulatorial de psícoler3pia. E é prccíso csclarccar quc lcvamos cm
ao mandamento: “Pelos seus frutos vós os conhecereis'.' Independentemente do
conta no cálculo a carga adicíonal de problemas dos docntes neumlógicos_ Seja dc
respectívo método psicoterapêutico empregado, a porcentagem de casos cura-
que modo for, não se pode falar quc os complcx<›S, os conflitos e os traumas scjnm
dos ou signiñcaüvamente melhorados oscila entre 45% e 65% (Caruso e Urban,
realmente patogênicos - pelo simples fato dc que sào ubíquos. O quc se toma gemL
mente como patogênico é, na rcah'dade, palognômicu quer dizcr, é mcnos a causa e
7 C. G. lung, Scclenprablcme dcr GcgcmvarL Zuriquc, Rascher Verlag, voL 3, l946, p. 179. muito maís 0 sinal de doença. Quando no quadro de um levanmmcmo anmnnésico
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U SOFRIMENTO DE UMA \'H).›\ SLM SLNTIDU

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40 l. HZFUIL ADLER E IUNG 41

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emergem complexos, conflitos e lraumas, acontece algo semelhante ao recite~ que "O processo de sugesnío começa antes quc se pronuncic a primeim palavra'.'
emerge junto a maré bam"a, mas que não é a causa desta. Não é, portant0, 0 recife assinala M. PHanL e "o conhecimenlo de quc quase em toda terapia tomam parle
que dá origem à maré baLKm senão a maré balx'a que faz nascer 0 recife. Analog1'ca- no jogo qumas de sugestã0. como mmbém salienla Slokvis, talvcz ajudc a rcmovcr
mcnte. uma análise faz añorar complexos que são precisamente sintomas de neu- os preconceitos com que se nmnifesta a sugcstãdÍ

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roses, indicaçóes de d(›ença. No caso dos conflitos e dos traumas, se trata de uma Abstraindo desse tàtor sugcslivm 0 mnmenm da simples oporlunidnde de sc

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tensão e uma exigéncia, em síntese, de um estresse no sentido de Selye, mas essa é pronuncíar desempenha igualmeme um papel dc alívío no pacicnle. Com efcito,
uma razão a mais para se advertír como scmpre, do erro tão disseminado, que vê só nào só a dor “partilhada" mas tamhém a "comparlilhada" é mcia don sc Lsso carccc
na tensão nlgo de patogênico c nã0, ao contra'rio, no alívio: evidentemente deverá de uma prov.1', rccorrercí cntão ao seguintc episódiuc fuí um dia pmcurado por
tratarse de uma certa tensão bem dosada; de fato o estar submetido a um esforço, uma estudante ameríaum interessada cm me íhlar de suas quci.\'as. F.xpressava-se.

mnimnw
o ÊIÍO de enconlrar-se em tensào para realizar uma determinada tarefa pode bem contudo, por meio de um jargão tão terrível quc, apesar de todos os mcus estbrçosx
ser “antipatogênicdÍ Houve poucos Iugares no mundo com mais cstresse do quc em não consegui compreendcr uma sú de suas palavras. Como e|a, añnal dc conlas.
Auschwilz e cxatameme ali desaparecemm p“raticamentc as doenças psicossomáticas desabafara, c também com o intuito de disfarçar o mcu cmbaraço. cncnminhci-a
que com tanto gosro ejrfquência são consideradas condiciomzdas pelo estrcsse. a um de meus colegas - também mncricano - com o pretexm dc que precisava

' ~1amwm7
Porém, nào só os complexos não resultam ser em si mesmos patogênicosz fazer um eletrocard1'ograma. Só quc ela ncm procurou o colega ncm vollou a me

rrrts
muílas vezes são até iatrogênicosl Seja como for, Emil A. Guthcil e I. Ehrenwald procurar. Na verdade, eucontramo~nos tcmpos LICPOÍS no meio da rua, quando se

.›
mostraram que os pacientes dos freudianos sonhavam com 0 complexo de Édipo; veriñcou que a convcrsa comigo lhc havia bastado paru superar uma situação c0n~
os dos adlerianos, com os contlitos de poder, e os dos junguianos, com arquétipos flitiva C011creta. e até hoje não tenho a menor ideia do quc ela mc dissel
Os íntérpretes dos sonhos não podem mais ñar~sc neles, uma vez que - como bem De tudo isso se conclui que 0 quc a ps¡'cmm'll'se. ao cuntrário dc como ela sc
añrmam os própríos eminentes analistas - estâo de tal maneira dirigidos que são compreende a si mesma, isto é, no semido que atua por meio de uma convcrsào
muito “bem-vindos" pelo médíco que os trata, quer dizer, correspondem perte'1'ta- do dinamísmo afetivo e da energia 1'mpulsiva, faL na reall'dudc, quando alcança
mente às suas tendências interpretativas. seu efeito terapéut1'c0. é trazer uma nova oriemaçào eÁ\'í.s'tencial ao pacieme. Se

vr iammlrxw
Onde a psicanálise atua tcmpeuticamente, atua, em suma. como uma tera~ uma palavra tão em moda não causur horror, podemos thlar com r.-17,ào de um
pia de sugestào. 0 paciemc não consegue nem sequer compreender a procura encontro humano como o agente uuténticu das normas dc tratamcnto psicana-
de complcxos reprimidos empreendida pelo médico, a não ser que se informe 1ítico. De igual modo, a chamada trzmsfcrência nada mais é do quc um veículo
'-”

desse encontro human0, e assim também o entcndc Rotthaus quando comesta


., .

sobre 0 procedimcnto dcssa procuru. No entanto, se ele se inforlnn, 0 quc, de-


vido à grandc publicidade dos conceitos fundamentais da psicanálise. é quase que a transferência representa um pressupusto incomiicional dn prmcdimcnm
sempre uma regra, demonstra, já pelo simples fato de pór~se sob tratamento psicotcrapêutico. É evidente que uma nova oríentaçào L-*x1'stcnci.1'l ~ como aquela
.'»:';:r'.'v

psicanall'u'co, quc o aceitara e se encontra animado pelo correspondente sen- quc vise à análise existcncml de modo dircto c com plenn consciência dc métm
timento de expectaliva em rclaçâo a ele, que atua por autossugesta'o.“ do - considerada como taL quer dizen enquanto e4\'ístencial, ron1pe. pelo menos
tanto quzmto a chamada transferênc1'a. as frnnteiras dos processos meramentc
mwrr

“ L Berzc, “Psychmhcrapie von Vcrnunft zu \'ernunñ'.' In: Hubert I. Urban (org.), chtschr_iñ zum 704 intelecluai5, racx'onais, e com efeito póe em andamemo um procesxsn tolaL plc~
Gcburtsmg von me. D.r ()m› Po"Izl. Innsbruck. 1949. L
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nameme humano. Devc ser menos cv1'dente. por seu lurno, 0 fato dc quc a nom

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0 SOIIRIMFÀWO IJF UMA VIDA SFM SFNTIDO

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mas, como já se disse uquL o que menos importa no âmbito da psicoterapia é o

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métodn c a técnica empregados. O que conta muito mais é a relação humana en-
tre o médíco e 0 pacientc. Existem casos mais do que suñcientemente registrados,
A logoterapia

A. ~_ .! ,. «x-
nos quais se rcvela que aquilo que impressiona ao pacicnte de modo dccis1'vo, c

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que torna accssívcis as influências médicas é 0 ser desvestido do próprio papeL

,n- v~_-~«- r.
ou seja, o deixar de lado u atitudc díslamcn Parece~me que o sonho de meio século
chegou ao ñm, 0 sonho da eficiência de uma mecânica da alma ou de uma técnica

4 ,.-_
da psicoterapia ou ~ em outras palavms ~ 0 sonho da possibilidade de se explicar
a vida psíquica com base em mecanismos e de um tratamemo dos sofrimenlos
anímicos com ajuda de tecnicismos.

í Há agora uma psicoterapiu que reconhccc, de antenm'0, que - ubslraindo


das neumses príncipalmente noogênicas - atua nâo de modo causaL senão no scn~
tido de uma terapía ine.s*pec1'fíca. E delu, isto é. da logoter.-11,›ia, dil Edith Ioclson dn
University ofGeorgia em “Some Comments on a Vienncse School ofPsych1'.1'lry".-'

Com efeilo, é possívcl que a leorin psicodinâmica das neurosns csteja


ccrtu quundo uñrma quc nu géncsc dc loda ncumsc p.1'rlícip.1'm de mamcirn
dec1'siva. na prímcira 1'nfância, os cunílitos instintiv0s. Nn cnt.'1nt0, pouco sc
alcança - cspecialmenle cm pncicntcs adulms - sc nãn sc lcva cm cnnm umn
reorienlaçào para valores c scntidm csscnciaís ao proccsso tcrapéulicu

Em outros termosz 0 que intcressu vcrdadeirameme é a entrega a uma tare-


fa, quero di2er, a uma tarefa pessoal e concreta que se torna clara no decorrcr da
respectíva análise exístenciaL

E uma péssimn moda de nosso tcmpo achar que a psicoterapin “pm-


priamentc d¡(a" deve ser scmpre psicanálisc. Essc tipo dc añrmaçào prcs-
supõc o parecer completamente cquivocado de que no fundo toda ncur0~
se [...] deve ser atribuída a uma atitudc errónca da primeira infância e se

' Edith Joelsom "50me Commcnts on n Viennesc School of Psychiatry'.' Thc Ioumal _ofAbnornml nnd
Social Psychology. voL Sl, n. 3. l955.
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44 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO 1ALOGOTER^PIA 45 U

.v. .,
enraiza profundamente. ponamo, na personal¡'dacle, e que todos os outros Contrariamente a ]. H. R. Vnnderpas. que ousou añrmar que “os logolera~ Í
.-'__-Í
Lrutamemos psicoterapéulicos não passam de um sucedânco de pouco valor, peutas podcm lambém trahalhar scm a ps.*ic.'lnálíse'.' F.. K. lxdermanm do Marlbu- y4(.
uma nbra incomplcm, um autocngano do lnédico, etc. Essc perigoso equívo~ rough Day HospitaL detbndc u conccpçào scgundo a quul uma análise dn cxisténcia
co só póde [...] nascer em círculns de trabalho nos quais a sensibilidade para não exclui a nccmsidadc de uma análíse du libido e que podc acomeccr que csm
a prálica gcral da medicina [...] dcsapareceuÊ última seja necessária para tàzcr com que a prinwira scja eñcaL Em contraposição
a ísso. añrma G. R. Heycrz
Uma psícotcrapia não psicanalítica também tem êxitos dignos de nota.
lsso vale, em especiaL para a escola behaviorista c retlexológica. Ev1'dentemente. É prcciso conlradizcr a hipótcsc. que sc lé com frequéncim dc que cm um
tais éxitos podem ser potencializados, lão logo se arrisque a ascender à dimen- trutamcmo de psicoloW profunda n pnrtc dc descnnstrução "analílica" seria

M ,_.:m
sâo propriamentc humana. N. Petrilowitsch nos revela 0 que se pode conseguir complcludu mai› Iurdc por uma pnrlc dc cnnslruçào ".sintélic.x"Í Scmclham
com csse fator adicionaL quando añrma que, ao contrário das outras psicotera~ tcs concepçõcs são inopormms c pcnsam dc mndn mcuinicuz é cnmo sc a
pias, a logotcrapia nào permanece na csfera da neurosa scnão que a ultrapassa c psique ((› “apamto anímico" dc l-'rcud) se dcs'u›nlpu›c'.xsc primciru c dcpuis
encontra a dimensão dos fenômenos espccificamentc humanosf De fato, a psi- sc construn'.s".sc “sobrc U nnvdÍ Qucm nàn Icva cm considcmção u positívu. u
canálise, por exen1pl(›,vê na neurose o resultado de processos psicodinâmicos e todo c 0 sã0, 0 “hnmem concrcldl Com suu imagcm sccrclzL c nán sc dirigc a

.2-r
tenta, em conformidade cnm isso, lratá-la de modo que promova novos proces- elc internamultc. dcsdc 0 primciro mnmcnlo c igualmcnlc n.| thsc crílica - e
4:<
sos psicodinânúcos, como acontece com a transferência. A terapía do comp0r- f com ñrmcza -, perdu o quc rcsulta dc dccisivo cm todo lmtamcnm e orien~
L¡.
tumento - uma teoria fundamentada na .'1prendizagem -. por seu turno. vê na i
tação humanos. Descriçõcx~ cumo a refcrida › das duas lllses nitidamcmc sc-

neurose o produto de processos de aprendizagem ou condirioningprocesscs e se paradas ~ revelnm quc csses aulurcs ainda sc nlnjam num profundn cncnnlo

esforça, consequcntementc, em iníluencíar a neurose de modo que a encaminhe peln frcudismo 0rloduxo.

para uma espécíe de reaprendizado ou recandítioning processm Em comrapar-


De mancira análoga se cxpre.s'sa, por 1im, A. Maedcn quando evoca e udver~
tidu, a logoterapia ascende à dímensão humanau lornando-se. dessa maneira,
te por mcio da fórmulaz “Nào há ncnhum csquema cnmo eslcz primeiro a análise.
capaz de acolher cm seu instrumemal os tbnômenos especiñcamemc humanos
depois a síntesãí "Parecc-me algo além de qualqucr evidéncia o thto dc quc tcnho
que nela se encontram
de emrar em cas_a todas as vezes pelo porão c. lodas as vezcs, lr1'llm"-lu e cumcç.1r
Não se pode empregar qualquer método cm qualquer caso com as mes~
qualquer reparo a parlir de ba1'xo."" Lcrnbmno~1105, cunmdo, ncssc conlextm quc
mas esperanças de éxito nem tampouco toda terapia pode manejar qualquer
tbi o próprío Freud aquelc que assim Compreendcu a psiczmálisc: “Eu sempre me
método com a mesma eñc1'ém'1'a. E o que é válido em relação à psicolerapia em
detive no rés do chão ou no subsolo do cdifícidl escreveu clc a l.udwig Binsmmgcn
geraL o é. também e partkularmcnte, em relaçào à logoterapia. Numa palavra,
OS dois exemplos quc segucm pretendem esclarcccr como não é indispcn-
ela náo á uma panaceial
sável que a análisc existencial lugolcmpéutíca seja prcccdidu dc umu psicamàliscz
Desde os lrczc anos, Judith K. padecia dc uma agorafhbiu agudaL Já hawia
sído tratada por colegas especialistas proeminuum submetida unm vez à hipnoscx
" l. H. SchullL ch scvhschc Kmnkenbvimmilwzg Stuugum 1hieme, 1958.

* N. Petrilowilsch. “Ul›cr die Slellung der Logmherapie in der klinischen Pxçychuthcrapiéí DI'›:
medizimsche \'VL"Í,1"L 2. l9(›4. p.79()› * Franz Iachym, Kullwlik und Psichotherapin Vienn. l954.
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disso, que scria irremediáveL Na rcall'dade, Como a nós ñcou evidente em pouco med0. póe-se cm fuga do mcdo, cscnpa dn medo para pcrmancccn pamdoxalmcm

A.
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tcmpo, tralava-se não dc uma neurosc psicogénica, mas de uma pseudoneurose. te, preso a ele: tcmus aqui, pois. dc rcmelcr-nus ao modclo da rcaçào agorafóbica.
Rcalrmnte. algumas poucas injcçóes de diidroergotamina tbmm suñcientes para Nesse senu'do, quer dizcn no scnlido dc quc cxislcm ditbrcnlcs lípos de rcaçâq

-m_;.
a paciente se ver inteiramenle livre do problema, de modo que, depois de sua re- distinguimos pois, na logmcrapia clínica. divcrsos mudclos de rcaçào.

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cuperação médic-a, também cessou. sob todas as formas possíveis. o conflíto ma- Assim como o ncurótico fóbico rcagc aos acus alaqucs de mcdo com mcdo

c
trimnniaL É incomestável que csse conflilo existia, mas não cra do tipo patogénico ao medo, tumbém o ncu rótico ubscssivo rcagc.-1 scus ataqUCS obwssivos com medo

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c. consequemenlente, tampouco era psicogênica a doença de nossa paciente. Se à 0bsessão, e apcnas a partir dcssa rcuçio é que surgc a neumsc pmpriamenlc 0b-

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todo conílito matrimonial toÂsse patogênico, cmão provavclmente 90% dos casados sessiva e clinícanwnle n1an¡'lc'stu. É prccisamentc por tcmcr scus alaqucs obscwl
seriam neuróticos. vos que os pacientes atklados vecm ncles indícius ou sínlomns de uma psicosm ou

nazurvnümwmmw
Mas não é como se toda hipofunção da glândula tírcoide conduzisse direta- cntão receiam convcrtcr cm am scus impulsos obsmssivmy Iíntrctanto. ao conlrário

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AWJ1~4'
mente a uma agorafobia; pclo contrárío. o que se vcriñca é que a hipofunção traz do tipo neurótico tõbic0. que por rcceio ao mcdo sc póe a llugir do medo, o lípn

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consigo uma mera predisposição ao medo, da qual deve logo apodcrar~se uma neurótico obsessivo reage de modo que. por rcccio à obscssúm comcça uma lutn

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ansiedade amecípatória, cujo mecanismo é baslante conhecido por no's, psícotera- contra a obscssâu Enquanto 0 ncurólim tbbicu lbgc du mcd0. u ncurólicu obses-
peutasz um sintoma, em si inofensivo ep.-1.s'sagcir(›, provoca no paciente o rece1'oto"- sivo corre dc cncontro à obscssãn » c, cm numcrusos cusos de ncurosc obscssiva. é
bico de sua repetiçãa Em segu1'da, essa ansiedadc antccipaúwia reforça o síntoma, precisamente esse mecanismo o pauugénico pmpriumcnlc dim.

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e, ao ñm, cste, já reforçad0, conñrma aínda maís o paciente em sua fobia. Fecha-se Numa perspecliva dos fundanwnlos cnnsliluciomis. ó possívcl compmvar

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assim o círculo vicioso, no qual o paciente se vé pre50 e detido, como num casulo. a existência de uma disposíçãn psicopátimy (Ínm clbilm é ncssa psicopatin anan~
De tais casos pode-se dizen sc o desejo, comn añrma o provérbi0, é o pai do pen~ cástica onde se cnxerta por si mcsmm scgundu 05 casos dislintos. csta ou aquela
samento, então a angústia é a màe do acontecimento, a saber, do processo pat0- característica do mcdo que afela o pacicnla A psicopalia nnnncástica - 0 subslmto
lógíca O propriameme patogênico é, em muitos casos, a ansiedade antec1'pat<›'ría, de sua neurose obscssiva - não é imputável à pcssoa (cspiritual) do p.au'cntc. senão
enquantn esta é aquela que, antes de mais nada, ñxa 0 sinlomzL Nossa terapia, que se cncontra ancorada em scu carátet (anímicu). Nesse sentida o pacicnte não
contudo, deve atuar ao mesmo tempo no polo psíquico e somárico desse círculo é nem livre ncm responsável - somcnte o é. ludav1'a.e1n vista dc suu alitude dianle
vicioso, dirigind0-se de um lado comra a predisposição ao medo - prccisamente do 'A'nankasmus" (ananquc). O quc rculmemc conta lcrapeulimmcmc é a amplim
pela medicação para csse ñm especíñco - e, de 0utr0. simultaneamente, contra a ção do cspaço dcssa liberdade a panir dn momcmo em que sc cria umu dislànakl
ansiedade antecipatória - no sentido daquilo que diremos ao falarmos em seguida entre 0 humano no doente e 0 docnlc no homan Tal lcrapia não é síntomáticm ao
do método da intenção paradoxaL Desse modo, 0 círculo neurótico permanece contrárioz não sc preocupa demasiudamcntc com os sintomasy scnào que sc dirigc
inserido numa pinça terapéutíca. à pessoa do pacienle - a sabcrz que ela se csforcc em mudar a nlitudc dcslc pcrante
No entant0, o que é que provoca a ansiedade antecipalóría? De maneira tí- o sintoma. Contamo que a logotcrapia nào sc voltc pam o sinlonm mus procurc
pica, o medo tão frequente do pacíente dianle do próprio med0, e precisamente ao levar a uma mudança de at|'tude. a uma novu oriemação para com 0 5inloma. ela é
recear as possíveis consequéncias para a saúde derivadas da sua excilação ansiosa, uma auténtica psicotcmpia pcrzsonallistau
uma vez que receia a possibilidade de que ele próprio colabore com um ataque Ao contrário dos modclos de ncurusc fóhicu e de neurosc ObSCSSiViL enc0n~
de coraçào ou com um derrame cerebral que possam vír a atingi-10. Por medo do tramo-nos, no modelo de rcação dos neuróticos sexuaisx dianlc dc um pacicntc
SLI O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SEM SENTIDO

que por alguma razão se sente inseguro de sua sexualidade e, em consequência


dessa insegurançm reagc de maneira que ou intenciona tbrçar o prazer sexual ou
5
imencíona reílctir ao extrcmo o ato sexuaL No primeiro caso, ele faz do ato um
programa; mas o prazer não pode intencíonar como ñm último em si mesmo,
A intenção paradoxal
scnão que se reali7.a. propriamente falando, no sentído de um efeito. de modo es-
pontáneo. justamcnte quando não é perseguída Pelo contrári0, quando mais se
busca 0 prazen tanto mais ele tbge.
E como dissemos há poucoz o medo já reali/'.a aquilo que teme. Então po-
demos dizer doravante: 0 descjo demasiadamente intenso já impossibilíta 0 que
lanto deseja.
De tudo isso tira proveilo a logotcrapia à medida que oriema 0 paciente a
cnfrentar-se, ainda que por algumas fmções de segundo, justamcnte com aquilo
Pretendemos agora retomar 0 tema da intenção paradoxaL tal como já foi
que tamo teme - portanto, a desejá-lo paradoxalmente, ou a aceitá-lo antecipada~
descrito em meu artígo “Sobre 0 Apoio Mcdiulmcnloso da Psicolcrapia no Caso
mente, conseguindo assim tirar da ansiedade anlecípalória ao menos o vento que
de I\Ieuroc›.es'll publicado em l939. Nesse contexto, pnrccc dc bom tom rcmclcnmc
sopra sua velzL
antes de tudo aos casos que foram discutidos em mcus livros 'lhcaric xmd Yherupic
der Ncuroscn ÍTeoria c Terapia das Neuroscs]. A Psirotempm unm Oasuístím pam
Médz'cos,3 A Vonmdc dc Scntido' e Logotcmpiu u Amilisc Ifuvc1'stwu'z'al.l A seguin con-
centraremos a atenção em um malerial ainda não publicado.
Spencer M., de San Diego, Calito"rni.1', escreveu-no.s*:

Dois dias após lcr lido u scu livro, Em Busca de Scnlidof cncnnlrei-me
em uma sítuação quc me proporciunou n uporlunidadc dc pór à pr0va. pcla
prímeira vez, a logotcrapia. Participci na univcrsidudc dc um scminário so-
bre Martin Buber, e durante o primeiro cncontm não livc papas na língua
.:ar.

' Viktor E. FrankL “Sobre u Apniu Medicamcmosu da Pskutcrupia nn kiaso dc Neurose§Í


xrm

ln: Lagoterupia v Amílise ExísrcmiaL São Paulu, Forcnse Unívcrsilária. 2011

'^ ldem, A Psicotcmpiu mz Práticw Trad. Cláudid M. CnmL Cumpinas;, Pap1'rus. 199L

' ldcm. A Vonladc zlc Sentida Trad. Ivo Sludan Percim Sào Paulu, Pduluau 201 l.

' Idem, Psiwlcmpiu c Sculído da \'ida. de. Alipio Muia dc Custm S. cd. Sàu l'au10, Quadrnnlc. 2010.

5 ldcn1, Em Busca dc Scntido. TrmL Waller O. Schlupp e Carlos Avch'nc. São l,cupo|do. Sinodal /
Pctrópolis. Vozes, 2009.
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52 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO J. A INTENÇÁO PARÀDOXAl SJ

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quando acredilei ter de dizer mtameme 0 contrário do que os demais u- maís tempo'.' Elaz "Eu não sabia quc o senhor Iambém sufria dc lremnrcsLn
nham dilu Enlâo comecei sem mais nem menos a transpírar intensamente. Euz "Não. não - de modo alguml Mas sc eu quiscr. lambém posso lrcmcr'.'
Logu quc mc dci conta disso ñquci com medo dc que os outros pudessem (E comccei r c com quc intcnsidach E claz ^'Oh. o scnhnr cunscguc lrcmcr
percebcr u mutivo pelo qual comccei a transpiran De repcnte, lembrei-me mais rápido do que cu',' (E. sorrindm comcçnu a aprcasar 0 scu trcmurJ Euz
do caso de um médico quc consultou o senhor por causa do receio que lhe “Mais rápido. vamos. scnhorn N.! .›\ scnhom lcm dc lrcmcr mais ra'pldo,”
causava 0 prorromper dc suas transpiraço'es, e emão pensci que a situação Elaz “Mns cu não possu mais. parcl lú nàn cnnsigo mals cuntimmr'.' E usmva
era scmelhame à minha. Mas eu não dedicava uma grnnde estima à psicote- rcalmcnte cansada. chamou~sc. íhi mé .1 cozinha c vollou cum uma xícam
rapia. e mcnos ainda à logotcrapia. Por isso mesmo me pareceu que a minha dc café. ›]hmou 0 café wm dcrramar uma golu. Quandu. dcsdc cnlào, cu a
situação oferecia uma ocasião única para lestar o valor da intenção parado- surprccndia tremcndo. baslava dizcrz “P(›¡s bcm, scnhorn N., 1uc tal uma
xaL Qual' tbra mesmo o conselho quc 0 senhnr dera ao seu colega? Que ele compelição de trcmc-trcn1c?'.' Ií cla rcspnndi á ccrlo. cslá ccrm." E isso
podia, para varian desejar c pmpor-se mostrar às pcssoas qunnto cra capaz tcm ajudado todas as vczcs.
de transpirar - “atc' agora só linha ¡ranspirad0 um lilro. agora, contud0, vou
George PynummootiL dos Esmdns Unidos, rclnta o scguintez
transpirar dcz litrosÍ diz em scu livm. E enquanto eu contínuava a falan
dizia a mim mesmm “Moslra, dc uma vcz por lodas. aos teus colcgas, 0 que Um homem jovcm entrou no mcu consuhório médico padcccndo de um
é tmnspirnn Spencerl Exatamentc assim, mas ísso aindn não é suñc1'cntc, grave tiquc nervoso no olho quc sc nlanifcstavu scmprc que tinha dc falar
dcvcs transpirar muilo ma1's.".' Não sc tinham passado alguns scgund(›s. e com alguém Cmno as pessoas cuiduvam dc lhu pcrgunlar o quc clc tinha,
então pude observar que a pelc secava. Tíve de rir comigo mcsmo. O que isso 0 dcixava mais ncrvoso. <IZnCuminhci-o a um psicanalislm Mas. uo ñm de
não conseguia ainda compreender é que a intcnção paradoxal funciona e. mda uma séric de s ssõccm vollou a mc prucurur para informur quc o psicanm
a.|ém disso, imedíalamcnle. “C0m mil diabosFl disse a mim mesmo, deve lisla não tinha dcscobcrlo a causzL quamo mais podcr ujudáJa 1\c0nscHwi-0
haver algo nessa intenção paradoxaL pois rcalmeme dá cert0, e nesse ponto então que da próxima vcz cm quc tivcsae dc falar com alguénL piscassc os
eu mc sentia célico quamo à log(›lerapia. olhos lantn quanto possíveL a fim dc mostrar an scu inlcrloculor quanm em
capaz dissu PCIISOLL porénL quc cu dcvia lcr licado qucn parn lhc dar lul
De um relato de Mohammed Sadiq retiramos 0 seguínte casoz
com*elho, uma vez que cstc só pndiu piorur ›,cu cslud(›. li sc tkuÇ Nu cntamm
A senhora N., uma paciemc dc 48 anos, padecia dc trcmores, mas com voltolu um dia, para mc comar. complcmcnlc cntusmsmada o quc. cmremcn-
tul intensidadc que não conseguia sequer segurar uma xícara de café ou um tes, tinha acontccidoz como nào lcvnu a sério a minha proposta, não pcnsou
copu dligua sem verter 0 c0nteu'do. Tampoucu sc semia capaz de escrevcr cm colocá-la em prálica. O piscar de olhos pioranL alé quc uma nuite vcio-
ou de mamer um livro para ler cntre as mâos. Aconteccu que uma manhã, -lhe à mentc n que cu lhe tinha dim. Enlào disse a si mcsmnz “Alé agura tentei
quando nos encontrávamos semados um díantc do outr0, começou a tremer de tudo 0 que existc c nadu ajudou. 0 quc pnde acontcccr se eu lcnlan au
mais uma vcz. Resolví cntão recorrer à intenção parudoxaL mas, é claro, com mcnos uma vcz, aquílo quc mc foí rcc0111cndado?'Í E uss¡m, no dia scguinlm
certo humon Assim, disse-lhe: “Que tal. senhora N., promovermos uma propôs~sc. diantc da primcira pcssoa quc enconlrnsse. a piscnr os ons mmu
compctição de rreme-tremc?” Ela retrucouz “O quc ísso quer dizchÍÍ E euz quanto possích c, paru a sua grandc surprcsa, perccbcu que cra incupaz dc
“Vamos ver de uma vez por todas. quem de nós dois treme mais rápido e por um simples piscar. A partir dc entào n tique ncrvoso dcsaparcccu tol.1lmexm-.

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54 0 SOIIRIMINYU DE UMA \'ll)A SFM SLNHDO | A |N1I'N(,A0 I'ARI\DUX;\L 5 "u

Um assistente de universidade escreve-nos: É admirável conslatar cnmo as pcssoas leigas recorrcm com bons resulmdos
à intenção paradoxaL Tenhu aqui diame dc mim a carm dc uma pacicmc quc snfrc-
Devia aprcscnlaFmC a um poslo dc trabalhu que eu buscava e que me era
ra de agorafobia durante catorze anos c que, duranlc lrôs, sc submcteu scm succsso
cómod0, uma vcz quc podcria tmzcr à Califórnia a minlxa mulhcr e os meus
ao tmtamemo psicwalítico ortodoxo~ Ao longo dc dois anos rcccbcu o tratamento
h'lhos. Mas estnvu bnstame nervoso e me esforçando enormementc para cau-
de um hipnotizador. 0 que lhe proporcionou uma lcvc mclhora. Estcve inclusivc in-
sar uma boa impressão. O pmblema é que, ao mc semir nervoso, mínhas per-
ternada por seis semanas. Nada, de fato, a ajudava. Dc qualqucr mod0. escrcvc a pn-
nas comcçam a lremcr, mas a um punto quc as pcssoas presemes não deixam
ciente: “Nada mudou em catorzc anos. Cada dia era para mim um inferno". A coisa
de percebé-lo. E assim acomcccu clurantc a entrevislzL Desta vcz, contudo,
chegou ao extremo de um dia querer sair à rua, mas foi logn acomctida pcla agoru~
disse a mim mcsmo: “Vou agora obrigar estes músculos nojentos a tremer
fobia. Ocorreu-lhe então lembrar que tinha lido o meu livro Em Busca dc Sentidm e
com tal intensidade quc não conseguirei scquer ñcar sentado, senào que te-
dísse a si mesmaz “Agora vou mostrar a lodas estas pessoas que sc encomram aqui
rei dc mc lcvamar num pulo c comcçar a dançar pelo rccimo até as pessoas
ao meu redor, na rua. do que sou bcm capaz1 cair em pânico e sofrcr um desmaidÍ
acrcditarem que estou louco. Estcs músculos nojcmos vão tremer hoje como
E subitamente se sentiu calma. Cominuou 0 Caminho até o supermercado e fez as
nunca - hoje se vai bater o recorde de trcmer'.' Pois bem, os músculos das per-
compras. No entanto, quando chegou o momento de pagar. comcçou a lranspirar e
nas não lremeram uma ve1',sequer durante toda a entrev1'sta, consegui o posto
a tremeu Disse a si mesmaz “Vou mostrar ao caixa quamo sou verdadeirameme ca~
de trabalho e, cm brevc, minha família cstará aqui comigo na Califórnia.
paz de transpirar. Ele irá arregalar os olhos'.' Somentc no caminho dc volta percebeu
Sadiq, que já citamos aqui, tratou, certa vez, de uma paciente de 54 anos, o quanto estava calma. E assim continuou. Ao cabo de algumas poucas semnnaaç era
que caíra no vício em soníferos e fora internada em um hospitaL capaz de dominar a tal ponto a agorafob1'a, com a ajuda da imenção parado.\'al. que
às vezes não conseguia acreditar quc tivcsse estado doente.
Às dez da noitc, saiu de seu quano e me pediu um sonífero. Ela: “Pos-
No símpósio sobre a logoterap1'a, organizado no âmbito do Sexto Congres-
so pedir uma pílula para dormir?)Í Eu: “Sinto muito, acabaram por hoje e
so Internacional de Psicoterapia, o Dr. Gerz, diretor clínico do Cunnecticut State
a entêrmeíra se esqucccu de fazer a tempo um novo pediddÍ Ela: “C0mo
HospitaL referiu-se aos seguintes casos clínicos:
vou agora poder dormir?'.' E euz “Para esm noitc, terá de ser sem soníferos'.'
A.V., de 45 anos, casada, mãe dc um jovem de dezesseis anos, sofria hnvia
Duas homs mais tardc, reaparece. Ela: “Simplesmente não dáÍ Eu: “E que
24 anos (!)_ de uma doença. durante os quais padcceu de uma grave síndrome to"~
tal se a senhora voltasse a deitar›5e e, para variar, em vez de dormir, tentasse
bica, composta por claustrofob1'a, agorafob1'a, temor excesm'vo. medo de clevado-
passar a noite em claroTÍ E elaz "Eu sempre pensei que fosse louca, mas mc
res, passar por pontes, entre outras coisas. Por causa de todos esscs transtornos,
parece que o senhor é igualmente loucdÍ Eu: “Veja a senhora, às vezes me
foi tratada durante todos aqueles 24 anos por diversos psiquialras, que aplicaram
agrada ser um pouco louco, ou a senhora não é capaz de entender isso?'.'
repetidas vezes, entre outros remédios, chamadas anàlises de longa duração. Ti-
Elaz “O senhor fala séríoTí Eu: “Sobre 0 qué?›í Ela: “Que devo tentar não
veram de intemá-la nos últimos quatro anos numa clínica. Apesar dos calman-
dormir'.' Eu: “Claro que falo sérío. Tente uma vez so". Vamos ver se a senho-
tes que recebia, sentia-se num estado de permanenle e elevada excítaçào. Esteve
ra consegue passar a noíte acordada. Tudo bem?'.' Elaz “O.k.'.' E quando a en-
igualmente durante um ano e meio aos cuidados de um experiente analista, mas
fermeira, na manhã seguinte, entrou com 0 café da manhã em seu quarlo, sem nenhum êxíto. Em 1° de março de 1959, o Dr. Gerz assumiu o tralamento, a
encontrou a pacíente ainda dormínd0. saber, por meio da intenção paradoxaL Cinco mcses mais tarde, a paciente viu-se
56 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO 34 A INTENCÀO PARADOXAL

pela primeira vez, após 24 anos, livre de qualquer sintoma. Deram-lhe alta logo em por acaso deixci cscapar? Quc me prendnm então - lrês vczes ao dia! Ao mcnos

scguida. Dcsde cntão, passa1^an1«se vários anos, nos quais leva uma vida normal e recebo de volta o mcu dinheiro, meu belo dinhcirinh0. que arrcmcssei no focinho

fcliz no scio de sua família. daqueles senhorcs de Londres...'.' Começou então a dcscjan no sentido da imcnção
E agom o caso de um pacieme neurótico obsessivoz o senhor M. P. é um paradoxaL ter comctido 0 maior número possível de crros c fazer novns la'ltas.' um-
advogado, casado, de 56 anos dc idade, pai de um estudante colegial de dezoito baralhar o seu tmbalho com o íntuito de provar à sua sccrcláriu que cra “o maior
an0.s. Há de.7e.ssete anos acometewlhe “dc repente, como um raio vindo de um céu fraudador do munddÍ E 0 Dr. Gcrz não teve a menor dúvida dc que cstava em jogo

sercn0, a terrível alucinaçào 0bsessiva” de que o valor de 300 dólares de imposto a completa auséncia detodapreocup.1ç.1"o de sua purte - tal comn linha dc esmr por
pago à reccíta cra muito baixo e que, por conseguintc, enganara 0 Estad0, embora trás de suas inslruções -, quando 0 pacícnle se mostrou cupaz não só dc realizar
tívcsse feito a sua declaração de imposto de renda com conscíência e todo 0 cuida- a íntenção paradoxaL mas também de tb1'mul.1"-la pur meio dc um extraordínário
do. “Mas não conscguia, por mais que me esforçasse, livrar-me desta ideiafl contou senso de humor, o mesmo com que u Dr. Gcrz tinha, ev1'denlcmente. de conlribuir.
ao Dr. Gerz. Ele ja' se via a sofrer um processo por fraude ñscal e ser preso, via os Assim, por exemplo, quando 0 pàcicnlc entrava cm scu consullório médico, ele n

jomais chcios de artigos sobre ele e a perda de sua posiçâo proñssionaL Imemou- saudava do seguinte modoz “O quê? Pelo amor dc Dcusl O scnhor aindn andn por

-se entào num sanatório. onde se submeteu a um tratamcnto psicoterapêutico e, aí Iivre e solt0? E eu pensando que já estava há tempos por trás das grades. Estive

em segu1'da, a 25 sessóes de eletrochoque - sem melhora5. Enquanlo isso, 0 estado inclusive lendo os jornais e perguntand0-me quandu iam informur a rcspeito do

de saúde piorou de tal modo que foi obrigado a fcchar o seu escritório de adv0- grande escândalo que o senhor causarafÍ A isso reugia o pacicntc com uma sonora

cacia. Noites dc insônia fizerammo lutar contra a alucínação obsessiva que se in- gargalhada. E, cada vez maís. símpatizava com cssu aliludc 1'rónica, ironizando

tensiñcava dia após dia. “Eu mal conseguia I1'vrar-me de uma dessas obsessões e já também contra si mesmo c contra a própria ncumsc quand0, por cxemplo, diziaz

dcsenvolvia uma 0utra',' relatava ao Dr. Gerz. Em especiaL queixava-se da obsessâo “Nã0 me interessa a mínima que me prendmm 0 máximo que podc ucnmccer é a

que o ac<>n1et1'a. de que seus diversos contratos dc seguros tinham expirado sem companhia de seguros ta']¡r).' Agora. já tàz um ano que o tratamento chcgou ao ñm.
que se desse ContcL Repetidas vezes. tinha de revé-los para logo em seguida trancá~
Estas fórmulas - o quu 0 scnhnr chama dc inlcnção pumdoxaL doutor -
›los num cofre especial de aço; cada contrato era selado c atado inúmeras vezes.
acenaram~me em chci0; atuam quase cumu um milagm Possu então dizcr
Por ñm, acertou com o Lloyds, de Londres, um seguro especialmente redigido
ao senhorz em quatro mcscs, u scnhor conbeguiu lhzcr dc mim um uutro
para ele, que 0 preservava das consequências de qualquer erro que, inconsciente e hómenL completamcntc difercnlc. Scm dúvida. aqui e ali mc vém à mcn›
invuluntariamente, viesse a cometer no âmbito de sua prálica jurídica. No entam tc os velhos lcmores. No entant0. saíba o senhun sou cnpaz aguru de lidur
to, logo teve de deLx'ar igualmente essas atividades proñssionais, pois a alucinação imcdialamcntc com is*so;.1'gora sci muilo bcm comu tmtar dc mim mesmo!
obsessiva tornowse tão grave que foi preciso imernar-se na Clínica Psíquiátrica de
Míddlctown, onde então começou 0 tratamento com a intenção paradoxaL pelas Pratico a intenção paradoxal desde l92'~)," mas somcnte cm 1947 publiquei-

mãos do Dr. Gerz. Ao longo de quatro meses, trés vezes por semana, esteve sob -a com esse nomeÍ É evidenIe a semelhança dcla com os métodos de tratumento

cuidados da logoterapia. Foi instruído, diversas e repetidas vezes, a empregar as da terapia comportamental quc surgiram mais tarde no mercado - algo que não

seguintes formulaçóes de intenção paradoxalz “Rio-me de tudo. Que o diabo pr0-


cure 0 perfeccionisma Para mim, tudo está bem - por mim, podem encaxcerar- " Ludwig ]. PnngratL Psycothempic in SelbsldarstvllxmgwL Berna. l973.

-me. Quanto mais ced0, melhonl Ter medo das consequências de algum err0, que ' Viklor E. FrankL Dic Psytlwfherapic in dcr Prax¡s. Vicna. Franz Dcutickc. l947.
ñd 0 SOFRIBHÉNTO DE UMA VlDA SEM S'[.-NT|D0

passou despercebido por alguns tempeutas do comportamenm À vista disso, é


4
nolável o fato de quc a prímeim tcntaliva de comprovar empiricamenle a cñciêmcia
da ínlcnção paradoxal tenha sido emprecndida por tcrapeutas do comporMmentQ
A derreflexão
annL no cnlantm os profcssores L. Solyom, I. Gar'/,a-Percz, B. L. Ledwidge c C.
Soly0m. da Clínica de Psiquialria da McGill University quc nos casos de neurose
obsessiva crónica cscolheram doís sintomaxs característícos dc igual imensidude
e. logo, procederam a 1ratar cada um deles - um deles foi o sintoma de 0bjctivo.
tralado com o método da intenção paradnxaL cnquanto o oulr0, o sintoma de
“conlrole',' permunccía uusente no lratamcmu Com efeit0, dcnwn51r0u-sc que sn-
meme os rcspectivos sintomas lratados dcsapareceranL c no dccurso de poucas
semanasx E em nenhum dos casos ocorreram os sintomas de substituição!"'
Meus colabomdores, Kurt Kocourek e Eva Kozdem conseguiram, com aju~
O elememo caractcríslico do mndclo dc realção ncur()'tica sexual é a luta
dn do método de imenção paradoxaL chegar muilo longe e cm pouco tempo, inclu-
pelo prazcr. E podemos aqui obscrvan m›van1cme, cumo u pacicmc se emaranha
sive nos casos de antigos pacicnlcs afctados de neumsc ohscssiva - esles pudcram
num círculovicinso.Alulapclopmcr.alulnpclapoténciacpcluurgu.s*1no,avon-
tornar~se novamcnte aptos ao trabalh0. Tais resultados terapêuttms do lratamento
tadc dc pmzcn n hiperintcnçà0 llwçada ao g01'.0 conduzcm nào uo prazcn mus u
dcmonstram que a chamada tcrapia breve pode scr, eíetivamente, breve e boa.
uma hipcrrcflexào f01'çnda.s'obre si mesmnz inicia-sc, dur.'1m-u›.'\ln.u obscrvar a si
Acrescentmse a isso que “as dúvidas muitas vezes expressadas de que à eli-
mesmo c, sc é possích a lambém espiur 0 parcc1'ro. É o ñm pnra a cspunlancidade.
minação de um sintoma deve seguir-3c necessarimnenle a formação de um sin~
Um caso concrctoz a senhora S. procur0u-no.s* por causu dc sua frigidcz. Na
toma substituto ou de outra atitude inoportuna 1'nICI.'na, formuladas com essa
in^fância, a paciente foi molestada sexualnwnle pclu próprío paL Dc uma pcr's.pcclivu
generalização, são añrmações complelamcntc injustiñcadasÍm Mas não se devc
lwurísnc.1', rcsolvemos lratáJa Como sc não cxislism ulgn parccido a um 1r.-1um.1-psi-
despertar a impressão de que os resultados alcançados em todos os casos tralados
cossexuaL Pclo contrairi0, perguntaunos à pacicnlc sc cla já cspcrava cslar lcsadu por
pela logoterapia tenham se dado em tão curto espaço de tempo como nos casos
causa do incest0. A pacicntc conñrmou nussas suposiçócs au añrmar quc chcgara a
anteriormente citados. Citei-os porque sc prestam bem ao intuilo didálic0.
essa conclusào por ínfluéncia d.1'leíluradc um livm popular, cujo conleúdo aprcsen-
tava uma interprclaçào vulgar da psicanálisc. "Aquilo lcm de scr respondido à allu~
ra',' rezava a convícçào da pacientc. Em uma palavraz ins(.1*l.'1r.1'~sc ncla uma ansiedude
antecipatória. No âmbito dessa un.s'icdadc anlccipulo'ria, a paci'ultc. todas us vezcs
que tinha um contato íntimo com scu parcel'ro. punha1~sc “'.'1 cs'preita"; porquc qucria
ñnalmentc .s*ati.s*fazer e conñrmar a própria feminilidadc. No enlanm prccisumentc
desse m0d0, dividia a atenção cntre ela e 0 parceim Tudo isso, porém. acubava por
*"' L. Soylum el ¡l].. “P-.¡radoxical lnlcntíon in the Trcntmcnt othsessive Thnughtm A Pilm Study".
Inz Comprclmxsivc Psychiulry, n. l3, l972, p. 29l. também fruslrar 0 orgasmo; porque na medida em quc alguém rcpara no ato sexual
em si, nessa mesma medida se íhz inapto à entrega plenu a clc.
" J. H. SchultLAcm Psycholhcmpculíca, n. 1. 1953, p. 33.
60 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO 4 A DERREFLEXÀO 61

É claro que do mesmo modo que a intenção forçada patogênica deve ser subs- humanamente compreensíveL Mais do que isso, porémz Konrad Lorenz referiu-
tiluída na terapia pela intenção paradoxaL de maneira análoga a híperreflexão palo- -se certa vez a uma fêmea de peixe-beta adestrada por elc a tal ponto que não se

gênica precisa, cumo corretivo, de uma derreflexãa Muitas vezes temos comprovado afastava coquete, como de costume, do nmch0. senão que nadava energeticamente
que, a ñm de solucionar um sintoma, a única coisa necessária é a dissolução da aten~ ao seu encontro. O macho “reag¡a humannmenleÍ scgundo o rclato do etólogo
ção localizada centralmente no dito simoma. E foi o que aconteceu no caso da pa- austríaco, quer dizer, tornara-se completamente impotente.
ciente S. Disse a ela que, naquele 1noment0, nâo dispunha de tempo para dar ínícío Às três instâncias menc1'0nadas, as quais os paciemes se sentem pressionados
ao tratan1ento, mandando que retomasse dois meses mais tarde. Até lá› rccomendeL à sexualidade, acrescentam-se por u'ltimo dnis novos fatores. Em primcíro lugnr. o
não devia preocupar-se nem com a capacidadc nem com a incapacidade de obter o valor de não somenos ímportan^cia que a sociedade do dcscmpenho impula à capací-
orgasmo - a respeito do qual voltaríamos a ocupar-nos quando iniciássemos 0 tra- dade de desempenho sexuaL É a pcer prcssure, islo é, a dependecm que 0 indivíduo
tamento -, senão que, durante a relação sexuaL deveria voltar a atenção ao parceim isolado tem de seus semelhantes e dos outros. daquílo que o grupo a que pertencc
E a evolução do caso deu~me inteira razão. Aquílo que esperava secretamente, de fato considera como “in” - essa peer pressurc conduz, de modo tkwçudm à poténcia e ao
aconteceu. A pacíente não retornou ao consultório ao ñm de dois meses. senâo ao ñm orgasmo. E o resíduo de espontancídade, que a pucr prcssure deixara ainda intacto.
de dois dias - curada! Bastou dcixar de'voltar a atenção a si mesma, à sua capacidade é arrancado do homem de hoje pelos prcssurc graups. Pensemos aqui, por exemplo,
ou à sua incapacidade ao orgasmo - em resumoz uma derreflexão -, e entregar-se nas indústrias do prazer e da informação sexuaL A coerção ao consumo sexuaL que
despreocupadamente ao parceíro para, pela primeira vez, atingír o 0rgasmo. elas tém em míra, é apresemada às pessoas pelos hiddcn perstuzders, enquanto os

O que acontcceu? A paciente fora vítima de uma íntenção forçada ao 0r- meios de comunicação de massa tàzcm 0 resto. O único paradoxo é que n jovem

gasmo. Na logoterapia, denominamos a isso hiperintençào. A ela se junta, em de hoje também se presta a seguir os dítames dessa índu'stría, sem percebcr quem 0

geraL aquilo que na logoterapia qualiñcamos de híperretlexão, ou seja, a direçào e manipula, e se deixa levar igualmente por essa onda sexuaL Quem se apresema como

a dedicação da atenção ao ato sexual em si mesmo. A hiperintenção contraída e a inimigo da hipocrísia, deve também atuar ali, onde a pornograña, para não ler seus
hiperretlexão paralisante encadeiam-se, por C()nseguinte, num círculo vicioso no negócios perturbados, se faz passar por arte ou por intbrmaçâa
qual a paciente se viu presa. E como foi possível libertá-Ia dele? Tudo isso se deu Recentemente, apresentaram-se na literatura mais vozes (Ginsberg, Frosch.
pelo que, na logoterapía, se chama derreflexão. Shapiro e Stewart) a chamar a atcnção para o aumcnlo de fcnômenos de impotên-
Voltemo-nos agora à impotência masculina. E aqui devemos perguntar-nos, cia entre os jovens e a referir-se, nesse contexto ~ em total concordância cum o há
em primeiro lugar, o que, nesses casos.', leva 0 paciente a “hiperintentar” sua po- pouco discutido “caráter de exigéncia” -, ao fato de que primeiro a pílula e logo
têncía a ponto de resultar em uma perturbação dela. Nossos estudos aportaram ao também a “w0men,s liberation” jogaram nas mãos das mulheres a iniciativa scxuaL
resultado de que o homem cuja potêncía se encontra prejudicada expcrimenta o Defrontamos logoterapeuticamente a hiperreflexâo com u derreflexão, en~

coito como ulgo que dele se exige e se reclama. Em uma palavra, o coito adquire quamo, a ñm de combater os casos de impotência provenientes da híperínten-

um “cara'ter obrigatóridÍ Quer seja pela obrigação de “prestar-se" ao coit0, que ção patogênica, dispomos de uma técnica logolerapéutica que remonta ao ano

parte da situação dada, quer seja pelo próprio paciente, que programa, por as- de l947.l Quanto a isso, aconselhamos 0 pacienle a não “se ocupar do ato sexuul

sím dizcn 0 coit0. Sob determinadas circunstânc1'as, contudo, a exigência parte


da parce1'ra, aínda que seja tão só uma inicíativa, mas que, a um homem inseguro ' Viktur .F. Fr3nk1'. Dic Psychulhcmpíc in dcr mei& Viena. anz Dcuticku l947. lEm edição
em sua relação sexuaL parece difícil de suportar. Uma reaçã0, de qualquer modo, brasile|'ra: A Psicotcmpiu mz Prática. Trad Cláudia M. Caon. Campina5, Papiru5. 199l.]
0 SOFRIMENTO Dl'. UMA VIDA SEM \.F..\'IH10 4, A DHlRPFlkaÁO 6\7

de modo programát1'co. senâo a dar-se por satllsthilo com 05 carinhos prelinu'na- Fiz-mc dc irn'lndo, insislíndo quc uo Incnus nu acmnnn scguinlc ubscrvasu

res, no sentido de múluo prelúdio sexual'.' Também sugerimos “ao paciente que sem minhas inhlruçüc"\.. Parssaranbsc um poucus dms c mc chamam ao lclc-

explique à suu parccira quc tcríamos rigorosnmenlc dc proibir, por enquant0, 0 am fonc para mc comunicar quc mais uma vcz nãu cnnwguirum alcrsc au mcu

sexuaFÍ E o pacientc tem de comunicar igualmeme a ela a dispensa dessa proibi- pedid0. Pelo cuntrari0. mnnlinham agnm rcluçôcs scxuaLs nlé mms dc uma

ção. Em scu próprio intcresse, cla deve cvitar de agora em diame exercer quaisquer vcz ao dia. Um anu maís lurdc soubc quc n éxito cnminuava a vingnn
prcssócs dc ordcm sexual sobre ele. Assim que tem lugar essa descarga subjetiva, u Q
Um sexólogo da Califórn1'a. Claude Farris, fcz chcgar até mim um relalo do 1
pacicntc podc *c.xercilar-sc em Íbrmas dc prclúdio sexual cada vez mcnos prelimi-
qual se deprecnde que a intenção pumdoxal é igualmcnlc aplicávcl cm casos dc
narcs, protclando, contudo, 0 quamo possa, o ato sexual propriamenle dito, até o
vaginísmo. Para um.1'p-.1c1'cntc. quc rbra cducudu num convcnm católico. a scxuali-
dia no qual se cncontre frentc ao "1a'il accomplfÍ
dade cra tabu sevcro. Veio em busca dc tratamcnlo por cnusa das forlca dorcs quc
William S. Sahakían e Barbara Jacquelyn Sahakian2 defendem a opinião de
semia duranlc o alo sexuaL Farris a ínslruiu u nàn rclaxur a rcgião gcnilaL scnão a
que os resultados das invcsligaçóes de W. Masters c V. Iolmson conñrmaram ín-
enervnr a musculatura da vngina na medida do posxsích dc modu que scu cspusu

»:p.v:<
leimmeme as nossas. De thta o método de tratamcnto desenvolvido em 1970 por
não conseguisse pcnctrá~la. 0 csposo lbi instruídu n thzcr o que cstivcssc ao scu

u..
Maslers e lohnson lem muims pomos em comum com a técníca de tratamento
alcance a ñm dc vcncer essa rc.s*i.s'tência. Uma senmna mais tardm ambus rclornam
que acabamos de esboçar, c por nós publicada em l947. Ilustremos, a seguir, nossa
para informar~me que, pcla primeira vcz cm sua vidu nmtrimuan o ato scxual
exposiçâo com alguns casosz
ocorrera livre das dores. Não houvc rccidívas por regístra r.
Do mesmo modo que a derretlexão reagc contm a ln'perref1exa'o, a pmibição
Isso mostra, portanto. que cm certo sentidu nño sc dcvc intcnciomr dire-
ao ato sexual acaha com a hiperimenção. No cnlanto, esse nosso “truque" só podc
tamente algo cnmo a díslcnsào, mus se p0dc. por nutro ladn. lcnlnr 0 caminho de

OwWLMm_
ser usado quando ncm um nem outro dos parceiros 0 conhece. O scguinte relat0,
uma intcnção paradoxaL ou seja, da inlençâo nposm à di.s*tcn.~a.1'*o. Rctiro dc um

. 4
que dcvo a um antigo cstudante meu, Myron I. Horn, esclarece quão engenhosa~

nk.,
trabalho de David Iu Norris, um dc mcus alunos califbrnianns. n seguinlc epi-

4
mente precísamos proccder ncssa situaçãoz
sódioz no âmbito de um trabalho dc pesquisa c inves11'gaç.1"o, Norris tevc dc fazcr

'1 wn
Um jovcm casal procurou-mc prcocupado com a impoténcía do cspu- alguns experimentos com pessoas conectudas n um clctmmiógrafo a ñm de medir
so. Sua mulher lhc havia dito rcitcradas vezes quc elc era um amante mí- -lhes 0 grau de distemã0. Entre clas huviu um homem quc rcpctidas vczes Ievnvu
serável (“a lousy lover"), c que agora pemava em procurar outros humens o aparclho dc medição à escala dc 50 microampêrc Ncm com u mclhor dus von-

para ñnalmcnte semir~sc salisfeita. Sugeri que ao longo dc uma semama. tades - ou se deveria dizer pur musa dc uma vomadc lbrçudu. pur musu dc umn
todas as noitcs c durantc au mcnos uma hora, clcs se deitassem jumos, nus, lúperintençãU? -. 0 sujeito COIISCEUÍH dislcndcrsc dc mamcira .'\dcquadn. Até que
c ñzessem n que lhes agradassc; a única coisa não permitida sob ncnhu- o diretor do experimento pcrdcu a pacíêncim “Slcvc, junmis conscguírás dlcançar
ma ckcunslàncm cra que manlivessem rclaçócs sexuais. Uma semana mais uma distensão decentéí Stcvc então cstourou dc raivaz “Cnm os Lliubos lodo csle
tardc, reenconlrci-os. Tinham tentado, disseram~me. seguir mínhas instru- palavreado de dislensà0. Estou me 11'xando. sc o scnhor qucr sabcr!" Após u que
ções, mas, “infelizmente',' por trés vezes acabaram chegando ao alo sexuaL a agulha do aparelho desccu de 50 pA para 10 pA - c com tama vclncidudc quc o
diretor pensou que a energia elétrica linhu cuídu

" Willinm S. Sahakium Barbam Iacquelyn Salmkian, “Logotherapy as a Personality Thcory." Ismel
Annals ofPsyrhialry, n. lO, 197Z, p. 230.
5
A vontade de sentído

Comojá d1'ssem05. a psícanálise rclcvu não só a somutogêncse. mas lambém


n a noogênese das doenças neurólicas. As ncur0505, comuda nào sc cnraíz.1-m nc-
cessariamente no complcxo de Édipu ou no cmnplcxo dc 1'nfcrioridadc. ”Ihmbém
podem estar fundadas cm um problcmu cspirituuL cm um conÍlito dc consciéncia
e em uma crise existenciaL
A psicamílise nos deu a conhcccr a vontadc de pra/'.er, a parlir da qual p0«
demos conceber o princípio do prazcn c a psicologiu indivídtml nus lornou t.1"mi›
liarizados com a vomade de pnder, sob u fnrmn da tcndóncia a fazer~sc vallcn Mns
no homem enraízansc mais profundamentc uquilo que designcí como a vomade dc
Sentidoz o esforço pclo mclhor cumprimcnto possívcl do scnlido dc sua cx ñlênciax
Nâo é, portamo, a felicidade aquilu que o homem anseia de modo mnis pr0-
fundo e verdadeir0? Não foi 0 que admitiu o própríu KanL quc essa ó a rculidadc.
e que só postcriormente o homcm anseia por scr digno de fcl|'cídadc? l-.'u diria quc
aquílo que o homcm realmente quer é, añnul dc C(›nlas, nàn 21 fclicidudccn1 si. mus
um motivo para scr feli/.'. Assim quc, a sabcn é dada uma ruzào pura scr MiL uprc-
sema-se cssa felic1'dadc, comparcce csponluncamcntc o pruzcr. A c.\'pcriénci.1' chí
nica diária nos revelau com freque'ncia, quc L'*ju.s'tamente o afastmnento do “motívo
para ser feliz" quc impede o homem sexualmeme neurólico - o homem impulcnte
ou a mulher frígida - de ser feliL Como sc da'.poré¡11.cs.'se athw;tnn]c11to palogénico
do “motivo para scr feliz"? Através de uma doação tbrçadn a uma 1blicídadc em si
06 0501RIMENTODE UMA VIDA SEM SPNT IDU S A \.0.'\TADE DFV MNTIDO

mesm.1. a um prazer em si n1esmo. Como estava certo Kierkegaard ao añrmar que F im Efcito
a porta du felicidadc sc abrc para fora e que, quando alguém tema arronlbá-la. nào
fnz mais do que fechá-1a.

Ml//ciu
Mmivo Efcito
__--___-›

Vontadc dc Scntido
Vomade de Prazer O mesmo valc, de nmncim amálogm u rcspcilu du vnnmdc dc pramr e da
vomade de podcr. PorénL cnqunnto o prauxcr nàn é scnàn um efciln sccund.1'ri0 do
cumprimemo do scntidm o poden por seu lurno. é um meio pam um 11m, ¡'.1'que rcali~
zação e senxido eslão ligadoa a ccrlns preswpuslm c cundiçócs SUCÍdÍS c camón1was.
Mas e quando o homem uslá voltadu pura o prnzcr cnmo um simplcs ctbim sccun-
No entama como podemos cxplicar isso? Em virtude de sua vontade de
dária c quando sc Iimita a um simplcs mcio para um lim chamadn pnder? 0r'.1. essa
semid0. 0 homcm tendc a achar um semido c realizá-lo, mas também a encomrar-
vomade de prazer c também cssa vonlade dc podcr só sc lbrnmm quamdo é frustrndn
-se com outro ser humano, a amá-k) sob a forma de um lu. Ambos, a rc.'111"1.açãn c
a vontade de sentido. Em outrus pal'.wr.1's. u princípin dn pruzcr comu u tcndéncia J
0 encomro, dão ao homem um motivo para a fclicidadc e para 0 prazcn No neu›
ürllerasc valcr é uma molivaçàu ncurótica. E isso nus pcrmitc igualmcnlc cumprccn~
rótíco, contudo, tal aspiração primária permanece como que desviada pam uma
der por que Frcud c Adlcr tivcram LlC dc.su›nhcccr a oricnlaçãu primáriu do homcm
aspímção dircla à íe'11tid.1'dc. à vontadc de prazcn Ao invús de permanccer aquilo
por um scntidoz rcalizamm scus diagnóslicos e csludus cm pcssoas n¡:uru'lica›!
que deve scn ou sej¡1, um cfcilo ((› efeíto secundário de um sentido realizado e do
Já não vivemos mais hoje. como no lcmpu de FrCULL cm umu época de frus-
scr humanu encontrado), 0 prazer se lorna o nbjcm de uma intcnção forçada, dc
tração sexuaL Nossa épuca é a da frumaçàn c,\'i.s*lcncial. E cm purlicular enlrc os
uma hiperimençã0. e esta hipcrimenção faz-se sempre acompanhar de uma hi-
jovens, cuja vontadc dc scntido sc encontra frustrada “() que dizcm Frcud e Adlcr
perreflexão. () prazer sc mrna conteúdo e objeto únicos da atenção. No entanto, à
para a jovem gcraçào de hojc?',' indaga Bccky I.cct. .'l rcdalora-chclc~ dc um jornall
medida que o homem neurótico se intcressa pclo pramn perdc de vista 0 mativo
publícado pelus esludanles da Univcrsity of GeorgiaL
para o prazer - e 0 efeítn “pr.'1/.'er" já não pode muis ser obtida
No que díz rcspeito ao tão propalado tcma da autorrca11'zação, ouso añrmar 'lc'mus a pílula quc nus libcrla da.s comcquc'nci.1s du rcnlizalçàtv scxunl - hojc

que 0 homem só é capaz de realizar-sc à medida que cumpre um sentida O impe- não cxislc mais ncnhum mnlivo pnra sc csmr s.c'.\uulmcmc lullu'do. E tcnws 0

ralivo de Píndaro, .s'cgundo o qual o homem deve tornar~se qucm ele é, requer um podcr - basta lão smncnlc lançarmm um nlhar suhrc us pulíliCm '.\nwric.mos,

complemcnto, que encomro nas palavras de Iaspersz “O que 0 hnmem é, 0 é através quc cstrcmeccm diantc da jovcm gcruçàu. comn sc cxuwçxsun a cunfromar a

da coisa que faz sua'.' Como o bumerangue volta para o caçador que 0 arremessou, Guarda Vcrmclha da Chi|1a. Mas Framkl dil quc .1.~ pcssms vivcm huic cm um

quando fhlha o alv0. assim também só propende para a autorrealização o homem valiiu cxislcncíaL c quc csw vazio c.\'i›tcncial sc manífcsLL solm~ludu, pulu lédiu

quc, anles de tud0. fracassou no cumprimento do semido, e que talvez nem sequer Tédio - isso sua, cnmudo, imcimmcmc ditbrcmm não é mcsmo? Muilu mais fu~

tbssc capaz de cncontrar o sentído que vale a pena realízar. nu'liar. não é vcrdade? Ou n scnhur conhccc puuquissinms pcssms au scu rcdur
F
O SOFRIMENTO DE UMA \'lD^ SFVM SLNTIDO

que sc queixam do lédio, não obstante o fato de que lhes bastam estender a mão
para tudo lcr, inclusivc o scxo de Frcud e o poder dc Adler?
ó
Com cfeito, é cada vez maior o númem de pacienles que nos procura com A frustração existencial
0 svcnthento de um vazio ínlerior - descrito e qualiñcado por mim de “vazío exis›
tencial'” -. com o sentimcnto de uma auséncia abismal dc sentido em sua existéncia.
Seria um erro supor que sc trata de um fenómeno restrito ao mundo ocidental. Pelo
contrário, Osval-d Vymetal chamou expressmwnle a atenção para o fato de que “esta
doença de hoje, a pcrda do scntido da vida, uhrapassa *sem concessão e controlel par-
ticuhamente entre os jovcns, as fronteiras da ordem social capitalista e socíalista'.' Foi
Vymetal quem também declarou. por ocasião dc um congresso tchecoslovaco de neu-
rologia, após ter professado, ex pracsidio, seu entusiasmo por Pavlov, que mesmo em
vista do vazío existencial o médico da alma não pode angariar seu sustento com uma O psíquiatra de hoje encnnlra muilo frcqucmcmcntc a vonladc de senlído. não
psicoterapia orienlada em Pavlov. E dcvemos a L. L. Klilzke' e Joseph L. Philbrick2 a raras vezes, em forma dc frustraçãu Não há, porlantm sumcntc a fru>lraçã0 scxuaL
indícação dc que o problema mmbém sc faz sentir nos países cm desenvolvimcnlo. a frustração do instimo scxual ou. cm tcrmos gcru¡'s. a du vonmdc dc pmzcn mas
Aconteceu, porlant0, o que Paul Polak já em 1947 havia previst0, quando também aquela frustraçào existcnc1'zú. como a chaunamos na lugotcnqpim ou scja. um
em uma confcrência proferida na Verein für Individualpsychologie [Sociedade de sentimento de ausência dc sentido da própria cximêncim Essc .s'cmimcnt0 dc fulta de
Psicologia Individuall añrmou que sentído e de vazio deixou para trás 0 senlimenlu dc ínlbrioridadc no quc diz rcspcito à
etiologia das doenças neuróticas. () homcm dc hojc não snfre tamo do semimenlo de
a solução da qucslão social apenas deixaria livrc a problemálica espíritual que tem menos valor do qUe algum 0utm qualqucr, mas antcs du scntimenm dc que
quando esla pudessc mobílizar-se autcnticamenta somemc entào o ho- sua existência não tem scmida Essa frustmção cxislcncizll é nn mínimu putogénl'ca.
mcm seria livre para cmpcnharise de verdade a favor dc si mesmo. e só qucr dizer, pode scr a causu dc docnças psíqu1'cas. cum u mesma frequéncia quanto a
então conhecerá o que há dc problemálico em si mesmo. a problemálica tão incriminada frustração scxuaL
auténtíca da exislência. O homem existencialmente frustradu náo conhece nada com que possu pre~

Ernst Bloch seguiu nessa mesma trilha quando dissc recentemenlez “Os ho› encher aquilo que denomino scu vazío exislenciaL Sclwponhaucr dizia quc a huma-

mens recebem de presente aquelas preocupações que, de outro mod0, só a teriam nidade oscila cnlre a ncccssidade e o tédiu Ora. hoje temos - e nós, ncurologist'.Ls,
também - de lidar mais cnm 0 tédio do quc com n ncces.s1'dadc, sem cxcluin senão
na hora da morte'Í
incluindom catcgoricamcnte, a chamada neccssidade sexuaL De íukto. é palcntc quu,
por lrás dos numemsos casus de fruslração sexuaL sc esconde na vcrdudc a frustnb
ção da vonladc de senlidoz SÓ nU vazio existcncial prolitbru a libido scxunL
' L. L. l(lirch. “Sludcnls in Emcrging Afríca - Lugolherapy in 'l-'.1nz.m-ía'.' Amcrimn Iourmzl of
Humanistíc Psydmlagy. n. 9. l)*(›9, p. 105. Como a linguagem já nos ensina, 0 lédio pode scr “mortal'.' Com efeit0.
alguns autores chegam a añrmar quc os suicidios podem scr atribuídos, em última
'- Ioscph L Philbrick. “A Cross-(Iullural Sludy of Frankfs Thcory of Mcaníng~in-I.ilk'.' artigo
aprescnlado à Amcrican Psychologkal AbSDCÍaÍÍOIL instância, àquele vazío intcrior que corrcspondc à frustraçào exislenciaL
70 O SOFRIMEN"I'0 DE UMA VIDA SF.¡\1.N'IZ'N1'1D0 n A FRb'\TRACÁO EXISTENCIAL 7l

Todas essas queslões assumem hoje em dia uma atualidade singular. Vi~ diversas máswras por trás das quais se escondc n vazio cxislenciaL Pcnsemos
vemos cm uma época de crescente tempo 1ivre. Mas há um tempo livre não só símplesmente na docnça do cmprcsário que. movidu por um fumr ao trahalhm
em rclaçàn a algo, senão também para a1g0; 0 homem existencialmente frustrado, se atira com ímpeto numa atívídadc insana dc modo quc a vomade dc podcr -
t()davia, não sabe com que ou como poderia preenchê-lo. para nào utilizar uma expressão cxtremamcnle primitiva c banalz a “vontade de
Se nos perguntássemos pelas mais importantes formas clínicas com as dinheiro" - reprime a vontade dc scntido!
quaís podcríamos fazer frente à frustração exístenciaL teríamos de mencionar, No entanto. assim como os cmpwsários tém semprc 0 que tàlwn e com isso pou-
cntre outras, aquilo que descrevi como ncurusc de dc.s*emprego.' Aqui também co tempo alé pam respirar ou para descubrir u si mcsnws, Suas cspmwy pnr sun ch
se comprecndem as crises dos aposentados - um problema atual e premente têm muito pouco o quc fuer c, cnnsequcntcmente, muito te1np0; não sabcm fauwr uso
para a geriatria. Podemos tranquilamente ir tão longe quanto Hans Hoff. quando de tantas horas vagas e, por consegu¡'ntc. muito menos emprecnder algo por inicialivn
añrmaz “A possibilidade de dar um Sentido à sua vida, no qual o futuro também própria. Terminmn então por .-mcstcsiar 0 própriu vuzio imcrior rccorrcndo à bcbicLL
assumc um aspecto de imeresse, pode, em inúmeros casos, retardar 0 surgimen- à bisbilhotice c ao jogo... Todas csws pcssoas cnmntmm-sc numa fuga de si mcsmas au
to dos simomas da velh1'ce'i E entendemos perfeítamente a sabedoria que emana entregar-se a uma forma de conñguruçào dc seu tcmpo livre, que chamo dc centrífubai c
das palavras de Harvey Cushing, o maior neurocirurgião de todos os tempos, à qual gostaria de opor uma oumL que lcnde a d.'U' ao homem não só uma uportunidndc
citadas por Percival Bailey na conferência que pronunciou por ocasião das c0- de d1'spcrsão, mas também dc rccolhímento intcrion
memoraçóes do 112° Congresso da Sociedade Americana de Psiquíatriaz “Existe Devemos salientar que existe ígualmente o horror vacui - o mcdo dn vazio ~
somentc uma maneira de perseverar na vidaz ter sempre uma tarefa que cum- que acontece não apenas no domínio físicm mas também no domíniu psicológícu
prifÍ Por exemplo. 1embro~me de que poucas vezes em mínha vida vi uma mesa Na tentativa de dominar o vazio cxistcnciul com o burulhu dos molorcs c a un-
tão sobrecarregada de lívros - livros à espera de uma leitura atenta e ponderada - briaguez da velocidade, observo o dinâmico psíquico vis a tcrgo do rápido e crcs-
como a mesa do professor vienense de psíquiatría Josef Berze, quando ele já cente aumento da motorizaçã(›. Considcro 0 ritmn acclcrado da vida dc hojc cumo
contava noventa anos de ídade. uma vã tentativa de automcdic.1'ç.1"o da fruslraçân cxistcnciah p0ís. quanto menos
A crise dos aposentados é, por assim dizer, uma neurose de desemprego conhece 0 homem a ñnalidade de sua vida, muis clc ucelera o ritmo com o qual a
permanente, porém existe também uma neurose de desemprego passageira, períó- segue. Nesse sentido, 0 artisla de cabaré vienense Helmul Qualtingcn cm uma can-
dica. Reñro~me aqui à neurose dominicaL uma depressão que acomcte aquelas çã0, parodia um afetado sclvagcm da mowcicletnz “Eu não tenho a míníma nuçào
pessoas que se tornam conscíentes do conteúdo raso de sua vida quando, chegan- de aonde vou, mas pra lá vou a toda velocidaddí
do o domingo e suspendendo-se 0 lrabalho diário, se interrompe a atívidade da Uma tal ambiçào pode. algumas vezes, também lançar màu dc objclivos
semana e se revela 0 vazio existenciaL elevados. Conheço um pacícnle, como nunca imaginura encuntmn quc é a repre~
Em geraL a frustração existencial não é evidenle, senão 1atente. O vazio exis- sentação típica de um caso de “doença de emprcsáridí Mal sc exuminava o ho-
tencial pode também permanecer dissimulado, ñcar mascarad0, e conhecemos mem, logo se percebia que era um tipo dc sujeilo que trabulha até sc matan Pude
então constmar por quc se atirava com lal ímpcto uo trabalho, e a ponm dc um
esgotamento: era, é verdade, muito rx'co, tinha alé mesmo um aviào particulnn No
Viklur E FrankL “Wirlschaftskrise und Seelenleben vom Standpunkt des lugcndberatcrs”
entanto, confessou que todo o seu sacrifício consíst1'.-1 cm um dia poder tornar-se
'

[Crise económica e Vidd espírilual do ponto de vísta dus jovens]. Sozíalárztliche Rundsthau,
março de l933. P. 43416. proprietário de um jatinho. em vcz daquele aviãwvxínho urdinária
72 O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SPM SENTIDO

Preocupar~sc com algo assim como 0 sentído da exísténcia humanav igual-


mcntc duvidar dcste ou até desespcrar~se perame a pretensa falta de sentido da 7
cxisténcia humanzL não é de modo algum um eslado doenlio, um fenómcno pa~
lolúgictL e devemos acautclar-nos. precisameme no quadro clim'co, comra scme- 0 sentido do sofrimento
lhante concepçãq que poderiamos qualiñcar de patologismu Pois é justamenlc
a prcocupação com 0 sentido dc sua existência aquilo que distingue o homem
cnquanto lnl - é impossível imaginar um só tipo de animal afetado por seme-
lhante inquietação -, c não podcmos reduzir estc humano ~ mais do que isso, pri-
mordialmenle esle mais humano do homem ~ a um simples demasiado human0,
classiñcamio-o. por exemplo. de fraqueza, de docnça, de sinloma. de complexo.
Também acomeceu o contrárioz conhecí o caso concreto de um pacíente -
cra pmtelssor univcrsitário - que foi encamínhado à minha clínica porque se sentia
desesperado frente ao problema do senlido da exjsténcia. Durante a conversa foi O médico, no dcsempcnho dc scu ofício. lcm dc lidar continuumcntc com
possível constatar que se tratava, na rea11'dade, de um estado depressivo end0'geno. pessoas que sofrcm e, entres estals, as que sofrcm de docnçus incurávci5. Sàu pcs«
e não de um estado psicogénico ou ncur0'tíc0, mas sim de um estado somawgêni- soas, no enlant0, quc se deparam (e assim também ucontcce ao médicn) com a
co. ou seja. psico'tico. Evidenciou-se entâo que suas divagaçóes sobre o sentido de questão de se a vida, à vista dcsse sofrimcntu que nào sc pudc altcrar - mais .-1índa,
sua vida não 0 acometiam ~ como se poderia supor - nos períodos de fases depres~ que se transformou em algo inevitávcl -. nãu pcrdcm cmnplctumcmc 0 senlidn
sivas. Pelo contrár1'o, nesses momentos se sentia tão assaltado pela hipocondria O médico é confrontado não somente com a tarcfa dc tornar 0 pacicnte uptu ao
que nem sequer conseguia pensar n1'sso. Era somente nos inlervalos, nos quais se trabalho e dc restaurar-lhe o bcm-cstar, como scmprc alribucm à p1'oñs›ão, mals
semía bem, que aquelas divagações lhe sobrevínham! Em outras palavras, entre a também com um último devcrz ajudá-lo a conquistar a capacidndc de suportar o
necessídade espiritual dc um ludo c a doença psiquica de outro, tinha-se chegado, próprio sofrimenta
ncsse caso concret0, a uma relação dc exclusão. A capacidade de suportur o próprio sofrimcma contudo. não ó nada mais
A frustração existencial - ou como podemos chamá-la: a tr'ustração da vou- do que a capacidade de realizar o quc chamo dc valores dc au'ludc. Dc fnm não é
tade de sentido - não é, portamo, nada patológico, sobretudo pela necessidade de só o criar (relatív0 à capacidade dc trabalho) quc pnde dar senlído à ctdsléncía -
sentido em si mesma. O anseío humano a uma existência plena (até o limite do ta'lo nesse caso da realizaçâo dc valores criativos -, ncm somcnte a cxpcriôncim o
possíveD de sentido é tão pouco patológica em si mesmo que pode - e deve - ser encontro e o amor (relativo à capacídade de desfrutar du vida) - tlllo de valures
mobililado tcrapeuticamente. Conseguir ísso é um dos objetivos mais nobres da vivenciais que podcm fazer com que a vida tenhu scntido -; mas também u sofri-
logolerapia - enquanto oríentada ao logos -, o que, em uma relação concreta, sig- mento. Não se trata aqui só de uma posxcibilidadc qualquen senão da possílülidade
níñcaz um tratamento orientado para o sentido (e reorientadur do pacicntc!)4 Em de realizar 0 valor supremo, da oporlunidadc de realizar o mais allo valon da oca~
determinadas círcunstâncias não se trata apenas de mobílizar a vontade de scntí› sião de fazer cumprir o sentido mais profundo.
do, mas também de despertá-la ali onde se encontra soterrada, onde permanece Mas o que 1'ntercssa, do ponto dc vista médico, ou, melhor d1'zcndo, do
inconsciente, onde se encontra reprímida. pomo de vista do doente. é a atitude com que o indivíduo cnfrcnta a docnça, a
74 0 SÚFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO “ (› \I-N I Ilm hu sol RIMI NYU ".'\

disposiçâo com que lida contra essa doença. Em uma palavraz o que imeressa é Com esse par de calegorias, contudo. o Homo puliens colnca~sc vcrlicalmemc
a atitude adequada, o sofrimento sinccro de um destino auténtico. O modo de na linha da ética do êxim, uma vez que a realimçào c o duscspem pcrlcnccm a uma
suportar o sofrimento neccssário encerra um pnssivel sentido. É o que nos faz re- outra dimensào. Dessa dikrença dimensinnal rcsulla uma superioridadc igualmcn-
cordar aquele poema de Iulius Sturm, que Hugo Wolftão bem musicouz te dimensionaL porque 0 Homo paticns podc realiln'r-5c. ainda. nu mais agudo in~
sucesso ou fr.1-casso. A expcriôncia então mostra que a realização e o insuccsso sáo
Naite após Iwitc vêm a alegria c a d0r.
perfeitamente compall'vci.s", não dilbrcnlc llO éxito em rclaçào ao descspem Mas
E untcs que se perccbu aband0nun1-nus as duas
isso não deve ser comprecndido apenus a purtir da diíbrcnça dimcnsional dos duis
E vãn conlara Dcus
pares de categorias. Sem diwidaz sc pmjctá.sscmos o lriunfo do lwmo puücns. seu
Como as suportamos ao dizer-Ihcs adeus.
cumprimento de sentído e sun autorrca1izaç.1"o no sofrinlenlo. na linha da ética do
Porque assim é, efetivamentez o que importa é como se suporta o destíno logo êxito, ler-se-ia então de represcnlá~lo puntualmcntc sobrc a busc da dilbrença d1'-
que nos escapa das mãos. Em outras palavrasz quando não é mais possível moldar mensionaL quer dizer, semelhante a um nad¡1,a um absurdo 1'mponc¡1te. L"m outras
0 destino. então se faz necessário ír ao encontrp desle destino com a atitude certa. palavrasz aos olhos do Homojàbcr o triunfo do Homo paticns é loucura e cscândala
Fica clam agora com que direito Goelhe póde añrmar: “Nã0 existe nenhu-
ma siluação que não possa ser enobrecida seja agínd0, seja aceitanddÍ SÓ que po- Rcal imção

demus completá-lo: a aceitação, ao menos no sentido de que csta nos faz suportar
um s.'ofr1'mento de forma correta e leal a um destíno autêmico, é por si mesma uma Êxito + Frncasso
ação - maís do que isso, a maís elevada ação c a mais elevada realí'/,aça'o permiti~
da a um h0mem. E compreendemos igualmente as palavras de Hermann Cohen: Dcscspcm
“A“ suprema dignidade do homem é o sofrimentdÍ
Tentemos agora responder à seguinte perguntaz por que o sentido que 0 ho- Em tudo isso, ñca~nos claro quc a possibilidndc dc rcalimr valorcs crinlivos.

mem pode encontrar no sofrimento é o mais elevado de quantos podemos conce- ou seja, de lomarmos as rédeas du deslinu por mcio dc umu uçào corrcla. assegu-

ber? Bem, os valores de atítude m03tram~se aqui mais excelentes do que os valores ra a primazia sobrc a nccessidadc de accitar 0 dcslinn com u miludc correla. ou

de criação e de vívêncía, enquanto o sentído do sofrímento é superior, dimensio- seja, de realizar os valores dc at1'tudc. Iãm sumaz mesmo quando a possibilidade dc

nalmente, ao sentido do trabalho e ao sentido do amor. E por que é ass¡m? Parta- sentido que sc encerra no sofrimenlo c'. scgundo uma cscala dc vulorcs. supcrior

mos da ideia de que 0 Homo sapiens se articula no Homofaber, que cumprc seu à possibilidade de sentiducn'.'1d0r,qucr di7.er, por mais que a primnzia corrcspom

semido existencial ao criar; no Homo amans, que enriquece o sentido de sua vída da ao sentido do sofr1'ment0, a prioridade recai sobre 0 sentido criudor: dc íhta

ao experimenlar, ao encontral o outro e ao amar, e no Homo patiens, 0 homem aceitar um sofrimento que vem neccssariamentc murcudo pclo dcsn'no, um sofri-

que sofre e rende serviço ao sofrimenta O Homojàber é aquele que podemos com mento desnecessár1'0, não scria nenhum scrviço, scnão atrevimento. O sofrimcnto
desnecessário é - para usarmos uma exprcssào de Max Brod - uma desgraçn “or-
razão chamar de um homem de éx1't0; conhece somente duas categorias, e só nelas
pensaz 0 sucesso e 0 fracassa Sua vída agita-se então entre esses dois extremos, na dínária” e não uma "nobre" infe11'cidade.

linha de uma ética do êxito, ao contrário do Homo patíensz as categorias deste não Como se rctletem então essus relaçócs no quadro da prática médicaf ch,
o que aqui foi dilo equivaleria a añrman por cxempkn quc um carcinumn passível
são o sucesso 0u 0 fracassa mas a realização c o desespem
lb 0 SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SFM SE\.'Tll)() ' u xl NTIDU Dn SOPRIMENTo

de uma intervcnção cirúrgica não é uma doença cujo sofrimento lenha sentido. Não podín ncm um pouco mudur o dcslinm mns tinha mudadn dc ntiludc! 0 dcs~
Pclo contr;1'rí0, lratar-se-ia de um sofrimento inúliL O adoentado leria que recor- tino lhc linha retirado a possibilidadc dc cumprir um scnndo alravés du nmon Mas
rer à coragem de submeter~se à 0pcração. enquanto aquele quc se defroma cego lhe reservara a possibilidade dc adolar, dianle dcssc dcsnna a atiludc adc~quada.
de fúría com um carcínoma incurável a ser operado deveria recorrcr à humll'dade. Ou poderia citm a carla quc mc cscrevcrmn os prcsidiários da pcnilenciária
E tampouco são as dores, em geraL um sofrimento supe'rf1u0, uma necessidade da Flóridaz “Enc0mrei 0 scntido de minha vida .'lg(›m. aqui na prisào. c só lenho de
irremediável do dcstinu. De fato, é scmprc possível dentm dc limites mais amplos esperar algum tcmpo até ter a oportunidadc dc rcpurar tudo n quc ñL c de fazcr
atenuá-las. A renúncia hcroica à narcose ou à anestesia locaL ou também, no caso tudo melhorÍ O 11L'1n1er00-19246 c.s'creveu›me: “Aqui, na prisãa não faltam oportu~
de uma doença impossível de operar, a renúncia a um medicamento sedativo, nidades de se fazer alguma coisa e dc se crcscer além dc si mcsmo. Tenho dc dizcr
não é para qualquer um, ainda que estivessc ao alcance de Sigmund Freud. Ele que de algum modo sou mais feliz como nuncu fui'.' IE u númcro 552›022 escrcvcuz
se permitiu renunciar, de modo heroico e até o ñm, a lodo tipo de analgésicos -
Prezado duulor! Nos últimus mcws um grupo dc prc.~.(›s \'cm lcndo scus
literalmente "pcrmitiu-se” renunciar (como é sábio o idioma!). No entanto. não
livros e tem esculado suas gravaço'cs. Quc verdaldc csl.1: quc sc possa lnm~
é a qualquer um que se pode exigir tal renúncia. Náo cumpro nenhuma renúncia
bém cnconlrar no sofrimcntn um .scmido... De ulguma muncira posso dizcr
válida, se renuncio por capr1'cho, a tudo aquilo que poderia .'mes.'tesiar a dor.
que a minhn vida comcçou agurn ~ quc scnlimcntu cspléndidnl É cnlcrnc~
O médico tcm frequememente oportunidade de observar como um pa-
cedor vcr comu mcus irmàos, cm n0.sso grup(›. cnchcm ns olhos dc lágrimas
cientc faz uma mudança de rumoz passando da possibilidade de dar um sentido
ao pcrceber quc sua vida, aqui c agnrm ganhou um scmídn quc anlcs c0n~
a própria vida com a atividade - po.s*sibilidade que está em primeiro plano na
sidcravam impossích 0 quc aconlccc aqui chcga a scr quasc um milagru
consciência habituaL na exísléncia quolidiana - à necessidade de realizar 0 sen~
Homens quc ames sc scntiam dcaamparados c dcscqwrados vccm agora um
tido da própria cxisténcia através do sofrinmnto. a aceitação de um dcslino dolo~
novo semido em suas vidas. AquL ncsta prisãm govcrnada pchs nmis rígidas
roso. Dispomos aqui de um caso concreto quc nos permite mostrar como não só
mcdidas de segurança de loda Flúridu - aqui, a somcnlc um ccm mctms da
a renúncia ao trabalho e à possibilidade de sentido nele existente mas também a cadeira clétrica -, prccisnmente aqui us nossus sonhos turnamm-sc vcrdu~
renúncía ao amor pode levar o ser humano a perceber que esse empobrecimento dciros. Estamos à véspcm dc Nulak nms, pma nós. a logotcrapin .s'ignih1*n a
também nas possibilidadcs de sentido imposlo pelo destino traz em si ainda PáscmL Sobre 0 Gólgmu dc Auschwitz lcvunla-sc. ncsta nmnhà dc Páscuau U
possibílídades mais altas de sentídoz soL Que novo dia se aproxima de nós!
Recorreu a mim um médíco idoso. que. por muito tempo. exercem as fun›
çócs de clínico geraL Um ano ames falecera sua esposa, a pcssoa que amava mais
do que tud0. e não conseguia, no entant0, afastar a dor da perda. Perguntei a esse
meu paciente, fortemente deprímíd0, se já havia refletido sobre o quc poderia ter
acomecido se tivesse falecido antes da esposa. "Nem pensar',' respondeu. "minha
mulher teria ñcado totaJmente desesperada'.' Só precisei então chamar-lhc a aten-
çãoz "Veja 0 senhor, tudo isso acabou por poupar a sua esposa, ainda que ao preço,
sem du'vida, de que seja o senhor quem deve agora suportar a saudadeÊ Seu sofrí-
mento adquiriu um semído naquele mesmo instantez o sentido de um sacrifício.
8
Pastoral me'dica

Podemos qualíñcar aquclcs casos untcs citados como uma pastoml médica.
uma pastoral com que se confronta o médico dialrmmentc em suas consulta~›, c quc
represema um dever legítimo no âmbito das atividades médicas. "Pasloml médica" é
0 objeto do proñssional que tem de lidar com doenças incura~'vc¡'s, do genatra quc sc
dedíca aos idosos enfermos. do dermatologism quc sc ocupa dc pcssoas desñgum-
das. do ortopedisla que cuida de pessoas com deformidndcs locomotoras ou até do
cirurgião, obrigado muitas vezes a mulilar um pacicnte pur causa dc uma intervem
ção cirúrgica. Enñm, todos aqucles que trubalham com pacicntcs quc se encommm
diame de um destino que não se pode allcrar ou que é, talveL ineviláveL L~' nessas
situaçóes, naquelas que não se pode mais~ curar e ncm sequer mitigan resta-nos so-
mente o recurso ao consolo. Que isso vem a propósito du ofício médico pode ser
testemunhado pela inscrição que ostema a entrada pn'ncipal do Hnspital Gernl de
Viena, e com a qual o impcrador Iosé ll dcdicou ao público cssa instituiçáo hospitn~
lar: saluti et solatio aegrorum - não apenas curar, mas mmbém consolar os cnfcrnms.
Encontramos também uma indicação semelhanle na disposição regulamentar da
American Medical Associationz “O médico deve igualmente conforlar u alma. lsto
não é de modo algum uma tarcfa só do psiquiatraL É, muito 51'mp1esmenle. tarctà de
todo médico que pratique a sua proñssão'.' Ev1'dentemente. é possível ser médico sem
se preocupar com i550; mas aqui valc entào 0 que dixs;e. num comexto ana'log0, Paul
Dubois: a única coisa, a saber, que os dite'rencia de um veterinário. é a clicnlela.
BD 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM S|<N rlDO l PASÍORAI NEDICA

É. portanto, uma situação forçosa que pede ao médico 0 exercício da pas- doença neurótic.-1.cntãoatais neurmcs dcnomino ncumses noogénicas Quc ñque
toral médicaz "Sã0 os pacicntes que nos colocam díanle do dever de assumir tam~ bem evidentez nem loda frustmçâo cxístcncial sc lorna palogênl'ca. e ncm lodn
bém a missão da pasloral médica" (Gustav Bally). Trata~se aqui de um papel para doença neurótica é noogén1'ca.
o qual 0 médícn se vé impelido (Karl Jaspers, Alphons Maeder, W. Sculte. G. R. Chegando a este ponto dc nossas considemço'cs,, dcpnmmommj - ao lado du
Heyer e H. I. Weílbrccln, entre outrus). “A psicoterapia [...] é inev1'tavelmente, ain- já discutido perigo do patologismo - com oulro pcrignz o perigo do noologisma
da que 0 clínicu não saiba, ou nem queira saber, a pastoral médica [...] Frequen- Quer dizer, incorreria no crro do patologismo quem prelcndexsc aflrmm que todn
temente precisa exerccr de modo expresso [...] os cuidados próprios da pastoral desespcro leva à neur05e. E. ao contrário. incurrcria no crro do noologismo quem
médiccfÍl A pastoml médica não é. evidememente, nenhum substituto da autên- añrma que toda neurosc esteia~sc no dcscspcro. Não podcmos ignorar o cspimuah
tica pastoraL que é e sempre será a pastoral sacerdotaL Contudo, a añrmação de mas também não podemos exagemr 0 valor do cspirituaL Vcr nn cspiritual a u'nica
Victor E. Gebsattel de que o “éx0do da humanidade ocidental do sacerdote para causa das doenças neuróticas é 0 mcsmo quc prcsmr homcnagem ao noologismu As
o neurolog1'sta" termina por nos prover do falo de que 0 sacerdote não pode mais neuroses não se enmímm apenas nas camndas do cspírilo. mas também nns camadns
fechar-se em si mesmo e de uma exigéncia, a saber, a de que o neurologista não p51'c0físicas. Sim, não hesito em añrmar quc as ncurosesx no sentidu cslrito da pala-
pode recusar sua colaburaçãa vra, podem ser deñnidas nào como uma doença n(mgênica, nm›, antcs, psicogén¡ca.
Em uma ópoca como a nossa - uma era de ampla disseminação da frustra- E tampouco todas as doenças - quer dizen nào só as psicogôxlica›". scnão lam-
ção existencial -, nesta época de tanlas pessoas desesperadas, porque desesperam bém as somatogênicas - são du tipo nuogénico. como añrma. a saben um noologis-
do sentido de sua vida, e maisz daquelas que se revelam inaptas a suportar o sofri- mo que nomeia a si mesmo psicossmnálicm mas que c'. nn rcalidade. noussomálico.
mento e, na mesma medida, exageram c divinizam o valor e a capacidade do traba- A medicina psicossomática ensinaz só lica doentc qucm sc senle docntc ~ mns sc
lho ou do gozo e do prazen ncsta época. añrn1o, tudo isso adquire uma atualidade pode demostrar quc, sob determinadas circunstâncias, ticn também doenle uqucle
singular. Naturalmente, também em épocas anleriorcs existiu algo assim como a que se sente feliz. De falo, a doença cnrporal não tem de mndo algum nquela impor~
frustração existenciah mas as pessoas que dela padeciam procuravam 0 sacerdo¡e, tâncía para a biograña pcssoal e aquele valor de cxpmssão pessoal quc a mcdicina
e não o médíco. psicossomática lão gencrosamcntc lhe alribui. É vcrdadc quc ism tem, na exi^sténcin
Não podemos, conlud0. esquecer-nos de que, embora a fruslração existen- humana. cerla importância biográñca e. na 111ed1'da cm quc tem tal imporrância, tem
cial não represente em sí um dado patológico, é bem provável que se torne pato~ também um valor de expressa'o. Porque, cm última a11;1'lisc. a biogmñu não é outra
gênica e conduza, part1'cularmente, a uma neurose. Ou seja, a frustração não é coisa do que a cxplicaçâo temporal da pessoat na vida que aí dccorra nu cu,'slência
obrigatoriamente, mas sim facultat1'vamente, de tipo patogénicaz cla pode levar a
que aí se desenrola, desdobra~se a pessoa, dcsenvolvc-se, como um lapelc que só
uma neurosc, mas não necessariamente, e, ao contrárí0, uma neurose pode estear-
assim revela seu desenho inconfundíveL
-se numa frustração existenciaL na dúvida ou no desespero quanto ao semido c0n-
No entanto, 0 quadro da docnça orgânica nào é retlcxo ñcl da pessoax A me-
creto e pessoal de uma existência, mas não é seu csteio necessa'rio.
dicina psicossomática faz suas contas sem considcrar o dono do estabclccimem
Agora, se em um caso concreto a frustração existencíal facultativamente pa-
to - sem o organismo psicoswmálica Enquanto estivermos consciemcs dc quc o
togênica se torna uma ou outra vez de fato patogên1'ca, quer dizer, conduz a uma
homem não pode impor-se no organismo psicofísico enquamo taL 0 quc desejarid
enquanto pessoa eapirituaL deveremos guardar~nos - em vista dcssa impotemiu
' A. Go"rrcs. Iahrburhfür Psychologie uml Psyrhotcrapt'c, n. 6, l958. p. 200. aboedientialis - do equívoco de atribuir loda docnça no corpo a uma falha no
HZ U \.()I'l'\ln\1lN.'H) l|l L'\.l \ \ HH H~M Sl N l'l[!() -< l'\'~›4m\1 \II||1( k n

cspírila Abstraímos aqui dos extremismos da noossomál1'ca, como aquele que añr- Em vcz de íllzcr uqui considerawócss lcóricaxm gosmria muilo mnis dc rcporlabmc
ma que um cànccr represema não apenas um suicídio inconsc¡'emc, senào, direta~ a expcriéncius prátiwsg purlicularmcmc a cxpcriências concrclas e rcaisz umJ di.1.
mentc, uma execuçào inconsciente da pena capital por algum complexo de culpa. tapei com uma scssào de tcrapiu de grupo organilñada por mcu ass¡'slcntc. 0 Dr. K.
Aindu que o homem seja um ser essencialmente espirituaL não deixa de Kucourek O grupo discutia 0 caw dc uma mulhcr quc acnbara dc pcrdcr o ñlhn
ser uma criatura ñnita; essa limilação reílete a condição do ser humano, que é só de onze anos, vitímado pnr uma '.\pcndícilc agudm rcst:mdn-Ihc um ñlho dc vinlc
facultativamcme incondicionad0, mas quc, de falo, permanece condicionado. Por anos, que sofria dc parulisía ccrchral c prccisuva nwvcmc numa cadeira de rnd;¡s.
conscgu1'nte, a pcssoa espiritual não pode impor-se incondícionalmente - atra~ A mãe havia tcntado 0 suicídiu Lx pnr comcgun'nle. fum conduzida c imernuda cm
Vés das camadas psicoñsicas, Nem sempre é perceptível a pessoa espiritual através minha clínich Inscri›me na discussñu do C¡1S0, escolhcndo do grupo uma jovcm a
dessas camadas, nem tampouco operantc. É certo que o organismo psícofísico é o quem dc improvíso pedi que se imaginassc aos oitcnln anos. próxima da n10ne. c
conjumo dos órgãos, dos 1'nstrumenlos, ou seja, dos meios para um ñm; mas esse que lançasse um olhar retrospcclivo sobrc a própria vida. uma vida cheia de pres~ A1
mcio é inleiramentc sombrio em rclaçâo à sua função exprcssiva e inteíramente tígio sucial c succsso amor0$0, mas também nada maús du que issuz
indoleme em relação à sua função inslrumentaL
O quc dirias u ti mcsmu? 'l'ivc ludu dc hom na vidu. fui ríuL n1imada. dci›
É verdade que toda docnçn tem um “selnlid0"; mas 0 semido real de uma
xei os homcns loucos dc p.-u'xào, cnquanln llcrmva cmn clcsn c n.|'(›.1h.1ndom-i
doença não está ali onde 0 procura a ínvcstigação psicossomátíca - não no “que" do
nenhuma tbrma dc prazcn Mas agum csluu vclhm nàu livc íilhus c lcuho dc
eslar doente, antes no “como" do sofrimento; e assin1, p0is, é um sentido que já deve
admitir quc, rigorosnmcntc tMauIdm minha vida lbi um fracassm viatu quc
estar dado na docnça, e isso acomece sempre que o homcm sofrido, o Homo patiens,
não posso lcvnr nnda comigu ao túmula Pam que cstivc nn mundo?
cumpre no sofrimemo autênlico, e marcado por um deslino autênt1'co, 0 sentido
possível de um sofrimemo neccssar'io e inevítáveL Mas não cabe ao médíco designar Convidei emão a mãe do dcñcíemc físico a COIOCJFSC na mesma situação e
esse sentido mediaute inrerpretações psicossomáticasz que nos dissesse 0 que pensava:
A esse respe1'to. é evidente que o “que” do estar doente também possui um
Eu scmprc descjei ter ñlh()s, c cstc meu Llescjn rcdl'il.'ou›se. O mais jn-
sentido. Trat.'1-se, todavia, de um suprassenñdo, isto é, de algo que ultrapassa todo
vem fuleceu. c ñquei sozinhu com o mais vcllm Sc nâu fosse cu. o quc lhc
o senlido de comprecvnsão humana. É algo que se encontra além dos límites de
leria acontccido... provávcl que tivcssc xido lcvudu a uma ínsliluíçào pam
toda temática psicoterapêutica legítÍma. A ultrapassagem desses limiles, a ten-
deñcicntes mcnmis; mus cra cu qucm csmva ali c pudc ajudáJo n faurwsc
tativa persistente de tbrjar uma patodiceía ou, até mesm0, uma teodiceia, leva 0
homan Minhu vidu nãn foi umjrAucusm É posmívcl quc tivcssc sidu diliuL
médíco ao fracassa No mínimo, levá-lo-a' a um embaraço semelhame ao daquele
havia muims larcfus pura cumprir, mus conscgui .s'upcr¡í-I.Ls c tornar a minhu
homem que, indagado pelo ñlho até que ponto Deus é amor, respondeu-lhe com
vida plcna dc scnlida Agora posso morrcr cm paz.
um exemplo: “Bem, foi Ele qucm te curou do sarampdÍ Ao que o ñlho replicouz
“Sim, mas primeiro me envíou o sarampdÍ Somcmc emrc soluços cla conscguíu prolbrir cssas pulavras. Pudcram delas

Assim, o médico deve conhecer não só a vontade de sentido, senão 0 sentido então tirar os outros pacientcs a lição de quc 0 que impurlu nào é tumo que a vida

do sofr1'memo, e, nesta época de dúvida quanto ao sentido, é maís do que nunca de um ser humano seja do|0rosa ou pruzcrom mas que scja carrcgada dc scntidu

necessário que ele tenha consciéncia - e torne o pacíente consciente - de que a


vida do homcm, também a do homem que sofre, seja sempre carregada de sentido.
9
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Logoterapia e religião1
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Para a logoterapia, a religião pode scr um objeto « não umu posiç.1-'o. A rcli-
gião é um fenómeno do homan do p.1'cicnlc, um fcnômcno cntrc oulms fen(›1ne-
nos que cnconlra a logoterapia. Nu cmanm pura a lugmcrup¡'u, tunlo a c.\1“slc'ncia
religiosa como a irreligiosa são, cm pr¡ncípí(›, fcnômcnos c0c.\'islcnlcs. Em oulras
palavras, a logotcrapia devc assumir pcruntc clcs uma aliludc ncutnL A logolcrapia
y ~.,

é uma orienlação da p's.ic0terapia. e csta podc scr cxcrcida - ao menns scgundo a


legislação médica austríaca - pur aquelcs quc sãn méd1'cus. P(›rlanto, c nàn por 0u-
tro motivo, o logotcrapcula, uma vclx quc tcnha presmdu o juramemu lu'pocr.1"lic0.
WJ'O_P§W

deve cuidar para que seu método c técnica (Iog<›lcrapéuticos) scjam aplicudus a to-
.4. x

dos os doentes, crentes ou dcscrentes; c também pnm quc ns técnicm logolcrupéw


ticas scjam aplicadas por qualquer médico1'ndcpcndeutemcntc dc sua cu.s'movnsãn.
Dcpois desse nosso esclarecimento acerca da posição da lngotempia no âm~
bito da medic1na, voltemo-nos agora à sua dclimitaçño diamc du tcu10g¡a, u quaL
a mcu ver, se podc esboçar do seguime n10do: 0 objclivo da p.s'icolcrap1'u é a cura
psíquica ~ 0 objelivn da religião, contudo, é a salvação du almzL lssu não quer dizcn
naluralmenle, que os objetivos da psicoterapia e da religião se cnconlram no mes~
mo plano. A dimensão na qual se ínsere o homem rcligioso é muis clcvadm qucro

* Confcréncia pmferida em l964. organizada pcla Sociedadc “Medicina e Paslornl" de StuugurL n(›
Colóquio de Elmauen
MI 0 SOFRIMENTO Dh UMA VlDA SIÉM ShNTIDU 'l IUGOTTRAPIA F RHIGHO

dizer, mais abrangenle do que a dimensâo na qual sc move a psicotcrap1'a. PorénL pacientes. Senlimo~nos iguulmcntc satisfel'ms dc quc não se aprescntc Dcus cnmo
esse avunço numa dimensão clevada não se dá no conhecimemo, mas na fé. um “nada mais que" uma ímagem~de-Pai e a religiãn como um "nada mnis quc"
Se pretendcmos agora determinar a relação da dimensão humana com a di- uma neurose da humamidadtx nem de quc os rcb3ixc. assinL aos olhos do pacicntc.
vina. ou seja, com n dimensão supra-humana, devemos entâo recorrer a um símbo~ Ainda que a rclig1'.1'-o, como dito antcriormente, não scja para a lngolcrapia
lo da proporção áurea. Como se sabe, essa proporção matemática preconiza a ideia mais do que um objcto, ela. contudo, Ihc ó muíto cara. c pur uma razão muito sím›
de que a parte menor sc rclaciona com a parte maior assím como a parte maior plcsz no contcxto du logotcrap1'a. logos signiñcn cspírito c, além disso, scnlida Por
com o todo. Como também se sabe. 0 animal vive no ambícnte da própria espécie, espírito entendemos a dimensão dos íbnómcnos cspcciücanlcmc humanos. e. em
enquanto 0 homem “tem o mundo" (Max Scheler); mas o mundo humano se rela- contraposíção ao reducionismm a logotcrapía sc rccusn a reduzi<los a lbnómcnos
ciona com o mundo sobrenaturaL assim como o mundo animal se relaciona com 0 sub-humanos ou a dcduzi-los destcsx
mundo human(›. O que quer dizerz do mesmo modo que o animal nâo é capaz de Na dimensão especificamcntc luumma lmvcriamos dc luculiznn cntrc
entcnder, a partir de seu amb1'entc, o homcm c o seu mundo, tampouco é possível 0 oulros. os fenómcnos da aututranscendéncia dn exislência cm direçãu ao l0-
homem lançar um olhar no mundo superior. gos. Com efeito, a estlência humana aponta scmprc pnra além dc si mcsnm',
Tomemos o exemplo de um macaco em que sc aplicam injeçóes dolorosas aponta sempre para um sent1'do. Ncsse aspcclm a cxisléncia não é para o ho-
com o íntuíto de obter um soro capalz de curar numemsas doenças. O macaco pode mem um empenho pelo prazer ou pelo podcn nem tampoucu pclu aulorrcali-
compreendcr por que tem de sofrer? A partir do seu ambiente ele é incapaz de com- zaçã0, mas antes pclo cumprimcmu dc um scntída Na logotcrapia lhlamos dc
preender as intençócs do homem empregadas em scus cxpcr1'n¡entos, uma vez que o uma vontade de sentid0.
mundo humano lhe é ínacessích Ele não alcança esse mundo, nâo consegue penetrar Uma vez que podemos detinir 0 homem como um scr responsách 0 ho-
em sua dímensão; não podemos entào supor que 0 mundo humano é também, por mem é responsável pelo cumprimento de um scmid0. Contudo, em vez de ta'zcr-
seu tum0, superado por outro mund0. que, por sua ve/.', não é acessível ao homem, mos a pergunta do “para que" na psicotcrapi.'1, é preciso colocar-se c deixar em
um mundo cujo sentido, cujo suprassentid0, é o único capaz de dar semido à sua dor? abcrto a pergunta do “dianle dc que" dc nosso scr«rcspL111s."d'\“Ll. prcciso deixar ao
No entant0, o passo executado pcla te" na dimensão supra-humana funda- pacienle a decisão de cumo imerpretar o seu scr-rcsponsávch como ser~respon-
menta~se através do amor. Em princípio, isso é uma realidade bem conhecida. sável diante da soc1'edade, diamc da humanidadu diantc da wnsciéncia ou diante
Menos conhecido, contud0, é 0 fato de que para essa realidade existe uma pré- não de algo, mas díante dc alguém, diante do divino.
-formação infra-humana. Quem já não viu um caclwrro que, conduzido ao vete~ Poderia levanlar-se a objeção de que não sc deve dcixar ahcrtu cssu pergunta
rinário e submetido a um tratamento doloroso em seu benef1'cio, clevou 05 olhos do “diantc de que" do scr-re.s*ponsávcl d(› paci011t0. Scnãu quc u rcspostu seja dadu
cheios de conñança para o d0no? Sem poder "saber” qual sentido deve ter sua d0r, já há muim tempo sob a forma de revclaçã0; a prova. purénL claudicn. Cmn eíc"i-
o animal “acrcdita),) enquanto conña em seu d0no, ele cré exatamente porque 0 tu, essa aponta para uma petitio principiL uma vcz que 0 fmo dc quc reconheço a
ama - sit venia anthropomorphismo. revelação enquanto tal prcssupóc sempre uma decisão dc te". Não thria o mínimo
No que diz respeilo ao "passo para a dimensão supra-humana'l não podemos efeit0, portanto, sc diante de um incrédulu se aludissc ao 111to de que cxisle uma rc›
forçar o homem, muito menos pela psicoterapia. Sentimo-nos já satisfeitos de não velação; porquc se o paciente a aceitassc como mL 10rnur~se~ia enlão um crc'dulo.
encontrar a porta do supra-humano bloqueada pelo reducionísmo seguido por uma A psicoterapia deve mover-se, portanlo, aquém da fé nn rcvelaçãu, e a per~
psicanálise mal compreendida e vulgarmeme m'terpretada, e logo apresentada aos guma do sentído deve dar uma resposla aquém da linha que sepura de um lado a
'J l(\(¡0HR^l'lA E RHJGÍAO l9
HB 0 SUILRIÀÍPNJTU l)]- l \.1.\ \'H)z\ SLM M \.H|)()

que já não há mais esperança de vivcn Em qué7. A csperançn dcsses docnlcs.


concepção tcísta de mundo e, de 0utro, a concepção ateísta. Mas se essa pergunta
que num primciro nwmento sc vulta à cura físic.1, cscondcndo assim no
compreendc o fenômeno da fé não como uma te" em Deus, senão como a íe" num
fundo um contcúdo signiñcaüvo dc carálcr lransccndcme. prccisa nncorar-
sentido mais amplo, cnlão é perfeitamente legítimo debruçar~se sobre o fenôme-
-sc nn sua hulmnidudc. quc nunca pudc dcimr dc scr uma cspcrança numa
no da fé e ocupar-se dele. E isso casa perfeítameme com a añrmação de Albert
consunmção futum na qunl o homcm cunvcnicmemcnlc c nntumlmcme
Einstcin, que disse, certa vez, que um homem que encontra uma resposta à ques~
acrcdim, ainda que não ñxadu em um dognuL
tào do sentido da vida é um homem religiosa
A fé do homem no sentido é, em termos kantianos, uma categoria trans- O leitor depamu-se anteriormentc com uma citação dc Albert Einsteim se-
cendentnL Do mesmo modo que, como sabemos desde Kant. é um contrassenso gundo a qual 0 homem que encontra uma resposta il qucstão do scntido da vida
perguntarmo~nos por categorías como espaço e tempo, pclo simples fato de é um homem religioso. Go.s*tnn'a somcnte dc completar com uma declarnção se-
que não podcmos pensar e, portanto, não podemos perguntar sem pressupor mclhante proferida por Paul Tillich, que nos ofcrcce a scguinte deñnição: "Ser
de antemão 0 espaço e o temp0. do mesmo modo o ser humano é, de ante- religioso signiñca c010car-se apmlxonadmnente a pcrgunta do semido dc nosa

W
mão, um ser voltado para o sentido, meshlo que ainda não o conheçaz existe. existênciiÍ Ludwig Wittgcnstein utbrecenos u scguintc deñniçãoz “(Ircr cm Dcus
de qualqucr modo, algo assim como um conhecimento prévio do sentid0. Um signiñca ver que a vida tem um sentido" (Diu'ric›s. l914~ 1916). Em todo cas0, po~
-›:

pressentimenlo assim do sentido serve de base ao que na logoterapia designa-

1d_~4›~". \-
de-sc dizer que a logoterapm - que é scmprc c primordialmeme uma psicotcrapia e
mos "vontade de sentiddÍ Quer ele o queíra ou nã0. quer ele o admita ou não, que, enquanm taL pcrtcnce ao âmbilo da psiquíatria e da medicina - está legítun'a~
o homem crê num sentido até seu derradeiro suspir0. O suicida também crê da a ocupar-se não só com a “v0ntade de scnlid0'.' comu a lugotcrapia o dcsigna,
num semído, aínda que não de vida, de continuação da vída, mas ao menos no mas também com a vontade de um sentido últímo, com um suprassenlida como
_.:~z=-.w_

sentido da morte. Se não acreditasse realmente cm nenhum sentid0, não teria costumo chama'-lo; e a fé religiosa c'. aíinul de contas, uma te" nessc suprawsemido ~

. .~ - ~.- Aa a'_.;-4~l.-
tbrças sequer para mover um dedo e, portanlo, cometer 0 suicídi0. uma conñança no mlprasscntidu
Vi morrer ateus convictos que durante Ioda a vida se horrorizavam com a É verdade que a nossu concepção de religião tcm. considerand0-a de ma-
crença em “um ente superíor” ou em algo semelhante, em uma acepção dimensio- neira afetuosa, muito pouco que ver com a estrcitczn conteÃssionaL c sua conse«
nal do Sentido elevado da vida. No entanto, no leito de morte, tíveram algo que não quéncia, a miopia religiosa, que tende a vcr em Deus um entc que só se intcressa,
foram capuzes dc viver ao longo de décadasz testemunharam uma segurança fundamcnlalmente, por istoz o númcro dc pcssoas que Nele acredile dcve ser
não só contrária à sua concepção de mundo, mas que também não se pode 0 maior possích e, a par disso, exammentc como prescreve uma delerminada
intclectualizar e racionalízar. De projímdis irrompe alg0, impõe algo, aflora uma conñssão. Pessoalmente, não consigo imaginar quc Dcus possa ser lào mesqLu'-
confiançu ílimitada que não se sabe 0 que ou contra 0 que se manífesta, nem tam- nh04 Não consigo igualmente imaginar, como algo sensalq que uma ígreja me
pouco em que ou quem conña, mas que resisle ao conhecímento do infauslo prog~ exüa que creia. Também não posso qucrcr crer. do mcsmo modo que nào posso
nósticu Quem bate nessa mesma tecla é Walter von Baeyer, quando escrevez obrigar-me a nmar ou, do mesmo modo, obrignr-mc a ler esperança. ainda mais

quando sei que isso é inútiL Há coisas que não se dcixam lcvar por um qucrcr
Detemo~nos nos pcnsamcntos e observaçóes pronunciados por Plu"gge.
ou não querer ~ lumpouco se dcixam produzir por meio de uma c.\'ígéncia ou
No emanto. em tcrmos objeliv05, já não existe mais nenhuma esperança.
por meio de uma ordem. Para aprcsentar um simples excmplo2 não posso rir por
O doente que conserva plenamente sua Iucidez deve ler percebido há muito
0 snl klMl NlU DL L'\.|›\ \'IDA 51 \.| NJN l'|lN) v Il3tul||l|(\|'l\í RllthÀÚ Il

meío de uma ordem. Se alguém deseja que eu ria, lem emão de se esforçar para que gnzcmus de pr().s'pcridndc, null'os, contmlo. padcccm dc carcslia. Gnlamus dc
me contar uma boa piada. |ibcrdade. mas ondc sc cncontra a rcspnnsubilidadc para com os dcmai›? An Iongo
E de maneira análoga acontece com o amor e a fé; amor e fé não sc deixam dos séculos. a lnunanidade vcnceu os obstáculos a favor dc uma fé cm um Deus
manípular. Como te'nómenos intencionais que são, só se manífestam quando se dá único. do n101wteísmo, mas onde ñca o conlwcimcnlo de uma humnnidadc u'nic.1,
um conteúdo e um objeto adcquados. um conhccimcmo quc gostarin dc dcnominur monantrupisnw? O conhecimemo
Certa ve7,, fui entrevistado por uma repórter da revista americana Time, que em torno da unidadc da humam'dndc. uma unidade quc rompa todas as difcren~
me pergunlou se a tendência da época era de afastamento da religiãa Respondi ças, quer da cor da pcle quer da cor dos partidom
que a tendência não era afastar-se da relig1'ão, mas, sim, daquelas conñssóes quc
não tinham outra coisa que thzer senáo lutar entre si e atiçar os ñéis uns contra os
oulros. A repórter perguntowmc enlão sc isso qucria dizer que, mais cedo ou mais
._ ._ ,.

larde, se chegaria a uma religião unívcrsaL 0 que de pmnto neguei. Muito pelo con-
.

trári(›, disse. Caminhamos, muito mais, cm direção não a uma religião universaL
mas a uma religião pessoal - profundamente personalizadm uma religiosidade a
partir da qual cada indivíduo encontrará o seu próprio idioma, pessoal e originaL
ao se dirigír a Deus.
-.»,_ A_4

Mas isso nem de longe signiñca que não haverá mais rituais e símbolos co-
lctív05. Existe igualmeme uma pluralidade de idiomas e, no entanto, não há para
muitos entre eles um alfabeto em comum?
De uma forma ou de 0utra, em sua d1'versidade, as religióes sc parecem com
os diferentes idiomasz ninguém pode dizer que o seu idioma é superior ao dos
demais - em todos os idiomas o homem pode aproximar~se da verdade, da única
verdade, e em todos os idiomas pode ele cnganar-se e até memixz E, assim, pode
também encontrar, por meio de qualquer religiâ0, a Deus - ao úníco Deus.
Resta~nos perguntar se, cm geraL se pode falar de Deus, c não antes com ele.
A frase de Ludwíg Wittgensteinz “whereof one cannot spcak, thcreof one must be
silent” - sobre aquilo que não se pode falar, deve-se sílenciar - não só podemos
traduzir do inglés para o alemão, mas também do agnosticismo para o teísmoz do
que não se pode falar, a este se deve rezar.
Hoje em dia os paciemes dirigem-se ao psiquiatra porque duvidam do sen-
tido de suas vidas, ou porque sc desesperam de não encontrar scja que sentido fon
A dizer a verdade, nínguém pode queixar-se, atualmente, de que falta um semido
à vida, visto que só precisa alargar 0 próprio horízonte para perceber que. ainda
10
A crítica do psicologismo dinâmico

W. Van Dusen salíentouz “Todas as terapias assentam~se em uma con-


cepção do mundo. No entamo, no que díz rcspeito a essa concepção, são
poucas as que põem as cartas sobre a mesa, como faz a análise ex1'stencial".
De fato, toda psicoterapia toma por sua uma determinada anlropologia -
também a psicanálise. Ninguém menos que o psicanalista Paul Schilder rec0-
nheceu que, realmente, ela é uma Weltanschauung -“concepção do mundo”.
Gostaria de dizer que toda psicoterapia se baseia em premissas antropo-
lógicas - ou, se essas não são conscicnles. em implicaçócs antropológicas.
E isso é ainda pior: devemos a Sigmund Frcud 0 conhecimemo do pcrigo que
espreita os conteúdos psíquicos. mas tambénL como podcmos dizer, o peri~
go que espreita as atitudes espirituais enquanto estas permanccem incons-
cientes. Não tenho dúvidas em afirmar que o psicanalista tão logo indique
ao paciente para estender-se no divã e associe livremente. já lhe apresenta
igualmente uma determinada concepção de ser human0, uma concepção que
deixa de lado a personalidade do paciente, que evita um encontro pessoal
do homem com 0 homem, um contalo face a face, olho no olho. Quando um
psicanalista procura op0r-se a todo tipo de valores. essa atitude de sua parte
implica então em um juízo dc valor. O que acontece na práxis? Tomemos, por
exemplo, as associações livres, em cuja produçào, como é bem conhecido, se
baseia o método de tratamento psicanalíticol
94 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO IO A CRÍTICA DO PSICOLOGISMO DINÀMILO 95

Iá na añrmução dada, implícita na indicação à qual se entrega a associa- psicanalítica dos acontecimentos passados. lsto é, ev1'dentementc. ir longe dcmais;
çã0|1'vrc.de que é permitido entrcgar-se ao jogo livre da própria imaginação. contud0, não menos evidente é a resposta do analista nova-i0rquino ], Marmor~'
há uma tal dec1'sãn,quc está longe de ser evidcnte, sobre o poder e o dever do quando chama u atenção para o hábito que todo analista tem de ínlerpretar toda
homem; csta conslítui cm si mcsma uma resposta parcíal à pergunta sobre o crítica à sua pessoa ou à psicanálise como expressão de uma resistência por parte
que é o homem e qual scja 0 scu ideal c o seu ñm.' do paciente. Gostaria, neste ponto, de ir mais longe ao submeter à Vossa reflexão
o fato de que o fenómeno contrário da resisténcia, a saber. não uma transferém
Bem, um homem de tão reconhecida reputaçã0, como 0 conhecido psica-
cia negativa, senão uma positiva ou - se devo assim me expressar ~ a auséncia
nalista Emil A. Gutheil (Nova York), editor do American Iournal ofPsycotherapy,
de resistência do paciente. traz em si uma atitude acrítíca perante a psicanálise.
eleva sua voz admoestandoz
Isso pode ser apropriad0, portanto, à análise d1'dáu'ca. 0 psicólogo londrino H.

Hoje em dia são poucos os casos de pacientes cujas associações são re- ]. Eysenck declarou, de maneira estr1'ta, que todo aquele que se submete a uma

almente espontâneas. A maíor parte das associações que 0 pacieme produz análise didát1'ca“torna-seincapaz de julgar objetivamente e de um modo absoluta-

no curso de um tratamento prolongado são qualquer coisa menos "!ivres"; mente imparcial as concepções psicanalíticas'.' “Quando o psicanalísta añrma que

muilas vezes são avaliadas para transmitír a0' analista determinadas ideias. 0 'psiquiatra com formação purameme teór¡ca' que não tbi ele mesmo analisado,

as quais o pacieme supõe que são bem›vindas ao analista. Em tais casos, não pode, apesar da melhor boa vontade, interpretar psicologicamente de maneira

os pacientes trazem à tona um material associativo previamente calculado, correta, então é chegado o ponto em que o diálogo cientíñco se enccrra, scndo

ou seja. determinado a agradar o analista. Aparemelnente, os pacicnlcs da substituído por uma decisão de fé“ - explica H. ]. WeitbrechL Durante a discussão

psicologia adleriana sofrem somente dc problemas de poder, e seus conflitos cientíñczu 0 partícipante não analisado é íntimidado com o recurso à censura, sob
o título de “na'o-ser›analisado',' e, portanto, incapaz de tomar parte na discussão,
encomram~se, ao que parece, exclusivamenle condicionndos pcla ambiçã0.
senão que também se manipula, de maneira anál()ga. a opinião pública à medida
pela aspiração à superioridade c coisas do gênero. Os paciemes dos discípu~
Ios de Jung inundam seus médicos de arquétipos e de vários símbolos ana- que se inocula no público o sentimento dc culpa. Procede-se assim como se aquele

gógícos. Os frcudíanos escutam dc seus pacientes a conñrmação da presença que é contra a psicanálise fosse de antemão suspeito de scr neurótico ou repressivo,
reacionári0, um antissemila ou até um nacionaLsocíalista.
de complexos de castração, de traumas dc na›c1'mento ou algo equivalente.
É da esséncia do psícologismo extrair, da génese de um ato espirituaL con-
Não seria possível pensarmos que a análise didática ajuda a impedir os juí- clusões sobre a validade de seu conteúdo - em outras palavrasz ao psicologísmo
zos de valor inconscientes? Bem, parece-me que essas análises por sua natureza importa menosprezar algo de modo lógico ao mcsmo tempo que 0 deduz psi-
são mais capazes de contribuir para o surgimento de tais juízos de valor incons- colog1'camente. No caso especíñco de S. Freud, diz H. Kunzz *A( imprudéncia de
cientes. Ninguém aqui precísa ír tão Ionge como William Sargant, que em seu livro Freud ao introduzir 0 psiwlogismo, qucr dizer, o recurso, na luta pcla psicanálise.
A Conquisla da Mcnte aponta para o fato de que muitas vezes a psicanálise se a tendências de lipo desconhecido pode, quem sabe, encomrarse enraizada numa
consídera encerrada quando o paciente acolhe inteirameme para si as opiniões do ànsia extracientíñcãí O ínteresse por motivações psicológicas. diz Dietrich von
psicoterapeuta c se tenha quebrado toda a resistência com respeito à interpretaçâo Hildebrand, ou seja, por saber por que alguém manítewsla uma opin1'ào, faz uma

' A. Gôrres. Metlmde und Erfahrungen der Psychounalyse. Munique, KõseL l958. " J. Marmor, 'Ihe American Iaurnal ofPsychiatry, n. 110. 1953, p. 370.
96 0 SOFRIMENTO l)[<. L'.\|.-\ \'lI)A 5E\.15P\¡”I'll)0 IO. A CRITICA DO PSICOLOGISMO DINÀMKLO 9,'

añrmação, assume um ponto de vista diante de uma teoria - tudo isso suplanta é um mero meio para o ñm, então esta tendéncia ao desvendamento nào é senão
mais e mais o imeresse pela questão de se essa opinião, añrmação ou teoria é ou uma tendéncia a desvalorizar~5e. Perante as árvores das mentiras da vida, o psicó-
não verdadeíra; logo que assim se procede, continua Dietrich von Hildebrand, co- logo, que desvenda, já não vê mais 0 bosque da própria vida, uma vez que a ànsia
meça a propagar-se uma perversão devastadora (“a dísustrous perversion"). de desmascarar, de desvendar. termina por desembocar em cinismo, lornando~se
Para dar um exemploz Sigmund Freud apresenta a ñlosoña como “uma das ao ñm e em si mesma uma ma'scara, a máscara do niilismo.
formas mais decentes de sublimação da sexualidade reprimida, nada mais'Í3 Pode- A u'1tima coisa que a psicoterapia pode permitir-se é ignorar a vontade de
mos entenden destarte, por que Scheler falava da psicanálise como uma “alquimía'2 sentido e, em vez de deter~se díante dela como algo originário, julga'-la uma sim-
segundo a qual seria possível desprender dos instintos coisas como bondade, amor ples máscara, segundo os ditames de uma psicologia que se considera a si própria
etc. Muito menos, añrma M. Boss, aquela que desmascara_. Certa vez, fui procurado por um chefe diplomático ame-
ricano que se encontrava há nada menos do que cinco anos em Nova York sob
se pode deduzir de meros instintos uma existéncia lão exemplar como a que
tratamento psicanalítico. Sentia~se tentado por um único anseioz desistir de sua
o próprio Freud supôs exemplarmeme conduzir. Uma transformação dos
carreira diplomática. No entant0, o psicanalista que o vinha tratando todo aquele
instintos a partir de si mesmos, em um dever humano de veracidade e em
tempo procurava movê~lo a ñnalmente reconc1'líar-se com o pai: o chefe não seria,
um autossacrifícío a serviço da ciência como, por exemplo, se dístingue no
pois, “nada mais” do que uma imugo do pai, e todo o seu ressentimento e rancor
destino de Frcud, é algo que permanece para sempre inimagináveL
provinham justamente de sua luta irreconciliável com essa imagem. A questão
É óbvio que pode haver casos em que a inquietação e a preocupação do importante, se o chefe realmente merecia ser reje1'tado, ou se não seria melhor
homem com o sentído últímo e majs elevado de sua vida, digamos assim, não re- largar a carreira diplomática e trocar de proñssão, não foi colocada uma única vez
presentem “nada mais” do que uma sublimação dos instintos reprimidos, e pode durante todo aquele tempo de tratament0, que consistia numa desenfreada con-
igualmente haver casos nos quais os valores realmente represemem “formações tenda, braço a braço, do psicanalista com 0 pacieme contra aquela imagem Tudo
de reação e racionalizações secundárias'Í Para autores como Ginsburg e Herma, isso como se não houvesse nada que valessc a pena levar em consíderação, como
são, de fat0, nada mais do que isso; mas se trata provavelmente de simples casos se só a pessoa imaginária merecesse atenção e cuidado, e não a real... A verdade
de exceçã0, e. de modo geraL a luta por um sentido de vida é um fator primári0, é que não havia mais nenhuma realidade para antepopse a essa imagem, que se
e mais aindaz a característica mais primária. E, se podemos chamá-la assím, um tinha desvanecido havia muito tempo da presença da dupla psicanalista›pac1'ente.*
constitutivo da existência humana. não existia um chefe reaL nem tampouco um posto diplomático de fato. muito
Pode ser necessário desmascarar e desvendan Mas é preciso parar diame do menos o mundo independente de toda essa imagenn um mundo cujos problemas
auténtico; e esse ofício de desvendar sÓ pode ser um meio para o ñm de fazer sobres- e exigências esperavam uma solução. A psicanálise tinha arrastado o paciente
sair 0 que é autêntico, de distingui-lo do inautêntico e, assin1, fazer que o autêntico para uma espécie de autointerpretação e uma visão de si mesmo, e arriscaria a
se destaque mais ainda. No entanto, onde 0 desmascaramento e o desvendamen- dizerz para uma espécie de imagem monadológica do homem, uma vez que
to se tomam um ñm em si mesmo, onde não se detém diante do auténtico - a linguagem analítica se concemrava excessivamente naquela obstinação irrecon-
o que, precisamente, não se pode desmascarar -, então esse desvendamento já não ciliável do paciente em relação à imago do pai. Mas não era nem um pouco difícil
salientar que o serviço diplomático e a carreíra do paciente lhe haviam frustrado ~
3 Ludwig Binswanger. Erinnerungen arl Sigmund Freud Berna, Francke, l956. se assim posso expressar-me - a vontade de sentido. No momento em que o
98 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO 10 A (IRÍTICA DO PSICOLQGISMO DINÀMICO 99

paciente largou o serviço diplomático, teve, ñnalmente, a oportunidade de fazer tivessc a consciéncia dada a mim pela fé, segundo a qual não sou dona de minha
valer a sua verdadeira aptida'o. vida, ja', e muims vezes. teria mc cnlregado ao vazio'.' E conlinua, triunfamez
Resta-nos mencionar um terceiro ponto - algo que vai além da vontade
Ncstu lb'. comcçn a trunsrbrmarsc mda a amargura du sofrimcnm Por-
de sentído e do sentido do sofrimento; discutir, a ñm de completar nossas con-
que aqucle que pcnsn quc a vida humana tcm dc scr um cmuinhar dc éxilo
siderações acerca da imagem do homem na psicoterapia, a liberdade da vontade.
a éxitU, '.1s.".scnwlha›'s.c a um tulo quc mcncia a cabcça dianlc dc uma constru~
O que já nos leva ao centro da teoria metaclínica de toda psicoterapia, e teoria quer
ção e sc admim quc sc csleja cavundo um abismo ondc sc dcva ergucr uma
dizer visào, visão de uma ¡magem do homem Nâo se trata, todavia, de que nós,
catcdraL Deus cdiíicu um lcmplo cm cada ulma humana. No meu caso. Ele
os médic05, devemos levar a ñlosoña para dentro da medicina, mas de que nossos
está juslmnenlc a cawar o aliccrcc. Mcu dcvcr consiste em suportar dc boa
pacientes nos tragam sua problemática ñlosóñca.
vontade os golpes dc Sua pá.
É evidente que o homem está submelido a condicionamentos por assim di-
zer biológicos, psicológicos ou sociológicos. Nesse sentido. não é livre - ele não Seu contbssor a repreend1'a, dizendo-lhe que uma boa cristà não deve sofrer
está livre de condicionamentos; não é de modo algum lívre de algo, senão que de depressão. Mas isso era como colocar água no moinho diante da tendéncia à

é livre para alg0. Quero dízer, livrc pam lomar posição perante todo e qualquer zlutorreprowúçâa tâo camclerística da dcpraxsãu cndo'gena. Na reall'dade. a religiw
condícionamenta sidade não tàculta nenhuma garuntia conlra us docnças neurótims e nem sequer
Consideramos que o grau de liberdade também se presta a uma existéncia comm as psicóticas. E, ao contrár1'o, eslar livrc dc neuroscs nãu é ncnhuma gamn-
psicótica. De fato, 0 homem que sofre uma depressão endógena pode também se tia de que u pessoa scju religi(›sa. Dim dc outra tbrmaz sería precipitado supor que
opor a essa depressão. Dai-me permissão de ilustrar isso com o trecho de uma his- estar livrc de ncuroscs é uma guramia mais ou mcnos uulonuitiw de verdadcira

tória clínica que tomo por um documento humano. A paciente era uma carmelita, rcligiosidmic. li não seria menos prccipitado supor que uma vcrdadcira religíosi~

e em seu diário descrevia a evolução da doença e de seu tratamenta Notai bemz dade protege de doenças neuróticax Nesse sentido. nem a verdade nos toma livres,

um tratamento orientado também para a farmacoterapim e nào someme para a nem a libcrdadc nos 1342 vcrdudciros.

logoterapía. Limitar~me-ei aqui à citação de um trecho de seu diárioz É claro quc 0 clínico podc lançnr um olhar aqui c ali ao fundo da superfície
do psicótico até a pcrsonalidnde do docmc 7 duslocadal c oculta por cssa psicosa
A triSteza é minha a›111pan|1c1'ra conslantu Não imporla 0 que cu faça, a
A despeito disso. a prática módica conñrma de maneím contínua aquilo que uma
tristeza coloca um peso de chumbo sobre minha alma. Onde estão os meus
vez designci como meu credo psiquiálricoz a crença absoluta na pessoa espirituaL
ideais, toda a grandeza, a bcleza, wda a bondade, tão cstimados outrura pclo
c também na dos doentcs p.s1'cóticus.
meu anseio? Meu coração se acha dominado por um tédio bocejnnm Vivo
Scja-Ine agnra permitido refcrir-me a um caso clínico especíñcm certa Vc7,.
como que jogada a um vazio. Existem momentos nos quais até a própria dor
troumrmwme um homan de uns scssenta anos, quc sofria de uma dchkiência
me é recusada.
que, em seu cstado tinaL aprcsentava traços de csquizofrenia. Ouvia vozes. pois
Confrontamomos aí com os sintomas de uma melancholia anaesthetica. padccia de alucinaçóes acúslicas, aulismo e 0 dia todo não thzia oulra coisa sc-
A paciente continua sua descriçãoz “Em meu tormento, clamo por Deus, o Pai de não rasgar papé1's, e lcvava uma vida aparcntememe sem sent1'do. Quisóssemus
todos. Mas Ele também silencia. No fund0, só desejaria uma coísaz morrer; morrer ater-nos à divisào de tarefas vitaisg segundo Alfred Adlen 0 nosso paciente - csse
hoje mesmo, se isso me fosse possíveFÍ E segue então uma reviravoltaz “Se eu não “idiota',' como era chamado - não cumpria, portunta ncnhuma dessas tarethsz nào
100 O SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO
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.
' "'!¡ .ç¡"- ~, .'-'-°w~›v-':_-..U ':~ .': EL .-' ›'r. '- -.. m- z- -

se ocupava de um trabalho, encontrava-se como que excluído da comunidade e - > h -

privado sexualmeme, para não se falar do amor e do matrimônio. E, contudo,


Qs ,~~\

que singular e notável charme desprend1'a-se daquele homem, do âmago de sua


humanidade, que permanecera intacto e não afetado pela psicosez tínhamos diante
de nós um grande senhonI Durante nossas conversas, constatamos que às vezes
se irrilava sem um motivo aparente, mas que, no último moment0, era capaz de
dominar~se. Aconteceu então que eu lhe perguntasse mais ou menos o seguintez
“A“ñnal de contas, por amor a quem o senhor se domina?" E ele me respondeu:
“Por amor a Deus...'.' Vieram-me então à mente as palavras de Kierkegaardz “Mes-
mo se a loucura me surgisse aos olhos em seu traje de bufão, sempre posso salvar
a minha alma, se triunfa em mim o meu amor para com DeusÍ
0 que diz o psiquiatra a respeito da
literatura moderna?1

Quando me convidaram a pronunciar, neslu reunião, uma conferéncía, mi-


nha primeira reaçào foi de hcsitaçãa Vede, scnh()res, são tantos os represemantes
da litcratura conlcmporânca que sc ocupam por goslo dos ramos da psiquialria -
ainda que de uma forma antiquada de psiquiatriu ›, que não mc via tentado a
aumentar o número de taís diletantcs, 1'ntr01nctcndo-1ne, como p51'quiatra, no ter-
reno da literatura conlcmporâncax
A isso vem juntar-se 0 falo, ainda não delnonstrad0, de quc a psiquialria
esteja autorizada a adotar uma posição sobrc o assunto. Não vos deixcis lcvar pela
ideín dc que a psiquiatria sc encontrc apta a solucionar lodos os problemas. Até
os dias dc hoje, nÓs, psíquiatras, não sabemos sequcr, por exemplo, qual é a rcal
causa da esquizofrcnia - quanto ma¡s. como bem já sabcmos, os meios de curá~la.
Nós, os psiqu1'atras, não somos ncm oniscimtes, ncm onipotentcs; 0 único atributo
divino que se podc a nós conccdcr é 0 da oniprescnçaz em todo simpósio vedes um
p51'quiatr.1', em Koda discussão estutais sua voz e o encontrais uté nestu rcuniãom
Penso, contudo, c para falar a sério, que é prcciso que se deixe ñnalmemc
de superestíman de idolatrar a psiquia1riu, e que se faria muílo melhon e mais,
se passássemos a humanizá-la. Deveríamos, de início, evitar colocar no mesmo

' Conferência pmnunciada cm língua 1'ng|esn, em 18 de novembro de 1975, com 0 lítulo “A Psychiatrist
Looks al l.i|cralur<.",' n convite do PL"N-Club ImernalionaL
104 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO

í ANEXO > 0 QUE DIZ 0 PSIQUIATRA A RESPEITO DA LITERATURA MODERNM IOS

saco 0 que existe de humano no homem e o que existe de doente nele. Em outras
palavras, o que se nos pede é um diagnóstico diferencial entre um estado psíquico
adoentado e um estado de necessidade espirítual - aquela necessidade espiritual
que resulta, por exemplo, do desespero de um homem diante da apareme ausência › Tornou~se moda em nosso tempo avaliar a literatura não só a partir de
uma perspectíva psiquiátrica, senão, em particular, a partir de uma psicodinâmi~
ca ínconsciente, na qual supostamente se fundamenta. Em consequéncia, a assim

1
chamada psicologia profunda considera que sua príncipal tarefa consiste em des~
de sentído em sua existência ~, e quem poderia negar que estamos a tratar aqui de mascarar as motivaçóes secretas ou reprimidas no inconscieme. O mesmo vale.
um dos temas favoritos da literatura contemporânea? evidememente, para a produção literária. O que disso resulta. quando a obra de
Pois bem, assim se manifestou Sigmund Freud numa carta à princesa Bona- um poela é estendida sobre um “leito de Procusto',' podeis julgar pela crílica literá«
partez uNo instanle em que alguém se pergunta sobre o senlido ou valor da Vida, ria escrita por um dos mais ilustres psicanalistas e publicada numa revista amerí-
está doente. Nesses casos, simplesmeme a pessoa mostra que tem uma carga de cana em uma obra de dois volumes sobre Goelhe2
libido 1'nsatisfeita'Í Entretamo, pessoalmeme. inclino-me a pensar que é justamen-

f
Ao longo de l.538 páginas. 0 autor retrala um gênío com sinais parti-
lc neste momento que o homem evidencia uma única coísa, a saberz que é um
cularcs de perlurbação maníaco-deprcssiva, paranuica c epileptoidc, dc hOA
homem verdadeirameme auténtico. Nenhum animaL porlanto. jamaís se colocou
n1(»*sexualid.1'de, incesta voyeurisnm, exibicionisnw. fetichismo, impmén-
a questão do sentido de sua existéncia. Nem sequer um dos gansos de Konrad Lo-
cia, narcisisn10, ncurosc obsessivu, hlslcr1'a, n¡cg.'\lomanía, elc.
renz. Mas é 0 homem que se aflíge com essa questã0. Não 0bstante, não se deve ver

1<
nela o sinloma de uma neurose; pelo comrário, considero uma realização humana. O autor parece tbcalizar quase exclusivameme a dinámica instintiva que
uma vez que é próprio do homem não apenas perguntar-se pelo sentido da vida, servc de aliccrce à obra artística. Ele nos quer fazcr crcr quc a obra dc Goethe não
mas também questionar tal sentido. é mais do que 0 resultado de ñxações pré-genitais. Sua luta c esforço não seriam
Mesmo se em algum caso particular sc Concluísse que 0 autor de uma obra por um ideaL pela belcza ou por oulros valorcs, mas. na rca11'dade, pretenderiam
literária estava realmente doeme - que talvez até sofresse de uma psicose e não superar o problema de uma ejaculação precocc Como Freud foi sábio ao añrmar,
apenas de uma neurose -, isso implicaria uma objeçã0, ainda que mínima, contra certa vez, que nem sempre se deve imerpretar um charuto como um símbolo fálico

1I
0 valor e a verdade de sua obra? Creio que na'0. Dois mais dois sâo quatro, aindu - às Vezes, um charuto pode signiñcar simplcsmcntc um charuta
que seja um esquizojrfnico quc o ajirme. E, de maneira similar, creio que em nada Diria que há um ponto no qual o desmascarumento deve paran isto é, exa-
avilta a poesia de Hõlderlin e a Verdade da ñlosoña de Nictzschc 0 fato dc que o tamente ali onde o psicólogo depara com um tewnómeno em que simplesmeme não
primeiro sofria de esqui7.ofrenia, e o segundo, de pamlisia cerebraL Pelo contra'rio, há por que desmascarar, porque é autêntico. Se 0 psiaãlogo seguc adianle com seu
estou Convencido de que as obras de Hõlderlin c Nietzsche conlinuam sendo lidas, trabalho de desmaxaramcnm acaba, é verdadc. por revelar algo, o seu próprio
enquamo o nome dos psiquiatras que escreveram volumes inteiros a rcspeito des- motivo inconsciemez desvalorizar 0 que há dc humano no human
ses “casos" há muito tbi esquecid0. Perguntemomos então o quc torna esse desmascaramento lão alrativu

1I
Todavia, embora seja verdade que a patologia está longe dc dizcr algo contra Bem, parcce que aos medíocrcs causa prazer ouvir diler que Goethe era, afmal
o valor de uma 0bra, não é menos verdade que diga algo a favor. Mesmo no caso de contas, um neurótico, um ncurótico como tu e eu, sc é quc posso expressar-me
de um escritor que seja um doeme psíquico, veriñcamos que uma obra importante assim. (E quem estiver 100% livre de neurose, que atire a primeira pedra.) Apa~
sua jamais surgiu por causa dc uma psicose, mas apesar dela. A doença nunca é. rentemente, e por alguma razão estra'nha, agrada-lhcs quando alguém añrma que
por si só, criativa. 0 homem não é nada mais que um simples macacm 0 campo de batalha do id. do
106 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO ANEXO - O QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA? IO 1

ego e do superego, o joguete de instintos, o produto de processos de aprendizagem, Emretanto, a linguagem do homem normal é e permanece, sempre, uma
vítima de condições e circunstâncias socioeconómicas Ou de pretensos comple- reíêréncia a um objeto, isto é, aponta para algo além de si mesma. Numa palavra,
xos. Apesar desse determinismo e desse fatalismo, lão amplameme difundidos, a linguagem se distíngue pela autotranscendénc1'a. E o mesmo se pode dizer, de
escreveu-me uma vez uma leitora do Alabamaz “O único complexo que me afeta é modo geraL da existéncia humnmL O ser humano está sempre voltado para algo
o pensamento de que eu devería ter com efeíto algum complexo. De1x'ei para trás que não é ele mesmo - para algo ou para alguém, para um sentido que o homem
uma infância medonha e, contudo, estou convencida de que do terrível pode tam- cumpre, ou para outro ser humano que venha a encontran
bém resultar algo posilivdÍ Essa autolranscendência da cxistência humana pode ser mais bem exph'«
A mim parece que esse desmascarament0, que antecipadamente põe em cada se recorremos ao exemplo do olh0. Haveis alguma vez vos dado conta do
prática 0 reducionismo, com sua frase estereotipada do unada mais que',' pro- paradoxo de que a capacidade do olho de apreender o mundo depende de sua
porciona a muitas pessoas uma pronunciada alegría masoquista. Acrescentese a incapacidade de ver a si mesmo? Quando 0 olho vé a si mesmo uu algo de si mes-
isso o que disse o psiquíatra londrino Brian Goodwim 'A(s pessoas se semem bem mo? Só quando adoece. Se sofro dc catarata, percebo-0 sob a forma de uma nu-
quando são levadas a crer que não são mais do que (1'sto' ou (aquilo,' do mesmo vem; vejo então, em volta das fontes luminosas, uma auréola de cores do arco-ín's.
modo quc muitas são aquelas que acrcditam que um remédio, para ter efeit0, deve De um modo ou de outro, à medida quc o olho vê algo de si mesmo, nessa mesma
ter gosto amargdÍ proporção perturbmse a visa'o. O olho devc ter a capacidade de não reparar em
Retomando, contud0, o tema do desmascaramento literári0, diremos o se- si mesmo. E o mesmo acontece ao homem. Quamo menos repara em si mesmo.
guintez seja qual for 0 fenómeno ao qual 0 reducionismo atribui a produção 1iterá- quanto mais esquece a si mesm0, ao emregar-se a uma causa ou a outras pessoas,
ría - seja um fenômeno normal ou anormaL consciente ou inconsciente -, tende-se mais ele é 0 próprio homem, mais se realiza a si mesmo. SÓ 0 esquecimento de si
hoje em dia a interpretar a produção literária como um ato de autoexpressa'o. Em conduz à scnsibilidude e só a enlrcga de si amplia a cr1'atividadc.
contrapart1'da, defendo a opinião de que o escrever nasce do 'fdlar e todo falar, por O homem é, em virtude dc sua autotranscendência, um ser em busca de
seu turno, do pensar. E não existe pensamemo sem algo pensado, sem algo a que sentida No fundo, é dominado por uma vontade de sentid0. No entanto, hoje
se referir, sem síntese, sem um objeto. E o mesmo se pode dizer do escrever e do em dia essa vontade de semido encontra-se em larga medida frustrada. São cada
falar, uma vez que ambos estão ligados a um sentido - 0 semido justameme de vez mais numerosos os pacientes que recorrem a nós, os psiquiatras, acometidos
querer comunicar algo. E se a linguagem nào tem um sentído, se não tem nenhu- de um semimento de vazio. Esse semimcnto de vazio tornou~sc, em nossos dias.
ma mensagem para comun1'car, então não é de modo algum h'nguagem. É um erro uma neurose de massa. Hoje o homcm não sofre muis tanto. como nos tempos de
enorme a añrmação (contida no título de um livro bastante conhecido): “O meio Freud, de uma frustraçào sexuaL mas sim de uma frustração existenciaL E hoje
é (em si) a mensagenfÍ Pelo contrári0, penso que é a mensagem que transforma 0 náo 0 anguslia tamo, como na época de Alfred Adler, um semimento de 1'nte'-
meio transmissor da mensagem em verdadeiro meio. rior1'dade, sena'o, bem mais, um senlimcmo dc faltu de sentido, acompanhado
Para todos os efeitos, a linguagem é a expressão de uma realidade; é algo de um sentimento de vazio, dc um vazio existenciaL Se me pergumais como eu
mais que mera autoexpressã0. Com uma exceção. Faz parte da verdadeira es- explico a génese desse sentimento de vazio, só posso dizer que. ao contrário do
séncía da línguagem dos esquizofrênicos, como pude demonstrar anos atrás, animaL o homem não tem ncnhum instimo que lhe diga o que tem dc ser, e. ao
a não referência a um 0bjet0. De fato, ela é sempre, e tão somente, a expressão contrário do homem de tempos anteriores, não há mais uma tradiçào que lhe diga
de um estad0. 0 que dcve ser - e, aparentemente, não sabe sequer 0 que quer ser de verdade.
108 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO ANEXO - 0 QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA! 109

Por conseguinte, cle só quer 0 que os outros fazem - e então nos encontramos pelo sofrimenta de uma vida sem sentido - a supera'›lo, mesmo que seja para mos-
diante do conformismo -, ou só faz o que os outros querem dele - e emão nos trar~lhe que não se encontra só. Em outras palavras, ajudá-lo a lransformar o sen-
encontramos diame do totalitarismo. timento de absurdidade em sentimento de soliduríedude. Nesse caso. a alternativa
E se não soar tão frívolo, diria que esse sentimento de vazio tem algo que não é mais “sintoma ou terapia',' senão que o síntoma é uma terapia!
ver com o tema geral deste encontro, e com o fato de que justameme as três dé- Sem du'vida. se a literatura deve exercer essa função terapéutica ~ ou seja.
cadas de paz que se tem concedído ao homem de hoje possib¡'h'tam-lhe o luxo realizar seu potencial terapêutico -, deve renunciar a entregar-se, numa prálica
de elevar-se acima da luta pela sobrcvívência, acima da mera subsistência, para sadomasoqu1'sta, ao niilismo e ao cinismo. Ainda que o escritor possa provocar
pergumar-se pelo “para que” da sobrevivência, pelo derradeiro sentido da exis- no leitor - ao comunicar e compartilhar com ele seu sentimento de auséncia dc
lêncía. Em outras palavras, quanto a esses trima anos, deixemos que nos fale sentido - uma reação catártica, não deixa, contudo, de agir irresponsavelmente

Ernst Bloch: 'A'os homens são concedidas preocupações que antcs só o confron- quando lhe prega tão somente o absurdo da existéncia. Se o escritor não for capaz
tavam na hora da morteÍ de imunizar o leitor contra 0 desespero. deveria ao menos evitar infectá~lo com seu

Seja como for, o sentimemo de vazio é também 0 pano de fundo do aumen- próprio niilism0.

to generalizado de fenómenos como a agressividade, a críminalídadcx a dependén- Mínhas senhoras e meus senhores, amanhã terei a honra de fazer o pro~

cia de drogas e o suicídio - particularmente emre a juvemude uníversitária. nunciamento de abertura da Semana Austríaca do Livro. O título que escolhi éz
“O livro como terapia'Í Nesse context0, comunicarei aos meus ouvintes alguns ca-
Parte das obras da literatura contemporànea também pode ser interpretada
como sintoma da neurose de massa. Precisamente quando o escritor se limíta a sos nos quais um livro mudou de maneira decísiva a vida do leitor. díssuadind0-

uma mera autoexpressão ou se contenta com um expressar de si - um exibicionís- -o de cometer suicídia Como médíco, conheço alguns casos nos quais um livro
ajudou homens no leito de morte ou no cárcere. E contar-vos-ei agora a história
mo Iiterário que não díz nada - é que traz à tona a expressão de seu sentimento de
de Aaron MitchelL O diretor da mal afamada colónia penal de San Quentin, que
vazio e falta de sentido. Maís do que íssoz nào apenas traz à tona, senão que põe em
se encontra nas proximidades de San Francisco, convidou-me para proferir uma
cena o absurdo, o contrassrznsa E ísso é completamente compreensíveL De fato,
palestra aos presos - todos réus de delitos graves. Ao ñm de mínhas palavras,
o senlído autémico precisa ser descoberto, pois não pode ser inventado. Sentido
aproximou~se de mim um dos ouvintes e me disse que haviam impedido os con-
nâo pode ser produzido. Não é tecnicamente exequível. No entanto, o absurdo e
denados ao death row, retidos em sua cela à espera da execução, de assistir à pa~
o contrassenso podem ser criados, e deles fazem uso generoso alguns escritores.
lestra. Perguntou-me então se eu não poderia dizer algumas palavras, ao menos
Tomados pelo sentimento de auséncia de semido, expostos c entrcgues a um vazio
pelo m1'crofone, a um delcs, o Sr. MitchelL que seria executado na câmara de gás
completo de sentído, atiram-se sem hesitar à aventura de prcencher 0 vazio com o
dentro de poucos dias. Senti-me impotente. Mas não podería furtar~me àquele
contrassenso e o absurdo.
pedido. lmprovisei, portamoz
A literalura, porém, tem uma escolha. Não precisa conlinuar sendo um sin-
toma da atual neurose de massa, mas pode muilo bem contribuir para o seu tra- Acredite em mim, Sn MitchelL dc alguma maneira posw entender a sua

tament0. Com efeíto, os homens que passaram pelo inferno do desespero, através s¡'tuaçào. Añnal de comas. eu também tive de viver, durante algum tempo, à

da aparente falla de sentido da existéncia, são precisamente aqucles que podem sombra de uma câmara dc gás. Mas, acred1'te-me, Sr. MitchelL nem sequer

oferecer aos outms homens, como um sacrifíc1'o, seus sofrimcntosx justameme emâo renunciei por um só momento à minha convicção de que scjam quaís

a autoexpressão de seu desespem que podc ajudar o leitor - igualmente atingido forem as condições e as c1'rcunstan'c¡'as, a Vida tem um sentido. Porque ou a
llO O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO

w'da tem realmente um sentido - e então preserva esse sentido mesmo que
só venha a durar poucos instantes ~ ou não tem ncnhum sentido - c então
Bibliografia de Viktor E. Frankl
não o terá nunca, mcsmo que dure muito tcmpo. Até mesmo uma vida apa-
rentememe desperd1'çada, pode. relroativamente. encher-se de Senlidoz ao
nos elevarmos, mediante o autoconhecimento, acima de nós mesmos.

E vós sabeis enlão o que contei em seguida ao Sr. Mitchell? A história da


morte de lvan Ilitch, como nos foi legada por Liev Tolsto'i. E com certeza a conhe-
ceisz é 0 relato de um homem que, confrontado com o fato de que não mais viveria
muito tempo, adquire de repente a consciéncia de como havia arruinado a vida.
Contudo, precisamente esse conhecimento o fez crescer tanto em seu interior que FRANKL, Viktor E. Ãrztliche Seclsorgc. Grundlagen de Logotherapie und
foi capaz de preencher de sentido retrospectivo uma vida que parecia lào absurda. Existenzanalysc. Viena: Franz Deuticke; Frankfurt am Main: Fischer Taschen-
O Sr. Mitchell foi 0 último homem executado na Câmara de gás de San buch 42302. 1946-l987.
Quentin. Pouco antes de sua morte, concedeu uma entrevista ao San Francísco . Die Psychothempic in der Praxis. Eine kasuistische Einjúhrungfür Ãrzta
Chrom'cle, em que não deixou dúvida de que ñzera sua, sob todos os aspectos, a Vienaz Franz Deuticke; Muniquez Seric Piper 475, Ernst Reinhardn l947- l986.
história da morle de Ivan Ilitch. . Dcr unbewusste Gott. Psychotherapíc zmd Religion. Muniquez Kõsel-
De tudo isso se pode concluir 0 quanto um livro pode ajudar 0 simples “ho- Verlag, 1948-l988.
mem da rua" em seu caminho, em seu caminho de vida e em seu caminho para . Theorie und I'h'erapic der NeuroserL Einführung in Logotherapie und
a morte. Ao mesmo tempo, lança uma luz sobre a imensa responsabilidade social Existenzanalyse; Mum'que-Basileia: Uni-'1'aschenbücher 457, Ernst Reinhardt,
que recai sobre os escritores. l956-l987.
Não me objeteis que estou defendendo e propugnando incondicional- . Psychotherapic für den LaierL Run_dfu*rzkv0rtra”ge über Seelenheilkunde
mente a Iiberdade de pensamento e sua manifestação de palavm e de escrita. [0u Psychotherapiefürjedermarml› Freiburg im Breisgauz Herder, 1971 - l989.
Sou contra o “1'ncondic1'0naln1ente'Í Pois a liberdade não é a última palavra. . Der Wille zum SimL Ausgewãhlte Vortrãge übcr Logotherap1'c. Muniquez
A liberdade pode degenerar em arbitrariedade, caso não scja vivida com respon- Serie Piper 1.238, 1972-l991.
sabilidade. Talvez agora compreendais por que recomendo tão frequentemente . Der Lciden am simxlosen Leben. Psychotherapie jumr heute. Freibung im
aos meus estudantes americanos que ergam uma estátua da rcsponsabílidade Breisgauz Herder, l977«1989.
junto àquela sua da liberdade. trotzdem Ia zum Leben sageIL Ein Psycholage erlebt das
Konzentralionslagen Muniquez K0"sel-Verlag e DTV 10023, l977-l990.l
. Der Mensch vor der Frage nach dem Sían Eine Auswahl aus dcm
Gesamtwerk Vorwort von Konrad Lorenz. Munique: Serie Piper 289, 1979-1989.

' Uma edição extra para os alunos japoneses apareceu emTóqu1'o, e saiu pela Dogakuscha Verlag.
h MN_
112 0 SOFRlMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO BIBLIOGRAHA DE VIKTOR E. FRANKL lll

FRANKL, Viktor E. Die Sinnfrage ín der Psychothempie. Vorwort von Franz Kreuzer. BIBLIOGRAFIA SELECIONADA SOBRE LOGOTERAPIA
Muniquez Serie Piper 214, 1981-l988.
. Logotherapie und Existenzanalyse. Texte ausfu"nflahrzehnten. Munique:
Bo"CKMANN. Walter. Sim1-orienn'erte Lcistungsmotivation und Milarbeitefru"hrung.
Piper, l987.
Ein Beitrag der Humanistirchen Psychologie, insbcsonderc dcr Logotherapic nach
. “Psychotherapy and ExistentialismÍ In: Selected Papers on Logotherapy.
Viktar E. FrankL zum Sinn-Problcm der Arbeit Stuttgartz Enke, 1980.
Nova Y0rk: Simon and Schuster; Londres: Hodder and Stoughtom l978«1988.
. Heilen zwischen Magie und Maschinenzeitalten Ein Beitrag der
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Abeling. São Pauloz É Realizações, 2010.
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Índice onomástico

A C
Adler, 9, 33-34, 36~37, 67-68, 99, Caruso, 38
107 Casciani, 27
Adorno, 24 Cohen, Hermann, 74

Allport, Gordon W., 36 Crumbaugh, James C., ll, 14-15, l7,

AppelL 38 27
Cushing, Harvey, 70
B
D
Bacon, Yehuda, 30
Dansarl, 27
Baeyer, Walter von, 88
Dubois, PauL 79
Bailey, PercivaL 70
Durlak, 27
Bally, Gustav, 80
Dusen, W. Van, 93
Barber, 17
Berze, Iosef, 40, 70 E
Binswanger, Ludwig, 45, 96 ECkartsberg Rolf V0n, 10
Black, 17 Ehrenwald, I., 40
Bloch, Ernst, 68, 108 Eibl-Eibesfeldt, 21
Boss, Medard, 33› 96 Einstein, Albert, 23, 27, 88-89
Bmd Maxy 75 Eysenck, H. I.. 95

BÀuckley, Frank M., 12 F

Bu"h1er, Charlotte, 36 Fechtman. 17


120 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO INDICE ONOMÁSTICO

Fraíser, l7 Katz, Ioseph, 14 P Shean, 17


Freud, Sigmund, 9-10, 18, 22, 33-36, Kierkegaard, 66, 100 Padelford, Betty Lou, l7 Sherif, Carolyn Wood, 19

45, 67-68, 76, 93, 95-96, lO4-05, Klitzka LA L., lO, 68 Pavlov, 68 Smith, 27

107 Kocourek, K., 46, 58, 83 Petrilowitsch, Nikolaus, 14, 44 Soly0m, C., 58

Frosch, 61 Kozdera, 46, 58 PtlanL M., 41 Soly0m, L., 58

KratochviL 15, 27 Philbrick, Joseph L., 11, 68 Stewart, 61


G
Kr1'ppner, Stanley, 17 Píndaro, 66 Stokvis, 41
Garza-Perez, J., 58
Kunz, H., 95 Planova, 15. 27 T
GebsatteL Victor E., 37, 80
Plügge, 88
Gerz, 55-57 L Tillich, PauL 27, 89
Polak, PauL 68
Ginsberg, 61 Langen, 12 TolL Nina. 12
Popielski, 12, 27
Ledermann, E. K., 45 Tolstó1', Liev, 110
Ginsburg, 96 PrilL 12
Goethe, l3, 74, 105 Ledwidge, B. L., 58
PynummootiL George, 53 U
Goodwin, Brian, 106 Leet, Becky, 67 Urban, 38, 40
Go"rres, A., 80, 94 Lewin, 24 Q

bfrm
Lham0n, 39 Qualtinger, Helmut, 71 V
Gregson, 17
Lifton, Robert Iay, 20 Vanderpas, J. H. R., 45
GutheiL Emil A., 40, 94 R
Lorenz, Konrad, 18-19, 6l, 104 V()lhard, 12
Richmond, 27

~7w -
H VymetaL Osvald, 10, 68
Lukas, Elisabeth, 12, 14, 16, 27
Rotthaus, 41
Harvey, 39, 70
M Ruch, 27 W
Herma, 96
Maeder, Alphons, 45, 80 Weitbrecht. H. J., 38, 80, 95
Hess, W. R., 18 S
Maholick, Leonard T., l4-15 Werner. 12
Heyer. G. R., 45, 80 Sadiq, Mohammed, 52, 54
Maki, B. A., 17 Wertheimer, 24
Hildebrand, Dietrich von, 95-96 Sahakian, B. ]., 62
MandeL Ierry, 28 Wittgenstein, 27, 89-90
Hoff, Hans, 70 Sahakian, W. S., 62
Marmor, I., 95 Wust, Peter, 25
Horn, Myron ]., 62 Sallee, 27
Maslow, 15›16,28 Sargant, William, 94 Y
I Mason, 27 Schaltenbrand, 39 YarnelL 27
Iachym, Franz, 45 Masters, W., 62 Scheler, Max, 35, 86, 96 Young, ll, 27
Jaspers, KarL 66, 80 Meier, 27 Schilder, PauL 93
Ioelson, Edith, 43 Murphy, 27 Schmid, 38
Johnson, V., 62 Myers, 39 Schopenhauer, 69
Jung, 33-34, 37-38, 94 Schultz, I. H., 44, 58
N
Selye, 40
K Norris, David L., 63
Shapiro, 61
Kant, 65, 88 Novalis, 24
Ind ICe analIt'I'co

A Conflito, ll, 39-40, 43, 47~48, 65, 94

Ajluent society, 15, 26, 28 Conformismo, ll, 26, 108

Agorafobia, 45, 47-48, 55 Consciênc1'a, ll, 25~27, 34, 4l, 56, 65,

Agressa'0, agressiv1'dade, 18-20, 108 76, 82, 87, 99, 110

Alcoolismo, 17 Crescimento econômic0, 29

Amor, 15, 18, 21-22, 73›74, 76›77, 86, Cr1'al1'vidade, 73, 75. 104. 107

90, 96, 100 Criminalidade, 20, 108

Análise didática, 94-95 Crise da aposentadoria, 70

Ansiedade antecipatória, 48, 50, 59 Crise energética, 29


Culpa, 28, 82, 95
Arquétip0, 38, 40, 94
Associação livre, 94 D
Atos t'alhos, 35 Dependência de drogas, l7, 108
Autoexpressão, 100, 106 Derreñexãm 59-63
Aut01'nterpretaça'o, 97 Desmascarar, desvendar, 96-97, 105
Autotranscendêncía, 15, 87, 107 Despersonalização, 22-23. 47
Distensã0, 36, 63
.4-_. :,

C
Doença do empresári0, 71
Capacidade de sofrer, 73-77

Ciência, 96 E
Competições esportivas, 19 Educação, 26, 37
Complexo, ll, 38-40, 65, 72, 82, 94, 106 Eñc1'éncia,42, 44, 58
Condições sociaís e econônúcas, 67, 106 Encontro, 15, 24, 4l, 66, 73, 93
W-w
-.:
124 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO INDICE ANALITICO 125

Espiritualidade, 34 Morte, 12, 25, 28, 68, 83, 88, 108-10 S Vazio existenciaL 9, l I, l7, 20. 22, 26,
Estado de bem›estar sociaL 28-29 Satisfação insuñcieme, 12 28-29,67-71,107
N
Estatística, ll-12 Sensíb1'lidade, 44, 107 Verdade, 25, 28, 90. 99
Necessidade, 12, 15, 23, 28-29, 69, 72,
Estresse. 40 Sentid0, 9›30, 34, 37-38, 43, 65-77. 80, Vontade de poder. 65. 67, 71
76, 104
Experiment0, 18, 63, 86 82-83, 86›90, 96-99, 104, 106-10 Vontade de prazer, 59, 65-67, 69
Neurose dominicaL 28, 70
F Sexualidade, 18, 20-22, 35, 50. 61, 63, 96 Vontade de sentido, l3-18, 23, 27-
Neurose fóbica, 49
Sintoma substituto, 50 29, 51, 65-69, 7l-72, 82, 87-89,
Frustração exístencíaL 9-12, 16-18, 67, Neurose noogénica, ll-12
Sofrimento, 9, 27-30, 37, 73-77, 80, 97-98, 104
69-72, 80-81, 107 Neurose obsessiva, 46, 49, 58, 105
82, 98-99, 108409
Neurose sexuaL 20›24, 59-64
G Sonho, 35, 39›40, 42, 77
Noolog1'smo, 81
Gestalt, 24 Sugestã0, 40›41
P Suicídi0, 12, 69, 82783. 88, 108-09
H
Pastoral médica, 79-83 Suprassemido, 82, 86, 89
Hiperintençã0, 59-63, 66
Patodiceia, 82 T
Hiperreflexão, 59-62. 66
Poder, 40, 65, 67-68, 7l, 87, 94
Homeostase, 35-36 Teatro do absurdo, 25
Pornograña, 61
Homo patiens, 74-75, 82 Técnica, 22, 29, 42. 61~62, 85
Prazer, 16, 20-22, 50, 59, 61, 65-69, 80,
Tédi0, 67-69, 98
I 83. 87, 105 Tempo livre, 28-29, 70-7l
Inconsciente, 34, 37, 56, 72, 82, 93~94, Psicanálise, 18, 34-35, 39-47, 59, 65, Terapia breve, 58
105-06 86, 93«97 Terapia do comportamento, 44, 57
Intenção paradoxaL 48, 51-58, 60, 63 Psicologia analítica, 34, 37 Teste, 11412, l4, 39
Investigação da paz, 18- l9, 23 Psicologia das alturas, 13 Tolerância, 26
L Psicologia individuaL 34, 37, 65, 68 Totalitarism(), ll, 26, 108
Liberdade, 22, 49, 9l, 98-99, 110 Psícologismo, 33, 37-38, 93, 95 Tradição, ll, 107
L1'nguagem, 69, 97, 106-07 Psicosc, 49, 99-100, 104 Transferénc1'a, 4l, 44, 95
Logoterapia (ver também “Derreflexão" Psíquiatria, 9, 12, 58, 70, 89, 103 Transpirar, 52, 55
e “Intenção paradoxal”), 55-56, 58, Trauma, 39-40, 46, 59, 94
R
60, 69, 72, 77, 85-91, 98 Trem0r, 52v55
Reducionismo, 86-87, 106
Logoterapia de grupo, 17 Tríade trágica, 28
Religiã0, 38, 85-9I
Tristeza, 28, 98
M Repressão, 35

Marxism0, 10 Resistência, 47, 63, 94›95 V


Medicma psícossomátíca, 81 Reumanização da psicoterapia, 23 Valor, 11, l4, 16. 22, 43, 73-75, 80, 93,
Monantropism0, 91 Revelaçã0, 87 96, 104

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