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Título on'ginal: Tht Will to Mzaning: Foundatiom und Applicatiom ofLagorhzrupy

ISBN: 0-452A01034›9
© 1969, 1988 by Víktor E. Frankl
Todos os dircit05 rcscrvados, inclusivc o dircito dc qualqucr tipo dc rcproduçãa Esta cdição
foi publicada sob liccnça da Plumz, intcgrantc do Pcnguin Group (USA) Inc.

Traduçãoz Iva Studurt Perzim


Dircção editoñalz Zoflerino Tonon
Assistcntc cditoñalz Iacquzline Mmdcs Fontzs
Rcvisãoz Imnilda Bezerm Lopu
Tbiago Augmta Dius de Olivtira
Diagmmaçãoz Anu Lúcia Perfoncio
Capaz Murtrlo Cumpunhã
Imprcssão c acabamemoz PAULUS

Pam Gordon W. Allport - In mcmoriam

Dados Intcmacíonais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasílcira do Livro, SP, Brasil)

ankL Viktor E., l905-l997.


A \'0ntadc dc scntídoz tu<ndamcntos c aplicaçócs da logotcrapia / Viktor E. Frankl; [traduçã'0
Ivo Studart Pcrcim]. - Ed. ampl., incluindo 0 postãcio “A dcsguruñcação da logotcrapia”. -
São Paulo: Paulus, 2011. - (Colcção Logotcrapin

Título originalz Thc will to mcaningz foundations and applications of logothcrapy


ISBN 978-85-349-3268-4
l. Logotcrapia I. Título. II. Sénkn

ll-07498 CDD-óló.8916

Índiccs pam catálogo sistcmáticoz


1. Logotcrapia 616.8916

la cdíção, 2011
3a rcimprcssão, 2014

© PAULUS ~ 2011 JJ
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ISBN 978-85-349-3268-4
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fhtfádo

Estc livro é 0 rcsultado dc uma séric dc palcstras quc


fui convidado a ministrar durantc 0s cursos dc vcrão da
Faculdadc dc Tcologia Pcrkins, na Soutlmw Mrthodíst Um°~
versiyrv (Dallas, Tcxas). A cspccíñca tarcfh confkrida a mim
àqucla época fbi a dc cxplicar o sistcnm quc caractcrim a
logotcrapia. Apcsar dc vários autorcs indicarcm 0 fàto dc
quc a log()tcrapia, cm contrastc com as outras cscolas da
psiquiatria cx1'stcnci.1'l, dcscnvolvcu, proprmmcnrg uma
téwnica psicotcmpêutica, pouco sc toca na qucstào dc quc
a l()g0tcrapia, também, fbi a últimn cscola dc psicotcrapia
conccithli/.'ada dc modo sistcmático.'
Tratando dos fzmdammtos do sistcnm, os capítulos
dcsta obm descnvolvcrão os prcssupostos básicos c os prin-
Cípios ñmd.1-mcnt.1'is wbjaccntcs à log()tcrapia, quc meam
uma cadcia dc clos quc sc concctam rcciprocamcntc através
dc três conccitos principaisz l) a libcrdadc da vontadq 2) a
vontadc de scntido; c 3) (› scntido da vidaa l) A libcrdadc
de vontadc cnvolvc 0 dcbatc “dctcrminismo versmp.1'n-dc-
tcrminismo”. 2) A vontadc dc scntido é discutida cm sua
distinção sobrc os conccitos dc vontadc dc podcr c vontadc

1 Iuan Battista Torcllo, cm sua introdução à cdição italiann dc Em Imxm de


Jentid0, tc'z cssa obscrvação.

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prazcr, do modo como teram dcscnvolvidos pclas psíco- Ncstc lívro, procurci incluir os últimos dcscnvolvi-
logias adleriana C tr~cudiana, rcspcctivamcntc. mcntos da logotcrapia, no quc sc rctbrc à tbrmulação dos
Para scr mais preciso, o tcrmo “vontadc dc podcr” fbi princípius individuais c ao matcrial dc ilustraçãa No cn-
cunhado originalmcntc por Nictzschc, não por Adlcr, c tanto, a tcntativa dc ofbrcccr uma visão mais complcta da
o conccíto dc vontadc dc prazcr é dc minha autoria, não totalidadc do sistcmn mc obriga a íncluir algum matcrial já
tcndo sido colocado ncsscs tcrmos Cxatos por Frcud. O utilizyado cm mcus livros .14ntcri0rcs.3
princípio do prazcr, aliás, dcvc scr analisado sob a luz dc Aquilo quc conccituci como “vácuo c,\'istcncial” cons-
um conccito mais abrangcntc, 0 do princípio da homeos- titui um dcsaño à psiquiatria c à psicologia atualmcntc.
tasc.2 Através da crítica a ambas as catcgorias, Chcgarcmos Cada vcz mais p.-1cicntcs sc qucixam dc um scntimcnto dc
à claboração da tcoria da motivação na logotcrapia. 3) A vazio c dc fhlta dc scntido, fc'nómcno quc, sob mcu ponto
qucstão do scntido da vida Íàrá 1'cf<:*rênc1'.1' à discussão “rcla- dc vista, parccc dcrivar dc dois thtosz Ao contrário do ani~
tivismo versm subjctivísmo”. mal, os instintos não dizcm ao homcm o quc clc tcm dc f.17-
As aplicaçõcs da logotcrap1'a, ncstc livr(), também scrão zcr. E, ao contnírio do homcm dc gcraçócs atrás, a tradição
trabalhadas cm três corrcntcs. Pr1'mciran10ntc, a logotcra- não lhc diz mais o quc clc dewria thzcu Frcqucntuncntc,
pia é aplicávcl como tratamcnto dc ncuroscs noogênicas; mal sabc 0 homcm o quc clc, b.1'sic.1-mcntc, dcscja thzcn
cm scgundo lugar, a logotcrapia também trata das ncuroscs Ao invés disso, acaba p(›r, simplcsmcntc, mpmduzir o quc
psiu)gênicas, isto é, das ncuroscs na '.1ccpçào c0nvcnci0- as outras pcssoa.s* tílzcm (confl›rmismo), ou fhzcr o quc os
nal do tcrm(); c, cm tcrcciro lugar, a logotcmpia constitui outros qucrcm quc clc thça (rotalitarismo).
um tratamcnto para as ncuroscs somatogônicas, ou mclhor, Espcro obtcr succsso cm p.'lssar ao lcitor minha c0n-
para docnças dc origcm orgânica cm gcraL Como vcmos, vicção dc quc, apcsar do dcsmorommcnto das tradiçócs, a
todas as dimcnsócs do scr humano estão contcmpladas ncs- vida conscrva um scntido cspccíñco pam cada indivíduo, c,
sa scquência dc tcmas. ainda mais, quc cssc scntido sc conscnu - litcralmcntc - até
No capítulo introdutório dcsta 0bra, a logotcrapia o último suspiro. E (› psicotcrapcum podc mostrar a scu
é colocada cm pcrspcctiva dc comparação pcrantc as ou- pacicntc quc a vida nunca ccssa dc tcr um scntidu A rigor,
tras cscolas dc psicotcrapia c, cspcciñcamcntc, com a elc não podc m(›strar-lhc o tjltf é 0 scntido, mas podc indi-
Corrcntc cxistcncial das psicotcrapias. O último capítulo car-lhc quc há um scntido, c quc a \'ida 0 conscrvaz a vida sc
trará uma pcrspcctiva dc diálogo cntrc a logotcrapia c a
tcologia. 3 Consultar Viktor FrankL Man J' .S'L'm'd1jr'›r Mmuíqm An Inrroducrion
to Lagothempy, Prctãcio dc Gordon W. Allpnrt, Bcacon Prcss, Bostom 1962
(cdíção cm brochuraz Wnshington Squarc Prcss, Nova Iorquau 1963); 'II'J:'
Doctor zmd H'w Suuk Frum I)_rvtl)1›rhcmp_v to quotberup_v. cdiçào rcvisacln, Altr'cd
2 O princípio da rea11'dadc, por sua vcz, scrvc aos propósitos do princípio do A. Knopf, Nova I(›rquc, 1965 (cdição cm brochumz Bantam B(›0ks, Nova
prazcr, da mcsma mancira pcla qual cstc scrvc aos propósitos do princípio da I(›rquc, l9ó7); ngthothempy zmd Exíxtmtíalíxm: Stlcttcd Pnprrx 071 Iqquthrmgm
homcostasc. Por cssa razão, não fbi ncccssário incluir c.\'plicitamcntc o princípio Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, 1967 (cdíção cm brochumz Clarion
da rcalidadc cm nossa tcorim Books, 1968).

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mantém chcia dc scntido, sob quaisqucr condiçócsx Como IN›I'I(()1)L,'(_IÀ(),'
cnsina a logotcrapia, até os aspcctos trágicos c ncgativos da O lugar da logoterapia
vida, como, por c.\'emplo, o sotriimcnto incvitávcl, podcm
no quadro das Psicoterapias
tornar-sc conquistas humanas, por mcio da atitude quc o
indivíduo adota sob tais circunstâncías. Em contraposição
a quasc todas as cscolas cxistencialistas, a logotcrapia não
é ~ dc modo algum - pcssimista, mas, sim, realista, à me-
dida quc cnñcnta a tríadc trágica da existência humana:
d0r, mortc c cu|pa. A logotcrapia podc - com justiça - scr
Considcrada ()timista, por mostrar ao pacicntc como trans- O quadro atual das psicotcrapias sc caractcriza pclo
tbrmar o dcscspcro num triunfb humana
crcscimcnto da psiquiatria c4\'i«›:tcncial.l Dc fato, podc-sc
Numa época como a nossa, quc assistc ao declínio das
fhlar dc uma injeção dc uistcncialismo nas psicotcmpias
tradiç()”cs, a psicologia dcve ter como principal tarcfà dotar como tcndência contcmporânca.2 MaS, ao failar dc cxistcn~
o homcm da h.1'bilid.1'dc dc cncontrar sentido. Num tcmpo cialismo, dcvcmos tcr cm mcntc quc há tantos c.\'istcm'ialis-
cm quc os Dcz Mandamcntos parcccm, para muitos, tcr
mos quanto há c.\'istcncialistas. Aliás, os uistcncialistas não
pcrdido sua validadc incondici0n.1'l, 0 homcm dcvc aprcn-
só dcscnvolvcm uma vcrsão particular dcssa ñl()5()ña, como
dcr a ouvir os dcz mil mandamcntos implicados nas dcz sc utilizam das mcsmas c.1-tcgorias, com .1'ccpçõcs divcrsas.
mil situaçõcs quc constitucm a vida. Sobrc isso, cspcro quc Por cxcmplo, tcrmos como “c.\'istência” c Dascin possucm
0 leitor dcscubra quc a logoterapia faãla às ncccssidadcs do scntidos difbrcntcs nos cscritos dc Iaspcrs c Hcidcggcr.
momcnto. No cntanto, os autorcs no campo da psiquiatria c.\'is-
Viktor E. anklM.D.,/P11.D. tcncial aprcscntanL individLmlmcntc, um denominador
Vicna, Austria
comum. Trata-sc da uprcssão tão fr~cqucntcmcntc usa-
da - c, muitas vczes, dc modo in.1'pr(›priado - por clcsz
“scr-no-mundo”. Podc-sc tcr a imprcssño dc quc muitos
desscs autorcs acrcditam quc 0 uso rccorrcntc dc tal cx-

l N.T.: ankl partc da divisão cntrc a chanmdn “Psiqu¡“.1trin Iàxistcncial”, dc


origcm curopcia (B()ss, Binswangcr, Lning ctc.), c a “Psic0l0gia Hunmnista”,
gcstadn nos Estados Unidos da América (M.1y, Rtkgcrsg Allport ctc.). Autorcs
Como a alcmã Elisabcth Lukas, no contcxto do movimcnto hunmnísticow'.\is-
tcnciaL considcrmn Frankl o “mnis lmmnnista dos cxístcncial¡'sta.s*”.
3 NÍllz (Ínbc lcmbmr quc os tcxtos dcstc livro tbram cscritos por Frankl cm
mcndos dos anos l9óOz o contcxto histórico da época dcvc scr lcvado cm c0n-
ta para uma lcitura '.1propriada do quc scguc.

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prcssão constitui critério suñcicmc para que sc considcrcm pcnsamcntos c scntimcntos até cntão desconhccidos - scja
autênticos cxistcncialistas. Eu, part1'cularmcntc, não acrc- pclas idcias rcvolucionárias dc um grande ñlósofo, ou pclos
dito quc tal condição vcnha a scr fundamcnto para quc cstranhos scntimcntos cxpcrimcntados por um indivíduo
alguém sc autodcnominc “cd\'istcncialista”, já quc - c0m(), csquizofrênico. O quc os unc é algo como uma crisc dc cx-
fàcilmcntg podc-sc dcmonstrar -, na maioria dos casos, o prcssão c, alhurcs, cu dcmonstrci quc algo similar cstá prc-
conccito heidcggcriano dc ser-n0-mundo é mal 1'ntcrprcta- sentc no artista modcrno (vcr mcu livr0, Pyychotlaempy ami
d0, na dircção dc um mcro subjctixdsmo, como se 0 “mun- Existmtíulism, Selected Papers on Logothempy, Washington
çc /”
do”, no qual o scr humano C , nada mais fbssc do quc Squarc Prcss, Nova Iorquc, l967, no capítulo “Psychothc-
uma mcra cxprcssão dc scu si-mcsmo. rapy, Art and Rcligion”).
Eu mc atrcvo a criticar cssa tão difuindida noçã0, so- No quc tangc ao lugar do método quc vim a chamar
mente porquc já tivc a oportunidadc dc discuti-la pessoal~ de logotcrapia ~ o assunto dcste livro -, a maior partc dos
mcnte com o próprio Martin Hcidcgger, quc concordou autorcs concorda quc csta podc scr cnquadrada no campo
comigo. da psíquiatria cxistcnciaL3
A recorrência dc mal-cntcndidos na árca da ñlosoña Dc hlto, no inícío dos anos trinta, cu cunhcí o tcrmo
cxistencialista podc ser fàcilmentc comprccnd1'da. A tcrmi- Exz'stmzmmlyse, como um nomc altcrnativo ao vocábulo
nologia chcga, às vczes, a scr csotérica - para se dich 0 mí- logoterapia, quc eu criara nos anos Vintc. Postcr1'ormcntc,
nimo. Há ccrca dc trinta anos, fui convidado u dar dctcrmi- quando os autorcs nortc-amcricanos comcçaram a publicar
nada palcstra sobrc psicotcrapia c cxistcncialismo cm Vicna. trabalhos no âmbito da logoterapia, clcs introduziram o
Eu contriontei minha platcia com duas citaçõcs, añrmando termo “análise cxistcnciaP [exz'stentiul analysis] como tra-
quc uma Clclas tbra rctirada dos Cscritos dc Hcidcggcr e que
a outra havia sído rctirada dc uma convcrsa quc cu tivcra
3 Ncssc scntido, '.Iñrm'.1çócs pcrtincntcs podcm scr cncontmdns no scguin-
com um pacicntc csquizoñênico, intcrnado num hospital tc matcrialz Gordon W. Allport, cm Viktor FrankL Man k Smrchfor Msnning
público dc Vicna, dc cuja cquipc cu fhzia partc. Convidci, An Introduction to Lgoutllcmjm Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, l963;
Anrom J. Ungc1'sma, The Smrrb jbr aniugs A Nrw Appruaclj tu nytbatl¡c-
cntão, mcus ouvintes a votar cm qucm tcria dito cada scn-
mpy amí antaml P_xvcholLo;7y, prcñício dc Viktor E. FrnnkL Thc Wcstminstcr
tcnça. Acreditcm ou não, uma maioria cxprcssiva pcnsou Prcss, Filadélñm 1961; l). F. "l'\\'ccdic, 7715 Cbrixtian Faitl): An Emluarian of
quc a passagcm citada clc Hcidcggcr foãra dita pclo pacicntc Frmzklk Exixtentirzl Appronch to Psycbatbtmgn Bakcr Book Housc, Grand
Rnpids, Michigan, l965; Robcrt C. Lcslic, jmrs tmd Lagotljtragw 7715 Àllinir
csquizoñênico e vicc-vcrsa. No cntant0, não dcvcmos tirar rry Ufjcms m Interprrttd Throngh rljt P.m_'cl¡orljernp_v of Vikmr Fm nkl, Abingdon
conclusõcs prccipitadas do rcsultado dcssa cxpcriência. De Prcss, Novn Iorquc, 1965;. Godüyd KncmnowskL cm Arthur Burton, Mudtrn
Psychothempcutir Pmtticzt Innuvatiunx in Tec/1›1¡'qzw, cdimdo por Arthur Bur›
modo ncnhum, cla vcm a qucstionar a gmndcza do pcnsa- t()n, Scicncc and Bclmvior B(›()k5, Pnlo Alt0, (I.11ito”rnia, 1965; Jnmcs (I.
mcnto dc Hcidcggcn cuja magnitudc acrcditamos scr tão Crun1baugh, “Thc Application of L0g()thcrap\_'”, ]om'7ml ofFJistentinIimt 5:
uprcssíva quanto os espccialistas añrmanm Pclo Contrári0, 403, 1965; Ioscph L\_'(›ns, “Existcntial Psychothcrapyz Facn H(›pc, Fiction”,
Iournal szAlmormal tmd Sutial ngthr›ltg_›v, 62z 242, l9ól; c Lawrcncc A.
cssc expcrimcnto só nos mostra o quão incapaz nossa lin- Pcrvim “Existcntia|ism, Psychologyg and PS\_'chothcrap\_'”, Amcrimn PIV_[ÍJ010'
guagcm cotidiana podc scr, quando sc trata dc cxprcssar Lqixt 15: 305-309, l960.

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7,7 v ,_, ________________

dc Exz'stenzunulyse. Infblizmcntq outros autorcs ñ-


i__-_____Í$_-__-__dução Uma abordagcm puramcntc técnica cm psicotcrapia
zcram o mcsmo com a palavra Dmeínanaylvse - tcrmo quc, podc bloqucar scus possívcis ctcãitos tcrapêuticos. Algum
na década dc quarcnta, fbra toãrjado pclo rccénrtâlccido tcmpo atrás, fu'i convidado a ministrar uma confcrência
Ludwig Binswangcr (1881-19óó), o grandc psiquiatra suí- numa univcrsidadc nortc-amcricana, prcccdcndo a palcstra
ç0, para dcsignar o conjunto dc scus cnsinamcntos. Dcs- dc uma cquipe de psiquiatras quc passaram pcla cxpcriência
dc cntão, a cxprcssão “análise cxistcncial” tcm sc tornado dc cuidar dc sobrcvivcntcs dc um furacãa Eu não apenas
bastantc ambígua. Logo, para cvitar 0 fomcnto dc mais aceitci 0 convitc, como, para minha p.1'rticipação, cscolhi o
confusão conccitual, ncssc cstado de coisas, dccidi abs- título “Técnicas c Dinâmicas dc Sobrevivência”, 0 quc, ob-
tcr-mc, cada vcz mais, dc usar o tcrmo “análise cxistcncial” viamcntc, agradou bastantc aos organizadorcs do cvcnto.
nas minhas publicaçõcs cm língua 1'nglcsa. Frcqucntcmcn- No cntant0, ao iniciar minha ta~la, argumcntci, com sincerí-
tc, cu mc rcñro a “log0tcrapia” até mcsmo num contcxto dadc, quc, cnquanto nós cntcndcrmos nossa missão como
cm quc ncnhuma tcrapia - no scntido cstrito da palavra - psiquiatras apenas cm termos dc técnícas c dinâmicas, csta-
cstá cnvolvida. O quc cu Chamo dc núnistério médico, por rcmos dcixando dc lado o csscncial - pcrdcrcmos dc vista
excmplo, constitui um importantc aspccto da prática logo- o âmago daquelcs a qucm ofhrcccmos nosso socorro. Uma
tcrapêutica, scndo, no cntanto, indicado prccisamcntc cm abordagcm mcramcntc técnica do scr humano ímplica, nc-
casos cm que 0 pacicntc sc cncontra tbra dc rcal possibihl cessa<riamcntc, manípulação. Por sua vcz, uma abordagcm
dadc tcrapêut1'ca, conñontado com uma docnça incurách cxclusivamcnte cm tcrmos dc dinâmica tcndc a rcíñcar 0
No cntant0, num sentido amplo, a logotcrapia, até numa pacicnte - a transfbrmar scrcs humanos cm simplcs coisas.
situaçào como cssas, constitui uma tcrapêutims tratando da E csscs mcsmos scrcs humanos scntcm, pcrccbcm imcdia~
atitude do pacicntc sobrc scu dcstino imutách tamcntc o aspccto manipulativo c a tcndência rciñcante
A logotcrapia não foçi apcnas incluída como ramo da dcssc tipo dc contato. Eu diria quc a rciñcação sc tornou
psiquiatria cxistcnciaL mas também tbi rcconhccim como 0 pccado original da psicotcrapiax Mas 0 scr humano não ó
a única cscola dcssa abordagcm a dcscnvolvcr algo quc, uma cois.1-. Essa qualidadc dc não-coz'm [no-thi7gznexs], mais
justihkadamcntc, podc-sc chamar dc técnicafr Contudo, do quc a dc nadídade [nothz'ngness], ó a lição a sc aprcndcr
não sc dcvc pcnsar quc os logotcrapcutns supcrcstinmm a partir do cxistcncialismoÊ
a importância das técnicas. Há muito, já sc pcrccbcu quc Quando, na ocasião dc outra viagcm pam ministrar
0 quc tcm mais signiñcância na tcrapia não são as técni- contbrênciaxg fui convidado a dizcr algumas palavras aos
cas, mas, sim, 0 tipo dc rclação humana quc sc cstabclccc prisionciros da Pcnitcmiária dc San Qucntin, cu, postc-
cntrc tcrapcuta c pac1'cntc, isto é, a qucstão do cncontro
pcssoal c cxistcnciaL 5 N.T.: 0 autor utiliza um jogo dc palavras na língua inglcsm ao contrapor
o aspccto hunmno dc irrcdutibilidadc a Coisn (no-tlyi›~zansx) à noção dc “nada”
(notljingncss) quc intcgra alguns cxistcncmlis.'m(›5, os qunis, scgundo (› próprio
* Essn, ao mcnos, é a argumcntação dc autorcs como Ungcrsma, Twccd1'c, ankL sc thzcm hcroicnmcntc niilistas, não por añrmar 0 “nnda” cnquanto o
Lcslic, I\n'cznn(›wski, Lyons c CrumbauglL absurdo da Lh\'i$tê11Ci.1', mas por ncgar o scntido dn vida.

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riormcntc, tivc a convicção dc que, pcla prímcira vez, clcs mais do que mera técnica, indo além da ciéncia pura, na-
sc sentiram comprccndidos. O quc lhcs fàlci, no cntan- quilo quc possui dc sabcdorizL Mas ncm “sabcdoria” scria
to, não foi nada dc cxtraordinári0. Eu, sin1plcsmcntc, t0- a última palavra. Num campo dc conccntração, ccrta vcz,
mei-os como sercs humanos, não como máquinas a serem cu vi o corpo de uma mulhcr quc comctcra suicídi(›. Entrc
consertadas. Eu os comprccndí da mcsma mancira como scus pcrtcnccs, cstava um pcdaço dc papcl cm quc ela cs-
Clcs scmprc cntcndcram a si própriosz como scrcs humanos crcvcra as scguintcs palavras: “Mais podcrosa quc o destino
sujcitos à libcrdadc c à rcsponsabilidadc Eu não lhcs lcgiti- é a coragcm quc o cnfricnta”.
mci uma cscusa barata para livrá-los dc scus scntimentos dc Apcsar dessc lcma, cla tirou a própria Vida. A sabcdoria
culpa, cxplícando-os como vítimas dc proccssos condicio- podc scr 1'nsuñcicntc, scm 0 toque humana
nantcs dc naturcza biológica, psicológica ou sociológica. Rcccntcmentc, rcccbi um tclctbncma às três da ma-
Tampouco os tomci como indcthsos pcõcs no tabulciro dc nhã, de uma scnhora, quc mc contou quc já cstava dctcr-
batalha cntrc id, cgo c supcrcg0. Em suma, numa condição minada a Cometcr suicídio, mas tinha curiosidadc dc ouvir
de 1'gualdadc, não foãrncci um álibi, ncm procurci rcmo~ 0 quc cu tcria a dizcr a rcspcito. Rcspondi com todos os
vcr a culpa quc clcs podcriam scntir. Elcs comprccndcram mcus argumcntos a tàv0r da vida, contra tal dccisão, con-
quc cra uma prcrrogativa humana fa'zcr-sc culpado c quc, versando com cla por trinta minutos, nté a scnhora, ñnal~
também, cra uma responsabilidadc do homcm superafcssa mcntc, promctcr quc mc fãría uma visita no hospitaL Mas,
culpa. quando cla aparcccu, rcvclou quc ncnhum argumcnto mcu
Quc fiZ cu cm San Qucntim scnão cndcrcçar aos pri- a havia imprcssionad0. A única mzão por quc cla dccidira
sionciros um contato fbllOlnenolo'gic0, cm scu scntido não comctcr suicídio fbi o fhto dc quc, ao invés dc tcr-mc
mais vcrdadeiro? De fat0, a fbnomcnologia é uma tentativa cnraivccido, por cla ter pcrturbado mcu sono no mcio da
de dcscrição do modo como o scr humano cntcndc a si madrugada, cu a ouvi pacicntcmcntc, convcrsando com cla
próprio, do modo como clc próprio intcrprcta a própría por mcia hora. Ela mc dissc, cntão, quc um mundo cm quc
c,\(istêncía, longe dos padrões prcconcebidos dc cxplicaçã0, algo assim podc acontcccr dcvc scr um mundo cm quc valc
tais como os forjados no seio das hipótcscs psicodinâmicas a pcna vivcr.
ou sociocconômicas. Ao adotar uma mctodologia fcinomo Pclo quc a história da psicotcrapia dcmonstra, a
nológica, a logotcrapia, como já dito por Paul Polak,6 pro~ recolocação c o rcposicionamcnto do homcm cm sua
cura exprimir a autocomprccnsão do homcm cm termos hunmnidadc sc devcm, principalmcntc, aos trabalhos dc
cicntíñcos. Ludwig Binswangcr. (.Iada vcz mais, a rclação Eu-Tu tcm
Permita-me colocar, 11ovamcntc, o dcbatc técnica mzr- sido apontada como o âmago da qucstão. Para além disso,
sus cncontro. A p51'c0terapia, naquilo quc possui dc arte, é no cntanto, há outra dimcnsâo a scr c4\'pl()r1.-da. () cncontro
cntrc o Eu c o Tu não traz toda a vcrdadm não conta a
história intcira. A qualidadc csscncml autotransccndcntc du
°Pau| Polak, “Frankl”s Bxistcntial Analysis”, Amerícan jourmzl ufPrv_r/90the-
mpyâz517›522,1949. existência confcirc ao homcm a qualidadc dc um ser que

W_____Ió _______*w
rthfii

se movc numu lmsm pam além de si mesma Portanto, sc onsciêncía dc quc a logotcrapia, longc dc scr uma pana-

ñ
Martin Bubcr, assim como Fcrdinand Ebner, intcrprcta ccia, é indicada cm ccrtos casos c contmindicada cm outros.
a cxistência humana, basicamcntc7 nos tcrmos dc um Comovcrcmosnascgundascçãodcstc volumc,quandolida-
diálogo cntrc um Eu c um Tu, dcvcrcmos rcconhcccr quc rcmos com as aplicaçócs dc nossa cscola, a logotcrapia é
cssc diálogo sc anula a si mcsmo, a mcnos quc o Eu c o indicada, inic1'almcntc, para casos dc ncurosc. Aqui, outra
Tu transcendam a si próprios, rccorram a um scntido para distinção cntrc logotcmpia c a ontoanálisc sc fhz prcscn-
além dclcs mcsmos. tc. Podcr-sc-ia sumarizar as contribuiçõcs dc Binswangcr
À mcdida quc a psicotcrapia - sendo mais do que cn- à psiqui.1'tria nos tcrmos dc um mclhor cntcndimcnto
genharia ou tecnologia psicológica - sc bascia no encontro, da psicosc, mais cspcciñcanwntc, do modo particular dc
aquclcs quc sc cncontram não são duas mônadas, mas, sim, scr-no-mundo do indivíduo psicótico. Em outra grandc
sercs humanos quc confrontam um ao outro com quog isto simpliñcação, podc-sc dizcr quc a logotcrapia, difcãrcm
é, com o scntido dc scu scr. tcmcntc da ont()análisc, não visa a um mclhor cntcndi-
Ao rccolocar a ênfaisc no cncontro Eu-Tu, a Daseinm mento sobrc a psicosc, mas, sim, a um tratamcnto mais
nalyse propiciou aos parcciros dc tal cncontro uma cscuta abrmriado das ncuroscs.
autêntica dc um ao outro, libcrtando-os dc, por assim di- Uma ()utm cxccssiva simpliñcaçãq com ccrtc1.'a.
zcr, uma surdcz ont()lógica. Mas ainda tcmos de livrá-los da Ncssc contcxt0, há autorcs dignos dc mcnção, os quais
ccgucira 0nt(›lógica, ainda tcmos dc thzcr () scntido do scr sustcntam quc a Obra dc Binswangcr cnccrra uma tcntativa
brilhar. Essc foi o passo dado pcla logotcrapia, quc vai além dc aplicação dos conccitos hcidcggcrianos na psiquiatria,
da Dmeínmmlyse - ou, para adotar a tradução dc Iordan cnquanto a logotcmpm scria o rcsultado da aplícação das
M. Schcr, ontoanálisc - justamcntc por não apcnas prcocu- catcgorias dc Max Schclcr na psicotcrapm.
par-sc com 0 ont0s, ou o ser, mas, também, com o lrgnog Ou Agora - após mcncionar a influência das ñlosoñas dc
com o scntida Tal fa't0 nos lcva a cntcndcr o ñlto dc quc a lo- Hcidcggcr c Schclcr na logotcrapia -, 0 quc dizcr dc Frcud
gotcrapia é mais do quc mcra análisc; é, como 0 nomc vcm a c Adlcr.> Seria a influêncm dclcs mcnorP Dc mancira nc-
indican tcrapiau Numa convcrsa pcssoal, Binswangcr chcgou nhuma. Dc fa7t0, no primciro parágrafb dc mcu primciro
a mc dizer quc - comparada com a ontoanálisc - a logotcrapia livro, o lcitor podcrá cncontrar a cxprcss.1-"o da dívicla quc
sc mostrava mais ativa, c até mais, quc a logoterapia poderia tcnho para com clcs, quando cu invoco a analogia do anão,
até prcstar-sc a um suplcmcnto tcrapêutico à ontoanálisc quc, dc pé, sobrc os ()mbros do gizomntg conscguc vcr um
Como uma simpliñcação cxagcradag podcr-sc-ia dcñ~ pouco mais longc do que 0 próprio gigantc. AñnaL a psica-
mílisc é - c pcrm;1ncccr.1'” scndo - o fundamcnto indispcns.1"-
nir a logotcrapia como a tradução litcral dc cura através
do scntido (Ioscph B. Fabry).7 Obv1'amentc, dcvemos tcr a Vcl dc toda tcrapia, também das cscohs quc ainda virão c,
como tal, dcvcrá accitar, contud0, a sina dc constítuir um
thndamcnt0, isto é, a dc tornar-sc invisívcl na mcdida cm
7 Ioscph B. Fabqg TIJB Purxuit of thzing: Logothvmpy Applizd to szt',
quc a construção acima dcla avançax
prct'.1”ci0 dc Viktor E. ankL Bcacon Prcss, Boston, l9()8.

u_____*_-_18 Wuw
Frcud cra gcnial dcmais para não cstar cicmc do fhto ditc na importância dcssas duas noçõcs p(›dc, justiñcada-
dc quc limitara sua pcsquisa às tu'ndaçõcs, às camadas mais mcntc, considcrar-sc c autodcnominar~sc um psicanalista.
protuãndas, às dimcnsõcs mais baixas da e.\'istência lmmana. O rccalquc vai sc ncutralizando pclo aumcnto dc Cons-
Numa carta a Ludwig Binswangcr, chcgou a dizcr2 “Eu c1'éncia. O matcrial rccalcado dcvc thzcrsc conscicntc, 0u,
semprc mc conñnei ao térrco c ao porão do editício” cha- como o próprio Frcud pós, ondc cra 0 id, o cgo dcvc advir.
mado homcm .“ Livrc da idcologin mccanicista do século XIX, rclida pcla
Na rcscnha de um livro,9 Frcud, ccrta vcz, cxprcssou ñlosoña c.\'istcncialista do século XX, podc-sc dizcr quc a
sua convicção dc quc, apcsar dc scr algo positivo, nossa rc- psícamílisc podc fbrncccr subsídios para quc 0 homcm sc
vcrência aos grandes mcstrcs dcvcria scr supcrada por n()s- -.1utocomprccnda mclhor.
so rcspcito aos taãtosn Do mcsmo modo, o conccito dc transtüência podc
Tcntcmos, agora, rcintcrprctar C rcavaliar a psicanálisc scr aprimorado c puriñcada O psicólogo adlcriano Rudolf
frcudiana à luz daquclcs fàtos quc se tomaram mais cxplíci- Drcikurs, ccrta vez, apontou o carátcr mcmipulativo inc-
tos após a mortc dc Frcud. rcntc à noção frkmldimm dc transfbrêncizLlU Livrc dc scu as-
Tal rcintcrprctação da psic.1'nálisc, certamcntg sc dis- pccto dc manipulação, a rransfbrência podc scr cntcndida
tanciará do próprio cntcndimcnto quc Frcud fàzia dc sua como um veículo dc cncontro humano c pcssoaL bascado
obra. Colombo acrcditou tcr achado um novo caminho na rclação Eu-Tu. Dc fàto, sc a autocomprccnsão dcvc scr
para as Índias, quando, na vcrdadc, dcscobriu um novo atingida, cla sc tairá pcla mcdiação do cncontr0.
contincntc Há, também, uma difcãrença cntrc 0 quc Frcud Em outras palavras, a Colocação ñtudiam - ondc cstá
pcnsou tcr achado c o quc clc, dc faito, cncontrOLL Elc o id, o cgo dcvc advir - podc scr ampliadaz ondc cstá 0 íd, o
acreditou que 0 homcm poderia scr cxplicado por meio cgo dcvc advir; mm 0 cyo Jó se tomamí Lyo atmvés tíe um Tu.
dc uma tcoria mccanicista c quc scu psiquismo podcria scr Quanto ao matcrial objcto do 1'ccalquc, Frcud acrc›
curado por mcio dc técnicas. Mas 0 que elc atingiu fbí algo dítnva scr cstc dc naturcza scxuaL Dc t.17t0, cm sua época,
difcãrcntq algo ainda dctchaWcL dcsdc quc nós rcavalicmos qucstõcs scxuais cram rcprimidas cm uma cscala massiva,
scu cmprccndimcnto à luz dos fàtos c'xistcnciais. como conscquência do puritanismo, prcdominantc nos
Dc acordo com uma dcclaração, ccrta vcz, fciita por paíscs anglo-sa.\'(›'cs. Não sc dcvc surprccndcr, daí, com o
Sigmund Frcud, a psicamlisc sc apoia no rcconhccimcnto fato de quc tais paíscs sc mostraram (›s mais rcccptivos à
dc dois conccitosz rccalquc [repressi0n], como causa da neu- psicanálisc - c, também, os mais rcsistcntcs às cscolas dc
rosc, c transtcãrência como sua cura. Qucm qucr quc acrc~ psicotcmpia quc fbram além dc _Frcud.
Idcntiñcar a totalidadc da psicologm ou dn psíquiatria
com a psicanálisc scria tão crrônco quanto idcntiñcar a to-
3 Ludwig Binswangcr, Reministcnctx (f›'a Frimdxhip Grunc &' Stmtom Nova
Iorquc, l957, p. 9(›.
°Sigmund Frcud, “U"bcr Forclz Dcr Hypnotismu.s, scinc Bcdcutung und 1°Rudolf l)rcikurs, “Thc Currcnt Dilcmma in Psychothcrapy”, ]ournnl of
scinc H.'mdhnbung“, Wiener mcdiziniscbe Wucljmschrfít, 341 l898, 1889. Exixtmtial P_svchiatry 1: 187-206, l960.

W w___u21
ÍW

matcrialismo dialétíca Tanto


talidadc d a sociologia com o
sâo abordagens espccíñcas
o frâcudismo
quanto o mmxismo
ci cnc1as, nao acnaas em
51 mcsmas. Dc
de dcterminadas
- tanto no cstilo 0cidental, quanto no
fato, a doutrinação
obscurccer a difêrcnça cntre 0 quc é
oricntal - acaba por
quc é uma scita.
uma ciência e o
a psicanálisc é insubstituí-
Dc certo m odo, no cntanto,
a Freud na históría da psico-
vcl. E o lugar aind a rescrvado
história quc sc conta na mais an-
tcrapia mc lembra d c uma
a de Alt Ncu, cm Praga. Quando
tíga sinagoga do mund 0, PARTE UM
s o intcrior do prédio medicvaL
o guia mostra aos visitantc
que fora ocupado pelo thmoso ra- FUNDAMENTOS
cle conta que o assento
por qualqucr um
bino Locw nunca chegou a ser assumido DA LOGOTERAPIA
fora reservado para scus
de scus scguidores. Outro lugar
scria substituído. Por
sucessorcs, pois 0 rabino Locw Jamais
lugar. A Cadcira
scculos, a ninguém foi pcrmitido tomar seu
vazia.
de Frcud dcvc, da mcsma forma, pcrmanccer

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\r»_›p
Implicações metaclínicas
da psicoterapía

Como implicaçõcs metaclínícas, a psicotcrapia c0n-


templa, principalmcntc, dois cixosz uma visão dc homcm c
uma ñlosoña dc v1'da. Não há psícotcrapía quc não contc-
nha uma tcoria antropológka c uma ñlosoña dc vida sub-
jaccntc. Intcncionalmcntc ou nã(›, a psicotcrapia sc ñmda
ncsscs dois cixos. Sobrc cssc assunto, a psicanálisc não é
cxccção. Paul Schildcr considcrou a pSÍCLllYÂlÍSC como uma
Welmmclmumgzr [visã(› dc mundo], c, apcnas rcccntcnwn-
tc, F. Gordon Pleunc añrmou quc “0 praricantc da psica-
nálísc é, antcs dc tudo, um moralista”s quc “inf1ucncia as
pessoas no quc diz rcspcito à conduta moral C ética”.'
Dcssc mod0, a qucstão não dcvc scr sc a psicotcrapia
é ou não bascada numa WEÍHZHICÍJZZZHHIJL mas, sím, dc sa-
bcr sc tal thtmzsclmung subjaccntc cstá ccrta ou crradax
“Ccrta ou crrada”, no cntant(), s.'1'gniñca, ncssc contcxtm
sc, cm dctcrminada tcorin ou ñlos<›ña, a humanidndc do
homcm sc mantém prcscrvada ou nño. O c.-1rátcr cspcciñ-
camcntc humano do homcm é ncgligcnciad0, por cxcm-
plo, por aquclcs psicólogos quc adcrcm ou ao “modclo

1 F. Gordon Plcunc, “All diseEasc Is Nm Diwnsc A (Í0nsidcrntion of


PMÍ'ch()›Analysis, Ps'ych()tI1cmpy, and PS\_'ch()-Soci.1| Enginccring”'_ Intrrnm
titmal journul (f)*P›:vch0-A7m_lvsi5 462 358, l965. Ciraçôus rcriradas do 1)LÍI'IL'JT af
Nturology and Psychiarry 342 148, 1966.

WWZS
._. ._-»7 ___:_

da máquina”, ou ao “modclo do rato”, como Gordon W. quc, além dc protbssor ncssas duas árcas, também cra um
Allport2 classiñcou. sobrcvivcntc dc quatro campos dc conccntração c quc,
Quanto aos primciros, considcro notório o fhto dc quc como tal, mc fàzia tcstcmunha do incspcrado grau dc ca-
o h0mcm, à mcdída quc sc julgava a si mcsmo como criatu- pacidadc, quc scmprc pcrmalwcc, dc o homcm rcsistir às
ra, intcrprctava sua cxistência à imagcm dc Dcus, scu cria- piorcs situaçócs, cntricntandwas corajosamcntc. Agir dcssa
dor; mas, assim quc comcçou a considcrar-sc a si próprio mancira, distamíand0-sc dc si mcsmo, pcrantc as piorcs si-
como criadon passou a avaliar sua c,\'istênci3, mcramcntc, à tuaçõcs, constitui uma capacidadc unicamcntc humana.
imagcm dc sua próprin criaçãoz a máquina. Contudo, cssa capacidadc humana dc distanciar-sc dc
A visão dc homcm da logotcrapía sc sustcnta sobrc quaisqucr condiçócs quc vcnha a cntrâcntar não sc manifcàsv
três pilarcsz a libcrdadc da v011tadc, a vontadc dc sentido c ta apcnas através do hcroísmo - como no caso dos campos
o scntido da vida. O primcim dclcs, a libcrdadc da vonta- dc conccntração -, como também pclo humor. O humor,
dc, opÕc-sc ao princípio quc caractcriza a maior partc dos também, é uma capacidadc unicamcntc humana, c não dc-
atuais sabcrcs quc sc ocupam do homcmz 0 dctcrminism(). vcmos scntir vcrgonha dc tal f11t0. Diz-sc até quc 0 humor
No cntanto, nosso primciro pilar apcnas sc opóc, cspcci- constitui um atributo divin(). Em três salmos, Dcus é dcs-
ñcamcntq ao quc costumo chamar dc pandctcrminismo, crito como aquclc quc ri.
pois tàlar dc libcrdadc da vontadc não implica, dc fbrma Humor c hcroísmo constitucm nossas capacidadcs
Alguma, um indctcrminismo a príorz'. AñnaL a libcrdadc da unicamcntc humanas dc autodístancmmmm Em virtudc
vontadc signiñca a libcrdadc da vontadc humana, c csta é a dcstc, o homcm é capaz dc distanciar-3c não apcnas dc uma
vontadc dc um scr ñnito. O homcm não é livrc dc suas com- situação, mas dc si mcsmo. Elc é capaz dc cscolhcr uma
tingências, mas, sim, livrc para tomar uma atitudc diantc dc atitudc com rcspcito a sí mcsmo c, assim tàzcndo, consc-
quaisqucr quc scjam as condiçõcs quc scjam aprcscntadas guc tomar posição, colocar-sc diantc dc scus condicion.1'n-
.1 clc. tcs psíquicos c biológicos. bnstantc comprccnsívcl quc
Durantc uma entrcvist3, Huston C. Smith, dc Har- tal assunto seja dc intcrcssc crucial para .1' psicotcrapia, a
vard (à época, no MIT), pcrgunt0u-m'c sc cu, como pro- ps1'qui.^1tr1'a, a educação c a rcligião, por conta dc quc, visto
fbssor dc ncurologia c psiquiatria, não admitiria quc 0 scr dcssa mancira, a pcssoa é livrc para dar fbrma a scu próprio
humano cstá sujcito a contingências c a dctcrminantcs. Eu carátcr, scndo rcsponsávcl pclo quc fcãz dc si mcsma. O que
lhc rcspondi quc, como ncurologista c psiquiatra, ccrt-.1- importa, log0, não são os condicíonantcs psiC(›l()'gicos, ou
mcntc quc simz cu tcnho plcno conhccimcnto da dimcnsão os instintos por si mcsm(›s, mas, sjm, a atitudc quc toma-
das limitaçócs humanas, scjam clas impostas por condiçócs mos diantc dclcs. É a capacidadc dc posicionarsc dcssa ma-
biol(›'gic(1's, psicológicas ou sociológícas. Mas Mrcsccntci ncira quc faâz dc nós scrcs humanosx
A capacidadc dc otbrcccr uma atitudc diantc dos tbnó-
mcnos somáticos c psíquicos implicn a clcvação a um outro
3 Gordon W. Allport, Pcrxmmlity and Sacial Encounter, Bcacon Prcss, Bos-
t(›n, l9óO. nívcl c a abcrtura a uma nova dimcnsão, à dimcnsão dos

wwm ______u27
_

fcnômcnos noéticos, ou dimcnsão noológica - cm distjn-


cxpcctativas de punição - quc podcm aí, muito bcm tcr
ção à biológica c à psicológica. É ncssa dimcnsão quc os
sido o rcsultado dc proccssos dc condicionamcnto.
cvcntos tipicamcnte humanos dcvcm scr localizados.
Rcduzir a consciência ao mcro rcsultado dc proccs-
Ela podcria scr igualmcntc dcñnida como dimcnsão
sos dc condicionamcnto constitui um cxcmplo dc rcducio-
cspirituaL No cntanto, como, em língua inglcsa, o tcrmo
nism0. Eu dcñniria rcducionismo como uma abordagcm
“cspirítual” [spirituul] aprcscnta uma conotação rcligiosa,
pscudocicntífica quc ncgligcncia c ignora o carátcr humano
cvitarcmos o máximo possívcl o uso dc tal palavra. O quc
dc dctcrminados fcnômcnos ao rcduzi-los a mcros cpifcnô-
nós comprccndcmos como dimcnsão noológica sc rcferc a
mcnos, mais cspcc1'ñcamcntc, ao rcduzí-los a fcnômcnos
uma conccituação antropológica, muito mais do quc tco-
subumanos. Dc fa'to, podc dcfínir-se o rcducionismo como
lógica. O mcsmo também vale para o “logos”, no contexto
um mb-humunixmo.
do tcrmo “logotcrapia”. Como cxcmplo, tomarci dois fcnômcnos quc, prova-
Além dc dcnotar “scntido”, “logos” aqui significa “cs- vclmcntc, são os maís humanosz o amor c a consciência.
pírito” - mas, novamcntc, scm ncnhuma conotação rcli- Essas são as duas mais surprccndcntcs manifestaçõcs dc
giosa primária. Aqui, “logos” signiñca a humanidadc do scr outra capacidadc exclusivamcntc humana, a capacidadc dc
humano e o scntido dc scr humano! autotmnscendêncía. O homem transcende a si mcsmo tan-
No momento cm quc o homcm rcflctc sobrc si mcs~ to cm dircção a um outro scr humano, quanto cm busca
mo - 0u, sc for preciso, rcjcita a si mcsmo; quando quer do scntido.
quc cle faça a si próprio dc objcto - ou apontc objcçõcs a O amor, cu diria, constitui a capacidadc dc aprccn-
si mcsmo; no momcnto cm quc o homcm man1'tc~sta sua dcr outro scr humano cm sua gcnuína singularidadc. Iá a
consciência dc si, ou quando qucr quc cxiba scu scr cons- consciência cnccrra a capacidadc dc aprccndcr o scntido dc
cicntc, aí, 0 scr humano atravcssa a dimcnsão noológica. uma situação cm sua total unicidadc - numa análisc ñnal, o
Dc fato, scr conscicntc prcssupõe a cxclusiva capacidadc scntido é scmprc algo único, assim como também o é cada
humana dc clcvar-sc sobre si, dc julgar c avaliar as próprias pcssoa. Em última instância, cada pessoa é insubstituívcl; sc
açõcs c a própria rcalidadc cm tcrmos morais c éticos. não por outros, o é por qucm o ama.
Obviamcntc, pode~se privar cssc fc'nômcno singu- Por conta da unicidade dos rcfcrcntcs intcncionais do
larmcntc humano - a consciência - dc sua humanidadc amor c da consciência, ambos constituem capacidadcs in-
Podc-sc, também, conccbcr a consciência, mcramcntc, nos tuitivas. Contudo, apcsar do carátcr dc unicidade compar-
tcrmos dc um produto dc proccssos condicionantcs. Mas, tilhado por csscs rctbrcntcs inténcionais, há uma difcrcnça
realmcntc, tal intcrprctação scrá apropriada, apenas, ao cntrc clcs. O carátcr dc unicidadc rclatívo ao amor rcfc'rc-sc
caso, por excmplo, dc um cachorro quc molha o carpcte c, às possibilidadcs singulares quc a pcssoa amada vcnha a tcr.
furtivamentc, escondc-se dcbaixo do sotã com 0 rabo cntrc Por outro lad0, a unicidadc rclativa à consciência rcfc~rc-sc
as pernas. Tcrá essc cão, dc fato, dcmonstrado conscíência.> a um carátcr singular dc ncccssídadg a uma dcmanda única
Eu prcñro pensar quc 0 animal manifhstou suas tcmcrosas quc alguém vcnha a cnñcntan

u_____28 _______u29
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V

ÍO rcdudonismo é O rcsponsávcl por intcrprctar o añrma sabcr o quc a csqulzotrcnia rcalmcntc é cstá cnga-
m Sublimação da Scxualidadc c por traduzir nando os outros 0u, na mclhor das hipótcscs, a si mcsm0.
amor como mcOS tcrmos das ñmçõcs do supcrcga Tcnho 05 rccortcs quc as difbrcntcs ciências têm fhito da
a consciéncia n c, m vcrdadc, 0 amor não podc Scr anali- rcalidadc têm sc tornado tão dísparcs, tão difbrcntcs cntrc
argumcntado qu a manc¡'ra, pois, quando qucr quc ocor- Si, quc tcm sc tornado cada vcz mais diñcil montar uma
dcss
sado ñclmcntc totalidadc a partir dcsscs rccortcs. As dichcnças cntrc tais
am Or cstcvc prescnte, o tcmpo intciro,
ra sublimação, o rccortcs não prccisam, ncccssariamcntc, implicar uma pcr-
E u diria quc7 apcnas à mcdida quc um
como pré~condição. da, pois clas podcm consrituir, ao contrário, um ganho
um T u _ por mcio do amor -, é que o
Eu sc dírcciona a ao conhccimcnta No caso da visão ao cstcrcoscópio,3 é a
um ¡d, dc intcgrar a sexualidade cm
cgo é capaz dc intcgrar
.
l . exata difbrcnça cntrc as ñguras do lado direito c csqucrdo
sua pcrsonahdadc
quc possibilita a cmcrgência dc uma nova dimcnsão, isto é,
ã

podc scr meramcntc ldcntlñcada


E a conscíência não
¡

simPICS razão dc quc ela - se for do cspaço trídimcnsional quc surgc a partir do plano bidi-
com 0 supcrcgo, pcla
í

prccisamcntq às Convcnçõcs7 nmcnsional das ñguras. Na vcrdadc, há uma prccondjçãoz as


ncccssário - pode opor-se,
pelo rctinas dcvcm scr capazes dc chcgar à fuâsão das difcrcntcs
padrõcs normatívos, tradíçõcs c valores transmitidos
a consciência pode vír a imagcnS.'
supcrcg0. Consequcntemcntc, se

r
ter a função de Contradizcr O Supcrcgm da, certamcmq O cxcmplo da VlsaO tambcm c vahdo para 0 caso da
Rcduzir a consciência prOdUÇãO do COHhCClmCmQ O desaño C COmO 0btcr› Como
não dcverá ser confhndida com clc.
ao Supcrcgo C dcduzir o amor das funçõcs do id são postu- mantcr c como rcmtcgrar um CODCCltO uniñcado dc ho-
ras fadadas ao Crra mcm, mediantc dados, fàtos c achados dispersos por uma

Perguntemo-nos, agora, () un pOdC tcr sido a CaUSa ClCHCla Compartlmentallzada dO homan


Mas nao POdcmOS lr Contra 0 rumO da hÍSÍÓYÍEL A SO'
para o reducionismo. A ñm dc rcspondcr a tal qucstiona-
cicdade preCISa dos CSPCC13115t35- tho dO quc SC Vê ÚO CS'
ment0, dcvemos considcrar os cfeãitos C as conscquências
- tilo atual dc pcsqulsa cicntíñca tcm sido caracterizado pcla
da espccialização cientíñca.
ñgura da cquipc dc trabalho, dcntro da qual 0 cspecialista
Vivcmos cm uma cra de cspccialistas, c isso tem um
é indispcnsách
prcço. Eu dcñníria um especmlísm como alguém quc não
Scrá, Contudo, quc o pcrigo da questão não rcsidc na
mais vê a florcsta da vcrdadc, optando por cnxergar apc-
tãlta dc univcrsalidach Ao invés, scrá quc não sc acavba as-
nas as árvores dos fatos. Para escolhcr um excmplo, com
capando para uma prctcnsãodc t0talidadc.>
rclação à csqu1'zofr'cnia, cstamos confr~ontados com muitas
descobertas foârnecidas pela bioquímica. Contamos hojc,
também, com uma vasta litcratura sobrc as hipótcscs psico-
3 N.T.: Dcvc~sc atcntar para o propósito da mctáfora, tcndo cm vista quc sc
dínâmicas subjacentes a tal problema, assim como também d f ,ñ d f d
. ú _ _ trata c um proccsso otogra co quc pro uz c cito tri imensional graças à
C0m Íarta prodUgao sobrc a cspcañadadc dO SCF'n0'len' utilízação dc dois rcgistros sinwltâncos, cm duas pcrspcctivas d1'fcrcntcs, do
do do esquizofrênic0. No entant0, eu ulgo que aquclc quc mcsmo assunto~
O quc sc aprcscnta como rcalmcntc perigosa é a pre-
-ncss] ao abordar o scr humano. O rcducionismo sc tornou
tensão dc um cspccialista, digamos, no campo da biolo-
a máscara do niilism0.
gia, por cxcmplo, dc cntcndcr e explicar os scrcs humanos, Como podcmos contra-argumcntar ncssc dcbatc?
C.\'clusivamcntc, nos tcrmos de sua c1'ência. O mcsmo vale
Como é possívcl preservar a humanidadc do homcm, cm
para a psicologia e a sociolog1'a. No momcnto cm que dc- fàcc do rcducionisma> Em última instância, como scrá pos-
tcrminada ciência clama por totalidadq a biologia sc torna
sívcl prcscrvar 0 caráter dc unidadc do homcm cm thcc do
biologismo, a psicologia sc torna psicologismo, c a socio- pluralismo da ciência, num momcnto cm quc cssc plura-
logia sc transfbrma cm sociologismo. Em outras palavras, lismo é 0 solo chrtil sobrc o qual o rcducionismo HorcsccP
ncssc cxato momcnto, a ciência sc dcsñgura em idcologia. Nicolai Hartmann e Max Schclcr, talvcz mais do que
O quc dcve ser atacado não é 0 fhto de quc 05 cíentistm m- quaisqucr outros pcnsadorcs, tcntaram rcsolvcr a qucstão
tão se espccíalízando, mas sim o de quc os especíulisms estão quc confrontamos agora. A ontologia dc Hartmann c a
genemlizmzda Já somos fàmiliarcs com o tipo dos sz'mplz'- antropologia de Scheler constituíram tcntativas dc atribuir
fcadores contumazes. Agora, cstamos conhcccndo um tipo a cada Ciência uma região de validade dctcrm1'nada. Hart~
quc sc pode chamar dc gemmlizadores obstz'nwlos. Com mann distinguiu Vários cstratos, como o corporal c 0 mcn-
rclação a cstcs, reñro-mc àquclcs que não rcsistemv à tenta- tal, maís o espiritual como ápice. Aqui, 110vamcnte, “cspiri-
ção dc opcrar gcneralizações exagcradas no campo dc suas tual” é usado sem conotação rcligiosa, mas na acepção dc,
descobertas limitadas. como vimos, “noológico”. Hartmann via a cstmtiñcação
Ccrta vcz, eu mc dcparei com uma citação quc deñnia da cxistência humana como uma estrutura hierárquica. A
o homem como “nada mais quc um complexo mccanismo antropologia dc Schclcr, ao contrárío, usa a imagcm dc
bioquímico, alimcntado por um sistcma de combustão quc “camadas” (Schz'claten) em vcz dc “estratos” (Strzfzen), dis-
lcva cncrgia a computadores com prodigiosos recursos dc tinguindo, aí, as camadas biológica c psicológica da mais
armazcnamento dc infbrmação codiñcada”. Como ncuro- ccntral c pcssoal, quc scria o cixo espirituaL
logista, eu apoiaria, jdstificadamcnte7 0 uso do computador Ccrtamente, tanto Hartmann quanto Schelcr ñzcram
como modelo para, digamos, o sistcma ncrvoso centraL jus às difcrenças ontológicas cntrc corpo, mcnte c cspíri-
O uso dc tal analogia é pcrfbitamentc lcgítímo. Logo, de to, ao concebê-los difbrcncialmcnte em tcrmos não mcra-
ccrta mancira, tal pcnsamcnto é válidoz o homcm é um mentc quantitativos, mas qualitatívos. Contudo, ncnhum
computad0r. Contudo, sin1ultancamcntc, 0 homem é in- dos dois parcceu lcvar suñcientcmcntc cm conta o quc se
finitamcntc mais do quc um computador. O problcma da opõc às difbrenças ontológicas, a sabcr, o quc eu gostaria
mcncionada citação é o uso do “nada mais que” um com- de chamar dc unidadc antropológica. Ou, como Tomás de
putador. Aquino colocou, o homcm é uma “zmims multiplex”. A
O niilísmo dc hojc não mais sc desmascara a si mesmo artc tcm sido deñnida como unidadc na d1'vcrsidadc. Eu
ao faãlar sobrc 0 “nada” [notlaingness]. AtLlalmentc, elc sc deñniria o homem como unidadc apesar da multiplici-
rccobrc sob a máscara do “nada mais quc” [n0t/Jz'ng-but- dade!

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6 o sa kmmf cm tamos dc cstratos ou ca-
Imagincmos um cilindro. Por cxcmplo, um C0p(). Pro-
mmtmx'- c cspm'”ruals' sugcrc quc os m0-
¡'ctado dc sua rcprcscntação tridimcnsional para os planos
ám c m" dc scr pudcsscm aprcscn-
bidimcnsionais das linhas horizontal c vcrtical, tcrcmos, no
uma cmrc si-
pn'mciro caso, um círculo c, no scgund,0, um rctângulo.
P~mm”ázrm~zam,' mmho tmtadow simultancamcntq Tajs ñguras são contraditórias cntrc si. E até mais impor-
iuzrpm'mm"“az,mxnobg1mr" c à Lmidadc antropológica tantc pcrccbcr quc o copo é um vasilhamc abcrto, ao con-
WJ W'› qu dz' antropología c ontologia
trárío do círculo c do retângulo, quc são figuras fL-chadas.
m.'mm', Eiñâ Máagcm Faz uso da conccpção
Outra d1'sparid21dc.l
dc ámncmww, como uma analogía rclatíva as~ Proccdamos, agora, à scgunda lci da ontologia dimcn-
díkfm quc nao7 anulam a unidadc mcsma
sionaL quc dizz quando ditkrcntcs fcinómcnos são projc-
dt mmwa. tados dc suas dimcnsõcs particularcs cm uma dimcnsão
A rfsmmm - como cu a propus - sc ñ1n- ditcârcntq mais baixa do quc a sua própria, as ñguras quc
da cm kxs'. A pmmÍm dizz quando um mcsmo fcnó-

LAQ
aparcccrão cm cada plano scrão ambíguas.
mam é prrmjdo”" dc wz d1-'›mcnsa('› particular cm dimcn~
wm drüàmaç m da quc a sua pro'pn'a,* as ñguras
mx açrrnwzü cm caáa píano scrar'› contraditórias cntrc si.

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FIGURA 2

Imagincmos um cilindro, um conc c uma csfc'r.'1. As


/___1__J'_FIGURA l sombras quc clcs projctam no plano h(›riz()ntal flmnnm
trés circunfbrências intcrcambiáchs cntrc si. Não p(›dcm(›s,
a partir da projcção, sabcr 0 quc há sobrc clasz um cilindm,
um conc ou uma csfcâram
' N 'U .-'L Lám ü *hmn”" ou “2lt2*, cm rcfcrcn'cia a on tnlogia dimcnsionaL Dc acordo com a primcira lci da ontologia dimcnsio~
NodcrÍMA urancr ymm dc wzmçub dm dimcmõcs. Tra ta-5c, apcnas, dc
wmpkàidhdz cntrc m píanm bsd'ímcnsír›naia ( maís baixos) naL a projcção dc um fbnômcno cm dimcnsócs difbrcntcs c
c ry plmr'› McãmM' r a dímmh mmh ak3)'. maís baixas rcsulta cm inconsistência. Iá a scgunda diz quc

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a projcção dc ditbrcntcs fbnômcnos cm dimcnsõcs mais No cntanto, paralclamcntc ao problcma mcntc~corp0,


baixas rcsulta cm isomorñas. ha', também, o problcma do dctcrminismo, a qucrcla da
Agora, como podcrcmos aplicar tais imagcns a uma libcrdadc dc cscolha. Mas cssc problcma podc, igualmcn~
antmpologia c a uma 0ntologiaP Uma vcz quc projctcmos tc, scr abordado pcla antropologia dimcnsionaL A abcrtura
o homcm cm suas dimcnsõcs biológíca c psicol(›'gica, tam- dc um copo ncccssariamcntc dcsaparccc cm sua projcção
bém obtcrcmos rcsultados contradito'rios, porquc, no pri- nos planos horizontal c vcrticaL Ora, o homcm, da mcs-
mciro caso, o organismo biológico é o rcsultado; no outro, ma fo"rma, quando projctado cm uma dimcnsão mais baíxa
é um mccanismo psicológico. Contudo, apcsar dc os as~ do quc a quc lhc é própria, acaba por parcccr um sistcma
pcctos somáticos c psíquicos chcgarcm à Contradíção cntre fc~chado, scja dc rcflexos ñsiológicos ou dc rcaçõcs psicoló-
si, quando à luz da antropologia dimcnsional, tais dispari- gicas a cstímulos. As tcorias motivacionais advindas dcssc
dadcs não mais contradizcm a singularidadc do homcm. pcnsamcnto, ainda adcrindo ao princípio da homcostasc,
Ou scrá quc a disparidadc cntrc um círculo c um rctângulo lidam com o homcm como sc clc fossc, dc fato, um sistcma
contradíz 0 ñlto dc quc ambos rcsultam da projcção dc um fcchad0. Isso, contudo, acaba por ncgligcnciar a abcrtura
mcsmo cilindro.> csschial da cxistência humana, quc foí bem cvidcnciada
A ontologia dimcnsional cstá longc de rcsolvcr o pr0- por Max Schclcr, Adolf Portmann c Arnold Gchlcn. Parti-
blcma mcntc-c0rp0. No cntanto, cla cxplica por quc tal cularmentc, o biólogo Portmann c o socíólogo Gchlcn nos
qucstão não podc scr solucionada. Inev1'tavclmcntc, a uni- mostraram quc o homcm é abcrto ao mundo.
dadc do scr humano - unidadc cssa, apesar da multiplicí- Tudo isso, no cntanto, dcsaparccc nas dimcnsõcs bi0-
dadc do corpo c da mcntc - não podc scr achada cm suas lógíca c psicológica. Mas, à luz da antropologia dimcnsio-
fàccs psicológica, ncm biológica, mas dcvc scr procurada nal, podcmos, ao mcnos, cntcndcr por quc isso ocorrc.
cm sua dimcnsão noológica, da qual o homcm foi, dc iní- Visto dcsse modo, o aparcntc fechamento do homcm cm
cio, projctada5 tais dimensões dcixa de contradizcr a humanidade do ho-
mcm. O fcchamento quc ocorrc nas dimcnsõcs mais baixas
é bcm Compatívcl com a abcrtura quc acontccc numa di-
5 Antcs dc rcspondcr à intcrrogação fbita por Kant - c também indagada
pclo salmísta - “o quc é o homcm?”, dcvcmos voltar-nos à qucstã0: “ondc cstá mcnsão mais alta, scja a abertura dc uma xícara Cilíndrica
o homcm?”. Em quc dímcnsão a humanídadc dc um scr humano podc scr ou a de um scr humano.
cncontrachâ Uma vcz cmbarcando no rcducionismo a priori quc díz scr o Agora, torna-se, também, comprccnsívcl por quc as
homcm nada mais quc um animaL não podcrcmos dcscobrir mais nada. Essc
proccdimcnto mc faz lcmbrar do rabino quc ~ como diz a ancdota ~ foi abor- dcscobcrtas opcradas por pcSquisas quc se atêm às di-
dado por dois homcns, um dos quais añrmava quc o gato do outro havia r0u- mensões mais baixas, apcsar dc ncgligcnciarem a huma-
bado c comído cinco libras dc sua mantcíga. () dono do gato ncgou toda a
nidadc do homcm, não nccessariamcntc a ncgam. Isso é
.s'iru.1'çâo. () mbino, por sua vcz, pós o gato na balança, c - surprcsa - scu pcso
cra dc, cxatamcntc, cinco libras. “Ccrto, agora achci a mantcíga”, pcnsou o
rabino, “mas, ondc cstará o gato?”. Ora, quc lugar ocupará o h(›mem, quando
nossa invcstigação sc conñna à dimcnsão bíológíca, rcstringindo~sc a uma pr0- na, cu diria quc scr humano signiñca dirccíonar-sc como objctivo a algo ou a
jcção biok›gística? Por Conta do carátcr autotransccndcntc da cxistência huma- alguém quc não a si mcsmo.

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_ __ ,-~7›:m-

rigualmcntc val"ido para abordagcns tão distintas quanto o


51m' como um avião, pclo fato dc v0ar, também não dcixou
bchaviorismo watsoniano, o rcflcxologismo pavloúanq a
dc scr capaz dc movcr-sc sobrc o solo do acmporto.
psicanal"ise dc Frcud c a psicologia individual dc Adlcn Tais
Como já pontuci na Intr(›dução, Frcud cra gcnial dc-
cscolas não são invalídadas pela logotcrapia ~ pclo c0n-
mais para não cstar cicntc dc quc conñnara suas pcsquisas
tmn"'0 -, são rcenvolvidas por cla, ao sercm rcvistas sob
ao “pavimcnto térrco c ao porão do cdifício”. Em outras
a óptica dc uma dimcnsão supcrior ou, como salicnta 0
palavras, quc clc sc limitara a uma dimcnsão mais baixa,
psicotcrapcuta noruegués Bjarnc Kvühzmg,Ó com espccial
a psicológica. Elc sc tomou uma vítima do rcducionismo
rctciréncia às tcoriu dc aprcndizagcm c à tcrapia compor-
apcnas - na continuação da carta a Bínswangcr - ao dccla~
tamcntal-, as dcscobcrtas dc tais escolas acabam por scr rc~
rar quc elc já achara “um lugar para a rcligião, colocando-
intcrprctadas, rcavaliadas e, consequentcmentc, re-huma-
-a sob a categoria de ncurosc da humanidadc”. Até mcs-
nizadas pcla logotcrapía.
mo um génio não Conscguiu rcsistir complctamcntc a scu
A cssa altura, uma advcrténcia sc faz necessan"a. Falar
Zgitgeiítg ao espírito dc sua cra - 0 contcxto prcdominantc
dc “supcrior”, cm oposição a dimensõcs mais “baj.\'as”, não
dc scu tempo.
implica um julgamcnto dc vaJorJ “Superior” apcnas den0-
chamos, agora, como a scgunda lci da ontologia di-
ta uma dimensão mais inclusiva e .1'braLr1gente.S
mcnsíonal podc aplicar-sc ao homcm. Ora, podcmos, mui-
Tudo isso constitui uma qucstão crucial cm antropolo-
to bcm, substituir os três círculos ambíguos por ncuroscs,
gia, pois implica, nada mais, nada mcnos, o rcconhccimen-
porque as ncuroscs também podem scr ambíguas. Uma
to de quc 0 homcm ~ ao tomar-se um scr humano - dc neurosc pode ser psicogên1'ca, ísto é, uma ncurosc no scn-
modo ncnhum dcíxou dc continuar scndo um animaL as- tido convencional do tcrmo. Além disso, minhas pcsquisas
mc mostraram que ha', também, ncuroscs somatogênicas.
Há casos dc agorafbbia, por cxcmplo, quc são causados por
° Bjarnc Knl'haug, Trabalho aprcscntado djantc da Socícdadc Médica dc
Psicotcrapia da Áustña cm 18 dc julho dc 1963. hipertireoidismo. E, por último, mas não menos importan-
' \;'.T.: A prcscnte obra tbí claborada pclo auton d1'rctamcntc, na língua te, há as ncuroscs noogénicas, como as dcnominci. Elas sc
m'glcsa. \.'o cntanto, 0 tcrmo, correntcmcntc utilizado por Frankl cm seus cs-
originam dc problcmas espm"tuais, de dilemas morajs, ou
critos cm língua alcmã, rcteirc«sc a um conccito bastantc prcscntc na dialética
hcgeliana, o do vcrbo aufbtbmv \.'a organização das catcgoñas rch.\'i\'as, parv do conflito entrc uma verdadeira consciência e o superc~
te-sc da mais simplcs para as mm's “elcvadas”' ( mggytbome num processo dc go, como indiquei no início do capítula Nlais importantcs,
“supra.ssunção” |nlfÍIJtÍHHLUH1 clcvação do cntcndimcnto com conscrvação dc
scnu'do. A passagcm a uma catcgoria maís alta Lm'plica. ao mcsmo tcmpo, nc-
contudo, são as neuroscs noogêm'cas, quc rcsultam dc uma
gação pucial c ínclusão toral da catcgoria mais baixa. Isto é, as catcgorías mais fr'ustração da VODtadC'dC scntido, daquilo quc chamci dc
bams são '“suprassumidas“ nas mais altas, até chcgar-se à sínresc das catcgon'as, tràustração cxistenciaL ou do vácuo existcncial - tema ao
que, no caso, rctêrcmsc à totalídadc do ser do homcm, na dialética corpo -
psiquismo - cspín'to. qual dcdico um capítulo dcstc livro.
5 Eu mc Icmbro bcm da insisténcia e da cun'osídade dc PauJ Tillich, após Logo, na medida em que a ctiologia das neuroses for
uma dc minh15 contêréncías sobrc ontologia dimcnsional na Harvard°s Dixíni-
mulúdimcnsionaL a sintomatologia sc tornará ambígua.
ty SchooL Elc apcnas sc satisch quando cu dchmñ' cssa dimcnsão supcrior como
aqucla mais inclusíva c totalizanta E, assim como não podcmos inferir, pclas sombras circula-

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rcs, sc acima há um cilindr0, um conc ou uma crsfe'ra, não


tcrapêutico -, já quc ncsscs casos não cstamos mcrnmcntc
podcrcmos concluir, tampouco, sc por trás dc uma ncuro-
combatcndo docnçasg mas lidando com scrcs humanos.
se há um hipcrtircoidismo, uma angústia dc castração ou Dcssc modo, cu não participo da prcncupação dc al-
um vácuo c.\'istcncial. Isto é, não podcremos fãzcr nada guns colcgas quc, num congrcsso intcrnacional, .*1h“rmaram
disso, à mcdida quc nos conñnarmos à dimcnsão psico~ tcmcr a mccaniZ.1'ção da psiquiatria c a dcspcrsonalização
lo'gica.
dos pacicntc5, através do uso da fàrmacotcmpia. No Dc-
A patologia é ambíng quand0, cm dctcrminado caso, partamcnto dc Neurologia do Hospital Policlínico dc Vic~
a1"nda tivcrmos dc procurar pclo logos do pathos, isto é, pclo na, mínha cquipc utiliza o tratamcnto mcdicamcntoso c, sc
scntido do sofrimento, c cste pode, muito bem, não rcsidir neccssário f(~›r, até mcsmo dc clctrochoqucs, scm, contudo,
nas mcsmas dimcnsõcs da sintomatologia, escondcndo-se ofêrcccr víolência alguma à dignidadc dos pacicntcs. Por
cm outra dímcnsão. A ctiología multídimensional das ncu- outro 1ado, sci de muitos tcrapcutas scguidorcs da “psico-
roses torna nccessário aquilo que cu gostaria de chamar de logia profusnda” quc abominam a prcscrição dc psicotãp
um diagnóstico dimensionaL macos - para não mcncionar o horror quc têm à utilízação
O quc fbi dito para 0 diagnóstico também vale para a da elctroconvulsotcrapia -, mas quc, por conta dc sua visão
tcrapim A tcrapia, da mcsma forma, dcvc scr oricntada cm antropológica c de sua abordagcm mcmnicista para com o
tcrmos multidimcnsionaís. Não deve havcr objcção a priori homcm, violam, sim, a dignidadc dc scus pacicntcs.
contra “injcçõcs e choqucs”.9 Em situaçõcs nas quais há o Essa é a razão pela qual cu acrcdito scr importantc
quc a psiquiatria chama de dcprcssão cndógcna, é pcrfci- quc o tcrapcuta scja bcm conscicntc da visào dc homcm
tamcntc legítimo o uso dc fãrmacos e, em casos mais gra- por mcío da qual clc aborda scus pacicntcs c quc tcnha,
vcs, até mcsmo, a aplicação dc eletroconvulsotcrapía tam- 1'gualmer1te, conhccimcnto das implimçõcs mctaclínicas dc
bém é plcnamcntc justiñcách C01'ncidcntcmcntc, fu'í eu sua prática.
quc dcscnvolvi o prímciro fãrmaco ansiolítico na Europa, O quc importa, realmcntc, nunca é a técnica por si
antcs mcsmo dc os anglo-saxões voltarcm sua atcnção ao mcsma, mas o scntid0, a intcnção que guia a técnica. O
Milt0wn.m Em casos exccpci0nai5, c_u mcsmo prcscrevi mcsmo valc não apenas para clrogas c clctrochoqucs, mas
lobotomias e, cm alguns casos, até mcsmo rcalizci tais para a psicanálise frcudiana, para a psicologia dc Adlcr c,
cirurgias. Obviamcnte, nada dísso torna prescindích si- 1'gualmcnte, para a logotcrapia.
1nultancamcntc, 0 tratamcnto psicoterapêutico - e log0- Voltemos, agora, à scgunda lci da ontologia dimcnsio-
nal, substituindo, no cntanto, n_ossas ñguras geométrícas
por ñguras históricas. Mais espcc1'ñcamentc, suponhamos
9 N.T.: Tradução litcral dc “Jhot.r tmd 5hoclz5”, cxprcssão idiomática quc fàz
quc a primeira sombra circular scja um pacicnte vítima de
rctbrência a proccdimcntos médico-psiquíátricos, cm contraposição, no caso, à
tcrapia pcla palavrax csquizofrcnia com alucinaçõcs auditivas, enquanto a sc-
m N.T.: Franld tàz rctbréncia ao nomc comcrcíal do ta"rmaco mcprobamato gunda sombra circular venha a scr Ioana D°Arc. Nâo há
(Milrown® - Labomtórios Wallach síntctizado por Bcrníc Ludwig cm 1950 c
considcmdo, por muitos, 0 primciro .'1nsíolítico a scr fabrícada
dúvida de quc, do ponto dc vista psiquiátric0, a mcncio-

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nada santa scria diagnosticada como csquizofrêníca. E, en- Outro cxcmplo dc ambiguidadc causada por projcçõcs
quanto nos ativcrmos ao rcfcârcmial psiquiátricq cla não Ocorrcu anos atrás, no quartcirão ondc moro, cm Vicna.
scrá “nad.1'mais” quc uma csquíz0fr~ênica. O quc cla é, para A dona dc uma tabacarin fbi abordada por um ladrão cm
além dc sua csquizoñcnia, não é pcrccptívcl na dimcnsão sua loja c, no momcnto do assalto, cla gritou por Franz,
psiquíátrica. Obscrvandoa a partir da dimcnsão noológica scu marid0. Havia uma Cortina dividindo 0 cstabclmimcw
- comprccndcndo sua importância hístórica c tcológica -, tO comcrcial, c 0 bandido, cspcrando quc Franz aparcccssc
vercmos quc ]oana D°Arc é bcm mais do quc uma csqui- por dctrás dclas, fugiu, scndo captumdo logo cm scguída.
zofr'ênica. 0 thto dc ela scr portadora dc tal transtorno sob Mas, na verdade, Franz morrcra duas scmanas antcs, c o
o olhar da psiquiatria não dcnega, dc modo algum, sua im- gríto dc sua csposa havia sido, dc fa7to, uma 0r.1'çã(), r0-
portância cm outras dimensõcs. E vicc-versa, pois, mcsmo gando ao marido que interccdcssc por cla junto a Dcus.
scndo considcrada uma santa, isso cm nada modiñca 0 fhto Ora, cabc a cada um dc nós o modo por mcio do qual tal
dc quc cla, também1 cra portadora do rcfcrido transtorno. scquência dc cvcntos naturais scrá intcrprctadaz ou .1'ccitan-
O psiquiatra dcvc abstcr~sc à parccla de lcgitimidadc do um mal~cntcndido por partc do ladrão, isto é, um cvcn-
quc Cabc ao ponto dc vista dc sua ciência, cm vez dc tomar to dc ordcm psicológíca, ou nos tcrmos dc uma accitação
dctcrminada sintomatologia c, a partir dcla, concluir sc sc cclcstc dc uma prccc. Dc minha partc, cstou Convcncido dc
trata dc “nada maís quc” ou “mais quc” um tbnômcno psi- que, sc há algo como um Céu que acolhc oraçÕCS, cssc Céu
quiátric0. Conñnar-sc à Climcnsão psiquiátrica, no entan- sc cscondcrá por trás de uma scquência de fatos naturais.
t0, implica abrir mão da totalidadc dc um fbnômcnq quc
passa a ser projetad0“ cm um plano dc aná11'se, no caso, 0
da psiquiatria. Isso é perfbitamcntc lcgítimo desde quc 0
psiquiatm cstcja cicntc da limitação de sua prática.
Mais ainda, no campo da ciêncía, projcçõcs não só são
lcgítimas, mas também obrigatógias. A ciência não podc
abrangcr a rcalidadc na totalidadc dc seu carátcr multidi-
mcnsionaL L0g0, a metodología cicntíñca dcvc tomar a
rcalidadc como sc cla, dc fato, fosse unídimcnsionaL No
cntant0, o cicntista dcvc rcconhcccr 0 espcctro dc legiti-
midadc do sabcr quc produz, cvitando, assim, as Ciladas do
reducionisma

“ N.T.: () tcrmo “projcção" rcm sido usndo cm sua .'1ccpção gcométrica,


isto c', n dc rqwcscnmr um objcto cspncial num plano, pam isso, climinam10,
ncccssamnwntc, uma das três dimcnsõcs 0riginnis.

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_-4_4,
'==_==:-_-M.:. ..
___v==__-__7'4MM*_

A autotranscendêncía
como um fenômeno humano

No Capítulo antcrior, añrmci quc 0 homcm é abcr-


to ao mund0. Ele 0 é cm contrasrc com os animais, quc
não são abertos ao mundo (Welt), mas, sim, limitados a um
mcío (Umwelt) cspecíñco à cspécícu O mci0, o ambicntc
do animaL contém os clcmentos ncccssários à constituição
instintiva da cspéc1'c. Em contrastc, dcrrubar as lmrrcims do
mcio imposto à cspécic Homo mpiem é uma caractcnística
constitutiva da c.\'ístência humana. O homcm busca - c,
em sua busca, tcndc a atingir - o mundo, mundo cssc rc-
plcto dc outros scrcs humnnos a cncontrar c dc scntidos a
prccnchcr.
Uma visão como cssa sc opõc profhndamcntc às tco-
rias motivacíonais quc sc basciam no princípio da homcos-
tasc. Tais tcorias cntcndcm 0 homcm como um sistcma
fcchado. Dc acordo com clas, 0 homem cstá, Lm31'camcntc,
prcocupado com a manutcnção dc um cquilíbrio ínrcrn(),
0 quc implica uma neccssidadc de rcdução dc tcnsõcs. Em
última aná11'se, pressupõose scr csse, também, 0 objctivo da
gr.1-tihk“ação dos instintos c da satisfação das nccmsidadex
Como Charlottc Bühlcrl bcm pontuou, “das tbrmulaçõcs

¡ Charlottc Bühlcr, “Basic Tcndcncics in Human Lith Thu›r'<.t¡c;11 and


Clinical Considcratl'0ns“, cm Ssin zmd Si7m, cditado por R. Wisscn Tübíngcn,
l960.

________u45
_'

inicmis dc Frcud sobrc 0 princípio do prazcr às vcrsócs mais


rcccntcs das tcorias da dcscarga dc tcnsão c do princípío da tudo mais rcccntc, Bühlcr“ añrmou quc, “dc acordo cum
Q princípio homcosútico fr'cudian(), 0 objctivo último sc~
homcosta5c, 0 ñm Objctivo dc toda .1'tividadc quc cnvolva
ria 0 dc obtcr aqucla gratihkação plcna quc rcstauraria 0
a \'id.1', invariavclmcntc, é conccbido como o rcstabclcci-
cquilíbrio do indivíduo, fàzcndo com quc todns os scus
mcnto dc um cquilíbrio individual”.
dcscjos rcpousasscm. Dcssc ponto dc vista, rodas as cria-
O princípio do pmzcr scrvc aos intcrcsscs do princípio
çõcs culturaís da humanidadc acabam por scr vistas Como,
da lwmwstasc. Por sua vcz, o princípio da rcalíchdc tra-
dc fato, subprodutos dc um instinto quc visa, mcramcntc,
balha pam os propósítos do princípío do prazcr. Dc acor-
à satisfhção individual”.
do com as nñrmaçõcs f1"cudl'an.1-s, a ñmção do princípio da
Mas, mcsmo se considcrando as possibilidadcs dc ñltu-
rcllid.-1dc é 0 dc .-Issch1rar 0 prazcr, aínda quc dc mancira
.-1tra.su-1da, ou mais controlad1L ras rcf(*)rmulaçõcs da tcoria psicanalítica, Bühlcri mostran~
do-sc duvidosa, añrmaz “a tcoria psicamlítica, apcsar dc t(›-
Von Bcrralanffy conscguiu dcmonstrar que ncm mais
na biologia o princípio da homcostasc pode ser sustenta- das as tcntativas dc rcnovaçã0, podc jamais vir a cscapar dc
d0. Goldstcin ofhtccu cvidências, na árca das patologias sua hipótesc básica, quc añrma quc 0 objctivo primário dc
toda atividadc humana sc ñmda numa SatiSÍàÇãO homcos-
ccrcbmis, dc quc a busca pclo princípio da homcost350,
mais do quc um modo de fímcionamento normal do or- tática. Rcalizar valorcs c cfbtuar c()nquist.-1s são vistos como
objctivos sccundários, dcvidos à mividadc do cgo c do su~
ganisn10, constituiria um sinal patológico. Apcnas cm caso
pcrcgo sobrc 0 id, mas scrvindo, scmprc, aos propósitos da
dc docnça é quc 0 organismo sc osfbrçq por cvitar tcnsõcs
satisfãção”. Contrap0nd0-sc, a nutora añrma quc sc dcvc
a todo custa No campo da psicologia, Allport2 reñltou
“conccbcr 0 homcm como portador dc intcnci()nalidadc, o
as tcorias homeostáticas, añrmando quc cstas “cstã(› lon-
quc signiñca vivcr com pr()pósit()s. E scu pmpósito ó dotar
gc dc reprcscntar a natureza dos cstbrços pcssoais”3 cuja
a vida dc scntid()_. O indívíduo... qucr rc.'11i/.'ar val()rcs”.
“caractcrística principal é a dc rcsistêncm ao cquilíbrioz a
Mnis quc isso, “o scr humano” tcm “uma oricntação prí-
tcnsão é mantidm mais do quc rcduzida”. Maslow,4 assim
mcira c natural para criar c para 1'cali/.'.1'r \';11(›rcs”.
como Charlottc Bühlcr,5 cxpós críticas similarcs. Num cs~
Dcssc mod0, 0 princípio da homcostasc não Constitui
ñmdamcnto suñcicntc para c.\'plicar 0 comportamcnto do
2 Gordon W. Allport, BELYHIZÍÍLHIJ anit Considcratium fbr n Pixvcbolsoqy of homem, obscurcccnd0, também, a Comprccnsão dc fbnô~
Pnzwmlity, Yalc Un1'\'crsir\_' Prcss, Ncw Havcm l955.
K N.T.: 'l*r.1dução Iivrc da cxprcss.1'"o “prr1prinrt strivikufs tcrmo técnico mcnos humanos, como a criat1'vidadc, quc sc oricnta pam
cunhado por Allport cm sua tcoria da pcrsonaIidadc, como a última das sctc os valorcs c para olscntida
ümçócs do prapriunL rctkríndo~sc aos cstbrços pcssmis no scmído dc c0mp(›r-
tamcnms oricntados para val(›rcs, idcaís, plnnos c guiados por um scnso dc
pmpósito na \'ídn.
* Abralmm H. M-.Islo\\', Motimtion rmd PL'I'xon¡Ilz'_tv, Harpcr & Brothcrs, ° Charlottc BL'1'hlcr, “Thc Human Coursc ofLitb in Ítb Goal Aspccts“, ]0m'-
Nuva k)rquc_ l954. mzl omenmzistic PWCÍIOÍQVGYÁÉZ l, l9()4.
5 ('harl(›ttc Bühlcn “'l'hcorctic.1'l Olmscrvations about Lifcws Basic Tcndcn- 7 Charlottc Bül1lcr, “Somc ()l'›scrvations on thc Psycholngj ofthc Third
cics", Amrrimu ]0m7ml rf¡P_.wc1¡ot/mvzp_v l3z 5()l, 1959. Forcc”, ](mrmzl quzmmnixtic P_n'chol¡__)_m' 52 54, l9()5.

-_____-____u47
V

Quanto ao rcma cm rcfc'rência, cu iria, ainda, além cm


Mais além, nâo JE podc pcrsqmtir a fclicidnda Ao sc th-
minha críticaz cm última instância, (› princípio do pramcr é
zcr da Mícidndc o objcto dc motivação, cla passa a scr,
autoanulatiwx Qunnto maís sc thz do prnzcr um alvo, maís
tnmbónL (› objcto dc ntcnçã(›. No cntant(), au pmccdcr
sc crm a minL Em outras palavrasg é justamentc a “busca da
assim, pcrdc-sc dc vista o mot1'vo, a rnzão para scr tc'liz,

._
tblicidadc” quc fhlstra sua obtcnção. 0 c.'1rátcr 11th011|1[11;1-
c, conscqucntcmcntc, a fUicidaldc, por sua vcz, acaba por

.\_. .~_
tivo da buscn dc prazcr cstá prcscntc em inúmcras ncuro-
dcsaparucn
scs sc.\'u.'1is.'. Cada vcz mais, os tcrapcutas têm tcstcnmnha- A ênfhsc conccdida ao princípio do pr.1-zcr, na psico|0~
do 0 quanto () orgasmo c a potência scxuaL quando alvos
gia ñ'eud1'ana, é análoga à importâmm quc a tcoria dc Adlcr
dc inwnção c_\'agcmda, são prcjudicados. Tais fcnômcnos

. . .-
dá no dcscjo dc supcrioridmc [smtzts drier Contudo, tais
0corrcm, ainda mais, quando íntcnçào cxccssiva sc associa

›. n. ~..
visõcs dc ñ1nc1'onamcnto, também, provam scr autoamr
a uma atcnção cm dcmasia. Hipcrintenção c hipcr-rcflc.\(ão,
lativas, uma vcz quc alguém quc dcmonmu c cxibc scu
como as tcnho Clmnmd0, tcndcm a criar padrócs ncuróti-
dcscjo dc podcr scrá, ccdo ou tardc, rcpudiado por parcccr
cos dc comportnmcnt0.

me
um “caçador” dc smtmz

a
Em condíçoks normais, o prazcr nunca é a ñnaliLhdc Uma cxpcríência quc tivc podc ajudar a ilustrar cssa

:._.r.,
última da ativiçhdc luumna, mas, sim ~ c dcvc continuar qucstã0. Sc algum dos vintc c três livros quc publiquci sc

4. . ~,
scndo ~, um cfc'1'to, mais cspcciñcamcntc, um cfbito colatc- tornou Succsso, cssc livro tbi prccismncntc aquclc quc, a
ral da consccução dc uma 1nctn. Rcalizar um objctivo Cons- princípio, eu plancjci publicar anonilmmcntc. Apcnas após
titui uma razão para scr fc'1i7_. Em outras palavras, sc há uma tcrminar 0 manusc1'ito, fbi quc alguns amígos mc pcrsuadll
razão para scr ÍC~1112, a fblicidadc sc aprcscnta automática c ram a assinar a obra.S Intcrcssantc perccbcr quc 0 livro quc
cspontaneamcnte. Essa é a razão pcla qual mío xe dcve bm- cscrevi sob a convicção dc quc não mc rcndcria thma ou su-
mr a falicídada csta não dcvc scr objcto Clc p1'coc11p.1'çã(), ccsso foãi aquelc quc, dc fa7to, sc mostrou o mais bcn1-succ-
na mcdida cm que houvcr uma razão para ClzL dido. Talvez, isso possa scrvir dc cxcmplo e dc advcrténcía
para quc os jovcns cscritorcs obcdcçam à sua consciência

JJéJFJ
artística ou cicntíñca, confbrmc o caso, não sc impormndm
UMA RAZÀO __-â FELICIDADE primciramcntC, com 0 succsso. Succsso c fclícidndr dcvcm
PARA SER FELIZ acontrzcmg c, quanto mcnos nós nos importarmos com clcs,
mais eles acontcc-em.
VONTADE
DE
Em última instância, o dcscjo dc supcriorid3dc, ou .1'
SENTIDO /BUSCA
DA FELICIDADE vontadc de podcr - dc um laclo - c o princípio do prazcr,

t wmnru
ou - como também sc pode chamar - a vontadc dc pra-

"
“ O nomc do autor não tbi ímprcsso nas capas d.1 primcim cdição do rctb-
FIGURA 3 rido livro cm alemão.

rm_48 *_'_____U49
77

/.'cr tnmbém são mcras dcrivaçõcs da motivação prinúria ncurótica da motimção humana originaL é cnmprccnsívcl
do homcm, isto é, dc sua vontadc dc scntído - 0 scgundo quc 05 fundadorcs das cscolas clássicas dc psicotcrapia,
tcrmo da tríadc dc conccítos sobrc a qual a logotcrapia sc quc tivcram dc lidar com nc1u'('›ticos, dcscxwolvcrmn suas
ñn1da. () quc chamo dc vontadc dc scntido podc scr dcñ- rcorias motivarionais somcntc sobrc 0 tcrrcno dc obscr~
nido como o cstbrço mnis b.1-'sico do homcm na dircção de mçab das motivaçócs tipicamcntc ncuróticas prcscntcs cm
cncontmr c rcali/'..^u' SCDIÍdOS c pr()p()'síros. scus pacicntcs.
Mas, qual scria a justiñcatim para considcrar a vontade Log(), a hipcrintcm;a'0 dc prazcr podc scr muito bcm
dc podcr c a vontadc dc pmzcr como mcras dcrivações da cntcndida sob a luz da fr'ustração dc uma prcocupaçâo mais
vontadc dc scntidoP Ora, 0 prazcn mais do quc a ñnalidade lúsich DCixc-mc ilustrar tal .1-h'rmaç.17(› com uma ancdotgL
básica dos cstbrços humanos, é, dc f:1't0, 0 cfcito da rcaliza~ Um homcm cncontra na rua scu médico dc f11m1'lia. “Como
ção dc scntido. O podcn por sua vcz, mais do quc um ñm cstá, scnhor J0ncs?”, pcrgunta o douton “Com(›?”. rcs-
cm si mcsmo, const1'tui, na vcrdadc, um mcio pam um ñm. pondc o homcm. “COMO V()CÊ ESTÁ?”, o médico pcr~
Para vi.1-bilizar o prccnchimcnto da vontadc dc scntido, gunta novamcntc. “cha”, rcspondc o scnhor Ioncs, “mi-
ccrta dosc dc podcr - como, por cxcmplo, podcr ñnancci- nha capacidadc auditiva sc dctcriorou”. Ao quc o médico
ro - sc toma um pré-rcquisit0 indispcnsách É apcms na rcspondcz “Ccrtamcntc, você dcvc cstar bcbcndo dcmaís.
Hustrawgão da oricntação 0riginal pclo scntido quc alguém Procurc parar dc bcbcr c você ouvirá mclhor”.
podc amrrentthre com o poder ou fixm~sc no pmzer. Alguns mcscs dcpois, clcs sc rccnc0nt1'.1'm.' “COM()
ESTÁ, SENHOR JONES?”. “O scnhor não prccisa Íhlar
comigo tão alto, doutor. Agora, ouço muito bcm”. “Ah,
cntão, ccrtamcntc, você parou dc bcbcr”. “Isso é vcrda-
dc”. Alguns mcscs dcpois, clcs SC cncontram pcla tcrcci-
ra vcz, mas, nova111011tc, o médico, para sc tãzcr cntcndcr,
prccisou fhlar mais alto, como na primcira vcz. “Prcsumo
MEIO = PO/DER quc o senhor voltou a bcbcr”, añrma ao pac1'cntc, a quc
cstc rcspondcz “cha, dout(›r, primciramcntcy cu bcbia c a
minha audição, rcalmcntc, p1'0rava. Dcpois, parci dc bcbcr
FIGURA 4 c passci a ouvir 111clhor. No cntant0, o quc qucr quc cu
cscutassc nunca cra tão bom quanto 0 uísquc”.
Tanto a fc*1ic1'd.1'dc quanto () succsso constitucm mc- Essc homcm sc fr'ustrara pelo quc tcvc dc ouvir, c cssa
ros .s*ubstitutos para a rcalização, c é por cssa razão quc foi a razão pcla qual clc Voltou a bcbcr. Como 0 quc clc
tanto o príncípio do prazcr quanto a vontadc dc podcr ouvia não lhc dava razão alguma para scr tbliz, clc passou
sào dcrivmios da vontadc dc scntido. Como 0 dcscnvol- a buscar a fklicidadc cm si mcsm.1-. A tc~1icid3dc, até quc
vimcnto dcssaas duas tcndências sc bascia numa distorção lhe .1'c0ntccia, porque 0 prazer lhc cra conccdido através

UWSO __________U51
V

dc um fator bioquímíco, o al'cool. Como sabcmos, o pra- tradiz o caráter autotransccndcntc da c.\1"sténcia humana.
zcr não podc scr obtido cm uma busca dircta. Mas, como Assim como a têücidadq a autorrcalização aparccc como
pcrccbcmos, no cxcmplo, clc (0 prazcr) podc scr obtido ctc'1'to, isto é, o ctkito da rcalização dc um scntido. Apcnas
por um mcio bioquímico. O homcm, cntão, ao scntir a quando o homem precnchc um scntido lá fora, no mundo,
taãlta dc uma razão para o prazcr, prové a si mesmo de uma é quc clc rcalizará a si mcsmo. Sc clc decídc por rcalizar a si
causa cujo cchto é o prazcr. Qual, no cntanto, seria a dí- mesmo, cm \'cz dc prcenchcr um scntido_ a autorrcalização
fcrença cntrc causa e razão? A razão sempre sc constitui perdc, imcd1'atamentc, sua razão dc scr.
como algo de natureza psicológica ou noológica. A causa, Eu diría que a autorrcalização é o ctbíto não intcncío-
por sua vcz, scmpre é dc natureza biológica ou fisiológica. nal das intcnçõcs da \'ida. Ninguém jamais pós tal pcnsa-
Sc você cortar ccbolas, não terá razão alguma para chorar, mcnto mm°s sucintamcntc do quc o grandc ñlósotb Ixar'-'l
apcsar de quc suas lágrimas terão uma causa. Sc vocé csti- Jaspcrs, quc añrmouz “Was dcr Mcnscnsch ist, das ist cr
vcssc dcscspcrado, havcria, sim, uma razão para chorar, ou, durch dic cr zur semen macht”. Ou, como cu traduziriaz
sc um montanhista atingc uma altura dc dcz mü pés c se “O homcm se torna o que é por tbrça da causa quc clc tesz
scnte angustiado, scu sentimcnto podc, no caso, tanto tcr sua
” 10
uma razão como uma causa. Sc ele sabc, tem consciência O mcu argumcnto de quc o homcm se atàsta da
dc quc cstá mal cquipado ou dc quc não tcm treinamento autorrcalização uma vcz quc csta sc torna o seu objcto
sufíciente, sua angústia tcrá uma razão. No entanto, pode dc prcocupação maior também é compatívcl com a \'i-
ser, também, quc scu cstado se justiñquc por uma causaz a são dc Maslow, já quc clc mcsmo admítc quc “o objctivo
falta dc oxigênía da autorrcal'ização” podc ser concrctizado mclhor como
Rctomcmos agora o conccito dc vontadc dc scntido. “um compromisso para com uma tareth dc importan'cia”.“
Tal noção sc mostra bcm compatívcl com as idcias dc Char- Do modo como vcjo, a preocupnção exccssiva com a
lotte Bühler9 sobre as tcndéncias básicas do scr humano. autorrcalização podc scr bcm comprccndida como uma
Isso porque, de acordo com a sua teoria, a realização tr'ustração da vontadc dc sentida Assim como o bumc~
constitui o objetivo ñnal, e as quatro tendências básicas scr- ranguc só volta ao caçador quc o atirou sc cstc tivcr cr-
vcm ao objctivo da realização, contanto que sc entcnda por rado o scu alvo, o homcm também só rctorna a si mcs-
rcalização a rcalízação dc um scntido, mais do quc uma- mo c se cngaja na autorrealização se tivcr thlhado cm sua
rcalização dc si ou uma autoatualizaçãa missão.12
A autorrcalização não constitui a busca última do scr
humano. Não é, scqucr, a sua intcnção primária. A autor-
m .\".T.: No 0rig1n_'.11-. '°\\'hat mm i5\ hc has bccomc throuzh_ thal camc
rcalização, sc transformada num ñm cm si mcsmo, com- which hc has madc his o\\n“.
“ Abraham H. Maslom Eupsytbian Mmmgtmmt A ]ourmzl. R. In¡1'n,
Homcwood_ Illínois. 1965. p. 136.
° Charlottc Bühlcr, “Thcorctical Obscrvations about Lifc”s Basic Tcndcn- 12 Viktor E. Frankluv PQTIMTÍJFTIIEY und Etümnhlimu Srlcrrrd Papm an
cics”, Amrricmz Jmmml ovarvdmtlJempy 13: 561, l959. _lo¡mrb¡mpv_. Washington Squarc Prcss. Xma lorquc. l907.

W__*_*_52 ______p\SSI
Vr

pcndentcmcntc da razão quc houvcr para cxpcr1'mcntá-los.


você 0 rci mais podcroso sobrc a Tcrm”. Conscqucntc-
Tcorias motivacionais como cssas põcm cm p.1'1'êntcscs as
mcntc, Salomão rcccbcu csscs d(›ns, quc não cspcrava.
razõcs - quc sào ditbrcntcs umas das outras ~ cm thvor do A princípio, scria justiñcado supor, Como Ungcrsma20
cfcãito, quc é scmprc o mcsmo. Na vcrdadc, o homcm não
o t.17Z, quc 0 princípío do prazcr ñ'cudian0 cstá mais prcscn~
sc importa com o prazcng ncm com a fclícidadc cnquanto
tc na criança pcqucna, quc o princípio dc podcr adlcriano
taís, mas Com aquilo quc vcnha a causar tais cfcitos, scja a
predomina no adolcsccntc, c quc a vontadc dc scntido sc
rcalização dc um scntido pcssoal, scja pelo cncontro Com
constítui Com prcpondcrância 110 adulto maduro. “Dcssc
outro scr huxmno. O mcsmo é \'álido para o cncontro com
modo”, diz o rcfbrído autor, “a scquência das três cscolas
0 Scr Divino. A partir disso, seguc quc devcmos ser céticos
vicnenscs de psicoterapia parccc, bcm, cspclhar o dcscnvol-
com rclação às modalídadcs dc cxpcriência dc pico induzi-
vimcnto ontogcnético do índivíduo, da infância à maturi-
da pclo ISD ou por outros tipos dc intoxicação. Sc causas
dadc”. Contud0, a razão princípal para Cstipular uma sc-
químicas substituírcm razõcs cspirituais, os cfbitos scrão
quência assim scria pelo fato dc quc, nos primciros cstágíos
mcros artcfatos. O atalho acabará num bcco sem saída. do dcscnvolvimento, não havcria uma índicação da v0n-
À classc dc fbnínncnos quc não podcm scr pcrsegui-
tadc dc scntido. Essc fato dcixa dc causar cmbaraço, uma
dos d1'rctamcntc, dcvcndo ncontcccr como cfcito, dcvcmos vcz quc reconhccemos quc a vida é uma Zeigtesmlt, uma
acrcscentar a saúdc e a conscíência. çqesmlt de tempo, c que, como tal, ela tcnde a foármar um
Sc nos csfbrçamos7 di1'ctamcntc, por uma consciência todo inteligível apenas quando seu curso fbr completado.
tranquila, acabarcmos scm justiñmtívas para tcr uma. Isso Ccrto fcnômcno podc, portant0, fbrmar um aspccto
nos transtbrmaúa em Fariseus, em hipócritas. Sc ñzermos constítutivo da humanidade do homem c, ainda assim, ma-
da saúdc nossa príncipal preocupação, acabarcmos docntcs. njfbstapse apcnas num estágio mais avançado do descnvol-
Nós nos tomarcmos hípocondríacos. vimcnta21 Considercm03, por excmplo, outra capacidadc
O caráter autoanulativo incrcntc à busca dircta pclo
prazcr, fbücidadq autorrcaJização, expcriências de píco, 20 Aaron, I. Ungcrsnm, th Smrcbfbr Mcaning: A Ncw Approatlj ro Pyv_djo-
saúdc c consciência tranquila mc traz à lcmbrança aqucla thtmpy mzd Pastoml PsycholotJy, prcñícío dc Viktor E. FrankL Thc Wcstminstcr
Prcss, Filadélña, 19ól.
história scgundo a qual Salomão fbi convídado por Dcus
21 “Eu argumcntar1'a”, añrmn demrd M. Bassis, “quc a “v<›ntadc dc scnrido°
a cxprimir um dcseja Após um momento de ponderação, constitui uma foãrma dc motivação cquivalcntc tanto para as gcraçõcs mais jovcns,
Salomão colocou quc gostaria dc scr um juiz sábio para quanto para as mais vclhas. O problcma parccc scr o thto dc quc só p(›dcmos
inferír a c4\'istc:^nci.1' da “\'(›ntadc dc scntidd a partír dc uma idadc cm quc uma
scu povo. Logo após, Dcus rcspondcuz “Bem, Salomão, criança descnvolva um domínio suñcicnte da linguagcm para corrobomr nossas
cu realizarei seu dcsejo e fãrei de você 0 homem mais sábio observaçõcs. Fcnomenologi'Lamcntc, contud0, as cvídências da “v0ntadc dc
scntidd nos mnis jovcns mc parcccm bastantc convinccntcs. A partir do nasci~
quc já cxistiu. Mas, cxatamcntc, porque você não sc prco- mcnt0, cnvolvc-se num mundo quc, c0nt1'm1;1mcntc, ofkrccc novas maravilhas
cupou em pedir uma vida longa, saúde, riqucza e podcr, cu a scrcm dcscobcrtas, rclacionamcntos a scrcm cxplorados c cxpcrimcnmdos c
atividadcs a scrcm invcntadas. A razão pcla qual a críança, tão avidamcntc,
conccderci a você taís bens cm adição ao quc você já pcdiu.
busca cxpcr1'ências, cxpcrimcntos consigo mesmo c com scu mcio, c sc mostra,
Além dc fàzê~lo 0 homcm mais sábio, cu também tãrci de tão continuamcntc, criativa c inovadora para dcscnvolvcr scus potcnciais huma-

u___56
Vr

tipicamcntc humana, a dc criar C usar símbol()s. Não há hipotético pcnsado por Frankpp ISSO1 Contudm lcvanm a
dúvída dc quc sc trata dc uma c.1'ractcrística do carátcr dc qucstão a rcspcito da lcgitimidadc dc Sc mtlar da vonmde dc
humanidadg apcsay dc quc ninguém jamais viu um bcbê Semido nos tcrmos dc um scinstimo human0”_ Eu não Pcn_
rCCélWMKid0 COm domínio da líng_uagu_n' so assim, por conta dc quc, se cntcndcrmos a vontadc dc
Iá tbi dito quc O Scr humano7 nmanamcntg não Cstá scntido Como mais um instinto, 0 homcm, mais uma vcz,
dircciomdo para o prazcr e para a fclícidadc, cnquanto tais7 dcvcrá Scr visto Como um Scr basicamcnm prcocupado Com
mas aos dcscncadcadorcs dcsscs cfcitos. Isso é mais pcrcep- Scu Cquilíbrio imcma Entãm Obwamcmca cle rcalimria O
tívcl no caso da infblicidmic Imag1'nemos, por cxemplo, scnúdo no intuito de Satisthzcr um instimo dc Scmidoa isto
quc sc otbrcccm comprimidos tranquílizantcs a um homcm é, pam restaurar um Cqu1-líbn-O intcmo_ A rcalização dc Scn_
quc chom o luto sobre a mortc dc alguém amado, a ñm dc U~d07 logo~ Viria não por Sua ñnalidade intrínsccm mas pam
quc sua dcpressão scja aliviada A menos que sc trate dc um um propósito individuaL
cscapismo ncurótico, ccrtamentc, .clc rccusará tranquili- Mas, mcsmo Scm Ora rccorrcr ao princípio da honmosta_
Zapsc dc Scu Pcsar7 añ*'m*'m,d° quc_lsso não muclaria nada? sc, conccbcr a prcocupação primária do homcm nos tcrmos
pOiS a pcssoa amada não Scm tra.Zld_a de VOlta à Vid.a' Em dc um instínto constituiría uma dcscrição inadcquada do rcal
Outms palavms> a mzão Para dâprlfmpsc Cominuaria iguaL ' cstado das coisas. Uma obscrvação não tcndcnciosa do quc
A mcnos Iquc _sc tratc dc um deÍduç ncuróticm clc Se ocorre no homcm quando elc sc orícnta pclo scntido rcvcla~
prcocupam mms Com a razão dc Sua trlstc_za° do quc_com ria a difbrença ñlndamental cntre, dc um lado, scr conduzido
modos dc remçoveluse a dor. Elc será reallsta o SEIflClClltC por um instinto ej dc Outrq lumr Pela rcalização dc alga É
Pam Sabcr _que ÍeChaÉ O_S Olhos am_um fato não fará Com um dos fatos mais imcdiatos da vida perceber que o homem
quc cstc dClXC dc CXISUF E O Clcnnsm” pcnso Cu* dcvcria é impulsionado, cmpurrado pclos instintos, mas reñcado
scr, pclo mcnos, tão reahsta quanto o homcm normalmen- pclo senüdm e isso implica que Sempre Cabcrá a Clc dcddir sc
tc é, cxplqrando lo comnportvamcnto humano no contcxto O Scnüdo dcverá Ou não Ser rcaüzada DessC modoa a rcah~_
dc Scuã rcmcntcs mtcnamimâ _ zação de scntido semprc implicará a tomada dc uma dccisão.
Ha C_Orr0bo_mçã.0 Cmpmca para 0 COÚCCItO d_c Vjomw Logo, cu falo dc uma vontadc dc scntido para cvitar
dc qc SCnUdO7 Ofcrcada _por Crumbaugh C Mah_Oth¡_2 OS uma intcrprctação crrônca do conccito cm termos dc um
quals añrmaram que “a derçãO dos dados cxpcrlmcntals e instinm dc Scmida
dc observação é favorávcl à cxistência do instinto humano Não sc trata, -de modo algum, dc um dcsvio tcrmi-
nológico voluntárío dc minha parte. E bcm vcrdade quc
nos sc dcvc à ”vontadc dc scntido°. Eu dcsaño qualqucr um a obscrvar uma ROHO Mayzs argunlentou que ua abordagcrn Cxistcndal
cmnça dc um ano dc idadc, por um pcríodo dc tcmpo, c, postcr1'0rmentc, . a . C l , . Ca 1 _. l.
cxplic.1r scus cumportamcntos c sua jbie drt 17ivrtnos tcrmos dc satisthção dc crn pSlCOtcrpla reo Oca a pro crnan a t Cusao C L a
ncccssidadcs c rcdução dc tcnsão scm sub-hunmnizar o carátcr humano da
cr1'ança“. Trnbalho não publicado.
33 Jamcs (I. Crumbaugh c Lconard T. Maholick “Thc Casc tbr Fransz 23 Rollo May, “Will, Dccision and R'<.sponsibility”, Revicw afExirtcntial
“Will to M'caning"', Iournal ofExístcntial Psychimnj 41 43, 1963. nychnlogy nnd PJytbiatry l: 249, l961.
59
________kj
U_____58
r

vontadc no ccntro da qucstão” c que “os psicoterapcu- Hojc, as pcssoas cstão poupadas da tcnsão.
tas cústcnciais” cstão “prcocupados com os problemas da Pr1'mciramcntc, cssa falta dc tcnsão sc dcvc à pcrda dc
vontadc c da dccisão, consídcrando~05 como qucstõcs ccn- scntido quc dcscrcvi como “vácuo cxistcncial", ou uma
trais no proccsso da tcrapia”, “justamcntc, a pcdra que os tr'u5tr.'1ção da vontadc dc scntido.
construtorcs do projeto rcjcitaram sc tornou a pcdra an- Num cditorial rctirado dc um jomal do mmpus da
gular”. Contudo, cu gostaria dc acrcsccntar que devcmos University of Gcorgia, Bccky Lee lcvanta o scguintc qucs-
tcr cuidado para quc não caiamos numa prcgação sobrc tionamcntoz “Para as gcrações mais jovens dc hojc, o quão
a vontadc dc podcr, ou quc venhamos a cnsínar sobrc o rclevantc scria Freud ou AdlerP Tcmos a pílula anticonccp-
voluntarismo. A vontadc não pode ser cxigida, dominada, cional para nos livrar das rcpcrcussõcs da satisthção scxual
ncm comandada. Não sc podc criar, artiñc1'almcntc, a von- ~ ncssc scntido, não há motivos para frustração ou inibiçã0.
tadc, e, sc a vontadc dc sentido devc vir à tona, o scntido, E temos, também, podcr - basta obscrvar a atcnção c sen-
em si, deve scr clucidad0. sibilidadc dos políticos americanos à população abaixo dos
Charlottc Bühlcr“ acrcdita quc “o funcionamcnto 25 anos ou testemunhar a ação dos Guardas Vermclhos
saudávcl do organismo está rclacionado a uma altcrnância na ChinzL25 Por outro lado, Frankl afirma quc as pcssoas,
entre descarga c manutcnção dc tcnsõcs”. Eu acrcdito quc atualnlcnte, Vivcm sob um vácuo cxistencial quc se mani-
tal proccsso ontogcnético tem um paralclo ñlogcnética festa, pr1'ncipalmcntc, na forma dc um scntimcnto dc tédio.
Há pcríodos dc aumcnto e dccréscimo dc tcnsão, quc po- Tédioz soa-lhc familiar.> Quantas pessoas que você conhc-
dcm ser obscrvados ao longo da história da human1'dadc. cc rcclamam disso, apcsar dc tcrcm tudo à mã0, incluin-
A Cra dc Frcud foi um pcríodo dc tensão, propiciado pela do o scxo proclamado por Freud e o poder dcfcndido por
rcprcssão scxual cm alta cscala. H0je, vivcmos num tcmpo Adlcr? Talvcz, você sc pcrgunte o porquê. Frankl pode tcr
de alívio c, em particular, na qucstão da liberação do sexo. a rcsposta”.
Em particular, os habitantcs dc paíscs anglo-saxõcs, devi- Não, é claro que Frankl não tcm as rcspostas. Afinal,
do ao Puritanismo, soñcram por um expressivo pcríodo dc não é função da logotcrapia fornccê-las. Sua função rcal sc
tcmpo a rcprcssão scxual cm massa. Como índícado no pri- aproxima mais de uma catá11'se. Tal papcl mc foi bcm des-
mciro capítulo, o scrvíço que Frcud prestou a esscs povos crito por um jovcm amcricano quc cscrcvcu para mim do
foi motivo dc pcrpétua gratidão, gratidão cssa quc pode Vietnã: “Eu não cncontrei ainda uma resposta para minhas
scr cntcndida, também, como fator dc irracional rcsistência pcrguntas sobrc su'a ñlosoña, mas você lançou as bascs para
contra novas abordagens cm psiquiatria quc vão além da que eu mesmo iníciassc um processo pcssoal dc autoanálise
psicanáliso novamc nte”.

“ Charlottc Bühlcr, “Basíc Tcndencics in Human Litbz Thcorctical and 25 N.T.: Rctbréncia ao ativismo militantc dos jovcns quc cncabcçaram a
Clinical Considcraúons”, cm Seín zmd Sinn, cditado por R. Wisscr, Tübingcm Rcvolução CulturaL num pcríodo da história rcccntc da chública Popular da
l960. ChincL

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Ató quc ponto a cducação rcforça o vácuo cxístencial muito comum na Costa Ocstc dos Estados Unidos. Dcsnc-
c contribuí para uma f.171ta dc tcnsâoP Um modelo cduca- çcssárío añrmar quc rcstrinjo minha argumcntação àquclcs
cional quc ainda se guia pela tcoria da homeostasc sc guia quc são rcalmcntc viciados. Os viciados cm LSD agcm com
pclo princípio dc quc o mínímo possível de exigências devc o mcsmo propósit0, dc buscar cmoção, avcntura ou cxcita-
impor-sc aos mais jovcns. Dc fato, é vcrdadc quc não sc çãa Na Inglatcrra, Mods c Rockeryv sc cnñcntam uns aos
devc submcter os jovcns a dcmandas Cxcessivas. Contudo, outros. Em Oslo, 0 vandalismo, h0jc, é contído, Com êxit0,
dcvcmos considcrar o thto dc que, ao menos atualmentc, por pcssoas que, outrora, foram vândalos. Todas as noitcs,
numa cra da sociedadc dc abundância, a maioria das pes- uma dúzia dc voluntários, dc idadc cntrc 14 c 18 anos,
soas sofre mais pcla ñllta de dcmandas, do quc pclo excesso guarda a piscina do Parquc Frogncr, além dc vigiar os bon~
dclas. Essa socicdadc de fartura cxigc dc mcnos, dc modo dcs da cidadc, evitando dcprcdaçõcs. Mais da mctadc dclcs
quc as pcssoas scjam cada vcz mais poupadas dc tcnsãa já fbram hoolgimu “Elcs acham igualmcntc c.w1'ta11tc”, diz
No cntanto, pcssoas quc são poupadas de tcnsão cstão o rclatório sobre o trabalho dos garotos, “cstar do lado da
inclínadas a criá-la, tanto dc modo saudável ou docntio. No lci, ou Contra ela”. Isto é, clcs buscavam cxcitação c tcnsão,
quc sc rcfbrc ao modo swdách parccc-mc- que os csportes a mcsma tcnsão dc que fbram poupados pcla socicdadc.
têm tido 21 função dc permitir às pcssoas quc expcrimcntem A cducação cvita conñontar os jovcns com idcais c va-
c vivam suas necessidades de tensão, pela autoimposição in- lorcs. Elcs são afastados de tudo isso.
tcncional dc cxigências sobrc si, exigências cssas dc que são Há uma característica pcçuliar da Cultura nortc-amerí-
poupadas por uma socicdadc quc pouco as desaña. Mais cana que tcm chamado a atcnção dos curopcus. Rcñro-mc
além, podc-se dizer quc algum tipo de ascetismo também à obscssão dc cvitar 0 autoritarismo c a dirctividadc. Essa
cstá envolvido na qucstão do csportc. Dcssc mod0, não mc preocupação constante pode bem tcr suas origcns no puri-
parccc justiñcado lamcntar, como 0 faiz o sociólogo alcmão tanismo, num autoritarismo moral ou cm um totalitarismo
Arnold Gchlcn,26 que n_ão haja mais um equivalente laíco étic0. Tal postura podc, sim, scr considcrada como uma
para substituir a virtude mcdicval do ascetisma formação rcativa.
Quanto aos modos não saudávcís dc criação de tcn- O tcmor colctivo c obscssivo dc quc scntido c propósito
sã0, particulmmente nos jovens, pcnscmos nos chamados possam ser impostos às pessoas rcsultou numa idi0551'ncra-
bmtníles c hoolgimzx Elcs provocam conthãO com a polí- sia contra idcais c valorcs, quc passaram a scr pcrigosamcn-

cia, no caso dos vicncnscs, ou, no caso dos amcricanos da tc desconsidcrados. Contudo, o chctb do Dcpartamcnto

Costa Leste, brincam dc desviar-se da frcntc de Carros ou de Psiquiatría, Neurologia e Ciências clo Comportamento
da fàculdadc dc Mcdicina da University of Oklahoma, L. I.
dc trcns cm movimcnt0. Esses jovcns arriscam a própria
vida do mcsmo modo quc os viciados cm surfE o fazcm c,
para isso, chcgam até a matar aulas e faltar à cscola, como é
27 N.T.: Os tcrmos “Mod:” c “Rockerf,, no original cm inglês, fàzcm rctcÚ
rêncía a dois tipos rivais de subcultura quc dividiram os jovcns dos anos 60,
principalmcntc na Inglatcrra.
3“ Arnold Gchlcn, AnWopolgoisclje Farsclnngh Rowolt, Hamburgo, l9ól.

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Vf

Wcst,28 rcccntcmcntc, fcz o scguintc comcntárioz “Nossa primciramcntc, é aqucla tcnsão causada por um foco dc di-
juventudc podc, sim, dar-sc ao luxo do idcalismo, porquc mcionamcnta Frcud,31 ccrta vc¡_', añrmou quc “(›s homcns
clcs constjtucm a primcira gcração da sociedadc da afluên- são fo'1'tcs, na mcdida cm quc se posicíonanL com convic-
cia. No entanto, eles não dcvcriam permitir-sc ao matería~ ção, na dircção dc uma idcia f('›rtc”. Dc fato, tal añrmação
lismo - não importa se dc carátcr dialético ou capitalista - fbi Colocada à prova, tanto pclos prisionciros dc gucrra no
por conta dc quc clcs, também, formam a primcira gcração japão c na Corcia do Nortc (Nardini32 c Littonf3 rcspccti-
quc p()dc, com chanccs rcais, assistir ao ñm do mund0. vamentc), quanto por aquclcs dos campos dc concentração
Nossos jovcns têm cducação o suñcicnte para pcrceber quc da chunda Gucrra MundiaL Até mcsmo, sob condiçõcs
só o idcal dc irmandadc humana podc salvar o mundo e normais, uma orientação fbrtc ao scntido constitui um im-
a clcs mcsmos”. Aparcntcmcntc, cles têm cssa cducação. portante agcnte dc promoção dc saúdc, dc prolongamcnto
Pcrnútan1-mc citar uma pcsquisa de opinião pública, con~ c, por quc não, de prcscrmção da vída (Kotchen3*).
duzida pcla Austrian Tradc Union. Oítenta e setc por ccn- Aludirci, agora, a algo quc acontcccu, há um an(›, no
to dos mil e quinhentos jovcns entrcvistados expressaram mmpmda Univcrsity ofCalito'rnia, cm Bcrklcy. Concomitan~
a Convicção dc quc valcria a pcna, dc fato, mantcr idcais. tcmcntc ao início dc uma séric dc manifkstações cstudantis,
Até mcsmo numa cscala de massa, “os ídcais têm tudo a a dcmanda do sctor dc psiquiatria do hospital univcrsítário
ver com a sobrevivência”, isso para, em ch de mencionar rcduziu-sc rap1'damcnte, Voltando a aumcntar após 0 térmi-
rcprescntantes da psicologia profunda, citar alguém que, no das campanhas. Por alguns mcscs, cstudantcs cncontra-
por assim dizcr, também cncabeça nossa “psicologia das ram scntido ncsse movimcnto dc libcrdadc dc c,\'prcss;1“o.
alturas”,29 Iohn H. Glcnn.30 O tcma da liberdade mc fàz lembmr do quc acontcccu
Contrariamente à tcoria da homeostasc, a tensão não comigo mesmo, alguns anos atrás, cnquanto cu dava uma
constitui algo a scr, íncondicionalmentc, evitado, da mes- palestra numa univcrsíd.1'dc dos Estados Unidos. Um fàmo-
ma mancira quc paz dc cspírito ou uma consciência tran- so psicanalista amcricano, tcccndo comcntários sobrc o tra-
quila não devcm scr profeãssadas incondicionalmente. Uma balho quc cu aprcsentara, dissc-me quc acabara de voltar dc
quantidadc sadia de tcnsão, essa tcnsão evocada por um Moscou. Dissc clc ter cncontrado por lá uma mcnor (›cor-
scntido a prccnchcxg é incrcntc ao scr humano c é 'ndispcn- rência dc ncuroscs, cm comparação com os Estados Unidos,
sávcl ao scu bcm~cstar mcntaL Dc quc 0 homem neccssita, acrcsccntando quc tal cvento podcría relacíonar-sc Com 0

33 Louis Jolyon Wcst, “Psychiatry, “Brainwashing”, nnd thc American 3' Sigmund FrcucL Gemmmelte Wtrke, Volumc 10, p. 113.
Chamctcr”, Amerícrm ]our1m1 ofPryclJiatry 1202 842, l964. 32 I. Nardini, “Survival Factors ín Amcrícan Prisoncrs 0fWar”, Amtrimn
39 N.T.: Frankl introduz uma c1'tn'ão
Sv dc ohn H. Glcnn › píloto da Força
S joztrnal ofoyaclJianw 109: 244, l952.
Aérca dos Estados Unidos c tcrcciro astronauta amcricano no cs Lmço.
s Cabc 33 Robcrt J. Liñom “H0mc by Ship: Rcaction Pattcms ofAmcricnn Priso-
lcmbrar o carátcr bcm-humorado da colocação, tcndo cm vista quc Glcnn não ncrs of War chatriatcd ñom North Korea“, Anwrimu jounml ofP›_*VL'biarry
é psicólogo c quc “Psicologia dns Alturas” sc rcfbre a uma ourm mancira dc 1102 732, l954.
alusão à Logotcrapim 3* Thcodorc A. Kotchen, “Existential Mental Hcalthz An Empirical Ap-
50 John H. Glcnn, Thc Dctroit Ncws, cdição do dia 20 dc fcvereiro, 1963. proach”, ]0urmzlofIndividzmlPngchuloqhv16: l74, l960.

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fato dc quc, nos paíscs comunistas, as pcssoas sc cncontram O que se quer dizer por sentido?
mais conñontadas com uma missño a cumprir. “Essa 0bser-
vaçào vai a tàvor dc sua tcoria”, concluiu clc, “dc quc um
dirccionamcnto a um scntido c uma oricntação a uma mis«
são sào importantcs no quc diz rcspcito à saúdc mental”.
Um ano dcpois, cu incluí a tàla do mcncionado psica-
nalista num trabalho quc mc tbí solicitado por um grupo
dc psiquiatras poloncscs. “Vocês sào mcnos ncuróticos do
quc os amcricanos, porquc vocês tôm maís tarcfàs a cum~
prir”, dissc a clcs, ao quc rcspondcram com um sorriso dc
Até aquí, tenho tcntado demonstrar quc a cxistência
s.1*tisfa'ção. “Mas, não csqucçam”, acrcscentci, “que os amc-
vacila, hesita íncerta, a mcnos quc haja por trás dcla - como
ricanos tnmbém prcscrvamm uma libcrdadc para cscolher
Frcud já Colocara - uma “idcia foürtc”, ou um sólido idcaL
suas tarcthsg libcrdadc cssa quc, às vczcs, mc parccc negada
Em outras palavras, para citar Albcrt Einstcinz “0 homcm
21 v0cês”. O sorriso dclcs ccssou.
quc considcra a própria cxistência dcsprovida de scntído
Como scria intcressantc a possibilidadc dc sintctizar
não só é infeliz, como também diñcilmcntc conscguc adap-
Ocidcntc com Oricnte, combinando missõcs à libcrdadc. A
tar-sc à Vida”.
übcrdadc podcria, aJ-', descnvolvcr~sc plcnamcntc. Trata-se
Contudo, a existência não só é intcncional, como
dc um conccito ncgativ0, quc demanda um complcmcnto
também é transcendcntc. A autotranscendência constítui
positiva35 Estc é a rcsponsab1'lidadc, quc possui dois rc-
a essência da cxístêncim Scr humano é ser diraiomdo a
fbrcntcs intcnci01mis. Podc signiñcar um scntido por cuja
algo quc não si mesmo. Por trás dcssc caráter dc outro
rcalização somos rcsponsáveis c, também, podc dizcr rcs~
[0thzmm], para citar Rudolf Allcrs,I também incide a alrc-
pcito a um scr por qucm somos rcsponsávcis. Dcssc modo,
ridadc do refbrcnte intencional ao qual o comportamcnto
o scntido são da democracia torna-sc incompleto, sc c0n-
humano sc rcfcre. Por conta disso é que o “rcino do tran-
ccbcrmos libcrdade scm rcsponsabilidadc
subjctivo”, para citar novamentc Allcrs,2 sc constitui. No
A libcrdadc podc corrompcr-se cm mcra arbitraricda-
cntanto, tem-se tornado moda obscurcccr cssa transubjc-
dc, a mcnos quc seja vivida nos tcrmos dc uma rcsponsa-
tividadc Sob o ingpacto do c.\'istcncialismo, tcm sído dada
bilidadc Eu costumo dizcr que a Estátua da Libcrdadc, na
muita ênthsc no que diz rcspcito à subjctividadc do scr hu-
Costa Lcstc dos Estados Unidos, dcvcria tcr, como complc-
mano. Na vcrdadc, trata-sc de uma interprctação crrônca
mcnto, uma Estátua da Rcsponsabilidadc na Costa Ocste.

1 RudolfAllcrs, “Thc Mcaning of Hcidcggcr”, The Ncw Sdzolam'u'51n 26:


35 O mcsmo valc para muíto do quc sc vê nos movimcntos dc protcst0. 445, l962.
Muitns vczcs, trata~sc dc combatcn ccganlcntc, algo, scm quc se otbreça uma 2 Rud(›lfAllcrs, “Ontoanal\_'sis: A Ncw Trcnd in P5\_'chiatrv_”, Procsedingx of
altcrnativa positiva àquüo contra quc sc luta. tbt Amerimn Catholic Philosnphiml Asxociatiom 1961 , p. 78.

umóó wuw
7

do cxistcncíalisn10. Os autorcs quc prctcndcm tcr superado


Ncssc pont0, podcr-se-ia indicar ccrto risco cm “fun-
a dícotomía cntrc sujcito c objcto parcccm não estar cicn~
dir tàtos c valorcs”, como o quc acontccc nas “cxpcriências
tes dc quc - como uma vcrdadcira anal'isc fenomenológica
dc pico c nas pcssoas autorrcalizadas”,4 já quc, nas primci-
revclaria -, fbra do campo de tensão quc sc polariza no es-
ras, “o “scr, c 0 °dcvcr° sc sobrcpõcm'”.5
tabclccímcnto da rclação sujcíto c objeto, não há cognição, No cntanto, scr humano sígniñca scr cm tãcc dc um
ncm conhccímcnto possíveL scntido a ser prccnchido c dc valorcs a concrctizan Isto
Tais autorcs costumam tàlar em “scr-no-mund0”. No
é, trata~sc de vivcr nesse campo dc tcnsão cstabclccido na
cntant0, para cntcndcr tal catcgoria corrctamentc, devc-se rclação cxistentc cntrc a rcalidadc c os idcais a scrcm ma-
reconhcccr quc ser humano signiñca estar profundamcntc
tcrializados. O homcm vivc por scus idcais c valorcs, c a
cnrcdado cm uma situação c confrontado com um mundo
cxistência humana não é autêntica, a mcnos quc scja vivida
cuja objctívidadc c cuja rcalídadc não sâo prcjudicadas por dc mancira autotranscendcnte.
cssc “scr” que é “no mundo”. A prímcira c natural prcocupação do homcm com o
Prcscrvar essa objctividadc - csse “cara'tcr dc 0utro” scntido c os valorcs se torna amcaçada pclas corrcntcs rci-
do objcto - signiñca salvaguardar cssa tcnsão fundamcn- nantcs de subjctivismo c rclativísmo Ambas as tendêncías
tal quc se estabelccc cntrc sujeito c objcto. Essa tensão é acabam por minar o entusiasmo pclo cultivo dc ideais.
a mcsma quc se ñlnda entrc o “Eu sou” e o “Eu dev0”,3 Dcixe-mc, agora, chamar a atcnção para a seguintc ci-
cntrc 0 rcal c o ideaL entre 0 scr C o scntido. Sc cssa tcnsão tação dc um psicólogo amcricanoz “Charlcs... ñcava par-
devc scr prcscrvada, dcve-se cvitar a idcntiñcação do scnti- ticularmcnte °irritado, - como ele mcsmo dizia - quando
do com o scr. Eu diria quc é o propósito do scntido regular reccbia a conta pelos scrviços de um proñssional como um
a marcha, o ritmo do ser. dentista ou médico, c acabava por faizcr pagamentos in~
Gosto de comparar essa rclação com uma história que complctos, chcgand0, até mcsmo, a não pagar. Mínha ati-
sc conta na Bíblia. Quando 0 povo de Israel vagou pclo dc- tudc pessoal diantc dc dívidas como cssas é bem dífkrentcz
scrto, a bcm-avcnturança dívina scguia à frcntc deles, sob a cu valorizo bastantc pagar minhas contas em dia. Ncssa
fbrma dc uma nuvcm Apcnas assím, poder-sc-ia cntcndcr situaçã0, cu não discuti mcus valorcs pcssoais, focando-mc,
quc os ísraclítas cstavam scndo guíados por Deus. Imagíne- ao invés disso, nos fatorcs psicodínâmicos de seu compor-
mos, no cntanto, o quc tería acontccído se a prescnça divi~ tamcnt0, porquc... minha própría nccessidadc compulsiva
na - simbolizada pcla nuvcm - tivesse permanccid0, não à dc pagar prontaméntc mcus débitos também tem uma mo-
frentc, mas no mcio dclcs. Nessc caso, em vcz de guíá-los, tivação ncurótica... Em nenhuma circunstância, eu, cons-
a nuvcm tcria obscurccido tudo, e 0 povo de Isracl tcria
saído dc seu cminho, cm mcío àquelc céu nublado.
4 Abraham H. Maslow, Eupsychian Mmmgemmt A ]0umal, R Irwin, H0-
mcwood, Illinois, 1965.
3 Víktor E. ankL Pngclmrbtmpy tmd hx'u'tentialixm: Selected Papers on Lo- 5 Abraham H. Maslow, “Lcssons from thc Pcak~Expcricnces”, ]0umul of
gotheragm Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, l9ó7. Humauiytic Pyviclaology 2: l962.

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cicntcmcntc, procuro dírígir ou pcrsuadir O pacicnte a ad0-


dírccionzmm por um idcaL pclo valor, pcla c.\'pcri<.^'1u'i.1' do
tar os mcus valores, já quc cstou bcm convcncído dc quc
bclo, mas sim pcla tcntativa dc supcrar um dcsconccrtantc
valorcs são... relativos... muito mais do quc... absolutos”.6
problcma dc cj.1'culaçã0 prccocc. Esscs dois volumcs nos
Eu, particul.1-rmcntc, acrcdito quc pagar contas dcve
mostram, novzuncnrc, quc a posição básica da psicanálisc
tcr um scntido, índcpcndentcmcntc das motivaçõcs in-
não mud0u”, conclui chschcr.
conscicntcs do sujcito e dc se alguém gosta ou não de pa-
Agora, podemos cntcndcr com quanta propricdadc
gá~las. Gordon W. Aleort, accrtadamentc7 chcgou a dízcrz
VVilliam IrWin Thompson foãrmulou a scguintc qucstãoz
“Frcud fbi um cspccialista naquclas razões e justiñcativas
“Sc os homc-ns mais instruídos dc nossa cultura continuam
quc não podcm scr tomadas 11'tcralmentc, no scu signiñ- a vcr grandcs gênios como dcpravados sob disfhrcc, sc con-
cado aparcntc”.7 O fato dc que razões como cssas existam
tinuam a achar quc todos os valorcs são apcnas bclas ilusõcs
nâo altcra 0 fato dc quc a maior partc das motivaçõcs possa quc sc prcstam a normatizar a colctivídadc dos homcns c0-
scrx'ntcrprct.-1da como sínccra c autêntíca. Ora, sc ncgarmos muns, mas não a dos refinados cicntistas quc sabcm mais
ísso, quc motivaçõcs inconscicntcs cstariam escondidas por do que todos, como podc surprcendcr-nos o fhto dc quc
trás dc tal ncgaçãa> a cultura dc nossa socicdadc tem sc preocupado, Cada vez
Analíscmos, agora, uma rescnha Crítica publicada pelo menos, Com Valores, pcrdcndo-sc numa orgia dc consumo,
Dr. Julius chscher sobre uma obra dc dois Volumcs que crime c imoralidach”.9
um hlmoso psicanalista freudiano escrcvcu sobre Gocthe. Não scria dc sc admirar sc tal cstado de coisas vingassc.
“Ao longo dc suas 1538 páginas”, díz a rcscnha,8 “0 autor Apcnas recentcmcntc, Lawrcncc Iohn HattcrcrlO añr-
nos rctrata um gênío sob a máscara dc um maníaco-dcprcs- mou que “muitos artistas sacm dos Consultórios dc psicotc-
sivo, paranoico, pcrturbado por ataqucs cpíléptícos c por rapia indignados com interpretações dc que clcs cscrcvem
tcndêncms à homosscxua11'dadc, incesto, voycurismo, exibi- porque são Vitimistas resscntidos Ou sadonmsoquistas, ou
cionísmo, teâtíchismq impõtêncía scxual, narcisismo, ncu- dc quc agcm porque são exibicionistas, ou dc quc dançam
rose 0bscssivo-compulsíva, histcria, megalomania etc. Ele porquc qucrcm scduzir scxualmcnte a platcia, ou dc quc
parcce to"car, quasc cxclus¡'vamcntc, nas forças da dinâmica pintam para supcrar - através dc um livrc lambuzar-sc - um
instintíva... quc subjazcm à criação artística. Somos levados treino sevcro para controle dos esñnctcres quando crianças”.
a crcr que [a obra de Goethe] nada mais é do quc o resul- Quão sábio e prccavido fbi Freud ao añrmar quc, às vc-
tado de ñxações pré~gcnitais. Os csfoárços do artista não sc zes, um charuto pode ser apenas um charuto. Ou será que
essa alegação nada mais é do que um mccanismo dc dcfe'5a,

" Jamcs S. Simkín. cm Charlorrc Bühlcr, Valmzr ín nyclwthcmpx Frcc Prcss


(›f(x"lcnc0c. Nova lorquc, l962. ° William Irwin Thompson, “Anthropology and thc Study ot'Valucs”, Mnin
7 Gordon W. Allport, Prrxmmlígv lmd Sorial Enwmztmg Bcacon Prcss, Bos- Currentx in Modzm Thmbtqht l9: 37, 1962.
t0n, 1960. m Lawrcncc John Hattcrcr, “Work Idcntityz A Ncw Psychotherapcutic
“' Julius Heuschcr, “Book Rcvicw”, ]om'¡ml of Existmtialixm 5: 229, Dímcnsion”. Encontro Anual da Assocíação Amcricana dc Psiqlúatnlm Citado
l9ó4. cm Piwchiutric Spectator, Vol. II, 7: 12, 1965.

u_______7° ___u71
V

um modo dc r.-1cionaliz:1r scu hábito como fumantcP Ora, vivcr a vida dc ninguém, cm virtudc do carátcr dc unicida-
tcríamos aí um rLmem in iifiznitum AñnaL não partilho dc da cxistêncía humanzL Ccdo ou tardc, cada scr humano
da crcnça hzcudiana dc quc haja uma “idcntidadc cntre “dc- único morrc, c, com sua mortc, vão-sc rambém todas as
tcrminadd c *motivado””, para citar Maslow,“ quc atribui oportunidadcs irrepctívcis dc rcalização dc scntid0.
a Frcud o “crr0 dc idcntiñcar o tcrmo °dcterminadd com a Acrcdito quc qucm, dc mancira mais clara c concisa,
cxprcssão “motivado pclo 1'nconscicntc”, como sc não hou- cxprcssou Cssa idcia fbi Hilch o grandc sábio judcu, quc
vcssc outros dctcrmínantcs Clo comportamcnt0”. vivcu há quase dois milênios. Dizia clcz “Sc cu não o ñzcr,
Dc acordo com ccrta dcñnição, scntidos c valorcs nada qucm 0 fãráP Sc cu não o ñzcr agora mcsmo, quando cu
mais são do quc fbrmaçõcs rcativas e mccanismos dc dcfcÚ dcvcrci fàzê-lo? E, sc o ñzcr .1'pcnas por mim mcsmo, 0 quc
sa. Quanto a mim, part1'cularmente, cu não cstaria dispos- scrci cu?”. “Sc cu não o ñzcr...” parccc rcftrir-sc à minha
to a vivcr pelas minhas formaçõcs rcatívas, muito mcnos a própria um'cidadc. “Sc~ cu não 0 ñzcr agora...” diz rcspcíto
morrcr cm nomc dc mcus mecanismos de dcfc~5a. à thgacidadc dns oportunidadcs singulares dc rcaJização dc
Mas scntidos c valores são, rcalmentc, tão rclativos c scntid0. “E sc cu o ñzcr apcnas por mim mcsmo...” aponta
subjctivos quanto sc fhz crch Em ccrto scntid0, simã mas para 0 Carátcr autotransccndcntc da cxístência human-.1. À
dc um modo difercnte dos conccbidos pelo rclatívismo c pcrgunta “O quc scrci cu?”, tcr-sc-á a rcspostaz cm mo-
pclo subjetívismo. O scntido é relativo na medida em que mento ncnhum, um scr humano autêntica Isso porquc
sc rclaciona a uma pessoa cspccíñca, quc cstá Cnredada transccndcr-sc a si mcsma é um constitutivo da cxistência
numa situação Cspccífíca. POdC-SC dizcr quc o scntido di- humana. Em tcrmos agost1'nianos, podcríamos dizcr quc o
tkrcg prim<:1'ramcntc, dc homem para homcm c, dcpois, dc coração do homcm não dcscansa até quc sc cncontrc c sc
dia para dia c, dc fhto, até dc hora para hora. rcalizc o sentido da vid:1. Essa añrmação, como vcrcmos
Dc f.1-'to, cu prcñro falar da unicidadc - mais do quc no próximo Capítulo, síntctiza o esscncial do quc cntcndo
da rclmividadc - do scnnd'o. Essc Carátcr de algo único é sobrc a tcoria c tcrapia das ncuroscs quc nomcci dc “n00-
uma caractcrístlta não só dc uma situaçã0, mas da própria gênicas”.
vida como um todo, já quc csta sc aprescnta como uma se- Mas retorncmos à questão da unicidadc do sentido.
quéncia dc símaçõcs únicas. Dcssc modo, o homcm é úni- Do quc já dissc, scguc quc não podc havcr algo como um
co tanto cm termos dc essência como dc existência. scntido univcrsal da Vida, mas apcnas os sentidos únicos
Em última análise, ninguém podc scr substituído, cxa- das situações indíviduais. Contud0, não podemos esque~
tamcntc, cm virtudc dcssc carátcr de unicidadc da essência ccr que, entrc cssas situações, há, também, aquclas com
dC cada homcm. A \r'ida dc cada scr humano é absoluta~ algo cm comum, o que, Conscqucntemcntc, nos lcva a añr-
mcntc singular: ninguém pode rcpcti-la - ninguém podc mar a cxistência de scntidos quc são partilhados por scrcs
humanos, transversalmcntc, nas sociedadcs c, até mais, ao
longo da história. Nessc caso, mais do quc se relacionarcm
“ Abraham H. Maslow, Motimtion tmd Pcrsomzlz'ty, Harpcr & Brothers,
Nova Iorquc. l954, p. 294.
a situaçõcs únicas, esses scntídos dizcm rcspcito à própria

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condkño lmnmna. E csscs scntidos são o quc cntcndcmos é uma conscquêmia do fhto dc quc uma dimcnsão íntci-
por \'.xlorcs. Lugm podcn1-sc dcñnir valorcs como aquclcs m sc cncontra ncgligcmiada. E quc dimcnsão scria cssaP
univcmis dc scntido, quc sc cristalizaram nas sittmçócs tí- Tmmwsc da ordcm hicrárquica dos valorcs. Dc acordo com
picns quc .1 sociuimic - 0u, até mcsmo - a humanidadc tcm M_“; Schelcr, valorar signiñca prcfkrir um valor cm dctri-
dc cntr'cnt.1r. mcnto dc (›utro. Esse é 0 rcsultado final dc sua acurada
:\ prcscnça dos valorcs alivía, dc ccrta tbrma, 0 homem wálisc tbnomenológica dos proccssos dc valoração. A or-
da buscn por scnúdo, porq11c, no mcnos cm sítuaçõcs típi- dcm dc hierarquia de um valor scmprc é cxpcrimcntada
cas, clc é poupado dc ton11.-rdccisócs. Mas - quc pcna - clc Com o próprio valor Cm si. Em outras palavras, a cxpcriêna
também tcm dc pagx por cssc cont0"rt0, p0is, ao contrário Çja dc um valor já implica 0 fàto dc quc clc sc cncontra
dos scntidos unicos pcrtcnccntes a situaçóes únicas, podc numa ordcm rclativa, acima dc outros Valorcs. L0g0, não
ocorrcr quc dois xzüorcs colidam entrc si. Esse choque sc há quc sc taãlar em conflito dc valorcs.
cspclha no psiquismo humano na fbrma dc conflito dc va~
lorcs, quc, cnquanto tais, têm grandc importância na etio~
logia d35' ncuroses noogénicas.

FIGURA 5

Imagncmos quc os scntidos únicos scjam pontos


(ad1m'cnsionais) c quc osyalorcs scjam círcunfcrêmías. É
WM FIGURA 6

comprccnsívcl quc dois valorcs possam sobrcp0r-sc c-ntrc


si; o quc não podc acontcccr com os scntídos únicos (Fi- Contudo, a Lxxpcriência da ordcm lúcrárquicn dos va~
gura 5 ›. Mas dcvcmo~nos pcrguntar sc dois Valorcs podcm lorcs não iscnta o homcm dc tomar dccisõcs. O scr huma-
rcalmcntc colidír, isto é, podcmos qucstíonar sc a analogia no é impulsiomdo por instintosa mas é rcñmdo por \'alo-
com as circunfcréncias bidimcnsíonais cstá corrcta. Não res, cstando scmprc livrc para arcitar ou rcjcitar um valor
seria mais apropriado comparar os valorcs a csfbras tridi- quc sc ofbrccc cm dnda situaçia Isso também vnlc pam
mcnsionais? Duas csfcras, quando projctadas do cspaço a hicmrquia dos va110rcs, cm sua ordcm c.1I'1.1-li/_'ada pclns
tridimcnsional para o plano bídimcnsional, podcm, sim, tradiçócs morais c pclos padrócs éticosz há ainda um tcstc
gcrar duaLs circunfhréncias bidimcnsionais quc sc intcrsco p(›r quc sc passar c csmmos thlando do tcstc da consciência
cionam, mcsmo quc as csftras scqucr sc toqucm (Figura humanm Ism é, a mcnos quc sc sc rccusc a nbcdcccr.-1 cla,
6). A ímprcssãn dc quc dois valorcs podcm colidir cntrc si suprimindo sua v0/.'.

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Agora quc lidamos com 0 problcma da “rclatividadc”


rmln1cntc, cspcra aquilo quc, gcralmcntc, sc chama dc “si-
do scntíd0, dcvcrcmos, ncssc momcnt0, pcrguntar-nos so-
nal divino”.13 Voltci para casa c, ao chcgar1á, cncontrci um
brc scu possível carátcr dc subjctividadc Não é vcrdade pcdaço dc mármorc sobrc a mcsn. Pcrguntci, cntã(›, n mcu
quc, cm última análisc, o scntido ímplica intcrprctaçãoP E, pai do quc sc tratava, ao quc clc rcspondcuz “()h, Viktor,
daí, não scguc quc uma intcrprctação scmprc dcsemboca eu pcguci isso csta manhã, no lugar ondc ñcava a sinago-
cm uma dccisãoP Não há, añnaL situaçõcs quc sc permitcm ga” (cla havia sido qucimada c dcstruídn pclos Nacionais
às mais divcrsas 1'ntcrprctaçol*s, dcntrc as quais sc dcverá es- Socialistas). “E por quc você 0 trouxc consígo?”, pcrgun-
colhcr uma? Uma c.\'pcriônc1'.1' pcssoal por quc passci sugere tci. “P0rque Íbi o quc restou das duas tábuas com os Dcz
quc sim.12 1\43ndamcntos”, rcspondcu mcu pai, mostrando-mc a pc-
Pouco antcs dc os Estados Unidos cntrarcm na Sc- dra Com as inscriçõcs cm hcbraico. “Até lhe digo majs”,
gunda Gucrra MundiaL eu rcccbi um convite da Embai- continuou clc, “sc você cstivcr intcrcssado, posso até lhc
xada Americana Cm Vicna para rcccbcr um visto dc imi- dizcr qual cra o mandamcnto quc cstava cscrito aqui, já
gração para a América. Naqucla época, cu vivia cm Vicna quc cssa lctra, cm particuL1r, só aparccc em um dos dcz”. E
com mcus vclhos país. Elcs, obviamcntg cspcraram apcpas cu, an51'osamcntc, pcrguntcHhcz “Qual dclcs.>”. A rcsposta
quc cu pcgassc 0 visto e, rapicl.1n1cnte, me mudasse para foi: “Honra pai c mãc para quc tcnhas vida longa sobrc a
os Estados Unidos. Mas, nos últimos instantcs, comccci a tcrra”. Na mcsma hora, dccidi ñcar cm Vicna com mcus
hcsitar c pcrguntar a mím mcsmoz “Scrá quc, 1'calmcnte, país c dcixar o visto cxpiran
dcvo ír? Scrá quc cu posso fhzcr isso?”. Isso porquc, dc rc- Você cstaria plcnamcntc justiñcado sc mc disscssc quc
pcntc, mc vcio a idcia sobrc 0 quc sc rescrvava a mcus pais, isso tudo fbi apcnas um tcstc projctívo, isto é, quc cu, do
isto é, quc, dcntro dc poucas scm.1'nas, como indicavam fhndo do mcu coração, já havia fbito minha escolha c quc,
os acontccimentos daquele pcríodo, clcs scriam enviados após isso, tudo o quc ñz tbi projctá-la num pedaço dc már-
a um campo de conccntração ou, ainda, a um campo de more. Mas, sc cu tivessc visto ncssc tr"agmcnto dc pcdra
cxtcrmínia Dcvcria cu, rcalíncntg dcixá-los a sós com tal nada mais quc carbonato dc cálcío, isso também tcria sido
dcstino cm Vicna? Até aquclc momcnto, conscguira pro- o rcsultado dc um tcstc projctivo, mais cspcc1'ñcamcnte,
tegê-los dcssa sortc, pois era o chefb do Departamcnto de a cxprcssão dc um sentimcnto de thlta dc scntido, isto é,
Neurología do Hospital dos Iudcus. Mas, sc fbsse cmbora, daquclc vazio intcríor quc cu nomeci dc vácuo exústcnciaL
a situação mudaria complctamcnto Enquanto pondcrava Dessc mocl0, ao quc tudo indica, scntido é apcnas
sobre minha vcrdadeira rcsponsabilidade naquela situaçào, algo quc projctamos nas Coisas, Coisas cssas quc, em si, sâo
scntia quc aquclc cra o típo dc momento cm quc você, ncutras. E, sob a luz dcssa ncutra11'dadc, o real podc bem
scr apcnas uma tcla sobrc a qual nós projctamos aquilo
quc gostaríamos quc fbssc vcrdadc, como uma prancha de
12 Viktor E. FrankL “Lunchcon Addrcss to thc Third Annual Mccting of
thc Acadcm\_' ochlígíon and Mcntal Hcalth”, ]ourmzl 0fEristmtial nychiaty
4:27, 1963› 13 N.T.: “A hintfãvm Hemwn”, no originaL

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Rorschaclm Sc Íbssc assim, o scntído scria não mais do que
Eu não tcnho objcção alguma quanto n substituir
um mcro mcio dc autocxpressã0, conscqucntcmcntc, algo
o tcrmo “0bjctivo” por uma cxprcssño mais cuidndosaz
profundamcntc subjetiva “
“transubjctivo”, assim como, por cxcmplo, 0 fàz Ach1's.15
Contud0, a única coisa quc se mostra su bjctiva é a pcrs-
E não fhz difcircnçm se cstamos fhlando dc uma coisa no
pcctíva por meío da qual nós abordamos a rcalidadg c cssa
mundo ou dc um scntid0. Ambos são “transubjctivos”.
subjctiviçhdc, cm ncnhum momcnto, prcjudica ou diminui
Quanto qucr quc tcnhamos fàlado dc autotransccndônc¡a,
a objctividadc do rcal cm si. Eu chcguci a improvisar uma
cssa transubjctivídadc tcm scmprc sido prcssuposta. Os
c.\'plic.1'çã0 dcssc fbnómcno para mcus alunos dos scminá-
scres humanos estão scmprc transccndcndo a si mcsmos
rios quc dci cm Harvard. “Olhcm, através das janclas dcssa
nn dircção dc scntidos quc constítucm algo difbrcntc dclcs
sala dc confêrência, a capcla da univcrsidadc Cada um dc
mcsmos, quc são bcm mais do quc mcras cxprcssõcs dclcs
vocês vê a capcla dc um modo d1'tc“rcntc, dc uma pcrspcc-
mcsmos, mais do quc mcras projeçõcs dc si. Scntidos são
tíva dítc'rcntc, dcpcndcndo da localização dc scus asscntos.
descobcrtos; não podcm scr ínvcntados.
No cntanto, sc você, por excmplo, mc disser quc vê a ca- Isso sc Opõc ao argumcnto dc Jcan-Paul Sartrc, quc
pcla cxatamcntc como scu vizinho dc cartcira, cu podcria_ añrma que idcais e valorcs são csqucmatizados c invcnta~
añrmar quc um dc vocês dois cstá alucimnda Mas scrá
_dos pelo homcm. Ou, como o próprio pcnsador costumava
quc a difkrcnça dc pcrspectiva di1nim1i, dc alguma forma, dizcr, 0 homem sc invcnta a si mcsmo. Essa añrmação mc
a objctividadc c a rcalidadc da capclaP Certamcntq não.” traz à lembrança um antigo truque do fãquirismo, cm quc
A cognição humana não é dc naturcza calcidosco'pi- sc joga para 0 alto uma corda, cm cspaço abcrt0, quc pa-
ca. Sc você olha através dc um calcídoscópio, você vcrá rccc ñxar-sc no ar. Após isso, o taiquir pcdc para um garoto
apcnas 0 que já está clcntro do próprio caleidoscópio. Por subir pcla corda.
outro lado, sc você olhar através dc um tclcscópi0, você Scrá quc Sartrc também não nos tcnta faizer crcr quc 0
vcrá algo quc cstará fbra, para_ além do tclcscópio cm si. homcm “pr0jeta” um idcal no nada e que, sustcntado ncs-
E, sc você olha o mundo, ou algo no mundo, você tam- sc nada, ainda assim, o scr humano podc “subir a corda”
bém vê algo mais do quc, digamos, a pcrspcctiva. Não im- e ir ao cncontro da realização dessc idcal c da pcrfbição dc
porta o quão subjctivas nossas pcrspcctivas possam scr: o si? Ora, aquela polar1'dadc, aqucle campo dc tcnsão dc quc
quc é vísto atmvés da pcrspectiva é o mundo objctivo. De 0 scr humano tanto prccisa, Cm termos dc saúdc mcntal c
f11t0, °'visto através” é a tradução litcral para a palavra latina dc intcgridadc moraL ~não podc scr cstabclecid0, a menos
persptctmn quc a objetividadc do polo objetivo seja prcscrvada e quc
a transubjctividadc do scntido scja cxpcrimentada pclo scr
HCtÍ Ian" Níclscm “Linguistíc Philosophy and Bclicfà”, ]0urmzl ovaístnr humano quc tcm dc rcalizar cssc scntido.
rialísm ó:~1-21, l9óó, ondc sc lê quc “a vída não tcm um scntido quc cstá aí
p.1ra scr dcscobcrtm mas podc, sim. possuir qualqucr scntidu quc nós dcrmos
n cla". 0 umor sc ancora numa decl.-1ração scmclhantc fbita por A. J. Aycr, 15 RudolfAllcrs, “()ntoanalysis: A Ncw Trcnd in Ps_vchiatry”, Prortedirkmx
“Dcistic Fal'l.1cics”, PolvmicI 19, 1946. aftlje Amzrimn Catholic Phíloxophiml Asxotíatz'0n, p. 78, l961.

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Essa transubjctividadc é, dc t.1"to, cxpcrimcntada pclo
Mas 0 único jcito dc lcr a pcrgunm era 0 jcito ccr-
homcm, c isso sc torna cvidcntc pcla fbrma como clc mcs- to_ Apcnas um modo dc lcr a pcrgunta foi tcncionado por
mo faln da própria c.\'pcriéncia. A mcnos quc sua autocom-
qucm a tbrmuloLL Dcssc modo, chcgamos a uma conclu-
prccnsão scja distorcída por padrõcs pré-c0nccbidos dc in-
são sobrc 0 quc sc dcve cntcndcr por “scntido”. Smtido L"
tcrprctação ~ pm não dizcr dc dourrinação -, 0 homem sc
0 quc ss tenci(mn,'7 scja por uma pcssoa quc mc pcrgunta
rctbrc ao scntido como algo a sc cncontrar, não como algu-
31g0, scja por uma situação quc cnccrra uma pcrgunta c
ma coisa a scr invcntada. Uma análisc tbnomcnológica quc
clama por 1'csposta. Eu não posso dizcr algo comoz “Ccr-
sc proponha a dcscrevc1', dc modo cmpíüco c scm dcsvios, ta ou crrada, cssa é minha rcsposta”, como os amcricanos
tal cxpcriência nos mostnuú quc, na rcalidadc, scntidos são
diZcmz “Ccrto ou crrado, cssc é mcu país”.15 O quc dcvo
cncontmdos, não cr1'ados. Aliás, cu diria quc, sc pudcrmos
fàzcr é tentar, ao máximo, cncontrar o vcrdadciro scntido
pcnsar quc scntídos são “criados”, cles não scriam criados
das perguntas quc mc são fbrmuladas.
dc mancira .1'rbit1'ári.1^, mas a partir do modo como as rcs- Na verdadc, o homcm é livrc para rcspondcr a cssas
postas sâo dadas. Isso qucr dizcr quc, para cada pergunta, pcrguntas fbitas pcla vida. Mas cssa libcrdadc não podc
só há uma rcsposta: a ccrta. Só há, vcrdadciramcntc, um
scr confhndida com arbitrar1'ecladc, mas intcrprctada sob
scntido para cada situação vivida. o prisma da rcsponsabi11'dadc. O scr humano é rcsponsávcl
Em uma de minhas palcstras pelos Estados Unidos, tbi por dar a resposm ccrm para as pcrguntas, cncontrando 0
solicitado à platcia quc mc cnviasse pcrguntas cm pcqucnos Verdadeiro smtido dc uma situação. Sentido é algo a scr
papéis; um tcólogo Hcou rcsponsávcl dc colhê-las e cntrcgá- cncontrado c dcscobcrto, não podcndo scr criado ou in-
-las a mim. O dito rapaz, cm dctcrminado momcnto, sugc- vcntad0. Crumbaugh e Maholick19 apontam quc 21 dcsco-
riu quc cu pulassc uma pcrgunt.1', porquc, como ele dissc, bcrta do sentido dc uma situação vivida se rclaciona a uma
“nã0 fhzia 0 mcnor scntido”: “Alguém dcscja saber como pcrcepção gestáltíca. Essa hipótcse se coaduna com a añr-
você dcñnc scisccntos [600] cm sua tcoria da cxistência”. mação dc Werthcimer, um dos mcmbros da Escola da Gcs-
Quando cu li a pcrgunta, cu vi um difcrcntc signiñcada talt “Uma situação, como c7 + 7 = ?,, constitui um sistema
“Como você dcñnc Dcus [GOD] cm sua tcoria da cxistên- portador de uma lacuna. É possível prccnchcr csse espaço
cia?”. Escritas cm lctra dc fbrmag as palavras Deus [GOD] vazio dc var'ias manciras. O complemento 4142 no cntanto,
c scisccntos [600] cram dc diñcil difeàrcnciaçãa Bom, não corresponde à situação, enca1°xa-se na lacuna, atcnde ao quc
tcria sido isso um tcstc projctivo não intcncionalP AñnaL o é cstruturalmcntc cxigido ncssc sistcma, nesse lugar, com
tcólogo lcu “600”, c o ncurologista lcu “Dcus”.ló

'7 N. T.:*Mr“aning is what ix mmnt”, no originaL


"” Algum tcmpo dcp0i3, cu mcsmo ñz uma cópia do rcfcñdo pach trans- “* N. T.: “My country mght or wrtmg”, no originaL Rcfbréncia a um dos
tbrmando-o cm um Ilidt, quc, postcrx'ormc¡1tc, mostrci a mcus alunos amcrica- maiorcs lcmas do patríotismo cstadunidcnsc, formulado por Stcphcn Dccatun
nos na Univcrsidadc dc Vicna. Acreditem ou nãoz nove estudantcs lcram “600”, também atribuído a Carl Schur7..
outros novc lcram “GOD”, c quatro dcles não conscguimm sc dccidir sobrc 1° Iamcs C. Crumbaugh c Lconard T. Maholick, “Thc Casc tbr FranLl'”s
uma das duas intcrprctaçócs. “Will to Mcaning'”, ]0urmtl ofExixtmtiul Pyychiatry 42 43, l9ó3.

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P

sua fu'nçâo no t0d0. Outros complcmcntos, como °15,,


A conscíência, logo, tcm o podcr dc dcscobrir scntidos
não sc cnc.1-i\.'am, não são os corrctos. Chcgamos, aqui, ao
únicos qua contradizcm valorcs cstabclccidos. O Manda-
conccim dc cxçígéncim dzz sítzmçáo, à idcia dc mwíter de
mcnto quc CLI acabci dc citar é scguido por outroz “Nã(›
nccesyidmía ”E.\'ígências° dc ral ordcm possuem uma quali~ comctcrás adultério”. () quc mc vcm à mcntc, ncssc con-
dadc ()bjctiva”.” tcxto, é a hístória dc um homcm, quc, junto dc sua jovcm
Eu já mcncioncí quc o scntido não podc ser dado ar~ csposa, tomou-sc prisionciro cm Auschwitz. Essc homcm,
birmriamcntc, mas dcvc scr encontrado rcsponsavclmente. após ser libcrtado, contou-mc quc, quando clc c a csposa
Eu podcría, também, dizcr quc clc dcvc ser buscado Cons- chcgaram ao Campo dc conccntração, scntiu uma ncccssi-
cícntcmcntc. Dc fht0, na busca pclo sentido, 0 ser humano dadc súbita c urgcntc Clc pcdir à sua mulhcr quc sobrcvivcs-
c' guiado por sua consciência. Esta podc scr deñnida Como sc “a qualqucr custo - você entcnch A qualqucr prcç0...”.
a capncidguk íntuitíva do homcm para cncontrar 0 scntido A csposa cntcndcra o quc clc quis dízcrz cla cra muito
dc uma situação, scntido cssc que - scndo, scmpre, único bela, c podcría havcr a chance de quc, num futuro próximo,
- não sc submctc a uma lci gcraL Uma capacidadc intuitiva cla pudcssc salvar a própria vida, concordando cm prosti-
dcssa ordcm Constitui o único meío para sc aprcendcr..as tuir-sc entre os oñciais da SS. Sc uma situação como cssa
fknunaçoks gcstálticas do sentído. Avicssc a acontcccr, o csposo já qucria dar a cla sua rcmis-
Além dc intuitiva, a consciência é, também, cria~ 5ã0, como que dc maneira adiantada. No últímo momcn-
tíva. Rcitcmchmcntc1 a consciêncía do indívíduo o guia to, a Consciência dcssc homcm o impcliu a dispcnsá-la do
a thzcr algo quc Contraria o que é moralmentc cstabe- Mandamcnto “Não comctcrás adultéri0”. Ncssa situação
lccido pcla sociL-*dadc a que pertcncc, digamos, por sua única - c, dc fa~to, absolutamcnte única -, o scntido único
“tríbo”. Suponhamos uma tribo dc canibais; a consciên- o fcz abandonar o valor univcrsal da ñdclidadc conjugaL
cía dc um de scus mcmbros, cm seu Caráter críativo, dcsobcdecendo a um dos citados prcccitos, dos Dez Man-
podc bcm dcscobrir quc, cm dada sítuaçã0, é possívcl ha- damcntos. Dc fa'to, cssc acabou, também, scndo o único
vcr mais scntido em poupar a vida de um inimigo do que modo dc conservar obcdiência a outro dos Dcz Manda-
cm matá-l(›. Dcssc modo, a partir dos ditamcs da cons- mcntos: “Não matarás”. Não dar à Csposa sua rcmissão 0
ciência, p0dc-se muito bem Começar uma revolução, teria tornado corresponsável pcla morte dela. H0jc, VÍVC-SC
quando um scntído úníco toma-se um valor univcrsalz uma era dc csgotamcnto c dcsaparccimcnto das tradiçÕcs.
“Nño matarás°Í O sentído único dc hoje é 0 valor univer- Dcsse m0d0, em vez dc novos Valores scrcm encontrados
sal dc amanhaí É desse modo quc as rcligiõcs são criadas através dc scntidos únicos, 0 invcrso 0corrc. Valorcs uni-
c quc (›s valores cvoluem. Versais cstão em declínia Por isso, cada VCZ mais pcssoas
são tomadas por um scntimento dc falta dc propósito, ou
dc vazio, ou pclo que Costumo chamar de vácuo existcn-
JtWA1.Wc:rthcimcr, “Somc Problcms in thc Thcory 0fEthics”, cm Dommmts ciaL No cntanto, mesmo sc todos os valorcs univcrsmà dc-
uf(›"rsmlt PD_'[ÍJ()ÍQH_V, cditado por M. chlc, Univcrsity of Calítbrnia Prcss,
Bcrkclcy. l9ól. saparcccsscm, a vida continuaria cheia dc sentid0, já quc os

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V

scntidos únicos pcrmancccm intactos mcsmo com a pcrda A vcrdadcira consciéncia nada tcm a vcr com o quc cu
das tradiçocs': Dc fato, sc o homcm dcvc cncontrar scntido chamaria dc “pscudomoralidadc do supcrcgo”, tampou-
até mcsmo numa cra quc não cultiva mais valorCS, clc dcvc co podc scr subsumida a um proccsso dc condicionamcn-
cstar proxido com a plcna capacidadc dc sua consciéncia. to, Esramos falando dc um fbnómcno propriamcntc
Logo. cm nosso tcmpo - 1s'to é, na cra do vácuo cxistcn- humano. Mas dcv0, também, acrcsccntar quc sc trata
cial -_. parccc quc o papcl da cducação, mais do quc trans~ “mcramcntc” dc um fcnómcno humano. Isto é, quc cstá
mitk tradiçoc°s c conhccun'cntos, dcvcria ser o dc rcñnar a sujcito à condição humana, marcada pcla ñnitudc. Asx v-c-
capacidadc humana dc cncontrar scntidos únicos. A cduca- zcs, na busca pelo scntido, a consciéncia podc, também,
ção dc hojc não podc rcduzir~sc à rcprodução, unicamcntc, “dcscncaminhar” o homem. A mcnos quc scjamos pcr-
do pcrcurso das tradíçõcs,- dcvc, sim, cncorajar c dcscnvol~ fcccionistas, dcvcmos accitar a fhlibilidadc dc nossa cons-
vcr a capacidadc individual da tomada dc dccisõcs autén~ ciéncia,
ticas c indcpcndcntcs. Xuma cra cm quc os Dcz Manda- É vcrdadc, o homcm é um scr livrc e rcsponsách
mcntos parcccm tcr pcrdjdo sua mlidadc incondicional, o Mas sua liberdadc é ñnita. A libcrdadc humana não é oni-
scr humano tcm dc aprcndcr, mais do que nunca, a ouvir potcntc. Da mcsma fo"rma, a onisciéncia não é possívcl à
os dcz mil mandamcntos rclacionados às dcz mil situaçõcs consciéncia humana, tanto cm tcrmos morais quanto cm
singularcs nas quajs sua vida consistc Quanto a tais manda- tcrmos cognitívos. Nunca podcmos sabcr, por intcíra cer-
mcntos, o scr humano dcvc rcportar-sc à sua consciéncia, tcza, sc nos dcdicamos ao scntido vcrdadcira Não sabcrc-
conñando a cla scu papcl dc guia. Uma conscíéncia vívi- mos ncm cm nosso lcito dc mortc. gInommm et gínartzl7i-
da c ativa constituL também, a úníca coisa quc capacita o mus - não sabcmos e jamais sabcrcmos -, como Emil Du
homcm a r651$'t1r' as\ conscquéncias do vácuo cx1$'tcncial, a Bois-Reymond21 uma vcz 0 colocou, ainda quc num Con-
sabcr2 o conformismo c o totalítarismo (\'cja a página 83 ). tcxto Complctamcntc difcrentc do problcma psicoñsico a
Vivcmos uma cra dc afluéncia, cm muitos aspcctos. Os que sc rcfcriu.
mcios de comunicação cm massa nos bombardciam Com Mas sc o homcm quiscr ser ñel à sua humam'dadc,
muita intbrmação, dc modo quc dcvcmos nos protcgcr de dcvc obcdcccr, incondic1'onalmcntc, à própria consciência,
tais csu'mulos, ñltrando-os, por assim dizer. Muitas possibi- ainda quc saiba da possibilidadc dc crro. Eu diria quc a
lidadcs nos são 0fcrccidas, c devcmos fazcr nossas cscolhas possibilidude de ermr não 0 dispcnsa da necessizínde de tmr
dcntrc clas. Em rcsumo, dcvcmos dccidir sobrc o quc é ou tur. Como já disse Gordon W. Allport: “Podcmos cstar, ao
não esscnciaL
Vívcmos a cra da püula. Possibilidadcs scm prcccdcn-
31 N.T.: Fisiologista alcmão ( 1818-1896), considerado o pai da clctroñsio-
tcs sc aprcscntam a nós, C, a mcnos quc quciramos afun- logia. A max'ima citada por FrankJ diz rcspcito aos chamados “sctc cnigmas do
dar-nos Cm prom1'scuidadc, dcvcmos scr sclctivos. Selcti- mundo”, na lista dos quais - añrmando scu ponto dc vista quanto aos limitcs
do conhccimcnto - Bois~Rcymond incluiu o problcma da consciência, añrman-
v1'dadc. contudo, bascia-sc na rcsponsabi11'dadc, isto é, na
do quc qualqucr cxplicação atual ou Futura sobrc o assunto, tanto cm contcúdo
tomada dc dccisocs" dc acordo com a consciéncia. quanto cm on'gcm, rcsultaña malograda.

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mcsmo tcmpo, mcio ccrtos, ainda quc sinccramcnte e dc Or.1-_ mas, mcsmo quc dcsconsidcrásscmos cssas mi-
Coração intciro”.22 nhas .1'ñrm^.1çõcs, o pnãprio juramcnto hipocrático ohrigaria
A possibilidadc dc crro da mínha consciêncm implica o médico a agir no scntido dc prcvcnir um possívcl suicídio
a possibilidadc dc accrto dc outra conscíôncia. Humildadc do pacicnm Eu, part1'cularmcntc, sinto-mc tbliz cm assu-
c nwdéstia, aí, sâo dc grandc \'ali;l. Sc cu dcvo buscar scn- mir a Culpa dc scguir uma linha dircti\-'a dc trabalhm no
tído, tcnho dc cstar ccrto dc quc há scntido. Sc, por outm scntido dc uma visão dc mundo ( Wclttzmcbaumgzj añrma-
Iado, não cstivcr ccrto dc quc vou cncontráJo cm dctcrmi- tiva da vida, quando qucr quc cu tcnlm dc mc dcfmntar
nada .s'ituaç.1'"o, dcvo scr tolcmntc ch:1, dc modo algum isso com pacicntcs potcncialmcntc suicidas.
implica qualqucr tipo dc indifbrcntism(›. Scr tolcrantc não Como rcgra, no cntanto, o psicotcmpcuta não dcvcrá
signihka quc cu dcva pnrtilhan neccssariamcntc, da Crcnça impor uma Hblmnscljtzuzmg ao pacicntc. () l(›gotcr.-1pc-L1ta,
dc outm pcssoa. Sígm'ñc.1', na \'crdadc, quc cu rcconheço 0 ncssc scntido, não é cxccçãa Ncnhum logotcrapcuta añr-
dircito dc outro homcm acreditar na própria consciência c mou quc tcm as rcsposta5. Não tbi um logotcrapcutm mas
obcdcccr a Cl.1'. “a scrpcntc” quc dissc à mulhcr “v0cê scrá como Dcus,
Daí scguc quc um psicotcrapcuta não dcve ímpor va- quc conhccc o ch c o Mal”. Nenhum logotcrapcuta tcvc
lorcs ao pacicnto Estc dcvc consultar a própria consciência. a prctcnsào dc sabcr o quc é um valor ou não, ou o quc
E sc mc pcrguntarcm - como scmprc o ÍàZCm - sc cssc tipo tcm ou não scntido.
dc ncutralidadc dcvcria scr mantido até mcsmo no caso dc Rcdlich c Frccclman23 rcpudiam a logotcrapia como
um Hitlcr, cu rcspondcria quc sim, uma vcz quc tcnho cer- uma tcntatíva dc dar scntido à vidn do pac\<___Jicntc.Na vcr-
tcza dc quc Hitlcr jamais sc tcn'a transfbrmado no quc sc dade, 0 oposto é quc é vcrdadcír0. Eu não mc canso dc
tramtbrmou sc não tivcssc mprimído intcriormcntc a voz dizcr quc sentido dcvc scr cncontrado, não dado“- muito
da própria c0nsc1'ência. mcnos ainda pclo teratpcuta.25 O pacicntc dcvc cncontrar
Não é ncccssário dizer quc, cm casos dc cn1ugêncía, o scntido cspontancamcntc. A logotcrapia não avia rccci-
0 psicotcmpcuta não prccisa sc mantcr ñcl a cssa ncutra- tas ou distribui prcscriçócs. Apcsar dc cu scmprc procurar
lidad<3. Em thcc dc um risco dc suicídio, ó pcrfhfamcntc cstlarcccr tal tcma, a logotcrapia é rcitcradamcntc .'1cusada
lcgítimo intcrvír, uma vcz quc apcnas uma consciência dc “impor scntido c propósitos”. Curioso é quc ninguém
cquivocnda levnria uma pcssoa a comcter suicídio. Essa acusa a psimnálisc frãcudianm quc sc relncionn com a vida
añrnmção sc coaduna com a minha crcnça dc quc, tam- scxual dos pacicntc5; dc pr0\'ê-los dc p-.1rcciros amorosos.
bóm, somcnte uma consciência cquívocada guiaria alguém
a comctcr homicídio, 0u - mais uma vez, rcfcirindwmc a
33 l-'. (Í. Rcdlich c Dnnicl X. Frccdm.1n, Tllr 1'l'mn_'vaud Pmcíicr l)fP,\'\_'(/1Í(If7_'1',
Hitlcr - gcnocídio. Basic B()oks, Nova I()rquc, l966.
HViktor li. 1-'r.1-nkl, “'l'hc Conccpt of Man in Logothcrapy“, jozmml uf
Exisrmrinlixm ó: 53, 1965.
'~'- Gordon W. Allp()rr, “Ps\.'chological \¡'Iodcls fbr Guid.1-ncc”, Hmwmi 25 Víktor E. FrankL “L0g0thcmpy and E.\'istcntial Annhjsiss - A RC\'ic\\'”,
1:'n'umtio›mlRtvirw1 32: 373, 1962. Amcrícml ](HH'I¡IIÍ ofPsyrclwtljsmpy 20: 252, l9óó.

___“_______US7
V

Ninguém acusa a psicologia dc Adlcr, quc sc prcocupa com


zação do scntido, não importando se sc trata do scntido da
a Vida socinl dos p.-1cicntcs, dc provê-los dc cmprcgos.
Vida desta ou daqucla pcssoa.
Por que, cntão, a logotcrapia, quc sc intcressa pclas
É vcrdade quc nós, logotcrapcutas, sabcmos quc, sc
aspüaçócs c fr~ustraçõcs cxistcnciais do pacic11tc, é acusada
tbr nccessári0, podcrcmos tcntar pcrsuadir nossos pacicn-
dc “d.'1r scntido”?
tcs dc quc há um scntido a scr rcalizada No cntanto, ja-
Essa .-1cus.1*ção é ainda mais diñcíl dc sc comprccndcr
maís tcrcmos a prctcnsão de dizcr qmtl écssc scntido para 0
quando sc lcva cm conta 0 fàto dc quc até a qucstão da
pacícntc O leitor dcvc pcrccber quc chcgamos ao tcrcciro
descobcrm do scntido constitui uma prcocupação rcstrita
princípío da logotcrapia - juntnmentc com a libcrdadc dc
no campo das ncuroscs noogênicas, as quais somam apcnas
vontadc c a vontadc dc scntido -: o scntido da Vida. Em
Vintc por ccnto da casuística dc nosso trabalho clínic0. Ra-
outras palavras_ nosso argumcnto é o dc quc há um scntido
ramcntc há problcnms com o scntido Ou Conflito dc val()-
para a Vida - isto é, um scntído pclo qual 0 homcm scmprc
rcs cnvolvídos no uso da intcnção paradawal - uma técnica
estcvc a buscar - c dc quc o homcm tcm a libcrdadc dc
da logotcrapia dcscnvolvida para o tratamcnto dc neuroscs
cngajar-se, ou não, na realização dcssc scntido.
psicogênicas.
Mas Com quc rcspaldo podemos admitir a idcia dc
Não é o praticantc da logotcrapim mas o da psicahá-
quc a vida, incondic1'onalmente, é - c pcrmanccc - plcna
lísc, quc, para citar novamcntc um trccho do Inremati0-
dc scntid0? Ora, 0 rcspaldo quc tcnho cm mcntc não é
mll ]om'mzl UfPJJTÍWPAHlZÍjKíL “é, primciramcntc c antcs moralista, mas, simplcsmcnt(:, cmpírico - na accpção mais
dc tudo, um 11101'.^11ism”, quando “influc~ncia as pcssoas a
ampla da palavra. O quc prccisamos fazcr ó nos voltar para
cuidarcm da própria conduta ética c moral”.2° Pcssoalmcn- o modo através do qual 0 homcm c0mum, o homcm da
tc, cu acrcdito quc essa dicotomia moralista cntrc egoísmo rua, cxpcrimcnta os sentidos c os valorcs c traduzir tais e.\'-
c altruísmo já é ObSOlCta. Pcnso quc o cgoísta só podc sc pcriências cm linguagcm cicntíñcax Um cmprccndimcnto
bcncñciar ao considcrar c rcspcitar a altcr1'dadc, c quc o dcssa naturcza, eu diria, é, prec1'samcntc, o quc dcveria scr
altruísta, por sua vez, para ó bcm dos 0utros, dcvc scmprc lcvado a cabo por aquilo quc chamamos dc fbnomcnolm
cuidar dc si mcsmo. Orn, cstou ccrto dc quc a moral no gia. Da mcsma forma, a tarcfa da logotcrapia é a dc “rctra-
sentido antigo cm brcvc cedcrá espaço para quc a pensc- duzir” 0 quc sc aprecndcu dcssas análiscs fbnomcnolo'gi-
mos cm tcrmos ontológicos. Scrá considcrado bom aquilo cas numa linguagcm simplcs, a partir da qual podcrcmos
quc nos lcva à rcalização do scntido rcclamado pcla nossa orientar nossos pacícntcs a rcspcito dc como clcs, também,
rcalidadc ontológica c mau aquilo quc obstaculiza a rcalí- podem cncontrar scntído na Vida. Não sc dcvc achar, logo,
quc a prática clínica se bascic cm discussõcs tcórico-ñlosó-
ñcas com os pacicntcs. Há outros mcios através dos quais
3° F. Gordon Plcunc, “All DísJiasc Is Not Discascz A Consídcmtion of clcs podem cntcndcr quc a Vida se mostra potcncialmcnte
Psyclw~Anal\_'sis, Psyclmthcmpy and Psx_'cho-Social I:'ng1'nccn'ng”, Iurernntimml
journal ofoyrbmAnalysix 462 358, 1965. Citado cm ngsxt uf Ncuroloyy and signiñcativa sob quaisquer circv.mstâncias. Eu mc lcmbro
Pnjrhiany 34: I48, 1966. bcm de quando um homcm, após uma palcstra quc Fui

Kuá______88 Muw
V

Convidado a profbrir numa univcrsidmic dc Nova Orlcans, rc ao quc O homem dá ao mundo, sob a forma dc suas
mc abordom dizcndo quc só queria apcrtar minha mão c “obras”, dc suas críaçõcs. O scgundo sc rclaciona ao quc
mc agradccan Ora, elc Cra um autêntico homcm “da rua”: o homcm recebrz do mund0, cm tcrmos dc cncontros c cx-
trabalhavn na construção civil C, antcri0rmcntc, cstivcra na pcriências. Por ñm, o tcrcciro diz rcspciro à atimde que se
cadcía durantc onzc anos. Ao longo dos dias dc cárccrc, tomzz, à postura quc se adota diante da vida, quando sc é
clc mc contou quc a única coisa quc o sustcntou cm seu dcfrontado com um dcstino quc não sc podc mudar. É por
íntimo fbi a lcitum dc Mmzíc Smmhfbr Memzing, um livro cssa razão quc a vida nunca ccssa dc abrigar um scntid0,
quc clc cncontrara na biblioteca da prisã0. A logoterapia, já quc até mcsmo uma pcssoa quc sc cncontra privada dc
portant0, não é, mcramentc, uma ocupação tcórica. valorcs de criação ou de cxpcriência é, ainda, dcsañada por
O logotcrapcum não é ncm um moralista, ncm um um scntido n prcenchcr, isto é, pclo sentido incrcntc a um
intclcctuaL Scu trabalho sc bascia cm análises Cmpíricas, modo reto e digno de vivenciar o próprio sofr“1'mcnt0.
isto é, fcnomcnológicas, c uma análisc fbnomcnológica da A título dc ilustração, cu gostaria dc citar 0 Rabíno
cxpcriência valorativa do homem sírnplcs nos mostra que se Earl A. Grollman, quc, ccrta vcz, rcccbcu um tclcñmcma
podc cncontrar scntido na vída, prcpondcrantcn1cntç, no dc uma scnhora quc morria dc uma docnça incurách a
dcdicar-sc à críação dc uma “obra”, dc uma boa ação; ou na qual lhe pcrguntouz “C0mo cu posso encarar a idcia da
cxpcriência da bondadc, da vcrdadc, da bcleza, na naturcza mortc e sua rca11'dade?”. O rabino nos disscz “Eu c cssa sc-
c na cultura; ou, por último, mas não mcnos 1'mp0rtantc, nhora convcrsamos cm várias 0casiõcs, c cu, Como rabíno,
no cncontro dc outro scr humano, em sua genuína unici- aprcscntei a cla muitos dos nossos Conceítos sobrc imorta~
dadc - em outras palavras, no amor a outro ser humano. lidadc ñmdados em nossa fé. Num momcnto postcrior, eu
Contud0, a cxpcriência mais nobre do scntido sc reser- também mencionci a idcia dos valores de atitudc, do Dr.
va àquclas pcssoas quc, privadas da possibilidadc do traba- FrankL Nossa discussão tcológica, cm boa pa1'tc, não a ím-
lho ou do amor, escolhem livrcmcntc uma atitude añrma- prcssionara muito, mas o conccito de valorcs dc atitudc a
tíva da Vida, erguendo-se por sobre si mcsmas c crcscendo deixou curiosa, cspecialmente quando cla soube quc 0 üm-
para além dc si. O que importa, nesse caso, é a postura quc dador desse conccito fora um psiquiatra quc já havia sido
sc dccidc tcr, a atitudc quc pcrmitc, her<>1°camcntc, trans- prisioncíro num campo dc conccntraçãa Essc homcm c
formar a miséria dc um soñimcnto incvitávcl numa con- seu cnsinamcnto prcndcram a atenção dela, cspccialmcnte
quista, num triunfh porquc ele conhccia bem mais do quc uma aplícação tcó-
Se alguém prcfcárin ncssc contexto, falar dc “valores”, rica do sofrimento. Ela decidiu, ali mcsmo, que, já quc cla
dcvem~sc disccrnir, aí, três grupos principais dc vaJores. Eu não podcria csquivar~sc dcssc sofr~1'ment0 inescapách cla
os chssiñquci com os scguintes nomcsz valorcs dc criaçã0, mesma dcterminaria o modo por mcio do qual cla cnfr'cn-
valorcs dc expcríência c valorcs dc at1'tudc. Essa scquência taria a docnça. Ela sc tomou um monumento dc fbrça para
rcfletc as três principais vias através das quais o scr humano aquclcs que a amavam, pessoas cujos coraçõcs sc encontrm
cncontm scntido Cm sua vida. O primciro grupo sc rcfc- vam marcados pela dor. A princípio, fbi um desaño, mas,

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V

com 0 dccorrcr do tcmpo, o invcstímcntu ncssa atitudc


mcramcntc, o sofrimcnto dc uma docnça curách dc um
fbi sc tornando mais fbrtcn Ela mc conñdcncíouz °Talvcz,
cánccr opcrách por cxcmplo, não rcndcna' scnúdo algum.
0 mcu único ato dc imorralídadc cstcja no modo mcsmo 0ra, tcríamos, aí, uma forma dc mamquns'mo, não dc
como cu vcnha a cnfrcntar toda cssa advcrsídadc. Mcsmo hcr0ísm0. Procurarci csclarcccr mais o assunto, por mcío
quc minha dor scja, às vczcs, insuportávcl, atíngí uma cs- dc um cxcmplo mcnos absrrato. Ccrta vcz, cu vi um anún-
pécíc dc paz intcrior c contcntamcnto quc nunca conhcci cio quc trazia o scguintc pocma (cuja tradução ao ingks'
antcsÍ Ela morrcu com dignidadc c hojc é lcmbrada cm dcvo ao mcu amigo Joscph B. Fabry):”
nossa comunidadc por sua indomávcl coragcm”.
Cnm calma c em paz, accítc
Não tcnho a prctcnsão dc, ncssc contcxto, aprofun- Aquilo quc 0 dcstino lhc ímpós
dar a rclação cxistcntc cntrc logotcrapia c tcologia.27 Essc Mas, quanto aos pcrccvcjos, não sc acomodcz
assunto cstá rcscrvado ao último capítulo dcstc livr0. Por Procurc ajuda com a RoscnstcinE
cnquanto, basta-nos dizcr quc a noção dc valorcs dc atitu-
dc é dcfcnsách indcpcndcntcmcntc dc cstar ou não ligada Richard Trautm21nn,29 na rcscnha quc cscrcvcu a mcu
a uma ñlosoña rcligiosa dc vida. O conccito dc valorcs dc livro alcmã0, Homo Patimx,3” cstava bcm ccrto ao falar dc
atitudc não rcsulta dc prcccitos éticos ou morais, mas da “sofrimcnt0 como algo quc dcvc scr climinado dc todas as
dcscrição cmpíríca c factual sobrc o quc ocorrc no homcm manciras c a todo o custo”. Conrudo, prcsumc-sc quc clc,
quando quer quc clc valorc o seu comportamcnto ou o dc como médico, dcvc tcr sc dado conta dc quc, as' vczcs, o
outrcm. A logotcrapia sc bascia cm afrmaçães sobre wzlores confronto do scr humano com o sofrimcnto é incvítách
tomadox comofatos, não cm julgummtos sobrefatos tomudos dc quc o homcm é um scr quc, ccdo ou tardc, dCYC cnca-
rar a morte c quc, antcs dc fazé-lo, dcvc sofrcr - apcsar dc
como valorex Ora, c é fato quc 0 homcm das ruas cntcn-
todo o avanço da ciéncia, tão cultuada pclo progrcssísmo
dc como mais valíosa a idcia dc um homcm quc carrcga a
cicntiñcista. Fechar os olhos a cssa condição c.u"5tencial, a
própria cruz com uma “c0ragcm indomávcl” (para cítar o
tais “fatos da vida”, pode rcforçar uma tcndéncia ncuróti-
Rabino Grillman), do quc a dc aÍguém quc é, simplcsmcn-
ca dc nossos pacicntcs ao cscapismo. Evitar o sofnm'cnto,
tc, “bcm-succdido”, até mcsmo sc cstamos falando dc uma
o quanto for possívcl, é dcscjách Mas, c quanto àquclc
pcssoa extrcmamentc bem-succdida: scja nas ñnanças dc
sofrimcnto incscapávch A logotcrapia cnsma quc dcvcmos
um rico cxecutívo, scja nas várias mulhercs dc um playboy
Pcrmita-me, aqui, frisar bcm quc mc rcñro, cspcciñca-
mcntc, a um “dcstíno quc não podc scr mudado”. Accitar, 25 “Calmly bcar, wíthout ado,
That whích fatc imposed on _vou;
But to bcdbugs don't rcsignz
Turn for hclp to Roscnstein.”
27 Orlo Strunk, “Rcl¡gious Maturity and Viktor E. Frankl”, cm Marure 29 Richard Trautmann, “Book Rrvicw”, Amcñmn Ioumal qfñwbadxmpy
Rtlgiiom Abíngdon Prcss, Nova Iorquc, l965; Earl A. GrolJman, “Viktor E. 52 821, 1952.
Franklz A Bn'dgc Bctwccn Psychiatry and Rclígion”, Comervutivejudaism l9: 30 Viktor E. Frankl, Homa Pan'm.c Vmuch eincr Pntbodm'z, anz Dcunckc,'
l9, l9ó4; D. Swan Haworth, “Viktor Frankl”, ]udm'.rm 141 351, 1965. Vicna, l950.

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V

cvitar a d0r, quando ísso tbr possích Mas l(›go quc um do- a um dcstino. Como vimos, dc outra mancira, o sotr”1'mcn-
loroso dcstino sc aprcscnte como imutách cssc soñimcm to não rcndcria scntido. No caso da culpm no cntanto, a
to não só dcvc scr añrmado como dcvc scr transfbrmado atitudc quc se toma diz rcspcito a si mcsmo. Ora, no caso
cm algo signiñcativo, numa conqm'sta. Eu me pcrgunto sc do dcstino, cstamos taãlando dc um curso quc não podc scr
uma abordagcm dcssa naturcza rcalmcnte “indica uma tcn- mudado - de outra foçrma, não seria dcstino. O homcm,
déncia rcgrcssiva ao cstado de submissão .1'utodcstrutiva”7 contud0, podc, sim, mudar a sí mcsmo - dc outra fo'rma,
como Richard Tr.1'utnmnn añr1na. não scria homem. É prcrrogativa do scr humano - c partc
De ccrto mod0, o conccito dc valorcs de atitudc é constituintc dc sua cxistência - a capacidadc dc dcñnir-sc c
mais amplo do quc o dc cncontrar scntido no sofrimcnt0. rcdcñnir-sc. Em outras palavras, é privilégio do homcm a
O soñímcnto é apcnas um aspccto do quc cu chamei de possíbilidadc da culpa, bcm como sua rcsponsabilidadc cm
“tríadc trágíca” da cxistência hum:ma. Scus três clcmcntos supcrá-la. Como dissc o cditor do Szm tamtin Nmmy cm
sñoz “d0r, culpa c mortc”. Não há um único ser humano uma Carta cndcrcçada a mim, 0 homcm podc “sofr'cr uma
quc possa dizcr quc jamais sotrãcu, que jamais faãlhou e quc transtbrmação” (vcja a partc ñnal dcstc capítulo).
não m()rrcrá. _ Ninguém claborou uma análisc fcãnomcnológica mais
O leitor podc pcrccbcr agora que a tcrceira “tríadc” profhnda de tal “transfoirmação” do quc Max Schelcr cm
acaba dc scr aprcscntadm A primcira dclas sc rcfkria ao suas 0bras,31 mais cspcc1'ñcamcntc, no capítulo sobrc “Ar-
conjunto libcrdadc dc vontadc, à vontadc dc scntido e ao rcpendimcnto c chascimento”. Como também apontou
scntido da vida. O scntido da vida, por sua vcz, sc c0m- Schclcr, o homcm tcm o direíto dc scr considcrado culpa-
põe da scgunda tríadcz valorcs dc criação, dc experiência e do c dc scr punid0. Uma vcz quc considcremos o homcm
dc atitudc. Os valorcs dc atitudc, por sua vcz, podcm scr como uma vítima das circunstâncias c de suas inHuêncías,
subdivididos naquilo quc acabamos dc aprcscntar como a não apcnas o dcixarcmos dc tratar como um scr humano,
tcrccim tríadcz atitudcs sígniñcatívas diante da d0r, da culpa bcm como alezjáremos sua vontade de mudam
c da mortc. Voltcmos nossa atcnção, agora, ao tcrcciro aspccto da
Ao fíllar dc uma tríadc “trágica”, não qucro levar 0 tríadc trágica da existência humana, isto é, a transitoricdadc
lcitor a pensar quc a logotcrapia é pcssimista, assim como da vida. Gcralmentc, damos muita atcnção à idcia dc tran-
0 cxistcncialismo tcm fhma dc ser. A logotcrapia é, muito sitor1'cdadc, como o vasto campo da plantação após a c0-
mais, uma abordagcm otimista da Vída, ao Cnsinar quc não lhcita, e subestimamos nossa história, csqueccndo-nos dos
há ncnhum aspccto negativo da cxistência quc não possa “fartos cclciros” quc constítucm o passado. Ncstc, nada
scr tr-.1nsmutado Cm conquístas p(›sítivas, em tudo, a de- cstá irremediavclmente pcrdido. Pclo contrário, no passa-
pcndcr da atitudc quc sc vcnha assumir. d0, tudo cstá inalteravelmente prcservado e a salvo. Absolu-
Mas há uma ditbrença cntrc a atitudc que sc decidc
tcr diantc do .s*otr”imcnto c da culpa, rcspcctivamcntc No 31 Max Schclcr, On tbe Eternal iu Man, Harpcr & Brothcrs, Novn Iorquc,
caso do sohrsimcnto7 a postura que se assume é relacíonada 1960.

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V

tamcntc, nada c nmguém podcm privar-nos do quc cntrc- zar scntido até mcsmo numa situação dcsapcradora, scm
gamos à scgurança do passad0. O quc ñzcmos não podc Scr saída. Tal fato só sc rcvcla comprccnsívcl mcdiantc nossa
dcsfcito. E isso pcsa no que diz rcspcito à rcsponsabilidadc 3bordagcm dimcnsional, quc rcscrva aos valorcs dc atitudc
humana, porquc, cm facc do carátcr transítório da vída, o uma posição mais alta do quc aos dc criação c dc cxpcricn'-
scr humano é rcsponsávcl por fazcr uso das oportunidadcs cia. Os valorcs dc atitudc constitucm os mais altos valorcs
quc lhc apareccm para atualizar suas potcncialidades e rca- possívcis. O scntído do sofrimcnto - do incvitávcl c m'cs-
lizar valorcs, scjam cstcs dc críação, dc cxpeñéncía ou dc capávcl sofrimcnto cm si, obxiamcntc - constitui o maxs'
at1'tudc. Em outras palavra5, o homcm é rcsponsávcl pclo profundo scntido possích
quc ñzcr, por qucm amar c por como sofrcr. Uma vcz quc Sam'ta'çao'
tcnha rcalizado um valor, uma vcz quc tcnha prccnchido
um scntido, clc o tcrá fcíto dc uma vcz por todas.
Mas rctorncmos agora ao homcm das ruas c ao ho-
mcm de ncgócios, supondo quc o primciro valorc o succs-

uumn
so ñnancciro do scgundo como “dimcnsionalmcntc” mais
Insuccsso
baixo, quando cm comparação ao succsso cm transformár
um sofñmcnto incvitávcl cm uma conquista. A antropo- +4
'-:
n....

logia dimcnsional quc propuscmos antcriormcntc podc z

ajudar-nos a cntcndcr 0 quc sc qucr dizcr por mais baixo c


mais alto, ncssc caso. Usualmcntc, cm scu dia a dia, o scr
humano vivc movimcntand0-sc por sobrc um cixo cujo Dcscspcro
FIGURA 6
polo positivo é o succsso, tcndo o ncgativo como o insu~
ccsso, 0 fracassa Essa é a dimcnsão do homcm racionaL Rolf H. Von Eckartsbcrg conduziu uma pcsqmsa~ cm
do animal dc 1'ntcligéncia, dó Homo mpímx Mas o Homo Harvard, cujo objctivo cra o dc m'vcstigar o tipo dc xida
putien5, o homcm cm sofrimcnto, quc, Cm virtudc dc sua quc lcvavam os graduados dc tal univcrsidadt O rcsulta-
humanidade mcsma, mostra-sc capaz dc ergucr-sc sobrc do ofcrcccu cvidéncia cstatística dc quc, cntrc ccm sujci-
sua dor c dc tomar uma atitudc signiñcativa cm rclação a tos quc haviam colado grau vintc anos antcs, uma cnormc
ela, cssc homcm sc movc numa dimcnsão pcrpcndicular porccntagcm dclcs rcclamava cstar passando por uma cn'sc.
ao cixo quc acabamos dc citar, tcndo como polo posítí- Elcs añrmavam avaliar a própria vida como dcspropositada
vo a rcalização, a satisfação, c, como ncgativ0, (› dcscspc- c scm scntido, isso tudo apcsar de tcrem se tornado muíto
r0. O homcm luta por succsso, mas, sc ncccssário for, elc bcm-succdidos nas carrcu'as quc cscolhcram tcomo advo-
podc não dcpcndcr do dcstino, dcstino cssc quc pcrmitirá, gados, médicos, cirurgiõcs c, por u'ln'mo, mas não mcnos
ou não, o scu succsso. Ora, dcpcndcndo da atitudc quc importantc, como analistas ~ como podcmos supor›, bcm
cscolhe tcr, o scr humano é capaz dc cncontrar c rcali- como cm suas vidas conjuga15'. Elcs foram surprccndidos

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por um vácuo c.\'istcncí.1'l. Em nosso csqucma gráñc0, clcs


mostrar aos prisionciros quc 0 scr humano podc crgucr-sc
podcriam scr loc.-11ízados no ponto “v(ácuo) c(.\'istcncial)”,
sobrc si, crcsccndo para além dc si mcsmo, até mcsmo cm
horizontalmcntc marcado pclo “succsso” c, vcrt1'c.1'lmcntc,
scu último instantc dc vida, c quc, ao thzéukx (› homcm
pclo “dcscspcro”. Um fcãnómcno dcssa ordcm, do dcses»
rcinvcste dc scntido, rctroat1'vamcntc, até mcsmo uma vida
pcro apcsar do succsso, só sc mostra intcligívcl ao longo
arruinada. Acrcditcm ou nã(›, a mcnsagcm tocou os prí-
dcsscs dois cíxos dc análise.
sioncíros. Algum tcmpo dcp0is, rcccbi uma carta dc um
Por outro lado, há um tbnômcno quc podcria ser dcs-
fímcionárío dc San Qucntin, quc mc dizia quc 0 “artig0
crito como “satísta“çã0 apcsar do insuccsso”. No diagrama,
quc cobriu a visita do Dr. Frankl ao prcsídio conscguiu o
sua localização scria no canto superior esqucrdo, marcado
primeiro lugar no Concurso Nacional dc Imprcnsa PcnaL
por “SQ”, dc San Qucntin. Ncssc prcsídi0, ccrta VCZ, cn~
promovido pcla Sauthern Illinois U72i17r:rsz',tv. O artigo tbi
Contrci um homcm quc deu scu tcstemunho sobre meu
sclccionado, com honras, cm mcio a mais dc 150 institui-
argumcnto dc quc o scntido pode ser cncontrado na Vida,
çõcs pcnais amcricanas candidatas”. Após cu os tcr cumpri-
litcraln1c11tc, até cm scu último momcnto, no último suspi-
mcntad0, cm carta, pclo prêmi0, 0 cditor mc cscrcvcu n(›-
ro cm tàcc da mortc.
vanwntc, añrmando quc “a transcrição dc nossa discussão
Eu havia sido convídado para uma rcunião com o cdi-
vinha Circulando amplamcntc cm nossa instituiçã0” c quc
tor do jornal San szmmz News, na Prísão Estadual da Ca-
“havia Ccrto criticismo local, quc dcixava a idcia de quc “na
lítõrnim Elc mcsmo era um detcnto em San Qucntin Após
tcoria, é lindo, mas a vida não funciona dcssa t0"rma”'. Em
clc tcr publicado no pcriódico uma rcscnha sobrc um livro
scguida, conñdcnciou~mc 0 scguintcz “Planejo cscrcvcr um
mcu, 0 supervisor cducacíonal do presídio achou quc scria
edítorial partindo de nossa própria sítuação atuaL do pró-
intcrcssantc quc cle pudcssc convcrsar comig0, entrcvístan-
prio sotñmcnto quc agora cnñentamog mostrando quc a
do-mc. Essa cntrcvísta fo'i transmítida para todas as cclas da
vida funciona, sim, dcssa mancira. Prctcndo mostr.1-r-lhcs
penitcnciária, aos seus milharcs dc prisionciros, incluindo quc ncssas circunstâncias mesmas cm quc nos cncontra-
aquclcs do “corrcd0r da mortc”.-Foi-mc solicitado, cntã0, mos, das profundezas da ñltilidade c clo dcscspcro, é possí-
quc, para um dcsscs dctcntos, quc iria ser cxccutado dcntro vcl crcsccr intcriormentc cm dírcção a uma cxpcriência dc
dc quatro dias, cu dirigísse algumas palavras. Ora, como cu vida signiñcativa. De fato, não é fãciL para clcs, acreditar
podcria cnñcntar uma tarcfà dcssa naturcza? Valcndo-mc que, sob cssas condiçõcs, uma transformação quc os lcvc
dc minhas cxperiêncías pcssoais cm outro lugar, no qual do descspcro ao triunfo é possích Eu dcv0, contudo, tcn-
as pcssoas tinham dc cnfrcntar a mortc cm uma câmara dc tar mostrar-lhcs quc ísso não é só possívclz é nccessário”.
gás, eu cxprcssci minha convicção dc quc ou a Vida tcm Aprcndamos a lição dc San Qucntin c de Harvard. Pcs-
scntido - caso cssc em quc seu scntido não dcpendcria dc soas sentcnciadas à prisão pcrpétua ou espcrando a mortc
sua duração - ou não tcria scntido algum, caso cssc cm quc em câmaras dc gás podcm “tríunfar”, cnquanto as pcssoas
prok>ngá~la scria fora dc propósito. Logo, falei do conto bcm~succdidas cstudadas pclo Profbssor Von Eckartsbcrg
dc Tolstói, “A Mortc dc Ivan Illich”. Com isso, cspcrava podcm chcgar ao “dcscsper0”. À luz da antropologia c

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ontologia d1'mensi0nais, dcscspcro podc scr compatívcl a conscqucntc agrcssividadc C()ntra...” - Contra qucm.> -
com succsso - tanto quanto mortc c sotñmcnto podcm scr “...c<›ntra os ñlhos quc não morrcram”.
compatívcis com a rcalização dc scntído. Mesmo quc não lcvcmos cm conta 0 quc nos mostra a
Dc fh'to, uma vcz quc projctemos cssa rcalização dc Sua casuísrica, intu1'tivamcntc, nos parccc óbvio quc 0 scnti-
dimcnsão própria a uma mais baixa (na accpção dimensio- do do sofr~1'mcnto não sc dcixa rcduzir às tcntativas dc sua
nal) do quc a sua, por cxcmplo, a dimcnsão do homcm dc comprccnsão por mcio de intcrpretaçõcs puramcntc dinâ-
negócios ou a do plnyll0y, para os quais mcmo é o que con- micas c analíticas.33
ta, uma vcz quc projctemos a mrifsação de sentido zzpemr Jürg Zutt, chefê do Dcpartamcnto dc Psiquiatria da
de, ou, mais ainda, por conta dc, sofrimmto numa dimcn- Univcrsidadc dc Frankfuirt (Main), já apontou quc as pes-
são mais baixa, sua intcrprctação podc tornar-sc ambígua, quisas psicológicas Com os sobrcvívcntcs da pcrscguição
dc acordo com a scgunda lci da antropologia dímcnsionaL nazista tendcm a não scr conñávcis, pois sc restringcm a
Não nos surprccndc aí quc cla possa ser confundida com, um grupo muito rcstrito dc pcssoas.34 Além disso, dcvc›sc
digamos, uma “tcndência rcgrcssíva ao cstado dc submis- frisar quc, cntrc o matcrial utilizado cm qualqucr caso, so-
são autodcstrutiva”, para citar Richard TrautmamL32 mentc aquelcs aspectos que sc cnquadram nas perspcctivas

_
Dois autorcs amcricanos pesquisaram a psicologia dos analítica C dinâmica são selecionados. Para citar o “caso”
prisionciros dos campos dc conccntração. Como elcs intcr- dc um dos mcus livros, O Homem em Busm de Smtid0, a
prctam a condição dc sofíimcnto dcsscs homcns c mulhe- única coisa quc atraiu a atenção dc um rcvisor editorial dc
rcsP O quc resta do scntído do sofrimento dcssas pessoas, oricntação dinâmico-analítíca fbi a idcia dc quc ~ scgundo
após a intcrprctação analítica c dinâmíca do psicologismoP sua lcitura - os prisionciros haviam rcgrcdído ao cstágio
Ora, “Os prisioneiros”, afirma um dos autorcs, “regredi- uretral dc seu desenvolvimcnto libidinaL Nada, além disso,
ram à condição narcísíca. As torturas impostas...” - que elc considcrou digno dc menção.
scntido você acrcdíta tcr ti_do o sofrimcnto dos prisionciros Como conclusão, voltcmos nossa atcnção a um h0-
pela torturaL> Veja a rcsposta do autorz “As torturas impos- mem quc, sobrc esse assunto, pode falar com maís propr1'c-
tas traziam consigo o scntído inconscientc da castração. dade do quc qualquer tcórico da psicanálisc - um homcm
Logo, os prisioneiros sc dcfbndiam por mcio do masoquis- quc, ainda mcnino, tornou~sc prisionciro cm Auschwitz:
mo, do sadismo, ou dc comportamentos infantílizados”. Ychuda Bacon, um dos artistas mais cxpressivos de IsracL
Há mais: “Os sobrcvívcntcs da pcrscguição nazista rcpri-
miram o próprío ódi0...” - contra quem você acha que clcs 33 “A tentatíva dc cxplicar, em tcrmos psicodinâmicos, as mudanças dc
personalidadc que sc scgucm à cxposição n um cstrcssc intcnso”, diz F. Hoan"11g,
reprimiram cssc ódi0? “...contra seus pais assassinados”.
“constitui um dcsscrviço à única Contribuição dc Frcud para a comprccnsào do
E “os sobrcvivcntcs acabaram, logo, por procurar dcsviar comportamcnto humano”. F. Hoclúng, cm “Extrcmc Environmcntal Strcss
and Its Signiñcancc for Psychopatholog”, Amerimn ]om'mzl uwachothempy
5: 821, l952.
32 Richard Trautmann, “Book Rcvícw”, Amrzrimn ]our›ml ofPsdeothempy M Iürg Zutt, “Book Rcvicw”, ]al¡rbucl¡_f1"ir Pngchologig Pngchorbcmpie und
5: 821, l952. medizinische Anthrapolqgie 132 362, 1965.

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Ccrra vcz, clc publicou o scguintc rclato sobrc os primciros
momcntos após sua libcrtação do campo dc conccntmçãoz
“Eu mc lcmbro dc um dos mcus primciros pcnsamcntos
após a gucrra _ cu vi scguír uma ccrimímia fúncbrc7 cm quc
sc lcvava um grandc caL\'ão, com música c tudo o mais...
Comccci a rir comigoz clcs cstão loucos dc taãzcr todo csse
cstardalhaço por causa dc um único Cadávch Sc cu fbssc a
uma aprcscntação musícaL ou a um tcntro, tudo o quc po-
dia pcnsar cra cm quanto tempo seria necessário para que
aqucla plateia morrcssc com o gás, quantas roupas, quantos PARTE DOIs
dcntcs dc ouro rendcriam nquclc grupo dc pessoas, quan«
tos sacos dc cabclo ficariam para trás”. Até aqui, tcmos a APLICAÇÕES
descríção do soñúmento dc Yehuda Bacon. Agora, qual scu
scntidoP “Quando gar0t0, pcnsavaz °cu dirci a todos 0 quc
DA LOGOTERAPIA
vi, na cspcrança dc quc as pcssoas mudcm para mclhorÂ
Mas as pcssoas não mudaram, ncm quiscram saber. Só fbi
muito tcmpo dcpois quc rcalmcnte comprcendi 0 scntido
do sotñmcntu Elc podc tcr scntido sc ñzer vocé mudar
parn mclhor”.
0 vácuo existenciah
um desaño à psiquiatria

Após tcrmos abordado a qucstão do scntidm p0dc~


mos, .-1s_$0ra, voltar nossa .-1tcnção ao caso daquclas pcsxsoas
quc sohzcm dc um scntimcnto dc \'.1/.'io, dc ñllm dc scnt1'do.
Cada \'cz mais pacicntcs rccl.1m.m1 dc umn cxpcríênciJ quc
clcs 111csmos, gc11111nc11tc, chanmm dc “\'.1/›io 1'ntc1'ior“. c
css.-1 ó a 1'.1/.'ão pcla qul cu passci a utílizar a dcnominaçío
“\1icuo c.\“istu1cial“. Numa distinção complrativn ao quc
\11.1'Sl()\\' tão bcm dcscrcvcu como “c.\'pcrióncias dc pic0“.
podcr-sc-ía conccbcr o \'.›ícuo c.\'istcncial nos tcrmos dc
uma “c.\'pcriéncia dc abís¡m›".
A ctlblogia do vácuo c.\'istcncial mc parccc scr consc-
quência dos s<::.:111'ntcs thtos. Pri111c1'mmcntc, ao contrário
do quc ocorrc com os .1nim.1is. ncnhum ínstínto ou pulsão
diz ao homcm o quc clc dvrr ñvxux Em SCglllldu lug;u',
connuriamcntc ao quc ocorrin nas gcraçócs p.›1s.*s.-1d.-ls. ncm
convcnçÕCQW ncm tmdiçócs, scqucr valnrcs oricmnm 0 ho-
mcm dc hojc sobrc o q¡uc clc dnwría ñlzcn om, -.1tualn'1cn-
tc, muitas \'czcs, clc mal sabc o quc dcscja thzcn Ncssc cs-
tado de coisag ou clc ncnba qucrcndo thzcr o quc os outros
thzan ou tcrmina por fhzcr o quc os outros qucrcm quc
clc thça. Isto é, clc sc torna \'itimn, rcspcctivamcntc, ou do
confbrmimw (c0mo sc vê rcprcsc11t.-1do no ()cidcntc) ou
do totalitarismo (c0mo 0 vcmos no ()ricntc).
rf”
O vácuo c.\'istcnci.1'l Coanitui um tbnómcno crcsccntc, Om, mas a ñlosohh fbi kasprczada pnr Sígmund Frcud
Cm fr~anca pr0p.1g.'1çã0. Atualmcntc, até mcsmo os psicana~ c rcpudiada por clc como nada mais quc uma das tbrmas
listas h"CL¡di;1n(›s .-1dmircm, como fbi o Caso cm um rcccntc nmis rcspcitávcis dc Slelimnçlü) da scxualidadc rcprimida.2
cncontro intcrn.1'ci(›nal scdiado na Alcmanha, quc mais C Eu, part1'cularmcntc, não acrcdito quc a ñlosoña scja uma
mais pacicntcs vêm sofrcndo dc uma insatisfhção intcrior mcra válvula dc cscapc para o scx0. Pclo contrárim acrcdito
c dc uma thlm dc pr0p(›'sit0 na vid.1^. Mais quc isso, clcs quc o scxo é quc, muitas vczcs, scrvc como uma thga bara-
chcgam, inclusi\'C, a rcconhcccr quc tal problcma podc scr ta àquclcs problcmas ñlosóñcos c cxistcnciais quc cm1h"on-
rcsponsáwl por muitas das “.1-n_^íliscs intcrminávcis”) na me- tam 0 scr lwmnno.
dida cm quc o tmmmcnto no divã passa a scr 0 único mo- Numa revista amcricalm, certa vcz, lia-sc a scguintc
mcnto dc satisrhção dc quc 0 pacicntc dispõc É óbvio quc añrmaçãoz “Nunca fbi tão scguro añrmar quc, cm toda a
tais psicanalistas não usam o tcrmo logotcrapêutico “vácuo hístória do mundo, jammÂe um país fbi tão domínado pcla
c.\'istcnci.1'l”, quc cu cunhci há mais dc uma década, ncm inflação da scxualídadc como hojc são os Estados Unid(›s”.
utilizam qualqucr oricntação da logotcmpia para lidar com Por mais cstranho quc possa parcccr, cssa é uma cita-
0 fbnômcmx Elcs, contudo, admitcm a uistência do pro- ção da rcvista Exquira3 Dc qualqucr mod(›, sc tal añrnmção
blcmaL tbr verd.1'dcira, cla rctbrçmia nossa hipótcsc dc quc 0 amc-
Como dissc, 0 vácuo c,\'istcnci.1'l não só cstá crcscen~ r-icano médio ch scndo mais atingido pcla Hustração cxis~
do, Como também sc cspalhando. Por cxcmplo, um psi- tcncial do quc outras pcssoas, (› quc, conscqucntcmcntc,
quiatra na chúblim Tc1wa1, num artigo sobrc fr'ustração o lcvaria a uma tcntatíva dc supcrcompcnsaçâo pclo scxo.
c\'ístcncial,l apontou quc 0 vácuo c.\'istcncial já sc fhz scntir Uma estatística improvisada quc rctiramos de uma pcsquisa
nos paíscs Comunistas também. quc conduzi cntrc mcus alunos na Faculdadc dc Mcdicina
Como, cntão, dcvcmos lidar com tal fbnómcnoP Dc- da Univcrsidadc dc Vicna mostrou quc 40 por ccnto dcs-
vc-sc prcssupor quc dcvcmos aderir a algum típo de ñloso- scs univcrsitários vindos da Áustria, da Alcmanha Ocidcntal
ña dc vida saudávcl no íntuiro_dc mostrar quc a vída guar- c da Suíça conhcciam o vácuo c.\'i.s'tcncial por cxpcriência
d.'1, sim, um scntido para todo c qualqucr scr human(›. Essa própr1'a. No quc diz rcspcito aos mcus alunos alncricalws,
idcia sc bascia no conccito dc “valorcs dc atitudc”, quc cssa cstatística chcgou a 81 por ccnto.
dcscnvolvcmos no capítulo antcri0r, momcnto do tcxto cm As principms manifbstaçócs da f1"u.s'traçã0 cm'stc¡1c1'al -
quc também apontamos quc (› dcclínio das tradiçócs só tédio c apatia - têm sc tornado um dcsaño, tanto para a
vcm a afbtar os valorcs tidos como univcrsais, mas nunca os educação quanto para á psicolog1'a. Na cm do vácuo c.\'is-
scntidos únicos.

2 Ludwig Binswnngcr, Iírimttruugcn an Sáqnnmd FrnrzL l-'r.mckc, Bcrm

' S. I\r'at0ch\'il, “K psychotlwrapií c.\'istcncialní ñ'ustraa'” (,'t5'koxlmwnslm l95().

psycllianízz 57 : 186, 1961 , c “K problcmu c4\'istcm*íalni triustr.1'cc”, Ccslzoxlowmlm 3 Rcvista fundada pcla Hcarst Corporation cm 1933 c volmdn parn o uni-

pvmlwimria 62 : 322, l9óó. vcrso nmsallino. (N0m do tmdutor)

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tcnciaL como díssemos, a cducação não devc limitar-sc a Eu bcm mc lcmbro dc quando ñJi cxposto ao rcdu-
transmitir conhccimcnto, nem contentar-se com o rcpasse cionismo na cducação, aos trczcs anos, como cstudantc dc
das tradiçõcs. Ela dcvc, sim, rcñnar a capacidadc humana cnsino médio. Ccrta vcz, um protbssor dc cíências naturais
dc cncontrar aquclcs scntídos únicos quc não sc dcixam cnsinou à turma quc, cm última análisc, a vida nada mais
atbtar pclo dcclínio dos valorcs univcrsaís. Essa capacidadc cra do quc um proccsso dc combustào, uma grandc séric
humana dc cncontrar o scntido escondido por trás de cada dc fbnômcnos dc (».'idação. Eu mc lcvantci dc um salto c
situação síngular é 0 quc chamamos dc consciêncim A cdu- pcrguntci a clcz “Profc'ssor Fritz, sc a vida é isso mcsmo,
cação dcve, portanto, guamccer o homem com os mcios cntã0, quc scntido cla tcm?”. Dc fa~t0, ncssc caso, cstivc
para cncontmr o scntido. Ora, cm vcz disso, o quc muito diante não só dc um cxcmplo dc rcducíonismo, mas, iro-
sc vê é quc os sistcmas cscolarcs contribucm para o vácuo nicamcnte, de algo quc clc mcsmo podcria tcr chamado dc
cxistcncxlaL O scntimcnto dc vazio c dc falta dc sentido por oxidacionismo.
partc dos estudantcs é rctbrçado pelo modo reducionista Nos Estados Unidos, muitas ñguras dc pcso no cam-
por mcio do qual as dcscobertas cientíñcas lhes são aprc- po da cducação têm sc prcocupado com a apatia c o tédio
scntadas. Os alunos são cxpostos a um proccsso dc dourtri~ cntrc os cstudantcs. Por cxcmplo, Edward D. Eddy c dois
nação quc mcscla os princípios dc uma tcoria mccanicísta parcciros cstudaram vintc instítuiçõcs dc cnsino supcrior
do scr humano a uma ñlosoña dc vida rclativista. em todo o país, cntrcvistando ccntcnas dc coordcna-

>
Uma abordagcm rcducionísta do homem scmpre ten- dores, corpo doccnte, funci01m'n'os c alunos. No livro
dcrá a reíñcá-lo, ísto é, a tratá-lo como uma mcra re:, como que publicaram com a pcsqL1i5a, chcgaram à conclusão
uma coisa. Contudo, para Citar William Irwin Thompsonf dc que “em quasc cada mmpm, da Califõrnia a Ncw
“sercs humanos não são objctos dc cxistência scmclhantcs England, a apatia cntre cstudantes sc mostrou rclcvantc
a cadciras ou mcsas; clcs vivcm! E, sc clcs scntircm que suas como tópico de discussã0. Foi cssc o assunto mais tr'c-
Vidas cstão scndo rcduzidas à mcra cxistência dc cadciras qucntc cm nossas convcrsas, tanto com profbssorcs quan-
ou mcsas, clcs comctcm 5111'c_íd1'(›”. to com alunos”.5
Não sc trata, dc modo algum, dc um cxagcra Quan~ Numa convcrsação quc tívc com o profbssor Huston
do dei palcstras numa das maiorcs universidades dos Esta- C. Smith, publicada sob 0 título “A Dimcnsão dos Valorcs
dos Unídos, um coordcnador, ao comcntar 0 tcma de minha no Ensino”,ó cle, o ñlósotb dc Harvard, pcrguntou-mc sc
contc'rênc1'a, dissc quc podcria mostrar-mc uma lista intcira é possível ensinar valo\res. Eu lhe respondi quc valorcs não
dc cstudantcs quc, claramcntc, ou tcntaram ou comctcram podcm scr cnsinados; valorcs dcvcm scr vividos. Tampow
suicídio, por conta de um vácuo cxistcncíaL Tal fcnômcno já co o scntido pode scr dado. O que um protbssor pode dar,
lhe cra familiar cm sua prática de aconselhamcnto estudantiL

5 Edward D. Eddy, Thz Colhyc Injlumct on Studmt Clmmcmg Amcñcan


4 William Irwín Thompson, “Anthropology and thc Study ofValucs”, Main Council on Educatjom Washington, D.C., 1959.
Curruntx in Modzrn Thalthljt l9: 37, 1962. ° “Valuc Dimcnsions in Tcnching”, vcja a página 16.

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ncssc caso, nunca é o scntido, mas um cxcmplo da própria


alguém se pcrgunta sobrc o scntido ou o valor da vida, cssc
dcdícação pcssoal c dc sua dcvoção à causa da pcsq111'sa, da
alguém cstá docntc”.N
vcrdadc c da ciênc1'a. Num scgundo momcnto, 0 protbssor Na vcrdadc, a intcrprctaçab cquívocada do vácuo cxis-
Smith quis ouvir minhas opiníócs sobrc apatia c tédio, c
tcncial como um fcnômcno patológico é o rcsultado dc
cu lhc dcvolvi a pcrgunta da scguinte tbrmaz “Como po~
sua projcção da dimcnsão noológica cspacial para 0 plano
dcmos cspcrar quc um cstudante americano médio descn- psicológica
volva algo quc não scja tédio c apatia?”. O quc, añnaL é o Dc acordo com a scgunda lci dc nossa antropologia
tédio, scnão a inc.1*p.1-cid.1'çk dc intcrcssar-se por alg0.> E 0
dimcnsiomL tal proccdimcnto podc gcrar uma ambigui~
quc mais é ap.1-tia, scnão a íncapacidadc dc tomar iniciativa
dadc no diagnóstico. A difbrcnçú cntrc dcscspcro cxistcn-
para algoP Mas, como, cnñm, pode um aluno dcsses tomar
cial c docnça cmocional dcsaparcccc assim scndo, não sc
al-guma iniciatixay sc, na sala dc aula, 0 que clc aprcndc podc distinguir maís cntrc aflíção cspiritml c docnça psi-
é quc o scr humano não é nada mais que um campo dc
Cológícam
batalha para rcivindicaçõcs Conflitantcs de aspcctos da pcr- Ora, mas o vácuo cxistcncial não constituí uma ncu-
sonalidadc, como id, cgo c supcrcga> Ora, c como cssc
rosc; 0u, sc, dc alguma fbrma, podcmos considcrá-lo
mesmo cstudantc pode dcsenvolvcr intcrcsse por algo, sc, covmo tal, ela scria algo como uma ncurosc soc1'ogênica,
cm sua classc, prcga-sc quc valorcs c idcais não são nada ou mcsmo uma ncurosc iatrogêníca _ isto é, uma ncurosc
além dc fbrmaçõcs rcativas c mccanismos dc dcfbsaE O rc- causada pclo psícotcrapeuta quc prctcndc curá-la. Ora,
ducionismo só mina c cnfrãaqucce 0 cntusiasmo natural da quantas vczes um tcrapeuta acaba por dcsconsidcrar as
juvcntudc. O cntusíasmo c o idealismo da juventudc amc- preocupaçõcs do pacicntc a rcspcito dc um scntido último
ricana dcvcm, sim, scr incsgotáveis. Dc outra mancira, cu para a vida em facc da morte, ao conccbcr cssa “prcocupa-
não cntcndcria como tantos dcsscs jovcns ainda ingrcssam ção última” mcramentc como uma angústia dc c.1-stração?
no Pmcz Corps c no VISTAÍ _ Ao pacicntc, tal postura signiñcaria alguma cspécic dc alí-
Mas Como dcvcmos lidar com um caso qualqucr dc vio por sabcr quc elc não prccisaria prcocupar-sc com a
vácuo c.\'istcncial, não Cm tcrmos proñláticos, mas cm tcr- qucstão - “valc ou não a pcna vivcr a sua vida”. Ao invés
mos tcrapêuticosP Scrá quc usar a cxprcssão “lídar Com” 0 disso, clc - pacicntc - dcvc apcnas dcfrontar-sc com o fhto
vácuo cxistcncial implica dízcr quc há, rcalmcntc, algo a scr dc quc 0 scu Complcxo dc Édipo ainda não sc rcsolvcu
tratadoP Estamos fàlando dc uma docnçaP Será quc deve- satisfâtoriamentc. Dc fa~to, uma intcrprctação dcssc tipo
mos concordar com aquela añrmação que Frcud fez ccrta constitLúria, na vcrdadc, uma racionalização do dcscspero
vcz, cm carta à Princcsa Bonaparta “No momcnto cm que existcncial (v. p. 125).

" Ambos constitucm cmprccndímcntos hmnanítários cnc-.1bcçados por jovcns


volunürios nos Estados Unidos. VISTA é a sigla para Valmzrzers ín Servicz to x Sigmund Frcud, Brifek 1873-1939, S. Físchcr-Vcrlag, Frankfhrt (Mnínc),
Amrrím (Voluntários cm Serviço pcla América). (Nam do tmdut0r) 1960.

u-_______“° Num
Nessc contc.\'t0, cu semprc gosto dc cítar o caso dc rcnciar as ncumscs noogênícas das ncuroscs convcncionais.
um protbssor univcrsitárí0, cm Vicna, quc cu rcccbi no Iunto com Lconurd T. 1\4.1holick,” publicou os rcsulrados
Dcpartamento dc Psíquiatria; clc tinha como qucixa du- quc obtcvc c, postcriornwntc, nprcscntou uma vcrsão am-
vidar do scntido da vida. Como ficou claro dcpois, clc, na pliada do Tcstc, diantc do Enconrm Anual da Associação
vcrdadc, vínha soücndo dc uma dcprcssão Cnd0'gcna, a Anwricana dc Psicologia (Amcrican Psyclu›l()&L,rical Assoc1'a-
quaL dc acordo com a psiquiania t1'.-1dícional da Eur0p:1, tion). Scus rcsulmd(›.s' sc bascaram numa pcsquisa dc quc,
é 501natogêníca. Contudo, 0 quc mais mc chamou a atcn- .1'() todo, particip.-1mm l.151 sujcit(›s.'. (Írumlmugh chcgou
ção fbi o íhto dc quc scus qucstionamcntos c.\'istcnciaís à conclusão dc quc “as ncumscs n(_›ogc^nicas cxistcm à pnrtc
não o atormcntavam durantc os períodos dcprCSSiVOS, das catcgorias convcncionais dc diagnóstico c não sc idcn-
mas npcnas nos íntervalos cm quc clc sc encontrava bcm. tiñcam com as síndromcs diagnósticas convcncionais. Elas
Durantc os pcríodos dc dcpressão, clc não se angustiava rcprcscntam uma nova síndromc c11'níca, quc não podc scr
com 0 scntido dc sua vida, porquc estava scmprc muito .1-propríadamcntc comprccndida .-1r1'avc's dc ncnhuma das
ocupado com suas qucixas hipocondríaCas. Aqui, nós nos dcscrições clássicas. Os prcscntcs rcsultados mostraram-
conñontanws com um caso em quc dcscspcro cxistcncial -sc hlvoráveis aos conccitos dc ncurosc noogênica c dc vá~
c docnça cmocíonal sc mostraram mutuamentc cxclusi- cuo c.\'istcncial, dcscnvolvidos por Viktor FrankL A baixa
vos. Dcssc modo, torna-sc diñcilmcntc dethnsávcl admitir correspondência entrc a pontuação do tcstc c 0 grau dc
o vácuo c.\'istcncial como “só mais outro sintoma” dc uma instrução dos cntrcvistados dcmonstm, por um lad(›, quc
ncurosc. uma vida signiñcativa e chcia dc propósitos nâo sc rcstrin-
PorénL apcsar dc não constituir cfcito dc uma ncu- gc àquclcs quc tivcram mais 0p<›rtunidadcs cducacionais
rosc, o vácuo c4\'istcnc1'.1-l podc muito bcm t()rnar-sc sua c, por 0utro, quc a Cducaçã0, por si só, dc modu ncnhum,
causaL Ncssc caso, tcrcmos dc falar, portanto, dc uma asscgura a realização dc scntido na vida”.¡°
neurosc noogênica, distinta, portanto, das pisocogc^ni- Além dc tal corroboração cmpírim, pcsquims cs-
cas c somatogênicas. Tcrcmos logo quc deñnir a ncurosc tatísticas tôm sido conduzidas a ñm dc in\'cst1'gau a ñ'c-
noogênica como aqucln quc é causada por um Conflito cm
nívcl cspiritual - um Conflito ético ou moral, como, por
exemplo, o choque entre o mcro supcrcgo e a nutêntll ” Iamcs (L Crumbaugh &' Lconnrd T. Mah0!ick, “An E,\'pcrimcnml Srudy
in l:l.\'ístcnti.1'lisrnz Thc lkychomctric Appronch m Frankl°s (Íonccpt ofNoogcnic
ca consciênula (csta, se ncccssárío to“r, podc contradizer c
I\'cumsis”, journulofCliniml1)n_ralmlu_qv2(): 2()(), l*)(›4.
op0r-sc àqucle). Por último, mas não mcnos 1'mportantc, l° Iames (Í. Crumbaugln “Thc PurposwinrlAifb 'l'cst as a Mcasurc anrankTs
Noogcnic I\'cur05is”, aprcscntada à Divisão 24, A.s;'s(›ci.'1çñ() Amcriuma dc Psi~
a ctiología noogênica é fbrmada pclo vácuo cxistcnciaL
cnlogia (Amcrican Psx_'cho|(›gical A$.s'()cinti(›n), Nova Inrqllc:, 3 dc sctcmbm dc
pcla frustração cxistcncial ou pcla frãustraçâo da vontadc l966. Uma vcrsão mais dctalhada dcssc trabnlhn lbi publicad.1 cm 1968 (]'.1mcs
dc scntid0. (1. Crumbaugh, “(Iross~Validation (›f Purpo.~.c-in-IAitb 'l'csr ancd ml l'-r.1nkl's
C(›nccpts”, ]uurmll 0f1ndividual nyrholqu 242 74, l9(›8). Umn cópia do
Iamcs C. Crumbaugh, por seu próprío mérito, descn- tcstc Pl L uaado cm tal trabalho podc scr oblida mcdinntc rcquisiçíu .\u P›_WI)0-
volvcu o tcstc Purpose-z'n-sze' (PIL), no intuito de difCÚ lLoryiml Scrvícc VBZTWHII Administrntirm HuspimL (¡ujlp'urt. MísxixsippL 305()1.

JWM ______-__um
quência das ncuroscs 1100génicas. Wcrncr,“ cm Londrcs, buscam ou qucstionam (› scntido da própria vidaz cm ou-
Langcn c Volhard,12 cm TL'1'bingcn, PrilL'3 cm Würzburg, tras palavras, pcssoas tomadas pclo vácuo cxistchiaL
c N1'cb;ulcr,“ cm Vicna, concordaun cm quc, apr(›xi1mda- Com ísso cm mcntc, a Associ.1-ç.1"(› Argcnlina dc Lo-
mcntc, 20% das ncurosts cncontradas são noogênicas, cm gotcmpim ümdada cm l954, criou um dcpartamcnto pam
naturcza c origcm psiquiatras c outro para aquclcs mcmbros quc nño são mé-
Uma vcz quc o vácuo cxistcmiaL como vimos, sc liga dicos.
à noção dc ncurosc noogêníca, t0ma-sc dcsncccssário dizcr Lutar por um scntido na vida ou cstar cm conflito
quc 0 scu rratamcnto sc rcscrva à árca médíca. Em mcu consigo mcsmo a rcspcito da cxistência dcssc scntído nãn
país natal c cm vários outros paíscs, a psicoterapia só podc constítucm, por si, um tc'nômcno patológico. Quamo aos
scr pmticada por médícos. É claro quc cssa prcscríção lcgal mais jOVCHS, cabc a clcs, cnquanto prcrr0gat1'va, não acci-
rambóm valc para a logotcr3pia.15 Por outro lado, é com- tar, acriticanwntc, a idcin dc quc há um scntido pam a
prccnsívcl quc aquelcs aspectos da tcoria logotcrapêutíca vida. Elcs dcvcm, sim, ousar dcsañar cssa 1'dcía. E, quando
quc não sc rclacionam, dircmmcntc1 com o tratamcnto dc qucr quc dcscjcmos otbrcccr “primciros socorros” a al-
uma docnça, scja cla uma ncurosc noogên1'ca, psicogênica guém, no caso dc um vácuo cxistcmiaL dcvcrcmos partir
ou somatogênica, dcvcm scr accssívcis a outras proñssõcs dcssa convicçã0. Não sc dcvc scntir vcrgonha do dcscs~
dc aconscllmmcnto, tambénL Não há razão por quc 0 psi~ pcro c1\'istcnci.1'l, por .-1char-sc quc sc trata dc uma docn-
cólogo clínico, o assistcntc sociaL o paston o padrc c 0 ça cmocional; como vimos, não sc trata dc um sintoma
rabíno não dcvam 0fc~rcccr assistência àquclas pcssoas quc ncurótico, mas, isto sim, dc um tkmõmcno t1'pic.-uncntc
humanO. Acima dc tud0, tratwsc dc uma manífbstação dc
sinccridadc intclcctuaL
“ T. A. Wcrncr, confbrônciu dc ahcrtum protbrida no SimpoÀsío dc L(›gorc-
r.1pi.1, ocorridu dummc o Congrcsso Intcrnacioml dc L0g(›tcr.1'pía, Vícna_ Sc um jovcm, contudo, dccidc-sc por adcrir à sua prcxt
l9ól. _ rogativa c aceita 0 dcsaño pclo scntido da vid.^1, dcvc Clc
'3 R. \'olhard &' D. Langcm “I\Íchrdimcnsionalc P5\_'chothcmpic”,ZtitstbrtjÍ
fürP'›wljut/1N'np1't_ \'1'cn.1, 19ól.
tcr paciênciaz paciência 0 suñcicmc para cspcmr até quc 0
“ H. I. PriIL “()rg.1nncurosc und Komtitution hci chroníslI-ümktionclcn scntido comccc a brilhar sobrc clc.
L'mcrlcibslwsclnvcrdcn dcr l-'rau“, Zritwlmft'_f177' P.rv_clJot/m'apit 5: 215~ l955. Fazcr com quc o pacicntc cn.\'crguc isso dc lmncira
H K. Kocourck E. Nicbaucr &' P. Polak, “Ergcbnissc dcr 'lxlim"schcn Anwcn~
dung dcr IugotlwrapicÍ cm Hnnlmrll rirr Nmraxmlcbrc mzd Rp'r:l'10tln'rzzpic, objctiva é um caminho para aliviá-lo cm tnis msos. () rclato
\'ol. 3, cditado por \'. E. ankL \'. E. von Gcbsattcl c I. H. Schulrz. Urbm & a scguir tbi transcrito da gmvaçào dc uma convcrsa com um
5'ch\\'.1rzcnhcrg_ '\.IuníquoBcrlinL I959.
pacicntc de 25 anos e dcmonstra como isso é possích Há
¡"“ N.T.: A ñm dc -.\tu-.llízar o Icitor, cabc lcmbrar quc, stguindo os príncípios
d.1 Dcclamçào dc Estrasburgo sobrc a Psicotcmpl'a_ dcsdc 1991 , na Áustriag a anos, clc vinha soñcndo com cpisódios dc ansiuiadc. Du~
arividndc psicotcrápicn c' considcmm umn proñssão _1ut('›noma. chrta 21 qualqucr rantc os últimos três anos, vinlm sc submctcndo a um rr.'1-
pcsson quc tcnha concluído os trcínamcntos cx1':.,gíd(›s por lcí. No BrasiL a prá›
Iica dn pSÍCOtCerÍJ constitui, primtivamc11tc. árca dc atuação rcstrvada a psi- tamento psicanalítica Quando 0 cncontrcL clc procuravn
cúlogos (Rcsoluç.1'o Ol()/00 do Consclho chcml dc Psicologí.-1) c 21 nuêdicos ajuda no ambulatório do Dcpartmncnto dc Ncumlogia da
com título dc cspccialism cm psiquíatm (Rcsoluçào l.()66/2003 do (I(›nsclho
chcral dc \¡chicina).
Policlínica dc VicncL Fui aprcscnmdo a clc por um colcga

me _-___-_w5
V

da minha cquipc. Na oportunl'dadc, clc mc contou quc sua l P.: ch, scrá quc não é mcsmo a missão dos grandcs
vida, ñ'cqucntcmcntc, parccia carcccr dc qualqucr scnt1'do_ lídcrcs, cm rcligião, cm ética, fllzcr a pontc cntrc,
Elc soñia com um sonho rccorrcntc, ao longo do qual cssa dc um lad0, valorcs c scntidos c, dc outro, 0 h0-
cxpcriência dc total ausência dc scntido na vida scmprc sc mcm? Ora, ao homcm é dada a chancc dc rcccbcr
m.1-nifEsta-va. Ncsscs sonhos, clc costuma cncontrar-sc cm das màos dc um grandc génio da humanidadc -
mcio a \'árias pcssoas a qucm clc, ansios.-1mcntc, pcdia aju~ I scja clc Moisés ou Ic.s*us, Maomé ou Buda -, ao

I
da, uma solução pam o scu pmblcma, para livrar-sc dc sua homcm é dada a chancc dc rccchcr dclcs aquilo
condiçã0. Elc ímplorava a clas, ncsscs sonhos, para quc o quc, a cada m()mcnro, clc nân podc obtcr por si
livmsscm da angústia dc pcnsar quc a sua vida cra cm vão. mcsmu cha, no campo da ciência, a nossa intc-
Essas pcssoas, contudo, apcnas contimlmwam a dcsñutar as ligôncia podc scr suñcicntc. Ma5, no quc diz rcs-
suas \'idas, nprcciundo rcfkiço'cs, 0 brilho do sol, ou o que pcito às nossas crcnças, dcvcmo.s', às vc¡.'cs, conñar
qucr quc a vida tivcssc dc agradável para lhcs ofbrcccn cm pcssoas maiorcs do quc nós mcsmos, adotando
No dia cm quc cle mc dcscrcvcu tal sonho, tivcmos o scus pontos dc vista. Na busca por um scntido úl-
scguintc diálogo2 timo do scr, o homcm dcpcndc, muito mais, dc
Frmzkk Qucr dizcr, cntão, quc cles aprovcitam a vída sua csfkra cmocional do quc mcramcntc dc suas
dc mancira totalmcntc não rcflcxivaP foãntcs intclatuais. Em outras palavras, clc prccisa
Pacienm Exatol Enquanto isso, cu sou atormcntm conñar no scntido último do scr. Essa conñança,
do pclas minhas dúvídas a rcspcito do scntido da contud0, podc scr mcdiada por sua conñança cm
vidax alguém, como agora vcmos. Mas, dcí.\'c-mc fa'-
P.: E 0 quc você tcnta fàzcr para sc ajudar? zcr-lhc uma pcrguntaz sc a música chcga a to-
P.: Bom, às \'czes, tocar algum instrumcnto c Ouvir car-lhc no mais íntimo do scu scr - como dcvc scr
música mc trazem algum confo'rto. Añnal, Bach, o caso, em alguns momcntos, corrctoE -, cntão
Mozart c Haydn fbram homcns profuândamentc você duvida do scntido dc sua vida ncsscs momcn~
rcligiosos c, cnquanto ouço a música delcs, gosto tos, ou ncm scqucr qucstiona isso ncssas horas?
dc pcnsar no thto dc que scus compositorcs tíve- P.: Não, cssc problcma ncm scqucr vcm à minha
ram a graça c boa fbrtuna dc chcgar à plcna c0n- mcntc.
vicçào dc que há um scntido mais profundo, ou, F.: Ccrt0. Mas, prccismncntc cm tnis momcntos,
até mcsm0, um scntido últímo para a existência quando você cstá cm contato imcdiato com a
humana. mais prothnda bclcza, nâo scria conccbívcl quc
P.: Então, mcsmo quc você, pcssoalmentq não acrc- você tcnha cncontrado scntido na vida, uma vcz
díte cm tal sentido, você acrcdita nos grandcs quc csse scntido de vida sc cncontra sobrc 0 solo
crcntcsP dc uma cxpcriêmía cmocional c não através dc
P.: Isso mcsmo, doutor. algum proccsso intclcctuaD Em tais momcntos,

u___-_Hó ____ull7
nós não nos pcrgunramos sc a vida tcm ou não
! valor ou scntido, mc cncomrando distantg mnto
scntidm m.1-s, sc o h'./'c'sscmos, a rcsposta quc cn› da bclcza da artc quantn da vcrdadc da ciônc1'a.
Pw, .
contraríamos víria dc um grito provcnicntc do Bom, cu diria quc você não dcvcria lmscarsc apc~
ñmdo dc nossn cxisténcíaz um triunthntc “sim” nas naquclcs gmndcs cs.'pírit(›s, quc cncomrarmn
à \'id;1. Esra - scntiríamos - tcria valido a pcna,
mcsmo sc tivésscmos vivido apcnas pcla graça da-
Í scntido, mas acho quc você, tambénL dcvcria
voltar-sc àquclcs quc o procuranml cm vñ0. Você

1
qucla c,\'pcriênc1'a úních podcria cstudar os cscritos daquclcs ñkãsotim quc,
P. : Eu cntcndo c concordo. Há certos momcntos Cm como os c.\'istcncíalistas üunccscs Ican~Paul Sar-
mínlm vida cm quc, scm rchxão alguma, c, só as- tre c o mrdio Albcrt Camus, soñcram as mcsmas
sím, pcrccbo quc 0 scntido cstá simplcsmcntc ali. dúvidas quc você agora c11ñ'cnta, mas as tmnst('›r-
Eu até mcsmo cwcrímcnto uma cspécíc dc união maram cm uma ñlos<›ña, ainda quc niilisth Assim,
com o scr c alguém podcria até dizcr que ísso se você vai colocar os scus problcmas cm um nívcl
asscmcllmria a uma cxpcriêmia dc cstar pcrto dc acadêmic0, impondo uma distância cntrc você c
Dcus, Como tém dcscrito os grandcs místicos. cles. Aquilo quc 0 atormcnm p.*1ssará cntão a scr
Dc um jcito ou dc 0utro, podc-sc dizcr quc você visto como um ou outro parágraf(') cm ccrta pági-
cntão sc scntc próximo à \'Cl'dadc, c nós csta1n(›3, na dc dctcrminado volumc dc um ou outm autotx
ccrtamcntc, justificados cm supor que a verdade Você passará a rcconhcccr quc soücr por csscs pro-
tcm um aspccto divino. ()ra, olhc por cima dc mi- blcmas é algo 11()11cstmnc11tc humano, até mcsmo
nha cabcçaz na parcdc, por trás da minlm cadcira, uma conquista, mais do quc um sintoma ncurótí-
você vcrá o brasão da Univcrsidadc de Harvnrd co. Você dcscobrirá quc não há razão para scntir-
Nclc, há uma inscriçãç cm quc sc lê a palavra w- -sc cnvcrgonhado, mas para scntir-sc orgulhosoz
rimL quc sígniñca vcrdadc; mas, como você podc cstamos thlando dc honcstidadc intclcctuaL \1r1';1ís
pcrccbcr, na ñgura, cssa palavra sc dívidc cm três do quc intcrpretar o scu problcma nos tcrmos dc
sílabas, quc sc dístribucm por três livros. Podcmos um sintoma, você aprcndcrá a cntcndÔ-10 como
bem intcrprctar isso, pcnsando quc a verdadc total um aspccto csscmial da condição luumna, ao qual
não é uma vcrdade univcrsal, porquc não é accs~ todos nós nos submctcmos. V(›cê sc considcrará
sívcl a todos. O homcm tcm maís é quc satisfaV mcmbro dc uma comunidadc invisívcl, da comu-
zer-sc cm scgurar um único aspccto da vcrdadc nidade dos scrcs humanos quc soñ'0nL quc sotr'cm
totaL Isso valc também para Deus, dc quem a \'cr- dcssa cxpcriênulq abismal dc fhlta dc scntido para a
dadc não é mais do quc 111c1'amcntc um aspcct(›. cxistôncia c quc, ao mcsmo tcmpo, tcntam buscar
P. : O quc mc íntriga, no cntant0, é 0 problcma: O que uma solução para cssc antigo problcma da luuna-
cu dcvo tàzer quando me sinto assombrado por nidadc. Ora, cssc mcsmo soñímcnto c cssa mcs-
cssa thpcriência dc vazio, dc ausência dc qualqucr ma luta uncm você, dc t.17to, a alguns dos mclhorcs

_____um
IJV
c_\'cmpl.-1rcs da lmmmidadc Então, tcntc scr pa_ sc csqucça também das palavras dc Blaisc PascaL
cicntc c rcnha comgcmz pncicntc para conñar ao quc disscz “Lc wcur a scx mimm, quc la rtzison nc
tcmpo os problcmas não rcsolvidos c corajoso para commít p0im” [O coração tcm razõcs quc a pró~
não dcsistir da luta pcla solução dclcs. pria razão dcsconhccc]. Eu diria quc scu coração
P. : Entào, dout0r, o scnhor não acha quc o mcu pro- tcm acrcditado cm uma mison d 'êm' [ra7.ão dc scr]
blcma é apcnas uma neurosc a scr curada? última por todo cssc tcmpo. Às vczcs, a sabcdoría
Sc c', dc algum modo, uma ncurosc, cu diria quc dos nossos cornçócs prova scr maís profunda do
é simplcsmcntc a ncurosc colctiva dos nossos días, quc as íntuiçõcs dc nossa razão, c, às vc1.'cs, a coisa
quc dcvia scr curada apcnas no nívcl colctiv0. Vis- maís razoávcl a sc tàzcr é tcntar não scr tão racionaL
to dcssa mancira, scu sofr'imcnt0 rcprcscnta um P. : Foi prccisamcntc isso que eu dcscobri por mim
tipo dc soñimcnto quc afligc a humanídadc como mcsmoz às vczcs, para conseguir algum alívio, cu
um t(›do, ao mcnos quando sc trata dc scus rcprc- me volto às tarcfaãs quc mc estão à mão, conñ'0n-
scntantcs maís scnsívcís c de mcntc maís abcrta; é tando-mc.
o sotñmcnto dclcs quc você tcm agora sobrc os No início destc capítulo, añrmci quc o prazcr scxual
()mbros'. podc bcm ñmcionar como um mccanismo dc cscapc da
P. : E cu não mc ímportaria cm sotr'cr, contanto quc tr'ustração c.\(1'stenc1'al. Ncsscs casos, cm quc a vontadc dc
cssc sotñmcnto tívcssc scntid(). scntido é frustrada, a vontadc dc prazcr sc impõc não apc-
: Sua busca por scntido c 0 qucstionamcnto a rcspci- nas Como uma dcrivação da vontadc dc scntid(›, mas tam-
to dcssc scntido não sào patologiasu Trata-sc, mui- bém como uma substituta para cla. A vontadc dc podcr,
to maís7 dc uma prcrrogativa da juventude do quc por sua vc-z, scrvc, paralcla1ncntc, a um propósíto análogo.
dc uma docnça. Um vcrdadciro jovcm nunca toma Apcnas quando a prcocupação original Com a rcalização dc
0 scntído da vida como algo dad0, acr1'ticamcntc, scntido é f1~'ustrada, é quc alguém conccntra scus csfbrços
mas qucstiona cssa idcíaj O quc qucro dizcr é quc na obtcnção dc prazcr ou contcnta-sc com a conquista do
você não prccisa descspcrar-sc por causa dc scu dc- podcr.
scspcro. Você dcvcria, ao invés disso, tomar essc Uma das formas quc a vontadc dc podcr assumc cons~
descspcro como uma evidência mcsma da existên- tituí aquilo quc chamo dc “vontadc dc dinhcíro”. Esta sc
cia, daquílo quc costumo chamar dc “v0ntadc dc mostra rcsponsách frcqucntcmentc, por muitos casos dc
sentido”. E, cm certo scntido, o thto mcsmo de hipcratívidadc proñssionaL a quaL juntamcntc com a hipc-
sua vontade de sentido justiñca sua tê no scntid0. ratividadc scxuaL funciona como umn fuga à conscíência dc
Ou, como o tàmoso romancista Franz Wcrfbl dissc um vácuo cxistcnciaL
ccrta \'cz: “A scde é a prova maís ccrta da existência Uma vcz quc a “vontade de dinhcir0” assuma 0
da água”. Quer dízcr, como um homcm podcria Controle, a busca por scntido é substituída pcla busca dc
scntir scdc, sc não houvcssc água no mundoP Não mcios. O dinheiro, cm vez de permancccr cm sua condi-

u____120 WWM
V

ção dc mcio, toma-sc um ñm, dcixando dc scrvir a um m”. Elas cxibcm uma ânsia por vcloc1'dadc; para class por
pr0po'.s'it(›. cxcmplo, pilotar um carm possantc torna-sc um ñm cm
Qual scría, cntâo, o scntido do dínhciro, 0u, ainda, o si 111csmo. Trata-sc dc um mccanismo dc dcfbsa, dc uma
scntido dc possuir dinhcira> A maior parte das pcssoas que tcntativa dc cscnpar ao conñonto com o vácuo c,\'istcm*i.1›l.
o possui é, na vcrdadca possuída por clc, pela obscssão Cm Quanto mcnos alguém sabc aondc ir, tanto mais rápido
multiplicá-10, o quc, conscqucntcmcnte, anula 0 scu scn- cssc alguém vai qucrcr cair na cstrada. 0 thmoso comc-
tido. 0r.'1, possuir dinhciro dcveria, na vc1'dadc, signíñcar diantc viencnsc Qualtingucr, thzcndo o papcl dc um vân-
quc alguém sc cncontra numa posição afbrtunada; numa dalo, scntou numa motociclcta, cantandoz “É vcrdadc, cu
posição cm quc não scja ncccssúria uma prcocupação maior não tcnho idcia para ondc cstou ind0, mas, dc qualqucr
com os mcios (dinhcir0), mas sim com a busca dos ñns cm jcito, cu cstou chcgando lá bcm 1'ápido”.
si mcsmos - os ñns aos quais 0 dinhciro dcveria scrvir. Isso é um cxcmplo do quc cu chamarm dc “lazcr ccn-
Ccrta \'cz, o rcitor dc uma universidade nos Estados trífugo”, em oposição ao “la7.cr ccntrípcto”. H(›jc, 0 “lazcr
Unidos mc ofbrcccu novc mil dólares para mc ter em scu ccntríñlg0” é o prcdominantc. Fugir dc si mcsmo thz cvitar
corpo doccntc por algumas scman:15. Elc não conscguiu o c0nñ'0nt0 com 0 vazio intcrion O “lazcr ccntrípct0”, por
cntcndcr a minha rccusa, pcrguntando-mc: “Você qucr sua vcz, viabíliza a solução dos problemas, c o primciro pas-
nmis?”. “Nâ0 mcsmo”, rcspondi, “mas é quc, sc eu foàssc so para isso é cnfrcntá-los. As pcssoas quc oscilam cntrc hí~
pondcrar a rcspcito dc como invcstir csses nove mil dóla- pcmtívidadc profissional c “lazcr ccntríñlgo” não tôm tcm-
rcs, cu diria quc a nltcrnativa maís válida para mim scria a po para concluir scus pcnsamcntos. Quando clcs comcçam
dc comprar tcmpo para trabalhar. Mas, por ora, eu ainda a pcnsar, uma sccrctária entra c pcdc uma nssinatura ou um
tcnho tcmpo para trabalhan por quc então cu dcvcría vcn- tclctbnc toca. O quc acontecc, Cntão, fbi dcscrito pclo
dê-lo por novc míl dólarcs?”. salmista: “ Vel per noctcm momt cor mmm”. Até à noitc, scu
chitoz dinhciro não é um ñm cm si mesma Se um coração lhe advcrtc. Hojc, o salmista diria quc, à noitc, os
dólar podc scrvir a mais propósitos nas mãos dc qucm quer problcmas c.\'istcnci'1.ris rcprímidos rctornam. A consciêncm
quc scja, não dcvo guardá-lo no mcu próprio bolso. Isso, não os dcixa csqucccr. Isso constitui a origcm do quc cu cha~
porénL nadn tcm a vcr com altruísmo. A dicotomia altruís- maria dc “insônia noogênica”. As pcssoas quc c11f1kntaxn tal
mo vmm cgoísmo é, hojc, uma altcrnativa obsolcta. Como problcma, gcraln1@ntc, tomam rcmédio para dor1m'r. Elas
cu já dissc antcs, uma abordagcm moralista dos valorcs adormcccm, é vcrdadc, mas também sc tornam vítimas dos
dcvc dar passagcm a um pcnsamento ontológico ao longo ctbitos patogênicos da rcprcssã0; não da rcprcss.1"o dc fhtos sc-
dc cujas linhas “bem e mal” se dcfmem nos tcrmos daquilo xuais, mas da rcpressão das qucstõcs c.\'istcnci:u's dc sua vida.
quc promovc ou quc bloqueía a rcalização de sentid0, não Nós precimmos, na verdade, dc novos tipos dc tcm-
importa sc sc trata dc um sentido mcu ou dc outra pessoa. po livrc, quc pcrmitam algum cspaço para contcmplação c
Para aquclas pcssoas ávidas por obter dínheiro como mcditaçãa Para tal ñm, o homcm prccisa dc comgcm para
um ñm cm si mesmo, vale a exprcssãoz “Tcmpo é dinhci- cstar só.

u___122 _*____u123
V;
Em últimn anáüsc, o vácuo cxístcncial constitui um pa.
Técnicas logoterapêuticas
radoxo. Sc alargásscmos nossos horízontcs, pcrccbcríamos
quc gozamos dc nossa Iíbcrdadc, mas aínda não estamos
complcmmcnrc cicntcs dc nossa rcsponsabílidadc Sc csti~
vésscmos, cmcrgaríamos quc há uma vastidão dc scntido à
cspcra dc nossa rcalizaçâo, não importa sc cstamos cm um
país dc pñmciro ou dc tcrcciro mundo.
Dc thto, nosso primciro passo dcvcria scr o dc fbrtalc~
ccr c ampliar nosso conccíto sobrc a unidadc do homcm
O quc cstá cm jogo, aí, não é apenas a unidadc do homcm,
Nos casos dc neuroscs noogênicas, a logotcrapia cons-
mas, também, a unidadc do gêncro humano, da humani-
titui um tratamcnto cspccíñco. Em outras palavra-s, um pa~
dadc.
cicntc acomctido dc um dcscspcro cxistcnciaL cm fhcc do
Há milharcs dc anos, a humanídadc dcscnvolvcu o
aparcntc absurdo da vida, prccisa mais dc logotcmpia do
monotcísmo. Hojc, um outro passo sc fãz eúgin Eu o cha-
quc dc psícotcrap1'a. Isso, contud0, não valc para as ncuro-
maría dc “mon.-u1tr0písmo”. Não a crcnça em um Deus
scs psicogênicas. Ncsscs casos, a logotcrapia não sc opõc à
único, mas, maís do que isso, a consciêncía da unídadc do
psic0tCMpia, mas, cla mcsma, rcprcscnta uma dc suas abor-
gêncro humano; uma unidadc sob cuja luz as djfcrcntcs
dagcns.
corcs dc nossa pclc dcsaparcciamf6
Díscutircmos agora como a logotcrapia podc scr apli-
cada nos casos psicogênicos, apcsar dc quc uma introdu-
ção às suas aplicaçõcs clínicas dcvc bascar-sc cm cstudo dc
casos, pressupondo um enquadrc terapêutico adcquada
Quando comparadas ao trcinamcnt0, mcdiantc discussõcs
dc casos, até tmining ana_lvses são rclarivamcntc dcsim-
portantcs.
As aplicaçõcs clínicas da logotcrapia sc-gucm, dc ta't0,
dc suas implícaçõcs antropológicas. As técnicas logotcra-
pêuticas chamadas dc “dc-rcflcxão” c “intcnção parado-
xal”, ambas rcpousam sobrc dois constitutivos da cxistêncía
humana, a sabcr: as capacidadcs dc “aut0transccndência” e
““ Eu não sou cnntra a discrímínaçãu Na vcrdada ob\'ían1cntc, cu não sou dc “autodístancíamcnto” 1
a fhvor dc uma discrímimção r-.1cíal, mas dc uma díscrímínação radicaL Isto é,
cu sou J tãmr do julgamcnto indivídual no solo da úníca “raça” quc cada um
rcprcscnm por si. Em ourras pal-.1\'ras, sou a tàvor dc uma díscriminação pcs- |Viktnr E. I-'r-.1nkl, “Logothcrap\_' and Exístcnúal Analysís - A Rcvicw”,
soaL m;u's do quc racíaL Amzriam ]ourmzl ofPsv_rhutheraPV,» 20: 252, 1966.

U______”4 mulzs
Vr

Quando aprcscntci a tcoria motivacional subjaccnte à mo-nos da centopcia quc, como conta a históriag tbi in-
log()tcrapia, añrmci quc a íntcnção dircta ao prazer sc anula dagadm por scu inimigo, a rcspcito da scquência atmvés
a sí mcsma. da qual cla movia as suas pcrnas. Quando a ccntopcia c0-
Quanto mais o indivíduo mira o prazer, tanto mais cle mcçou a considcrar 0 problcma com atcnçâo, passou a tcr
crra o scu alvo. Em logotcrapia, nessc contcxto, tàlamos diñculdadcs cm locomovcr-sc, mal conscguindo coordcnar
dc “hipcrintcnçã0”. Iunto dcssc fbnómeno patogênicq as próprias pernas. A história conta quc cla morrcu, por
0bscrvamos, cm par1.-lclo, 0utr0, que, cm logotcrapia, cha- ñm, dc fbmcz scrá quc podcríamos dizcr quc cla morrcu
mamos dc “hipcr~rcflc.\'âo”, quc signiñca atmçño excessz'm. por uma hiper-rcflcl\'ã0 fhtalP
Ha', também, um fbnômeno quc podc, justificadamen- Em logotcrapia, a hipcr-rcf1c4\'ão é contra-.*1tacada pcla
tc, scr chamado dc “hipcr-reflcl\'ão cm massa”, a qual é, de-rcflcd\'ã0. Um dos domínios cm quc tal técnica sc mos-
particular1ncntc, bcm obscrvávcl na cultura dos Estados tra positivamcntc aplicávcl é o das ncuroscs sc.\'uais, scja
Unidos, na qual muitas pcssoas sc cstbrçam scmprc por no caso de tr'igidcz ou dc impotênciax Dcscmpcnho c sa-
vigiar-sc a sí mcsmas, por analisar a si mcsmas, no senti~ tistàção scxuais se prcjudicam ao sc tornarcm objcto dc
do dc procurar motivaçõcs obscuras para 0 próprio com- atcnção ou dc intenção <:.\'ccssiva.2 Nos casos dc impotêm
portamcnt0, no sentido dc intcrprctar cssc comportamcn- c›1'a, 0 pac1'cnte, fr~equcntcnwntc, considcra a rclação scxual
to nos termos dc uma psicodinâmica do inconscientc A como uma dcmanda, algo quc sc cxigc dclc, uma cobralr
protbssora Edith Wc1'sskopf-Ioclson, da Univcrsidade da ça. Eu aprofundci essc aspccto da ctiologia da impotên-
Gcórgia, dcscobriu, em suas pcsquísas, que, cntrc os cstu- cia alhures.3 A de-reflcxâo podc scr usada para rcmovcr 0
dantcs americanos, a autointerprctação c, próximo a cla, a carátcr dc autocobrança cxccssiva quc 0 pacicntc impõc à
autorrcalização são tidas como os valorcs mais altos, scn- rclação sc.\'ual.* O tratamcnto logotcrapéutico das ncuro-
d0, cstat1'sticamcntc, mais signiñcativos do quc quaisquer ses scxuais é aplicávcl indcpcndcntcmcntc da adoçãm ou
não, dos prcssupostos tcóricos da logotcrapiax No Dcpar-
outros. Ora, crcsccndo dcntxo dc um contexto como csse,
as pcssoas sà0, ñequentemcntq assombradas pcla idcia de tamcnto dc Ncurologia da Policlínica dc Vicna, cu conñci
quc os cfbitos danosos do passado vcnham a prcjudiCá-las,
c cssa cxputatim flltalista acaba por tornar rcalidadc csscs
3 No quc diz rcspcito no problcma da fr"igidc.7, o lcitor podc consultar um
tmnorcs. Um lcitor dc um dos meus livros, ccrta vez, mc cxcmplo ilustrativo quc incluí _cm mcu livro Mm¡s' S.'mrclj_fo'r ani1g¡: An
cscrcvcu uma carta cm quc fhz a scguinte conñssãoz “Eu Intmdurtion to Lboqothempy Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, l963, pp.
scmprc sofr'i mais por conta da idcia de quc cu devcria tcr 194 cm diantc.
3 Viktor Frankl', The Doctor mzd Tbc Soul: From Pn_'clmtljcrapy to Logtr
complmos do quc por rcalmcutc tê-los. Na vcrdadc, cu therupy, scgunda cdição, ampliadnu Altr'cd A. Ixümpt~ Nova Iorquc, 1965_ pp.
não trocaria minhas expcriências do passado por nada c 159 cm d1'311tc.
4 Eu discuti cssa téwnica na confbrência dc abcrtura protbrida no Simp(›'~.:io
acredito quc muitas coisas boas mc vicram a partir dclas”.
dc Logotcrapía ocorrído durantc o Congrcsso Intcrnacional dc Psícotcmpía cm
Espontancidadc c atividade podcm ser impcdidas Londrcs (Viktor E. FrankL “L0gothcrap\_' and Existentúl Analysis - A Rcvicw”,
quando sc tornam o alvo dc atenção cxccssiva. Lembre- Amerimn ]ourmzl ofPsythorlmwpy201 252, l966).

u____-_126 _*_____u127
Y

um sctor dc pac1'cntcs, acomctídos dc ncuroscs .s*c.\'uais, a


um médico dc oricnmção n'gidamcntc trácudianm No cn- mprud
uz
quadrc dc tal sctor, ondc apcnas proccdimcntos dc curto
prazo sao 1ndlcados, clc prcfcrc a tccmca logotcrapcutlca
à anall'tica.
Enquanto a dc-rcflC\.'ão consritui partc do tratamcnto
logotcrapêutico das ncuroscs scxuais, a íntcnção paradoxal FOBIA
SINTOIMA
sc prcsta a tratamcntos dc curto prazo de pacicntes ObSCS~
sivo-compulsivos c tovbícos.5
A intcnção paradoxaL cnquanto técnica, tem por ñm
cncorajar o pacicntc a fàzcr ou dcscjar quc acontcçam as Ure
tbrça
coísas mesmns quc clc tcme. No intuito de comprecnder
FIGURA 8
a cñcácia tcmpêutica dcssa técníca, dcvcrcmos considcrar
antcs o tbnómcno da “ansicdadc antecipatória”. Com tal
Como quebrar o círculo víciosoP Podcmos lidar com
cxprcssã0, rcñro~mc à rcação do pacicntc com rcspcito a
o problema tanro por mcio dc fhrmacotcrapia quanto dc
um acontccimcnto c à tcmerosa expectatíva dc sua ocor-
psicotcrapia-, ou por uma combilmção dos dois métodos,
rê11cia. Contudo, 0 mcdo tcndc a fazcr aC(›ntcccr, prccisa~
quc sc faz ncccssária cm casos mais scvcrosx°
mcntc, aquilo quc o pacicntc tcmc~; o mesmo ocorrc com
A fãrmacotcrapia constitui o mclhor caminho para sc
a ansicdade antccipatória, pois ambos sc cstabclcccm por
comcçar 0 tratamcnto naquclcs casos dc sintonms dc ago-
sobre um círculo vicioso. Um sintoma cvoca a fbbia, e a
rafbbia cm quc o hipcrtircoidismo atua como fhtor ctioló-
fbbia, por sua \'cz, passa a provocar 0 sintoma; a ocorréncia
gico subjacentcÍ ou, aínda, nos casos dc claustrotl›bi;1 quc
do sintoma, a p.1r^tir da f0'bia_1 logo passa a rcfo"rçá-la. O
remontam a um tétano latcntc.8 Dcvc-sc tcr cm mcntc quc,
pacicntc sc vê prcso num casulo, já quc um mccanismo de
fÊEIÍÚIZEÍZ sc cstabclccc.
"Tais como ()s quc dcscrcvi no cnpítulo sobrc n intcnção pamdoml no mcu
livro Tbc Ductor nud Yhe SuuL pp. 248 cm dinntc.
5 Em língua alcma', já cm I939, cu dcscrcvcra a técnica da intcnção 7Vikt0r E. FrankL “PS\_rhisrlw S\_'n1ptomc und ncumtiwhc Rcaktioncn bci
pamdoxal cm um artigo (“Zur mcdíkamcntõscn Untcrstützung dcr Psycho- Hypcrth_vrcosc”. AlrdirJõlísrhr Klinik 51z l 139, 1956.
tcrapic bcí Ncumscn” StlnwíztrArtljivfür ertrolqgit zmzí 1ãythiutrie43z 26 “ As origcns ñsiológims dcssc pmblcma tbram dcmonstmdas cm minha
- 3l); cm 1'11glés. cu a dcscrcvi cm l955, cm mcu Iivro Tht Datror ñnd rlu própria pcsquisn no mcu dcpartamcnto no Hospital Policlínicu dc VicnaL lnci~
Soulen Introduttiwz ta Logurlmvzpy (Alñ'cd A. Knopñ Nova Iorquc), tcndo dcntallncntc, o primciro tmnquilizantc dcscnudvido na Eumpn - criado por
aprotímdado a cxposição cm um artigo (“Paradoxical Intcntionz A Logothc- mím Cm 1952 (Vik¡0r E- anklu “ZUI' Bchandlung dCF Angst”, WÍMLT mt"
rapcutic chhniquc", Amrrimn ]umvml afPixvdlotbcmpy l4z 520, 1960) quc dizinixtllc Wnrljmvarfit 102z 535, 1952) - tamhém sc prcsm ao tratnmcmo
fbi rcpublicado em outro dc mcus livros (Pn_rtlwthempy aud Evístmtialíym: mcdicnmNcntoso dcssas claustrokübiag dc uma mancira particular (\'ikt0r E.
Stltctcd Paperx rm Lagotbempy, Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, FrankL ““chr somatogcnc Pscudoncroscn“, WienerliniscIJe Wodmmhrhf 68z
l9ó7). 280, 1956).

uwm *______um
l
contud0, o thtor orgânico cnvolvido cm tais casos prové
mcnt0, gostnria dc contar uma cxpcñéncia pcssoal por quc
não mais quc uma mcra ínclinação à ansicdadg cnquanto
passcL Durantc uma cscalada, cm tcmpo dc névoa c chuv.'1,
n ncurosc dc amgústiag cm sua complctudc, não sc ativa, a cu vi um parcciro alpinista cair. Mcsmo tcndo sido cncon-
mcnos quc o mccanismo dc nnsicdadc antecípatória cntrc
trado 200 mctros abaixo, clc sobrcvivcu ao acidcntc. Duas
cm ccna. Portanro, para dcsmontar 0 círculo, dcvc-sc in-
scmanas dcp0is, cu cscalci o mcsmo trccho íngrcmc cm quc
tcrvir, tanto no polo psíquico quanto no pólo orgânico; a clc caíLL Muis uma vcz, o clima cstava ncvocnro c chuvoso.
intcrvcnçã0, no prímciro, constitui, p1'ccisamcntc, o traba~ No cntanto, apcsar do choquc cmocional quc s<›tr'cra, cu
lho dcscmpcnhado pcla intcnçào paradoxaL dcsahbi a situação c, ao f.17Zê-l(›, supcrci o tmuma psíquico.
O quc, cntão, acontccc quando sc aplíca a intenção Juntamcntc com a ñlga do mcdo, há mais dois padrõus
pamdomlP Quando sc cncoraja o pacicntc a fazcr ou a dc-
dc comportamcntm a sabcrz “luta pclo prazcr” c “luta con~
scjar acontcccr as coisas quc clc tcmc, cngendra-sc uma tra 0bsessõcs c compulsócs”. A luta pclo prazcr sc c0nñm-
“invcrsão da intcnçã0”. O mcdo patogênico é substituído
dc Com a hipcrintcnção para 0 prazcr, 21 quaL como vimos,
por um dcsejo paradoxaL Na mcsma mocda, perdc tbrça a constítui um dos fhtorcs ctiológicos mais s1'gniñc.-1t1'vos das
wsicdadc antecipatóría. ncuroscs sexuais A luta contra obs<.-'s.s'õcs c compulsócs cons-
Eu acabci dc tàlar a rcspcito dc uma “ínversão da in- títui 0 padrão patogênico das ncuroscs obscssívo-c<›mpulsi-
tcnção”! Mas qual, cntã0, é a intcnção por parte dc um vas. As pcssoas quc sofr'cm dcssc transtomo são gcralmcntc
indivíduo fõbicoP Ora, sua intenção é evitar aquclas sítua- atormcntadas pcla idcia dc quc podcm comctcr suicídio (0u
çócs quc provocam a angúst1'a. Em logoterapia, falamos dc até mcsmo homicídio) ou dc quc (›s cstranhos pcnsamcn-
“f11ga do mcdo”. tos que as visítam friequcntcmcntc podcm scr sinais dc uma
Tal fknómcno podc scr obscrvado naquclcs Casos em imincntc - se não já atual - psiwsc. Em outras p.1'lavras, clas
quc, por Cxcmp10, a própria angústia constitui o alvo do tcmcm 05 cfeiitos em potcncial ou a possívcl causa dcsscs
mcdo, quando o próprio pacicnte tàla dc um “mcdo dc pcnsamcntos cstranhos. O padrão f(')'bico da ñlga do mcdo é
tcr mcdo”. Elc-, realmentq témc os efbítos potenciaís do comparávcl ao padrão obscssivo-compulsiva Os ncuróticos
mcd0, scja um dcsmai0, um ataquc cardíaco, ou dcrran1c. obscssivo-compulsívos também dcmonstmm mcdo, mas, no
Dc acordo com os cnsinamcntos da logotcrapía, a Caso dclcs, não sc trata dc “mcd0 do mcd(›”, nms, sim, dc
“ñlga do mcdo” constitui um padrão patogênico dc com- um mcdo dc sí mcsmo. A rcsposta dclcs pam cssc tipo dc
portamcnta9 Mais cspccihlamcntc, constitui um padrão mcdo consistc cm lutar contra as obscssócs c as C(›mpulsõcs.
ñâbica () dcscnvolvimcnto dc uma foâbia podc, no cntanto, Mas, quanto mais os pacicntcs lutam, mais tbrtcs sc
scr prcvcnido por mcio do confronto com as sítuaçõcs quc tornam os sintomas. Em outras p.'11.'wras, juntamcntc com
Começam a provocar mcdo. A fím dc ilustrar o mcu argu- a fbrmação cíclica cngcndrada pcla amsícdadc antccíp.1-tó-
ria nos casos dc tbbim há também outro mccanísmo dc
9Viktor FrankL “Angst und Zwang. Zur Kcnntnís pathogcncr Rcaktions- feedlmck, que podemos cncontrar nos ncuróticos obscs-
mustcr”, Atm Pyxvchothwwptutim l: lll, l953. sivo-compulsivos: prcssão induz contmprcssão c csta, por

u____loo" _____um
sua vcz, aumcnta a prcssãa Sc sc Conscguir fhzcr com quc Um dos médicos lhc cnntou 0 rcsultado dos c.\'amcs,
0 pacicntc parc dc lutar contra suas obscssõcs c compul- dcpois sugcriu quc clc kassc à rua c tcntasst sofrcr um ataquc
sõcs ~ 0 quc podc bcm scr alcançado arravcís da intcnç.1'*o ç1.›rdíac0, dizcndo-lhc: “Diga a si mcsmo quc ontcm você
pamdoxal -, scus sintomas logo diminucm c, por ñm, se tcvc dois ataqucs cardíacos c quc hojc vocé tcm tcmpo para
atroñam conscguir um tcrcciro, já quc ainda é dc manhà ccdo. Diga
Tcndo discutido a tcoria, voltcmos nossa atcnção, ago~ a si mesmo quc você tcrá um bclo insulto coronári0, um
ra, à prática da intcnção paradoxaL Fnçamos uso dc um rcla- 111.1'ravilhoso colapso cardíaco”. Pcla primcira vc7,, (› pacicntc
to dc caso. Edith \Vcisskpf-Ioclson,10 do Departamcnto de conscguiu libcrtar-sc do invólucm cm quc sc cmlausurara.
Psicologia da Univcrsidadc da Geórgia, nos dá o scguinte Há evidência dc quc a intcnção paradoxal também é
tcstcmunho: “Eu tcnho usado a °intcnçã0 paradoxaP com cñcaz nos casos cr(^)nicos.“ Por cxcmpl(›, na Gcrmau Ency~
muitos dc mcus pacicntcs - c até comigo mcsmo - c venho clopmdia 0me_IchothWapy,” há um cstudo dc Caso dc uma
atcstando sua cficácia. Por cxcmplo, um cstudante univcr- scnhora dc scsscnta c cinco anos quc, ao longo dc scsscn-
sitário quc cu vínha acompanhando rcclamou dc uma an- ta anos, sofña dc uma compulsño por Iavar as mãos. Um
siedadc com rcspcito à aprcscntação oral de um trabalho a mcmbro dc minha cquipc conscguiu nplicar a técnica da
scr tcáita - digamos - numa sexta-fc'ira. Eu o aconselhci a cs~ intcnção pamdoxaL com succsso, ncssc caso.
crcver cm sua agenda escolar, cm cada dia da scmana, Com No Amerimn ]ourmzl of Psych()thcmpy, Rnlph G. Vic-
lctras garrata'1's, a palavra °ANGÚSTIAÃ De certa forma, tor e Carolyn M. Krug,*3 do Dcpmtamcnto dc Psiquíatzia
cu lhc pcdi quc planejassc uma scmana chcía dc angústia. da Universidadc dc Washingtom cm Scattlg publicmm 0
Com cssc procedimcnto, ele mc rclatou scntir-sc bcm mais rclato dc um caso cm quc sc cxpcrimcntou a aplicação da
aliviado, pois agora sofria apenas dc angústia, c não mais dc técníca da intcnção paradoxal cm um jogador compulsivo.
estar angustiado por cspcrar a angústia”. O pacicnte, dc 36 anos, vinha tcndo problcma com o jogo
0 quc scguc é outro cxcmplo dc intcnção paradoxaL desdc os 14. Dcpois dc scr instruído a jogar dimimncntc
Um pacicntc sc rccusava a sair de casa, pois, scmprc quc o cm três horários cspccíñcos, o p.^1cicntc rclatou c,\'pcrimcn-
fazia, cra atacado por um mcdo dc passar mal e dcsmaiar tar uma protuânda scnsação dc quc, “após cinco psiqu1'.~1tras
no mcio da rua. Quando tcntava sair dc casa, cle scmprc difkrentcs em Vintc anos, cssa tbra a primcira vcz quc uma
rctomava após alguns passos. De fat0, ele fugia do próprio abordagem criutim cra dada ao problcma”.
mcd0. Eu o conhcci quando clc fbi admitido cm mcu De-
“ H. 0. Gerzz “Thc Trcatmcnt ofthc Phobic and thc Obscssivc>Compulsivc
partamcnto na Policlínica de Viena. Minha cquipe o exa- Paticnt Using Paradoxical Intcntion Scc. Viktor li Frankl”, ]aur›ml (_f›'Nrurup-
minou cxaustivamcntc e Chcgou à conclusão dc quc cle não Jythíatry 32 375, 1962.
12 K. Kocourck, E. Nicbaucr &' P. P<›l;1k, “Erg,vcbnissc dcr klinischcn
sofria dc nenhum problcma cardíac0. Anwcndung dcr Logothcmp1'c”, cm Hrmlmtb drr Ncurnxmlrhrr und Prv_rl¡o-
therapz'2, cditado por V. E. FrankL V. E. Von Gcbsattcl c I. H. Sclullt7, Urbnn
SC Schwarzcnbcrg, MuniqLIc-Bcrlim, 19591 voL 3_ p. 752.
'“ Edith Wc1'.s'skopf-Ioclson, “Thc Prcscnt Crisis in Psychothcrapy”, Ths “*lL1plh(x'.Vict(›r &' Carolyn M. Krug, “P.-u.*1do,\'ic.11' Imcntion in thc Trcatmcnt
Immml af'Pn_T/¡uluyy 69z 107 - 115, l968. of Compulsívc G.1'mbling”, American ]ourna1 of Psydmthtmpy 21: 808, l9()7.

u______132 _-____®3
V

O pacicntc pcrdcu todas as apostas c, dcntro dc trés Um dc mcus alunos anwricamosg numa provn aplicada
scm;mas, já cstava complctamcntc scm dinhciro. Então7 “o cm minha disciplina, quando pcdido pnra cxplicar a técnica
tcrapcuta sugcriu quc clc vcndcssc 0 próprio rclógio”. Dc da intcnção p.1-rad(›.\"al, apclou para 0 .s*cx_,guintc rclaro aut(›-
fa't(), “.1'0 scguir (.› trammcnto pcla intcnção paradoxaL o bi()z,__rr^1.'ñco: “Mcu cst<^>mago costumava roncar scmprc quc
pac1'cntc, pcla primcira vcz, cm mais dc vintc anos_ consc- cu cstava na companhia dc outras pcssoas. Quanto mais cu
guiu algum .1'Iívi0”. tcntava impcdir quc isso mzontucssc, pior ñcavn a situação.
I. Lchcmbrc c.\'pcrimcntou a aplicação da intcnção pa- Logo comccci a accitar a idcia dc quc cssc problcma mc
mdoxal cm crianças nas Unívcrsidadcs dc Utrecht c Nijmc- acompanharia pclo rcsto da vida. Comccci a convivcr com
gan nos Dcpartamcntos dc Psiquiatria c Pcdiatria, rcspcc- clc, passando até a rir com os outros dcssa situmgãu Algum
tivamcntg tcndo sido bcm-succdido na maior partc dos tcmpo depois, o problcma dcsaparucu”.
casos. Em scu rclat('›rio, publicado na Acm Neurologím et Ncssc contcxto, cu gostaria dc cnfhrizar quc mcu
Puwctljíatrim BellqicmH clc tñsa quc cm apcnas um caso tbi
aluno adotou uma atitudc bcm-humorada diantc do
obscrvada a substituição dc síntoma.
sintomax De fa7to, a intcnção paradoxal dcvc scr scmprc
Na União Soviética, a intcnção paradaKaL dc acordo
tbrmulada da nmneira mais bcm-humomda possích O
com uma dcclaração fc”1't.1'pclo profbssor A. M. Swjadost5Ch,
humor é, cm última instância, um fcnómcno tipimmcntc
tcm sido usada, cm scu hospital, “com succsso no tratamcnto
humano.Is Añnal, bicho ncnhum é capaz dc rir. O quc é
dc tbbias c dc ncuroscs dc angústia” (comunicação pcssoal).
ainda mais importantc é 0 fato dc quc o humor pcrmitc
A cólebrc citação dc Iaspersz “cm ñlosofia, inovação
ao homem criar uma perspcct1'va, impor uma distância
podc vir a contrariar a vcrdadc”, pode também valcr para
cntrc si mcsmo c o quc qucr quc 0 confrontc. Na mcsma
a p51'c0tcrapia. Dc ccrta fbrma, a intcnção paradoxal scm-
mocda, o humor pcrmitc ao scr humano um dcscolamcn-
prc cxistiLL Um cxcmplo dc uso não proposital da técnica
to dc si mcsmo, o quc implica a obtcnção do maior au-
nos tbi dado pclo chcfb dQ Dcpartamcnto dc Psíquiatria da
tocontrolc possíveL Ora, mobilizar a capacidadc humana
Univcrsidadc dc Mainz, na Alcmanha OcídcntaL Elc mc
do autodistanciamcnto Constitui basicamcntc 0 mérito da
contou quc, quando cursava o cnsino médio, tevc dc atuar
intcnção paradoxaL Com isso cm mcntc, não mais parccc
cm um.1pcça. Um dos pcnsonagens cra um ga.go, o quc fez
vcrdadc quc “não lcvamos ainda suñcícntcmcntc a sério
com quc dcsscm tal papcl a um cstudantc quc realmentc
gagucjassc. L0g0, no cntanto, 0 aluno cscolhido tcvc dc
dcsistir do pach scndo substituído, pois ocorrcu quc, no “' Falando cm humor, a intcnção pamdoxal podc bcm scr dcñnida nos tcrmos
palco, sua gagueira não mais o acomet1'a. dc uma ancdota. Um guroto quc chcgou anusado à cscola aprcscnta à protbs~
sora a dcsculpa dc quc as ruas, chcias dc gcl(), csmvam tão cscorrcgadins que,
O scguinte caso constitui outro exemplo dc aplicação quando clc dava um passo à trWznth ncabava por cscorrcgar dois passos para trás.
não proposital da intcnção paradoxaL A protkssora logo objctouz “Agora cu lhc pcguci numa mcnt1'ra. Sc isso tbssc
vcrdadc, você jamais tcria conscguido chcgar à cscola”. O gar(›t0, cal'm.1'mcnrc,
rcspondcu: “Por quc nã0? Eu apcnas dci mcía-volta c ñz o caminho dc casa".
“ I. Lchcmbru “I.,íntcntion paradoxalc, proccdc dc psychothérapic”, Attlz 0ra, não toii ísso uma intcnção paradoxalP AfinaL não fbi o garoto bcnrsuccdb
Ncurologim ct P›_whiatrím Beglim 642 725, l964. du ao invcrtcr sua intcnção originaL>

u_-___*__134 ___*-*_u135
lr
0 humor”, como nos diz Konrad Lorcnz,'° cm scu mais W=x+y
rcccntc livro.
A primcim incógníta rcprcscnta a pcrsonalidadc singu-
Com rcspcito ao hum()r, Gordon W. Allport mc fcàz
lar do p.1'cic11tc, cnquanto a scgunda rcprcscnta .1 pcr501m~
um ímportantc qucstíonamcnto após a aprcscntação dc um
lidndc singuhr do tcrapcutau Ambas dcvcm scr Icmdas cm
trabalho mcu na Univcrsidadc dc Harvard.
considcraçã(› antcs dn cscollm dc um método cm psícotc
A pcrgunta cra sc cssc sndio scnso dc humor, increntc à
rapiaL Ncssc scnrid(›, o quc valc para outms métodos dc
técnica da intcnção parado.\'al, cstaria igualmentc disponível
psicotcrapia tambóm valc pam a logotcrapim
cm todos os pacicntcs. Eu lhc rcspondí quc, cm princípio,
A l()L,gotcmpia, assim como qualqucr outro método dc
todo scr humano, cm virtudc dc sua humanidadc, é capaz
psicotcmpia, não é uma pan.-1ccia,
dc dist.1-ncíar-sc dc si mcsmo c dc rir dc si mcsm0. Contudo,
Um psicanalism, ccrta vcz, fcz o scguintc comcntário
há 1^Ilgunms ditbrcnças qunntitatívas no grau em quc a capa~
sobrc scu método tcrapêuticoz “A técnicn quc utilizo pr()-
cidadc dc autodistancíamcnto c scu scnso dc humor saudá-
vou scr o único método condizcntc com a minha indivi-
vcl podcm scr mobilizados. Um cxemplo dc um baixo grau
dualidadg cu não mc arrisco a ncgar quc um (›utro tcra-
dc mobilização é 0 scguintcz havia um pacícntc em mcu dc~
pcuta, dc form.1-çãO c gosto dithrcnrcs, vcnha a scntir-sc
partamcnto quc trabalhava como guarda em um muscu. Elc
impclido a adotar uma outra atitudc díantc da tarcfh a clc
não conscguia pcrmancccr cm tal cmprcgo porquc tcnllia,
conñada por scus p.14c1'cntcs”. O homcm quc tbz cssn con-
dcscspcradamcntc, quc algum quadro fbssc roubado. Du-
ñssão fbi Sigmund Frcud.
rantc uma scssão, cu tentcí aplicar~lhe a técníca da intcnção
Como a logotcrapia não é uma panaccim não podc
paradomlz “Diga a si mcsmo quc Ontcm roubaram um Rem-
havcr objcção às suas possibilidadcs dc combinaçio com
brandt c quc hojc roubarão um Rcmbrandt c um Van Gogh”.
outros métodos, tal Como sugcrido por psiquiatms co-
Elc simplcsmcntc olhou para mim c dísscz “Mas, Hcrr Pro-
mo Lcdcrmann (hipnosc),'7 Bazzic (relaxatíon trtzímiqçz
tcisson isso é contra a lci.'”. Essc pacicntc estava muito pouco
após Schultz),18 Kvilhaug (tcrapia comportamcntal),“
mobílizado para cntcndcr 0 scntido da intcnção paradoxaL
Vorbusch20 c Gerz (fàrmaC0t6mpia).21
Quanto a isso, a intcnção pmudoxal não é exccçào, aliás,
nem a própria logotcrapía 0 é. É rcgra quc a psicotcrapia -
” F. K. Lcdcrmnnm “(Ilinical Appll"<..1ti0us of E\'.ístcntial Psychothcrap_v”,
todo c qualqucr método dc psicotcrapia - não sc aplica a jourmll ofExistentiul Psycljiatry 3: 45, 1962.
todo pacicntc com o mcsmo grau dc succss<›. Mais além, ncm “*T. Bazzi, trabalho aprcscntado no Congrcsso Intcrnackmal dc Psícotcra~
pia, Barcclona, 1958.
todo tcrapcuta é capaz dc mancjar Cada método com o mcs- W B. Kvilhaug, “KJinischc Erthhrungcn mit dcr logothcrapcutischcn chhnik
mo grau dc habi11'dade. O método dc cscolha, Cm dctermi- dcr paradoxcn Intcntion bczichungswcisc dcrcn Kombination mit andcrcu
nado caso, funciona como uma cquação dc duas incógnitasz Bchandlungsmcthodcn (Bcrícht übcr 40 Fãllc)”, trnbalhn -.1prc.'scntado pcmntc
a Socicdadc Médica dc Psicotcrnpin da Áusrrim Vicn.1, IS dc julho dc l9()3.
Zn H. I. Vorbu5ch. “Dic Bchandlung schwcrcr Schlatàturungcn mit dcr pa-
mdoxcn Intcntion”, trabalho aprcscntnndo pcmntc a Socicdudc Médicn dc
“'K0nrad Lorcnz, On Aggrmiom Bantam Books, Nova York, l967, p. Psicotcrapia da Áustrin, Vícna, cm l° dc junho dc 1965.
284. 21 H. O. Gcrz, “chcrc Dcprcssivc and Anxicty Statcs”, Mind l: 235, l963.

*_-____u137
VÍÍÊWP ' ' '

Por ()ut1'() lado, 05 cxprcssivos rcsultados obtidos por A maioria dos autorcs quc aplicou a intcnção paradw
mcio da intcnção pamdoml não podcm scr c.\'plic.1-do.s' mc- xaL cm scus trabalhos publicad(›5, concorda cm quc sc trata
ramcnte nos tcrmos dc um mccanismo dc sugcstão. Na dc um proccdimcnto dc curto praza No cntanto1 conm
vcrdadc, nossos ¡:›:u'icntcs, fr'chlcntcnwntc, acnbam por o cditor do Amcrican lourual Qf I.)_wcl;nt11r7'apy, Emil A.
usar tal técnícn sob toirtc convicção dc quc cla não funcio~ Guthcil,1° cscrcww “[A suposiçahl dc quc a durabilidadc
n;1, mas, ainda assim, obtêm Óxíto cm sua .1'plícação. Em dos rcsulmdos é dirctnmcntc proporcional à dur.'1çã(› da tc-
outras palavras, csta é lwnrsuccdida não por conta da su- mpin [é umn das] ilusõcs da ortodoxia fr"cudiana". E como
gcstão, mas, dc t11t0, apcsar dela. Bcncdikt22 submctcu scus ]. H. Schultzf7 o grandc dccano da psicotcrapia alcmi cs-
pacicntcs a uma batcria dc tcstcs no intuíto dc avaliar a crcvcuz “É complctanwntc scm ñmdamcnto a idcia dc quc
susccptibilídadc dclcs à sugcstâa a rcmoção dc sintomas dcvc scr scguida da _s*ubstituição dc
Scus p.'1c1'cntcs prmuram tcr baixa vulncmbilidadc à
sintomas”.
sugcstão cm rclação à média, nms, ainda assim, a intcnção Edith \*Vcisskopf-Joclsm ,-“" quc é uma p's.ic.1'nalisra, cx~
p;1r.1do.\'.-11 sc mostrou bcm-succdida nesscs casos. prcssou 0 mcsmo ponto dc vista cm um trabalho sobrc
GcrzF chzcltcrn c Twccdíc“ dcmonstraram quc a
log(›tcrapi.1-. “Tcrapcutas dc oricntação psicam.lítica”, diz
intcnçio paradoxal não dcvc scr conñmdida com pcrsua-
cl.1', “podcm alcgar quc ncnhuma mclhom rcal podc scr
sã(›. Contudo, dcvo rcconheccr quc, cm alguns casos, a
alcnnçada com métodos como os da l()gotcrapia, já quc a
intcnçab paradoml não podc scr lcvada adíantc scm algum
patologia tcria suas raízcs cm c.-1m.-1das “mais proñ1nd.'ls°, c
apclo prévio à pcrsuasão. Isso valc, particula1'mcnte, para
os tcrapeutas sc limimrinm ao tbrtalccimcnto ou clcvação
as obscssols por blasfêmia - tipo dc caso para o qual uma
dc dcfbsasx Tais C(›nclusõcs, no cntanto, não são irrcñlt.-í-
técnica logotcrapêutica foi cspccialmcntc dcscnwolv1'da.25
vcis. Elas podcm nos mantcr .1'fhstados dc impormnrcs tbn-
tcs no Campo da saúdc mcntaL só porquc tais fbntcs não
-”- sz BL'ncdikt, “Zur Thcmpic angst ~ und Iz\\'.'mgsncurotischcr Symptomc
mit Hiltb dcr ^Paradnwn Intcntímf und “Dcrcflc.\'ion' nach V. E. Frankl”, dis- sc ajustam ao quadro tcórico cspccíñco da p.s'ic.um'lisc. Não
scrtação, Faculdadc dc 1\'lcdicín-.l da Univcrsidade dc Muniqu, 196(). dcvcmos nos csqucccr dc quc conccitm tnis como “dcfb-
35 H. (). Gcr/.', “Thc Trcatmcnt Ufrhc Phobic and thc Olnsussivc›(Ion1pul-
sas , “camadas mais proñ1nda§ c “t1mcionamcnto adcquado
7

sivc Paticm Us.*1'ng Panldmdcal Intcmion Scc. Viktor l-l. l-'rankl”, ]om'›ml Qf
.N"L'uropn_TIJiHva 31 375, I9ó2. em nível supcrñcial com pntologia subjaccntc” constitucm
H. (). GcrL “E.\'pcricncc with thc Logothcrapcutíc chhniquc Of Parado-
,\'icnl Intcntion in thc Trcatmcm ofPhnbic and Obscssivc-(Éompulsivc Patícnt5"_
tmbalho Jprcscntadn no Simpósio dc Logotcrapm rcaliudo no Scxto Congrcs-
so Intcnmcional dc Psicotcrapia, Londrcsg 1964. Amerimn ]om'nal 0fP›:vr/Jin› 3“ E. A. GuthciL “Pr0cccdings Uf thc Assocmiun tbr th Admnccnmnt of
niv 1232 548, l966. PS\_'chothcr.1py”, Amrrimn journnl nfl\.)j'rlmtljrmp_v l(): 13~L l95(›.
3'* l). F. Twccdim 1'7Jr (,'/Jrim'mz Fnirb: Au Evnluntiun 0fFrmzkl k Iivistcntial 37 I. H. SchultL “An.11yti5chc und organúmischc PhychulhClílpiC“, Acm
Apprmzrli tu P_ntl¡atl¡urnp_xg Bakcr Book Housc, Grand Rnpíds, Nüchigam 1963. PstylmtlJrrapwtim I: 33, l953.
l). F. Tm:cdic, lec Cljrixtimz tmd tljr Crmclx An Iutruductirm to Cllrixtian -"* Edirh “'cissk()pf-Ioclsom “S(›mc (Í(›mmcm.s nn .1 Vicnncsc Schnol of
Lqmitljrmpjg Bakcr Book Housc, Gmnd Rnpx'ds, Míchigam l963. Psv\'c|1iatry”s Imtrnal qulmurmal aud Sorinl Iüyclmlqrry 511 70L l955.
5 Víktor E. l-'rankL 7716 Dactor zmd thv .S'oul: 1-'r0m Pvnwhotbempy to Logotlic- Edith \Vc¡ssk(›pf-]()cls(›n, “L()g()thcrnpy and l-L\'istcmial Analysis", Actu
rtzpy, Altr"cd A. Knopñ Nova I()rquc, 1965, p. 239. Pryrllotzmpmtím l7: 554_ l9()3.

W_UB9
V

muito mais conccitos tcóricos do quc obscrvaçõcs cmpínl çodinâmicos.30 ()utros, como D. Müllcr-I“-Icgcmnnn,31
cas”. Em nosso caso, difbrcntcmcntg os rcsultados obtidos dcscrcvcram a intcnçio paradmal como “uma .1'b(›rdagcm
por intcrmcliio da intcnçio paradoxal mcrcccm, sim, scr dc oricntação ncuroñsiológim”. Elc cs.'crcvc quc “tcm 0b~
qualihkados como obscrmçõcs cmpíricas. scrvado rcsulmdos f.-'1v0rávcis nos últímos anos cm pacicn~
Outro psic.'1n.1'list.1', Glcnn G. GOIIO\vay, do Hospital tcS fõbicos”, o quc 0 t.71/:, portantq “C(›nsi(k'rar a intcnção
Estadual dc Ypsilath argumcnta quc n intcnção paradoxal paradoxal como uma técnica dc muito mórito”. Mais uma
não rcsolvc 0 “conflit0 subjaccntc”. Mas, diz clc, isso “r1ão \'cz, dcvc-sc notar quc até mcsmo tcmpcutas dc abordm
invalida 0 mérito da intcnção paradoxal como uma técnica gcns bcm dífbrcntus da logotcrapm adotam a intcnção pa-
bc=n1-succdida. Não é ncnhum demérito para o cirurgião o radoxal cm scu rcpcrtório dc tc'cnícas.
thto dc quc elc não cura a vcsícula quc rcmovc do pacicntc- 7
Algumas tcntativas dc csclarcccr as indicaçócs da logo-
cstc, contudo, ñca mclhor scm cla”. tcrapia têm sido Ibitas. Por cxcmplo, Gcrz, dirctor-clínico
“O quc cntão a intcnção paradoxal f-.1'z?” Essa é a pcr- do Connccticut Vallcy HospitaL acrcdita quc a intcnçâo
gunta quc Lcston L. Havcns,39 do Departamcnto de Psi- paradoxal é um tratamcnto cspccíñco pam distúrbios t(”›-
quiatria do Curso dc Mcdícina dc Harvard, fcz a si mcsmo. bicos C transtomos obscssivo-compulsivos. Ela “sc prcsta
Sua rcsposta “cm linguagcm fhmi1iar”, isto é, cm termos cspccialmcntc a uma tcrapia dc curra duraçãm cm casos
psicodinâmicos, Íbiz “Estimula-sc 0 pacicntc a dcscarrc- agudos”.32
gar o ímpulso proibido; é dada a cle pcrmissão para tan- No quc díz rcspcito aos dados cstatísticos, Gcrz assí-
t(›. Mais cspcc1'ñcamcntc, podc-sc dizcr quc suas inibições nalaz “88,2% dos pacicntcs sc rccupcraram ()u mclhoraram
são afasmdas (...) Ccrta1ncntc, o quc Frankl rccomcnda considcravclmcntc. A maior partc dos pacicntcs cstudndos já
cai sobrc o vclho tcrmo Lmodihkação do supcrcgo.” (...) vinha sofrkndo com o problcmm cm média, há mais dc vintc
O tcrapcuta intcwém no scntido dc suprir o pacicntc com c quatro anos... Aquclcs quc sc cncontmmm docntcs por
uma consciência mais pcrmissivm Afcãtarmsc os padrõcs e os muitos anos prccisaram dc cm torno dc dozc mcscs dc scs-
ídcais do pacientc. Para o paêicntc quc sofric com a falta
dc idcais, Frankl 0 ajuda a cncontrá-los. Para os pacicntes mViktor E. FrankL nycllotbvrnpy mzd ExistmIinlim1: Srlcttrd Pnptrs on
quc soñcm os sintomas dc idcaís punitivos, Frankl procura IAgIc›t/Jz:rapy, Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, l9(›7; H. (), Gcrz1 “Thc
Trcatmcnt of thc Phobic nnd thc ()l'›sc.ssi\'c-(Iz›mpulsivc P.\tic11t Usin;_.,y Parn~
modiñcá-los”. doxical Intcmion Scc. Viktor FrnnklÊ jmtrnulrffNcumpzwdliatnv 3: 375, 1962.
Por cssa razã0, muitos psícanalistas têm aplicado com 310 dírctor da Clínica Ncuropsiquiátrica da Univcrsidadc K.1rl Marx
cm Lcip7.ig, Alcmnnha ()ricntal. Consultar scu artigo “'\¡icthodological
succsso a técnica da intcnção parad0\.'al. Alguns proñssio-
Approachcs in Psychothcrapy'”, Amcrícmz jourmll DfP_.\'VEÍJ()ÍÍJL'I'II_IJ_1' l7: 554,
nais da árca tcntam cxplicar cssc succsso cm tcrmos psi- 1963.
32 H. 0. Gcrz, "E\'pcricncc with thc Logodlcrapcuric 'l'cchniquc of Parm
doxicnl Intcntion in thc Trcatmcnt Uf Phobic nnd ()bscssi\^c~(Íompulsiw l°.1~
ticnts”, trabalho aprcscntndo no Simp(›'sio dc Logotcrnpia rc;\limdo dumntc o
7° Lcston L. Havcns, ^'Paradoxical Intcntion”, Prythianfv tmd Sotiul Scimcc Scxto Congrcsso Intcrnacional dc P51'cotcrapía, Londrcs, I964. Amsrimn
Rcvimv, 2: 2, 1968, pp. ló-l9. ]our7ml afPsychitztry 1232 548, 1966.

U____l4° _____UI4I
sõcs, duas vczcs por scmana, pam a rccupcração. Pacicntes Orm tal Postum Só Comribuiria pam 0 crm dc to_
acomctídos por algumas scnmnas ou mcscs rcspondcram à ímar um cmto pcla Cwsa_ Mms aíndm uma mNrprCmçãO
lllltmção p'Àlr“'ld°*\r'll› a Pamr dc quatro a dozc SCSSÕCSÊSR como cssa apcnas rctbrçaria o scntimcnto dc culpa do pa-
O DR Gcrz adidonm ““'é ComPrccnSíVd quc um tc" cicntc numa mcdida tal quc podcria até rcsultar cm sui-
rapcuta quc passou poranos dc trcmamcnto psicanalítico Cídi0_ A logotcr_¡.pia1 ncsscs Casosa Otbrccc um tcstc CS_
tcnda a rcjcit.1'r, prcconcdtuosamcntc, a1'ntcnçãoparado- Pccíñco Pam avaliar O risco dc suicídio dc dctcrmimdo
xal scm tcr tcntado sua aplicaçào”.34 E, scm dúvida, muito PaCl-CmC_s7
A
da rcsístélmh quc sc v c quanto _ à intcnção
_ _ paradoxal - e No quc diz respcito aos pacicntcs csquizoñênicos, a
também quamo à logotcrapla _ dcma dc tatorcs cmOCiO' logoterapia cstá longc dc ofbrcccr um trmamcnto causaL
nais como lcaldadc c olwdiência a uma abordagcm tcóríca l Como Coadimmnc Psícotcrapêuticm a técnica da dc_rcñc_
cspccíñcm Mas os adcptos dc tal scctarismo devcriam ter ›' xão é recomcndada Para tais pacicntcs (\,_ pág 126)_3x A
cm mcntc a advcrténcia thita por Frcud: “A reverência Obra Müdgm chhothgmpmtic Pmcriww indm a gmmçãoq
diantc da grandcza dc um gênio é Ccrtamente algo louvá~ '
cm áudi0, dc algumns scssõcs nas quaís sc dcmonstrou o
ch Contud(›, nossa rcvcrôncm aos faWos dcve scr maior”.35 uso da dc-rcflcxão com pacicntcs csquizoñênicos.
Tão importantc quanto dcñnir as indicaçõcs para a lo- Í Burton,40 reccntcmcntg añrmouz “Os últímos cin-
gotcmpía c a intcnção paradoxal é deñnir suas contrain- i quenta anos da história da psicotcraplla dcmonstramm quc
dicaçócs' A imcnção Paradoxal é chemmeme Contmíndll " sc transtbrmaram cm objcto dc atcnção exccssiva os dcta-
cada nos casos dc dcprcssão psicóticm Para tais pacicntes, lhcs cprofu'ndos› da história dc Vida do Pacicntc AS sur_

'
Uma técnica lOgOÍCNPÔUÚCa Íbi cSPCCialmcmc rcscrvada- rs prccndentes curas das supostas histerias recorrcntcs por
Scu princípio nortcador é o dc diminuir os scntimcntos dc Freud nos lcvamm a invcstignr uma C_\vpcric^ncia tmumaz
CUIPa SOÚÍdOS PCIO PaCiCntC Cm VÍFÍUdC dc Sua tcndênda tica parccida cm cada um dc nossos pacicntcs, rciñcando
à 3Ut03CU53§ãO-3° IntCrPTCtêr 5553 auwacusação Como um o inght como curativ0. Só agora comcçamos a rcc0n-
indicativo dc quc 0 pacicntc é culpado, “cxistencialmente _. sidcrar tais SupOSiçO~CS”_ Mas, mcsmo SC SC prcssupuscr
CUIPadO”a SÓ POdcria Vir dc uma ComprCCÚSãO CClmvocada que as ncuroses - ou até mesmo as psicoscs - têm a sua
1

3 lVCSPCÍÍO dil PSiqUÍaÍría ClxiswndaL causa naquilo quc as hipótcscs psicodinâmicas añrmam,
ainda assim, a logotcrapia scria indicada como tratamento
13 H. (). Gcrz_ “Thc Trcatmcnt ofthc Phobic and thc Obscssívc-Compul-
sivc Paticnt Using Paradoxical Intcntion Scc. Viktor E. I-'r-.1nkJ”, ]0m'1ml Uf 37 Ibiri.
NL'1H'0pn_Tliíatry 3: 375, 1962. 33 Ibid., p. 260, pp. 264 c scguintcs.
34117íf1. 3°Vikt0r ankL “Fragmcnts írwom thc Logothcrapcutic Trcatmcnt of
35 Sigmund Frcud. “B(›0k RC\"íC\\'”, WÍWZW 7í1fdÍZÚIÍSEW Woclmmhrzfr', Four Cascs”, cm Modrrn PW_CÍJ!)t/JH'II[ICIIÍÍE Pmrtim Imwmtimu ín Tvtlmiqmz
1889. - cdítado por Arthur Burtom Scicncc and Bchavior Bo(›ks. Palo Alt0. Calitõrnim
'"*Vikt<›r E. ankL UM Dnrtor Imd thz Souk me Pw_rbom'zmpy to Lagorbr 1965_
mpy, scgunda cdição, c›;p.1ndíd.1', Alñcd A. Knopf, Nova Iurquc, 1965, pp. 261 '“'Arthur Burton, “Bcv_ond Tran.s'tbrcm'c”, Pn_'tlJotlm'apy.' chary Rrxmrch
c scguíntcsz muí Pmctice lz 49, l9ó4.

u_____142______u143
não causal.“ Sc houvcr um vácuo Cxistcncial no pacicn~ comportamcntaL por cxcmplo, a Iogotcrapia não sc satisfhz
tc, ccrtan1cntc, os sintomas serão cxpcrimcntados dc uma apcnas com a nmnipulação dc novos condiciommcntos. Ao
mancira mais scvcra. invés disso, procura accssar a dimcnsão mcsma da huma-
Tal é a razão por quc o “cncontro logotcrapêutico”, nidadc do homcm, mobilizmdo as fbntcs disponívcis na
como añrma CrumbauglLM “continu'.1 para além de ondc lmnumims do Hamo patíemz
a maior partc das tcrapias - cspccialnmntc, os métodos dc Podc scr isso quc Paul E. Johnson“ tinha cm mcntc,
(›1'icnt.1'ç.1"o .^umlítica - pant a logotcrapia sustcnta quc, a quando añrmou qucz “A logotcrapia não é uma rival das
mcnos quc sc consiga chcgar a um compromisso de rcs~ outras cscolas cm psicotcrapia, mas podc rcprcscntar um
ponsabilichdc para com objctivos chcios de propósito, a dcsaño a elas, no quc diz rcspcito à cspcciñcidadc da di~
tcmpia tcrá sido cm vão, pois a basc ctiológica do problcma mcnsão humana com quc trabalha”.
continunri c o sintoma, ccdo ou tardc, voltará”.
Alguns autorcs43 añrmam quc, no campo da psiquia<
tria cxistem111l, a logotcrapía fbi a única cscola quc dcsen-
volvcu técnicas psicotcrápicas. Mais além, já fbi dito quc
a logotcrapia introduziu uma nova dimcnsão na árca da
psicotcrapiaz a dimcnsão dos feânômcnos espcciñcamcnte
humanos. Dc fa~to, doís dcsscs fc'nômcnos - a Capacidadc
dc autotransccndência e a dc autodistancíamento - são
o ponto de 1110bilização das técnicas logotcrapéutícas da
dc-rcf1c.\'ã0 c da intcnção paradoxaL rcspectivamcntc. O
profbssor Pctrilowitsch, do Dcpartamento dc Psiquiatria da
Univcrsidadc dc Maínz, na Alemanha Ocidcntal, atribui os
rcsultados surprcendcntcs ObñdOS por cssas duas técnicas
logotcrapêuticas ao fato dc quc a logoterapía não sc atém,
tão somcntc, à dimensão da ncurosc cm scu carátcr dinâ-
mico ou dc condicionamcnta Difêrentcmcntc da tcrapia

“ Edith \'Vcísskopt1Joelson, “Somc Commcnts on ;1 Vícnncsc School of


Psycl1iatry“, Irmrmzl rf›A1marmer mld Sotial Psyclmltwy 51: 701, 1955; “Logo-
thcrap\_' and Existcntial Analysis”, Amz Prv_clmtempmtím 17: 554, l963.
*'- ]. (Í. Crun1baugh, “Thc Application 1›fI,ogotlu-rapy”, Iourmzl ofExixteIr
tiulixm 5: 403, I9óS.
43 Comultar. dcmrc outms, Ioscph Lyons, “Existcntíal Psychothcrapyu Fact, '“ Paul E. Iohnson, “Thc Challcngc of Logothcrapy”, journal 0thlzg'i0n
H(›pc, Fictí0n“, Immml rIfAbnormnl and Sotml Pyv_cholog_v, 622 242, l9ól. mzd Hmlth 7: 122, l968.

u___“144 _*____*_UI45
1th"stério med1"co

Ministério médico constitui a disciplina, dcntro do sis-


tcma 10g0tcrapêutic0, quc lida com 0 tratamento dc casos
dc ncuroscs sonmtogênicas. É dcsnwcssário dizcr quc, cm
tais casos, a logoterapia não funciona como tcrapía, no scn-
tido cstrit0, já quc a causa orgâníca do problcma não podc
scr rcmovida por mcio dc sua intcrvençãa O quc importa,
ncsscs casos, é a atitudc quc 0 pacícntc assumc diantc dc
sua condição, a atitudc quc cscolhc tcr, cm fhcc do scu so-
fr'imcnto: cm outras palavras, cstamos tàlando da realização
do scntido potcncial do soñimcnta Obviamcntc, dcvcmos
dar prctbrâmcia ao tratamcnto causal da docnça, rccorrcndo
ao ministério médico apcnas quando o tratamcnto causal
sc mostrar incñcaz. Logo, ncssc contcxto, cuidar da atitu-
dc do pacicntc pcrantc sua docnça sc mostra a única saída
possível c 11ccessár1'.1-.
Dcvc~sc ao trabalho dc oncc Travclbce, da Unl'versida-
de dc Nova Iorquc, n noção dc quc tal cuidado não constitui
apcnas uma rcsponsabilidadc do médic0, mas, tambc'm, do
cntbrmcira Em um livro bascado nos conccitos da logotcra-
pia, cla (]oycc) dcscnvolvc uma bcm~succdida metodologia
I no intuito dc “ajudar os pacicntcs a chcgm ao scntído 971.

1 oncc 'I*ravclbcc, Interpcrsonnl Axpzctx of'Nursing_ F. A. Davis Company,


Filadc'lh'a, 19óó, p. l71.
1

____-__uw
Ela cscrcvc quc sua “m;1ior crcnça é a dc quc os scrcs Um cxcmplo dc soñímcnto com scnrído, rctirado dc
humanos são motivados pcla bmca dc scntido nas cxpcriêmíminha própria prática, é a histórin dc um vclho clínico gc-
cias da vida c quc o scntido poclc scr cncontrado até mcsmo r.1-l, quc mc consultou por causa dc uma dcpmssão após a
durantc uma cxpcriêmia dc d0r, sotñmcnto c docnça”.2 A mortc dc sua csp()sa. Usando 0 modclo do diálogo socráti-
ñm dc ilustmr os primípios com os quais a profbswlu Tm- ço, cu pcrguntci a clc o quc tcria acontccido sc, cm vcz dc
vclbcc tr.-1balha, cítarci agora um dos métodos listados por sua mulhcn clc tivcssc morrido primcír(›. “Noss.-1, como cla
cla, a sabcrz o “método da parábola”.3 tcria soh"ido”, díssc clc.
“O método da parábola parecc adaptar-sc mclh0r, par- Eu lhc rcspondi2 “Você não vê, douror, quc cla fbi pou~
t1'cul;1rn1cntc, a alguns pacicntcs. Ao fàzcr uso dc tal intcr- pada dcssc enormc soñimcnto c quc fbi vocô quc a poupou
\'cnçño, o cnfbrmcirm ao longo clc sua intcração com 0 dcssc sofrimcnto; mas agora você dcvc p.'1g.-1r0 prcço, c cssc
pac1'cnte, rclata uma parábola ou conta uma história quc prcço é 0 dc sobrcvivcr c 0 dc pmntcar sua mortc. cnfrcn-
ilustra o argumcnto de que ncnhum scr humano cstá iscnto tand0, com coragan cssc lut0”.* Nosso diálogo o induziu
dc docnça. Uma dessas histórias, que sc mostra bastantc a dcscobrir um scntido cm scu soñimcntq o scntido dc um
cñcaz, é a “Paráboln do Grão dc Mostarda Gotami nasccu sacriñcio cm nomc dc sua CSpOS.1'.
na Índia. Após tcr sc casad0, foãi morar no povoado díc scu Eu Contci cssa história diantc dc um grup0, nos Esta-
marid(), ondc dcu à luz um fílho7 quc logo m(›rrcu. Aflita, dos Unidos, c um psicanalista amcricmo tbz um comcnrá-
lcvou scu ñlho Clc lugar cm Iugar, pcdindo rcmédio C as- rio que muito bem ilustrou uma abordagcm rcducionistn,
sistência para clc. Todos zmnbavam c riam dcla. Um h0- no quc diz rcspcito a scntido c valorcsz Eis sua obscrmçãoz
mcm, C(›ntudo, apicdou~sc dc sua condição c a aconsclhou “Eu cntcndo o scu arngmcnto, doutor Frankk no cntant0,
a procumr ajuda do mais notávcl indívíduo do mundo, o sc partirmos da óbvia constatação dc quc scu pacicntc só
grande mcstrcn Estc, quando a viu com 0 scu ñlho nos bra- soñtu tanto assim pcla mortc dc sua csposa porque a odiou
ços, pcdindo ajuda c rcn_16r.1i0, dissc-lhc quc cla tinha tüto inconscicntcmcntc durantc toda a sua v1'da...”. Logo lhc
bcm cm pr0cur.1^'-lo. Em scguida, aconsclhou-lhc a pcrc0r- rcspondiz “É, podc bem acontcccr quc, dcpois dc dcitar o
rcr a cidadc, batcndo dc porta cm porta. Na casa cm quc pacicntc no scu divã analítico por, dígam()s, quinhcntm ho-
ninguém tivcssc sotñdo ou morrido, cla dcvcria trazcr um ras, você consiga trazê-lo ao ponto cm quc - assim ocorrc
grão dc mostardzL Ela scguiu a oricntação do mcstrc, mas com os comunistas por trás da Cortina dc Fcrr0, no curso
não conscguiu Cncontrar uma casa ondc alguém jamais ti- do quc cles chamam dc autocrítica - clc contbssc °sim, dou-
vcssc sotr.id0. Logo pcrccbcu quc scu ñlho não havia sido a tor, você está ccrto, cu odici a minha csposa por todo cssc
única Crizmça do mundo a sofr"cr c quc 0 soñimcnto é uma tcmpoí Mas, ao chcgar a essc ponto, você também tcrá
lci comum a toda a humanidadc”. privado o pacicntc do único tcsouro quc clc ainda possuía,

3 Ibid., p. v. 4 Viktor E. FrankL ManJS Smrchfor aningr An Introdmtimz to Layotbr


3 1bid., p. l76. mpy, Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, 1963, p. 179.

u__-_I48 ___u149
V

isto c', a lcmbmnça duquclc único amor c daqucla vida c0n_ cm logotcmpiau Nosso diálo__s_,'(), ao longo do qual minhas
jugal quc clc c a sua csposa umstruíram...”. intcrvcnçõcs fbram todas impr(›ví.s*ndas, vai n:pr(›duzid(› a
Num dc mcus livros,5 cu dcscrcvi um proccdimmto scguirz
logotcrapéutico dcscnvolvido para promovcr a dcscobcrta ankh O quc lhc vcm à mcntc, quando a scnhora
dc scntido c dc v.'110rcs. Eu a batizcí dc “técnica do dcno- olha pam o scu passadoP A scnhora tcvc uma vida
mínador comum”. Dc acordo com Max Schclcr, valorar b0a?
signiñca prctbrir um valor supcríor a um mais baixo. O mcu Pacienrez ch, doutor, cu dcvo dizcr quc tivc uma
argumcnto é 0 dc quc é ñícil comparar os valores hicrarqui- boa vid.1-. A vida, dc ñlt0, mc tbi 1.'í.,rmd.1"vcl, c cu
camcntc sc sc pcrscguc um dcnominador comum. agradcço a Dcus por tudo 0 quc Elc mc c0ncc-
A transitoricdadc da vida fãz partc daquilo que chamei dcuz cu ñ'cquc11tci tcatros, fui a conccrtos c assim
rríadc txúgica da místêmha humam. por diantc. Sabc, doutor, cu costumam ir a tais
Logo, cssa transitorícdade também constitui um pro- lugarcs com a fhmílin cm cuja casa trabalhci por
blcma quc afligc o pacicntc portador dc uma doença incu- muitos anos como govcr1m'11ta, cm Praga c, dcpois,
rách o qual conñnnta não apcnas o sofrimcnto, mas tam- em Vicna. E por causa dc todas cssas cxpcrién-
bém uma morte 1'mincnte. Em tais Casos, a grandc qucstão cias maravilhosas, cu sou muito grata ao Scnhor.
é a dc como transmitir ao pacicntc nossa convícção de quc, (Eu, no cntant0, scntia quc cla cstava incomodada a
no passado, nada cstá pcrdído. Ao contrário, tudo cstá respcito da cxistência clc um scntido último da vida dcla
guardado a salvo como se depositado num armazém chcio como um todo, c procurci trabalhar csscs scus qucstiona-
dc provisõcs. Scr-passado é a fbrma maís scgura dc scr. O mentos. Mas, antcs, cu dcvia trazé-los à t(›n.'1, p.'1ra, dcpois,
quc passou cstá a salvo, protcgido Contra a transitorícdadc contr'011tá-los, da mcsma fbrma como Iacó ÍEZ com o anjo
da Vida. A obra Modtm wachothempeutic Pmctíceó inclui, até cstc o abcnçoarz cra dcssc modo quc cu qucria conñbm
também, a gravação d_0 áudío dc uma cntrcvista quc tivc tar 0 descspcro existencial rcprimido dc minha pacicntc,
com uma scnhora dc oitcnta anos. Ela soñia dc um câncer até quc Cla pudessc “abcnçoar” a própria vida, dizcr “sim”
que não póde ser tratado Com succsso. Por causa disso, à vida, apcsar dc tud0. Logo, mcu trabalho consistiu cm
cla dcscnvolwu uma dcprcssão. Eu aprcscntci CSSC caso conduzi-la a qucstionar 0 scntido da vida no nível cons-
para os alunos quc fr'cquentamm mcus seminários clínícos cicntc, e não cm reprimir tais dúvidas.)
F.: É, você fala dc algumas cxpcriências maravilhosas;
mas tudo vai acabar agora, não é mcsmo?
5 Viktor E. ankL 77Jr 1)oct1)7' zmd rbr Soztl: Frum thothtmpy to ngorln~
P.: (Pcnsativa.) É, tudo chcga ao ñm...
7'¡1[Iy, scgunda cdiçã0, c.\'pnndída, Altrfd A. Knopñ Nova Iorqum I965, pp. 277
e scguintcs. F.: Você acha quc todas cssas coisas boas quc você vi-
"\'ikt<›r E. ankL “l~'mgmcnts ñmn thc Logothcmpcutic Trcatmcnt ofFour vcu scrão também dcstruídasP
(Íascs”, cm Modrru Rryrlmtllrrrzpzrutit Prattím Immvntimzs in Teclmiqltc, cdita~
do por Arthur Burton, Scicncc and Bchavior Books, Palo Alto, Calito"r11¡'-.1, P.: (Aínda mais pcnsativa.) Todas cssas Coísas maravi-
l965. lhosas...

u___“__150 ____um
F.: Mas, diga-mC: vocô acha quc alguém podc dcí~ vcndo até admítirz uçL, cla o suportou bravamcn~
zcr cssa tblicidade quc você c.\'pcrimcntou? Scrá tc”. Agora mc digaz podc alguém rcmovcr tal con-
quc alguém podc .-1pagá-la? quista do mundo, scnhora Kotck?
P.: Nã0, doutor, ninguém podc apag.1"-la! Ccrtmnc11tc, ninguém podc!
F.: Ou scrá quc alguém podc apagar a bondadc quc As rmlizaçõcs pcrn1ancccn1, não é mcsmoP
você cncontrou nas pcssoas ao longo dc sua vida? Pcrmancccm!
I.): (Emocionando-sc Cnda vcz mais.) Ninguém podc A propósito, a scnhora não tcvc ñlhos, tcch
ap.-1gar! Não, não tivc.
F.: Tudo o quc vocé conquistou, tudo o quc você ch, 0 quc a scnhora acha; a vida só tcm scntido
conscguiu. quando sc pôdc tcr um ñlh0?
P.: Ninguém podc apagarl Bom, sc fbrcm bons ñlhos, por quc não considcrar
F.: Ou tudo aquilo quc você sofr'cu, brava c ho- isso uma bênção?
ncstmncntcz scrá quc alguém podc rcmovcr ísso Ccrto; mas a scnhora não devc csquccer quc, por
do mundo - fazcr dcsaparcccr tudo isso. do scu excmplo, o maior ñlósob dc todos os tcmpos,
passado, ondc cssas Cxpcriências cstão guar- Immanucl Kant, não tcvc ñlhos; mas scrá quc al-
dadasP guém duvidaria da vida plcna dc scntido quc clc
P.: (Agora, às lágrimas.) Ninguém podc apagar isso! tcch SC os ñlhos constituísscm um único scntido
(Pausa.) É vcrdade, cu sofri muito, mas também para a vida, a vida mcsma sc tornaría sem scnti-
tcntei scr corajosa c ñrmc para cnfrentar os mcus do, porquc lcvar adiantc a procriação dc algo quc,
problcmas. Mas sabc, doutor, cu vejo mcu so- cm si mcsmo, não tem scntído, ccrtamcntc scria a
frãimcnto como uma punição. Eu acredito cm mais sem-scntido das ocupaçócsx O quc importa
Deus. _ na vida é, muito mais, a rc.-1lização, a conquista
(Em si mcsma, a logotcrapia é uma abordagcm laica dc algo, c fbi isso, prccís.1'mcntc, 0 quc você fcz.
de problcmas clínicos. No cntanto, quando um pacicntc Você tirou o melhor dos scus sofrimcntos. Você se
traz, por si mcsmo, a convicção de uma crcnça rcligiosa, tornou um cxcmplo para nossos pacicntcs dcvido
não podc havcr objeção quanto ao uso do alcance tcrapêu- ao modo mcdiantc o qual você tcm cncarado os
tico dc sun fe" rclígiosa, 0 quc, por consequência, acaba por scus sofrim'cntos. Eu qucro parabcnizá-la por cssa
mobilizar, também, scus rccursos espirituais. Para alcançar conquista, cumprimcntand(›, tambc'n1, os outros
tal fim, o logoterapcuta prccisa procurar pôr-sc no lugar do pacicntes quc tivcram oportunidadc dc tcstcmu-
pacicntc. Foi ísso quc cu tcntci fàzcr a scguir.) nhar o scu cxcmplo. (Agora, dírigindo-mc aos cs-
F.: Mas, scrá quc, às chcs, o sofñmento não é um tudantcs quc assistiam à cntrcvistaz) Eccc homo! (A
dcsañoP Não scria concebívcl pcnsar que Dcus quis platcia se cntusiasma com uma salva cspontâncn dc
vcr como Anastasia Kotck o suportaria? Talvcz, dc- aplausos.) Esscs aplausos são para você, scnhora

u___152 ______\uvs"
V

Kotek. (Ela, com lágrimas nos olhos.) Esscs aplau- Eu dissc quc, ncssc cas(), mc ativc à mobilização dos
sos dizcm rcspcito à sua vida, quc mostrou scr rccursos cspirituais da minha pacicntu Em (›utras palnvr'1.s,
uma gmndc conquista. Orguth-sc disso, scnhom dcixci a dimcnsào psicológica para adcntmr a dimcnsão
Kotck Tão poucas são as pcssoas quc podcm sc noolo'gic;1, a dimcnsão na qual sc c<.›mprccnck' a prc<›cu-
orgulhnr da própria vida... Eu diria quc sua vída é paçào do homcm cm sua busca por um scntido última ()
um monumcnt0, c ninguém podc apagar isso do modo como agi fbi o único modo apropriado dc intcrvir
mundo. cm tal caso. Eu mc pcrgunto quc tipo dc rcsultado tcría~
I›.: (Rcc0mpondo-sc.) O quc você dissc, profbssor mos SC tivésscmos convidado um tcrapcuta comportamcxr
FrankL me é um grandc consolo c mc confbrta7 tal a opcmr novos proccssos dc condicíonamcnto ncssa
profhndamcntc Na verdadc, cu nunca tivc 0por- pacicnto
tuniçhdc de ouvir algo assim... (Devagar c calma- Eu mc pcrgunt0, tnmbém, qual scria 0 rcsultado ()b-
mcntc, cla dcixa a sala dc confekàmiasj tido pelas intcrprctaçoks psicodílúmicas dc um ñcudiano
Aparcntcmcntc, cla cstava mais tranquila. Uma scma- 0rt0d0xo. Acho quc clas apcnas contribuiríam para uma
na dep0is, cla morrcu - como ]ó, alguém podcria dizcr csquiva maior da pacicntc quanto à sua condição, rctbrçan-
- “cm idadc plcna”. Durantc a última scmana de suà vída, do a tcndência ao cscapism().
no cntant0, cla não cstava mais dcprímida, ao contrário, O fato é quc 0 trcínamcnto analítico convcncional
mostram-SC chcia dc tev c de orgulho! Antcs do nosso cn- não provê o p51'can.1-list.1- dos rccursos ncccssários para in-
contro, a scnhora Kotck havia confbssado à Dra. Gcrda tervir cñcicntcmentc num caso como o da scnhora Kotck.
Bcckcr, responsávcl por cla no hospital, que se scntia tortu- “Aquelcs quc devcriam cstar c.1'pacit.1'dos a assistir 0 indiví-
rada pcla proximidadc da morte, mais espccihkamcntq pela duo docntc”, diz a profcksora Travclbcc,“ “(›u não podcm
angústia dc sentir-sc inútil. Nossa cntrcvista, no cntanto, a ou não sabcm taãzcr isso. E o quc podc scr mais dcsmorali-
feãz comprccndcr quc sua vida tbi vivída com scntido c quc, Zante para um indivíduo do quc a crcnça dc quc sua doença
até mcsmo, 0 seu sofr“im“cnto atual não cra em Vã0. Suas c scu sofr'imcnto não têm scntido algumP O quc é rc.1-lmcn-
últimas pnlavrus, imcdiatamentc anteriorcs à sua morte, fo'- tc trágico nisso tudo não é o faáto dc os proñssionaís da saú-
ram: “Minh:1 vida é um monumcnto. Foi o que 0 proteãssor dc não tcrcm prcparo sufícicntc para ajudar ncsscs casosx
Frankl dissc a toda a platcía, para todos os cstudantes no A tragédia mcsma é o fato dc quc csscs problcmas não são
auditória Não, minha vida não fbi em vã0...”. Lia-sc ísso sequcr reconhccídos por aquclcs cuja rcsponsabilidadc é a
no rclatório da Dra. Beckcr. Podcmos, just1'ñcadamcnte, dc trazcr ajuda e confbrto”.
supor quc, também como ]ó, a Sra. Kotck “cntrou madura Uma outra pacicnte minha, quc cntrcvistcí cm uma
no scpulcr0, como um fhixe de trigo quc sc rccolhc a scu dc minhas contc'rc^nc1'as, cxprcssou suas prcocupaçócs com
tcmpo n 7

x oncc Tr-.1vcllwc, Interpemmal Axptzrtx (f)'Nurxi›_m_ F. A. Dnvis (Í(›mp.1ny,


7N.T.: Jó 5,26. Filadélñm I966, p. 17l.

J_*___154 _*__-_u155
V

a transitoricdadc da vida. “Ccdo ou tardc, tudo tcrá aca- univcrsitárias - a “Saluti et solatio aqqrorum”, isto é, ao
bado”, dissc cla, “c nada ñcará”. Eu tentcí fazcr com quc cuidado c ao comolo dos docntcs.
cla comprccndcssc quc a transitoricdadc não prejudica a Eu, part1'cularn1cntc, acrcdito quc as palavras “Con-
qucstão do scntido da vida. Como não fhi bcm-succdido, solai, consolai mcu povo, diz o vosso Dcus” (Isaías 40,1)
tentci um diálogo socrátic0. “Você, alguma vez, cncontrou se mostram tão válidas hojc quanto no tcmpo cm quc f0'-
al'guém”, pcrguntci-lhe, “por cujas conquistas c rcalizaçõcs ram cscritas c dirigiam-sc também aos médicos do “p0vo
você scntiu um grandc rcspcit0?”. “Certamente”, ela res- d”Elc':”.9 Essc é 0 modo por meio do qual todos os bons mé-
pondcu, “o médico dc nossa família cra uma pcssoa única. dicos têm comprccndido as rcsponsabilidadcs dc scu oñcio
Nossa, como clc cuidava bcm dc scus pacicntcs... Como clc ao longo da história. Num nívcl inconscicntc, aré mcsmo 0
vivia para elcs...”. “Ele ainda está vív0?”, pcrguntei. “Não7 p5icanalista oferecc consolo. Considcrcm-sc, por cxcmplo,
já é taãlccidd . “Mas a vida dclc foi admiravclmcntc sígni-
9
os casos em que, como apontou Arthur Burt0n,10 o mcdo
ñcativa, não?”, indagucL “Sc sc podc dizer que a vida dc da mortc é, índiscriminadamcntc, analisado dc mancira
anuém tem scntíd0, essa vida foi a vida do nosso médico”7 convcncionaL ou reduzído a uma angústia dc castraçãa
dissc cla. “Mas scrá quc todo cssc scntido não dcsaparcceu, Em última análisc, isso contribui para o cquívoco dc
também, no momcnto cm quc clc morrcu?”, pcrguntci. tomar uma dcpressão noogênica por uma dcprcssão psi-
“Dc jcito ncnhum”, ela respondcu, “nada podc mudar o cogênica. Da mesma mancira, é igualmcntc comum tomar
Íàto dc quc a vida dclc tbi plena dc scntid0”. uma dcprcssão somatogênica por uma psicogênica. Em tal
Eu contínuci a dcsañá-la: “Mas, c sc todos os pacientcs caso, não se oferece consolo ao pacícnte, pois suas autoa-
que cle ajudou dcsconsidcrarcm tudo o quc elc tc”z, por cusaçõcs e seus scntimcntos de culpa scriam maximizados,
pura ingratidão?”. “O scntido pcrmanccc”, ela murmurou. já quc clc (pacientc) sc scntc rcsponsávcl pcla condição dc
“Ou, sc todos clcs, por falta dc mcmória mesmo, se csquc- sofr'imento em quc sc cncontra.
cercm das coisas boas-quc ele fcz?”. “Permanece”. “Ou Em outras palavras, uma dcprcssão psicogênica é pro-
ainda, mesmo quando o último pacicntc quc ele ajudou vocada, somando-sc à somatogênica.
tivcr morrido?”. “Pcrmancce...”. Ora, um alívio signiñcativo podc scr proporcionado ao
O mínistério médico da logotcrapia não devc scr com- pacicntc quando cstc é informado a rcspcito da origcm so-
fundido com o ministério pastoraL A difcrcnça csscncial matogênica dc scu sofrimcnta Uma pcrtincntc casuística
vem sendo claborada por Schultc, chetb do Dcpartamento
cntrc essas duas atividadcs será mais bem claborada no pró-
dc Psiquiatria da Univcrsídadc dc Tübingcn, como mostra
ximo capítulo. Por ora, dcvemo-nos pcrguntar se o minis-
tério médico realmentc constitui uma “atividadc médica”. uma de suas recentes publicaçõcs.
Scrá quc contbrtar o paciente dcssa mancira pcrtcncc mcs~
mo ao quadro dc responsabilidades da proñssão médicaP 9 “Mcu povo” ñlnciona como vocativo. mais do quc como objeto dircto.
Essc “povo” não sc rcfbrc aos consolndos, mas aos quc consolam.
O Imperador Iosé II dcdicou o grandioso Hospital Geral
'°Arthur Burton, “Dcnth as a Countcrtransfcrcncc”, nyrlwunalysis and the
dc Vicna ~ quc, até hojc, abriga a maior partc das clínicas ngchmnalytíc Review 49: 3, 1962-1963.

u_~_*~_*__156 __*__u157
A técnicn da dc-rcf1c,\'ão ajuda 0 pacicntc a parar dc cstá numa thsc cm quc rcconstruir a sun vida é a
lutar contm uma ncurosc ou uma psicosc, p(›upando~o, rarcth quc Ihc cspcra! Mas ningmím podc rccons-
como vimos, do rctbrçamcnto cíclico quc antcriormcntc truir uma vida scm um (›l)jcti\'(›, scm um dcs.lñ(›.
cxplicamos. Isto é, o pacicnrc é poupado dc um sotr'imcnto Pacivntcz Eu cntcndo o quc você qucr dizcr, duumr,
adiciomL Podcmos comprccndcr mclhor 0 thnciommcm mas o quc rcalmcntc mc imriga c' a pcrgunmz “()
to da técnica por íntcrmédio dos .s*cguíntcs cxccrtos rctira~ quc cstá mcsmo .'1C(›ntcccnd(› comigo?”.
dos dc uma gravação dc áudio dc uma cntrcvista com uma Não sc prcocupc cum issn; não ñquc sc pcrgumaw
jovcm csquizotr'ênicl dc 19 anos, cstudantc da Acadcmia do a rcspcito das origcns do scu prnblcma. Dcixc
Vicncnsc dc Artcs.“ Ela lmvia dado cntrada no mcu dc- isso a cargo d(›s módicosx Nós vamos cnndu¡.'i-la,
pamtalmcntq no Hospital Policlínico, por tcr dcmonstrado guiá-Ia por cssa crisc. Mas scrá quc não há um ob-
scvcros sintomas dc uma csquizoñcnia iniciaL tais como () jctívo Jccnando parn vncê - não sci, nlguma rca~
dc alucinaçõcs auditivas. Ela também cxibía sinais do tc\n(^›- lizaçio .1'rtística, por cxcmploP Scrá quc nào há um
mcno da C(›rrug.1*ção, por mim dcscrito em 193›5,12 0 qual montc dc coisas tbrmcntando dcntro dc vocó? Tra-
sc caractcrim pcla contração da musculatura cstriada, cons- balhos artísticos inacab.'1d(›5, pinturas quc nào t<')~
tituindo um típico sinal dc uma csquizofrcnia imincnta ram pintadas c quc cspcmm por scu ato dc cn'açã(›,
No iníci0, a pacicntc rcclamou dc apatia, refc'r1'nd0-sc, quc cspcram por quc vocô os cric?
dcpois, a um cstado dc C(›nñlsão, solicitando minha aleda. P. : Mas, c cssc mcu cstndo dc conñlsào intcri0r...
Logo comccci a aplicar ncla a dc-rcflcxão: Não prcstc atcnção a cssc scu pr<›blcma; procurc
anlzlz Você está atravcssando uma crisc c não dcve ñxar a sua atcnção no quc lhc cspcrax O quc conta
prcocupar-36 com a qucstão dc um díagnóstíco cs- mesmo não é 0 quc sc cscondc nas pmthndc1.'as,
pccíñc0; digamos apcnas quc você cstá cm crisc. mas sim aquclus possíbilidadcq quc 0 thtum lhc rc-
Eu sci quc pcnsamcntos c scntimcntos cstranhos scrva, cspcrando quc você as .^1tu.1'li/.'c. Eu sci, há
têm atormcntado _VOCC^. Mas nós já Comcçamos toda cssa crisc ncrvosa, quc tcm .1*t(›rmcnt.1'do você;
nossas tcntativas dc tranquilizar toda cssa turbu~ mas deixc quc nós, xnédicos, tomcmos conta do
lência. Por íntcrmédio dos bcncñcios da psicofhr- problcma. Essc é 0 nosso tr.'1b.1'|ho; dcixc isso pura
macologia modcrna, cstamos tentando, aos pou- os psiquiatras. Qucro dizcn tcntc nào (›b_s'crv.-1r-sc
cos, rcavcr scu cquilíbrio cmocionaL Agora, você muit0; não ñquc sc pcrguntando o quc cstá ncon-
tcccndo dcntró dc você. Em vcz disso, pcrguntc
a si mcsma sobrc o quc Ihc cspcraS sobrc as coisas
“ Viktur E. FrankL “Fragmcnts tr'0m thc Imgotlmmpcutic Trcatmcnt of quc aguardam sua C(›nquista. Então, não vamos
Four (Iascs”, cm Modern Pyv_tbuthempeutic Pmrtita Imwvatirms in Tctlmíqztt.
cditado por Arthur Burtom Scicncc and Bchavior Books, Palo Alt(›, (Ialitb'mi.1', discutir aqui qual é 0 tipo dc problcma com o qual
l965, pp. 368 c scguintcs. cstamos lidand0: sc ó uma ncurosc dc angústi.-1 ou
llViktor E. FrankL “Ein hãuñgcs Phãnomcn bcí Schizophrcníc”, Zcitschríñ
ñir dic gcsamtc Ncurologíc und Psychiatríc 152z lól, l935.
ncurosc obscssiva; o quc qucr quc scja, dcvcmos

u_158 wum
Vf

pcnsar, agora, sobrc o fato dc quc você é a Anna, clas scrão suas criaçõcs, c, sc você não as criar, clas
para qucm o fuituro rcscrva alga Não sc sobrccar~ pcrnmncccrão, para todo o s.*cmprc, incriadas. Sc,
rcguc Com scus pcnsamcntos sobrc sí mcsma; ten- contudo, você as criar, ncm mcsmo o dcmónio
tc, na vcrd-.1d-c, doar-sc àquclc trabalho não nasci~ scrá fbrtc o suficicntc para anian'lá-las, pois vocô
do, quc você tcm dc criar. Pois apenas após você o tcrá rcsgatado cssas possibilidadcs ao trazê~las ao
tcr criado, é que virá a sabcr como você é. A Anna mundo rcaL E mcsmo quc todas as suas obras fos-
scrá idcntificadn como aqucla artista quc rcalizou scm dcstruídas, lá no muscu do passado, como cu
cssa 0bra. Nossa idcntidadc nâo rcsulta dc nossos gosto dc chamar, clas pcrmancccrão para scmprc.
cstbrços dc conccntração sobre nós mcsmos, mas Dessc muscu nada podc scr roubado, já quc nada
sim da dcdicação quc ofcreccmos a alguma cau- do quc ñzemos ncssc mundo podc scr dcsfbiux
sa, quando nos cncontramos na rcalízação dc um P.: Dout0r, eu acrcdíto no quc você Cstá mc dizcndo.
trabal-ho cspccíñco. Sc não cstou cnganado, foi É uma mcnsagcm quc mc dcixa tc'11'z. (E, com uma
Hõldcrlin quc uma vez escrcvcuz “O que somos cxprcssão víva c radiantc, cla sc levanta e deixa mcu
não qucr dizcr nada; o que rcalmentc importa é consultórío.)
para ondc cstamos indo”. Nós também podcría- Dcntro dc poucas semanas, durantc as quais mantívc-
mos dizcrz “O scntido é mais do quc o ser”. mos o tratamcnto com psicotcrapia c fãrmacos, a pacicntc
P.: Mas, qual é a origcm do mcu problcmaP cstava livrc dos sintomas dc csquizoñcniay numa mcdida
P.: Não sc tbquc cm pcrguntas como cssa. Qualqucr tal, que cla pôdc voltar a trabalhar c a cstudan
quc seja o proccsso psicopatológico subjaccntc à Um outro pacicntc csquizofr§ênico fbi um jovcm judcu
sua atual condição, nós curarcmos vocc^. Portanto, dc 17 anos.ls Scu pai adotivo havia marcado apcnas uma
não sc aflija com os sentimcntos cstranhos quc lhc única c0115L11ta. O adolcsccntc havia sido rcsgatado por clc,
têm aparccido. Ignorc-os até quc nós nos livrcmos na chunda Gucrra, durantc a cmcução nazista dc um gru-
dclcs. Não dê tzínta atcnção a clcs, não tcntc lutar po dc judcus. Mais tardc, o pacicntc tcvc dc scr íntcrnado
contra cles. num hospital de Isracl por dois anos c mci0, dcvido a uma
(Mais do quc refbrçar a tendência esquizofr'ênica do sevcra sintomatologia. No diálogo a scguir, clc discutc c0mi-
pacicntc a um autoccntrismo, por mcio do uso dc intcrp1'e- go, cntre outros problcmas, 0 scu .1'fhstamcnt0 do contcxto
taçõcs psicodjnâmicas-, o quc ñz fbí cliciar sua vontadc dc tcológico judcu, o mundo no qual clc crcsccu c sc cduc0u.
scntido.)
P.: Imaginc quc existam, mais ou mcnos, uma dúzia
dc grandcs projetos, dc obras, quc espcram scr
criados por Anna c que não há ninguém mais no '3 Viktor E. FrankL “l'<ragmcnts fmm thc I.(›gothcrapcutic Trcatmcnt of
Four Cascs“, cm Mudern ngdmtbvmpszttic Pmtticcs Inuomtiam in 1"chmiqm',
mundo que possa criá-los, a não scr Anna. Nin-
cditndo por Arthur Burton, Scicncc and Bclmvinr Books, Palo Alt0. Calíto"rnia,
guém podc substítuí~la ncssa cmprcsa, porquc 1965, pp. 370 c scguintcs.

W____~lóo Mw
V
anlzlz Qunndo comcç.1'mm suas dúvidas? P.: Eu diria quc não apcnas quis a sua rccupcraçào.
Pncimnz Elas comcçaram cnquanto cu cstava conñna- Rccupcrar-sc, tão somcntca não é uma conquis-
do, intcmado num hospital dc IsracL cha, dout0r, ta. O quc sc cxigiu dc você fbi bcm mais do quc
a polícia mc prcndcu C ñli lcvado a mc intcrnan uma mera rccupcr:1ç.1”'o. Sua maturidadc cspirituaL
Passci a culpar Dcus, por ter-mc tc"1'to ditcãrentc das agora, dcvc cstar bcm maís dcscnvolvida do quc
pcssoas normais. antes da sua docnça. Scrá quc vocô também não
Não scria conccbívcl, no cntanto, quc até isso pu- cstevc nas vísccras dc uma balcia, por dois anos c
dcssc trazer um propósito? O quc dizer, por excm- mei0, como um jovcm Jonas? Agora, vocé já tbi
plo, dc Ionas, o profbta quc foi cngolido por uma libcrtado daquilo quc tcvc dc cntr'cntar lá. Ionas,
balciaP Scrá quc clc também não cstava “c0nñna~ antcs dc scu conñmmcntq ncgou-sc a ir a Nínivc
do”? E por quc elc sc cncontrava cm tal situaçãoP para prcgar; após sua saída, tbi emtamcntc o quc
P.: Porquc Dcus plancjou assim, claro. clc fc*z. Quanto a você, podc bcm acontcccr quc,
B0m, ccrtamcntq não deve tcr sido nada agradávcl dc agora cm cliantc, você vcnha a pcnctrar, mais
para Ionas cncontrar-sc nas vísccras de uma,balcia) protuãndamcntg na sabcdoria do Talnwdc. Não
mas fbi apenas nessc contexto que lhe tbi possível quer0, com isso, dizcr quc dcvc cstudar mais do
rcconhcccr a tarctà dc vida quc clc antcriormcntc quc tcm cstudado até agora, mas apcnas quc scu
rcjcitara. estudo scrá bcm mais signihkutivo c provcitoso,
Hojc, cu acllo quc é 'mpossível “intcrnar” pcssoas porquc agora você é alguém quc passou por uma
numa balcia, não é verdach De um jeito ou de puriñcação, do mcsmo jcito que o ouro e a prata,
outro, você não tcvc de ñcar no interior dc uma como sc diZ nos Salmos (0u cm outro lugar), sc
baleia, mas num hospitaL Não scria concebívcl puriñcam na fbrnalhaL
quc Dcus, dura_ntc csscs dois anos c mcio dc con- P.: Sim, doutor, eu cntcndo o que você qucr dizcr.
ñnamento, quisessc conñontar você também com P.: Durante a cstada no hospitaL você não Chor(›u, às
uma tarcfa~? Talvcz 0 scu conñnamcnto tcnha sido vczcsP
a missão conñada a você durante um período es- P.: Sim, como cu chorci!
pccíñco da sua vida. Scrá quc Você, no ñnal das F.: ch, por meio dcssas lágrimas quc você dcrramou,
contas, não a cncarou do jcito ccrtoP é bcm possívcl quc você sc tcnha puriñcado...
P. : ( Pcla primcira ch, cnvolvcndo-sc, cmocionalmcn- O impacto dcssa única cntrevista rcsultou cm uma
tc, no diálogo). cha, doutor, é por isso quc cu considerávcl diminuição dc sua agrcssividadc contra scu
ainda acrcdito cm Dcus. paí adotivo; scu intercsse no estudo do Talmude mmbém
' Falc mais sobrc isso. aumcntou. Por um pcríodo íniciaL fo'i-lhc rcccitada fbno-
P.: Possivclmcntc, Dcus quis quc tudo isso acontcccs- tiazina, mas, p()steriormente, o tratamento foii rcduzido a
sc. P0551'vclmcntc, clc quis que cu mc rccupcrassc... pcqucnas doscs. O jovcm sc tomou bcm sociávcl c voltou

u____162 _______-u163
V

a trabalhar com os scus trabalhos manuais. Apesar dc tcr sua cstabclccida dcprcssão somatogênica. Eu conscgui,
soñido uma pcqucna diminuição dc iniciativa, 0 scu com~ contudo, livrar a pacicntc dos ctkitos dc sua cxpcriêmia
portamcnto cra normaL Ao longo dcssa única cntrcvísta traumática c, conscqucmcmcntc, aliviá-la da “dcprcssào dc
mcnciona-da, cu obúvc succsso cm tàzcr com quc o pacicn- cstar dcprimida”. Eu lhc dissc quc talvcz só uma vcrdadci-
tc rcavali.1'ssc sua condição sob a luz do scntido c dos pro- ra irmã carmclita conscguiria lidar com uma dcprcssão dc
pósitos accssívcis a clc, não apcnas apcsar da psicosc, mas modo tão admirách Dc fa't0, jamais mc csqucccrci das pa-
por causa dcla. E qucm duvidaria da legitimidadc dc fazcr lavras quc cla redigiu cm scu diárío, dcscrcvcndo a atitudc
uso dos rccursos rcligíosos claramcntc disponíveis, ncssc quc tomara diantc da própria dcprcssã0.
caso? Dc qualqucr modo, dch'bcradamcntc, cvitci “anali- “A dcprcssão é mínha comp.1-nhia cm tcmpo intcgraL
sar os muros” quc scparavam o pacicntc do mundo. Nessc Ela torna minha alma pcsada. Ondc fbram parar mcus
scntído, eu não mc importci com a origcm dcsscs muros, ídeais? Ondc cstão a grandc1_'a, a bclcza c a bondadc, com
scja cla somática ou psíquica. O quc tcntci fa~zcr, dc taito, as quais, um dia, mc compromcti? Nâo há nada, além dc
tbí dcsañar o pacícntc a ir além dcsscs muros. Em outras tédi0, no interior do qual mc vcjo aprisiomadm Tcnho vivi-
palavras, cu tcntci lhc dar um chão por ondc pisar. do como sc tivessc sido jogada no vácuo, pois, às vczcs, até
Algumas vczcs, o pacicnte não só é poupado de um a cxpcriência dc dor mc é inaccssích Até Dcus se cal.1'. Aí,
sofrimento adícional, mas também acaba cncontrando um dcscjo morrcr. O mais rápido possích E, sc cu não portassc
scntido a mais no sofrãimcnta O pacicntc pode até con~ a crcnça dc que não sou scnhora dc minha vida, cu mcsma
scguir transfoãrmar scu sofrãimento num triunfo. C(›ntudo, já a tcria lcvado. Por minha fc~', no cntanto, 0 soñímcnto
mais uma vcz, Ír”1'sa-sc quc a dcscobcrta do scntido dc- sc torna um dom. As pcssoas quc pcnsam quc a vida dcvc,
pcndcrá da atitudc que o pacicnte venha a cscolhcr diantc neccssar1°amcntc, scr plcna dc succsso são como aquclc ho-
de sua condiçã0. O scguintc caso podcrá ilustrar tal argu- mcm quc, ao contcmplar um cantciro dc obras, não consc-
mcnto. guc cntendcr que os trabalhadorcs têm dc cavar o châo, sc
Uma irmã carmelita vinha sofrendo dc uma deprcssão quiscrem crgucr uma catcdraL Dcus constrói uma catcdml
que se rcvclou somatogênica, dando entrada no Departa- cm cada alma. Na mínha, sua cscavação cstá pcrto dc atingir
mcnto dc Neurologia do Hospital Policlínico. Antes quc a basc. O quc tenho a faszer é apcnas mantcr-mc ñrmc no
qualquer tratamcnto mcdicamcntoso pudcsse amcnizar sua meu lugar, quando qucr quc cu scja atingida por sua pá.”
dcprcssão, descobríu-sc quc csta havia sido rctbrçada por Eu acho quc 1"sso é mais do quc um rclato de c.1'so. É
um trauma psíquic0. Um padrc católico lhc disscra quc, se um document humain.
ela to'sse, dc fato, uma autêntica carmclita, já tcria sc curado Em ncnhum ca50, dcvc~sc sup0r, dc antcmão, quc
há muíto temp0. Obviamcntc, a añrmação do padrc não ti- uma ncurosc ou psicosc prcjud1'cam, ncccssa1'1'amcntc, a
nhn ñmdamcnto algum, mas acabou por adicionar uma dc- vida rcligiosa do pacicntt Ncssc campo, tms docnças não
prcssão psicogêníca (ou, mais cspec1'ñcamcntc, uma “ncu- prccisam scr uma dcñc1'ência, mas podcm bcm constituir
rosc cclcsiogên1'ca”, como Schaetzíng a costuma chamar) à um desaño, um estímulo à atitudc rclig1'osa. Mesmo sc fbr

u___164 _*_____\uós
V.
uma ncurosc quc conduz alguém à rcligi051'dadc, csta, com c l965, ingrcssamm quarcnta c cinco candidaros. Apc-
o passar do tcmpm podc bcm t()rnar-sc '.u1têntica, vind(), nas onzc ñcaranL qucr di2cr, um pouco maís dc vintc por
Hnalmcntm ajudar a pcssou a supcrar a ncurosc. Logo, não ccnto”.“ Ncssc cstado dc coisas, cu mc pcrgunto 0 quão
sc justih111', tambénL supon a pn'orí, quc, no campo das poucas pcssoas - sc é quc ao mcnos uma - tcriam sc tornadu
proñssõcs tcológica-s, não há indivíduos livrcs dc traços c pcrmanccido psicotcrapcutas, sc clcs, tambénn dcvcsscm
ncuróticos. A promcssa bíblica dc quc “a verdadc 11'bcrta- sc submctcr a uma .'1v.^11i.1'«_;ão cm busca dc traços ncuróticos.
ram não implica quc uma pcssoa vcrd.-1dciramcntc rclígiosa Eu, Como psiquiatra, cstou convcncido dc quc, a mc~
sc cncontra cm uma posição dc invulncrabilidadc quanto às nos quc tcnhamos encontmdm cm nós mcsmos, ao mcnos
ncuroscs. Ncm tampouco o invcrso é verdadc. Isto é, cstar um pouco dc ncurosc, nós, scqucr, tcríamos nos tornado
livrc dc ncuroscs, dc modo ncnhum, garantc uma autôntíca psiquiatmg porquc não tcríamos tido, para comcço dc his-
vida rcligiosag Essa invulncrabilidadc não é ncm uma con- tória, intcrcssc cm nossa ciênciaa
dição ncccssáth ncm um rcquisito para a rcligião. Um rcccntc cstudo mostrou quc “médicos cstão maís
Apcnas rcwntcmc11te, cu tivc a oportunidadc de dis- propensos ao suicídio do quc os ocupmtcs dc outms pro-
cutir cssc assunto com um prior quc dirigc um monastério ñssõcs”, maís ainda, quc “os psiquiatms aparcccm no topo
bcncditino c quc sc tornou fàmoso por accitar qualquer da lista”.15 Comcntando sobrc o alto índicc dc suicídio cn-
um como postulantc, sob duas condiçõcsz a primeira, dc trcr médicos, um artigo num jornal britânico añrma:““ “En-
buscar a Dcus, c a scgunda, dc submctcr-sc a uma psica- trc todas as cspccialidadcs, a psiquiatria parccc rcndcr um
ná11'sc. Durantc nossa convcrsa, clc mc contou que não ha~ númcro bcm maís signiñcativo dc suicídios. A cxplicação
via lid0, sequcr, uma linha dos cscritos dc Freud, Adlcr ou para isso sc encontra, muito mais, na escolha da cspccia-
Jung. Apcnas, cle própri(), havia passado por uma análisc lídadc do quc no cnfr~cntamento dc suas dcm;md;1$, pois
durantc cinco an(›s. Duvido quc scja justo ínsistir, dc ma- muitos dos quc cscolhcram a psiquiatria assim o ñzcram por
ncira ortodoxa c dogma'tlc'a, numa doutrinação bascada no razõcs dc ordcm patolo'gica”. Alguém podcria supor quc
pcnsamcnto partícular dc uma cscola em psicologia, sc essa tal Constatação fàla cm faãvor dc uma psicanálisc pcssoal no
insistência bascansc apcnas na upcriência pessoaL maís do intuito dc prcvcnir quc cstudantcs dc mcdicina “inaptos”
quc na prática tcrapêut1'ca. A cxpcriência pcssoal podc bcm sc torncm psiquíatras ou ao mcnos no intuito dc ajudá~los
scrvir dc complemento para a prática tcrapêutica, mas nun- a supcrar suas patologias. Contud0, ao contrário, “a 0mi-
ca lhc scrvirá dc substituto. O quc é ainda maís importante
fr'isar é quc a fàlta dc trcinamcnto psicotcrápíco - isto é, a
“ Robcrt Scrrom “Nl(›nks in An.1'l\_'s.'is”. Thix 1Vrvlc, dc 3 dc julho dc l9()6,
tàlta dc oportunidadc para comparar uma abordagem com
pp. 4-l4.
outra - é rcsponsável por muito do proselitismo cxistcntc 15 VValtcr Frccmam “Psychiatñsts VVho I\1"ll 'I”hcmsclvcs: A Study in Suíc1'dC”,

cntrc tcrapcutas scctários. Amerimn ]0m'mzl ongclJiatry 1241 154, l'~)(›7. Essa é uma vcrsão rcsumida dc
um trabalho aprcscntado no 123° Encnntro Anunl da Associação Amcricana
Numa cntrcvista conccdida a uma rcvista amcricana, de Psiquiatría, Dctroit, Michigam dc 8 a 12 de maio dc l9(›7.
0 prior disscc “Entrc 1962, o início da cra psicanalítica, “'“Suicídc Among l)0ctors”, Britísh Mzdiml ]rmr›ml 1: 789, l964.

u______*_lóó ___'_______'_UIÓ7
V

nosa incidência dc suicídios cntrc psiquiatras podc bem tcr do quc scria um grupo supcrior cm oposição a um gru-
como culpada a difundida idcia dc quc .s*ubmctcr-sc a uma po inadcquado dc rcligiosus cm tbrmação. SupÕc-sc quc 0
psicanálisc pcssoal constirui um rcquisito inclispcnsávcl”."' grupo supcrior mosTrará cvidômia dc um compormmcnto
Ou, para Citar, dc nov0, W.11'tcr Frccmam “a corrcntc ên- mais prontamcntc intcrprctáwl como cxprcssivo da v0n-
hlse dada à ncccssichdc dc uma p51'can_1"lisc pcssoal como tadc dc scntido, cnquanto o grupo inadcquadn nmstrará,
rcquisito indispcnsávcl ao dcscnvolvimcnto da carrcira do prcc1'.s*amcntc, o (›p(›sto. Com isso, as mcdiçõus da vontadc
jovcm ps1'qui.1'tr.1' traz consigo pcrigos quc ainda nâo fbram dc scntido acabarâo por fhzcr a distinçà0, dc mancira mais
adcqmdamcntc rcconhccidos. Sugcrc-sc que cssa insistên- acurada, cntrc os grupos, mais do quc <›s parâmctros dc
cia cm um complcto autocspclhamento da própria persona- pcrsomlidack convcncionais 0 fhriam. Supôc-sc quc n psi-
lidadc não podc scr suportada por todos os quc a tentam”. comctria da vontadc dc scntido, mais do quc a psicomctria
Eu nào tcnho objcção u priori quanto ao dcscnvolvi- dos traços de pcrsona11'd;1dc, rcndcrá uma maior corrclação
mcnto dc abordagcns p51'cométricas, no campo da religião, com os parâmctrm dcscjávcis dc proñciôncia das aspimw
particularmcntc, c no campo das vocações, cm gcral. P0- tcs à vida rcligiosan O doutor Crumbaugh c a Irmã Mary
dcmos, por cxcmplo, citar o projeto dc pcsquisa que tcm Raphacl cstão convcncidos dc quc a oricnmção para cn-
sido dcflagmdo por Iamcs C. Crumbaugln o dirctor de contrar sentido na vida cxistc numn mcdida considcrávcl c
pesquisa do Serviço dc Psicologia do Hospital dos Vctcra- dc modo indcpcndcntc no quc díz rcspcito às varllívcis dc
nos, cm Gultpãort (I\íississippi), e pcla Irmã Mary RaphacL pcrsonalidadc.
O.P., Coordcnadora dc Assuntos Estudantis, na St. Mary°s Elcs acrcditam quc, sc 0 projcto dc pcsquisa ao qual
Dominican Collcgc, cm Nova Orlcans (Louisiana). O pro- sc têm dcdicado Íbr bcm-succdido, scrá possívcl utilizar a
jcto sc bascia na hipótesc dc quc a vontadc dc scntido scria psicomctría da vontadc dc scntido nos mais v.-1ri.-1dos pro~
c.\'tremamcntc alta cntrc os fàtorcs dc influência sobre os Ccdimentos dc sclcção, assim c0mo, também, nos tcstcs dc
mcmbros dc uma Ordem religiosa. Um grupo dc irmãs do- psicodiagnóstico.
minicanas fbi sclccionado a partir da suposição dc uma alta Essa abordagcm dc inspiração logotcrapêutica rcprc-
probabilidadc dc manitcãstação da vontadc dc scntido. Tal scnta também uma abordagcm dc oricntação psicométrica,
mostra será cstudada por mcio do método dos grupos de isto é, com parâmctros quantitativos. Em outms palavras,
contrastc. Índices psicométricos dc p<:r3011alidadc, cstrutu- lcvam-sc cm considcração várias dctcrminnntcs; dc ccrta
ra valorativa c dc oricntação a propósítos, mcdidos pclo forma, baseia-sc nüma conccpção dctcrminista dc homcm.
tcstc Pmpose-in-Lfie,18 scrão cmpregados na comparação Uma conccpção dctcrminista dc homcm, no cntanto, não
prccisa scr pandctcrnúnista.
17 Ruth Nordcn Lowc, “Suicidc by Psychiatrists”, Amerimn journal of
Ora, no contcxto dc um conccito pandctcrminista dc
Pnjrhotbrrnpy 2 l: 839, l9()7. homcm, já sc lcvantou a hipótcsc dc quc a vida rcligiosa
“ Iamcs (3. Crumbaugh &' Lconard T. Maholick, “An Expcrimcntal Study dc uma pessoa é dctcrminada pcla imago do pai. Contudo,
in ExisTcntialismz Thc Pajchomctric Approach to Frankl's Conccpt of Noogcnic
I\'curo.~;is”, ]our1ml zijliniml Pyychology202 200, 1964. a falta dc fé não podc semprc rcmontar a uma imago dis-

u_____168 _*___-___*-u169
r
V

f
r
torcida do p.1-i. Em um dos mcus livros,19 cu ñz uso dc um " Fntos não dcrcr1m'n.-1m nada. () quc importa é a atitudc
pcrtincntc matcrial cstatlístico colctado por mínha cqu¡'pc_ 1 quc tomamos diantc dclcs. As pcsxcms não prccisam sc t0r-
Nossa cvidência sugcrc quc a rcligião não é apcnas uma nnr mongcs ou ñtiras ruins por causa dc uma ncur(›sc, mas
qucstão dc cducnção, mas, também, diz rcspcito a uma podcm bcm tornar-sc auténtiws I'C]l'L,__'l'()S()S, apcsar dCLL Em

Í
postura dc dcciañu l alguns casos, clcs ató sc tornam bons mongcs c trkiras por
A técníca quc cmprcgamos tbi simplcs. Meus cola~ causa dc uma ncurost E, ncssc caso, o quc valc, para csscs

\
boradorcs aplicnmm tcstcs projctivos nos pacicntcs quc rc11'giosos, tambóm valc pam os psiquiatms. Dc thux acrc-

'
mc visitavmn na clínica, cm dctcrmínado dia. As projcçôcs ditwsc quc psiquiatras criativog como os tllmiadorcs das

.-
dcmonstraram quc 23 possuíam uma positiva imago do pai cscolas pi0nciras, acalmmm por dcscnwolwr .s*istcmas quc,
c quc 13 dcmonstmram uma imago ncgatÍVCL Contud0, cm última anal"isc, diziam rcspcito às suas pr(›'prias ncuroscsz
apcnas ló dos sujcitos do primciro grupo c apcnas 2 dos Eu vcjo nisso uma grandc rcalização, pois, dcssc m(›do, clcs
sujcitos do scgundo tbram dirctamcntc influcnciados pcla não apcnas supcraram as próprías ncur()scs, m;15, mmbénL
imago do pni no dcscnvolvimcnto dc sua rcligi051'dadc. § cnsimram (›utros médicos a njudar scus pacicntcs na supc-
Mctadc do total dcscnvolvcu suas Conccpçõcs rcligiosas ração dcssas ncuroscs. O soñimcnto dc um só homcm sc
dc mancira indcpcndcntc das imagos do pai, Sabcmos quc transforma num sacríñcio pclo bcm dc toda a lmnmnidadc.

Í
0 ñlho dc um alcoólatra não tcm dc sc tornar um alc0ó- '› A única qucstão quc ñca é a dc snbcr sc a ncumsc dc dctcr-
latra. Dc modo .s*cmclhantc, uma vida religiosa pouco sig- ; minado psíquiatra rcprcscnm as ncuroscs da época cm quc
niñcativn ncm scmprc podc remontar ao ímpacto de uma cle vivc. Sc 0 to*r, scu soñimcnto diz rcspcito ao soñimcnto

E
imago ncgativa do pai. Ncm a pior das imagos patcrnas da humanidadc. Essc psiqui.1-tm dcvc arravcssalg por si mcs-


athstar1°a,ncccssariamcntc, o indivíduo dc cstabclccer uma J mo, scu próprio dcscspcro c.\'istcncial, sc quíscr aprcndcr
rclação saudávcl com Dcus (vcja o caso dos ll sujcitos). ! como imunizar scus pacicntcs contra cssa mazclau
Portanto, mctadc dos sujcitos cstudados dcmonstrou 1 Voltcmos agora ao mcu argumcnto dc quc um ncuró-
qual' havia sido o impacto da cducação sobrc elcs, cnquanto “ tico podc scr, ou não, rcligioso, indcpcndcntcmcntc dc scr
a outra mctadc cvidcnciou o quc, através dc uma cscolha, um ncurótico. Como di.s*scm()s, a ncurosc não é, ncccss.1-

clcs ñzcram dc si próprios.20 ria-mcntc, nociva à cxpcriêncm rc]igiosa.


\

O ncurótico podc bcm scr autcntícamcntc rcligioso,


w tanto apcsar dc uma ncurosc quanto por causa dc uma ncu-
WViktor FrankL P_:wl¡0tl¡rmp_v rmd IzÍwÍrrmtialism: Svlyctrd Paptrx on er
Lqutllcmpjg Washington Squarc Prcss, Nova Im'qL1c, 19ó7. rosc. Essc ñlto rcflctc a indcpcndéncia c a nutcnticidadc da
3“ Ncszsc pontm cstou prcparado pam uma objcçào dos tcól(›g(›s, j.í quc sc
podc dizcr quc a cdihkaçín dc crcnças rcligiosas, cm mcio a condiçócs cduca-
cionais dcs.t.1"\'(›r.1"vcis, é incomcbívcl scm n intcrvcnção da graça dívina. Sc n
\

homcm dcvc ncrcditar cm Dcus, clc dcvc scr -.1u.\'iliado por sua graça. (.'(›ntudo. JP-1'TCC'~'“dO› Pormnmv 110 Plnno dn hlmmnidadc -1'PL'"-'¡5 CUmO uma Pmicçàü
*

não sc dcvc csqucccr dc quc minhn invcstígação sc dcscnvolvc no quadro tcó- Em outras pal.1vr'.15, o qug
_ no plano naruraL toma a '.1p.1rc'nci'.x dc uma dccisão
_
n'c0 da pSÍC()lOt,"l"J, ou mclhon d.1 -.1ntr0p<›log1"a'. qucr dizcr, num patamar hu~ humama POdc bcm Scr mmrPrCÍadO no lem 5“Pr-'1'hl““-1m7 umw JPmO C
1'

nwno. A nução dc “gmça"_ no cnmnto, pcrtcncc à dimcnsñu supra~human.1, '°¡5515t'31ma dc DcuS~


I1
rcligião. Contra todas as aparências, cla sc mostra indestru- dc Hitlcr, porquc scu pai tinha um cmprcgo oficíal na C0-
tívcl c indclévcl. Ncm uma psicosc podc dcstruí-la. munidadc IL1daica.
Um senhor dc 60 anos mc fbi apresentado por rcclm Após uma fhsc dc cpisódios Inan1'acos.', scu pai mc p1'0-
mar dc 1l.ucinaçõcs auditivas quc já duravam muítas déca~ curou para hllar dc sua pmmíscuidadc. Eu logo lhc dissc quc
das. Dcpnrcí logo com uma pcrsonalidadc cm ruínau Todos havia dois pcrigos principais cnvolvcndo cssas tàscs manía-
cm scu mcio o cons¡'dc1'.-1van1 um idiota. Mas, ainda assim, cas, a sabcrz a possibilidadc dc contrair docnças suualmcntc
uma cstranha graciosidadc irradiava dcssc homcm! Quando transmissívcis c a possibilidadc dc gravidcz. No caso dcla,
cri.1'nça, quis tornnr-sc um padrc. No cntanto, ele tcve dc sc mhda havia um tcrcciro pcrigoc 0 risco dc n1(›rtc. Ela fr'c-
contcntar com a única alcgria quc lhc cra accssívclz cantar qucntava clubcs noturnos na companhia dc homcns da SS.
no coro da igrcja aos domingos. Sua irmã, quc o ac0m- Ela dançava c dormia com clcs, pond()-os cm pcrigo, como a
panhavm rclatou quc, apcsar dc sua alta exc1'tabilidadc, ClC si própriau Por ñm, cla fbi cnviach a um campo dc C()nccntra-
vinha rccobrando 0 scu autocontrolc. E logo mc intercs~ ção, ondc a vi novamcntc. Eu jamais csqucccrcí aqucla ima-
sci pclos aspcctos psícodinâmicos do caso, imagínando quc gcm, para mim, comparách apcnas, à última ccna do último
o pacicntc possuía uma fbrtc ñxação cm sua irmã; _cntão, ato do Famto dc G(›cthc. Como Grctchcm cla sc cncontravn
pcrguntci a clc dc quc modo vinha recobrando essc auto- .1'j0clhada por sobrc a palha dc uma galcria subtcrr.1'^nc.1 cm
controlcz “por qucm você vcm conscguindo se controlar?”. mcio a uma multidão dc psicóticos quc vagamm sobrc tb
Após uma pausa Clc alguns scgundos, 0 pacicntc rcspondcuz zcs. Com as mãos postas, cla olhava para cima c murmurava
“Pcla graça dc Dcus”. suas prcccs, “Sloema Tísmel...”. Quando cla mc viu, vcio mc
“Pcla graça dc Dcus”, elc mc dissc. Em outras pala- abraçar, implorando a mim quc cu lhc pcrdoassc. Eu tcntci
vms, pam tzgmzízzr a DeuL Ncsse contcxto, cu gostaria dc .1'vc.1-rlm.1'”-la c, quando a dci,\'ci, cla continuou a murmurar suas
citar chrkcgaard, que, ccrta vcz, d1'ssc: “Mesmo quc a lou- oraçÕcs. Em hcbraica Exccto por cssc dcta11hc, c.\'.'1tamcntc,
cura mostrc a mím 0 manto cscarl:1tc,21 eu ainda podcrci como Grctchcn. Ela morreu, mais ou mcnos, uma hora dc-
salvar a minha alma, sc CL.! quiscr agmdnr a Dms”, isto é, pois. Scu corpo cstava cmusux c sua mcntc, complctamcntc
mcsmo quc cu scja atormentado por uma psícosc, ainda pcrturbada. chcramcntc dcsoricnnndm cla não sabia ondc
assim, podcrei cscolhcr mínha atitudc diantc dcssc sofr'i- cstava, ou por quc lá cstava. A única coisa quc sabia cra oran
mcnto, podcndo, assim, transto'rmá-lo numa conqL11'sta, Em face dc tais casos, como o do scnhor csquizotÍênL
Para variar um pouc0, faãlarcí agora dc um caso dc psi- co c 0 da garota maníaco-dcprcssiva, podc-sc ñcar tcntado
cosc maníaco-deprcssiva. Iamais csqucccrci uma das garo- a reintcrprctar um vcrso dos Salmos quc dizz “() Scnhor
tas maís bclas quc cu conhcci. Ela cra judia, mas pcrma- cstá próximo daquclcs dc Coração partído c salva os dc cs-
ncccu cm Víena por algum tcmpo, mcsmo sob o domínio pírito amargurado”.22 Não é uma c.^1r.-1ctcrística da curm dc
dcscnvolvimcnto dos p.'1cicntcs csquizotr'ênicos 0 ñlto dc

“ N.T.: No Evangclho cristão, rctc'rênc1'a ao manto com quc os soldados dc


Pilatos vcstiram Icsus, logo após a ordcm dc cruciñcação (Matcus 27,28). 23 N.T.: Salmo 34,18.

u_'172 _____1u73
V

quc cla é “partida”? Não é uma caractcrística dos pacicntcs possam vivcr bcm,“ mcsmo quc não haja cspcnmça para
maníaw~dcprcssivos a dc cstar “.1'margurado”? E não cstão uma rccupcraçio médica”.35
os esqul'zofr'énicos c os maníac0-dcprcssivos maís pró.\'imos Sob a luz da l(›g0tcrapia, isso não implica tomar p.~1r-
da rcligño do quc a média das pcssoas? tido cspccíhko nas qucstõcs conccrncntcs à rclação cmrc
Até mcsmo uma criança portadora dc rctardo mcntal tcísmo c lmmanism(›, quc cntcndcmos quc a rcligião
a1"nda rctém a humanidadc dos scrcs humanos. Ncssc scnul constitui um fbnómcno humano quc, como mL dcvc scr
d0, Carl ]. Rotc, capclão rcsidcntc de uma ínstituição quc considerado com scricdadc. Tal fknênncno dcvc scr cncara-
cuida dc, aproximadamente, 4.30() pacicntes portadores dc do como autôntico c não, simplcsmcntc, subcstinmdo pnr
rctardo mcntaL mcrccc nossa atcnçãoc uma rcdução 1'ntcrprct.1'tiva a tc'n(^'›mcnos sub-lwman()s.
“N(›ssos pacicntcs mc ensínaram mais do quc cu posso Quando lcvamos a rcligião a sérío, pcrmitim()-nos c0n-
cxprimin No mundo dclcs, não há hípocrisia; trata-sc de tar com os rccursos espirituais do pacicntc. Ncssc contc.\'to,
um rcino cm quc um simples sorriso podc scr o passaportc “cspiritual” signiñca “única c vcrdadciramcntc humano”.
para a afbiçãm a luz no olhar dclcs podc derreter o mais friio E, ncssc scntido, a intcrwnção logotcrapêutica quc dcs-
dos coraçõcs. Talvcz cssc scja o modo utilizado por Dcus crcvcmos ncstc capítulo constitui uma tarcth lcgítima do
para nos lcmbrar de quc 0 mundo dcvc rcdcscobrir os atri- médic0.
butos quc os portadorcs de retardo mentaL na verdade, Ccrtamcntg podcríamos prcscindír do minístério mé-
nunca pcrdcrw 1!”33 dico c, ainda assim, continuarmos a scr médicos, mas ~ para
Tcmos dc assinar embaixo no quc diz respcito à decla- aludir a um dito cspirituoso dc Paul Dubois - dcvcmos
ração fbita por W. M. Millar, protbssor dc saúde mcntal na comprccndcr quc a única coisa quc nos distínguc dos vctc-
Abcrdecn Univcrsity, da Escócia: “Há, ccrtamcntc, al-go dc rinários é a clicntclm
crrado na ídcia dc quc intcgridadc deve ser a mcsma coisa
quc saúdc mcntaL qucr dizcr, na noção dc quc o indívídu0,
aos olhos dc Dcus, não é c-omplcto, a menos quc possua
um atcstado de saúdc conferido por um psiquiatra. O quc
dizcr da criança rctardada, do csquizotr'ênico rctraído, ou
do pacientc senil já não mais lúcido? Quc conforto, añ-
nal, pode scr lcvado a clcs, sc ñrmarmos um Compromisso
com essa noção dc intcgridadc ñsico~psíquica? Devc havcr,
ccrtan1ente, algum sentido no qual essas criaturas de Deus
24 No (›riginal, o tcrmo utilizado nn primcim cnso é “wlmlmrxx” c, no sc~
gundo, é “n›'l¡ole". Ambos podcm scr comprccndidos tanto num scntido dc
rctbrcncial dc saúdnz dc vida sã, como numa .'1ccpção dc imcgridndc c u›mplc-
tudc. (N0m do trudutor)
33 Carl ]. Rotc, “Mcntal Rctardationz Thc Cry 0fWhy.>”, Asxocmtion 0f 35 W. M. Millar, “Mcntal Hcalth and Spirítual Wholcncss”_ juurmtl of
Mmml Hospiral Clmplaim Newslcmr 2: 41, 1965. Socitml ÍSSltBSII 7, I9ó4.

u______174 _____~_ws
rmz
meCLUsAo

As d1n'1ensões do sentido

Pcrmít.1-m«mc ñ'is.1'r quc ncm tudo (› quc cu aprc-


scntarci ao longo dcstc capítulo diz rcspcito a algum
princípio rígido da própria l()g()tcmpia. Pcln naturcza
mcsma dO assunto dc quc ircmos ora tmtmg não pos~
so scnão apenas contbssar algunms dc minhas convicçõcs
pcssoais sobrc a intcrthcc cxistcntc cntrc rcologia c psi-
' quiatria.
Há muitos psiquintms nvcntumndo-sc no campo da
tcologia, nssim como há muítos rcólogos avcntu1'.'111d()-sc
no campo da psiquiatri.-1. E. Frcdcrick Pr(›clls, capclão da
Pcnitcnciária Municípal dc Novn Iorquu fhz rcfbrêmia
aos “mi11istr(›s-mctidos-a-psicólogos, quc, dcsprcp;11'.'1d(›s,
sacm cm bombardcio com suas armas rcligiosas”. Elcs “sc
' cnvcrgonhar1'am”, continua clc, “.1-o sabcr da pníticn dc
alguns médicos quc tôm cxccutado um notávcl t1'.'1balho,
utilizando-sc apenas dc métodos rcligi()sos, isto é, dan-
do um passo para tr_ás c rccolhcndo do chão aquilo quc
csscs conñlsos teólogos já csqucccram”.' Eu diria, con-
tud0, quc os psiquiatms dcvcriam rcsistir à tcnmçãn dc
aventurar-sc pcla tcologia. Cada vcz maís, dirigcm-mc a

* E. Frcdcrick Pmcll.s', “Rcflcclion.s' ofthe SociaL MomL CulturaL and Spi›


n'tual Aspccts ofthc Prison Chaplain°s Ministry“a jrmrmtl of'Pm.^tvml Curr 12:
ó9, l958.
mcsma pcrguntaz “Quc lugar ocupa a noção dc °graça“ na Chandlcr Robbins, “o louvor rcligioso tranquiliza a mcn-
logotcrapí'.1?”. tc. Mas clc não podc scr praticado intcncionalmcntc com
Costumo rcspondcr quc, quando um médico clabo- cssc propósito, pois cssa bcncssc só tcm scntidu como um
ra uma prcscrição ou rcaliza uma cirurgia, clc 0 tcm dc ctbito colatcraL Não cantamos um Yk Dcum ou um (1'loria
thzcr com a máxima atcnção possích não dcvendo, no Excelsix no intuito dc curar uma insôma ou na cspcrança
cntanto, flcrtar com a noção de “graça”. Quanto mcnos dc vcnccr uma indigcstâo cr0^nica. Cantamos nossos hinos,
cssc médico sc prcocupar com tal ideia, prcstando atenção sim, para a glória dc Dcus”.
ao quc cstá thzcndm tanto maís clc será um vcículo para Mais além, a logotcmpia dcvc cstar disponívcl para
a graçm Isto é, quanto mais humanos pudcrmos scr, mais todo c qualqucr pacicntc c scr .1'plicávcl nas mãos dc qual-
thcilmcntc nos tomarcmos vcículos para os propósitos di- qucr médico, não importando sc sua visão dc mundo ( Wel-
vinos. mmclmumgz) é tcísta ou agnóst1'ca. Essa disponibilidadc ó
A logotcrapia não qucr cruzar a frontcira cntrc psico- esscncial - sc não por outra razão - para mantcr ñdclidadc
tcrapia c rcligião, mas dcixa a porta abcrta a csta, dcixando no Iuramento dc Hipócrates.
ao pacicntc a cscolha dc passar por cla ou não. É ao pacicn- Por outro lado, o psicotcmpcuta não sc intmmctc c
tc quc cabc a dccisão a rcspcito dc como clc vcnha a intcr- não dcvc intromcter-sc na vida rcligiosa de scu pacicntc1
prctar a própria responsabi11'dadc; sc, cm última instância, mas pode bem contribuir parn cla como um cfbito cola~
cla diz rcspcito à lIumanl'dade, à soc1'cdadc, à própria cons~ tcral, não intcncionaL A cssc rcspcito, uma signiñcatíva
ciência ou a Dcus. o pacicntc quc dccx'dc, diantc dc si, compilação dc casos sc cncontra na obra Psyclmtlmnpy mzd
por qucm ou por que clc é rcsponsách Exz'5tmtz'alz'sm.3
Muitos autorcs no carmpo da logotcrapia têm apontaJ Um cchto colatcral análogo é a incstinuívcl contri-
do a .^1Hnidadc dcsta com a rcligião. Mas nossa cscola não buição quc a rcligíào podc trazcr à saúdc mcntaL AñnaL a
constitui unm psicoterapia protcstantc, católica ou judia.2 rclígião provê 0 homcm dc uma âncora cspiritu.1'l, dc um
Uma psicotcrapia rcligiosa, ño scntido mcsmo da palavra, scntimcnto dc segurança quc clc não podcria cncontrar cm
scria inconccbích por Conta da difcãrcnça cssumial Cntrc qualqucr outro lugan4
psicotcmpia c rcligíão, quc c', na vcrdadc, uma difbmnça Uma possívcl tu'são cntrc psicotcmpia c rcligião rc-
dimcnsionaL Iá dc iníci(), dcvcmos rcconhcccr quc ambas sultaria, ccrtamentc, cm faãlta dc Clarcza, pois uma união
têm objctívo c foco difbrcntcs A psicotcmpia sc conccn- dcssc tipo misturaria indifbrcntcmcntc duas dimcnsõcs
tra na promoção da saúdc mentaL A rcligião diz rcspcito
à idcía dc salvaçãa É bcm vcrdade que, como cscrevcu
3Viktor E. FrankL P_sycbotl¡cmpymzd Exixtmrialimz: Sclrctcd Paprrx on Lqmr
tberapy,WaslIi¡1gt(›11 Squarc Prcss, Nova Iorque, 1967.
3A convicçio mais rcccntc dc Lco Bacck dc quc a logotcrapia é “a” psico- 4 Viktor ankL ThK Doctor tmd fht Srmk From Pngrbuthtrnpy ta anutbr
tcrapin iudaica é comprunsívcl, quando lcvamos cm conta quc, ccrta vcz, clc mp_v, segunda cdição, vcrsão amplíada. Altrãcd A. Knopñ Nom Iorql1c, 1965
rraduziu “Tor.í-“ por “missào dc vid;1”. (cdição cm brochuraz Bantam Books, Nou Iorquc, 1967).

w___-__I78 mwm
dístintasz a antropológica c a tcolo'gíca. Quando compara- dc apontar para algo. E 0 quc dizcr do homcmP Não é
da à dimcnsão antropológic.14, a tcológica sc mostra dimcn- clc incap.1/.', às vczcs, dc comprccndcr o scntido dc algo,
sionalmcntc supcri0r, naquílo quc tcm dc maís abrangcntc como 0 sentido do próprio sofrimcnt(), vind0, tambc'm,
c inclusivax até a maldizcr-sc dc sua condição, mordcndo o dcdo dc
Como scria possívcl, logo, cm fhcc da ditkrença di- scu dcstinoP
mcnsional cxistcntc cntrc o mundo humano c 0 mundo O homcm é incapaz dc cntcndcr 0 scntido último
dívino, quc o scr humano rcconhcça cssa distinção? Ora, do sofr'imento humano porquc “(› mcro pcnsamcnto não
para comprccndcr cssa ditbrcnçm dcvemos apcnas consí- podc rcvclar-nos o mais alto dos propósitos”, como Al-
dcrar a rclação cntrc homcm c animaL O mundo humano bcrt Eínstcin dcclarou ccrta vcz. Eu diria quc o scntido
abrangc o mundo animaL Dc ccrto mod0, 0 homcm po- último - ou, como prcñro chamar, o “suprasscntido” -
dc cntcndcr o aninml, mas cstc não podc cntcndcr o não diz rcspcito a uma qucstão dc conhccímento intclcc-
homcm. Mcu argumcnto é 0 dc quc há uma similaridm tual, mas dc tc". Não conscguimos rclacionammos com cssc
dc ncssc quoc1'cntc, ncssa rclação homcm-aninml C ho- suprasscntido cm solo puramcntc racional, mas, apcnas,
mcm-Dcus. cm solo cxistcnciaL através do todo dc nosso scr, isto é,
Em um dc mcus livros,5 cu rcñnci cssa analogiaz um por mcio da tc”.
chimpanzé quc vcm scndo utilizado para o dcscnvol- Mas qucro argumcntar quc a tõ num scntido último
vimcnto dc um soro contra a poliomiclitc - razão pcla é prcccdida pcla crcnça cm um Scr últimoz pcla Crcnça
qual seu corpo é rcpctidamcntc picado por agulhas - em Dcus. Imagincmos um cachorm - um outro cachorro
jamais conseguirá comprccndcr 0 scntido de scu sofr~1'mcn- -, um cão quc sc cncontra docntc.Você 0 lcva ao vctcri-
to. Isso porquc sua intcligência limitada não o capacíta a nário, quc traz mais dor ao bicho. O animal sc inquicta,
adcntrar o mundo humano, o único mundo 110 qual scu até conscguir vcr você c dcixar o vctcrinário c4\'.1'miná-lo
soñimcnto é comprccnsích Não scria, logo, conccbívcl c tratá-lo. Apcsar da d()r, 0 cão sc mantém quicto. Elc
quc haja uma outra dimcnsão possích um mundo além não Conscguc Cntcndcr o scntido da dor, ncm 0 propó-
do mundo do homcm; um mundo cm quc um scntido sito dc uma injcçâo ou dc um curativo, mas o modo como
último para 0 sofrimcnto humano possa Cncontrar uma elc olha para você lhc rcvcla uma conñança ilimitada cm
rcspostaP sua pcssoa; uma scgurança íntima quc thz com quc o bi-
Tomcmos agora o cxcmplo do cachorra Sc cu indico Cho sinta quc, apcsar da d()r, 0 vctcrinário não lhc fa7-
algo com mcu dcdo, 0 animal não olha na dircção cm rá mal. '
quc cu ap0nt0; clc olha mcsmo para mcu dcdo, podcndo O homcm não conscguiria rompcr cssa ditbrcnça di-
até mordê-lo. O Cão não comprccndc a fhnção semântica mensional entrc 0 mundo humnno c 0 mundo do divin0,
mas clc podc, sim, buscar cssc scntido último atmvés da fê

5 Viktor E. FrankL Mmzk Smrch for aniigm An Introdmtion to Logrr


quc é intcrmcdúda pcla crcnça ncssc Scr último. Mas Dcus
thrmpy, Washington Squarc Prcss, Nova Iorquc, 1963, p. l87. cstá “acima dc todas as bênçãos c hinos dc l(›uvor, de toda

u____180 ___u181
* 7*í

adoração c consolação quc sc profbrcm no mundo”, como


é dito na thmosa omção judaica para os mortos, o Kaddish.
Isto c', mais uma vcz, cncontramos uma difbrcnça dimcn~ FIGURA 9
sionaL comparávcl àqucla quc Martin Hcidcggcr chamou
dc distinção ontol(')gica, a ditbrcnça csscncial cntrc scr c Escrcvcndo “ccrto” sobrc uma linha rcta.

coisax Hcidcggcr sustcnta quc o scr não é uma coisa cntrc


outras Coisas. Alguns anos atrás, um garotinho contou à
minha csposa quc sabia 0 quc scria quando Crcstcssu Ela
lhc pcrguntou o quc scria, c elc rcspondcuz “Ou serci um
acrobata dc trapézio no circo, ou scrci Dcus”. O mcnini-

W/
nho tàlava dc Dcus como sc “scr Dcus” fbssc uma vocação
cntrc outras VOCQÇÕCS.
FIGURA 10
A dichcnça ontológica cntrc scr c coisa, ou, cm nosso
Escrcvcndo sobrc uma linha mrta.
caso, a difcrcnça dimcnsional cntrc o Scr último c os scrcs
hunmnos, imprimc ao homcm a incapacidadc dc rcálmcntc Escrcvcr “ccrto” signiñca cstabclcccr C_1r.1'ctcrc.s' paralclos
fhlar dc Dcus. Falar de Dcus implicaria torná-lo coisa, rc- pcrpcndicularmcntc às linhas. Em línhas tortas, não sc podc
dundaria cm rciñcação. Pcrsonihkação scria mais aprop1'i.-1- tcr cssc arranjoz as lctras não ñcam paralcl;15. Mas, sc consido
da. Em outras palavras, 0 homcm não podc thlar dc Dcus, rarmos quc a “p.'ígina” possui um plano tridimcnsiolml, cm
mas podc thlar a Dcus. Elc podc omn vcz dc um bidimcnsionaL t(›rna-sc pcrtbitamcntc possívcl cs-
A célcbrc tr~asc com quc Ludwig \V1'ttgcnstcin con- tabclcccr camctcrcs paralckm cm linhas tortas. Em outras p.1'-
cluj scu mais famoso 1ivm dim °°Sobrc aquilo quc não SC lavras, no solo da difbrcnça dimcnsional cntrc os mundos hu-
podc mara dcvose C31-_1r”_ Essa dcclaração tbi tmduzida Cm mano c di\'1'n(›, dcvcmos dar um passo alóm daquclc dndo por
muitos idionms_ pcrmiíammm tmnspô_la dc uma 1¡ngL¡a_ So'cratcs, quando añrmou quc sua ccrtcza maiordithq rcspci-
gcm agnóstica para uma linguagcm tcístaz “P;1ra aquclc dc to a scu n.1'”(›-s.'1bcr. Sabcmos agora por quc não podcmos sa-

quem não sc podc hllar dcvc-sc (›rar”. bcr tud0. Entcndcmos por quc não podcmos cntcndcr tudo.

Contudo, rcconhcccr cssa ditcãrcnça dimcnsional cntrc


os mundos humano c divino - mais do quc apcnas diminuir
- podc vir a cnriqucccr nosso conhccimcnto c sabcdoriau Sc
um problcma não podc scr resolvido, dcvcmos comprccn-
dcr, ao mcnos, por quc clc é insolúch Il.n.1'gi11cn1(›s quc
Dcus “cscrcvc ccrto por linhas tortas”. Isso scria inc0n-
ccbívcl no plano dc uma página na qual imaginamos quc
Dcus cscrcvc. Escrcvendo “ccrto” por sobrc linhas t()rtas.

mjjltü

7,7 ___4~
O quc é ainda mais 1°mportantc, podcmos, dcssa ma- não providcnciou para quc o homcm cncontrassc um cn-
ncira, cntcndcr que aglo que purece impossível mmm dimen- vclopc rcchcado dc dinhciro para pagar uma ama dc lcítcP
sño mais lmixa éperfeitamente possível mmm dimemão mpe- A profcksora rcspondcuz “Scu bobinho. Sc Dcus podc fàzcr
ríor, mtzis abrmgzenni um milagrc, para quc cntão clc gastaria dinhciro?”. Ondc
A barrcira dimensional cntre os mundos humano c di~ cstá 0 humor dcssa piada? Ora, cstá no fàto dc quc uma
vino não pode, tampouco, scr dispensada dc maiorcs argu- típica motivação humana, a sabcr, cconomizar dinhciro, foi
mcntos por uma rcfbrência à idcia dc rcvelaçãa Esta não aplicada aos dcsígnios dc Dcus.
induz ninguém à crcnça em Deus, pois dar crédito à rcvc- Os três obstáculos (aut0rítarism0, racionalismo c o
lação como fbntc infoãrmativa já pressupõc quc sc crcia cm antropomorñsmo) são rcsponsávcis por muito da rcprcs-
Deus. Um não-crcntc jamais considcrará a revclação como são à rcligiosidado Eu mcsmo posso cítar um caso cm quc
fato históric0. scntimcntos rcligiosos rcprimidos sc rcvelaram num cxamc
A argumcntação histórica é tão válida quanto a argu- dc raio X. Dcvo o rclato dc tal caso a H. E. Blumcnthal,
mcntação lógica. Dc pegadas fossilizadas, podcmos inferir da Univcrsidadc Judaica dc Icrusalém. “Uma scnhora dc
a cxistência passada dc algo como dinossauros. Mas, par- mcia-idadc dcu cntrada no hospital por causa dc uma sevc-
tindo dc objetos da naturcza, não podcmos infcrir a cxis- ra colitc. No dcpartamcnto dc radiograña, cm sua convcrsa
tência de um scr supranatural. Dcus não cstá pctriñcado, e com o médico, cla cnfàtizou quc não cra uma pcssoa rcli-
a tclcologia não constitui uma pontc conñávcl cntrc antro- giosa, mas quc as dorcs sc tornavam mais intcnsas após cla
pologia e tcologia. comcr camc dc porco. Após uma rctbição com marcador
Para 0 não-crcntc, tanto a Via lógica quanto a via his- dc bário, as primeiras chapas mostraram 0 colo intcstinal
tórica dc argumcntação acabam por scr, dc fato, dois 0bs- scm altcraçócs. Numa scgunda ocasião, a cquipc lhc dcu
táculos. Mas há aínda um tercciro, o antropomorñsmo. Eu a rcfeiição dc bário, advcrtíndo quc cla continha carnc dc
o dcñniria como uma tcol_0gia em tcrmos antropológicos. porco; como conscquência, cla soñ'cu scvcros ataqucs dc
Ou, para fàlar cm termos mais levcs, a imagcm dc Deus colitc após o cxamc Na tcrccim op()rtL1nídade, mistura-
como a do vclho homcm dc barbas compridas. Um cxcm- ram, dc fa'to, carnc suína rctbição dc bário, mas nada tbi
plo que ilustra cssc ponto está na seguintc ancdoteL dito à pacicntc. Dcssa vcz, 0 cxamc mostrou novamcntc
Uma profbssora de catecismo, ccrta Vez, contou à clas- um colo pcrfbitalmntc normal, c a senhom não tevc ataquc
sc a história de um pobrc homcm cuja csposa morrcra ao algum após 0 proccdimcnto. ”6
dar à luz. Elc não tinha dínhciro suñcicnte para pagar uma Em um livro mcu, ainda nâo traduzido para o inglês,7
ama dc lcitc. Deus, cntão, opcrou um milagre, fàzcndo incluí um cstudo sobrc sonhos inconscientcmcntc rcligi0-
com que crcscesscm scios no pcito do homcm, de modo
quc cle pudcssc amamcntar a criança rccén1-na5cida. Um
° H. E. BlumcnthaL “Icwish Challcngc to Frcud”, HETC tmd N0w, l.' 24,
dos garotos, contudo, objctou quc, nessc caso, não havia l955, p. 12.
a nccessidadc dc um milagrc. Por que Dcus simplcsmcnte 7 Viktor E. FrankL Der unbewusm Gott, Amandus~Vcrlag, Vícna, l948.

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sos dc pacicntcs conscicntcmcntc atcus. Eu mcsmo tcnho sua c,\'ístência, no mais íntimo do scu scr, clc possua uma
tcstcmunhado pacicntcs agnósticos, quc, no lcito dc mor~ conñança primária no scntido último. Scm cssa crcnça, o
tc, sabcndo da pro.\'imid^1.dc dcsta, dcmonstravam um scn~ homcm scqucr rcspirar1'a. Até mcsmo uma pcssoa quc co-
timcnto dc sc sabcrcm guardados, scntimcnto cssc quc não mctc suicídío dcvc cstar convicta dc quc scu suicídio thz
conscguia cxplimção racional no campo dc suas ñlosoñas scntido.
dc vida 1'rrcligios.1*s.x Tal cxplicação podc bcm dizcr rcspci- Dcssa fbrma, a conñança no scntido c a tc” no scr, por
to à hipótcsc assumida naquilo quc cu chamaria dc uma mais latcntcs quc scjam, são transccndcntais c, p(›rtanto,
“conñança primária” num sentído último. Albcrt Einstcin indispcnsávcis. Iá discutimos casos cm quc csscs dois aspcc-
dcclarou quc “scr rcligioso” aparcce como a rcsposta à per- tos tbram reprimidos por causa dc vcrgonha com rcspcito a
guntac “Qual é 0 scntido da vida?”. Sc assumirmos tal dcñ~ scus scntimcntos rcligiosos. Ncssc caso, a pcssoa havia sido
niçã0, podcmos, just1'ñcadamcntc, añrmar quc 0 homem é confkontada com dctcrminada imagcm da rcligião quc não
ñmdamcntalmente rcligioso. fàZia jus à dífcrcnça dimcnsional cntrc os mundos humano
No scntido estrito da ñlosoña transccndcntal dc Im- c divino. Mas, também, há pcssoas quc tém pouca cons~
manucl Kant,° a crcnça humana num scntido último faz jus ciência dc tal discrcpâ11Cia. Rcñro~mc àquclcs quc insistcm
a scr chamada dc transccndcntaL Sc mc pcrmitircm uma cm quc nada podc scr rcaL a mcnos quc scja tangích Essas
rápida simpliñcação, por razócs didáticas, conhcccr os 0b- pcssoas nem scqucr cstão cicntcs da ditbrcnça dimcnsional
jctos do mundo é 0 mcsmo quc pcrccbê-los no tcmpo c no cntrc os fbnômcnos somático c psíquico. (Iontud0, podc-
cspaç0, aplicando-os às catcgorias dc causa c cfciita Até aí, -se argumcntar contra tal posicionamcnto, ao tàzcrsc rctc'-
KanL Agora, meu argumcnto é o dc quc 0 scr humano não rência à idcia Scmprc prcssuposta cm scu ccrnc. O scguintc
movcria um dcdo, a mcnos quc, na mais proquIda basc de cxcmplo ilustrará o quc acabci dc dizcn
Em mcio a uma discussão, um jovcm pcrgunta sc scria
” Gcralmcntc, a mortc é compafmda ao sono. Na \'crdadc, a comparnção
rcalmcntc apropriado fàlar dc “cspírito”, sc clc não podc
dcvcría scr tkita com 0 ato dc acordar. Ao mcnos, dcssc pomo dc vista, scria scr visto. Mesmo quc cxplorcmos o tccido ncrvoso no mi-
comprccnsívcl quc a mortc cstá para além da comprccnsão. Imaginc um pai croscópio, dissc elc, jamais cncontrarcmos algo como o cs~
amoroso dcspcrtando, carinhosnmcntg scu filho com um toquc chcio dc
afcíção. A críança acordará sub1't-.1mc11tc, um tanto assusmdm pois o scntido pírito. Ncssc moment0, o modcrador do dcbatc mc pcdiu
próprio do mundo dc scus sonhos - mundo cssc invadido pclo toquc dc scu para mc manifcsstar sobrc a qucstão. Log(›, comccci por
pai - não podc ser conccbido. O homcm, também, acorda da vida para a
mortc com cssc mcsmo mcdo, tanto quc, sc sua vida é salva após um díagnóy
pcrguntar ao rapaz o“ quc o motivara a tàzcr tal pcrgu11ta.
tico dc mortc clínica, é comprccnsívcl quc clc não sc Icmbrc dc nada. Aquclc “Minha honcstidadc intclcctual”, clc rcspondcu. “ch”
quc acorda sc lcmbra dos sonhos quc tcvc, mas aquclc quc sonha não sabc cu contínuci a dcsañá-lo, “mas isso ó corporalP Algo assim c

vxa
quc cstá dormindo.
° Em minha opinião, a ñlosoña transccndcntal dc Kant transtbrmou uma tangívcl? Scria isso visívcl num microscópio?”. “Claro quc
quavsrio iurís cm uma qzmcrriofactí, qunndo mostrou quc a pcrguma sobrc sc não”, admitiu clc. “Porquc sc trata dc um fbnômcno mcn-
podcmos ou não usar ccrms catcgorias é rcspondida por intcrmédio da dcmons-
tração dc quc não podcríamos dispcnsar cssas catcgorías, pois clas cstão prcssu-
tal”. “Ah-ah”, dissc eu, “cm outras palavms, aquilo quc
postas, tcndo sido usadas por nós 0 tcmpo todo. vocc^ buscava cm vão no microscópio já cra uma condição

u___186 muw
dc possibílidadc pam a sua pcrgunta, prcssuposta por você, As pcssoas quc rcstringcm a rcalidadc ao quc é tangí-
o tcmpo todo, não cra?”. vcl c visívcl c quc, por tal razâ(›, tcndcm tz priori a ncgar
Quando Martin Hcidcggcr visitou Vicna, pcla pr1'mci_ a cxistência dc um Scr último também tcndcm a rcpri-
ra vcz na vida, clc ofbrcccu um scminário rcstritíssímo a mir scntimcntos rcligiosos. Junto dcssas pcssoas quc são
um grupo dc dozc acadêmicos. No mcsmo dia, à noite, o soñsticadas dcmais para accitar os conccitos ingênuos da
profcssor G., do Dcpartamcnto dc Filosoña da Univcrsida- rcligião, também há aquclcs quc são imaturos dcmaís para
dc dc Vicna, c cu o lcvamos a uma Heurgier vicncnse (um supcrar uma cpistcmologia pobrc, insístindo quc Dcus
lugar típico da cidadc, ondc o proprictário dc uma vinha dcvcria scr vísích Sc essas pcssoas, algum dia, subircm a
vcndc o scu próprio vinho). Nossas csposas nos acompa- um palc0, clas aprcndcrão uma lição. No palco, 0 homcm,
nhavam A mulhcr do profbssor G., quc não cra ñlósofa, 0fu~scado pclos rcflctorcs, não podc vcr scu público, apc-
mas sim uma cantora dc ópcra, pcdíu-mc quc cxplicassg nas um buraco ncgro. Elc não podc vcr aquclcs quc o cs-
cm linguagcm simplcs, qual havia sido a conclusão do sc- tão vcndo.
minário com Hcídcggcr. Eu improvisei a rcsposta com a O scr humano, atuando no palco da vida, intcrprctan-
scguintc hísto'ria: “Era uma vcz, um homcm, com umd te- do sua própria cxístência, não pode vcr diantc dc qucm sua
lcscópio. Elc sc desespcrava por não conseguir cncontrar performunce sc dcscnrola. Elc não conscguc cnxcrgar dian-
dctcrminado plancta do sistcma solar, já tcndo pcrcorrido tc de qucm cle é rcsponsávcl por aprcscntar uma boa atua-
todo o céu cm busca dele. Mais cspcc1'ñcamcntc, o plancta ção. Nas luzcs ofuscantcs do dia a dia, clc sc csquccc dc quc
quc buscava sc chamava Terra. Um amigo scu o aconsc- cstá scndo 0bscrvado. Elc nâo sc lcmbra dc quc, cscondido
lhou a procurar um sábio dc nome Martin Hcidcgger. °O no escur0, alguém o obscrva do camarotc. Essc mcsmo al-
quc você procuraPl pcrguntou Heideggcr ao astrônomo. guém quc “fcz da cscuridão scu cscondcrijo”, como sc diz
°A Tcrral lamcnrou o homcm, 6não consegui achá-la cm cm um Salmo. E nós fr“*Lquc11tL=mL'11tL* sentimos um ímpulso
nenhum lugar do ñrmamepto “E posso perguntar onde para lembrar ao homem quc as cortinas cstão abcrtas e quc
você ñrmou 0 scu tripéPÇ pcrguntou Hcídeggcr. “Sobrc a 0 quc qucr quc clc fãça cstá scndo visto.
tcrra, claro', fbi sua resposta imediata. °Ccrto7, concluiu Nos campos de prisioncíros de gucrra na Corcia do
Hcideggcr, “cis o quc você pr(›cura,”. Nortc, dizia-sc aos dctcntos quc, sc clcs não sc submctcs-
Mais uma vcz, aquilo quc se procurava vinha sendo scm à lavagcm cercbraL ClCS seriam assassinados, c ninguém
pressuposto durantc todo 0 tcmpo. LítcralmcntC, prcs-su- jamais saberia da cxistência dclcs c dc scu hcroísmo. Para
-pos-t0, isto é, colocado (posto) sob (sup) a busca antcs alguém não rcligioso, podc parecer sem scmido scr hcroico
(pre) mcsmo dc cla scr íniciada. sc ninguém ganhar algo com isso, sc ninguém ñcar sabcn-
Hcidcggcr pedíu mínha pcrmissão para usar cssa ima- do do quc houvc.l°
gcm cm suas aulas. Elc sc dcixa guiar por etimologias.
Por quc cntão cu não me deixaria guiar por analogias c '° Ioost A. M. Mccrloo, “Pavlovian Stratcgy as a Wcapon of Mcnticidc”,
imagcns? Amerimn jrmrmll ofPsythíatry ll(): 809, l954.

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O grandc buraco ncgro quc citci cstá todo _íprccnchido prc tbi um Dcus “0culto”. Vocô nàu dcvc cspcrar quc Elc
com símbolos. 0 homcm é o scr capaz dc criar símb(›- atcnda scu clmmad(). Para mcdir a proñmdidadc dos occcr
los; um scr quc ncccssitn dc símbolos. As rcligiócs do hO~ nos, cmitc-sc um sinal sonoro .-1tr.-1\'c's da águn c agu.1'rda-sc
mcm - assim como suas linguagcns - são sistcmas dc quc cstc, ao .'1tingir 0 fund(›, rctornc como cco. Sc Dcus
símbolos c, ncssc scntido, o que valc para a linguagcm c.\'istc, contudo, Elc é inñnito c você cspcrará pclo CCU cm
também valc para a rcligião. Isto é, ninguém tcm 0 dircito vão, pois a “(›nda sonora” nunca atingirá o thndo. 0 thto
dc dizcr1 do alto dc um complcxo dc supcr1'oridadc, quc dc não rcccbcr rcsposta alguma é a prova dc quc scu cha-
uma linguagcm é supcrior a outra, pois, cm Cada lingua~ mado atingiu o dcstinntárioz 0 inñnito.
gcm, é possívcl chcgar à vcrdadc - àqucla vcrdadc una -, Sc você olhar pam 0 céu, dc thtm não podcrá vcr o céu
assim c0mo, cm cada linguagcxm é possívcl errar c, até cm si, porquc 0 quc qucr quc vocé vcja no céu nâo scrá (›
mcsmo, mcntir. céu, mas algo quc aparccc “no” céu, bloqucando a visão
Eu não acho quc a tcndéncia atual scja a dc as pessoas dcstc, como, por cxcmplo, uma nuvcm. Das alturas inñni-
sc afàstarcm da rcligião por si, mas sim daquclas rcligiõcs - tas do quc chammnos dc céu (c dizsc quc os caminhos dc
ou mclhox', daquclas dcnominaçõcs - cujos rcprcscntantcs Dcus cstão muito acima dos caminhos do homcnn assim
parcccm não tcr algo mclhor a fãzcr, a não scr combatcr- como o céu cstá acima da tcrra), das .-11turas inñnitas, nc-
-sc mutuanwntc c tàzcr prosclitismo uma na 0utra. Essa nhuma luz sc rcflctc; c das protuhndczas inñnitas, ncnhum
tbi a minha rcsposta quando um rcpórtcr da rcvista amc- som ccoa dc volta.
ricana Time mc tclctbnou, pcrguntandoz “Dcus cstá mor- Gordon W. Allport, cm scu rcnomado Iivro 7715 In-
t0?”. Como clc mc dissc quc cssa pcrgunta scria matéria dc dívidzml mzd His Rtltíqiom rctbrc~sc ao hinduísmu como
capa, cu primciramente pcrguntcí a clc sc o cdit()r, no ñml uma rcligião profundamcntc pcr.s'onali/.'ada. Há “muitas m-
das contas, prctcndia cscolhcr Dcus como o “Homcm do riantcs nas conccpçócs dc divindadc sustcntadaws pclos ditcÚ
Ano”. Após tcr dcclarado quc a tcndência atual não era a rcntcs indivíduos c por um mcsmo indivíduo ao longo do
dc .1'fa'stamcnto da rcligião, mas dc athstamcnto da êntàsc tcmp(). Quando prccisamos dc afkiçaün Dcus é amor; quan-
cntrcs dcnominaçócs individuais, 0 dito rcpórtcr pcrgun- do prccisamos dc conhccimcnt0, Dcus é omlscicntq quan-
tou-mc sc isso apontaria para o caminho dc algo como uma do prccisamos dc consolo, Elc traz a paz quc ultrapassa 0
religião univcrsaL Isso, contudo, cu ncguci cntaitkzamcntc cntendimcnto. Quando pccamos, Elc é o Rcdcntorg qu.1-n-
Ao contrário, dissc-lhe quc cstamos indo cm dircção a uma do prccisamos dc oricntação, Dcus é o Espírito Sant0. Um
rcligiosidadc proñmdamcntc pcssoal, pcrsonall'zada, na intercssantc rito da rcligião hindu agora mc vcm à n1cntc.
qual cada homcm cncontrará sua própria c pcrsonalíssima Entrc os dczcsscis c os dczoito .'1nos, o jovcm hinduísta rc-
linguagcm ao voltar-sc para o Scr último. ccbe dc seu pr()fb55(›r um nomc para dcsign.-1r Dcus, nomc
Mas c 0 quc dizcr do problcma cm qucstãoz “Dcus csse quc dcvc scrvir ao jovcm como um instrumcnto par-
cstá morto?”. Eu diria quc Dcus não cstá morto, mas silcn- ticular dc oração c dc ligação cspiritual à divindadc. Por
cioso. Isso, contudo, Elc scmprc tbi. O Dcus “vivo” scm- intcrmédio dcssc costumc, 0 hinduísmo rcconhccc quc 0

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V

tcmpcramcnto, as ncccssidadcs c as capacidadcs do ncóñ- dc mcu primciro livro. Mais tardc, quando minha próprin
to condicionam, cm boa partc, scu rclarionamcnto com mortc mc parccia já incvitách cu mc pcrguntci dc quc
as vcrdadcs 1'cligiosas. Essa prática rcvcla um raro cxcmplo valcra minha \'ida. Nada quc cu dcixara para trás sobrcvi-
dc uma rcligíão insütucionalizada quc rcconhccc o dcñni- vcria a mim. Eu nâo tinha ñlhos. Ncm mcsmo um “ñ|h0
tivo carátcr individual do scntimcnto rcligioso. Na Índia, cspiritual”, como o manuscrito. Mas, após combatcr mcu
o fato dc cada índivíduo portar um nomc para a dívinda- dcscspero por horas, cm mcio aos trcmorcs da tcibrc ti-
dc adcquadn às suas ncccssidadcs pcssoais não é suñc1'cntc; fo'ide, cu mc pcrguntci, añnaL quc scntido scria cssc quc
também é rigorosamcntc rccomcndado quc cssc nomc scja dcpcndia da imprcssão ou não dc um manuscrito mcu. Sc
mantido cm scgrcdo, até mcsmo dos mclhorcs amigos c da assím 0 tbssc, cu não daria a mínima para clc. Mas sc, dc
própria csposau Em última análisc, Cada pcssoa sc rclaciona fato, há scntído para a vida, csse scntido é incondicionaL
com a divindadc cm solidão, c é bcm pcnsado quc sc sim- c ncm mcsmo a mortc ou o sotr'imcnto podcm rctirar sua
bolizc cssc tàto - cspcc1'almcntc, quando cstamos thlando va11'dadc.
dc larcs c comunidadcs muito populosas - com 0 sclo do E aquilo dc quc nossos pacicntcs ncccssitam é uma fé
scgrcdo ” ll incondicional num scntido incondicimmL Lcmbrcm-sc do
Scrá quc isso implica supor quc as dcnominaçõcsg ou, quc cu dissc sobrc a transítoricd.-1dc da vida. No passado,
no caso, as organizaçõcs c instituiçõcs no campo da rcligião nada cstá irrcmcdiavclmcntc pcrdido. Pclo contrário, lá,
irão dcsaparccch Dc modo ncnhum. Por mais ditkrcntcs tudo está ínaltcravclmcntc prcscrvado c a salvo. Em gcraL
quc sejam (›s modos por mcio dos quais 0 homcm sc volta- damos muita atcnção ao pcso da transit<>ricdadc, obscrvam
rá ao Scr último, scmprc havcrá símbolos compartilhados, d0-a como o vasto campo da plantaçab após a colhcita, c
dc modo quc uma comunidadc dc símbolos há dc pcrma- acabamos por subcstimar nossa história, csqucccndo-nos
ncccr. Não há línguas que, apcsar dc todas as dithrcnças, dos “fa*rtos cclcíros” quc constitucm o passadq ondc dc-
partilham do mesmo altàbctoP positamos a nossa vída, a nossa C()lhcita.
Como conclusã(›, dcÕo lcmbrar a mim mcsmo dc quc, Mas c 0 quc dizcr daquclcs sotrfdorcs cujos cclciros
cm primciro lugar, sou um médico. Dia após dia, sou con- cstão vazios? Quc dizcr do homcm scniL da mulhcr quc
ti'ontado por docntcs incurávcis, homcns quc sc tornam não pôdc tcr ñlhos, dos artistas c cicntistas cujas mcsas c
vclhos c mulhcrcs quc não podcm tcr fühos. Sou dcsañado gavctas cstão vazias dc ()bras? E clcsP A tõ incondicional
pclo grito dclcs por uma rcsposta à pcrgunta sobrc um scn- num sentido incondicional podc transtbmmr cssc complc-
tido último para 0 sotr“1'mcnt(). to fr'acasso num triuntb hcroico. Essa possibilidadc não fbi
Eu mcsmo atravcssci cssc purgatório quando mc vi - e tcm sido - dcm(›nstr.1'd.1' apcnns por inúmcros p.1-cicntcs
num campo dc conccntração, tcndo pcrdido 0 manuscrito nos dias dc h0jc, mas também por um c.'1mp()nês quc vivcu
nos tcmpos bíblicos. No caso dclc, scu tr'ac.-lsso to'i, litcral-
“ Gordon W. Allport, NJE Indíviduul und His Rclçíqiom Thc Macmillan
mcntc, nas colhcitaS. E scus cclciros csta\'am, litcralmcm
Company, Nova Iorquc, l956, pp. 10 c scguintcs. tc, vazios. Ainda assim, do alto dc conñanç.1- incondícional

u_____-192 ____-u193
L_--"_V_

uma tc" mcondluonal num Scr Posmkuoz


S entído último c dc . . l- c:
num trluntant
,1U›mo Habacuc cmoou scu hmo A desguruñcação da logoterapia
u a
aEspcrarei cm silêncio 0 dia d.aaflição, qhuí sçc hlá
çntaq a h,_
sobrc 0 povo quc nos oprlmc porun
lcvantar
nulo scrá 0 produto ~dzts vmhas, faltafa
ucira não brotará,
não darao dc comcu Nao
g ' d olivcira, c os campos E . .
a
mais ovclhas no a prisco, ncm gado nos cstábulos_
0 mlto
havcrá mmha
no Scnhon ncontrarcl
E porém ngOZÍjar-mC-Ci
u7 7
' ç“ 57 12
mmha salvaao ,
qlcgria no Deus dc
se aprcndcr dc mcu llV1'O,
Quc scja cssa lição a
a
Na ocasião do Primciro Congrcsm Mundial dc Log0-
tcrapia, ocorrido cm San Dicg(›, cm 1980, fbi-mc solicitado
quc cu profbrissc 0 discurso dc abcrtunL Os organizadorcs
do cvcnto mc ñzcram rccomcndaçócs cspccíhkas sobrc 0
f(~)rmat(› da minlm c4\'po.s*ição. Eu dcvcria claborar - c, aqui,
cito litcralmcntc - “como cu imagino a logotcmpia após
minha partida”. Em (›utras p.-Ilavr.1's.', cu dcvcrin profúir
algo como 0 “último canto do cisnc”, dcixar 0 mcu lcgada
Mas cu não sou um profha para prcvcr 0 ñxturo da l(›go-
tcrapia, tampouco um guru pam dccrctar qual dcvcrá scr (›
mclhor rumo para cl.1'. () título quc cscolhi para o discurso
fbi “A Logotcrapm no Caminho da Dcsguruñcaçà0” c diz
rcspcito ao fàto dc quc o futuro da logotcrapia dcpcndcrá
dc todos os logotcrapcutas.
Eu sou dcsccndcnte do Maharal dc Praga, o lcndário
rabino quc sc tornou famoso pclo romancc O Golem c pc-
los ñlmcs 1'nspirado_s nessc livr0. O rabino cra um amigo ín-
timo do impcrador da Áustria naquclcs tcmpos, c 0 Golcm
fbi uma cspécic dc robô criado por Maharal usando argilzL
Contudo, dozc gcraçõcs mc scparam dc mcu rcvcrcndo
anccstral c, ncssc mcio tempo, quaisqucr prcowpaçôcs
Com a criação dc robôs dcsaparcccram. Eu não tcnho o
12N.T.: Habacuc 3,16-18. mcnor intcrcssc em toirmar robós, nem cm gcrar papagaios

_____L__-_____
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quc só rcpctcm a voz do mcstrc. Mas eu dcscjo, sim, quc, simplcs -, o tuindador da log(›tcrapia, não signiñca mais do
no ñltur0, a mcnsagcm da logotcrapía scja lcvada adiantc quc tcr lançado scu fímdamcntm ora, um qundamcnto não
por cspírítos indcpcndcntcs c crmtivos. A logotcrapia vê o simboliza mais do quc um convitc para quc outros dccm
homcm como um scr cm busca dc scntidm como um scr scguimcnto à construção do prédio sobrc cssc fu'ndamcnto.
rcsponsávcl pcla rcalização dcssc scntido. Nossa tarcfa é a A lcitura c a rclcitura dc mcus livros os poupa dc comcçar
dc thzcr o homcm conscientc dc scu “scr rcsponsávcl”, de tudo dc novo, dando-lhcs tcmpo c oportunidadc para quc
sua rcsponsab1'lidadc. Ora, isso também valc para 0 logo- participcm do dcscnvolvimcnto postcrior da logotcrapia.
tcrapcuta, quc, conscicntc dc sua rcsponsabi11°dade, dcve A logotcrapia é um sistcma abcrto cm doís scnti-
mostrar-sc como um cspírito 1'ndcpcndcntc. dos: abrc-sc na dircção dc sua própria cvolução c abrc-sc
Foi dc Rcuvcn P. Bulkal 0 mérito dc dcfcindcr a log0- à cooperação com outras cscolasx Essa dupla abcrtura já
tcrapia contra a acusação dc scr “autoritária”. Num rcccn- vcm dando tr'utos, c isso sc cvidcncia pclo fhto dc quc não
tc livro dc Elisabcth S. Lukas,-° a autora dcclara quc, ao mcnos quc quarcnta autorcs (scm mc incluir) já lançaram
longo da história da psicotcrapia, nunca houvc uma cscola cinqucnta c sctc livros sobrc logotc1'.1'pi.1', publicados cm
tão antidogmática c aberta como a log()tcrapia. Dc fasto, a quinzc línguas, ísso para nào mcncionar as l 12 disscrtaçõcs
logotcrapia podc bcm scr chamada dc um “sistema achr- já claboradas sobrc o tcma.
to”. Na vcrdadc, não conñrmamos apcnas scu carátcr dc E todos csscs autores vêm trabalhando nos mais di-
abcrtura, mas mmbém sua qualidadc dc sistcnm. AñnaL “el vcrsos nívcis dc soñsticação, abrangcndo dcsdc o campo
Xírtema es el laonmdsz del pmmdor”, como já dissc Ortcga y da litcratura popular - para não dizcr mcsmo “vulgar” -
GasscL J. B. Torcllo3 também não hcsitou cm añrmar quc, até 0 dc tmbalhos dc oricntação c ñlndamcntação cmpíri-
na históría do pcnsamcnto psicotcrápico, a logotcrapia tbi co-cxpcrimcntais. Elcs caminham cm dircçócs ditbrcntcs
a última cscola a aprescntar um corpo tcórico descnvolvido A difêrença entre os pontos dc vista, às vczcs, conduz a rc-
nos tcrmos dc uma cstrutur_a organizada sistcmaticamcntc. sultados discrcpantes cntrc si c, ncssc ponto, podcmos pcr-
Tudo isso não ncga ncm diminui o faito dc cu scr o “pai guntarz “O quc ainda é c 0 quc já não é mais logotcrapia?”.
da logotcrap1'a”, como o pcriódico Existmrial Prsydamtry mc Eu podcria rcspondcr thcilmcntc a tal qucstão afirmando
chamou. E 0 ditado latino scgundo 0 qual a patcrnidade quc a logoterapia pura c gcnuína é o quc vocês cncontram
nunca é ccrta (pater semper íncertm) não sc aplica à logo- cm mcus livros. Mas faãzcr partc da comunidadc dc logotc-
terapía. Mas 0 faãto dc eu scr o pai - 0u, dito dc fbrma mais rapeutas não dcmanda tcr dc assinar cmbaixo tudo 0 quc o
Dr. Frankl dissc ou cscrcvcu.
Um leitor só aplica aquilo quc achou conv1'nccntc, c
1 Rcuvcn P. Bulka, “ls Logothcrapy Authoritar1'an?”, Iourmzl afHummzimt
nychoquy 18 (4), 1978, 45v54. vocês não podcm pcrsuadir os outros dc nada do quc vocês
2 Elisabcth S. Lukas, Aurh dzín Leben har Simu quothempmtistb Wçm zur mcsmos não cstcjam convictos! Isso sc aplica, particular-
Gamzdung Frciburgo, Hcrdcn l980.
mcntc, à convicção do logotcrapcuta dc quc a vida tcm um
3 ]. B. Torcllo, “Viktor E. FrankL l”hommc”, cm Viktor FrankL La pyvichrr
thempiv ct son image dc lh'ommc, Rcsma, Paris, l970. scntido, um scntido incondiciomL quc sc sustcnta até o úl-

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timo momcnto, até 0 último suspir0, c dc quc até a mortc Lukas, Lunccf('›rd, Masom Mcicr, Mlehv_, Plan(›va,
podc scr dotada dc scntido. O lcitor quc acrcdita nisso tudo Popiclski, RichmonLL Rolwrts, Ruch, Sallcc, Smith,
podc cncontrar cm mcus cscritos todos os .1'rgumcntos dc Yamcll c Young. () trabalho dclcs otbrcccu cvidêncía
quc ncccssita para tbrtalcccr cssa convicção. Sc adcrirmos cmpírica dc quc, na \'crdadc, as pcssoaxg podcm cn-
à convicção dc quc a vida sc mostra incondicionalmcntc contrar c rcalizar scntido cm suas vidas, indcpcndcn-
51'gníñcativa, podcmos rcdcñnir a fímção das proñssõcs dc tcmcntc dc sc.\'o, idadc, QI, instrução, .'1ml'›ícntc ou
saúdc como, mais cspcciñcamcntc, a dc ajudar os pacicntes cstrutum de carátcr c, por ñm, indcpcndcntcmcntc,
na aspiração última humana dc cncontrar um scntido para a tambény dc scr rcligioso ou não c, no caso dc scr,
vida. Ao ta'zô-lo, tais proñssionms acabanL rccipr0camc11tc, indcpcndcntcmcntc da dcnominaçào a quc pcrtcnça.
cncontrando uma missâo c uma vocação para suas próprias Tais autorcs computaram ccntcnas dc núlharcs dc da-
vidas. Quando o cditor da Whak Who in Amcrica mc pcdiu dos obtidos a partir dc milharcs dc sujcitos, no intui-
para quc cu rcsumissc minha vida cm poucas linhas, cu o to dc cncontmr cvidência cmpírica do incondicional
ñz com as scguintcs palavras - quc você poderia bcm adivi- scntido potcncial da vida.
nharz “Eu cncontrci o scntido da minha vída cm ajudarps Mas também com rclação ao invcrso, isto é, 0 scn-
outros a cncontrar um scntido na vida”. timcnto dc tàlta dc scntido, ou mclhor, a ncurosc
A cvolução da logotcrapia não diZ rcspcito apcnas noogênica quc dcriva delc, muito também sc obtcvc
à varicdadc dc campos cm quc vcnha a scr aplicad3, mas cm tcrmos dc cstatíst1'ca. Rcñr(›-mc aos projctos dc
também a scus fundamcntos. Muitos trabalhos têm sido pcsquisa quc - mcsmo tcndo sido cxccutados dc ma-
rcalizados, por muitos autorcs, no scntido dc colaborar, neira indepcndcntc cntrc si - chcgaram à consistcntc
corroborar c validar aquclcs prcssupostos quc, por muito conclusão dc quc vintc por ccnto das ncuroscs são
tcmpo, pcrmancccram bascados apcnas Cm solo intuitiv0, noogênicas cm naturcm c 0rigcm. Foi cssa a C(›ns-
mais CSPCCÍHCQHICDÍC, nas int_uiçócs dc um adolcscentc cha- tataçào dc Frnnk M. Bucklcy, Eric Klingcr, Dictrich
mado Viktor E. FrankL A logotcrapia sc cstabclcccu cicn - Langcm Elisabcth S. Lukas, Eva Nicbaucr-I\'ozdcra,
tiñcamcntc por mcio dc pcsquisas bascadas cmz l) tcstcs, Kazimicrz Popiclski, Hans Ioachim PrilL Nina TolL
2) cstatísticas c 3) cxpcrinmntos Ruth Volhard c 'l'. A. Wcrncr.
1.Até agora, dispomos dos dcz tcstcs logotcrapêuticos 3.Quanto aos cxpcrímcntos, L. Solyom, F. Garza-Pc«
dc autoria de Waltcr Bockmann, Iamcs C. Crum- rcz, B. L. Lcdwigc c C. Solyom4 fbram os primciros
baugh, Bcrnard Dansart, Bruno Gi(›rgi, Ruth Ha~ a 0te~rcccr cvidência cxpcrimcntal dc quc a técnica
blas, R. R. Hutzcll, Gcrald Kovac1'c, Elisabcth S. Lu- logotcrapêutica da intcnção paradoxal é cñcaz.
kas, Lconard T. Maholick c Patricia L. Starck
2.N0 quc diz rcspcito às Cstatísticas, podcmos indicar
* L. Solyom, F. G.1'rz.1'-Pcrcz, B. L. Lcdwigc c C. Sol_\'om, “P.1-r.1-dom"cal In-
os rcsultados das pcsquisas conduzidas por Br0wn, tcntion in thc Trcatmcnt ofObscssivc Thoughtsz A Pilor Study“, Comprzbem
Casci.1'ni, CrumbauglL Dansarn Durlak, I\r'atochvil, síve ngchiatry 13 (3), l972, 291 -297.

u____*___198 _____u199
Mais rcccntcnmntc, L. Michacl Aschcr c Ralph M, quc subjaz nas corrcntcs tcorias motivacionais. ()ra, 0 h0-
Turncr5 aprcscntaram uma validaçio controlada cx- mcm não é ncm um scr quc apcnas ab-rcagc scus instintos,
pcñmcntalmcntc da cñcácia clínica da intcnção pa- ncm um scr quc mcramcntc rcagc a cstímulos, mas é um
radoxal cm comparação com outras cstratégias C0m- scr quc :1gc no mundo; um “scr-no-mundo”, para mc valcr
portamcntais. da fricqucntcmcntc mal intcrprctada tcrminologia hcídcg~
gcriana.
Por mais quc aprccicmos os fundamcntos cicntíñcos E o “mundo” no qual o homcm “é” é um mundo rc-
da logotcrapia, dcvcmos tcr consciência do prcço a pagar pleto dc outros scrcs c dc scntidos no cncontro dos quais
por isso. Eu suspcito dc quc a logotcrapia vcm sc tornando clc transccndc a si mcsmo. Mas como cnfrcntar a docnça
cicntíñca dcmais para podcr sc tornar popular, no vcrda- c 0 mal dc nossa ép0ca, quc têm como raiZ uma fr'ustra-
dciro scntido da palavra. Iron1'camcntc, a logotcrapia é rc- ção da vontadc dc scntid(), sc não adotarmos uma visão dc
volucionária dcmais para scr plcnamcntc accita nos círcu- homcm quc conccba a vontadc dc scnrido como princípio
los cicntíñcos. Grandc coisa. O Conccito de uma “vontadc motivacionalP
dc scntid0” como a motivação básica do scr humano é um O quc é rcwolucionário, contudo, não é apcnas 0 con-
tapa na cara em todas as tcorias motivacionais contcmpo- ccito dc vontadc dc scntido na logotcrapia, mas também
râncas, quc ainda sc basciam no princípio da homcostasg scu conccíto dc scntido na vidax Dc ta't(›, os logotcrapcutas
considcrando o homem como um scr quc cstá aí apcnas qucbraram um tabu. Num romancc dc Nicholas Moslcy,
para satisñlzcr impulsos c instintos, para gratiñcar ncccssi- podc~sc lcr: “Há um assunto nos dias dc hojc quc constituí
dadcs - tudo isso apcnas no intuito dc mantcr ou rcstaurar um tabu, da mcsma tbrma como a scnlalidadc .1'ntigamcntc
um cquilíbrio intcmo, livrc dc tcnsócs. E todas ns pcssoas também cra um tabu, c cssc assunto é fhlar da vida como sc
quc o homcm parccc aman todas as causas a quc clc parccc cla tivcssc algum scntido”.° Os logotcrapcutas ousam fàlar
scrvir SãO vistas como mcros instrumcntos para 1ivrá-lo das da vida como algo quc scmprc tcm scntido. É dcsncccssá~
tcnsõcs Criadas pclas pulsócs, pclos instintos, pclas ncccs- rio frãisar quc uma postura dcssc tipo é obrigatória nos casos
sidadcs, à mcdida que c cnquanto clcs não sc mostrarcm dc ncurosc noogênica ou fr'ustraçà() uistcnciaL Aí, a logo-
sat1'sfc~1'tos. Em outras palavras, a autotransccndência, quc a tcrapia tu"nciona como tcrapia cspccíñcag 0u, para cxprcs-
logotcrapia considera scr a cssência da cxistência humana, sá-lo no jargão médico, como “o método cscolhido”.
é complctamcntc dcsconsidcrada na imagcm dc homcm É aí quc se lcvanta a qucstão a rcspcito dc como dctcr-
minar o tratamcnto num caso uspccíñca Eu não mc canso
dc declarar quc o método cscolhido cm cada caso sc rcduz
5 Ralph M. Turncr &' L. Michacl Aschcn “(Íontrollcd Compnñson ofProgrcs-
a uma cquação com duas incógnitasz
sivc Rcluaúom Srimulus ControL and Parndoxical Intcntion Thcmpics fbr Insom-
ni.1”. jourmtl oannsulthw tmd (Ílínica/ Pslmalztzqy 47 (3), l979, 500~508.
Ralph M. Turncr & L. Michacl Aschcr, “A (I(›mparison ofTwo Mcthods
íbr thc Administmdon of Paradoxícal Intcntion”. than Rm Ami Wjerapy 18, “ Nicholas Moslcy, Namlie Numlia, Nova Iorquc, Coward, McCann c
l980,121-126. Gcoghcgan.

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lll = x + y gotcmpía com muito êxito cm si próprias, mmbém apcnas
O “x“ rcprcscnta a pcrsonalidadc única do pacicntc, lcndo um livro sobrc o assunto. Essas pcssoas mcrcccm scr
c o “y-”, a igualmcntc única pcrsomlidadc do tcrapcuta. clogiadas por sua criaç.1'“o, quc podc scr chamada dc aut0-
Em ()UI'IJ'S palavras, ncm todo c qualqucr método sc aplica biblío-logotcrapi.-1.
a todo c qualqucr pacicntc com o mcsmo succsso, assim Dc tudo o quc cu dissc antcs, scguc-sc quc a l(›gotc-
como ncm todo tcmpcuta ó capaz dc mancjar cada mc'to- rapia não é uma panarcim (,'(›m(› conscquência disso, tam-
do com (› mcsmo succssa Quanto a ajustar 0 método ao bém, tcm-sc quc a logotcmpía não só cstá “abcrta à coopc-
pacicntc, o grandc psiquiatra Bcard, ccrta vcz, disscz “Sc ração com outras cscolas”, mas quc sua combinação com
você tmtou dois casos dc ncurastcnia do mcsmo m(›do, outms téwnicas é bcm-vinda c dcvc scr ínccnt1'v;uí.1'. Dcssc
você crrou o tratamcnto dc ao mcnos um dclcs”. Quanto modo, sua chlukia podc scr ampliadaL Talvcz Anatolc Bro-
a ajustar o método ao tcrapcuta, um outro grande nomc, yardN cstivcsxsc ccrto quandm numa rcscnlm dc um livro
ao rcfkripsc ao método quc introduzira na psiquiatria, dis- mcu, dísscz “Sc “cncolhcdor” [le7'1'7sz é n gíria usada para
sc 0 scguintcz “A técnica quc utilizo provou scr o único dcsignar o awuüista ti'cud1'.1'no, cntão 0 logotcrapcuta dcvcria
método condizcntc com a minha individua11'd;1dc; cu não scr chamado dc íllargadof [.rt1'L'tc/7]”. Logo, alargucmos o
mc arrisco a ncgar quc um outro tcrapcuta, dc tbrmação c alcancc da logotcnqphL ()u mclh(›r, continucmos a fhzé-lo.
gosto ditbrcntcs, vcnha a scntir-sc impclido a adotar uma ()s métodos, porém, não são tud(›. A psicotcrapia é
outra atitudc diante da tarefà a clc conñada por seus pacicn~ scmprc mais do quc técnim, à mcdida quc cla dcvc, nc-
tcs”. O homcm quc tbz tal dcclaração tbi Sigmund Frcud.7 ccssariamcntc, incluir um clcmcnto dc m.1'turid;1dc, dc sa-
A logotcrapia também não podc tornar-sc 1'ndiv1'dua- bcdoria. Artc c sabcdoria tbrmam uma totalid.-1dc unitáría
lízada dcmaisx O mótodo dcvc scr modiñmdo dc pcssoa cm quc dic<›tomia.s' mis como “técnic.-1-cncontro” dcsa-
a pcssoa c dc situação a situaçã(›. Os logotcrapcmas dc- parcccm. Esscs cxtrcmos constitucm um solo viávcl para
vcm não apcnas individLmJizar, mas também improvisar. intcrvcnçõcs psicotcrapêuticas apcnas cm situaçõcs c.\'ccp-
Essas habilidadcs podcm scr cnsinadas aos tcrapu1tas, dc ci0n.^1is, p(›is, no gcraL o tratamcnto psicotcnipico contém
prctbrênc1'a, mcdiantc dcmonstraçócs dc casos cm sala dc ambos os ingrcdicntcs.' dc um Iado, cstratégias c, dc ()utr0,
aula, bcm como por mcio dc publicaçõcs. Acrcditcm, cn- relacionamcntos Eu-Tu.
trc ()s mclhorcs logotcrapcutas do mund(), há alguns quc Uma garota amcricanaf cmudantc dc música, pr(›cu-
cu nunca chcguci a conhcccr pcssoalmultc, ncm a trocar rou~mc cm Vicna para uma análisc. Como cla usava gírias
correspondência com elcs, c quc publicaram material a rcs- tcrr1'vci.s', das quais não conscgmla cntcndcr uma palavra sc-
pcito dc sua ^.1plic.1çã0 bcm-succdida da logotcrapia tcndo
bascado scus trabalhos apcnas na lcítura dc mcus livros! Há
até mcsmo aquclas pcssoas quc conscguiram aplicar a lO- “ Anatolc Broyard, I'h'e Nova Iorqur 7i'mc.r, cdição dc 26 dc novcmbro dc
l975.
°Vikt0r là FrankL Pmljothcmpy twd 12x'írtcntíalimuStletttd Papm on LLoqm
~Sigmund Frcud, cirado cm Snndoz Psgvchiatric Spcctaton 2 ( l ). themp_v, 'l'(›uch.s*t01m, Nova I(›rquc, l978.

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qucr, cu tcntci cncaminháJa a um médico amcricano pam pcrmancccr cm Vicna por mais um anu nntcs dc scrmos
quc clc dcscobrissc para mim o quc a motivara a mc procu- cnviados aos campos dc cunccntraçã(›.
rar. A jovcm, no cntanto, não tbi sc consultar Com o dito A idcia quc qucro passar é al dc quc não dcvcmos dis-
médic0, c quandm por acaso, nos cncontrmnos na rua, cla pcnsar arbitrariamcntc 0 uso das técnicas. Quanto à téc-
mc cxplicouz “Sabc, doutor, quando lhc thlci do mcu pro- nica logotcrapültiul da intcnção par.-1d(›.\'al, no cntanto,
blc1m, scnti um alívio tão gr.-1ndc, quc não prccisci mais dc Michacl Aschcr pndc bcm cstar ccrto quando sc rcfhrc a
ajud.'1”. L()g(›, até ag0r.-1, cu ainda não conhcço a razão pcla cla como algo únicoz “A maior partc dns cnf('›qucs tcra~
qual cla mc procumu pêuticos possui técnicas cs1wcíhkasg quc não sào particular-
A hístória scguintc rcprcscnta o outro c.\'trcm(›.“› Em mcntc útcís ncm rclcmntcs pam outros sisrcnms dc tcmp1'a.
l941, a Gcstapo mc lig(›u, c cu rcccbi ordcns dc dirigir- Contudm há uma c.\'ccçã(› digna dc nota a cssa obscrvação,
-me ao qumtchgcncml dclcs. Eu thi até lá na cxpcctativa a sabcrz a intcnçào par.1'd(›.\'.'11. Ela é uma c,\'ccçà(), porquc
dc scr imcdiatamcntc cnviado a um campo dc C0nc011tra- muitos proñssionais - rcprcscntantcs dc uma ampla varic-
ção. Um homcm da Gcstapo, quc cspcrava por mim cm dadc dc cnquucs difbrc11tcs da psicotcrapm - incorporaram
um dos cscritórios, iniciou comigo um intcrrogatória Mas cssa intcrvcnçâo cm scus sistcm.-15, tanto no aspccto prátíco
logo clc mudou dc assunto c comcçou a mc tàzcr pcrgun- quanto no tcóric0”.“
tas sobrc assuntos taís comoz “O quc é psicotcrapia?”, “O Eu não tàço objcçócs a tais “inc0rporaçócs“. AñnaL
quc ó uma ncur(›sc?”, “C0mo sc tratar um cnso dc f(')bia?”. os logotcmpcutas nâo traram SCUS pacicntcs “ad maiomn
Dcpois disso, clc comcçou a narrar um caso cspccíñco - 0 Lgloríum lrçmotlmwpiaf - isto c', no íntuito dc .1'pcrtc.içoar a
problcma dc um “amig0 scu”. Ncssc mcio tcmpo, eu já rcputação da logotcrapia -, mas pam ajudar os pacicntcsx
dcscobrira quc clc qucri3, na vcrd.1'dc, consultar-mc sobrc Mas, ag()r.1^, cm vcz dc olhnr adiantçg para o tllturo da
scu próprio caso. Logo, inicici uma tcrapia brcvc (mais cs- l()g0tcrapia, voltcmos um pouco o nnsso ()lhar para scu
pccihkamcnta aplicando a_ técnic.-1 da intcnção paradoxalx passado. ()c0rrc quc a lci bi(›gcm'*t1'ca dc Earncst Hacc-
cu pcdi a clc quc aconsclhassc “scu amigo” a agir dcssc kcl, scgundo a qual a ontogêncsc é umu vcrsão alwcviada
ou daquclc modo quando qucr quc a ansicdadc surg1'ssc. da ñlogêncsc, rambém valc parn -.1 logntcrapía, “a tcrccira
Essn scssão tcr.-1pê11t1'ca não sc bascou numa rclação Eu~Tu, Cscola vicncnsc cm psicotcmpia”, como .1'lguns autorcs n
mas sim numa rchção Eu-Elc. O homcm da Gcstapo mc chan1an1. Eu üli ligad(›, dc uma mancira ou dc outra, às cs-
scgurou lá por horas, c cu continuci a tratá~lo, dcssa forma colas dc Frcud c dc Adlcr. Quando cursava 0 cnsino Illédio_
1'ndircta. Quc ctcãitos CSS.1' tcmpia dc curta duração tcvc, isso mc corrcspondi com Sigmund Frcud c, já na thculdudc dc
cu, 11aturalxnc11tc, não tivc como dcscobrir. Quanto a mim mcdicina, cu 0 conhcci pcsxsoalmcntc. Em l924, um tm-
c à minha fhmília, 110 cntant0, cssa tcrapia nos fbi a salva- balho mcu fbi publimdo por clc mcsmo, cm sua Inrrrnm
çño do momcnto, já quc, por Conta dcla, nos tbi pcrmítido
“ L. Michacl Aschcn “P.1'r.1'do.\'ical lntcnti0n“, Hmzdbuuk Uthlmvior Iun'r-
'” Ibid. 1›e71zíon:,A. Goldstcin c E. B. Foa Ed1't(›rcs, Wilcy, N(›\'.1 lorquc, l980.

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v

tionnl ]0m'nal 0f P_.wclmmmlysis, c, apcnas um ano dcp(›is, capaz dc suportar o 5()fr*imcnto, dc lidar com trüustraçõcs c
cm l925, publiquci um artigo no Internatímml journal tcnsõcs, c - sc ncccssáño tbr - clc cstá prcparado para dar
oflndívidunl Pmlmquw dc Nñ'cd Adlcr. Fato é, também, a própria vida. Apcnas vcjam os movimcntos pnlíticos dc
quc, dois anos mais tardc, o próprio Adlcr insistiu cm mi- rcsisténcia ao longo da história c no nosso tcmpo prcscn-
nha mpulsão dc sua cscola - cu tbra muito não ortodoxo. tc. Sc, por outro lad(›, n vontadc dc scntido do homcm é
Mas 0 quc dizcr da idcia dc quc Cada fu'ndador dc thlstradaa clc cstará, 1'gualmcntc, disposto a tirar a própria
uma cscola cm psicotcrapim cm última análisc, dcscrcvc Cm vida, mcsmo quc no mcio c .1-pcs.1'r dc todo 0 bcm-cstar c
scu sístcma a sua própria ncurosc c cscrcvc cm scus livros almnd.1'^m'1'.1' quc o rodcianL Apcnas dccm uma 0lhada nos
casos dc Sua própria históriaP Ob\r'i.1-mcntc, cu não cstou alarm.1-ntcs índiccs dc suicídio cm paíscs rcconhccidamcntc
aut(›rii.'ado a tàl.1'r, ncssc contcxt0, dc Frcud ou dc Adlcr, pr(›”spcros, como a Suécia c a Áustria.
mas, no quc diz rcspcito à logotcrapia, cu contcãsso dc boa Uma década ntrás, 77M Amtrímn ](mrunl (f› Psyd1iat7_'v,
vontadc quc, quando jovcm, cu tivc dc atravcssar 0 intbrno numa rcscnha dc um livro mcu, dcscrcvcu a mcnsagcm da
do dcscspcro sobrc .-1 .'1parcntc thlta dc scntido da vida, pas« logotcmpia como “fc” incondicimul num scntido incondi-
sando pclo niilismo C\.'trcmo, até quc pudcssc dcscnvolvcr ci(›nal”, dcimndo a pcrgunta: “() quc podcria scr mais pcr-
imunidadc contra rudo isso. rincntc no momcnto cm quc cnmunos no nno dc l970?”.

'
Eu dcscnvolvi a logotcrapim É uma pcna quc outros No início dos anos 198(), Arthur G. \Virth13 c,\'prcssou sua
-.1ut0rcs, cm vcz dc imunizar scus lcitorcs contra o niilismo, convicção dc quc “A Iogotcrapia tcm uma cspccial rclcvân~
acabcm por transnIitiHhcs seu próprio cinismo, quc é um cia durantc cssa transição crítica”, rcfbrindwsc à trmsição
mccanismo dc dctc's.*1, ou uma f(*)rmação rcativa, quc clcs para umn “socicdadc pós-pctr(›'lco”. Dc f11t0, acrcdito quc
dcstnvolvcram contra o scu pnõprio niilismoJ2 a crisc dc cncrgia não constitui apcnas um pcr1'go, mas mm-
É uma pcna, porquc hojc, mais do quc nunca, 0 dc- bém uma oportLlnidadc. Podc scr quc cla inccntivc uma
scspcro dcvido à .'1parcntc tàlta dc scntido da vida t()r- nmdança dc fbcm umn mudança na ênfhsc dada cm simplcs
nou-sc um problcma urgcñtc c cxprcssivo cm cscala mun- mcios para (› scntido ~ dc bcns matcriais às nossas ncccssi-
diaL Nossa socicdadc industrml procura satisthmcr toda c dades cxistcncnáis.
qualqucr ncccssidadc, aliás, nossa socicdadc consumista Há uma c.s*c.1'sscz dc cncrgím A vida, contud(›, nunca
ató mcsmo cría algumas ncccssidadcs, no intuito dc satisfh- scrá cscawssa dc scntida Sc há, como alguns autorcs prc-
zê-I.'IS. A mais importantc das ncccssidadcs, contudo, isto é, tcndcm, algo como um “movimcnt(› logotcmpêutiu›”, clc,
a ncccssidadc básica dc scntido, pcrnmnccc ignorada c nc- Ccrt.1*n)c:11tc, é um movimcnto pclos dircitos lmman()s, pois
gligcnciadm Ela é importantc assim, p(›rquc, uma vcz quc sc conccntra no dircito humano a uma vida tão chcia dc
a vontadc dc scntido do homcm é sat1'stc'1't.1', clc sc torna scntido quanto possích

“ Viktor li. FrnnkL 1'l'1t Unbmrd (.'¡_'vfa'r anihm: P_J1'CÍ)UIÍ)BHI[7_VIZHIÍ Hzt- 15Arthur G. Wirtl1, “L(›g(›thcr.1'p\_' and Educntion in .1 Posrlktrnlcum Sn~
mmtimz, 'lk›uchamnc, Nnva l(›qulc, l979. cict\_'”, 1'71:' Imcmmtionnl Formnfhr Ltyyatbrrnpyl (3), l980, 29-32.

u_____206 __~___u207
Bibliograña

A lísta dc todos os volumcs dc autoria dc \'ikt(›r FrankL bcm cnmo uma


bibliograña onlinc abrangcntc sobrc logotcrapia, pudc scr álCCSSJdJ no
site do Instituto Viktor Franklz w1111v.1'z"l.tm_f'innlclmg

Frankl, Viktor E. () Honmn mz Buxm dc um Snztido (Mnn's Scarch tbr


Mcaning). Lun dc Pach Alñxlgidc, 2014.

Frankl, Viktor E., Lapidçu Pinchasz A bmm dt Dcm r qmwtimmmmtux


sobre o sentidn (L1'(›tr.s*uchc und S.'l'nnfr'ngc), \"o/_'cs, Pctrópolis, 2()13.

FrankL Viktor E. () quc mio cmí cxrríro nox mms livmr - 7›u'nt¡›'ritzs. E
Rcalizaçõcs, São Paulm 2()l().

FrankL Viktor Ià Pxitutempia pam rmioy (Um.-1 psicntcmpia colctivn pam


contmpornsc a ncumsc colct1'v.1'). Vozcs, Pctnãpolisg l99()-9l.

FrankL Viktor li. Scdc dc scntíd0. Quadr.111tc, São Paulo l989.

Frankl, Viktor E. Em thxm dr Smridm Um Iírinílngo IIU Campo dr


Conrtmmçâu Editora SinodaL São Lcopoldm Editorn Vn7.c5,
Pctróp()lis, 1985/2013.

FrankL Víktor A prcsmça qunnmda de Dmx (l)cr unlwwusstc G(›tt).


Editora Sulina, P01'toAlcg1'c; Im.1g0, Rio dc]'.11wir(›, I993; 12. cdição
(rcvista): Editora SinodaL São I.c<›p0ldo; Edítum anxcsg Pctr(›'p(›lis,
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FrankL Vikmr E. Psimtcmpin r ymtído da rier szdanmztm.' da


Logatempin f lelÍÍÍSf zzvimvzcial (Acrztlichc Scclsorgc / Thc Dnctor
and thc Soul). Editora Quadr;1ntc, São Paulm l973/20()3.

mw
Índicc de assunto

abordagcm mnmlíst4, 122 criança pormdora dc rctnrdo mcnmL


afluência, ó4, 84 174
amor, 29-30, 90, 150, 191 culp.1, I(), Ió, 87, 94~95, 135, l42-
análisc cxistcncinL 13- 14 l43,157,162,168
análisc, 18, 29, 42, 45, 68, 72, 75-
76, 80, 89-9(), 95, 98, l()9, 124, Dasrim ll
157,lóó,l7l,192, 203, 206 1)lIIL'Í7IJBIIIIÍ_VJt', l4, 18
ansicdadc antm'pnt(›'ria, 128, l30- 131 dcprcsxaio cnd('›gcna, 4(), 112
ansiolí[iC(›b/tmnquili/_'.1ntcs, 58, 129 dc-rcflc.\'ão, 125, 127-l28, l43-l44,
antropologia dimcnsional c/()u 0n› 158
tologia dimcmimmL 3(›-37, 9Ó, l)cus, 2(›-27, 43, 56, 68, 80_ 87, ll8,
l()0, lll 124, 151-152, 157, lólv162,
antropomorñsmm 184~185 l()5-l)((›, l70-172, I74, 178›
artist.1',13, 70~71,101,l(›0, 193 182, 184-l85, 189-l9l, 194
-.1ut0dist'.mciamcntm 27, 125, 135› diálogm 8, 18, Il(), l49, 151, 15(),
13(›, 144 lól-162
autotransccndêncim 29, 45, ó7, 79, ditbrcnça dimcnsionaL I78, 180-l83,
125, l44, 200 187
ditbrcnça ()m(›lógica, 182
bchavi(›rism(). 38 dimcnsàu cspiritualL 28
busca da fblicidadc, 48 dimcnsão nuologicLL 28, 3Ó, 42, l l l,
155
campos dc a›nccntr.1ção, 27, 65, dimcnsào (›ntul(›'gicn, 182
l()0, 205 dimcnsxio tcológicm 180
ciência, l7, 22, 31-33, 42, ó3, 93, dinhcirm lerl..72, 13'~1›, 1847185
_.›. .-

100,110,117,119,167
computadon 32 cducação, 271 (›2vó~1›, 84, 107~l()9,
c011h'.111ça,ll7,l8l,1867187,l93 l 13, 170
C()nt(")rmism(›, 9, 84, 105 clcclroconvulsotcmpia, 40-4l
con5ciôncía, l9w21,28 3(),39,49,52, cnu›ntr(›, 14, lórl8, 20~2l_ 56.
Só, (›4, 75, 82-8(), l()4,l()8,112, 7l, 79, 9()-9l, l()Ó_ ll3, l44,
121, 124, l40, l78, 187, 200 152,15~1›, 156, I(J7, 2()l, 203
contraindimç('›cs, HZ cspccialistaS, 12. 30›32, 7(), 114
crcnça, 72, 86, ll7. l24, l48. 152, csp(›rtc, 62
155,165,170,181, 18()-l87 csquilx(›frcnia, 3()-31, 41~42,158, lól

_______uw
csmtísticas, ll3, 198 151, 156, l75, l77-l79. l95- psícolqggh individual dc Adlcr, 38 suicídim l7, 86487, l()8, 131, I43,
cvidéncia c_\'¡.wrimcnml_ 199 I98, 200-203, 205-208 ps.'1'cnsc maníaco-Lk'prc.ssim, 172 1677168, 187
cxistcnu'.111's¡no, l l-12, 15, Ó7-68, 94 I$l), 56, 63 psicosm l9, 131_ l43, 158. 1647165,
Ew'.rtr›l..a'7m/)ch. I3- l 4, 2 15 l72, tabu, 201
c.\'pcriL'-nc1l1 dc abismo, 105 máquiILL ló, ZÓ psiquintria c.\'istcmi.\l, ]l. 13~l4, técnica, l4, l25, 127-128, l33~136,
cxpcñências dc pico1 54-56, (›'), 105 mccanismos dc dctbsm 72, l 10 l43-1~1›4 l38, l40-l44, 158. l70, l'~)'~),
mcios dc connmicação cm massa, 84 purimni5nm, 21, 60. 63 202-205
thrmacmcrapiay 4l_ 129, 137 mcltodm 13, 129, lSÓ-137, l44, técnica do dcnnminador-comum_ 150
t'l',9l,120,l's.'2_154.165,I()9,181, l48,168,l77, 201›203 rcducianismo 29-30, 33, 36›39, 42, tcorias dc .1prcndimgcm, 38
187_ l93-l94. 207 n1inisrério médico, I4, I47, 15(›, 175 109u110 tcmpia conIpormnI-<.ntnl, 38, l37,
tbnómcno dJ C(›rrugação, 158 monantropism(›, 124 rcflc.'<ol()L,__vism(›. 38 145
tbnmncnologia, ló, 89 nwvimcnto log(›tcrapêutico, 207 rclatívism(›_ 8, ó9. 72 tcstcs, l38, l(›9-I7(), l)'~8
íbnómcnos n(›ético.s_ rtr dimcnsão rc1igi50, 27, 39_ lI7, lóó, IÓS, l7(), t()l~v.r.incí.1, 86
nnológica, ncurosc nuogéniuL nadJ mnis quc, 32, 36, 42, 77, 107, l72, l74-]75, l78-l79, 187., [()[.1li[.1rism(›, 9, 63, 84, 105
ñlosoña dc \'id.1', 25. lOÓ, 108 llO 189-l92 tmnstbréncm, 20721
ñustração c.\'i.s*tcnci.11, 39, IOÓ›107, ncurosc colctixm 120 rcprcss.1'(›, 6()_ 123, 185 tmnsitonÀcdadc1 95, 150, 156, 193
112, 121, 201 ncurosc dc .1|1L,Jl'1$tia, l30, 159 rcsponsabi|id.1dc. l(›, ())(, 7ó, SL 9ó, tríadc rr.1'gic.1, 95
ncurosc (›bsCssiV01(›mpulsiva, 70 124,144,l47,155-158,l9ó Tu, l7-l8
graça, 31,lló, ll8. I7()_l72, 178 ncurosc scxuaL 52, 131
ncurosc sociogênícm l 1 1 scnrido, 7rl l, 2(›, 28, 45-48, (›568, vácuo cxistcnciaL 9, 39r4(), 61-ó2,
hipcrintcnção, 48, 51, lZó, 131 ncurosc wmatogênic.1, 39 105-10(),112-122,126,l40,l47 77, 83~84, 98, l()5-108, 110-
hípcr-rcñcxão, 48, 126-127 ncuros«:, I9›20, 39›40, 48\ 65, 70, scntido d-.1 vida, 7«8\ 15, 2Ó, 73, 89, 115,121, 123-124, 144
h0111costnsc, 8, 37, 45-47, 59, 62, ó4, 73-74, 88, 1117114~ 125, 127- 94, 112, lló, 120, 151, 156, validaçào c.\'pcrimcntal, 200
200 128, 13()-l3l, l33-134. I44, 18(), 206 valor(cs), 3(), 38, 4(r47, (›3, ó9~72_
humor, 27, Ó4\135-136, 185 l47, 158-159, 164-ló7, l7l_ scntido do sotkímcntm 40. 97, 74-75, 82~84, 87792, 9~L 9(›-97,
l99, 2()l, 204, 206 1007102 105-l l l, ll9. l22, 126, l49-
idcnridadg 72, 160 níilism(›, 32~33, 206 scntidu últim(), lll, 116~l l7, 151, 150, 168
incorporaçÕcs, 205 155, 180718L 18(rl87, l92. \'crd.1dc, l(›Al7. 2()_ 3073L 39, 43,
indicaçfwx 110, l4l-l42 ontoalmlisg l8› 19 194 5()-51, 5(), 59, (›2, (›7›68, 7ó-
insón1'a, 123, 179 ()nt(›s, 18 scntimcnto dc fhlta dc scntido, 77, 77, 8048L 85~87, 8)'~, 90, I()7,
intcnção paradoxle 88, 125, 128› oraçã0, 4l, 43, 182, 191 199 ll()7112, 118~124, 135. l38,
130, 137_rl-1›'?., l-H-', l99-200, scntímcntos dc culpa, l(), l42, 157 152, 154, 1(›0, 162, 165-166_
204-205 “ pacicntcs tb'bic()s, 141 scr últim(›, 181-182. l89~l90, l92, 1741 l78, 186, l9(), l92, l96,
ínvcrsão da intcnção, 130 pni da logotcnqpim 196 194 l99-2()0
irrcdutíbilidndc n coisa, 15 pandctcrminismo, 7 scrvno~mundo,11712_ l9, 3()_ 68_ 201 visão dc homcm, 25-26, -1›I , 201
pcrsuasãt›, 138 sofr<imcnt(›. 10, 4(), 9()~9l, 93v102, vontadc dc podcr, 4*)-5(), 6(). 78, 121
lazcr, 123 pcsqul'5.1, 20, 31, 37, 39, ó4. 97, 100- ll9›120,l477149,152-155,157- vomndc dc pmzcr, 8, 5()_ l2l
libcrdadc da vontadg 7, 26 101. lO7, IO9, ll(), ll3, 126, 158,ló4-165,l7l~l72,l80-l8l, \'onl.1dc dc scntido, 7, 26, 39, 50, 52-
lihcrdadc, 7. lÓ, 2(), 37. 65-66, 8l, 129,168-1()9,l98›l99 l92-l93, 207 53, 57-61, 89, 94,112,120~l2l,
85, 89, 94, 124 pílula antíconccpciomL ól sub-humani5m(›, 29, 58. l^75 l()8-ló9, 20()›20l, 206-2()7
lnbot0mia, 40 princípin da rc.1lídndc, 8, 46 subjctivismm 12, ó9, 72
l(›g(›\.*. 18, 40 princípiodoprazcr,8_4ó,48-50,54,57 substituição dc sintomas, 139 Wcltmzsrlntumiq, 25, 87, 179
logotcmpcums_ l'~1-, 87, 89-90, problcma mcntc-c0rp(), 36~37 sugcstab, 138 wilL 58-60, 7I, 81
152, l95, l97, 201 -203. promiscuídadc, 84\ 173
205 psicnnálisç l9-22\ 25, 41 _ 54, óO, 71,
log(›tcr.1pia, 7›l l, I3-14, lÓ, 18-l9, 87›88,101_139,166
23, 26, 28, 45, 50, ól. 64, 87- psícanúlisc pcssoaL ló7~ló8
94,103,106,ll4-115,125~127, psicodinâmícas ló, 30,l2ó,l44,155,
l30, 136713)'~, l4l~l45, l~l-7, 160

UWM
Índíce de autores

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PARTE DOIS
Aplicações da logoterapia

O vácuo cxistcncíalz um dcsaño à psiquiatria ..............


Técnicas logotcrapêuticas
Ministério médico
Conclusãoz As di1_ncnsócs do scntido
Postãcioz A dcsguruñcaçã(› da logotcrapia

Apêndíces
Bibliogmña
Indicc dc assunto
Indice dc autorcs

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