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Transcrição/resumo

As Dez Teses da Pessoa


Humana de Viktor Frankl

Curso Gratuito

Transcrição por:
Ministrado por
Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade
Contribuições: Luis Enrique Paulino Carmelo
Karen Ceolin e Regina Console
Revisão Ortográfica:
Magali Castilho

http://cursoemrota.com/
AS DEZ TESES DA PESSOA HUMANA DE VIKTOR FRANKL
Transcrição/Resumo livre 1
Curso Gratuito Ministrado por Luis Enrique Paulino Carmelo

ÍNDICE

Pág.
Aula 01 ..................................................................................................... 02
Introdução .......................................................................................... 02
A Primeira Tese: A Pessoa Humana é um Indivíduo ...................... 06
Aula 02 ..................................................................................................... 08
A Segunda Tese: A Pessoa Humana é um Ser In-somável............ 09
Aula 03 ..................................................................................................... 14
A Terceira Tese: A Pessoa Humana é Irrepetível ........................... 14
Aula 04 ..................................................................................................... 19
A Quarta Tese: A Pessoa Humana é Espiritual ............................... 25
Aula 05 ..................................................................................................... 32
A Quinta Tese: A Pessoa Humana é Existencial ............................ 34
Aula 06 ..................................................................................................... 43
A Sexta Tese: A Pessoa Humana é um Sujeito(Egóico) ............... 44
Aula 07 ..................................................................................................... 54
A Sétima Tese: A Pessoa Humana Brinda Unidade e Totalidade 55
Aula 08 ..................................................................................................... 65
A Oitava Tese: A Pessoa Humana é Dinâmica .............................. 67
Aula 09 ..................................................................................................... 80
A Nona Tese: O Animal Não é Uma Pessoa Humana ................. 81
Aula 10 ..................................................................................................... 96
A Décima Tese: A Pessoa Humana é Transcendente .................. 98
Aula Extra (com Dr. Cláudio García Pintos) ........................................ 108

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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Transcrição/Resumo livre 2
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Aula 01

Introdução

 Livro ¨La voluntad de sentido¨ (não é o mesmo ¨A vontade de


sentido¨ da Paulus).
 A pessoa humana, o problema antropológico: vida pessoal,
profissional e espiritual.
 De que vale conhecer o mundo se não conhecemos quem
somos?
 “Uma vida que não é examinada é uma vida que não vale a
pena ser vivida.” (Platão citando Sócrates)
 “Conhece-te a ti mesmo.”
 “Torna-te quem tu és.” (Píndaro)
 “Torna-te aquilo que só tu podes ser.” (Viktor Frankl)
 A tríade de Santo Agostinho de Hipona:
1. Conheça-te,
2. Aceita-te,
3. Supera-te.
 A vida e a obra de Viktor Frankl se confundem.
 Gordon Allport: professor que prefaciou o Livro ¨Em busca de
sentido¨.
 A terceira escola de Psicologia vienense: Freud, Adler e Frankl.
Logoterapia = terapia do sentido.
 Em busca de sentido: um dos doze Livros que mudaram o curso
da humanidade, pela biblioteca do Congresso de Washington.
 Sobral: Sociedade Brasileira de Logoterapia, fundada pelo
próprio Frankl.
 Desde a mais tenra infância, Frankl já se preocupa com o sentido
da vida.
o Aos 4 anos sonha com a morte e que ela, sendo
inevitável, como ele desejaria então viver, qual seria o
sentido?
 Na época, começou a surgir uma corrente niilista, reducionista,
determinista, pessimista, materialista, mecanicista, pragmática e
positivista do homem e da vida. Um movimento de vazio onde
homem nada mais é que um processo de combustão e
oxidação, alguém condicionado e determinado pelo seu
destino e pelos seus complexos e nada mais. A discussão

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Transcrição/Resumo livre 3
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metafísica sai de cena, valoriza-se somente o que pode ser


observado, quantificado. Cresce o interesse do homem pelas
especializações. Tudo isso vai gerando uma sociedade doente.
O suicídios aumentam.
o Aos 12 anos uma professora ensina que o ser humano é
combustão e oxidação. Ele questiona. Qual o sentido?
 O reducionismo é contrário ao humanismo. Ele estreita o olhar
sobre a pessoa humana, animalizando o homem, diminui a
realidade antropológica.
 Frankl começa a pensar em formas de se contrapor a essa visão
niilista. Busca recursos, literatura, autores, como Max Scheler
(filósofo - a filosofia dos valores, fenomenologia, ética e
antropologia filosófica).
 Teoria do rato a ser condicionado (behaviorismo,
comportamental) e da máquina a ser consertada (psicanálise).
Onde está a intenção? Se tudo é fruto de contingências
externas e o homem é só um produto, uma vítima que age de
forma condicionada e mecânica, não há intenção nenhuma, o
homem não se tensiona a nada. Portanto, a vivência estaria
privada de sentido e não se chegaria a lugar algum. Tudo
estaria atrás e não haveria nada à frente. Onde estaria a
liberdade humana?
 Para afirmar que o homem não pode ser reduzido nem
coisificado é preciso que haja uma resposta convincente: por
natureza o homem é um ser transcendente, orientado para fora
de si mesmo, que busca sentido na sua vida. A isto se chega por
intuição. Até mesmo o homem mais simples que trabalha no
campo consegue enxergar este óbvio: uma auto compreensão
ontológica pré-reflexiva da existência
o Auto compreensão: opinião que tenho de mim mesmo;
o Ontológico: se refere à existência, estudo do ser
o Pré-reflexiva: já sei de antemão o que é a vida, antes de
saber filosofia, psiquiatria.
 Fica claro que há no homem algo a mais. É implícito!
Honestidade intelectual.
 Hoje vivemos um processo de obnubilação da consciência.
 Hoje se desculpa tudo com a palavra ‘é humano’. Pratica-se o
divórcio: é humano. Bebe-se: é humano. Cometem-se
desonestidades num exame o num concurso: é humano. A

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juventude se arruína no vício: é humano. Trabalha-se com


preguiça: é humano. Cede-se ao ciúme: é humano. Praticam-
se desfalques: é humano. Não há vício algum que não se
desculpasse com esta fórmula. Assim se designa com a palavra
‘humano aquilo que é mais desprezível, mais baixo no homem.
Por vezes, até a palavra se torna sinônimo de animalesco. Que
modo estranho de falar, uma vez que humano é precisamente
aquilo que nos distingue do animal. O que é a inteligência, o
coração, a vontade, a consciência, a santidade? Isto é
humano. (Cardeal Ratzinger)
 Nós somos constituídos de 03 dimensões:
o Dimensão somática (integrativa, holística) orgânica:
biológica/ material/ somática. O corpo. Estrutura vital.
Tudo que posso medir, tocar, ver.
o Dimensão psíquica/anímica mental/ emocional/
relacional. Atenção, concentração, emoções,
raciocínio, aprendizado, relação.
o Dimensão espiritual/noética consciente/ auto reflexiva/
intencional/ liberdade/ responsabilidade/
autotranscendente. Confronta a realidade, o destino,
não aceita imposição, reflete sobre si, consciência,
ética, amor.
 A dimensão espiritual na Logoterapia não é teológica, mas
humana. Refere-se ao centro do ser.
 O que fizeram com a pessoa humana? A fragmentaram? Falam
como se a parte fosse o todo. (Hegel)
 Os condicionamentos, o aparelho psíquico existe, mas a pessoa
humana não é só isso. Os condicionamentos não nos
determinam.

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LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA [46]
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
Siempre que nos referimos a la persona, Sempre que nos referimos à pessoa,
la asociamos, involuntariamente, a involuntariamente associamos a outro
outro concepto, que se entrecruza con el conceito que se cruza com o conceito de
concepto de persona: el concepto de pessoa: o conceito de “indivíduo”. E
«individuo». Y esta es ya la primera tesis esta é a primeira tese que apresentamos
que presentamos aquí: aqui:

1. La persona es un individuo: la 1.A pessoa é um indivíduo: a pessoa


persona es algo que no admite partición, não admite divisão, não pode ser
no se puede subdividir, escindir, porque subdivida, cortada, porque é uma
es una unidad. Ni siquiera en la llamada unidade. Nem mesmo na esquizofrenia,
esquizofrenia, la locura disociativa, se a loucura dissociativa, se chega
llega realmente a una división de la realmente a uma divisão da pessoa.
persona. Aun con relación a otros Mesmo em relação a outros estados
estados patológicos nunca se habla en patológicos, não se fala na clínica
clínica psiquiátrica de división de la psiquiátrica da divisão da
personalidad. Hoy en día ni siquiera se personalidade. Mesmo hoje sequer se
habla de «doble conciencia», sino más fala de “dupla consciência”, mas sim de
bien de conciencia alternante. Sin alternância de consciência. No entanto,
embargo, ya durante la época en que já durante o período em que Bleuler
Bleuler acuñó el término esquizofrenia, cunhou o termo esquizofrenia, ele não
no tenía ante sí la imagen de una tinha perante si a imagem de uma
persona dividida, sino más bien de una pessoa dividida, mas uma dissociação de
disociación de ciertos complejos certos complexos associativos, uma
asociativos, una posibilidad en la que se possibilidade que se acreditava nesta
creía en ese tiempo. época.

NOTAS: NOTAS:
[46] Ponencia introductoria a un debate [46] Apresentação introdutória a um
entre los profesores Dr. P. Ildefons debate entre os professores Dr. P.
Betschart (Salzburgo), Dr. Alois Dempf Ildefons Betschart (Salzburgo), Dr. Alois
(Munich) y Dr. Leo Gabriel (Viena) en el Dempf (Munique) e Dr. Leo Gabriel
marco de las Jornadas de Escuelas (Viena) no marco das Jornadas das
Superiores de Salzburgo. Escolas Superiores de Salzburgo.

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A Primeira Tese: A Pessoa Humana é um Indivíduo

 A pessoa humana é um indivíduo (no sentido de ser uma


unidade, um ser relacional, implica relacionamento). O homem
é um ser único com múltiplas dimensões.
 Indivíduo para Frankl não é o ser atomizado, egoísta,
individualista. Mas alguém inteiro e capaz de alteridade, de se
relacionar.
 Unidade apesar da pluralidade (múltiplas dimensões), mas
único. Tomás de Aquino: Unita multiplex;
 A pessoa humana não pode ser dividida, separada,
fragmentada. O recorte não pode responder a tudo.
 O caso Jerry Long: “Eu quebrei o meu pescoço, não quebrei o
meu ser. A deficiência me leva a ajudar os outros, sem ela não
os atingiria. A minha vida está cheia de sentido e de objetivos.”
 Quando tudo nos é tirado, ainda temos a nós mesmos.
 Nos campos de concentração, movimento diante do
despojamento e da privação de condições básicas de
sobrevivência e dignidade: apatia e irritabilidade. Os soldados
os tratavam como coisas, indiferentes. Sem raiva, ódio ou pena.
 Mesmo assim há responsabilidade das escolhas acima do
instinto. Mesmo nessa derradeira situação resta a última das
liberdades: transformar a tragédia em triunfo.
 O núcleo do ser (dimensão noética ou espiritual), não se
deteriora, não é suscetível a processos de enfermidade,
deterioração e morte.
 Integração: aceitar a realidade do que somos com todas as
suas dimensões (agente de realizações, capaz de responder,
amar, perdoar, encontrar sentido até no sofrimento).
 Deixar que nossas ações partam do centro, da dimensão
espiritual, passando pelas dimensões psíquicas e biológicas nos
torna um indivíduo mais inteiro, mais forte e mais resiliente.
Quebrar-se diante de uma bronca, ficar sem chão diante de um
problema não é a verdade do ser. O ser não se quebra, apenas
não descobrimos ainda nossa força.
 Para que a pessoa consiga sair de si mesma, para poder dar
algo, primeiro é preciso ter.

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Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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 Eu só posso dar algo que é meu. Só quando eu me tenho nas


mãos, eu posso me doar para os outros sem me perder, sem me
fragmentar.
 Se algo não for meu, eu não posso dar, seria como ajudar com
o dinheiro dos outros.
 Se eu tenho o que dar, eu posso ser generosa com as pessoas,
com a vida e com as demandas que a vida me faz.
 Nos lembrarmos de quem somos para nos tornarmos aquilo que
devemos ser.
 Quem não se tem, não se toma para si, vira um joguete, fica
frágil. Mas mesmo nas situações de grande fragilidade, o ser
ainda pode responder, dar algo de si.
 Fazer da tragédia um triunfo.
 Nós temos:
o Dimensão factual (psicofísica). Susceptíveis a
deterioração e morte
o Dimensão facultativa (espiritual ou noética). Núcleo do
ser, fenômeno exclusivamente humano. Não susceptível
a deteorioração.
 Circunstâncias e características que nos foram dadas x escolhas
que podemos fazer e atitudes que podemos tomar.
 Noodinamismo facultativo ou antagonismo psiconoético:
núcleo do nosso ser onde estão os fenômenos exclusivamente
humanos. A capacidade de amar, de decidir, de mudar, de
descobrir, de realizar valores e de encontrar sentido na vida.
 Eu me torno mais indivíduo, mais humano, mais inteiro à medida
em que vou integrando as três dimensões ao meu ser. Até
mesmo encontrar sentido no sofrimento.
 Ter claro que somos um indivíduo nos traz uma enorme força. O
que te impõe não é você, não precisa ficar sem chão.
Tragédiatriunfo.

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Aula 02

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
2. La persona no es sólo un individuum, 2.A pessoa não é só um indivíduo, mas
sino también in-sum-mabile: quiero também “in-somável”. Quero dizer
decir que no solamente no se puede que não somente não se pode repartir
partir sino tampoco se puede agregar, y como nem tão pouco se pode agregar,
esto porque no es sólo unidad sino que e isto porque a pessoa não é somente
es también una totalidad. Como tal, uma unidade, mas também uma
tampoco puede incorporarse del todo en totalidade. Como tal, tão pouco pode
clasificaciones incluyentes, como son, en incorporar-se no todo em classificações
la masa, en la clase o en la raza: todas inclusivas, como ocorre na massa, na
estas «unidades» o «totalidades», que classe ou na raça: todas estas
representan jerarquías en que se “unidades” ou “totalidades”, que
engloba al hombre, no son entidades representam hierarquias nas quais o
personales, sino a lo sumo homem está incluído, não são
pseudopersonales. El hombre que cree entidades pessoais, mas no máximo
asimilarse a ellas, en realidad, solamente pseudopessoas. O homem que crê se
se hunde en ellas; si se asimila a ellas en assimilar a elas, na realidade, somente
cuanto persona, se abandona a sí mismo. se afunda nelas; se se assimila a elas
En cambio lo orgánico, en contraposición enquanto pessoa, acaba por abandonar
a la persona, puede partirse y a si mesmo. Por outro lado, o orgânico,
amalgamarse. Por lo menos, es lo que ao contrário da pessoa, pode ser
comprobamos y nos enseñaron los dividido e fundido. Pelo menos é o que
conocidos experimentos de von Driesch comprovamos e nos ensinaram as
que usó para ellos huevos de erizo de conhecidas experiências de von
mar. Sí, más que eso: la partición y la Driesch, para as quais usou ovos de
capacidad de amalgamarse hasta son ouriços do mar. Mais que isto, a
condiciones y supuestos de algo así como participação e a capacidade de fundir-
la propagación. De ello se deduce, ni más se são condições e suposições de algo
ni menos, que la persona, como tal, no como a propagação. Deduz-se, sem
puede propagarse por sí misma; sólo el mais nem menos, que a pessoa, como
organismo se propaga a partir del tal, não pode se propagar por si mesma.
organismo de los padres; la persona, la Somente o organismo pode se espalhar
a partir do organismo dos pais; a

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mente personal, la existencia espiritual, pessoa, a mente pessoal, a existência


no puede ser propagada por el hombre. espiritual, não pode se propagar pelo
homem.

A Segunda Tese: A Pessoa Humana é um Ser In-somável

 Livros indicados:
o Em busca da sentido - um psiquiatra no campo de
concentração,
o A vontade se sentido (exemplos de casos clínicos),
o Um sentido para a vida - Psicoterapia e humanismo (traz
ferramentas para a prática),
o Psicoterapia e sentido da vida (a Bíblia da Logoterapia),
o Sede de sentido,
o O que não está escrito nos meus Livros - memórias,
o O sofrimento de uma vida sem sentido - caminhos para
encontrar a razão de viver,
o O sofrimento humano - fundamentos antropológicos da
Psicoterapia,
o Teoria e Terapia das Neuroses - introdução à Logoterapia
e à análise existencial.
 A proposta logoterapêutica é uma análise fenomenológica da
auto compreensão ontológica pré-reflexiva. Auto
compreensão: a compreensão que a pessoa tem de si mesma.
Ontológica: o que concerne à existência humana. Pré-reflexiva:
antes de ter conhecimento científico, a pessoa já tem um
conhecimento do que é a existência, ela já sabe de antemão o
que é a vida.
 O homem tem uma dimensão especificamente humana, que é
capaz de transcender e ir além de suas dimensões mais baixas,
instintivas e animalescas.
 Unita multiplex: termo de Tomás de Aquino. O ser humano é uma
unidade na sua multiplicidade. Isto se dá através da dimensão
espiritual. Saímos de reino factual, do que nos determina, do que
nos é dado. Sair do factual e entrar no facultativo.
 Dimensão psicofísica (factual): necessidades biológicas,
impulsos, instintos, condicionamentos, doenças, deterioração e
morte.

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Transcrição/Resumo livre 10
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 Dimensão espiritual (facultativa): o núcleo do ser, dimensão


exclusivamente humana do ser. Íntegra e não passível de
adoecimento, deterioração e morte.
 A pessoa humana é in-somável: a pessoa humana não pode ser
quebrada. É uma unidade apesar da multiplicidade. E também
é uma totalidade (não tem nada que possa nos agregar como
um amálgama).
 Inquebrantável e in-somável: não como um ser onipotente que
pode tudo, mas como uma completude de dimensões que
compõem o nosso ser.
 Só há um que pode dizer Eu sou o que Eu sou: Deus. Ato puro,
onde tudo é realidade. Em Deus não existe potencialidade: Ele
é. (Tomás de Aquino, Aristóteles). Somos potência, Deus é.
 Fenomenologia: dasein. “Somos um eterno vir a ser” (Heidegger)
 A realidade para nós é marcada por atos: tudo aquilo que já foi
e está sendo atualizado. Mas as possibilidades futuras são todas
potência, enquanto Deus é ¨ato puro¨, tudo é realidade, hoje,
agora. Em nós ainda é um vir a ser, não somos ¨ato puro¨ mas
uma tarefa a ser realizada. Não somos totalidade em ¨ato puro¨,
somos caminho, tarefa a ser realizada.
 Somos um ser para amar, para servir, para estar diante de Deus.
 Não somos totalidade em ¨ato puro¨, não estamos acabados.
Somos totalidade porque frente às dimensões que temos e a
unidade antropológica que nos marca por conta da dimensão
espiritual, somos seres capazes de responder. Totalidade
enquanto eu mesmo, não posso terceirizar minhas
responsabilidades.
 O chamado da vida é intransferível: uma pessoa não pode
transferir a sua responsabilidade. Não posso querer que outro
responda, realize. Por isso não posso culpar ninguém.
 Somos indivisíveis e insomáveis. Em nossas mãos, a nossa
existência e a de mais ninguém!
 Tríade do Rabino Hilel:
1. Se eu não fizer agora quem fará?
2. Se eu não fizer agora, quando farei?
3. Se eu não for, quem serei?
 Somos únicos e dinâmicos. Nós temos um dever ser. Aquilo que
somos hoje não presta para amanhã.
 Arco de tensão profundo.

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 Nos tornar aquilo que só nós podemos ser. E só eu posso ser.


Somos potência a ser realizada.
 Conferência de Saint Quentin: ninguém é vítima da sociedade.
Isso é sub humano. O que a pessoa faz, ela faz por si mesma. Eles
não eram vítimas. Viktor não procurou um álibi ou culpa, mas
que seus atos eram responsabilidade deles e os prisioneiros se
sentiram compreendidos
 O que importa é como a pessoa usa as aptidões que possui:
Caso dos dois irmãos com perspicácia para o crime: um se torna
criminólogo, o outro se torna um criminoso. Não existem
desculpas, existem escolhas diante das circunstâncias que se
apresentam ao sujeito. Pode haver a questão biopsicossocial
mas tem a espiritual. As realidades de destino não podem
justificar. Não somos vítimas de condicionamento. É prerrogativa
humana assumir a culpa. Reducionismo é subumano.
 Destino é circunstância, não uma determinação. O que
determina o porvir são as escolhas.
 Não ao fatalismo, não às desculpas, não às justificativas.
 Insomáveis: nada nem ninguém pode decidir por nós que não
nós mesmos.
 A dimensão espiritual não adoece, não padece. Exemplo do
violino (biopsíquico) e do violinista: a dimensão espiritual
(violinista) se manifesta pela biopsíquica mas se o violino
quebrar, o violinista permanece tocando um instrumento pior.
 Superar a mim mesmo e me tornar o melhor que posso com o
que tenho ou ser vítima e ver ganho secundário na dor.
 2 males que nos levam a buscar algo que não nós mesmos,
males que podem levar ao uma “quebra” ou a tentar agregar
algo a si mesmo para ser quem não é:
1. O reducionismo que reifica o homem, o trata como rés,
como coisa, como algo que pode ser usado, (como se
tornássemos um copo, por exemplo, nos quebramos).
Somos mais que matéria! Ou busca-se sentido da
utilidade ou busca-se alguém que lhe dê sentido (que
use o copo). Na quebra, posso buscar o suicídio (por
exemplo) ou fanatismo, movimento de massa, quando
busco alguém, quebro a unidade ou nego a totalidade;
2. Neurose coletiva: nós não temos os instintos que nos
apontam o que fazer como é o dos animais. Leão não

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decide ser vegano. O instinto nos animais dita-lhes o que


fazer. Também não temos mais as grandes tradições que
nos guiam sobre o que podemos fazer, não são robustas
como no passado.
 ¨Não sabendo o que deve nem o que pode, já não se sabe o
que quer. ¨ (Viktor Frankl).
 Caminhamos levados pelo vento, desorientados. Nisso, caímos
em 4 atitudes, opções trágicas: atitudes fatalistas, provisórias,
fanáticas ou coletivistas: neuroses coletivas, envolvimento em
relacionamentos abusivos.
o Fatalista: A pessoa fica sem biografia, sem forma, sem
história, aceita tudo que é imposto (fatalista, síndrome de
Gabriela). Aceita o que lhe é imposto, se justifica a partir
de tudo e de todos. Não tem o que fazer ou o que se
tornar
o Provisória: viver na superficialidade, sociedade líquida,
tudo é etéreo, fluído, nada cria raízes na pessoa.
Vontade fraca, sem constância. Tira a potencialidade.
Nada a realizar ou tornar ato. Comamos e bebamos pois
amanhã morreremos (romanos). Nada cria raízes no
coração da pessoa, sem desejo, sem vontade.
o Fanática: obsessões políticas, religiosas ou artísticas. É um
movimento de despersonalização (diluir-se num grupo).
Atitude cega, despersonalização. Fazer o que todos
fazem.
o Coletivismo: atitude de massa, eu não sei o que quero,
posso ou devo, então vou me reconhecer como algo e
não como um ser único. Precisa que outro lhe atribua
valor.
 Viktor Frankl: Peça de mosaico (comunidade,
peça única, ninguém é igual, individualidade, o
valor está no que a pessoa é. Cada peça é
imperfeita mas se coloca no todo e cria um valor
estético insubstituível) ou paralelepípedo (feitos
em série, facilmente substituíveis, morte das
particularidades, fuga da responsabilidade, valor
útil sem dignidade, o valor está no que a pessoa
faz dentro da massa e não no que é. A massa

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Transcrição/Resumo livre 13
Curso Gratuito Ministrado por Luis Enrique Paulino Carmelo

fagocita a individualidade). Livro: Psicoterapia e


sentido da vida, p 118.
 Viktor Frankl: quando se soma a uma massa,
perde o homem o que lhe é mais próprio e mais
peculiar: perde a responsabilidade individual.
Alguém escolhe e faz por mim, pensa por mim.
 Educação: educere, tirar do outro o melhor que ele tem em si,
ajudá-lo a trazer à tona o melhor de si. Personalização do
indivíduo (individuação para Jung).
 O homem que quer tornar-se pessoa, precisa ser um guerreiro
(entrar em guerra consigo mesmo, lutar para evoluir).
 O homem é homem na altura da sua responsabilidade.
 Diante da vida, nós que somos indagados.
 Uma máquina é melhor quanto mais regulada. O homem
quanto mais se ajusta a uma massa, se desvia da sua norma
ética e menos se torna pessoa. Despersonaliza
 Pinóquio (sacrifício por algo maior que o si mesmo). Vai se
tornando um animal, era um vegetal. Os meninos no seu entorno
se tornaram burros, criam orelhas, focinhos, rabo, não decidem
por eles mesmos, relincham e trotam. Aí Pinóquio fala que
ninguém vai abortar sua dimensão espiritual, que a fada falou
que ele precisa amar, ser virtuoso e ele morre, dá sua vida pelo
Gepeto.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 14
Curso Gratuito Ministrado por Luis Enrique Paulino Carmelo

Aula 03

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
3. Cada persona es absolutamente un 3.Cada pessoa é absolutamente um ser
ser nuevo. Reflexionemos: el padre novo. Reflexões: o pai após a relação
después del coito pesa unos gramos sexual pesa algumas gramas a menos e
menos y la madre después del parto a mãe depois do parto pesa uns quilos a
pesa unos kilogramos menos, en cambio menos, em contrapartida o espírito
el espíritu demuestra aquí ser un demonstra aqui ser realmente sem
verdadeiro imponderable. ¿Acaso, peso. Por acaso quando o filho nasce,
cuando su hijo nace, un nuevo espíritu, um novo espírito, os espíritos dos pais
se vuelven más pobres de espíritu los ficam mais pobres? Por acaso eles,
padres? ¿Acaso ellos, cuando en su hijo quando seu filho se torna um novo “Tu”,
aparece un nuevo «tú», um nuevo ser um novo ser que pode chamar a si
que puede llamarse a sí mismo: «yo», mesmo de “Eu, podem eles então
pueden ellos entonces llamarse un poco chamar um pouco menos de “Eu”, a si
menos «yo» a sí mismos? Ya vemos: con mesmos? Já vemos: a cada pessoa que
cada persona que viene al mundo, se vem ao mundo, um novo ser é inserido
inserta en la existencia un nuevo ser, se na existência, é trazido à realidade; bem,
le trae a la realidad; pues la existencia a existência espiritual não pode
espiritual no puede propagarse, no propagar-se, não pode passar dos pais
puede pasarse de padres a hijos. Lo aos filhos. A única coisa que se propaga
único propagable son los ladrillos, pero são os tijolos, mas não o construtor.
no el constructor.

A Terceira Tese: A Pessoa Humana é Irrepetível

 ¨A pessoa humana nunca deve ser só um meio, mas deve ser


vista como um fim último, um fim em si mesmo.” (Kant)
 Nas 3 primeiras teses, parece que Viktor Frankl vem a reforçar
isso: a dignidade exige que a pessoa seja vista como um fim.
1. Única
2. In-somável
3. Irrepetível

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
AS DEZ TESES DA PESSOA HUMANA DE VIKTOR FRANKL
Transcrição/Resumo livre 15
Curso Gratuito Ministrado por Luis Enrique Paulino Carmelo

 Ser autônomo x ser autômato. A autonomia do sujeito é um dos


mais importantes princípios do pensamento de Frankl: a
dignidade da pessoa humana.
 Filme Invencível (Unbroken) Netflix.
 A pessoa humana é um ser novo, irrepetível.
o Caso Alexandre: exemplo e justificativa (genética,
berço, criação). A terceirização da culpa. Vida imoral e
pai falecido tal e qual. ¨Se meu pai não me serve de
exemplo, me serve de justificativa¨. Exonerava sua
responsabilidade, se justificava.
 Se a pessoa humana é um ser novo, não tem nada que possa
justificar as ações dela senão suas próprias escolhas. Não somos
extensões dos nossos pais, não somos as versões “melhoradas”
deles. Há um princípio de exclusividade que torna cada pessoa
irrepetível. As escolhas são da própria pessoa. A vida está nas
minhas mãos.
o História dos gêmeos: A mesma circunstância pode gerar
respostas diferentes (vitimismo x responsabilidade).
Gêmeos com pai etilista. Um se torna etilista e o outro
virtuoso. Um é vitimista e o outro é livre e responsável.
Ninguém pode culpar sua história, não somos extensão
nem continuidade dos progenitores.
o Exemplos dos irmãos com perspicácia para o crime: um
se torna criminalista e o outro criminoso.
 Ser é igual a ser diferentemente. Livro: Psicoterapia e sentido da
vida, páginas 17, 18; e 79.
 A existência espiritual não pode propagar-se. Os pais só passam
para o novo ser os tijolos e não o construtor: a realidade
biopsíquica, a realidade anímica das emoções, das memórias,
dos afetos e a realidade somática (matéria, material genético).
Eles não dão vida à dimensão espiritual. A casca é recebida de
alguém, mas a sua vida é uma vida única.
o Um pai perde uns gramas no ato sexual e a mãe perde
uns quilos no parto. Acaso quando o filho nasce se
tornam os pais mais pobres de espírito? A existência
espiritual não propaga de pai para filho. Os pais só
propagam os tijolos, mas não o construtor. Os pais não
dão vida à dimensão espiritual.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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Transcrição/Resumo livre 16
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 Cada ser que nasce é um novo “eu” com uma dimensão


espiritual única e irrepetível.
 O homem procura nesse mundo expandir-se na direção de um
sentido a realizar: outro ser humano ou a realização de algo. Sair
de si mesmo, ser para fora. Ele está endereçado e intencionado
a algo além de si mesmo.
 Os três valores universais de sentido que todas as pessoas têm na
vida:
1. Criativos (quando criamos algo, nosso agir, o sentido
A ver c/do
trabalho); 3ª tese
2. Vivenciais (amar alguém, entrega, contemplação);
3. Atitudinais.
 Max Scheler também trabalha essa ideia.
 A realização desses valores nos coloca na rota de uma vida com
sentido.
 Os valores vivenciais são mais passivos, enriqueço-me com as
coisas que se me apresentam. Enriquecer a nós mesmos com a
nossa vivência, entrega ao mundo ou a alguém.
 Os valores criativos enriquecem o mundo com nosso agir, ato.
Viktor Frankl nomeia como ¨o sentido do trabalho¨. Existe o ¨eu¨
e o ¨mundo¨. Muitas vezes indagamos ao mundo (isso é um
problema). Não se trata de perguntar à vida qual é o seu
sentido. É a própria vida quem pergunta ao homem e o homem
responde a ele tornando-se responsável pelo que lhe cabe, pelo
que lhe é solicitado. Esta resposta só pode se dar pelas suas
ações, no espaço concreto do dia a dia, na vida ordinária,
palpável, cotidiana (virada copérnica). Se ele perguntar à vida
ele colhe somente eco, desespero.
 O trabalho é uma das formas de realizar valores. Mas a profissão
em si não basta, ela apenas dá a oportunidade de criar. O que
importa é o modo como se cria.
o A culpa é do homem que exerce a profissão, nunca da
profissão. Pois a profissão em si não faz o homem
insubstituível, único, irrepetível. A profissão dá essa
oportunidade, mas o modo como se cria algo é
irrepetível, é o que faz o homem insubstituível.
 Quando eu realizo algo não pelo que faço, mas pelo modo
como faço, me torno insubstituível.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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 ” Ninguém fala como você fala, ninguém olha como você olha,
ninguém toca como você toca.”
 Ser é ser diferentemente.
 Quando alguém faz algo, coloca ali a sua digital e ela é única,
exclusiva.
 Existe uma marca de individualidade (1ª tese), totalidade (2ª
tese) e irrepetibilidade (3ª tese) naquilo que se faz. O nosso
trabalho é a nossa digital.
 O que alguém faz no trabalho transcende o que ele faz. Há a
dimensão humana e espiritual presente nele. Independente da
função, do espectro de ação, a vocação está na intenção e na
forma de fazer, na grandeza e magnitude que se coloca nessa
ação e isso é único, é a vocação de cada um.
 ¨O trabalho é um gerador de autoconhecimento. ¨ (Frankl)
 ” Como pode uma pessoa conhecer-se a si mesma? Nunca pela
reflexão, mas sim pela ação. Tenta cumprir o teu dever e logo
saberás o que há em ti. Mas o que é o teu dever? A exigência
do seu dia.” (Goethe)
 ” Realiza o teu dever e o teu dever o realizará.” (Rafael
Cifuentes)
 O dia a dia vai nos demandando os cumprimentos dos nossos
deveres.
 ” Faz o que deves e está no que fazes.” (São José Maria Escrivá)
 Dentro do valor de vivência Frankl coloca o sentido do amor. A
noção de irrepetibilidade também se apresenta.
 ” Quem ama de verdade não se torna cego. O amor, antes,
torna-nos videntes.” (Frankl)
 O amor faz enxergar as potências da pessoa espiritual, vê para
além da casca, da matéria. Toca a dimensão espiritual. Aguda
visão dos valores.
 ” No amor, o amado é essencialmente captado.” (Frankl)
 Fenomenologia: Heidegger (dasein (irrepetível) e sosein (ser
assim, único). O amor contempla a totalidade da pessoa
humana.
 As três atitudes possíveis para chegar no amor:
o A sexualidade (dimensão física). Avidez, impulsividade,
desejo pelo sexo, pelo físico do outro. Só se vê a casca,
não se vê o construtor. Dimensão biológica

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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o A eroticidade (enamoramento, leitura de caráter,


dimensão psíquica ou anímica). Já é mais que mero
desejo sexual, já se entra no tecido anímico.
Emocionalidade. Se começa a entender o caráter,
enamorados, mas ainda não no cerne.
o O amor (companheirismo, ama o que o outro é e não o
que o outro tem, dimensão espiritual ou noética). Se dá
quando, saindo do periférico (biológico) e do anímico.
Se dá na camada espiritual, no cerne. Companheirismo
se relaciona diretamente com o irrepetível. Se ama o
que é, não o que o outro tem.
 Imagina você olhando para a amada com roupa
esplendorosa que realça e se sente convocado
a estar com ela mas você ama aquela que é
portadora da roupa. A roupa em outra pessoa
não te convidaria
 Não acontece necessariamente nesta ordem. (Eros, philia e
ágape)
 Referência: A Bela e a Fera: o amor vidente. Olha para a
essência. Torna-se aquilo que só tú deves ser. O olhar do amor é
sempre de vidente, ama o que vê e o que não vê, belo, único,
irrepetível
 ” Tem coisas que precisam amadas antes de ser amáveis. ¨
(Chesterton)
 Quem ama compreende o que a pessoa amada tem de
irrepetível.
 O amor vidente é libertador, aponta para a responsabilidade e
irrepetibilidade.
 O amor também eterniza a realidade.
 ” Quando eu amo alguém, eu não desejo alguém como um
bem. Eu desejo o bem dessa pessoa.” (Karol Wojtyla)

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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Aula 04

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
4. La persona es espiritual. Por su 4.A pessoa é espiritual. Por seu caráter,
carácter la persona espiritual se halla en a pessoa espiritual está em contraste
contraposición heurística y facultativa heurístico e facultativo com o
con el organismo psicofísico. Este, el organismo psicofísico. Este, o
organismo, es la totalidad de los organismo, é a totalidade dos órgãos, ou
órganos, es decir de los instrumentos. La seja, dos instrumentos. A função do
función del organismo —la misión que organismo – a missão que deve cumprir
debe llenar para la persona que lo lleva na pessoa que o carrega (e a que ele
(y a la que lleva)— es, por lo pronto, carrega) – é instrumental e expressiva.
instrumental, y, más allá, expresiva: la Neste sentido, como instrumento,
persona necesita de su organismo para constitui um meio para atingir um fim e
actuar y expresarse. Como instrumento como tal tem um valor utilitário. O
que es en este sentido, constituye un conceito oposto de valor utilitário é o
medio para un fin y, como tal, tiene valor conceito de dignidade; mas a dignidade
utilitario. El concepto opuesto al de valor pertence apenas a pessoa, corresponde
utilitario es el concepto de dignidad; naturalmente a ela,
pero la dignidad pertenece sólo a la independentemente de toda utilidade
persona, le corresponde naturalmente, social ou vital (47).
independientemente de toda utilidad
social o vital [47].

Sólo quien pasa por alto esto y quien lo Somente aqueles que ignoram e
olvida puede considerar la eutanásia esquecem podem considerar a
justificable. Quien sabe de la dignidad eutanásia justificável. Quem sabe da
incondicional de cada persona, también dignidade incondicional de cada pessoa,
tiene absoluto respeto ante la persona também tem absoluto respeito perante
humana, aun ante el enfermo, también a pessoa humana, ainda que doente,
ante el incurable y ante el insano diante o incurável e diante a uma
irreversible. Realmente no existen doença irreversível. Realmente não
enfermos «del espíritu», pues el espíritu, existem doentes “do espírito”, pois o
la persona espiritual misma, no puede espírito, a própria pessoa espiritual, não
enfermarse, y permanece allí, detrás de pode adoecer e permanece ali por

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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la psicosis, aún cuando la mirada del detrás da psicose, mesmo quando


psiquiatra apenas la puede distinguir. Yo apenas o olhar do psiquiatra pode
he calificado esto, alguna vez, como el distinguir. Certa vez, qualifiquei isto
credo psiquiátrico: esta fe en la como o credo psiquiátrico: esta fé na
continuidad de la persona espiritual aun continuidade da pessoa espiritual por
detrás de los síntomas de la enfermedad detrás dos sintomas das doenças
psicótica; pues si no fuera así, decía yo, psicóticas; se assim não fosse, dizia eu,
no tendría sentido para el médico curar não teria sentido para o médico curar o
el organismo psicofísico, «repararlo». organismo psicofísico, “repará-lo”. É
Por supuesto quien solamente ve este claro que aquele que apenas vê este
organismo y pierde de vista la persona organismo e perde de vista a pessoa que
que se halla detrás, deberá estar pronto está por detrás dele, deve estar pronto
a destruir el organismo irreparable, ya para destruir o organismo irreparável, já
que no tiene utilidad: de la dignidad de que não tem utilidade: não sabe nada da
la persona que no tiene relación con este dignidade da pessoa que não tem
organismo no sabe nada. La modalidad relação com esse organismo. A
médica representada por un médico que especialidade médica de um médico que
piensa así es la de un «técnico médico»; pensa assim é a de um “médico
pero este tipo de médico, el puramente técnico”; mas este tipo de médico, o
técnico y con tal pensamiento muestra puramente técnico e com tal
que para él el hombre enfermo es pensamento, mostra para ele que o
meramente un «hombre máquina». homem doente é tão somente um
“homem máquina”.

No sólo la enfermedad afecta Não somente a doença afeta o


únicamente al organismo psicofísico organismo psicofísico, mas não a pessoa
pero no a la persona espiritual, sino espiritual, como também o tratamento.
también el tratamiento. Sea dicho esto Seja dito isto a respeito do problema da
respecto al problema de la leucotomía. leucotomia (lobotomia). Nem o bisturi
Tampoco el bisturí del neurocirujano, o do cirurgião, ou como se diz hoje
como se le dice hoy, psicocirujano, logra neurocirurgião, consegue tocar a pessoa
tocar la persona espiritual. Lo que la espiritual. O que a leucotomia
leucotomía puede lograr (o causar) es (lobotomia) pode alcançar (ou causar) é
influir sobre las condiciones psicofísicas influenciar as condições psicofísicas sob
bajo las que permanece la persona as quais a pessoa espiritual permanece,
espiritual, y, siempre que sea indicada la e, sempre que a operação em questão
operación em cuestión, las condiciones a seja indicada, as condições acabarão por
la larga mejorarán. Así la indicación de melhorar. Assim, a indicação dessa
esta ntervención depende del cálculo intervenção depende do cálculo que é

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que se haga entre el mal mayor y el feito entre o maior e o menor mal; há
menor; hay que considerar si el handicap que se considerar se a desvantagem que
que provocaría la operación es menor a operação causaria é menor do que a
que el causado por la enfermedad. causada pela doença. Somente então se
Solamente entonces se justifica la justificaria a intervenção. Finalmente,
intervención. Finalmente incumbe a todas as atividades médicas têm a
toda actividad médica la necesidad necessidade inevitável de sacrificar, ou
inevitable de sacrificar, es decir, pagar seja, pagar com o menor mal, “comprar”
con un mal menor, para «comprar» las as condições sob as quais a pessoa pode
condiciones bajo las cuales la persona se realizar e alcançar a plenitude sem
pueda realizarse y lograr plenitud sin ser limitada e bloqueada pela psicose.
estar limitada y encerrada por la
psicosis.

Uno de nuestros propios enfermos había Um dos nossos próprios pacientes


sufrido de una grave enfermedad sofria de uma doença compulsiva grave
compulsiva y había sido tratado durante e foi tratado por muitos anos, não
muchos años, no sólo con psicoanálisis y apenas com psicanálise e psicologia
con psicología individual sino también individual, como também com choques
con shocks insulínicos, de cardiazol y con insulínicos, com cardiazol e
electroshocks sin resultado [48]. eletrochoques, sem resultado (48).
Entonces, después de mis propios Então, após meus próprios testes inúteis
ensayos inútiles en psicoterapia, em psicoterapia, indicamos a lobotomia
indicamos la leucotomía que resultó un que resultou num êxito surpreendente.
éxito sorprendente. Pero dejemos que Mas deixe o paciente falar: “Estou me
hable la enferma: «Me va mucho mejor, sentindo bem melhor, posso voltar a
puedo volver a trabajar como en el trabalhar como no tempo em que
tiempo cuando estaba sana: las ideas estava saudável: as ideias obsessivas
obsessivas están, pero me puedo existem, porém posso me defender
defender de ellas. Antes, por ejemplo, delas. Antes, por exemplo, não podia ler
no podía leer de tanta compulsión; tenía devido a tanta compulsão; tinha que ler
que leer todo como diez veces; ahora ya tudo por cerca de dez vezes; agora não
no necessito repetir nada». ¿Qué pasaba preciso repetir nada.” E os seus
con sus intereses estéticos? —Acerca de interesses estéticos? –Sobre os quais
los cuales varios autores afirman que vários autores afirmam que
desaparecen—: «Para la música vuelvo a desapareceram-: “Por fim, pela música
tener, por fin, un gran interés». ¿Qué voltei a ter um grande interesse”. O que
sucedía con su interés ético? La enferma aconteceu com seu interesse ético? A
mostró gran compasión e inspirada por paciente mostrou grande compaixão e,

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ese sentimiento expresó el deseo de que inspirada por este sentimento,


se ayude a otros enfermos de la misma expressou desejo de ajudar a outros
manera que a ella. Y luego le enfermos da mesma maneira como o
preguntamos si se sentía distinta de fora. E então perguntamos se sentia de
alguna manera: «Yo vivo ahora en otro alguma forma diferente: “Eu vivo agora
mundo, no puede expresarse con em outro mundo, não consigo expressar
palabras; antes no era mundo para mí, em palavras; antes não era mundo para
era sólo un vegetar, pero no una vida, mim, eu vegetava, não era uma vida,
estaba demasiado atormentada; todo estava muito atormentada; agora tudo
eso se ha ido; lo poco que surge todavía, se foi; no entanto o pouco que surge
lo puedo superar rápidamente». (¿Usted posso superar rapidamente”. (Você
considera que sigue siendo usted considera que segue sendo você
misma?). «Yo soy distinta ahora». mesma?). “Eu sou diferente agora”.
(¿Cómo?, ¿en qué sentido?). «Ahora (Como? Em que sentido?) “Agora vale a
vale la pena vivir». (¿Cuándo volvió a ser pena viver”. (Quando voltou a ser você
usted misma?). «Ahora, después de la mesma?). “Agora, depois da operação,
operación; todo es mucho más natural tudo é muito mais natural do que então,
que entonces; antes todo era antes tudo era compulsão; tudo o que
compulsión; todo lo que existía para mí existia para mim era obsessão; agora
era obsesión; ahora todo es más bien tudo está melhor como deve ser;
como debe ser; encuentro el camino de encontro o caminho de volta; antes da
vuelta; antes de la operación no era un operação não era um ser humano senão
ser humano, sino una calamidad para la uma calamidade para a humanidade e
humanidad y para mí misma; ahora ya para mim mesma; agora os outros dizem
me lo dicen los demás, que estoy que estou completamente diferente”. À
completamente distinta». A la pregunta pergunta direta sobre se ela havia se
directa sobre si había perdido su yo perdido, ela respondeu o seguinte: “O
contesta lo siguiente: «El yo lo había eu se perdeu, por conta da operação
perdido; debido a la operación volví a mí voltei a ser eu mesma, a minha pessoa.”
misma, a mi persona». (Esta expresión (Esta expressão foi cuidadosamente
había sido cuidadosamente evitada evitada durante o interrogatório).
durante el interrogatorio). Por lo tanto, Portanto, esta pessoa atingiu o estado
esta persona había alcanzado el estado humano, conseguiu ser “ela mesma”
humano, había logrado ser «ella (49).
misma»[49].

No es solamente la fisiología la que no Não é somente a fisiologia que não


llega hasta la persona, sino que tampoco atinge a pessoa, mas também a
la psicología lo logra —por lo menos psicologia não a atinge – pelo menos

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cuando ha caído en el psicologismo—. quando ela cai no psicologismo -. Para


Para lograr divisar a la persona o por lo ver a pessoa ou pelo menor localiza-la
menos ubicarla en su categoría, se em sua categoria, será necessária uma
necesitará más bien una noología. Es noologia. Sabe-se que existia uma
sabido que hubo una vez una «psicología “psicologia sem alma”. Já está superada
sin alma». Ya está superada hace a um bom tempo, mas a psicologia de
tiempo; pero a la psicología de hoy no hoje não pode evitar a censura de que
puede evitársele reproche de que la na maioria das vezes é uma psicologia
mayoría de las veces es una psicología sem espírito. Esta psicologia sem
sin espíritu. Esta psicología sin espíritu espírito é, como tal, não somente cega
es, como tal, no sólo ciega para la para a dignidade da pessoa, como o é
dignidad de la persona, como lo es para para a própria pessoa, como também
la persona misma, sino también ciega cega aos valores, cega para os valores
para los valores, ciega para aquellos que são correlatos mundanos do ser
valores que son el correlato mundano pessoal: para o mundo dos sentidos e
del ser personal: para el mundo de los dos valores como o cosmos, cego para o
sentidos y los valores como cosmos; logos. O psicologismo projeta os valores
ciega para el logos. El psicologismo do reino espiritual em direção ao plano
proyecta los valores del ámbito da alma, onde eles se tornam
espiritual hacia el plano del alma, donde multivalentes; sobre este plano, seja da
se vuelven plurivalentes; sobre este psicologia ou da patologia, não se pode
plano, ya sea el de la psicología, ya el de distinguir entre as visões de uma
la patología, no se pueden distinguir Bernadette e as alucinações de qualquer
entre las visiones de una Bernadette y pessoa histérica. Costumo esclarecer
las alucinaciones de cualquier histérica. aos estudantes da faculdade quando
Suelo hacérselo comprender a los lhes mostro o fato da projeção circular
estudiantes de la facultad cuando les bidimensional de uma esfera, cilindro e
señalo el hecho de que la proyección um cone que não permite distinguir do
bidimensional circular de una esfera, un que se trata. Na projeção psicológica, a
cilindro y un cono no permite distinguir consciência se transforma num
de qué se trata. En la proyección superego ou a “introjeção” da imagem
psicológica, la conciencia se transforma paterna, e Deus se transforma na
en un superyo o en la «introyección» de “projeção” desta imagem, quando, na
la imagen paterna, y Dios se transforma realidade, essa interpretação
en la «proyección» de esta imagen, psicanalítica é, em si, uma projeção
cuando, en realidad, esta interpretación psicológica.
psicoanalítica es, en sí misma, una
proyección, a saber: uma proyección
psicologística.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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NOTAS: NOTAS:
[47] (N. 3.a ed.). La dignidad [47] (N. 3.a ed.). A dignidade
corresponde al hombre no por razón de corresponde ao homem não em razão
los valores que posee, sino por razón de aos valores que possui, mas em razão
los valores que ya ha realizado. dos valores que tenha realizado.
Naturalmente, entonces no puede Naturalmente, então não pode perder a
perder la dignidad. Y es la dignidad lo dignidade. E é a dignidade que exige
que nos exige respeto ante los ancianos, respeito de nós perante os idosos, isto
esto es, ante el haber realizado valores. é, antes de realizarmos valores. Esta
Esta dignidad no se concede a todos dignidade não se concede a todos nós.
nosotros. No se concede a una juventud Não se concede a um jovem que
que desconoce el respeto a los ancianos, desconhece o respeito pelos idosos,
quizás porque los ancianos tienden a talvez porque os idosos tendem a
mostrarse lo más jóvenes posible, mostrar-se o mais jovem possível,
haciendo así el ridículo. Por desgracia tornando-se ridículo. Infelizmente, um
una juventud sin respeto a los ancianos, jovem sem respeito pelos idosos,
cuando ella misma llegue a serlo, quando se tornar um também
desconocerá también la autoestima y le desconhecerá a autoestima e se
atormentará un sentimiento de atormentará com um sentimento de
inferioridad condicionado por la edad. inferioridade condicionado pela idade.

[48] «Después de los shocks me olvidé [48]” Depois dos choques me esqueci de
de todo, hasta de mi dirección, pero no tudo, até do meu endereço, mas não
me olvidé de mi obsesión». esqueci de minha obsessão.”

[49] Cf. Beringer: «Bajo ciertas [49] Cf. Beringer: “Debaixo de certas
circunstancias puede presentarse un circunstancias um novo desdobramento
nuevo despliegue de facetas originales das facetas originais da pessoa podem
de la persona, después de haber logrado se apresentar, despois de ter
disipar el efecto de los síntomas conseguido dissipar o efeito dos
patológicos o por lo menos disminuirlos. sintomas patológicos ou pelo menos
Entonces pueden aparecer otra vez diminuí-los. Então podem aparecer
responsabilidades y conciencia que novamente responsabilidade e
estaban anuladas bajo el dominio de la consciência que estavam anuladas pelo
psicosis. Según mi experiencia, es domínio da psicose. Na minha
posible que después de la leucotomía la experiência, é possível que depois da
decisión personal no sea menor, sino leucotomia (lobotomia) a decisão
mayor... La instancia del yo pessoal não seja menor, mas sim
autoafirmativa y dominante que estaba maior... A instância auto afirmativa e

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 25
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maniatada e inutilizada bajo el efecto de dominante que estava amarrada e


la psicosis o de los contínuos inutilizada debaixo do efeito da psicose
anancasmos, parece liberarse por la ou dos “anancasmos” (Transtorno
disminución de los síntomas Obsessivo Compulsivo) contínuos,
patológicos... El resto sano del hombre parece libertar-se devido a diminuição
vuelve a una realización que bajo el dos sintomas patológicos... O descanso
conjuro de la enfermedad no era saudável do homem traz de volta uma
posible» («Medizinische Klinik» 44 realização que sob o feitiço da doença
[1949] 854 y 856). não era possível” (Clínica Médica 44
[1949] 854 y 856).

A Quarta Tese: A Pessoa Humana é Espiritual

 Transcendência: capacidade humana


 Dimensão espiritual ou noética: ciência filosófica e
antropológica e não teológica. Expressão tomada por
convenção
 Dimensão somática (biológica) e anímica (psique, psíquica) são
dimensões da matéria.
 Na filosofia, o que não é material chama-se de metafísico ou
espiritual (incluindo a dimensão psíquica).
 As escolas de Viena: Freud e a psicanálise, Adler e a Psicologia
individual, Frankl e a Logoterapia.
 Frankl, estudando Freud e Adler e percebendo algumas
limitações como o reducionismo, o niilismo e sub humanismo,
desenvolve sua teoria. Num primeiro momento, troca
correspondências com Freud. Depois, caminha como que um
discípulo de Adler. Vendo as limitações, funda a Terceira Escola
Vienense de Psicoterapia: a Logoterapia
 ” Eu sempre me detive no rés do chão ou no subsolo do edifício.”
(Freud)
 Viktor Frankl infere que Freud fez um processo de escavação, um
estudo do subsolo da mente humana, id, ego e superego, tudo
isso de trazer ao consciente o que está no inconsciente. Ele não
estava erguendo o edifício, estava lançando as bases.
 ” Cumpre perguntarmos então se não terá soado a hora de
vermos no âmbito da Psicoterapia a existência da pessoa
humana na sua profundeza mas também nas suas alturas. Para
se ultrapassar deliberadamente não apenas o nível físico, mas

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também o do psíquico, abarcando por princípio a esfera do


espiritual.” Viktor Frankl
 Desenhar uma” Psicologia das alturas”. Inserir a verticalidade e
largar o condicionamento
 Já se compreendeu o chão que se pisa, o somático e o psíquico.
Quando Freud fala do aparelho psíquico quase nos mantém em
pé de igualdade com os animais (o cão sente, sonha, tem
memória, busca satisfazer seus desejos). A diferença é que o
homem tem uma dimensão biológica e psíquica mais refinada,
mas ainda reduz o homem à dimensões mais baixas.
 A psicanálise trata, a grosso modo, das causalidades, busca do
prazer, ¨ter que¨. É uma terapia que vê o homem frente sua
busca prazer, de causalidades. ¨Sê então¨, ¨ter que¨, agir
daquela determinada forma e buscar o prazer.
 A Psicologia individual já sai do “ter que” para o “querer”. Busca
de poder, finalidade, ¨querer¨ (uma finalidade que ainda deixa
o homem fechado em si mesmo, busca de poder). O homem já
começa a buscar o porquê, é mais propriamente humano, sai
da causalidade da psicanálise e entra na finalidade, mas ainda
uma finalidade na qual o homem está fechado em si mesmo, é
a finalidade do aplauso social, da busca de poder.
 A Logoterapia é um “dever ser” (busca de sentido). Não busca
só o prazer e o poder embora façam parte da dinâmica
humana, mas acima de tudo busca sentido. Em cada realidade
está inserido um sentido último que lança luz no mundo e em
todos os seus momentos.
 ” Se tratarmos os homens como eles são, fazemo-los piores. Se os
tratarmos como se eles fossem o que devem ser, conduzimo-los
onde cumpre conduzi-los, fazemo-los melhores.” (Goethe)
 Se tratamos o homem como ele é diante do seu destino, da sua
fatalidade, daquilo que posso ver, tocar, mensurar, faço o pior:
o coloco diante de uma perspectiva de tragédia.
 Se eu compreendo o homem como um ¨dever ser¨ e o convoco
a se tornar aquilo que só ele pode ser, nós então fazemos do
homem algo melhor.
 A proposta da Logoterapia não é simplesmente oferecer um
álibi, um bálsamo, uma resposta para o homem. É exigir do
homem um movimento interior que o leve aonde ele deve estar.

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Que o lembre de quem ele é. E quem ele é? Ele é pessoa


espiritual.
 Entramos na dinâmica própria da 4ª tese, a dinâmica própria do
homem é alguém capaz de alçar voo, de chegar às alturas.
Psicologia das alturas.
 Metáfora do carro e do avião: um avião pode se deslocar em
terra, taxiar, assim como os carros, embora só se mostre
verdadeiramente avião quando levanta voo, quando atinge o
espaço tridimensional (entrar na verticalidade). A mesma coisa
é o homem. Ele pode viver em condições limitadas ao
psicofísico, na horizontalidade da vida, ou pode elevar-se acima
disso, buscando uma vida com sentido. O homem tem nas mãos
um manche, como o piloto. Se vivemos na horizontalidade,
podemos viver assim: nasce, cresce, reproduz e morre, no rés do
chão, bidimensional. Mas a todo momento podemos entrar na
verticalidade, tridimensionalidade: nasce, cresce, indaga-se
sobre o ser, realiza valores, ama, reproduz, toma consciência de
si mesmo, morre e até diante da morte se questiona sobre a vida,
a finitude.
 Tem escolhas que somente o homem pode fazer.
 Existencialismo ateu: “o homem é um ser lançado para o nada”.
 ” A existência acontece no espírito.” (Viktor Frankl)
 O que é passivo, estático, limitado, deve ser ativo, dinâmico,
ilimitado.
 É só nessa dimensão espiritual que nós podemos falar sobre a
existência humana. É o que faculta ao homem caminhar para o
seu ¨dever ser¨ e não simplesmente deixar-se dominar, mas sim
posicionar-se a cada momento. Se não tivéssemos a dimensão
espiritual, nós não conseguiríamos nos posicionar diante de
nada. Nós não conseguiríamos dar uma resposta diferente. Nós
não conseguiríamos elaborar nada dentro do nosso peito. Nós
seríamos simplesmente, um mero instrumento que recebe o
mundo e o transmite tal como o recebemos.
 Capacidades do homem: refletir sobre si mesmo, fazer-se
consciente de si mesmo, posicionar-se diante de si mesmo, de
decidir livremente, de buscar algo além de si mesmo, de julgar
e avaliar os próprios atos, e de agir de acordo com a sua própria
consciência.

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 As dimensões biopsíquicas são instrumentos de manifestação do


espiritual. Quando as ações humanas nascem da dimensão
espiritual, elas perpassam as camadas mais periféricas das
dimensões biopsíquicas.
 Não basta decidir livremente se não fizer a decisão tornar-se um
ato. Para que se torne um ato é preciso trazer isso à razão, à
psiquê, consultando aquilo que são as próprias capacidades,
memórias, lembranças e afetividade, utilizando essa dimensão
mais somática que é o corpo para, quando se decidir, agir de
uma totalidade, uma integralidade do ser.
 O homem pode dar algo diferente do que recebeu.
 Nós podemos dar o que não recebemos, mesmo que doa. O
homem não é uma tábula rasa, uma folha em branco. Há no
homem algo a mais que um mero maquinário de receber
impressões e emitir ações. Como pessoa espiritual, somos mais
do que um mero receptor do mundo. O que recebo, eu não
posso determinar (destino, a facticidade da vida). Mas, aquilo
que eu vou emitir, eu posso e devo determinar qual será a minha
resposta. Se não, seríamos tal e qual uma impressora.
 ” Nós não somos aquilo que fazem de nós. Somos aquilo que
fazemos com o que fazem de nós.” (Viktor Frankl)
 Nossas escolhas e respostas não estão determinadas. A resposta
que dou é livre e genuína, se eu quiser.
 A tridimensionalidade da vida é o
que nos permite caminhar não só na
horizontalidade, mas também na
verticalidade. Horizontal: fracasso e
sucesso (Psicologia individual, aplausos,
reconhecimento, homo sapiens).
Vertical: desespero e realização (o homo
patiens, o homem capaz de sofrer, que
vive a vida como paixão, que não se
deixa determinar pelos condicionamentos da vida, que busca
encontrar um sentido mesmo em meio à dor). Livro: Sede de
Sentido.
 Encontrar a realização mesmo diante do fracasso. Mesmo frente
à dor e à tragédia, encontrar uma realidade de ascensão e
crescimento.

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 Voltamos aos 3 níveis de valor, valor de atitude: o sentido do


sofrimento, o homo patiens. O sofrimento que tira da apatia e do
tédio, da rigidez mortal da lama. O sofrimento nos torna mais
ricos e poderosos.
o Homo patiens: ser que sofre, Homo faber: ser que cria,
Zoom politicum: ser que organiza
 ” O que o sofrimento faz é salvar o homem da apatia, da rigidez
da alma. O sofrimento nos torna mais ricos e poderosos. Eu só
temo não ser digno do meu sofrimento.” (Viktor Frankl)
 Por trás do sofrimento existe uma presença amorosa, um sentido,
um convite a sairmos da apatia, a nos enriquecermos, um
convite a nos tornarmos mais poderosos.
 Nos campos de concentração, os prisioneiros questionavam se
iriam ou não sair com vida do campo. Se não, o sofrimento não
teria sentido. Viktor pensava que se o sentido da vida for a mera
sobrevivência, então o sofrimento não terá sentido. Aí então
pode-se cair no desespero.
 Livro: O sofrimento de uma vida sem sentido. Aqueles que estão
mais aptos a viver são aqueles que estão voltados para o
presente e principalmente para o futuro e não apenas para a
sobrevivência. Para o futuro num sentido algo a realizar, os
valores no cárcere, expectativa no mundo.
 Ao refletir de que forma o sofrimento coloca a pessoa a servir, a
amar, a realizar valores e encontrar sentidos, torna-a mais apta,
forte, resiliente, com o sistema imunológico mais em dia para
conseguir passar pelas fases de sofrimento.
 Sofrer é assumir uma atitude perante um acontecimento. Uma
atitude por alguém ou por algo.
 Só o homem é capaz de sofrer, encontrar uma finalidade, um
motivo, um porquê ou um por quem escondido atrás do
sofrimento.
 O sofrimento nos dá dignidade e poder.
 Sofrer para Frankl é assumir uma atitude positiva e de superação
diante das adversidades da vida. Homo patiens é quase que
uma teoria motivacional!
 Atreva-te a sofrer! Buscar o sofrimento é masoquismo, dar de
ombros é cinismo.
 ” Nós somos o único ser capaz de transformar tragédia em
triunfo.” Viktor Frankl

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 Não é buscar o sofrimento, o que seria masoquismo, mas atrever-


se a sofrer, não fugir dele. Diante da realidade que está dada,
permitir-se sofrer, viver plenamente.
 Quando as pessoas começam a se voltar apenas para o prazer,
quer dizer que ela entregou os pontos e deixou de buscar uma
vida com valores mais sólidos. Assim, quando a dor vem, cai-se
no desespero.
o Nos campos de concentração, quando os prisioneiros
trocavam favores (por terem feito serviços nos quais
arriscavam a vida) em troca de cigarro (e não mais de
alimento), em troca de prazer, sabiam os demais que
aquele estaria morto em poucos dias. É um olhar só para
o gozo, para o sucesso, sem verticalidade: falta total de
esperança.
 O animal que foge da dor e busca só o prazer, porque não existe
sentido, realização. Quem der mais, ele vai! Acalentar o psíquico
e somático sem questionar.
 O homem pode escolher abrir mão de prazeres momentâneos
para conquistar algo de maior valor.
 É própria da dimensão espiritual essa capacidade de sairmos de
nós mesmos, de nos tornarmos um outro com quem dialogamos,
de nos cobrarmos, de nos colocarmos metas.
 Enquanto o sentido do amor e o sentido do trabalho deixam
claro o modo único e irrepetível da pessoa humana ser, o
sofrimento deixa claro o fato de sermos pessoas espirituais. De
sermos o único ser capaz de sofrer e de sofrer com dignidade. O
que importa, diz Viktor Frankl, é a audácia, a coragem de sofrer.
Trata-se de dizer um sim ao destino, enfrentá-lo. Somente neste
caminho nos aproximaremos da verdade, e não pelos caminhos
da fuga e de medo do sofrimento.
 Quando adotamos um caminho de fuga, nós nos
apequenamos, nós deixamos de acionar aquela dimensão
especificamente humana que vai nos dar clareza, que vai nos
apontar caminhos, que vai nos lembrar da nossa fibra moral, que
vai nos colocar diante da verdade daquilo que somos e daquilo
que podemos. E vai nos lembrar que a vida, como diz Viktor
Frankl, é paixão. Muito mais do que sermos um homo sapiens e
um homo faber, precisamos aceitar o sofrimento inevitável
(homo patiens) e entender que esta vida é paixão.

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 Quando nós pudermos amar, que amemos. Se pudermos


trabalhar, criar, que assim façamos. Se o sofrimento chegar, o
acolhamos com valentia e tomemos uma atitude diante dele.
Quando nada mais puder ser feito, lembremo-nos: somos pessoa
espiritual. Resta-nos ainda a última das liberdades, a liberdade
de sofrer dignamente, de tornar a tragédia da vida um triunfo.
De ver na dificuldade não uma pedra de tropeço, mas um
trampolim que me coloca na tridimensionalidade da vida, que
me coloca na verticalidade da vida, que me leva para o eixo
da realização, mesmo que eu possa mais me deslocar no eixo
da bidimensionalidade da vida, saindo do fracasso e
caminhando para o sucesso.
 Mesmo que não possa caminhar para o sucesso, caminhar para
a realização através de um coração mais aberto, de uma
capacidade de amar alguém, de colocar-se no lugar do outro,
de dar o melhor de si mesmo.
 Constatamos a existência da pessoa humana ao vê-la diante do
sofrimento, porque isso contraria toda a lógica da dimensão
biopsíquica, que é voltada para o conforto, o prazer e a
segurança.
 Continuar mesmo com a dor, porque essa dor pode ser amor.
 Abraçar o incômodo, seguir cumprindo o dever apesar das
circunstâncias, do desconforto, da traição e nem por isso desistir
de tudo e de todos e passar a viver uma vida canina, correndo
em busca de prazer. Eu permaneço porque pode ser que tenha
algo que me caiba, porque mesmo em meio à dor é possível
que exista um sentido, porque eu não posso simplesmente
desistir. Em tudo existe frustração e dor, mas seguimos porque
acreditamos que existe um bem escondido ou futuro. “No pain,
no gain”.
 Se simplesmente buscássemos o prazer, permaneceríamos
como criancinhas mimadas.
 Os sofrimentos inevitáveis nos lembram quem somos. E ao
superá-los, nós vamos aos poucos, nos tornando o que devemos.
 O sofrimento está aí para nos enriquecer, para nos empoderar,
para nos lembrar que somos pessoa humana, e sendo pessoa
humana, somos pessoa espiritual.

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Aula 05

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
5. La persona es existencial: con esto se 5.A pessoa é existencial: isto significa
significa que no es fáctica ni pertenece a que não é factual e nem pertence à
la facticidad. El hombre, como persona, “factualidade”. O homem, como
no es un ser fáctico sino un ser pessoa, não é um ser factual, mas um ser
facultativo; él existe de acuerdo a su que elege. Ele existe de acordo com sua
propia posibilidad para la cual o contra própria possibilidade para a qual ou
la cual puede decidirse. Ser hombre es contra a qual ele pode decidir. Ser
ante todo, y como siempre vuelvo a homem é antes de tudo, e como sempre
decir, ser profunda y finalmente volto a dizer, ser profundo e totalmente
responsable. Con eso también se responsável. Isso também significa que
significa que es más que meramente ele é mais que apenas livre: na
libre: en la responsabilidad se incluye el responsabilidade se inclui o para que (o
para qué de la libertad humana — propósito) da liberdade humana –
aquello para lo que el hombre es libre— aquela para a qual o homem é livre -, a
, en favor de qué o contra qué se decide. favor do que ou contra o que se decide.

En contraposición al psicoanálisis, la Em contraposição à psicanálise, a pessoa


persona está, desde el punto de vista de é, do ponto de vista da analise
un análisis existencial y tal como he existencial e, como tentei esboçar, não
tratado de bosquejarla, no determinada determinada por seus instintos senão
por sus instintos sino orientada hacia el orientada para os sentidos. Em oposição
sentido. En oposición a la óptica à ótica psicanalítica, a analise existencial
psicoanalítica, la analítica existencial, no não aspira ao prazer, mas sim aos
aspira al placer sino a los valores. Em la valores. Na concepção psicanalítica de
concepción psicoanalítica de que el que o homem é movido pelo sexo
hombre esta impulsado por el sexo (libido) e na concepção da psicologia
(libido) y en la concepción de la individual segundo a qual ele está
psicología individual según la cual está condicionado socialmente (através de
condicionado socialmente (a través de um sentido de comunidade), não vemos
un sentido de comunidad), no vemos outra coisa senão uma modalidade
outra cosa que una modalidad deficiente de um fenômeno mais
deficiente de un fenómeno más primordial: do amor. O amor é sempre

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primigenio: el del amor. El amor es a relação entre um eu e um tu, de cuja


siempre la relación entre un yo y un tú, relação, do ponto de vista psicanalítico,
de cuya relación, desde el punto de vista não resta mais do que um “id” da
psicoanalítico, no queda más que el sexualidade, enquanto que na visão da
«ello» de la sexualidad, mientras que en psicologia individual permanece uma
la visión de la psicología individual socialização localizada, eu diria, no
queda una socialidad ubicuada, yo diría, “ser”.
en el «se».

Si el psicoanálisis ve a la existencia Se a psicanálise vê a existência humana


humana como dominada por uma como dominada por uma vontade de
voluntad de placer, y la psicología prazer, e a psicologia individual a vê
individual la ve como determinada por la como determinada por uma vontade de
voluntad de poder, el análisis poder, a análise existencial, em
existencial, en cambio, la ve como contrapartida, a vê como governada por
gobernada por una voluntad de sentido. uma vontade de sentido. Ela conhece
Ella conoce no sólo la «lucha por la vida» não apenas a “luta pela vida” e,
y, trascendiéndola, la «ayuda mutua» transcendendo-a, a “ajuda mútua”
(Peter Kropotkin), sino el esfuerzo por (Peter Kropotkin), mas o esforço por
encontrar el sentido de la existencia —y encontrar o sentido da existência – e
ayuda mutua en esta lucha—. ajuda mútua nesta luta -.
Concretamente, la ayuda en esa lucha es Especificamente, a ajuda nessa luta é
aquello que llamamos psicoterapia: es aquela que chamamos psicoterapia: é
esencialmente una medicina de la essencialmente um remédio da pessoa
persona (Paul Tournier). De allí resulta (Paul Tournier). A partir disso, conclui-
que em la psicoterapia no se trata, se que na psicoterapia não se trata,
finalmente, de un cambio en la dinámica finalmente, de uma mudança na
afectiva o em la energía instintiva, sino dinâmica afetiva ou de energia
de un cambio de actitud existencial. instintiva, mas de uma mudança na
atitude existencial.

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A Quinta Tese: A Pessoa Humana é Existencial

1. Unidade ontológica: inquebrantável, uma, indivisa


2. In-somável: Unita multiplex. Unidade na multiplicidade
3. Ser novo: irrepetível
4. Espiritual. Não está fadada a viver determinismos, capaz de se
posicionar e se colocar acima da situação. Elevar-se.
o O ser facultativo que a pessoa assume, espiritual, que nos
faculta, que nos dá capacidade de nos posicionarmos.
 Existencial, começamos a entrar num processo da dinâmica da
pessoa humana. Por termos a dimensão espiritual, podemos nos
colocar neste mundo livremente mas livremente para responder.
 Aqui nesta dimensão existencial, começamos a colocar que
nossa liberdade não é mera arbitrariedade, não somos livres
para nada, não somos livres para a morte, tão somente para
viver angústia, desespero diante dessa liberdade que nos foi
dada e que pode parecer até um fardo, um fardo pesadíssimo.
Nós somos livres para algo, para responder, somos livres não só
para nos colocar acima de uma situação mas também para nos
colocarmos acima de nós próprios.
 Posiciona-se e escolhe frente algo, frente a valores, livre para
responder aos chamados que a vida lhe faz e para assumir a
vida como uma missão.
 Viktor Frankl dizia que na costa leste dos EUA há a Estátua da
Liberdade. E sugere que na costa oeste se faça uma Estátua da
Responsabilidade pois liberdade sem responsabilidade é mera
arbitrariedade, só uma ¨licenciosidade¨.
 Essa ideia de que não somos livres para nada. Mas livres para
responder ao chamado que a vida nos faz e assumirmos esta
vida como missão. É nisto que vamos tocar ao falar que a pessoa
humana é existencial.
 Agora vamos entrar em exemplos, esmiuçar, detalhar.
 Aluno de Psicologia que comenta sobre a aula de psicanálise
que teve. A professora falava sobre as formas com que a pessoa
pode se apaixonar segundo Freud:
o Anaclítico (se apaixona por alguém que tem traços de
alguém que lhe deu afeto quando bebê) ou
o Narcísico (se apaixonar por alguém que ela idealiza,
gostaria de ser ou que ela é)

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 O aluno questionou o quanto isso é determinante para alguém


se apaixonar, fazia parte de um determinismo. A reação da
professora espantou o aluno, que disse ser um bom
questionamento, que a questão dos tipos por quem nos
apaixonamos é algo que acontece muito após o
desenvolvimento do auto erótico infantil. Ou seja, não
respondeu e quis frisar que isso acontece com as pessoas
frequentemente. Aí o aluno questionou o porquê não usarmos
algo que mude essa tendência biológica animal. A professora
ressaltou que o que vale é o que acontece com frequência e
que devemos tratar desta forma.
 Podemos acrescentar a questão edípica neste bolo.
 A grosso modo a psicanálise é isto, tem um determinismo e ele
questionou a professora que, em suma, respondeu:
frequentemente vemos que as pessoas fazem as suas tomadas
de decisão em cima do inconsciente e se isso acontece com
frequência é a isso que devemos nos ater.
 Acaba também sendo um processo de iatrogenia alguns
movimentos de Psicoterapia (alguém levanta a hipótese que a
professora do exemplo nunca se apaixonou ou rejeita os seus
amores passados) e uma mera projeção e expectativas do
próprio terapeuta, faltando-lhe uma filosofia mais sólida e uma
visão de pessoa mais global, acaba colocando um olhar mais
reducionista com algumas generalizações que não permitem
ver o todo e a maravilha que é a pessoa humana.
 Na página 159 do Livro ¨fundamentos antropológicos da
Psicoterapia¨. Viktor Frankl coloca: na prática, o homem
frequentemente não é livre. Facultativamente ele o é, e
permanece livre. Sempre que parece não ser livre é porque
renunciou livremente a sua liberdade. Quando o homem se
comporta como se fosse conduzido é porque se deixa conduzir.
Pode muito bem entregar-se aos seus instintos, mas mesmo esta
entrega é de sua responsabilidade. O homem tem, por
conseguinte, a liberdade em qualquer caso. Não a tem só para
ser livre, mas também no mesmo grau para não ser livre. Tem a
liberdade de elevar-se a um possível ser livre ou, da mesma
maneira, deixar-se cair num possível ser conduzido. A sua não
liberdade inclui-se na sua liberdade, assim como a sua
impotência na sua força. O homem tem liberdade em todos os

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Transcrição/Resumo livre 36
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casos, só que na maioria das vezes, desiste dela


voluntariamente.
 Com frequência o que nos vemos é que, na prática, o homem
não é livre. O que vemos é que na prática as pessoas abrem
mão da sua liberdade, facultativamente são livres, ou seja,
podem escolher viver de forma livre, porém é tamanha a
liberdade que pode inclusive deixar-se conduzir pela vida, ser
conduzido por seus impulsos, por seus complexos, por seus
mecanismos de defesa, por aquilo que fizeram dele. Tão livre
que pode deixar-se conduzir ou conduzir-se a si mesmo.
 A todo momento, quem escolhe é o homem. A todo momento,
por sermos espiritual (tese 4) somos nós que decidimos o que
iremos fazer com aquilo que nos chega, com aquilo que fazem
de nós, com o destino que nos foi dado, com o chão sob os
quais nossos pés pisam. Não posso negar que existe um chão e
não posso negar que estando sobre este chão eu vou para
onde bem quero. Eu me desloco na direção, na cadência e no
sentido que eu bem desejo.
 Claro, com limites. Viktor Frankl fala: a nossa liberdade não é
onipotência. Posso escolher correr, mas eu tenho um limite. Posso
escolher andar mas não voar. Mas dentro dos nossos limites
temos um espectro de ação absurdo. Existe um chão, existe um
destino.
 Viktor Frankl não nega em nenhum momento que existe
complexo edípico, movimento narcísico no homem. E que esse
Édipo e esse Narciso podem influenciar sobremaneira a decisão
do homem, desde que ele se deixe influenciar, abrindo mão das
suas responsabilidades, negando a sua dimensão espiritual,
sufocando aquilo que ele é enquanto existência e escolha
atender as exigências da sua dimensão biopsíquica, somática e
anímica, para livremente abrir mão de se posicionar de modo
responsável.
 Viktor Frankl continua dizendo: o espiritual nunca se absorve
numa situação. Nunca se configura, nunca se absorve, nunca
é tomado por inteiro diante de uma situação como o
biopsíquico é. O espiritual, ao contrário, está sempre apto para
desistir, renunciar, ganhar distância, alheiar-se da situação.
Somente a partir desta distância tem o espiritual a liberdade. E
somente a partir desta liberdade espiritual pode o homem

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decidir-se a favor ou contra uma posição, a favor ou contra uma


disposição, um traço de caráter, uma tendência instintiva.
 O corriqueiro não é a pessoa humana. A pessoa humana é
capaz de posicionar-se, de tomar distância, de ser contrária ou
favorável àquilo que ela traz enquanto predisposição. Enquanto
chão, destino, histórico de vida, impulso, instinto. É isso que
marca a pessoa humana.
 Quando a realidade do ser humano é reduzida a mero efeito,
não iremos nunca encontrar intenção. Nós amputamos a nossa
liberdade, abortamos a nossa dimensão espiritual, tiramos a
capacidade de fazermos uma Psicologia do alto, ficamos no rés
do chão. Reificamos o homem o tornando a um nada mais que.
 ¨Chegamos a tal ponto de interpretarmos o amor como mera
sublimação da sexualidade. ¨ (Viktor Frankl)
 Como se não houvesse um movimento genuíno de amor, o que
existe é uma sublimação das sexualidade, da pulsão, da libido.
A escolha (como se apaixonar) se torna mero fruto de
complexos edípicos.
 Nossas ações nesse mundo tornam-se meros mecanismos de
defesa e a consciência torna-se um mero termo das funções do
superego, como diz Frankl.
 A consciência só faz um papel de mediação de outras
instâncias psicodinâmicas. Nem a tomada de consciência é
algo realmente nosso, livre, genuíno, tá sempre só num campo
de polarização, de determinismos profundos.
 Não negamos que existem os condicionamentos mas afirmamos
que existe liberdade. Não liberdade ¨de¨, mas liberdade ¨para¨.
 Exemplo do Livro ¨sede de sentido¨, página 46 e 47: fala de um
casal que havia se alistado para serem voluntários na África,
casal bem formado, que dominava técnicas, que queriam uma
atitude caritativa. E fala como um processo psicoterapêutico foi
capaz de amputar neste casal toda a capacidade de amor, de
autotranscendência, de atitude livre e responsável. O
psicoterapeuta afirma a eles que no inconsciente deles há uma
necessidade de se mostrarem superiores a outras pessoas. O
casal nunca tinha encarado por esse lado mas acreditaram que
o psicólogo tinha conhecimento e fizeram sessões por 3 meses.
No final, o casal começou a se vigiar continuamente

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procurando motivos ocultos que poderiam estar por trás das


suas ações. Cheios de suspeitas mútuas. Tornaram-se neuróticos.
 Amputou toda capacidade de amor, de encarar a vida como
missão, de realizar valores neste mundo.
 Se tudo são motivações escusas que devo trazer ao consciente,
não existe nada neste mundo que possa ser verdadeiro, fruto de
entrega, doação, algo genuíno.
 ¨Onde se vê só efeito, não se vê intenção. E onde não se vê
intenção não se pode mais ver sentido algum. ¨ (Viktor Frankl)
 Brasileiros questionam muito ¨o que será que está por trás desta
situação? ¨ Ninguém que faça algo bom, ficamos cheios de
suspeitas. Tudo com motivo escuso por trás. ¨ninguém dá ponto
sem nó...¨ Caímos numa loucura meio freudiana, marxista. Como
guiados por desejo malévolo. Não confiamos uns nos outros.
Não existe bondade, só oportunismo e maldade velada. E
parece que nosso trabalho é desvelar todo o inconsciente,
como detetives, investigação.
 Cita o exemplo do próprio curso que está oferendo. Suspeitam
qual o próximo passo, como se houvesse uma motivação por
trás.
 Viktor Frankl fala que há muita coisa é na frente, um mundo
cheio de sentido na frente, uma vida desejosa de realizar
valores, que aponta para a frente, para o norte, para o logos.
 É adoecedor acharmos que tudo é só fruto de algo ao qual
fomos impulsionados a fazer. Imagem de homem egocêntrico:
que atrás só tem os impulsos e à frente a sua satisfação. Homem
que se desloca num eixo umbilical.
 Ostracismo, como se não tivéssemos mais nada que não a nós
mesmos, auto realização e auto preservação.
 Nível subumano.
 Viktor Frankl coloca as 3 escolas clássicas de Psicologia:
1. Psicologia profunda: a máxima é a obtenção de prazer,
busca da homeostase, equilíbrio, nirvana. Essa questão
da busca de prazer não foi Freud que disse em nenhum
momento, mas Nietzsche que disse sobre a obra de
Freud.
2. Terapia de conduta: busca simples da recompensa e
aplauso social.

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3. Psicologia humanista: corre o risco de ser só uma busca


de realização pessoal. O que mudou seria que você não
está buscando só o prazer nem só recompensa e
aplauso social mas que você está buscando só uma
auto realização.
 Com isso tudo não conseguimos chegar ao ponto que Viktor
Frankl chega e que é próprio da pessoa humana e que mais
marca esta quinta tese: a pessoa humana é existencial
enquanto ex-sistere, a ideia de ser ¨para fora¨. Alguém para um
outro, com abertura e dinâmica própria que faz com que ele
não fique preso somente no seu mundo, que faz com que o
mundo dele não se torne o único mundo possível de se habitar,
ao contrário, é um homem que percebe que fechar em si
mesmo é adoecedor e desesperador e sair de si mesmo e se
entregar a algo ou alguém é libertador e nos humaniza.
 Viktor Frankl: compara a dinâmica do homem com a de um
olho. O olho não foi projetado, pensado para ver a si mesmo. Vê
a realidade além dele, ex sistere, ser para fora. É tão verdade
que quando começa a ver a si mesmo (catarata), ele adoeceu.
Na catarata o olho com a membrana, começa a enxergar a si
mesmo. Assim é o homem. Quando nos vemos muito nas nossas
ações (quando a gente cria como o que, é como se
formássemos essa membrana, fechados nesta psicodinâmica,
partindo de impulsos e buscando a satisfação, adoecemos,
ficamos podres. Precisamos de alguém a nos colocar no
caminho existencial o qual somos chamados a viver.
 Exemplo do bumerangue. É um instrumento de caça (apesar de
usarmos para brincar), você o joga mirando na presa ou na
fruta. Se ele acertar o alvo, ele não volta. Se volta para quem o
lançou é porque errou o objetivo. A vida é assim, temos que a
jogar e se ela voltar para nós é porque erramos o alvo. Se
ficarmos nessa saída e retorno de nós mesmos, estamos errando
a caça. Vamos morrer famintos, sem ter o que assar, comer,
saciar. Algo que vá ao encontro dos nossos desejos reais.
 A nossa vida é para ser lançada. Gasta e pousar em outrem. E
lá ficar, se consumir. Lá, não cá. Isso é o ser existencial, nossa
capacidade de nos posicionar diante da vida.
 03 pilares, colunas da Logoterapia:

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1. A liberdade de vontade. Opõe-se a um


pandeterminismo, um determinismo absoluto. Não é
liberdade ¨de¨, mas liberdade ¨para¨. Não livres de
alguma condição específica mas para nos
posicionarmos e tomarmos uma atitude diante delas.
2. A vontade de sentido. O homem não só é livre para se
opor e se posicionar diante de seus condicionamentos,
como a sua vontade é endereçada não é para satisfazer
o seu ego, não é ter poder. A motivação principal é
descobrir um sentido na sua vida. A vontade de poder e
de prazer marcam muito menos o homem que a
vontade de sentido. Não somos tão instintivos: o animal
come a carne crua, o homem gourmetiza a carne.
3. Sentido da vida. A vida tem um sentido incondicional
que não se perde diante de nenhuma circunstância.
Nem diante da morte, nem diante de um sofrimento,
nem tragédia, nem diagnóstico de uma doença fatal.
Sentido incondicional.
 Ou seja, o homem é livre para se posicionar, sua grande
motivação é buscar um sentido para a vida e a vida tem um
sentido incondicional que não depende de nenhuma
circunstância.
 Traz a história de Pinóquio. Um pedaço de madeira que o
Gepeto encontrou e talhou as feições de um menino. Solitário o
Gepeto, pede para a estrela transformar a madeira num menino
de verdade. A fada realiza o desejo. O pedaço de madeira é
tocado pela graça que diz que se ele quiser se tornar um menino
de verdade, deve provar que é capaz de ser generoso, sincero
e valente. Só dependia do Pinóquio provar. E uma segunda
condição: ouvir a consciência para saber escolher entre o certo
e errado. E começa a aventura do Pinóquio, de madeira, um
vegetal, com liberdade que precisa ser usada como
responsabilidade. Não mais condicionado a ser inerte e movido
por cordões.
 A ideia inicial é um elemento vegetal livre de seus determinismos,
estado fadado a inércia com a liberdade. Mas a liberdade
(quase dimensão espiritual) ainda não lhe faz pessoa num
estado pleno. Não é um menino de verdade só por ter
liberdade. Já pode se locomover, se posicionar, julgar pela

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consciência. Mas para ser menino de verdade precisa ser


responsável, viver a dinâmica da existência. Pinóquio dança,
ganha o grilo falante como consciência. E a perdição começa
a se dar. Fica ruim na escola, Gepeto investe tudo no processo
educacional e a desgraça começa a acontecer. No caminho
da escola encontra João Honesto, uma raposa e propõe vida
fácil de poder e de prazer. Se tornar uma atração, se mexe
como marionete, vamos fazer dinheiro, fama, ilha dos prazeres
onde as crianças se divertem por toda uma vida. O grilo falante,
a consciência o acusa. Mas ele segue para a vida fácil e
começa de madeira que era, inerte, com a liberdade usada
como arbitrariedade, começa a se tornar um asno, um burro e
com as crianças que também usavam mal sua liberdade,
começam a relinchar, a andar de quatro. Posicionou-se mal e
não se tornava um menino de verdade mas uma dimensão
abaixo da pessoa humana, que é a dimensão animal, onde fica
preso. Começa a mudar quando percebe o mal que fez a si
mesmo e principalmente ao pai, que ao o procurar no mar
agitado é engolido por uma baleia. Pinóquio decide-se buscar
o pai e se lança nas aguas turbulentas para também ser
engolido ou resgatar o pai. Se arrisca, dá a vida pelo pai. É
também engolido e começa a ser valente (se coloca em risco)
e generoso (dilatando o coração por algo que valha) dentro da
baleia, sincero (fala a verdade) o nariz já não cresce, fala a
verdade para o pai, que o enganou e pede perdão. Começa
a nascer dinâmica humana de liberdade e existência, de
responsabilidade. E quando serve, ama, é valente, generoso e
sincero e aí o Pinóquio é pessoa humana, menino de verdade.
 Quando aquela criatura se percebe única e inquebrantável, in-
somável, livre, ser novo e também responsável, a existência se
dá, o tornar-se pessoa acontece. Se liberta dos fios que o
amarram, deixa de ser fantoche que sapateia, só um boneco
que não responde por seus atos e começa a responder a partir
de realização de virtudes e busca de sentido na vida, a
existência brilha e se torna menino de verdade.
 Para nos tornarmos de verdade precisamos urgentemente
lembrar que nossa liberdade é uma liberdade para a
responsabilidade.

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 Viktor Frankl no Livro ¨sede de sentido¨, página 48: se dissermos a


um jovem que ele é só um produto de determinadas
circunstâncias internas e externas (como um fantoche), ele
deixará de ser responsável. Se vendermos essa ideia que são
fantoches do biopsíquico, se suicidarão porque a existência fica
trágica, não se dá e viver é um fardo.
 Os 3 movimentos que acompanham essa angústia, a tríade
trágica negativa:
1. Adição
2. Agressividade
3. Suicídio
 Frankl: Um jovem induzido a pensar dessa forma, com
mentalidade pandeterminista, abre mão de sua
responsabilidade. E eu o dou toda razão se o faz o que bem
entende (agressividade, adição, suicídio), caminha ao sabor do
vento já que não é responsável por nada. É desumanizar, tirar o
que temos de mais belo.
 Agora é claro que nossa liberdade é para a responsabilidade.
Vitimismo e determinismo precisa de fato nos deixar, não
podemos aceitar, temos que desvencilhar.
 Nosso chamado é para nos tornarmos homens de verdade, na
plenitude de viver, sinceros, valentes e generosos.
 O sentido da vida é a própria vida.

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Aula 06

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
6. La persona es yoica, o sea, no 6. A pessoa é egóica (sujeito), ou seja,
responde al «ello», no se halla bajo la não responde a “id”, não está sob os
ditadura del «ello», una dictadura en ditames do “id”, uma ditadura que
que Freud pudo haber pensado cuando Freud poderia ter pensado quando
afirmó que el «yo» no era amo en su afirmou que o “eu” não era um dono em
propia casa. Las persona, el «yo» no se sua própria casa. A pessoa, o “eu” não
puede derivar del «ello» por lo pode ser derivada de um “id” pelo
instintivo, ni dinámica ni genéticamente; instinto, nem dinâmica nem
el concepto del «yo» instintivo hay que geneticamente; o conceito do “eu”
rechazarlo por ser completamente instintivo deve ser rejeitado por ser
contradictorio. Con todo, la persona — completamente contraditório. No
también ella— es asimismo inconsciente entanto, a pessoal – também ela – está
y precisamente, es allí donde tiene sus inconsciente e precisamente, está ali
raíces lo espiritual. En su fuente, es no onde o espiritual tem suas raízes. Na sua
sólo facultativa sino obligadamente origem, não é só opcional, mas
inconsciente. En el origen, necessariamente inconsciente.
fundamentalmente el espíritu es Originalmente, o espírito é
irreflejo y por eso, ejecución puramente fundamentalmente não refletido e, por
inconsciente. isto, execução puramente inconsciente.

Así que debemos distinguir muy Portanto devemos distinguir muito


cuidadosamente entre el inconsciente cuidadosamente entre o inconsciente
instintivo, el mismo con que el instintivo, o mesmo que a psicanalise
psicoanálisis tiene que ver, y el tem a ver, e o inconsciente espiritual. O
inconsciente espiritual. Al inconsciente inconsciente espiritual preocupa-se com
espiritual le concierne la fe inconsciente, a fé inconsciente, com a religiosidade
la religiosidad inconsciente, como innata inconsciente, com uma relação
relación inconsciente, y a menudo inconsciente inata e muitas vezes
reprimida, del hombre con la reprimida, do homem com a
trascendencia. Es mérito de C. G. Jung transcendência. É mérito de C.G.Jung
haberla aclarado; sin embargo, el error tê-lo esclarecido. No entanto, cometeu
que cometió consistió en localizar esta o erro de localizar essa religiosidade

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religiosidad inconsciente donde se inconsciente onde se localiza a


localiza la sexualidad inconsciente: es sexualidade inconsciente: isto é, no
decir en el inconsciente instintivo, en el inconsciente instintivo, no “id”. Mas a fé
«ello». Pero a la fe en Dios y a Dios em Deus e no próprio Deus não é
mismo no se me arrastra, sino que yo arrastada, senão que devo me decidir
debo decidirme por Él o contra Él; la por Ele ou contra Ele. A religiosidade é
religiosidad es del «yo», o no existe en do “eu”, ou absolutamente não existe.
absoluto.

A Sexta Tese: A Pessoa Humana é um Sujeito (Egóico)

 No Livro ¨La voluntad de sentido¨ o Viktor Frankl nem sempre


nomeia as teses. Esses títulos tem sido dados pelo Luis, o Viktor
Frankl explica em algumas linhas a centralidade da tese
específica mas não dá exatamente o título.
 A pessoa humana é senhora da sua casa, autora da sua história.
Essa é a ideia central da sexta tese.
 Luis traz alguns conceitos e provocações que não são de Viktor
Frankl mas a título de começarmos a questionar a sexta tese e
nos questionarmos frente as explanações de Viktor Frankl.
o Na questão sintática, o sujeito é o termo com quem o
verbo concorda.
o Sujeito é o termo essencial da oração, que realiza ou
sofre uma ação ou estado. É o termo com o qual o verbo
concorda. O verbo aponta diretamente para o sujeito.
 Con-cor-da vem do latim cor que é coração.
Tem até a expressão do rito antigo tridentino,
católico, ¨sursum corda¨ que significa corações
ao alto. Uma visão mais filosófica do Luis.
o Quando a pessoa está sendo sujeito de sua história, ela
está em concordância com o verbo, com o logos, com
o sentido da sua vida. O sentido da vida e o sujeito se
encontram quando se dá essa realidade de ser pessoa
sendo sujeito, assumindo a autoria.
o Dentro até de uma análise sintática, parece que somos
jogados e provocados a essa análise mais aguda sobre
a nossa ação neste mundo, sobre o logos, sobre o
sentido, sobre o verbo.

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 Quando falamos da pessoa humana como sujeito, nos interpela


a seguinte questão: Quem está vivendo a minha vida? Quem é
o sujeito da minha história? Quem dita as regras, domina,
articula toda a história?
o Corre o risco de o sujeito da minha história não ser eu
mesmo. O sujeito pode ser outro, que não eu. A vida
pode não estar sendo vivida em primeira pessoa, eu que
dito as regras, domino, articulo toda a história.
 Livro de Bronnie Ware, enfermeira australiana especialista em
Cuidados Paliativos: ¨Antes de Partir¨: os cinco principais
arrependimentos que a pessoa tem antes de morrer. O
arrependimento maior, o mais marcado e que surgiu na maioria
dos pacientes: ¨O principal arrependimento é o de não ter tido
coragem de fazer o que realmente queriam e não o que os
outros esperavam que fizessem. ¨
o Não viveram em primeira pessoa, não foram sujeitos da
sua história. Alguém viveu essa vida que não elas.
Entravam em cena em algum momento como
coadjuvantes, atores secundários, no palco da
existência mas o roteiro não estava nas mãos delas.
o As pessoas costumam fazer questionamentos muito
profundos na iminência da morte. Viver para contentar
os outros gera frustração, desespero e arrependimento.
Aqui a necessidade de encontrarmos nossa voz nesta
vida e encontrarmos o verbo que nos chama à ação,
respondermos ao chamado dessa vida e respondermos
por nós mesmos, com autoria, com autoridade, de forma
genuína e autêntica, nós mesmos.
 A ideia da liberdade e da responsabilidade que falávamos na
quarta e quinta tese ganha corpo na sexta tese para entrarmos
num terceiro elemento (falará depois).
 Indica leitura (embora maioria dos Livros em espanhol): ¨Mapa
do homem pessoal¨ - Julian Marias. A pessoa humana é alguém
que questiona-se no que concerne aos porquês e para quês.
 PARA QUE: FUTURO.A pessoa humana consegue
ser futurista e projetista quando tenta responder
os para quê.

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POR QUE: PASSADO. Mas também tem uma


capacidade reflexiva e olhar agudo ao passado
quando busca responder os porquês.
o Diante destes dois polos surge uma tensão interna
advinda da reflexão sobre o próprio passado e o futuro.
E isso dá à pessoa humana um caráter argumentativo. A
vida humana é narrativa. O que o homem faz, faz por
algo e para algo e por isso deve se responsabilizar
constantemente pelos seus atos.
 Conseguimos, como se fossemos um tronco, entender qual a raiz
da nossa história e numa perspectiva de copa, de fruto que nós
temos.
 Se temos essa capacidade de visão, vida com caráter
argumentativo, tornado uma narrativa, um drama, é a própria
pessoa humana que deve responsabilizar-se por tudo que ela
faz, e mais ninguém.
o Ninguém pode interditar a pessoa ou negar a própria
responsabilidade.
 Luis se lembra de sua avó, descendente de italianos, tentava
reproduzir umas frases em italiano, até com certo destempero:
ela batia na mesa e dizia ¨ io comando qui¨, como dizendo: ¨eu
mando aqui! ¨ Na minha vida, na minha história, no meu
chamado, seu eu quem mando.
 Eu posso fazer o que eu quero, mas entre o querer e o dever, eu
devo ficar com o dever. Mas posso inclusive fazer o que quero
silenciando e calando o meu dever mas em última instância sou
eu que escolho.
o Sou livre até mesmo para fazer um movimento de ceder
minha liberdade.
o Não temos que dizer isso para ninguém, não precisamos
a todo custo ganhar. Não precisamos brigar. É quando
estamos diante de nós mesmos, nos confrontando com
nossa história, destino, realizar valores, na iminência de
retificar ou ratificar a vida, fazer tragédia virar triunfo ou
não. Nesse momento de confronto e decisão precisamos
dizer que nós que comandamos aqui!
 Se não sou eu quem tomo as decisões, quem as toma por mim?
O que eu consigo reter da minha biografia?

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 Se eu me desonerar da minha responsabilidade, o que me


resta?
o Me rebaixo ao subumano. A vida se torna trágica,
animalesca.
 Frankl x Freud. Frankl reconhecia e admirava Freud, porém deu
um passo além na visão da pessoa humana. Frankl ¨compra
uma briga¨ com Freud quando fala que a pessoa humana é um
sujeito.
o Frankl achava Freud um gigante, não subestimava.
Achava a proposta reducionista e limitada, que fazia
uma escavação muito grande da pessoa humana e não
construía nada no lugar mas ele mesmo dizia que Freud
foi um gigante e que perto dele era um anão de
baixíssima estatura mas que subira no ombro do gigante
e um anão, no ombro de um gigante consegue ver além
que o próprio gigante vê. Capacidade estreita de ver a
pessoa humana, recorte que priva o que torna a pessoa
única e exclusivamente pessoa humana.
 ¨A pessoa humana é sujeito, ou seja, não responde ao Id.” Frankl,
¨La Voluntad de Sentido¨. Não está sob a ditadura do Id, quando
Freud afirma que ¨O ego não é senhor na sua própria casa”.
 A grosso modo, o Freud desenhou o aparelho psíquico e
desenvolvimento da personalidade humana em 3 dimensões: Id,
Ego e Superego.
 Não entrando profundamente na psicanálise, sendo superficial
e simplista:
o ID: impulsos, desejos. Primitivo. Não tem noção de
moralidade, ética. Nível muito inconsciente da pessoa.
Traduzindo porcamente seria ¨isto¨.
o EGO: interface consciente e inconsciente. O ego,
traduzindo, seria ¨eu¨. O ego é essa dimensão do eu,
ideia do sujeito, uma pessoa egóica. Fica recebendo
exigências do Id e tenta frente a ele agir de modo mais
moral, colocando-se em sociedade, não sendo tão
primitivo, tempestuoso, mineral.
o SUPEREGO: contrabalanceia o Id. É
como o diabinho (Id) e o anjinho
(Superego). Caminhos moralmente mais
aceitos e o Ego toma a decisão.

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Transcrição/Resumo livre 48
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 Quando Freud fala do Id e do Ego, fala que existe o sujeito mas


que ele não manda. O Ego ¨tá perdidinho¨,
come na mão do ID, não sabe o que faz. O
Ego ¨não é senhor na sua própria casa¨.
Quem manda é o Id, domina
sorrateiramente o Ego. O ¨eu¨, a consciência
é somente a ponta do iceberg, a parte que
podemos ver e o que vejo é ínfimo em
comparação com o que não vejo, o que
está submerso, embaixo da água, tem
densidade e amplitude muito maior do que
aquilo que se revela, o inconsciente. O Ego
é só a ponta do iceberg.
 Por isso que o movimento psicanalítico é o
movimento da catarse, da associação livre, tentativa de através
de atos falhos, hipnose, por questões simbólicas vai trazendo o
inconsciente para o consciente, mas são sempre fagulhas, muito
pouco em relação ao todo, sempre terá algo muito maior que
nos domina, que nos sujeita, que faz com que nós não sejamos
donos da nossa própria casa. Freud é chamado de o grande
arqueólogo da psicanálise, da escavação.
 Quando Frankl fala que a pessoa humana é sujeito, egóico, dá
uma cutucada no Freud. O Ego quer, só que o Id o impulsiona
(Freud). Mas Viktor Frankl completa que o Ego nunca é
totalmente impulsionado. Não nega o desenho de aparelho
psíquico do Freud.
 Frankl em ¨Psicoterapia e sentido da vida¨, página 131: usa o
¨velejar¨ como metáfora para explicar a realidade do sujeito de
Id, Ego e Superego: “A arte de velejar não é simplesmente deixar
o bote correr ao sabor do vento que o impulsiona. A arte de
velejar, começa antes, pelo contrário, precisamente quando se
está em condições de imprimir a força do vento à direção
desejada. Podendo-se inclusive dirigir a embarcação contra o
vento.” Não é deixar correr ao sabor do vento mas fazer do
vento o que você bem deseja, usar do vento. O Ego é o
velejador, chega aonde bem deseja e o vento o ajuda para o
bem ou para o mal.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 49
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o A pessoa humana é esse ser que sabe velejar, liberdade


e responsabilidade que abre para uma nova dimensão
em nosso curso que é a realidade do DESTINO.
 Como no conto ¨Alice no País das Maravilhas¨, o gato pergunta
a Alice para onde ela vai e ela responde que não sabe para
onde vai e o gato responde: “para quem não sabe para onde
vai, qualquer caminho serve.”
o O problema do “deixa a vida me levar” é que qualquer
caminho é caminho nenhum, qualquer caminho é
caminho de fuga, qualquer caminho pode ser uma vida
trágica, qualquer caminho me tira da liberdade de viver
em primeira pessoa e no leito de morte a minha grande
tristeza, arrependimento será o de ter vivido a vida como
coadjuvante e não como ator principal.
 ¨ A liberdade, no entanto, não é última palavra. Não é mais que
parte da história e metade da verdade. Liberdade é apenas o
aspecto negativo do fenômeno integral cujo aspecto positivo é
responsabilidade. Na verdade, a liberdade está em perigo de
degenerar, transformando-se em mera arbitrariedade, a menos
que seja vivida em termos de responsabilidade. ¨ (Viktor Frankl).
o A liberdade e a responsabilidade se exigem
mutuamente.
o E o destino? Tem coisas que não podem ser mudadas.
Sem o elemento do destino corre o risco de
interpretarmos o ser humano como onipotência, quase
um Deus, reina em tudo, absoluto, quase onisciente,
onipresente e onipotente.
o Aí vem a realidade do destino que nos coloca diante da
construção da nossa vida como sujeito.
 A realidade do destino: tudo que escapa essencialmente à
liberdade do homem. Psicoterapia e sentido da vida, página
123.
 “Chamamos de destino precisamente a tudo aquilo que escapa
essencialmente à liberdade do homem. E que não fica sob seu
poder nem sob a sua responsabilidade.” (Viktor Frankl)
o Aquilo pelo qual não podemos nos responsabilizar e
escapa da nossa liberdade, da nossa tomada de
decisão, que simplesmente nos acomete, chamamos de
destino.

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Transcrição/Resumo livre 50
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 “A vida do homem é uma eterna luta que se dá entre liberdade


e destino.” (Frankl)
 Quando falamos de destino, basicamente falamos de 3 pontos,
3 grandes destinos:
1. Destino Biológico (constituição física, genética,
temperamentos). Nossas condições, fisiologia, genética.
Temperamento, por exemplo, é a personalidade de
base que está em nosso destino.
2. Destino Psicológico (complexos, transtornos ou
predisposição a). Por exemplo, os nossos impulsos. Tudo
aquilo que vivemos, que nos acomete a nível
psicológico, realidades que vivemos, inconsciente que
herdamos já com vivências, experiências até mesmo dos
nossos antepassados. Um gene, predisposição a uma
esquizofrenia.
3. Destino Sociológico (lugar, raça, cultura). Lugar que
nasci, língua, raça, cultura, família.
 Viktor Frankl: O destino nos é dado de duas formas: as
disposições (nossa configuração psicossomática – dimensão
biológica e anímica) e as condições (a totalidade das concretas
situações externas, como o destino sociológico).
DISPOSIÇÃO + CONDIÇÃO = POSIÇÃO
o A posição que assumo, o meu lugar de ¨estar¨ neste
mundo é esse somatório do meu destino biológico e
sociológico (disposição) mais a condição enquanto
totalidade das situações externas nas quais estou.
 Aqui volta a liberdade e a responsabilidade. É diante da posição
que o homem pode escolher a atitude que iremos ter. (Viktor
Frankl)
 Nós somos determinados e indeterminados.
o Determinados porque temos o destino
o Indeterminados porque uma vez que isso nos dá posição,
a atitude que eu tomo me leva a romper com os grilhões
da determinação absoluta.
 Independentemente do que nos é imposto, nós nos
posicionamos.
o Para os animais, a facticidade os determina. Para o
homem há sempre um posicionamento frente a
facticidade.

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Transcrição/Resumo livre 51
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 “Com efeito, quem se considera marcado pelo seu destino


torna-se incapaz de vencê-lo.” Frankl (atitude fatalista). Livro
Psicoterapia e sentido da vida.
o Já me apequenei, minguei minhas forças, está escrito
nas estrelas
o Liberdade sem destino é impossível.
 ¨O destino pertence ao homem como o chão a que o agarra a
força da gravidade, sem o qual seria impossível caminhar. Temos
que comportarmo-nos em relação ao destino como em relação
ao chão que nós pisamos.” Frankl (Psicoterapia e Sentido da
Vida, página 120), pra onde eu vou, a velocidade que vou, só
depende de mim. O chão serve de ponto de apoio, inclusive
para saltar - diz Viktor Frankl.
o E esse salto é o salto da liberdade, quando eu uso o
chão como uma contra resistência, eu consigo inclusive
saltar sem negar o chão. Esse pulo é de liberdade!
 “A cada passo que eu dou, eu deixo um pouco de chão para
trás.” (Viktor Frankl) ¨Superamos e transcendemos o chão a cada
passo. ¨
o O chão não nos torna coisa, não nos freia, não nos puxa
para baixo, muito pelo contrário, ao superá-lo e ao
transcende-lo eu assumo a minha posição neste mundo.
 “Se quiséssemos definir o homem, teríamos que caracterizá-lo
como o ser que se vai libertando daquilo que o determina,
enquanto tipo determinado biologicamente, psicologicamente
e sociologicamente; quer dizer, como o ser que transcende
todas estas determinações, dominando-as ou configurando-as”.
(Frankl)
o Diante das determinações, podemos assumir duas
atitudes: eu posso superá-las ou configurá-las. Eu só não
posso negá-las. Se eu as nego, entro num movimento
que Frankl chama de fatalismo neurótico, fuga da
responsabilidade.
 Fatalismo neurótico: Síndrome de Gabriela. Fuga da superação
ou configuração do nosso destino. É como se a pessoa se
reduzisse às suas disposições e condições. Exemplos:
o Negação: Viktor Frankl na página 132 do Psicoterapia e
sentido da vida, uma paciente que havia tentado
suicídio. Foi para o hospital e foi medicada e gritava aos

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berros: ¨Mas que querem de mim? O que eu sou? Sou


precisamente aquilo que diz Alfred Adler, uma filha única
típica. ¨, como se o interessante não fosse libertar-se
daquilo que precisamente uma pessoa tem de típico.
 Como se filha única fosse necessariamente
destemperada, amargurada. Claro que vou
tentar suicídio, como se meu destino sociológico
me leva inevitavelmente ao suicídio para chamar
atenção, afronta de existência. Fatalismo
neurótico, como se fosse nada mais que isso.
o Superação: caso de esquizofrenia, destino psicológico.
Escutava muitas vozes, delírios auditivos. Num dado
momento o paciente tomou consciência da sua
configuração psicossomática, da sua disposição e
condição, entendeu qual a sua posição neste mundo e
tomou uma atitude diante da posição. Voltou a andar e
sorrir de forma leve e ordenada e dizia que ao fim e ao
cabo, sempre é muito melhor ouvir o que eu escuto do
que ser surda como uma porta!
 Fazer as pazes com a doença torna a pessoa
livre, tira-a da posição de refém. Se configurar a
isso tudo mas de forma livre, sem fatalismo
neurótico. Tem um elemento de superação e
humor. A paciente ao invés de negar, supera e
configura o destino psicológico para ela. E dá
risada!
 Não é questão de negar as disposições e condições negativas,
mas de assumir uma atitude positiva perante elas.
 Uma vez que algo me dá posição, lugar no mundo, isso aponta
para minha unicidade e irrepetibilidade, ninguém tem a minha
posição. E diante desta posição, eu assumo uma atitude.
 ¨O ser humano não é uma coisa entre outras coisas, coisas se
determinam mutuamente, mas o ser humano, em última análise,
se determina a si mesmo. Aquilo que ele se torna - dentro dos
limites dos seus dons e do meio ambiente - é ele que faz de si
mesmo.” (Frankl, página155, Livro ¨Em busca de sentido¨).
o Nos campos de concentração, por exemplo, nestes
laboratórios vivos e campos de testes que observamos e
testemunhamos alguns de nossos companheiros se

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comportando como porcos, ao passo que outros agiram


como se fossem santos. O ser humano dentro de si tem
ambas as potencialidades. Qual será concretizada?
Depende de decisões, não de condições. Nossa
geração é realista porque chegamos a conhecer o ser
humano como ele é de fato, afinal, ele é aquele que
inventou a câmara de gás mas é também aquele que
entrou naquelas câmaras de cabeça erguida tendo nos
lábios um Pai Nosso ou um Shemá Israel. O destino
sociológico era o mesmo!
 Fatalismo: O rei leão - foge do passado, da própria história, deixa
o inimigo dominar.
o Encontra Timão e Pumba
(fuga, ¨Hakuna Matata¨, (sem
problemas, carpe diem, take it
easy, fatalismo neurótico).
Começa a definhar. Um leão
que se torna vegano!
o Voz do pai: ouça sua voz
interior. Lembra-te de quem tú
és. Mas entre a voz do pai e do
tolo Timão, ele ouviu o Timão.
o Chega a desfigurar seu
destino biológico, era leão,
linhagem real, nasceu para
reinar. Destino psicológico era
carregar a perda do pai e a traição do tio. Desde o início
consagrado para ser rei. Escolhe o fatalismo neurótico.
 Mudar é bom. O passado dói, mas se pode fugir ou se pode
aprender. Aí ocorre uma virada na vida do Simba.
 Tomar uma atitude e tornar-se sujeito. Tornar-se aquilo que só tu
podes ser.
 De nada vale ter todas as características da pessoa humana,
dotada de todas as suas faculdades e não ser o sujeito, o autor
da própria vida. Se não eu, então quem?
 Vocação: chamado para a ação.

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Aula 07

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
7. La persona no es sólo unidad y 7. A pessoa não é somente unidade e
totalidad en sí misma (ver las tesis 1 y totalidade em si mesma (veja as teses 1
2), sino que la persona brinda unidad y e 2), mas a pessoa brinda a unidade e
totalidad: ella presenta la unidad físico- totalidade: ela mostra a unidade físico-
psíquico-espiritual y la totalidad psíquica-espiritual e a totalidade
representada por la criatura «hombre». representada pela criatura “homem”.
Esta unidad y esta totalidad sólo será Esta unidade e esta totalidade só serão
brindada, fundada y dispensada por la fornecidas, fundadas e dispensadas pela
persona; se constituye, se funda y pessoa; se constitui, se funda e se
garantiza solamente por la persona. garante apenas pela pessoa. Nós,
Nosotros, los hombres, conocemos a la homens, conhecemos a pessoa
persona espiritual sólo en coexistencia espiritual apenas em coexistência com
con su organismo psicofísico. El hombre, seu organismo psicofísico. O homem,
entonces, representa un punto de então, representa um ponto de
interacción, un cruce de tres niveles de interação, um cruzamento de três níveis
existência [50]: lo físico, lo psíquico, y lo de existência [50]: o físico, o psíquico e
espiritual, pues es unidad o totalidad, o espiritual, uma vez que é unidade ou
pero dentro de esta unidad y totalidad, totalidade, mas dentro dessa unidade e
lo espiritual del hombre se contrapone a totalidade, o espiritual do homem se
lo físico y lo psíquico. Precisamente en contrapõe ao físico e ao psíquico. Isto é
esto consiste lo que uma vez llamé exatamente o que eu certa vez chamei
antagonismo noo-psíquico. Mientras de antagonismo noo-psíquico.
que el paralelismo psicofísico es Enquanto o paralelismo psicofísico é
obligado, el antagonismo noo-psíquico obrigado, o antagonismo noo-psíquico é
es facultativo: es siempre sólo uma facultativo: é sempre apenas uma
posibilidad, simple poder; por supuesto possibilidade, poder simples; é claro, um
un poder al que siempre hay que volver poder que sempre se vai voltar a apelar,
a apelar, y es el médico quien debe e é o médico que deve apelar:
apelar: siempre de nuevo se trata de novamente se trata de apelar ao “poder
apelar al «poder de resistencia del de resistência do espírito”, como eu o
espíritu», como lo he designado, contra designei, contra a – apenas
la —sólo aparentemente— poderosa aparentemente – poderosa psicofisis.

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psicofisis. Justamente, la psicoterapia no Justamente, a psicoterapia não deve


debe desoír esta llamada, lo he ignorar este chamado, que denominei
denominado el segundo credo, el credo de segundo credo, o credo
psicoterapéutico: la fe en esta capacidad psicoterapêutico: a fé nesta capacidade
del espíritu del hombre, bajo cualquier do espírito do homem, debaixo de
circunstancia y condiciones, de qualquer circunstância e condição, de
desapegarse de lo psicofísico y ubicarse desapegar-se do psicofísico e se colocar
a una distancia fecunda. Si no valiera la numa distância fecunda. Se não valesse
pena —de acuerdo con el primer credo, a pena – de acordo com o primeiro
el psiquiátrico—«reparar» el organismo credo, o psiquiátrico – “reparar” o
psicofísico, por no ser una persona organismo psicofísico, por não ser uma
integramente espiritual la que, a pesar pessoa integralmente espiritual a que,
de su enfermedad, espera recuperarse, apesar de sua doença, espera se
entonces nosotros —de acuerdo con el recuperar, então nós – de acordo com o
segundo credo— no estaríamos en segundo credo – não estaríamos em
condiciones de apelar a lo espiritual en condição de apelar ao espiritual no
el hombre para que ofrezca su poder de homem para que ofereça seu poder de
resistencia a lo psicofísico, pues no se resistência ao psicofísico, uma vez que
daría el antagonismo noo-psíquico. não haveria antagonismo noo-psíquico.

NOTAS: NOTAS:
[50] Así como se habla de niveles, [50] Assim como se fala em níveis,
también podría hablarse de também poderia se falar de dimensões.
dimensiones. Por cuanto la dimensión Porque a dimensão espiritual pertence
espiritual pertenece sólo al hombre, es somente ao homem, é a verdadeira
la verdadera dimensión de la existencia dimensão da existência humana. Se se
humana. Si se proyecta al hombre desde projeta ao homem desde o âmbito
el ámbito espiritual, que les corresponde espiritual, ao que lhe corresponde
naturalmente, al plano de lo meramente naturalmente, ao plano do meramente
psíquico o físico, se sacrifica no sólo una psíquico e físico, se sacrifica não só uma
dimensión, sino justamente la dimensão, mas precisamente a
dimensión humana. Cf. Paracelso: «Sólo dimensão humana. Cf. Paracelso:
lo elevado del hombre es el hombre». “Somente o mais elevado do homem é o
homem”.

A Sétima Tese: A Pessoa Humana Brinda Unidade e Totalidade

 As próximas três aulas: a pessoa humana é dinâmica, a pessoa


humana não é animal e a pessoa humana é transcendente.

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o Vamos entrar um pouco na dinâmica da pessoa


humana e naquilo que é o especificamente humano, um
tema caríssimo para Viktor Frankl, que é a questão da
transcendência, da autotranscendência.
 Mas Viktor Frankl nessa sétima tese vem costurando as outras
teses, principalmente as duas primeiras como que mostrando
pela repetição, insistência, o tanto que esse tema lhe é caro,
como ele faz questão de, antes de mais nada, antes de sair da
questão da antropologia e avançar para prática clínica, para a
prática psiquiátrica, faz questão de deixar claro as dimensões
constitutivas da pessoa humana e o que nos faz de fato pessoa.
 Então nessa sétima ele basicamente faz uma citação no que
concerne a primeira e a segunda tese. Primeira: a pessoa
humana é um indivíduo e na segunda tese a pessoa humana in-
somável. Aqui ele nos coloca diante de um cenário muito
interessante: a pessoa humana não é só indivíduo e in-somável,
é totalidade nas suas dimensões. Ela é Unidade.
o Unidade não só unidade de indivíduo indiviso, de algo
que não pode ser quebrado, inquebrantável. Não só por
isso. Ela é unidade na sua multiplicidade, a pessoa
humana mesmo se apresenta, quando diante da
multiplicidade das suas dimensões, ela se dá numa
unidade ontológica.
 Para falar disso Viktor Frankl usa com muita propriedade a visão
de São Tomás de Aquino quando diz da imagem do homem,
daquilo que ele diz ser o imago hominis, usa a expressão unita
multiplex, esse termo em latim que quer dizer unidade na
multiplicidade.
 O homem é unidade na multiplicidade, essa unidade apesar da
multiplicidade. Não nego que é uma multiplicidade na pessoa
humana, que é uma multiplicidade de dimensões que o
constituem, mas ele o é não simplesmente essa multiplicidade,
mas a unidade de todas elas: unita multiplex.
o Esse é um termo que nós podemos repetir e repetir, fazer
ventilar o que isso vai nos lembrando: o que é a pessoa
humana nesse desenho antropológico, nessa proposta
filosófica do nosso queridíssimo Viktor Emil Frankl.
 Livro ¨Psicoterapia e sentido da vida¨, página 41, o Livro por
excelência do logoterapeuta para o estudo da Logoterapia. Ele

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diz: ¨Não preciso que ninguém me chame a atenção para a


condicionalidade do homem...¨ - condicionalidade: a pessoa
humana ela tem essas condições, destino, algumas situações
que oferecem para o homem uma condição. Não o
determinam mas o condicionam ¨... afinal de contas, eu sou
especialista em duas matérias: Neurologia e Psiquiatria e, nessa
qualidade sei muito bem da condicionalidade biopsíquica do
homem. Acontece, porém, que não sou apenas especialista em
duas matérias, mas sou também sobrevivente de quatro
campos de concentração e por isso também sei perfeitamente
até onde vai a liberdade do homem, que é capaz de se elevar
acima de sua condicionalidade, de resistir às mais rigorosas e
duras condições e circunstâncias, escorando-se naquelas forças
que costumo denominar o poder de resistência do espírito. ¨
(Frankl)
o Esse é um tema muito caro para o Viktor Frankl, a
resistência do espírito, o poder de resistência do espírito!
Ele deixa muito claro que existe esse antagonismo
psiconoético: o homem consegue diante de um destino
que lhe dá a posição, tomar uma atitude.
o Dentro da psiquiatria temos as condições, situações que
determinam a dinâmica psíquica da pessoa humana.
No campo da Neurologia há afetações neurológicas a
nível biológico que comprometem a pessoa, que tira
dela algumas capacidades, algumas percepções. Mas
fora isso, eu sou sobrevivente de quatro campos de
concentração e é por isso que eu sei também até onde
vai a liberdade do homem, do que ele é capaz! Ele é
capaz de elevar acima de todas as condicionalidades,
mesmo as mais duras e rigorosas, por causa desse poder
de resistência do espírito!
 Nessa tese, Viktor Frankl quer falar da unidade da pessoa
humana, apesar da multiplicidade.
 A sétima tese é, pegando o termo espanhol, sétima tese: a
pessoa humana brinda a unidade, ou seja, o ¨ser pessoa¨ nos
fornece a condição de sermos não só indivíduos, mas uma
realidade única que não pode ou não deveria ser fragmentada,
separada, sofrer recortes que nos reduzem a parte menores.

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 Frankl nos dá a ideia do imago hominis, imagem do homem.


Ainda usando o termo latino para explicar essa ONTOLOGIA
DIMENSIONAL, Frankl usa o ordine geometrico demonstrata,
através de desenhos da geometria Frankl tenta clarear aquilo
que é a imagem do homem, que dá para ser caracterizada a
partir de duas leis:
 Primeira Lei da Ontologia Dimensional de Viktor Frankl.
 Peguemos um cilindro ou então um copo
e vamos projetar na sua bidimensionalidade
que é o modo como a pessoa humana é vista,
projetar a pessoa nessa tela chapada para
partir da projeção acerca daquilo que vemos
da pessoa humana estudar, explicar os seus
contornos, os seus limites, enfim. Projetar tanto
no âmbito vertical quanto no horizontal.
o Começando pelo vertical: se nós lançarmos uma
Projeção de cilindro na sua dimensão mais baixa, na
verticalidade de cilindro a imagem que se projeta no
chão é um círculo. O cilindro ele tem algo de
círculo, isso é inegável.
o No campo horizontal, ainda nessa
bidimensionalidade, o que aparecerá na
parede ao lado, o que se projetará na parede
se nós analisarmos, será um retângulo ou um
quadrado a depender do cilindro. O cilindro
tem algo de quadrado.
 O cilindro é um quadrado mais um círculo,
essa equação? Nós estamos falando do
cilindro? Claro que não. Isso pode causar
algumas confusões, aqui temos uma
incongruência. O cilindro tem algo de
retangular ou quadrado e algo de circular.
Mas quadrado e círculo são realidades distintas.
o Na ciência, se estudarmos o homem sobre um único
aspecto, por exemplo aspecto biológico, projetamos a
imagem do homem nessa dimensão mais baixa, por
exemplo numa dimensão vertical, extraímos um círculo
(que pode representar a dimensão biológica). Quando
falamos do ser humano como um animal, ainda estamos

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Transcrição/Resumo livre 59
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falando do ser humano, tem evidente algo de animal em


nós, em diversos aspectos nós nos assemelhamos com
alguns animais mais com um e menos com outro (a
realidade do instinto, uma psiquê, o animal tem uma
realidade psíquica, de memorização, de
pensamentos...)
 Se a gente joga a luz para tentar entender a outra dimensão, a
horizontal, extraímos da pessoa um quadrado ou retângulo.
Suponhamos que na dimensão vertical temos a dimensão
biológica e na horizontal temos a psicológica. Podemos
comparar a psiquê da pessoa humana com uma máquina, com
um computador com inteligência artificial, que também opera
equações, que também processa, que também produz, que
também oferece resultados. Ela só não tem liberdade.
 De uma planta a um cão, passando por um computador, nós
podemos falar que a pessoa humana tem algo disso tudo, tem
algo de um sistema computacional e de um pé de couve, de
um golfinho...quando nós comparamos o homem com qualquer
dessas coisa estamos falando numa realidade do homem.
 O problema é que não estamos falando da totalidade do
homem. O homem não é só somatório disso tudo.
 Frankl diz que se nós quisermos encontrar o que é a pessoa
humana nós precisamos sair da bidimensionalidade e entrarmos
na tridimensionalidade.
o Quando olhamos tridimensionalmente o cilindro e, entre
outras coisas, identificamos que nele há uma abertura
como há no copo uma abertura e etc. Aquele erro de
pegar a parte e fazer dela um todo, reducionismo.
 Isso nos lembra daquela atitude do avião, que o
avião pode taxiar como um carro mas ele só se
demonstra avião quando ele faz algo que está
para além da capacidade de um automóvel.
 Frankl: É assim o homem, uma vez tornando um homem,
continua a ser de algum modo animal e planta. Isto em nada se
distingue do que ocorre no caso do avião que em qualquer
hipótese não perde a capacidade de se deslocar no chão
como automóvel. Evidentemente, só prova o seu ser de avião
quando decola e se eleva ao espaço. ¨

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Transcrição/Resumo livre 60
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o Só quando ele se bota nessa tridimensionalidade, só


quando ele sai do plano chapado da vida, só quando
ele sai do chão, do rés, só quando ele alça um voo entra,
podemos dizer aqui, nessa tridimensionalidade, é que ele
se mostra naquilo que ele de fato é.
 Eu só posso falar da pessoa humana de modo honesto quando
falo de uma outra dimensão.
 Segunda Lei da Ontologia Dimensional de Viktor Frankl.
 Peguemos três objetos distintos, três
objetos diferentes, de formas geométricas
diferentes: um cilindro e um cone e um círculo
um cilindro, um cone e um círculo.
o Se eu as projetar no mesmo plano, no
plano do chão, plano do rés, as três irão me
dar como resposta a mesma forma
geométrica: vão me dar essa isomorfia, que
vai gerar uma tremenda confusão porque se eu olho só
na projeção da verticalidade de um cilindro, de um
cone e de um círculo, eu não sei distinguir o que é o quê,
os três me dão a as mesmíssimas realidades.
 Peguemos a pessoa humana como sendo esse cilindro.
Pegamos o golfinho e um pé de couve e projetamos luz. Na
verticalidade das três, na comparação do plano biológico, as
três são exatamente a mesma coisa. Primeiro: as três tem
matéria orgânica, são compostas da mesma matéria. Ou seja se
eu quiser analisar só a questão biológica, a questão mais
material, a questão do chão, as três coisas tem princípio de vida,
se relacionam com o ambiente.
o Homem e chimpanzé, no que diz respeito a matéria, no
que diz respeito à dimensão biológica são muito
parecidos. Casar com um gorila ou o seu marido é
exatamente casar-se com a mesma realidade.
o Mas nós nos perdemos porque às vezes as pessoas
começam a fazer comparações nessa realidade
isomórfica e nos causam a impressão de que a pessoa
humana é um bicho.
 Nós precisamos tomar muito cuidado que da mesma forma que
o avião só se mostra avião quando voa, não quando tá
taxiando no solo, embora ele consiga taxiar, a pessoa humana

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só se mostra o que é de fato quando ela alça um voo, quando


ela ama, quando ela realiza valor, quando a dimensão
espiritual, uma das teses, vem criando essa unidade para com
as demais dimensões.
o Na primeira lei quando a figura do cilindro é apresentado
em dimensões diferentes, mais baixas, o que nós temos é
uma inconstância;
o Na segunda lei em que as projeções de diferentes
fenômenos e formas geométricas são também
projetadas em direções mais baixas, o que nós temos é
isomorfia.
 Dá para comparar o homem com todas essas coisas sobre
muitos aspectos. Mas quer você queira ou não, não somos. A
nossa capacidade é muito diferente pois fora as dimensões
biológicas, psicológica e social, temos a dimensão espiritual.
 Comparação da pessoa humana com um
palmito, como se nós tivéssemos essas
camadas. Tem essas três dimensões:
1. A dimensão mais periférica podemos falar
que é a dimensão biológica, do sentido.
Dimensão muito exposta ao que nós
recebemos o mundo, a partir de nossos cinco
sentidos tato, olfato, visão, audição, paladar,
o mundo entra no homem, desse modo nós
vamos percebendo o mundo.
2. Adentrando um pouco mais temos a dimensão periférica,
mas um pouco mais perto do núcleo. Dimensão psicológica:
o nosso aparelho psíquico, memória, afetividade,
sexualidade, pensamentos, Id, Ego, Superego, os complexos,
os traumas... todo esse aparelho psíquico.
3. E temos esse núcleo duro, nós temos esse centro, nós temos
esse lugar de onde partem as ações especificamente
humanas que é essa dimensão espiritual, que é o núcleo da
pessoa humana, que é um modo de ser da pessoa humana,
é o que nos faz pessoa humana.
o Se nós ficarmos também só na dimensão espiritual, nós
caímos no espiritualismo, porque ninguém aqui é anjo,
nós temos um corpo, temos uma matéria. Nós não
conseguimos manifestar a nossa personalidade, nós não

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conseguimos ser no mundo puramente espirituais porque


os instrumentos de manifestação são essas dimensões
biopsíquicas.
 Quando nós somos de fato esse unita multiplex, essa unidade na
multiplicidade? Quando as nossas ações partem dessa
dimensão espiritual, do núcleo do nosso ser, e perpassando
pelas qualidades psicológicas e biológicas se apresentam se
materializam nesse mundo. Neste movimento há a ação de um
homem, de uma pessoa humana.
o Observe que a seta de cima, parte do núcleo, parte da
dimensão espiritual e perpassa pelas outras duas
dimensões. Uma perpassa a outra.
 Frankl fala que o homem é homem, torna-se pessoa humana, se
humaniza de fato, quando ele sai de si mesmo, quando ele vive
essa dinâmica própria da existência, quando ele ama alguém,
quando ele realiza valor, ou seja, quando a nossa motivação
parte do núcleo do nosso ser, da dimensão espiritual, daquele
lugar em que reside a liberdade e a responsabilidade, que é
capacidade de autotranscendência, aí nós estamos agindo por
inteiro, aí nós podemos falar que nós estamos nos tornando uma
personalidade. Não é volúvel, é movida por valor, tem
aspirações mais nobres. Alguém que nós conseguimos ver na
sua totalidade, a pessoa não assusta com as ações dela porque
são as ações esperadas, não ação de uma criança que age
movida pela sua dimensão biológica.
o Se você ligar para o pediatra, ele só vai perguntar das
dimensões biológicas. A criança é muito biológica, não
muito verdadeira. Um dos processos de formação da
criança é estabilizar os seus sentidos. Quer educar bem
uma criança nos primeiros anos de vida, estabiliza os
sentidos: pouco estímulo sonoro, gustativo, visual. Isso
tudo perturba criança e faz com que ela não consiga se
desenvolver porque nesse momento ela tá precisando
entender o que é ela e o que é o mundo.
 Pode ser que nós, infantilmente, de modo muito imaturo, ainda
não nos apresentamos nesse mundo como pessoa. Somos ainda
um adulto infantilizado, um espectro da pessoa humana. Temos
toda a capacidade de ser a pessoa e blindar a nossa unidade,

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Transcrição/Resumo livre 63
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como diz Viktor Frankl nessa tese. Mas ainda estamos muito
preocupados com nosso corpo, quando vamos comer...
o Cristo diz: não vos preocupeis com que vão comer, com
que vão beber, com que vão vestir. São os pagãos que
se preocupam com isso.
 Outras pessoas tem a sua motivação muito a nível psicológico.
Naquele movimento mais psicanalítico, behaviorista, que fica
tentando identificar comportamentos e inclinações, que fica
tentando pegar quais são os impulsos, os complexos. Você está
casando com essa pessoa por uma questão narcísica ou por
uma questão edípica? Essa neurose, fatalismo neurótico, são
motivações muito psíquicas.
 Quando nós percebemos que estamos de fato diante de uma
pessoa humana, quando nós estamos caminhando para esse
processo de humanização? Quando nós nos deparamos ou nos
tornamos alguém que tem as suas motivações advindas,
nascidas lá na dimensão propriamente humana que é a
dimensão espiritual.
o Porque tudo que nasce na dimensão espiritual ela
perpassa ela percorre pelas dimensões biológicas e
psicológicas e se expressa no mundo, e se apresenta ao
mundo, e se materializa agora com substância. Quando
eu estou agindo dessa forma eu estou sendo
propriamente eu mesmo e eu estou caminhando para
me tornar pessoa humana!
 O que nos leva a um caminho de humanização, caminho de
tornar-nos pessoas, torne-se aquilo que só tu pode ser, torna-te
aquilo que deves.Sabe quando você fala: Olha eu estou diante
de um homem inteiro, de uma pessoa inteira? Impressão que eu
estou tocando no núcleo duro dela, parece que quando ela
age, ela tá agindo por inteira, não tem nada nela que parece
estar muito em desacordo, muito fragmentado.
 Frankl diz o seguinte: um indivíduo (está lá no Livro ¨Em busca de
sentido¨, ele vai falar qual é o credo da psiquiatria)
incuravelmente psicótico pode perder sua utilidade, mas
conserva-se a dignidade de um ser humano. E esse é o credo
da psiquiatria. Sem ele para mim não vale a pena ser psiquiatra,
por amor a uma máquina cerebral que está danificada e não
pode ser consertada. Se não fosse categoricamente algo mais

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do que isso, até a própria eutanásia seria justificada, coisa que


Viktor Frankl abomina.
o A pessoa humano não é nada mais do que uma
dimensão psicológica. Então um psicótico, que está com
uma grande afetação e uma grande perturbação, é só
uma máquina a ser consertado. Então ele pode ser
descartado, como se descarta computador.
 A pessoa humana principalmente por ser marcada nessa
tridimensionalidade, que dá esse contorno de unidade na
multiplicidade, que dá essa capacidade especificamente
humana é alguém com dignidade que não pode ser
simplesmente descartado.
 Coloca o vídeo do Nick Vujicik, uma pessoa que tem uma
afetação a nível biológico seríssima, nasceu sem os braços e
sem as pernas. Se pessoa humana é só dimensão biológica, ele
nasceu assim: eutanásia, descarta! Muitos grupos mais primitivos
ainda fazem de descartar uma pessoa do seu grupo caso ele
venha com alguma deformação ao nível psicobiológico porque
eu não tenho essa visão daquilo que é a pessoa humana. E isso
é desumanização.
o A grosso modo dá para entender que a personalidade é
essa unidade na totalidade, é a sétima tese de Viktor, na
unidade e na totalidade que começa a existir uma
personalidade.
 Esse testemunho do Nick é algo que sempre que eu vejo me
comove muito, uma pessoa que consegue agir, deixar a sua
marca, amar, realizar valores, mesmo com limitações severas. E
mesmo assim ele está lá, sendo pessoa, não é menos do que
ninguém. Talvez a falta de membros lhe falte um pouco de
matéria orgânica, falta de algumas funções que são próprias da
pessoa, mas isso não o faz menos pessoa. Pelo contrário, ele é
uma pessoa inteira uma pessoa total, na totalidade dentro da
unidade, unita multiplex. E fora isso, parece que ele é uma
personalidade de fato, uma pessoa que por uma dinâmica
espiritual decidiu configurar-se a seu destino e deixar o seu
legado, e deixar isso como testemunho, e superar os seus limites
e tomar uma atitude.
o Cita também a história do Tony Melendez, bem parecida
com a do Nick.

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Aula 08

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
8. La persona es dinámica: justamente 8. A pessoa é dinâmica: é justamente
por su capacidad de distanciarse y por sua capacidade de distanciar-se e
apartarse de lo psicofísico es que se se separar do psicofísico que o
manifiesta lo espiritual. Por ser dinámica espiritual se manifesta. Por sermos
no debemos hipostasiar a la persona dinâmicos não devemos hipostasiar
espiritual, y por eso no podemos (considerar falsamente como
calificarla de substancia, por lo menos no realidade) a pessoa espiritual, e, por
en el sentido corriente. isto, não se pode qualifica-la como
substância, pelo menos não no sentido
comum.
Existir significa salirse de sí mismo y
enfrentarse consigo mismo, y eso lo hace Existir significa sair de si mesmo e
la persona espiritual en cuanto se enfrentar a si mesmo, e isto é feito pela
enfrente como persona espiritual a sí pessoa espiritual enquanto se enfrente
misma como organismo psicofísico. Sólo como pessoa espiritual, como
este autodistanciamiento de sí mismo organismo psicofísico. Somente este
como organismo psicofísico constituye a auto distanciamento de si mesmo
la persona espiritual como tal, como como organismo psicofísico constitui a
espíritu. Únicamente cuando el hombre pessoa espiritual como tal, como
entabla un diálogo consigo mismo, se espírito. Somente quando o homem
desglosa lo espiritual de lo psicofísico. entra em dialogo consigo mesmo é que
o espiritual rompe do psicofísico.

ADENDO DO TRANSCRITOR:
 As ‘doze camadas da personalidade’ compõem uma teoria do Professor Olavo
de Carvalho a respeito da evolução natural da personalidade de um indivíduo
comum.
 A teoria pode ser amplamente aplicada principalmente porque encontra um
elo comum à formação da personalidade entre todas as pessoas normais. O
professor Olavo de Carvalho identifica que, independente da história de vida,
em geral, todos passamos pelo mesmo CENTRO MOTIVADOR, de acordo com
a fase de vida que vivemos.

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 Em outras palavras a teoria das doze camadas da personalidade identifica de


maneira clara qual é a real motivação de uma pessoa de acordo com a fase
de vida em que ela se encontra.
 Por exemplo: Mesmo que cada indivíduo apresente um “SINTOMA” diferente,
todas as suas ações, de acordo com o momento de vida, são comandadas por
um mesmo CENTRO MOTIVADOR.
 Relembre suas amizades durante a adolescência: provavelmente você vai se
lembrar de alguém que estava sempre namorando ou “ficando” com alguém,
nunca estava sozinha. Outro perfil comum eram os rebeldes: viviam
envolvidos em confusão, contrariando pais e professores. Ambos perfis,
mesmo que diferentes, estavam em busca da satisfação de um mesmo
CENTRO MOTIVADOR: a busca por afeto e aceitação do grupo.
 Perceba que neste exemplo o que difere o “namorador” do “revoltado” é
apenas o sintoma que ele apresenta para satisfazer o mesmo centro
motivador, que no caso da Quarta Camada da Personalidade, é a busca por
afeto e aceitação.
 Da mesma maneira a Teoria das Doze Camadas da Personalidade é capaz de
descrever todas as demais fases da vida, desde o nascimento até a última
camada.
 Em resumo, de maneira básica, podemos resumir o centro motivador de cada
camada assim:
1. Domínio do próprio corpo (recém-nascidos);
2. Domínio do meio (crianças que começaram a
andar/engatinhar);
3. Aprendizado dos códigos sociais (crianças a partir de 4
anos, aproximadamente);
4. Busca por afeto e aceitação de grupos (a partir da pré-
adolescência até período indefinido – pode
permanecer durante a vida adulta);
5. Autoafirmação;
6. Realizar algo de valor e realmente importante;
7. Descoberta da vocação/papel social;
8. Bem x Mal, autoanálise da vida, códigos morais;
9. Vida intelectual;
10. Eu transcendental;
11. Personagem histórico;
12. Destino final.
FONTE: https://monarcas.com.br/2019/02/11/o-que-sao-as-doze-camadas-da-
personalidade/

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A Oitava Tese: A Pessoa Humana é Dinâmica

 A proposta de Viktor Frankl, tanto da vida quanto da obra,


tangencia as camadas mais elevadas, 11ª, 12ª camadas.
 Iniciando, queria apresentar um pouco daquilo que é o início da
Psicologia: em que momento e contexto histórico surgiu essa
ciência, porque tendo claro isso, nós conseguiremos avançar de
modo muito mais próprio e agudo na proposta da 8ª tese.
 A Psicologia se desenvolve na 1ª metade do século XX, ou seja,
é uma ciência muito recente, quando surgem seus primeiros
autores, começa a desenvolver sua base epistemológica, seu
desenho e as suas propostas. Os experimentos e os ensaios
começam a ser colocados para que então ela se consolide
como uma ciência.
o Falando da primeira metade do séc. XX, sabemos que foi
muito conturbada: é uma época marcada por guerras
(nada mais nada menos do que a 1ª e 2ª Guerra
Mundial), uma profunda crise econômica, desemprego
massivo... É de se pensar que todo esse contexto irá
“respingar” nessa ciência que está sendo montada.
 Frankl, fazendo essa leitura do texto (que é a Psicologia) no
contexto (desenvolvimento da Psicologia na primeira metade
do século XX), diz que fica muito claro que há uma
preocupação excessiva ao falar da pessoa humana e ao
desenhar a Psicologia com três grandes realidades:
1. Equilíbrio interno;
2. Gratificação dos instintos;
3. Cessação de tensões.
 Parece que a ciência da Psicologia nasce querendo dar ao
homem aquilo que ele não encontrava no seu tempo (um alívio
das tensões, uma gratificação dos instintos e um estado de
equilíbrio interno).
o Viktor Frankl, principalmente no Livro ¨Psicoterapia e
Sentido da Vida¨, onde vai falar sobre o princípio da
homeostase e da noodinâmica, questões que nós
veremos hoje, ele fala exatamente desse ponto: do início
da Psicologia e dessa preocupação que ela tinha em

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tentar aliviar o homem, em tentar responder ao homem


que estava imerso num período deveras pesado.
o Frankl afirma que esta visão do homem como alguém
que busca gratificação dos instintos, que busca equilíbrio
interno e cessação de tensão, esta visão foi
esquematizada a partir de modelos inspirados na
observação de animais.
 Como nasce a Psicologia? Com Pavlov, Weber,
Jung... Skinner... esses primeiros grandes teóricos
da Psicologia começam a fazer estudos em
animais e a partir da observação, da dinâmica
própria dos animais (reforço, punição,
gratificação dos instintos), fazem alguns
comparativos com a pessoa humana.
 Boa parte de vocês conhecem o experimento da
Psicologia Comportamental, do Behaviorismo
que Skinner se utiliza por demais desses
experimentos, o experimento do rato: se pegava
um rato ingênuo, que nunca havia sido usado em
um experimento, privado de alimentação (fora
ingênuo, privado de alimento, com grande
necessidade de gratificação e equilíbrio interno),
colocava numa caixa, a caixa de Skinner, uma
gaiola e ali se fazia alguns experimentos para
condicionar o comportamento dele. Exemplo:
aprender a pressionar uma barra para que dela
caísse um pedaço de comida. Através de
recompensa e de punição, fazia que o rato se
comportasse de acordo com o desejo do
experimentador. Através de choques, comida,
busca pelo prazer e fuga da dor, você
condiciona o rato e chega uma hora que ele
entende que precisa caminhar na direção da
barra para comer e fica condicionado.
 Pavlov fazia o experimento da salivação dos
cães para entender como se dá a questão do
estímulo e da resposta.
 Todo o início da Psicologia é muito marcado por essa
observação em animais para se fazer uma leitura da pessoa -

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estamos falando de uma dimensão da pessoa humana


(somente a dimensão biológica, que busca o prazer, foge da
dor) e talvez, em alguns momentos da complexidade do
experimento, de uma dimensão psicológica (afetos, desejos que
não só somáticos mas de ordem anímica, psíquica).
 Frankl dizia que a hipótese de Freud é inspirada na física (entre
outras áreas como a mitologia) do seu tempo - no seguinte
sentido: no princípio que o relaxamento das tensões constitui a
única tendência primária da vida. Princípio da Homeostase ou
ideia do Nirvana.
o Então se vê a pessoa humana como alguém que precisa
de equilíbrio, gratificação e cessar tensões.
 Diz Viktor Frankl no Livro ¨Fundamentos antropológicos da
Psicoterapia¨: Segundo Freud, um prazer momentâneo de
consequências incertas só é abandonado com vista a se
alcançar outro mais garantido.
o O homem é esse joguete, canalha, que busca de prazer
em prazer e só abre mão do prazer se tiver certeza de
outro que ainda lhe dá mais prazer, mais garantido, mais
intenso.
o Ou seja, a busca do homem e o modo com que ele se
desloca nesse mundo é a partir da gratificação, da
busca do equilíbrio e do alívio das suas tensões: não
pode frustrar-se, estressar- se ou tensionar-se. Ele precisa
dar vazão aos seus desejos, precisa de algum modo
satisfazer os seus instintos, ímpetos, que muitas vezes é
freado pelos sistemas dogmáticos e tabus que, de
acordo com essa visão, acabam com o homem (torna-
o neurótico, histérico. Histeria em Freud é alguém que
queria satisfazer um desejo, na maioria das vezes um
desejo sexual, que era freado pela religião, pelo tabu,
pela sociedade e ao ser freado e não dar vazão ao
desejo animalesco, paixão desenfreada, adoece e
começa a se tornar um histérico ou neurótico).
 A realidade seria aquilo que eu utilizo para satisfazer os meus
instintos ou mais precisamente para o ganho de prazer.
 Diz Viktor Frankl: Deste modo, por exemplo, a pessoa com as
quais se deparam o homem, quando do seu ¨ser¨no mundo, as
pessoas ou as coisas com que se depara com seu ¨ser com os

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outros¨ (aqui está citando o Existencialismo, outra linha da


Psicologia, Fenomenologia, cita Heidegger: ¨ser no mundo, ser
com os outros¨) constituem meros instrumentos para a satisfação
das suas necessidades. Sequer temos a capacidade de ver o
outro como um bem em si mesmo, nós vemos o bem que ele
pode nos dar. Nós instrumentalizarmos pessoas, situações e a
realidade a nossa volta - do copo d'água ao filho, passando
pela esposa, patrão, subordinado, pais: tudo que me cerca, de
alguma forma, lá está para ser usado, para buscar o equilíbrio,
para satisfazer os meus prazeres. Em última instância, é nesse
ponto que chegamos, é aí que se dá a noção de pessoa
humana e como ela se desloca nesse mundo, como ela é
movida a partir de impulsos, instintos.
 Então Viktor Frankl faz um comparativo entre uma pessoa
neurótica e a pessoa normal, tentando se enquadrar nesse
sistema em cima da física, da biologia, da observação dos
animais, esse início da Psicologia: é típico dos neuróticos, a
exemplo dos animais, não mais se orientarem no rumo das
coisas, (os animais preferem concentrar-se em seus próprios
estados mentais. O que um animal faz, é o que uma pessoa
neurótica faz. O animal não se orienta no rumo das coisas,
simplesmente está concentrado nos seus estados mentais. A
atenção de um animal é uma atenção ensimesmada, que tem
como foco a si mesmo, uma hiperreflexão a cerca dele mesmo,
do que ele quer, da fome, sede, desejo sexual, frio, necessidade
de migração...) É o que uma pessoa neurótica faz: está muito
entretida consigo mesmo, a todo momento vendo a si mesma e
nada mais. Preocupada em não se orientar no rumo das coisas,
mas se orientar e se locomover, agir neste mundo, a partir de seu
estado mental.
 A visão da pessoa neurótica está muito entretida consigo
mesmo: vê a si mesmo e nada mais lhe causa preocupação.
 Viktor Frankl diz: Ao contrário, o homem normal orienta-se e se
estrutura em relação a pessoas e parceiros, objetos e coisas do
mundo - sejam elas sensações de prazer ou desprazer.
o Uma pessoa normal não faz um balanço a toda hora
entre prazer e desprazer. Entende que nem sempre o
prazer e o desprazer é o que vai reger a sua vida porque

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está orientada para o outro: um parceiro, um objeto,


para o mundo.
o Se nós fizermos muitas contas, sequer saímos de casa!
Não nos tornaremos nada que o valha neste mundo e
nós sabemos disso!
 Frankl fala que esse nosso tempo é marcado pelo abuso de
tranquilizantes. A gente está tão preocupado em sentir prazer,
que qualquer desconforto, desprazer, já nos leva
neuroticamente, desesperadamente, ridiculamente a buscar
tranquilizantes. Podemos dizer que estamos na “cultura do
analgésico” – é proibido sofrer, é proibido frustrar-se. Tudo que
for desconforto ou dor deve ser evitado. Toda experiência de
dor tende a ser evitada, desde as mães que perdem seu filho
(não pode sofrer, como vai gerenciar esse luto? Preciso que
alguém me dope, vai sofrer pelo que? De que modo você vai
conseguir tomar nota do que está vivendo e se posicionar,
tomar uma atitude frente a isso?) e são privadas do luto até uma
dor de cabeça. Parece que tudo que gera algum incômodo nos
causa repulsa, irritação. Estamos muito marcados por essa busca
do prazer.
 Por isso, diz Frankl, a Logoterapia traz a vontade de sentido em
contraste com a vontade do prazer. Porque a vontade do
prazer não pode ser algo primário porque o que nos move nesse
mundo deve ser, antes de tudo, o sentido e não o prazer.
o O agir do homem no mundo tem que ser pautado e
motivado pelo sentido que as coisas têm.
o Geração soft.
o Tem sentido estar aqui? Se tem, fique por mais 50 minutos
mesmo que a cadeira esteja lhe incomodando um
pouco, a cama esteja mais convidativa, a fome.
Quando há sentido, podemos nos deslocar neste mundo
de uma outra forma.
 Se a única forma de nos deslocarmos é a partir do prazer nós
estamos terrivelmente perdidos e abandonados a nós mesmos
e a nossa sorte.
 Frankl: A tensão é necessária. Não uma tensão excessiva, mas
uma tensão dosada e fecunda.
o Nós, pessoa humana, precisamos de uma dose de
tensão. Nós adoecemos, apodrecemos, ficamos fétidos,

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miseráveis, moribundos quando uma tensão fecunda,


dosada não nos toma. Quando a exigência da vida não
pesa sobre os nossos ombros. Estagna, trava. Aí vem
diversos problemas de ordem psicossomática.
o Cita o paciente que gostava do tempo ¨em que a água
lhe batia no queixo e não no umbigo¨, quando ele
crescia porque precisava nadar.
o Nós sabemos que esse estresse, esse ¨sal da vida¨ é
necessário.
 Por exemplo: um cão está realizado e satisfeito se tiver sombra,
comida, água, se der uma volta na rua por dia, se uma cadela
foi apresentada para que ele possa acasalar, se tem um
pouquinho de carinho (tem a dimensão psíquica, o afeto é algo
que também o agrada), para ele acabou, não vai entrar em
crise existencial! Ele não se perguntará de onde vim, para onde
eu vou, o que é a vida, os feitos que poderia realizar e estou aqui
preso nessa casa, tenho um mundo para conhecer e explorar e
eu não saio desse quintal, tantos outros cachorros que poderiam
me ensinar algo nessa vida e eu fico aqui só respondendo com
latidos aos cachorros da vizinhança, tantos amores que podem
ser vividos e eu só uso a cadela da vizinha e ela me usa, será que
usar é algo que me dignifica? Eu quero ser o melhor cão que a
vida pode me fazer?
o Um cão, uma vaca, um golfinho, um ornitorrinco, se tiver
o básico, acabou. Não existe crise!
 Já a pessoa humana, quando lhe é tirada toda tensão e lhe é
dada uma vida fácil e de luxo, é estragada. Talvez até num
primeiro mês, ela ache graça nisso tudo, mas passado um
tempo, começa a desesperar. Se tudo que ela deseja ela pode
conquistar, de um prato de comida aos amores, aos maiores
confortos que a vida pode oferecer. Comece a dar tudo de
bom ou de melhor a uma pessoa, de duas uma: Ou essa pessoa
torna-se como um bicho (o seu pensamento e a sua
capacidade de amar ficam atrofiadas, as suas reflexões acerca
de si mesmo e acerca do mundo ficam limítrofes), ou então
começa a se angustiar desesperadamente a procura de
alguma tensão, algo que seja proibido, que seja exigente.
Porque nós precisamos a todo momento de um pouco de
tensão.

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 Frankl fala que quando não encontramos tensão na vida nós as


criamos, e às vezes de modo desumano. Exemplos: esporte (é
exigente, desgastante, exige intensidade, atenção) até
gangues, torcidas organizadas, clubes de luta, rachas... algo
que coloque em risco a vida. Quando não tem tensão fecunda,
bem dosada, vai tentar criá-la e as vezes o faz de modo
exagerado, descompensado, desumano.
 Frankl diz em ¨Psicologia e o sentido da vida¨: O que o homem
quer não é o prazer; ele quer o que quer, sem mais.
 O que nós queremos? Não queremos prazer. Se o prazer fosse
vendido, se pudesse ser comprado, de duas uma: ou seria algo
muito sem graça ou parecido com uma droga, heroína,
cocaína, que dá um pico, faz uma reação química que lembra
algo como o prazer.
 Frankl diz que para nós, pessoas normais, o prazer precisa vir
como uma consequência, uma conquista, é um efeito colateral.
 Quando buscamos o prazer por primeiro, adoecemos, nos
tornamos neuróticos (termo que Frankl usa muito para falar da
homeostase, da noodinâmica). Alguém que busca o prazer sem
buscar o motivo para que o prazer aconteça, que o busca por
primeiro e não consegue entender que é uma consequência,
um segundo momento depois de ter me gastado, empreendido,
realizado valores, buscado sentido na vida e o encontrado
naquela ação específica, vem o prazer de missão cumprida,
dever cumprido, levar a cabo algo que te exigiu e faz todo
sentido do mundo, tem toda a graça, toda a plenitude de um
prazer como deve ser.
 Quando o prazer é uma busca primeira ele leva a pessoa
humana a adoecer.
 A ideia da criação da Logoterapia é não fazer dela uma
psicodinâmica, um movimento no qual o homem encontra-se
fechado em si mesmo e na sua busca de prazer, na sua máxima
obtenção de prazer e no seu máximo desvio de desprazer. Mas
como um apelo à consciência.
 No Livro ¨Em busca de Sentido¨, Frankl relata a ocasião em que
um jovem lhe procura e pergunta qual que é a abordagem
dele:
 - Doutor, o senhor é psicanalista?
 - Bem... não bem psicanalista. Digamos: um psicoterapeuta.

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 - Qual é a escola que o senhor representa?


 - É a minha própria. Chama-se Logoterapia.
 - Poderia o senhor dizer numa única sentença o que quer dizer
Logoterapia? Ou ao menos qual a diferença entre a psicanálise
e a Logoterapia?
 - Sim - repliquei – Mas, em primeiro lugar, pode você me dizer
com uma sentença o que você pensa ser a essência da
psicanálise?
 - Durante a psicanálise o paciente precisa deitar-se no sofá e
contar as coisas que às vezes são muito desagradáveis de se
contar.
 Frankl retruca imediatamente:
 - Bom... Na Logoterapia, o paciente pode ficar sentado
normalmente. Mas precisa ouvir certas coisas que às vezes são
muito desagradáveis de se ouvir.
 Viktor Frank entende a necessidade de uma proposta
psicoterapêutica na qual se exige o máximo da pessoa, na qual
se apela a consciência do outro para que ele se torne aquilo
que deve ser. A terapia não é somente “tirar o peso das costas”,
mas também e “colocar o devido peso” sobre teus ombros pois
sem peso nenhum há adoecimento.
o Não dá para achar que o movimento terapêutico tem
que ser um lugar de você tornar-se livre (no sentido de
libertinagem), leve, de ficar solto sem peso nenhum da
vida, sem responsabilidade frente a existência porque
isso nos adoece, não é humanização, não pode ser
considerado Psicoterapia.
o Precisa colocar a pessoa frente a ela mesma e frente ao
que ela deve ser, as exigências que a vida faz, o melhor
que ela pode tornar-se e dar de si mesma.
 Essa caça pela felicidade não só não é própria da dinâmica da
pessoa humana, como ela se anula a si mesma, diz Frankl, a
caça pela felicidade acaba por expulsá-la, assim como a
procura pelo prazer tem por resultado também afastá-lo.
 Muitos eram os casos que chegavam para Viktor Frankl
envolvendo conflitos neuróticos sexuais. Um exemplo é o caso
de ejaculação precoce e sua abordagem era a de mostrar
para o paciente que o que existia, antes de tudo, era uma busca

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excessiva pelo prazer. O paciente estava pensando tanto em


sua satisfação que os momentos se “atropelavam”.
 Viktor Frankl diz que quanto mais buscamos a felicidade, o
prazer, mais erramos o alvo, mais ela foge. Compara a busca da
felicidade e do prazer com a caça a uma borboleta. Se você se
propõe a pegar a borboleta, ela foge para longe. Se você pra
e a contempla, ela pousa no seu ombro. É o que acontece com
o lançamento do Livro ¨Em Busca de Sentido¨, que não se
propunha a ser um best-seller mas teve isso como consequência.
 Diz em seu Livro ¨Psicoterapia e Sentido da Vida¨, página 68:
¨Bem vistas coisas, muito pouca na vida depende de fato do
prazer ou do desprazer...¨ Realmente muito poucas vezes na
vida é a questão do prazer ou do desprazer que está em causa.
¨...É como no caso do espectador no teatro: o que é essencial
para o espectador não é o fato de assistir a uma comédia ou a
uma tragédia. O importante para ele é o conteúdo, a
substância do que lhe oferece a apresentação. ¨
o Muito mais que se preocupar com a arte cênica, você
está preocupado em ter uma boa substância, um bom
conteúdo, algo que faça sentido.
o Um filme de suspense ou drama com boa substância faz
mais sentido e causa mais a impressão de estar diante
de uma reflexão acerca da verdade do que um filme
puramente de comédia. Há aqui uma comparação do
prazer e desprazer com a comédia e a tragédia.
 Frankl cita o experimento de um russo que mostra que o prazer
e o desprazer não são o que nos regem nesse mundo. Esse
experimento provou que em média nossos dias tem muito mais
sensações de desprazer que de prazer. E nós sabemos disso. São
poucos os momentos de prazer.
o Se a nossa única preocupação for o máximo de prazer e
o mínimo de desprazer a vida por si só seria muito trágica.
o Nossa vida é recheada de momentos de desprazer.
 Nós estamos num tempo tão medíocre, que até mesmo esses
desprazeres que vivemos são medíocres - não é aquele
desprazer que se tinha há alguns séculos, somos essa geração
soft com tanto alimento, entretenimento, conforto, luxo,
descanso – que os nossos desprazeres, embora superem os
prazeres, são muito pequenos. É o desprazer de um carro que

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quebra, de uma resistência que queima e o banho precisa ser


gelado, de um sapato que machuca um pouco o pé. Não é o
desprazer de ter que gastar a vida, sair à caça, de ter que
enfrentar a adversidade do tempo.
 Frankl: Não devemos nem temer exigir demais dos homens, mas
sim exigir de menos. A nossa preocupação não tem que ser em
colocar um fardo muito pesado nas costas de ninguém, porque
sabemos que a pessoa humana aguenta muito mais que isso.
o Temos que nos preocupar se estamos exigindo de
menos!
o Esquecemos da força, da capacidade, dessa resiliência
que trazemos. Então tudo nos parece muito pesado mas
na verdade é medíocre, nossos antepassados riram de
nós.
 Para pensarmos: o momento ápice da nossa semana é o Happy
Hour.
o Trabalhar acaba sendo um peso, algo ruim, ao que me
submeto apenas para ter um bom dinheiro em caixa
para ter alguns momentos bons.
o Trabalhar virou algo exigente demais e se divertir virou a
grande questão do nosso tempo.
 Some-se a isso o fato de que nos faltam referências.
o Pensemos a nível de Brasil: quem foram os nossos heróis?
Aprendemos sobre a vida de quem? Hoje é preciso
inventar histórias mequetrefes para forjar personalidades.
Peguemos como exemplo Tiradentes: quem sabe de
fato explicar o porquê ele é herói e dar fundamento a
essa questão?
o Não se ensina para crianças que elas devem ser heróis,
santos, mártires, realizar grandes feitos. Não
conseguimos sustentar 5 minutos de história das
personalidades brasileiras!
o Um tempo medíocre, uma era “gourmetizada”, uma
cultura de “happy hour” e sem referências de grandes
pessoas.
 Quem ensina sobre Santa Dulce dos Pobres?
 E sobre a Princesa Isabel, a chamada redentora?
Disse que se quiserem proclamar alguém como
redentor, que proclame assim a Cristo. Aí ao invés

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de fazerem a imagem de Isabel, a redentora,


fizeram o Cristo Redentor. Mas ela não é falada,
ensinada!
 E sobre os portugueses?
o Nós nem sabemos o tamanho que nós podemos ter por
que não nos dizem a estatura e o tamanho com que o
mundo foi sustentado na pessoa de grandes homens.
 Falta ensinamento, preocupação em falar dessas pessoas que
foram bem-intencionadas, que foram de alta magnitude para
que possamos entender a que estatura pode chegar o homem.
o Por isso, quando falamos de Viktor Frankl, nossos olhos
brilham: pensamos “não é possível um homem dessa
envergadura, que ficou por anos no campo de
concentração, que perde pai e mãe, sua esposa
grávida, e ainda consegue se doar, lecionar às
universidades, deixar seu legado, fazer formações com
presidiários, funda uma linha da Psicologia, falar sobre
quem é a pessoa humana, ver a vida com paixão.”
o Ora, se ele que é pessoa humana como eu, feito do
mesmo barro, que tem as mesmas dimensões que eu
tenho e pode fazer isso em situações tão adversas, pode
continuar cheio de esperança e otimismo mesmo num
campo de concentração, por que tenho de me
apequenar?
o Quando nós nos comparamos com esses grandes
homens, nos sentimos profundamente desconfortáveis e
lembramos que nessa vida somos chamados a muito
mais do que temos sido até agora.
 A ideia de psicodinâmica, de que o homem busca o prazer,
satisfazer as suas necessidades, a gratificação de seus sentidos,
é quebrada por Viktor Frankl pela ideia de uma Noodinâmica:
o ¨Não vale evitar a todo o custo a tensão. O que o
homem precisa é de uma certa medida de tensão. De
uma medida saudável e doseada de tensão. Não se
trata de uma homeostase a todo custo, mas sim uma
noodinâmica! ¨
 Ou seja, nós não temos que botar esse olhar de equilíbrio na
vida, de Homeostase, essa busca pelo Nirvana, essa ataraxia,
essa busca de alívio das tensões, máximo de prazer, não

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devemos fazer isso pois estaríamos fadados, tornamos nossa vida


pequena, mirrada e corremos o risco de não nos realizarmos.
o O que precisamos é dessa noodinâmica, não uma
psicodinâmica, o homem fechado em si mesmo, egoísta,
ensimesmado, que só pensa nele e nos seus desejos, mas
uma noodinâmica, o noos, essa dimensão espiritual é
essa dimensão de abertura, que me leva a realização
dos valores, ao encontro dos outros, que me leva à
busca do sentido, ao sentido do amor, do trabalho, do
sofrimento, precisamos nos deixar mover pelo núcleo do
nosso ser (ideia do palmito).
 Quanto a mim, diz Frankl, ¨entendo que um dos atributos
essenciais do ser humano consiste em achar-se num campo de
tensão entre dois polos: do ser ao dever ser.¨
o Aqui está a vida humana: num campo de tensão. E neste
campo existem dois polos: o do ser e o do dever ser. Aqui
se dá a vida humana: o que eu sou e aquilo que eu
preciso me tornar. Entre a essência e a existência.
 O ser é aquilo que já foi atualizado, já foi realizado
 O dever ser (já falamos de ato e de potência) é
aquilo que eu preciso me tornar. Aquele eu que
ainda não existe, mas que almejo ser. A vida
humana é projetista, somos futuristas, nós temos a
capacidade de olhar para a realidade e
especular: existe um “eu” que precisa ser
atualizado, têm algumas potências que ainda
não foram atualizadas. Tem algo que eu ainda
não sou, mas que devo vir a ser! Tenho algumas
potências que ainda não foram atualizadas,
realidades que ainda me chamam. Muito a ser
feito. Precisamos nos ver como tarefa. Meu “eu”
de agora não serve para amanhã.
 Aqui está a dinâmica do homem: a vida é uma tarefa, a vida é
uma missão. Se temos isso em mente, nós colocamos sobre
nossos ombros uma tensão dosada e fecunda que nos leva à
ação.
 Frankl diz que o grande perigo da Psicoterapia é levar a pessoa
a esses escapismos: a ideia de “não se preocupe; se está te
causando algum estresse, abandone a situação”.

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o Esses escapismos são tipicamente neuróticos, afastando


do paciente qualquer tensão e poupando o confronto
com o sentido e os valores, por um medo excessivo de
prejudicar a homeostase.
 A pessoa humana não se quebra. É como se falassem: ¨não
vamos mexer muito, vai que quebra! ¨Quem disse que a pessoa
humana quebra? Pessoa humana fica em campo de
concentração por 3, 4 anos, sendo tratada igual a um bicho e
continua lá, lançando um olhar para cima e pedindo a
proteção de Deus, olhando para um pôr do Sol maravilhoso e
chorando por imaginar como poderia ser bom esse mundo...
continua lá cuidando dos enfermos, dando seu lugar na fila do
pão, morrendo no lugar de um pai de família...
o Hoje, parece que qualquer coisa vai nos quebrar, desde
uma semana mais atribulada até uma atividade mais
exigente.
o É que nós estamos nos julgando muito menos do que
somos.
o Estamos achando que qualquer coisa que fere nossa
homeostase é prejudicial, e é exatamente o contrário!
Qualquer coisa que não uma tensão que seja fecunda
fere nossa vida e nossa existência!
 Hoje as coisas estão tão confusas que jovens que nunca
trabalharam e são sustentados pelos pais são os que lutam pela
aposentadoria. É como quem diz: “quando vou parar de
trabalhar e realmente viver?” ou seja, estão preocupados com
seus direitos, o que é válido, mas não se preocuparam antes
com seus deveres.
 Devemos nos lembrar da seguinte frase do general romano
Pompeu, no século I, para encorajar os marinheiros: “Navegar é
preciso, viver não é preciso.”
o Navegar, no sentido de realizar grandes feitos, buscar
grandes coisas, dar o melhor de mim, é preciso.
o Viver, no sentido de sobreviver em uma vida medíocre,
não é necessário, pois nos apequena, nos adoece e nos
torna neuróticos.
 Isso diz a 8ª tese: a pessoa humana é dinâmica. Ou seja, não
consegue ficar presa em si mesma, mas é chamada a caminhar
para o seu dever e ser tornar-se aquilo que só ela deve ser.

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Aula 09

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
9. El animal no es persona puesto que 9. O animal não é uma pessoa posto
no es capaz de trascenderse y de que não é capaz de transcender e de
enfrentarse a sí mismo. Por eso el enfrentar a si mesmo. Por isto o animal
animal no posee el correlato para ser não tem um correlato para ser uma
persona, no tiene un mundo sino sólo pessoa, não tem um mundo, mas tão
un medio ambiente. Si tratamos de somente um meio-ambiente. Se
extrapolar la relación «animal- tentamos extrapolar a relação “animal-
hombre», respectivamente medio homem”, respectivamente meio-
ambiente-mundo, llegamos al mundo ambiente/mundo, chegamos ao mundo
superior. Si queremos determinar la superior. Se queremos determinar a
relación del medio ambiente (estrecho) relação do meio-ambiente (estreito) do
del animal al mundo (más amplio) del animal ao mundo (mais amplo) do
hombre y de este, otra vez a un mundo homem e disso, novamente, com um
superior (omniabarcante), se nos ofrece mundo superior (abrangente), nos é
como una comparación la sección oferecido uma seção de ouro como
áurea. De acuerdo a ella la parte menor comparação. Segundo ela, a menor
es a la parte mayor como la parte mayor parte é a maior parte como a parte
altodo. maior do todo.

Tomemos el ejemplo de un mono a Tomemos por exemplo um macaco que


quien se le aplican inyecciones recebeu uma injeção dolorosa para
dolorosas para obtener un suero. obter-se um soro. O macaco poderia
¿Podría comprender el mono por qué entender por que ele deve sofrer?
debe sufrir? Dentro de su medio Dentro do seu meio-ambiente não é
ambiente no es capaz de seguir las capaz de seguir as reflexões do homem
reflexiones del hombre que lo incluye en que o inclui nas suas experiências, pois
sus experimentos; pues no es admitido não é admitido no mundo humano, um
al mundo humano, un mundo de mundo de sentidos e valores. Não pode
sentidos y valores. No puede llegar a él, alcança-lo, não alcança a sua dimensão:
no alcanza su dimensión: pero ¿no mas não devemos considerar que o
debemos considerar que el mundo mundo humano é transcendido por um
humano es trascendido por un mundo mundo cujo significado, um significado

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cuyo sentido, un sentido superior, le superior, só pode ser dado pela dor? Do
puede ser dado solamente por el dolor? mesmo modo que um animal não pode
Del mismo modo que un animal desde entender o mundo humano, o homem
su entorno no puede entender el tão pouco apreender o mundo superior,
mundo humano, el hombre tampoco exceto por uma tentativa de alcança-lo,
puede aprehender el mundo superior, senti-lo pela fé. Um animal domesticado
excepto por un intento de alcanzarlo, de não sabe as razões pelas quais o homem
presentirlo por la fe. Un animal o usa. Como pode o homem saber que
domesticado no sabe las razones por las significado transcendente tem o mundo
que el hombre lo usa. ¿Cómo puede com o todo?
saber el hombre qué sentido
trascendente tiene el mundo como
totalidad?

A Nona Tese: O Animal Não é Uma Pessoa Humana

 Nona tese, ¨O Animal não é Pessoa¨, mas antes uma revisão


sobre a última aula, ¨A Pessoa Humana é Dinâmica¨ porque essa
tese é essencial para que nós compreendamos o dinamismo
mesmo da pessoa, o que nos move nesse mundo, quais são as
nossas tendências primárias, o que nós aspiramos, o que nós
buscamos e de que modo nessa busca podemos ir encontrando
o sentido da nossa vida.
o Essa noção do ¨ser ao dever ser¨ precisa estar muito
clara.
o A pessoa humana ela não é movida e ela não tem como
uma busca basilar, uma busca primeira, a vontade de
prazer, mas ela tem acima de tudo essa vontade de
sentido, é isso que a move, é isso que te incomoda, é isso
que brada no peito dela e é a isso que ela precisa
responder em última instância na vida.
 A proposta de Viktor Frankl, a proposta da Logoterapia, fere um
pouco e vai na contramão da visão de algumas linhas mais
clássicas, que adotavam o Modelo de Psicodinâmica, um
homem fechado em si mesmo, que tem os impulsos nas suas
costas, tem as suas metas intrapsíquicas, ele sai desse mesmo
para encontrar-se a si mesmo.
 Um homem muito ensimesmado, muito fechado em si mesmo,
não um homem enquanto abertura, enquanto movimento,

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enquanto uma noodinâmica, a dinâmica do noos, da dimensão


espiritual, mas uma dinâmica das dimensões mais baixas, da
dinâmica biopsíquica.
o Ao nos colocar diante dessa dinâmica do noos, da
dimensão espiritual, Viktor Frank fala de um arco de
tensão que está constantemente sobre nós, é como se
nós tivéssemos estar submetidos a todo momento sob
uma tensão, um arco de tensão existencial, que nos leva
ao nosso ¨dever ser¨, que nos lembra daquilo que nós
devemos nos tornar, que nos faz ter um pensamento
agudo e contundente acerca daquilo que nós estamos
hoje, aqui agora, o meu ser, o modo como eu estou, mas
que me leva a realizar nesse mundo, caminhando para
o meu ¨dever ser¨.
 É interessante que Viktor Frankl quando vai falar nesses dois polos
do ¨ser¨ e do ¨dever ser¨, do homem enquanto tarefa, da vida
enquanto missão, ele vai dizer que conforme eu vou encurtando
esses polos, conforme o ¨ser¨ e o ¨dever ser¨ vão aproximando-
se um do outro, pelo próprio deslocamento do ¨ser¨ e pela
realização da pessoa no cumprimento dos seus deveres e no
modo de encarar sua vida como missão, quando esses polos
vão se encurtando, porque eu vou pegando as potências e vou
atualizando-as, eu então começo a encontrar o sentido da
vida.
o O sentido da vida começa a ficar mais claro, começa a
ficar mais cristalino, eu começo a tirar o véu que o deixa
ainda obnubilado, que ainda o deixa um tanto quanto
escondido, e eu começo a ver de forma mais clara, esse
sentido começa a brilhar ante os meus olhos na medida
em que eu vou caminhando para o meu ¨dever ser¨, em
que o meu ¨ser¨ e o meu ¨dever ser¨ vão ficando mais
próximos, no momento em que essa distância já não é
uma distância tão longínqua, perturbadora, uma
distância agonizante daquele que olha para tudo aquilo
que ¨dever ser¨ e que fica frustrado, pesaroso e que fica
desesperado porque percebe que há muitos passos a
serem dados, há uma enormidade de passos que
inevitavelmente precisam ser dados neste mundo.

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 Precisa ficar claro isso, nos ajuda a entender a


questão do sentido da vida conforme vai
encurtando esses polos, conforme eu vou
realizando valores nesse mundo, o sentido vai se
dando, vai brilhando, eu vou encontrar. O sentido
não é inventado, o sentido não é dado, o sentido
é encontrado. O sentido é desvelado.
 Viktor Frankl diz que a questão do sentido da vida pode
apresentar-se exclusivamente de uma forma concreta e ser
respondido de uma forma ativa, ou seja, a questão apresenta
de forma concreta e eu respondo de forma ativa, com a minha
atitude, com meu posicionamento nesse mundo, conclui Viktor
Frankl responder as perguntas da vida significa sempre
responsabilizar-se por elas, ou seja, efetuar as respostas.
o É a vida que nos interpela, é a vida que nos interroga!
Não somos nós na nossa altivez, na nossa soberba, que
olhamos para o mundo, que olhamos para vida e
ficamos indagando, cobrando dela uma resposta,
perguntando o que a vida espera de mim. A vida que
me interroga. A mim cabe uma resposta, a mim cabe
responsabilizar-me, ou seja, efetuar respostas pegando
as potências e transformando-as em atos!
o Isso se dá nessa dinâmica do ¨ser¨ e ¨dever ser¨, se dá no
achatamento, no encurtamento desses polos, processo
no qual obviamente o que eu faço é realizar valores.
Aquela ideia de valores que já foi colocada, diluída
durante as dez teses: valores de atitude, valores criativos
e valores vivenciais e nesse percurso eu vou realizando
valores, eu vou encontrando sentido.
 Viktor Frankl tem uma frase muito valiosa que dá para ficarmos
meditando sobre a verdade por trás dessa frase por horas, com
toda tranquilidade: O sentido da vida é a própria vida.
o Isso no primeiro momento pode nos causar uma certa
estranheza, pode parecer óbvio, pode soar até de forma
infantil: o sentido da vida é a própria vida, parece que
sai do nada e chega em lugar nenhum, que papo é
esse?
o Uma vez que a vida enquanto realidade dada, a vida
factual, já falamos disso diversas vezes, a primeira vez em

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Transcrição/Resumo livre 84
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que eu emprego a palavra vida eu estou dizendo da


vida factual, da vida dada, da vida enquanto destino.
o Falamos bastante já sobre destino: aquilo que não está
para mudança, que eu não posso responsabilizar-me
porque simplesmente me foi dado, eu preciso me
configurar a ele, eu preciso aceitar ele, o destino é aquilo
que não está sob meu domínio e controle: o país em que
eu nasci, os pais que eu tenho, a minha estatura, a cor
dos meus olhos, a língua que eu falo, a minha
constituição biológica, a minha constituição psíquica,
isso tudo que me foi dado, é o sentido dessa primeira
palavra vida, ou seja, o sentido desta vida material,
desta vida factual, desta vida biopsíquica, desta vida da
pessoa humana, que engloba também espiritual, é a
própria vida. E quando eu emprego a palavra vida pela
segunda vez, eu estou me referindo a vida enquanto
missão. A vida enquanto uma tarefa, ou seja, o sentido
da vida factual é vivermos a nossa dimensão facultativa,
conforme eu vou me posicionando, conforme eu vou me
deslocando, realizando esses valores: amando alguém,
servindo a algo, conforme eu vou tomando atitude
frente aos sofrimentos inevitáveis, conforme eu vou
realizando as tarefas e as missões da vida, a vida dada,
a vida factual, enche-se de sentido!
 Essa ideia da noodinâmica que vimos a semana passada, da
vida dinâmica, fica muito clara a meu ver diante dessa frase ¨O
sentido da vida é a própria vida¨, ou seja, se nós quisermos que
esta vida, que a vida dada, esse negócio chamado ¨eu¨, essa
realidade corpórea, psicossomática e espiritual tenha sentido,
eu preciso não fechar-me em mim mesmo, não olhar
excessivamente para mim mesmo, eu preciso começar a
realizar os meus deveres, eu preciso começar a compreender
que eu sou um ¨vir a ser¨, que o ¨eu¨ de hoje não presta para
amanhã, que essa vida é uma grande tarefa, que eu preciso
encarar as coisas como uma grande missão, que eu preciso
efetuar as minhas respostas.
 Frankl que usa uma frase de Charlotte Büller: Tudo parece muito
simples, como se fosse evidente, desde o momento em que se
fala no objetivo de cada um tornar-se o que na verdade é.

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Transcrição/Resumo livre 85
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o Ou seja, parece que falar sobre tudo é um tanto quanto


simples, é um tanto quanto trivial, não causa incômodo,
não causa aquele revertério, não causa aquela
estranheza. Mas quando nós falamos de nos tornar o que
de fato nós somos, parece que as coisas começam a
complicar.
o Vou repetir uma vez mais: tudo parece tão simples como
se fosse evidente, desde o momento em que se fala no
objetivo de cada um tornar-se o que é na verdade. É
claro que nós estamos exigindo de nós mesmos não só
um pensamento mais cristalino, mais agudo, mais
contundente, uma honestidade intelectual mais
profunda, nós estamos também tendo que recrutar fibra
moral, porque verdade conhecida precisa ser verdade
obedecida, se de fato a vida é isso, e se nós que aqui
estamos somos honestos conosco mesmos, com a nossa
vida, com aquilo que nos foi dado, se isso começa a ficar
claro, cabe-me tão somente responder a isso tudo e me
tornar de fato o que eu devo ser e empreender de forma
ativa e de forma efetiva, com grande magnitude e com
muita intencionalidade para que eu consiga tornar-me
aquilo que só eu posso ser!
o Eu repito isso por diversas vezes em todas as aulas porque
se isso começar a ficar claro, isso soar como um sinete na
nossa consciência, se formos honestos, se formos como
diz a fada a Pinóquio: se você for o forte, se você for justo,
se você for corajoso, então será o menino de verdade.
 Quando isso se dá, uma personalidade começa a ser construída
em nós. A força dessa personalidade começa a aparecer nos
nossos atos: não somos mais pessoas levadas pelo vento, não
somos mais seres abobalhados, perdidos, que andam sem rumo,
nós começamos a sair de nós mesmos e deixar a nossa marca
nesse mundo: alguém a quem amar, algo a realizar, um Deus a
quem servir, essas três realidades que Viktor Frankl fala, isso tudo
começa a vir com força, isso tudo começa a vir com o
movimento, isso tudo começa a nos dar robustez, isso tudo
começa a abrir os nossos olhos, derrubar as nossas escampas e
a coisa começa a ficar muito interessante: os polos começam a
se encurtar, a vida começa a girar num ritmo mais intenso.

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Transcrição/Resumo livre 86
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o Uma das coisas que me faz ser apaixonado pela pessoa


humana é o fato de ver a capacidade de superação
que todos nós temos e eu falo isso com muita
tranquilidade porque eu assisto diariamente isso.
 Agora a aula de hoje, a tese 9: O animal não é pessoa, e para
começar a aula eu queria trazer uma citação de um filósofo que
eu gosto muito do Gilbert Chesterton. Quando eu fui fazer a
minha monografia, eu queria casar Frankl com algum autor que
eu já tinha uma certa familiaridade, e às vezes eu lia Viktor Frankl
e parecia que eu estava lendo um dos autores que eu tinha já
em auto estima. Um deles era o Karol Wojtyla, confesso que por
diversas vezes eu me confundi, eu precisava fechar o Livro e ver
o nome na capa para ver se eu estava lendo Karol Wojtyla ou
Frankl, parece que o jeito de escrever, a própria filosofia
personalista dos dois eram muito parecidas e Chesterton é um
outro autor que eu fiquei por diversas vezes pensando em casar
ele com Viktor Frankl para fazer esse encontro entre dois autores.
 Chesterton também é muito frasista, tem algumas frases de
muito impacto, algo que me encanta muito na literatura e nos
escritos de Frankl.
 Recomendo a leitura de todos os Livros de Chesterton:
Ortodoxia, O Homem Eterno, Todos os Caminhos Levam a Roma.
Bem como os contos do padre Brown.
 Citando Chesterton para iniciar essa tese 9, no Livro ¨O Homem
Eterno¨: O homem não constitui apenas uma evolução, mas
antes uma revolução. Ok, tem toda essa evolução na qual
tentam instalar o homem, a Teoria da Evolução das Espécies, a
proposta de Darwin e o homem dentro desse bolo, dentro desse
caminho evolutivo. Mas fala que o homem não constitui
meramente, simplesmente apenas uma evolução, antes de
tudo o homem é uma revolução, e ele continua: Quanto mais
nós realmente olharmos para o homem como um animal, tanto
menos ele parecerá um animal. Ele fala daquilo que é óbvio, ele
fala daquilo que salta aos nossos olhos! Parece que o homem,
diz o próprio Chesterton, está mais para um Extraterrestre, para
alguém que não é dessa terra, do que para alguém que se
assimila com tudo quanto existe aqui. Por exemplo peguemos o
que de mais similar tem o homem, o comparemos, portanto,
com um animal como um macaco, chimpanzé, macaco prego,

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Transcrição/Resumo livre 87
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o que for: quanto mais você pousa o seu olhar sobre o homem,
menos ele se parece um animal. Mais traços de distinção ele
tem, mais traços que o levam para longe de qualquer realidade
do mundo animal a ponto de o homem não parecer só uma
evolução, antes de tudo uma revolução nesse mundo!
o A ideia do homem ser uma revolução é algo que tem
que estar muito claro na nossa cabeça para fazermos
uma Antropologia honesta, para falarmos da pessoa
humana nós precisamos nos colocar de olhos bem
abertos diante dessa realidade que é uma realidade
revolucionária, mas não funciona aqui no sentido
ideológico, revolucionário enquanto um certo
rompimento com tudo que existe.
o Não que isso tem que nos deixar soberbos, altivos, não
que isso tem que fazer com que nós olhemos as essas de
cima, é uma mera constatação: as coisas são o que são
e com um pouco de atenção nós percebemos que o
homem é muito diferente de tudo que existe. Parece até
que o homem é uma síntese do universo. Essa ideia vem
da Filosofia Clássica, Grega, toma volume em outras
escolas do pensamento filosófico, mas essa ideia que o
homem é quase que um compêndio do universo: ele tem
uma realidade mineral como as pedras, ele tem uma
realidade vegetal como as plantas, ele tem uma
realidade animal, a sua psiquê, ele tem uma dimensão
que faz com que ele se assemelhe a uma realidade
angelical.
o Parece que o homem tem um pouco de tudo do que é
material e do que é metafísico, do que pode ser visto e
analisado empiricamente, pragmaticamente e daquilo
que também não pode ser tocado, enquanto
possibilidade de ¨vir a ser¨.
 Se nós quisermos fazer uma Filosofia sobre a pessoa humana
mais honesta, se nós quisermos entrar num estudo mais
antropológico, honesto, nós precisamos ter esse olhar de êxtase,
de admiração, esse olhar quase que de contemplação à
pessoa humana, como se nós estivéssemos diante de um ícone.
Quando nós estamos diante de uma pessoa nós estamos sendo
como que convidados a contemplar um mistério. Pousamos o

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Transcrição/Resumo livre 88
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nosso olhar sobre o abismo e nesse sentido, parece-nos de fato,


que o homem é uma revolução.
 Frankl deixa muito claro: Olha tá, o homem de fato tem uma
dimensão que é especificamente humana, mas coloquemos de
novo os pés no chão, lembremo-nos de que em nós somos.
Somos também biopsíquico, mas diferenciado... o homem, ao
tornar-se homem - e o tornar-se homem aqui não só processo de
humanização, mas esse processo de evolução, esse processo
de revolução, em algum momento aquela matéria, aquela
dimensão mais baixa, material, torna-se um ¨ser¨, um ser pessoa
e um ser humano - o homem ao tornar-se homem de modo
nenhum deixou de continuar sendo um animal. Da mesma
forma que um avião, pelo fato de voar, também não deixou de
ser capaz de mover-se sob o solo do aeroporto.
o Ou seja, tirando um pouco o olhar desse abismo, desse
mistério, colocando o olhar aqui no que é mais palpável,
concreto, nós podemos também dizer que o homem tem
algo de material, o homem não é um ser alado, não
coloquemos o homem como um espírito -aqui você
pode imaginar o espírito como a dimensão religiosa,
embora toda vez que eu falei de espírito eu não estava
dizendo disso, estou falando de Filosofia e não de
Teologia - Mas você pode pensar que estou falando de
um ser alado, de um ser espiritual. A pessoa tem matéria,
instinto, tem as suas paixões, dimensão psíquica. Da
mesma forma como o avião anda no solo do aeroporto,
nós, sendo avião, podemos nos comportar como
automóvel.
o A diferença é que a qualquer momento aquele
trambolho pesado, que tem rodas como um carro, que
tem um motor como um carro, tem uma direção um
tanto quanto parecida com um carro, pode puxar o seu
manche e pode causar um processo de revolução em
todo o setor automobilístico porque aquilo se coloca na
tridimensionalidade, porque aquela estrutura densa,
pesada, aquele amontoado de ferros bem desenhados,
de repente pode usar um voo.
o Um avião muito medíocre, muito baixo, um avião que
não se propõe a ser aquilo que deve ser, pode se

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contentar em simplesmente ficar andando de um lado


para o outro, taxiando de um lado para o outro, só que
ele vai fazer isso com menos precisão que um carro.
Quando nós tentamos nos comportar como um animal
não é que nós conseguimos chegar no nível de
excelência de um animal, nós fazemos mal e
porcamente as funções de um animal, nós somos esse
aviaozão pesado, tentando imitar um carro que faz mal
e porcamente a função de um carro.
 Ao tentarmos copiar os animais, viver uma vida de prazer, lazer,
comida, bebida, sexo, conforto, qualquer um que olha pensa
que nem para ser um animal você presta. Quando você se põe
a ser isso, você é isso ridiculamente, porcamente.
 Uma outra provocação que Viktor Frankl faz nessa comparação
nossa com um animal, fala: tem distinções tremendas, essa
capacidade de voar, de entrar na tridimensionalidade é uma
diferença absurda. Exemplo: uma das coisas que nós pessoa
humana somos capazes é de encontrar um sentido em meio à
dor. Nós entendemos que algumas dores escondem grandes
bens. A dor daquilo que é sacrificial porque está na busca de
algo que seja valoroso. Como já disse outras vezes: estudar, se
formar, amar e ser fiel, isso tudo exige de nós um sacrifício, exige
renúncia, ter saúde, alimentar-se bem.... Só que são dores, são
sacrifícios que nós entendemos que tem um sentido.
o Por exemplo pega um macaco, aplique uma injeção
dolorosa porque você quer obter um soro, ou seja, existe
um grande bem por trás disso tudo, pode ser um soro
tanto para curar a espécie dos Macacos né quanto um
soro para curar demais espécies. Tente explicar para o
macaco que aquela injeção dolorosa é algo que tem
um sentido por trás. Ele poderia compreender o porquê
deve sofrer? Ele consegue ter essa atitude altruísta, essa
atitude empática? Ele consegue ver no sofrimento um
bem? Evidente que não: dor é dor, prazer é prazer.
o Nós não, nós entendemos que algumas dores são
grandes bens: a dor de uma cirurgia que salvou a minha
vida, a dor de uma atividade física que faz com que eu
cresça, que eu me desenvolva, a dor de ter que ir para
cama com um pouco de fome porque eu estou fazendo

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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Transcrição/Resumo livre 90
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uma dieta e eu estou fazendo porque existe um grande


bem
 Frankl deixa claro que tem uma dimensão animal na pessoa, o
que não tem é uma dimensão de pessoa no animal!
 Por isso que a nona tese parece um pouco confusa e parece
soar um pouco estranho nos nossos ouvidos quando ela é
apresentada da seguinte forma: o animal não é uma pessoa.
 O animal não é uma pessoa e a pessoa é um animal. Mas é um
animal tal qual o animal o é? Não, não deixa de ser um animal,
mas ele consegue agir nesse mundo com particularidades, com
capacidades, tendo potencialidades que nenhum animal tem.
o Nós temos uma ideia daquele Mito do Bom Selvagem.
Qual que é a síntese da ideia de Rousseau: o homem é
bom e a sociedade o corrompe. Como se não fosse o
contato com outras pessoas, se não fosse a vida em
sociedade, as normas, os costumes, as tradições, as
instituições, a religiosidade, o homem seria bom, o
homem in natura e o homem do mato, bicho, numa
alcateia, ele seria muito bom.
o E aí vem nos a ideia daquele menino Mogli, da Wall
Disney: menino que foi criado no meio de lobos, de urso,
de serpente e ele é um menino puro, é um menino
ingênuo, ele canta musiquinhas: ¨ Necessário, somente o
necessário...¨ e ele aprendeu a se colocar no lugar dos
outros, ele aprendeu a ter um grande coração, um
menino criado como um animal assim torna-se bom,
talvez melhor do que os meninos da cidade.
 Você acha que a selva, o mato, tem mais a
oferecer do que toda a tradição filosófica, toda
a tradição religiosa, toda para tradição familiar
que nós desenvolvemos até aqui?
 Talvez o máximo que eu consigo achar daqui uns anos é alguém
que não desenvolveu traços característicos de pessoa, é
alguém que não se humanizou, é alguém altamente
comprometido no campo cognitivo, não desenvolveu as suas
potencialidades cognitivas, é uma criança com a barriga cheia
de verme, cheio de feridas, amputada na sua dimensão
cognitiva.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.
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Transcrição/Resumo livre 91
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 É só pensarmos o seguinte: nós não nos desenvolvemos


instintivamente! Um cão que fica longe de outros cães, depois
de 10, 12 anos, ele não difere muito de um outro cão! Porque no
animal o instinto lhe diz o que ele deve fazer.
 Um leão domesticado simplesmente se torna da noite para o dia
o que ele é, um predador. Um cão de apartamento pelo seu
instinto chega na máxima plenitude de ser um cão e se me falta
uma coisa ou outra porque o mimaram muito, paparicado,
tratado igual criança, na hora que você bota no meio dos outros
em algumas horas, no máximo alguns dias, ele já voltou a ser
aquilo que ele é por natureza, por instinto.
 Agora um ser humano longe de outros seres humanos, um ser
humano longe de uma comunidade humana, ele não se
desenvolve e depois tentar reinserir nessa comunidade humana
é algo profundamente perturbador, tem casos reais de pessoas
que foram abandonadas na selva ou que começou uma
guerra, a família fugiu para o meio do mato depois morreu e
ficou sendo criada por animais, a ideia do Mogli vem de
literaturas e de biografias reais, de crianças em diversas
localidades do globo que, por um motivo ou outro, se perderam
ou foram deixadas no meio do mato e ficaram há anos,
décadas sendo criadas por bichos. Quando essas crianças,
muitas vezes já jovens, são encontradas, a reinserção delas na
comunidade é algo profundamente perturbador. Talvez o grau
de comprometimento é tão grande, a dimensão cognitiva está
tão afetada, a dimensão dialógica está tão adormecida e a sua
dimensão espiritual foi tão pouco despertada, foram feitos
pouquíssimos apelos à sua consciência, ao seu modo de ser
pessoa, que talvez essa pessoa humana dificilmente em algum
momento vai viver e vai conseguir se parecer com pessoas
humanas normais. Vai ter instinto de rasgar roupas, de meter o
dente na comida como quem pega uma presa, a sua
capacidade de raciocinar vai estar limitada, a sua capacidade
de fala também. Os experimentos que foram feitos com
crianças que foram criadas durante uma boa parte da sua vida
por animais na selva é sempre algo muito triste. Porque nós não
temos um simples instinto que nos diga aquilo que nós devemos
ser e espontaneamente, naturalmente, nós nos tornamos isso.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 92
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 Nós precisamos exigir de nós o melhor, precisamos que as


pessoas nos lembrem quem nós somos.
o A pessoa humana está aberta ao mundo, enquanto o
animal está ligado ao mundo. O mundo nos chama, a
comunidade humana vai nos lembrando quem nós
somos. Se nós não tivermos alguém com quem possamos
praticar o amor, o perdão, a amabilidade, a concórdia,
essas virtudes não crescem espontaneamente no nosso
peito.
 Um leão é forte sem ter que praticar a Virtude da Fortaleza,
instintivamente ele é forte.
 Naturalmente, nós ficamos fechados em nós mesmos, nós
ficamos angustiados, sem saber o que fazer, se alguém não
pegar na nossa mão e não nos ensinar, não der conosco os
primeiros passos, se nós não nos violentarmos, se nós não
abrirmos guerra contra nós mesmos.
 A dinâmica do animal e do homem é diferente, uma é a
dinâmica ad intra, a do homem é uma dinâmica ad extra. O
homem quer se comunicar com o mundo, ele quer realizar algo,
deixar um legado, dar de si mesmo. A pessoa humana está
aberta, os seus sentidos são todos abertos ao mundo. O animal
não, basta-se a si mesmo.
 Critelli, filósofa clínica da USP: se nós pudéssemos viver a vida em
absoluta solidão, nós não poderíamos sequer pensar. Nós
pensamos porque precisamos comunicar aos outros e a nós
mesmos as diferenças percebidas. E comunicando-lhes a
diferença do nosso ponto de vista, fazê-los ver a diferença que
nós mesmos fazemos no meio deles.
o Ficaríamos com um retardo mental severo se nós não
tivéssemos em contato uns com os outros e não
estivéssemos instalados numa tradição humana. Pessoas
que foram criadas longe de outras pessoas tem um
retardo mental que muitas vezes é irreversível.
 O sentido está fora da pessoa, cabendo a ela encontrá-lo. Ele
não está dentro, como se fosse dado, como é com os animais,
que são o que são. Não se pode valorar a atitude de uma
animal.
 Chesterton em diversos Livros vai falando um pouco dessa
diferença curiosa entre os homens e os animais, e ele é muito

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 93
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bem-humorado em tudo que ele fala. Livro Ortodoxia, quase no


final do Livro: Se você parar de olhar para os Livros sobre os
animais e os homens e começar a olhar diretamente para os
animais e os homens, com um senso mínimo de imaginação ou
humor, um senso de desvairado ou de ridículo, você observará
que o que o assusta não é quanto o homem se assemelha aos
animais, mas quanto ele difere deles. É a monstruosa escala de
sua divergência que exige explicação: que o homem e os
animais são iguais é, em certo sentido, um truísmo (algo
evidente), mas que sendo tão iguais eles sejam tão
disparatadamente, tão absurdamente desiguais, esse é o
choque e o enigma. O fato de um macaco ter mãos é muito
menos interessante para um filósofo do que o fato de que, tendo
mãos, ele não faça nada com elas! Não estala os dedos, não
toca violino, não entalha um mármore, nem trincha costeletas
de carneiro. Fala-se de arquitetura bárbara e de arte inferior,
mas os elefantes não constroem colossais tempos de marfim,
nem mesmo no estilo rococó. Os camelos não pintam nem
mesmo quadros ruins, embora estejam equipados com material
de muitos pincéis de pelos de camelo. Certos sonhadores
modernos dizem que as formigas têm uma organização social
superior à nossa. Elas têm de fato uma civilização, mas
exatamente essa verdade só nos faz lembrar de que é uma
civilização inferior. Quem jamais descobriu um formigueiro
decorado com as estátuas de formigas famosas, quem já viu
uma colmeia na qual estivessem esculpidas as imagens de
esplêndidas rainhas de outrora? Não. O abismo entre o homem
e as outras criaturas pode ter uma explicação natural, mas é um
abismo. Falamos de animais selvagens, mas o único selvagem é
o homem. Foi o homem que se evadiu, foi o homem que fugiu.
Todos os outros animais são domésticos e seguem a inflexível
respeitabilidade de sua tribo ou de espécie. Todos os outros
animais nesse sentido são domésticos, apenas o homem é
sempre um indômito, seja ele devasso, seja ele um monge.
 O animal está sempre em casa, ele basta a si mesmo. O homem
não. O homem precisa, construir, contemplar, conhecer.
 Como diziam os padres da Igreja, os padres do deserto, os
primeiros filósofos do cristianismo, do catolicismo: o homem é um
ser inquieto, um vir desideriorum. Está sempre fugindo do tédio,

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Transcrição/Resumo livre 94
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da angústia. Nós não somos domesticáveis, nós queremos


sempre sair e explorar, ultrapassar os limites. Não estamos em
casa: estamos aqui, mas não somos daqui. Parece que nada nos
contém em absoluto, nos sacia por inteiro.
o Nunca nos bastamos com as respostas que temos,
achando-as sempre superficiais demais para a agudez
do nosso espírito e para a capacidade de sondar tudo
aquilo que está no nosso peito.
 Ser pessoa é ser esse mistério.
 Frankl vem nos lembrar: o animal não é pessoa, mas nós
podemos ser animais. Nós podemos nos rebaixar ao nível de um
animal ou ainda mais baixo do que um animal, podemos nos
tornar sub-humanos ou até pior do que o comportamento mais
vil e bestial que um animal possa ter. Mas também nós podemos
alçar grandes voos.
 Como diz Chesterton nessa parte final: nós podemos ser um
devasso ou nós podemos ser um monge, nós podemos nos
entregar aos prazeres ou viver uma vida ascética.
 O animal não é pessoa e a pessoa, mesmo tendo similaridades
com animal, e tendo a sua dimensão que se equipara à dos
animais, pode ainda, tornando-se aquilo que deve, realizar feitos
que animal nenhum nesse mundo é capaz.
 Capacidade de realizar algo, capacidade de amar alguém,
capacidade de nos posicionar diante de um sofrimento.
 Livro ¨Em Busca de Sentido¨: Enquanto ainda estávamos no
chuveiro - experiência de início do campo de concentração
dele - experimentaríamos integralmente a nudez, agora nada
mais temos senão este nosso corpo humano nú, sem os cabelos,
sem pelo algum, nada possuímos a não ser o ser. Literalmente
nossa existência nua e crua. Até mesmo numa situação como
essa, que parece que ele não tem mais nada, que agora ele vai
se tornar como um animal porque estão inclusive tratando ele
como assim o fosse, ele ainda tem a sua existência, ex sistere,
capacidade de sair de si mesmo.
 Frankl diz, salvo engano, no Livro ¨Sofrimento humano,
fundamentos antropológicos¨: o homem não é não é um
macaco, não é um macaco sem pelo, seria reduzir demais as
capacidades humanas. Porque mesmo o homem no seu estado

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Transcrição/Resumo livre 95
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mais vil, na sua situação mais limite, ainda pode contemplar o


pôr do sol.
o Às vezes chamavam uns aos outros no campo de
concentração - imagina todo mundo raquítico, fétido,
doente, moribundo - um chamava o outro e ficavam lá
por alguns minutos contemplando o pôr do sol.
o Frankl fala que num certo momento estava cheio de
corpos aos seus pés, pessoas mortas e ao seu entorno
escutou uma música, o violino vinha de longe.
 Livro ¨Sede de sentido¨, na página 54: se principalmente essa
ideia de que o animal não é um homem for desconsiderada, nós
estamos caindo num mal terrível. Também se pode ser um bom
médico se pode ser um bom médico sem nada que acabamos
de ver. Pode ser um bom médico, pode exercer bem a
medicina sem ter um conhecimento profundo e real sobre o que
é a pessoa humana - mas ainda continua - mas nesse caso de
ser um bom médico sem considerar aquilo que é
especificamente humano, não nos deveríamos surpreender se
apenas uma coisa nos distinguisse de um veterinário: o número
de patas da nossa clientela.
o Um bom médico que não consegue ter uma noção do
que é a pessoa humana, chamamos de médico, mas
poderíamos chamar de veterinário. A única coisa que o
diferencia de um veterinário é o número de patas da
clientela.
 Aplica-se à medicina mas aplica-se a muitas coisas: pega a
Psicologia – pode-se ser um bom psicólogo sem ter uma boa
noção de que a pessoa humana - mas aí não tá fazendo muito
mais do que o Skinner fazia com o rato na sua caixa. Pode ser
um bom terapeuta sem uma boa visão do que a pessoa
humana? Pode, mas aí talvez ele não está fazendo muito mais
do que Freud fazia com as suas histéricas.
 O homem tem uma dimensão similar à dos animais, mas ele não
é essa dimensão, ele é o unita multiplex, ele é uma unidade na
totalidade e dentro dessa totalidade há uma dimensão que o
marca que é essa dimensão noética.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 96
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Aula 10

LA VOLUNTAD DE SENTIDO – VIKTOR FRANKL & ELISABETH S. LUKAS


DIEZ TESIS SOBRE LA PERSONA
Conferencias Escogidas sobre Logoterapia. Ed. Epublibre – 1982
Tradução livre da Conferencia que compõe o Livro ¨ La Voluntad de Sentido¨,
sem tradução para o português – por Regina Console Simões.
10. La persona no se comprende a sí 10. A pessoa não compreende a si
misma sino desde el punto de vista de mesma senão do ponto de vista da
la trascendencia. Más que eso: el transcendência. Mais que isso: o
hombre es tal, sólo en la medida en que homem é tal, apenas na medida em que
se comprende desde la trascendencia, se entende pela transcendência, ele
también es sólo persona en la medida também só é pessoa na medida em que
en que la trascendencia lo hace persona: a transcendência o torna uma pessoa: o
resuena y reverbera en él la llamada de chamado da transcendência ressoa e
la trascendencia. Esta llamada de la reverbera nele. Ele recebe esse
trascendencia lo recibe en la conciencia. chamado da transcendência na
consciência.

Para la logoterapia, la religión es y no Para a logoterapia, a religião é não pode


puede ser otra cosa que un tema, nunca ser outra coisa que um sujeito, nunca
una posición básica. La logoterapia debe uma posição básica. A logoterapia deve
manejarse más acá de la fe en la ser gerenciada mais perto da fé na
revelación y responder al interrogante revelação e responder a quem questiona
por el sentido desde más acá de la pelo sentido daqui da bifurcação que
bifurcación que divide la visión del divide a visão do mundo teísta e ateu. Se
mundo en teísta y ateísta. Si de este deste modo não interpreta o fenômeno
modo no interpreta el fenómeno de la da fé não como uma fé em Deus, mas no
fe no como una fe en Dios, sino en el sentido mais amplo de uma fé no
sentido más amplio de una fe en el sentido, então é absolutamente legitimo
sentido, entonces es absolutamente que se ocupe do fenômeno da fé.
legítimo que se ocupe del fenómeno de Aparentemente se adere ao parecer de
la fe. Se atiene entonces al parecer de Albert Einstein que diz que “perguntar
Albert Einstein que dice que «preguntar pelo sentido da vida significa ser
por el sentido de la vida significa ser religioso” [51].
religioso» [51].

El sentido es una pared detrás de la cual O sentido é um muro detrás do qual não
no podemos retroceder y que, podemos voltar atrás e que,

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 97
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simplemente, tenemos que aceptar; simplesmente, temos que aceitar. Este


este sentido último debemos aceptarlo, sentido último devemos aceita-lo,
porque ya no podemos averiguar nada porque já não podemos descobrir nada
más allá de él dado que, al intentar mais além dele, pois, ao tentar
responder al interrogante por el sentido responder à pergunta pelo sentido da
de la existencia, la existencia del sentido existência, a existência do sentido já se
ya se presupone. En resumen, la fe del pressupõe. Em resumo, a fé do homem
hombre en un sentido, es a la manera em um sentido, é do modo Kantiano,
kantiana, una categoría trascendental. uma categoria transcendental. Do
Del mismo modo que sabemos desde mesmo modo que sabemos de Kant que
Kant que de alguna manera no tiene de alguma maneira não tem sentido
sentido interrogarse sobre categorías interrogar-se sobre categorias além do
más allá del espacio y tiempo, espaço e tempo, simplesmente porque
simplemente porque no podemos não podemos pensar, e por isto, tão
pensar, y por eso, tampoco podemos pouco podemos perguntar sem
preguntar sin presuponer el espacio y el pressupor o espaço e o tempo, da
tiempo, del mismo modo, la existencia mesma maneira, a existência do homem
del hombre es desde siempre un existir é desde sempre um existir de acordo
de acuerdo a un sentido aunque sea com um sentido ainda que seja
desconocido. Existe algo como una desconhecido. Existe algo como uma
premonición del sentido, y un premonição do sentido e um
presentimiento del sentido también pressentimento do sentido subjaz na
subyace en la base de la llamada base da chamada “vontade de sentido”
«voluntad de sentido» de la logoterapia. da logoterapia. Quer queira ou não, se o
Si lo quiere o no, si lo sabe o no, el sabe ou não, o homem crê em um
hombre cree en un sentido mientras sentido enquanto respira. Até o suicida
respira. Hasta el suicida cree en un crê em um sentido, ainda que não seja o
sentido, aunque no sea en el de la vida da vida ou de seguir vivendo, é pelo
o del seguir viviendo, es al menos en el menos o de morrer. Se não crê em
del morir. Si no creyera en ningún nenhum sentido, não poderia mover um
sentido, no podría mover un dedo y por dedo e por isto não poderia cometer o
eso no podría proceder al suicidio. suicídio.

NOTAS: NOTAS:
[51] (N. 3.a ed.). Después de todo lo [51] (N. 3.a ed.). Depois de tudo o que foi
dicho, podría afirmarse que la religión, dito, poderia se afirmar que a religião,
como también la fe en el sentido, es una como também a fé no sentido, é uma
radicalización de la «voluntad de radicalização da “vontade de sentido”,
sentido», pues se trata de una pois se trata de uma “vontade de um

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 98
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«voluntad de un sentido último», esto sentido último”, isto é, de uma “vontade


es, de una «voluntad de un de um supra sentido”.
supersentido».

A Décima Tese: A Pessoa Humana é Transcendente

 Para refrescar a memória de vocês e assim caminharmos para a


décima tese – esta é a grande chave de leitura para
compreender a vida e a obra de Viktor Frankl (porque, a vida e
a obra de Viktor Frankl se misturam, são quase a mesma coisa; e
é o que faz com que isso se torne ainda mais interessante, é o
que dá fidedignidade a toda a filosofia, epistemologia e
antropologia de Viktor Frankl). A teoria se fundiu na pessoa.
 Eu disse na primeira aula que a Logoterapia parte de uma
proposta fenomenológica da Autocompreensão Ontológica
Pré-Reflexiva. E com isso o que Viktor Frankl está querendo nos
dizer?
o Autocompreensão, está dizendo a opinião que eu
tenho de mim mesmo;
o Ontológica, ele aponta nos para aquilo que se
refere a existência humana;
o Pré-reflexiva significa que antes de qualquer
conhecimento prévio, - a priori de psicologia, de
filosofia e de psiquiatria - eu já sei de antemão o que
é a vida,
o Ou seja: a opinião que eu tenho a cerca de mim
mesmo, e no que tange o ser pessoa, naquilo que
aponta e caminha para existência humana eu já
consigo compreender, intuir - antes mesmo de ser
iniciado numa escola filosófica, de ser colocado
frente a uma proposta psicológica, - porque isso está
estampado ante os meus olhos.
 Com um pouco de honestidade intelectual, com intuição,
conseguimos compreender minimamente quem nós somos e
entender qual é a antropologia da pessoa humana.
 Viktor Frankl, tendo muito claro essa noção que o homem
simples, homem do campo, sem estudo, já consegue dizer com
muita propriedade quem é a pessoa humana, ele vai dar base
e fundamentos e cria toda uma proposta teórica, para desenhar
Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.
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Transcrição/Resumo livre 99
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aquilo que é a pessoa humana, nos contornos, na forma e com


o conteúdo que ele julga ser o mais adequado.
o E uma das formas que ele o faz, no Livro ¨La Voluntad
de Sentido¨, que não tem em Português, inclusive é
um texto muito pequeno, nosso Curso foi além
daquilo que Frankl havia pensado ao colocar as 10
Teses da Pessoa Humana, onde nos aponta
caminhos, dá-nos perspectiva, referência, e nos dá
chão para conseguirmos aprofundar nessa teoria
fantástica, humana, cheia de otimismo e verdade
que é a Logoterapia.
 Ele começa a dizer: antes de mais nada precisamos entender
que a pessoa humana é (1) uma unidade, não enquanto uma
realidade atomizada, mas enquanto uma realidade única;
somos únicos, indivisos, não podemos ser quebrados,
fragmentados nem divididos.
o Relembra a história do paciente Jerry Long, no Livro
¨Em Busca de Sentido – um psiquiatra no campo de
concentração¨, nas últimas páginas.
 Viktor Frankl nas últimas páginas do Livro Em
Busca de Sentido fala de um jovem que o
escreve dizendo: “eu fiquei quadriplégico,
mas naquele dia terrível eu adotei um credo
e foi o seguinte: eu quebrei o meu pescoço,
eu não quebrei o meu ser”. Ou seja, nós
somos inquebrantáveis (até sugeri aquele
filme Unbroken).
 Quebrei o meu pescoço, não quebrei o meu
ser.
o Relembra do Filme ¨Unbroken¨.
 E Frankl continua: a pessoa não é só única, singular, é
inquebrantável; ela também é (2) insomável, não tem nada que
possa agregar-se a ela, não tem nada que possa se somar a ela
a ponto de torná-la outra coisa que não ela mesmo.
 Na terceira tese, Viktor Frankl vai nos dizer: somos (3) irrepetíveis,
porque nós somos um ser novíssimo, portanto único e irrepetível
- nunca houve e nunca haverá na face da terra alguém como
você.

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Transcrição/Resumo livre 100
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o E portanto eu não posso dizer que é outro que vive


essa vida, por isso que eu não posso culpar alguém
pelas minhas ações, não posso terceirizar as minhas
responsabilidades.
 Viktor Frankl, dando passos nessa construção do que é a pessoa
humana, diz que a pessoa humana também é (4) espiritual; ou
seja ela não fica só na bio-dimensionalidade, ela tem uma
verticalidade, uma tridimensionalidade.
o O que a faz ser único, irrepetível, insomável,
inquebrantável, é o fato de ela não só se espalhar
na horizontalidade do mundo (nasce, cresce, se
reproduz e morre), mas ter uma tridimensionalidade,
que faz com que ela se eleve, que dá a ela uma
verticalidade (faz com que ela nasça, indague-se
sobre o ser, cresça, realize valores, ame, se
reproduza, tome consciência de si mesmo, morra –
com uma interrogação gigantesca ainda no fato de
morrer, porque especula sobre o porvir, sobre a vida,
a finitude, ideia de céu e de paraíso.
o Isso é a pessoa humana: esse ser que não tem
apenas uma bidimensionalidade chapada, mas
que tem uma tridimensionalidade.
 Caminhando na teoria de Viktor Frankl, encontramos a ideia de
existência: a pessoa humana é um (5) ex-sistere, um ser para
fora.
o Ou seja, é um ser livre, mas é livre para responder,
para ser responsável. Não é livre para nada, para
caminhar para o absurdo ou livre como diriam
alguns existenciais niilistas, ateus, livre para a morte,
um ser lançado nesse mundo e que a liberdade lhe
gera náuseas e angústias.
o Um ser livre que consegue encarar a vida como uma
missão, responsabilizar-se pelo que faz, responder a
um chamado que a vida lhe faz.
 Nós somos indagados pela vida e cabe-nos
responder.
 Aí entramos na tese seguinte, de que a pessoa é um (6) sujeito,
a ideia de pessoa egóica, senhor da nossa casa.
o Cita novamente a história da avó.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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Transcrição/Resumo livre 101
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oSomos esse ser que pode bater na mesa da


existência, na mesa da nossa vida, abrir guerra
contra nós mesmos, nos perceber como sujeitos, e
falar “quem manda aqui sou eu, sou o dono dessa
história.”
 Na oitava tese, vimos que nós temos essa (8) noodinâmica: não
caminhamos para um estado isento de tensões; a nossa vida é
marcada por uma atenção fecunda.
o Nós precisamos de uma tensão bem dosada.
o Há sobre nós um arco de tensão que faz com que
saiamos do ser caminhemos ao nosso dever ser.
o Ou seja, não se trata de homeostase a todo custo,
mas sim de uma noodinâmica, quebrando essa
ideia do nirvana.
 Chegamos na nona tese: (9) o animal não é uma pessoa. A
pessoa continua sendo um animal, embora o supere, mas um
animal em hipótese nenhuma é uma pessoa.
o Eu citava Chersterton, autor inglês que nos dá
aquela ideia de que todos os animais são
domésticos, apenas o homem é sempre indômito.
 É aquele que pode ser um devasso ou ser um
monge. Só o homem parece que não está
em casa, só o homem parece que não
consegue ser domesticado porque há
sempre nele algo que o inquieta, que o deixa
agitado, que faça especular, caminhar a
passos largos nesse mundo, que faz com que
ele não se baste a si mesmo.
 O animal se fecha na sua vida, basta-se a si
mesmo.
 Nós somos esse ser mais selvagem, brinca
Chesterton.
 Nós chegamos então a décima tese de Viktor Frankl falando que
a pessoa humana é (10) transcendente.
 Antes de tudo quero fazer uma reflexão com vocês: o início de
todo o movimento de autoconhecimento (porque me parece
que boa parte dos que aqui estão querem trilhar esse caminho
interessante e muito curioso do autoconhecimento; não só para
conhecerem-se, mas também para se desenvolver dentro

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


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daquela tríade que eu citei do “conheça-te, aceita-te e supera-


te” de Santo Agostinho de Hipona)
 Como iniciamos o autoconhecimento?
o O autoconhecimento tem suas bases, tem como
início, como movimento de tudo, para que
consigamos falar numa tomada de consciência
precisamos entender que nós somos
autotranscendentes.
o Para que a gente chegue na noção de que nós
podemos nos autogovernar, termos
autoconsciência, para que a gente consiga
compreender a importância da auto-educação,
para que então a gente caminhe para essa ideia do
autoconhecimento, o início desse longo e fantástico
processo chamado autoconhecimento é a nossa
vivência autotranscendente.
 Quando nós olhamos para pessoa humana, voltando para a
ideia de Autocompreensão Ontológica Pré-reflexiva, ideia
intuitiva, rápida, que nós temos sobre nós mesmos, quando a
gente olha para a gente, pessoa humana, percebemos que de
alguma forma no teu corpo, na tua existência, no teu ser, tudo
fala sobre essa transcendência.
o Quando nós olhamos para nós mesmos,
percebemos que nós não nos bastamos. Não só isso:
nós percebemos que nós não nos pertencemos!
o Parece que todo o meu ser está endereçado,
direcionado para fora de mim, para alguém, para o
mundo.
 Por mais que eu tenho essa capacidade de
entrar dentro de mim mesmo, abrir um
diálogo comigo (um solilóquio), percebo que
isso não me basta! Entreter-se consigo
mesmo é terrível, é pavoroso, amputa, limita,
atrofia, adoece.
 A todo momento nós queremos estar em movimento, fazer algo,
descobrir a nossa vocação nesse mundo, saber qual é o nosso
talento, encontrar pessoas, estabelecer vínculo.
o Ou seja: tudo em mim comunica ação, relação,
comunica alteridade, comunica a transcendência.

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É fantástico pensar na pessoa humana dessa forma


e é isso que nós somos!
 Coloque uma pessoa fechada nela mesma, trancafiada,
isolada, encarcerada: aquilo a deprime e angustia.
o Ainda que tenha o mínimo necessário para
sobreviver, ela fica em profundo
descontentamento, porque em nós tudo é
alteridade, ação e relação.
 Viktor Frankl disse: “Ser humano significa, já de si, ser para além
de si mesmo. A essência da existência humana, diria eu, radica
na sua autotranscendência.” “Ser homem significa, de per si e
sempre, dirigir-se e ordenar-se a algo ou a alguém, entregando-
se a uma obra, dedicando-se a algo, a um homem a quem
amar, a um Deus a quem servir.”
o Essa tríade fantástica é trazida por Frankl:
1. Algo a realizar,
2. Alguém a quem amar e
3. Um Deus a quem servir.
o Essa alteridade, essa ação, é que comunica a nossa
forma de ser autotranscendente, capaz de sair de si
mesmo e se entregar a algo ou alguém, é isso que
nos marca enquanto pessoa.
o Frankl deixa para a décima tese, por último, aquilo
que é a base e a fundamentação de toda a
proposta Logoterapêutica.
o A porta de entrada de toda a visão de Viktor Frankl
sobre a pessoa humana, a ideia de
autotranscendência.
 Viktor Frankl (Livro ¨Um sentido para a Vida¨, página 50):” Aquilo
que tenho chamado de autotranscendência da vida está
indicando o fato fundamental que ser homem significa estar em
relação com alguma coisa ou com alguém diferente de si, seja
isso um significado a ser realizado, seres humanos a encontrar. A
existência vacila, desmorona, se não for vivida enquanto
autotranscendente. ¨
o Veja que curioso: a todo momento estamos
buscando algo e quando nós deixamos de buscar
algo, de ir ao encontro de alguém, e por um breve
momento começamos a nos entreter muito conosco

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mesmos, nos ensimesmamos, fecharmos em nós


mesmos, esse movimento de ensimesmar, de
ostracismo, faz com que toda existência vacile,
desmorone.
o ¨Quando é negada a autotranscendência a própria
existência se desfigura. ¨(Frankl)
 Ela se materializa, o ser fica reduzido a mera
coisa, o ser humano é despersonalizado, o
que é mais importante – o sujeito –
transforma-se em objeto.
 Quando eu esqueço que eu sou para alguém e não para mim
mesmo, de que eu sou para uma missão, de que eu sou para
uma outra pessoa que eu devo amar, que tenho um Deus a
quem eu devo servir, eu me despersonalizo.
o O meu ¨tornar-se pessoa¨se frustra. Fico na
bidimensionalidade chapada, fico na dimensão
subumana, animalesca, como objeto.
o Objeto é algo que pode ser usado e desusado.
o Torno-me coisa.
o Fico no plano do rés.
 Viktor Frankl se utiliza muito de um autor antigo, Kierkegaard,
quando ele nos traz um exemplo: “a felicidade é como se
estivesse numa sala, e todos querem entrar nessa sala fantástica
onde reside a felicidade. Todos tentam abrir a porta dessa sala
para dentro, mas quanto mais eles querem abrir essa porta para
dentro, mais eles a trancam; porque a porta que levamos ao
encontro da felicidade só abre para fora, só abre para os outros.
¨
o Na tese que trabalhávamos o ex-sistere, a existência,
já falávamos um pouco disso e agora estamos
aprofundando.
 “A procura de si mesmo traz a perda de si próprio e a perda de
si próprio traz a realização pessoal.” (Dom Rafael Lhano
Cifuentes)
o Pegamos a própria ideia do cristianismo, quando o
Cristo diz que aquele que perder a sua vida vai
ganhá-la, mas aquele que quiser salvá-la, irá perdê-
la.

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oKierkegaard dizia isso, mas se pegarmos também


autores da Grécia Antiga, de 26 séculos atrás, a
ideia de que a busca por salvar a si mesmo leva à
perdição estava clara há anos, a tantos quanto
queriam minimamente fazer uma filosofia sadia.
 Volto em Cifuentes, dizendo: “nessa vida nós precisamos dar”.
Frankl também deixa isso muito claro. Dar-se de forma generosa;
dar a si mesmo! Só dá muito quem dá a si mesmo!
o Quem dá somente coisas materiais parece estar
medindo com o braço a distância que o separa de
quem recebe. É preciso acabar com essa distância.
o Dar-se é fazer de si mesmo um presente, entregando
ao outro a sua própria vida.
 Quero lhe dar o bem em si mesmo, quero lhe
dar o bem que eu sou.
 Quando eu me dou, estou dando tudo que está nas minhas
mãos!
o Como diz José Maria Escrivá: passou o tempo de
darmos quatro tostões e roupas velhas, é preciso dar
o coração e dar a vida.
o Ou damos de nós mesmos ou estamos numa vida
fechada, mesquinha, e frustrando a
autotranscendência. Assim, todo o resto trava na
nossa vida: o autogoverno, a autoconsciência, a
autorreflexão, o autoconhecimento, tudo fica em
lockdown.
o Quando sequer conseguimos adotar um movimento
de saída de si mesmo ainda não demos os
primeiríssimos passos na construção de uma
personalidade!
 O homem se realiza, dizia Viktor Frankl, não se preocupando
com o realizar-se, mas esquecendo-se de si mesmo e dando-se,
descuidando-se de si mesmo e concentrando seus pensamentos
para além de si.
o Nós temos uma ideia terrível de que não podemos
viver só essa atitude de abnegação, de entrega, de
oferta de mim mesmo...
o Nós nem deveríamos nos preocupar com isso!
Vamos ser bem sinceros: ninguém aqui tá dando

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Transcrição/Resumo livre 106
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muito de si mesmo, chegando nesse nível de


humanidade e de personalidade, a ponto de
descuidar-se de si mesmo e de se entregar de fato
amorosamente, apaixonadamente a algo que o
valha, a alguém, a uma ação concreta neste
mundo, a Deus? Ou seja, não fiquemos muito
preocupados! Entre nós e madre Teresa de Calcutá
existe um abismo!
o A provocação aqui é para que nós comecemos a
sair de nós mesmos dando, os primeiros passos de
uma atitude autotranscendente. Isso é para nos
tornarmos gente (tornar-se santo é um outro
caminho mais amplo).
o Se despersonaliza aquele que ainda não consegue
sair de si mesmo, esquecer-se de sim mesmo,
descuidar de si mesmo para entregar-se a alguém
de fato que vale, a uma situação concreta, a
alguém a quem, se você não fizer algo, ficará sem
ser feito.
 Lembra-nos da tríade do Rabino Hilel: se eu não faço quem fará?
Se eu não fizer agora, quando farei? Se eu fizer só por mim
mesmo, que droga que sou?
o A vida só tem sentido se for gasta. Uma vida
preservada é uma vida doente.
 Quero pegar agora um poema de Fernando Pessoa, no qual ele
pega a frase “navegar é preciso, viver não é preciso” e coloca
sua arte. Acho que essa poesia lembra-nos muito daquilo que
nós devemos viver e da atitude que nós devemos ter.
o Fernando Pessoa nos diz assim: “Navegadores
antigos tinham uma frase gloriosa: ¨Navegar é
preciso, viver não é preciso! ¨Quero para mim o
espírito desta frase, transformada a forma, para a
casar como eu sou: viver não é necessário, o que é
necessário é criar. Não conto gozar minha vida, nem
em gozá-la penso, só quero torná-la grande, ainda
que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha
alma a lenha desse fogo; só quero torná-la de toda
a humanidade, ainda que para isso tenha de a
perder como minha. Cada vez mais penso assim.”

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Transcrição/Resumo livre 107
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Façamos da nossa vida o que dá



encorajamento para que outros não
desanimem. Viver enquanto fechar-se em si
mesmo, ter a vida como algo meticuloso,
precioso, que neuroticamente eu encerro,
isso mata-me.
 É preciso viver a vida como missão!
 O mundo lá fora espera o nosso sim, espera que eu saia; um
mundo com pessoas a quem amar, com valores a realizar, com
sentido a encontrar.
 O caminho se faz caminhando, e só vai caminhando quem vai
se deixando pelo caminho, se consumindo a cada passo. Em
casa, fechados, trancafiados, amedrontados, com fatalismos
neuróticos, com uma visão equivocada da pessoa humana, nós
não saímos para essa aventura. Nem iniciamos um caminho. E
nesse caminho, nos tornamos pessoa.
 Essa é a décima tese de Viktor Frankl: a pessoa é
autotranscendente, capaz de sair de si mesmo e de se entregar
a algo ou alguém.

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Aula Extra

A vida de Viktor Frankl: Um Monumento


Com Dr. Cláudio García Pintos
Transcrição: Guilherme Andrade

DR. CLÁUDIO: Muito obrigado pelo convite, Luís e aos que assistem
essa aula. Sei da capacidade científica do Luís e, certamente, da
qualidade da atividade que estão realizando.

Hoje seria bom se pudéssemos falar sobre o homem Viktor Frankl,


aquele que nunca quis todas as honras, ser chamado de doutor,
professor, muito menos receber honrarias. Era um homem comum que
tinha uma vida extraordinária e esse é o valor do testemunho da vida
de Viktor Frankl. Ele não tinha um equipamento supremo da
humanidade, tinha os mesmos recursos e as mesmas limitações que
todos nós temos, mas tinha uma qualidade: a coragem de viver, a
coragem de aceitar a vida como lhe foi proposto, com o único desejo
de tornar essa vida a melhor história possível, não apenas para ele, mas
para todos aqueles a quem ele pôde prestar-se a serviço.

Viktor Frankl nasceu em 26 de março de 1905 em Viena. Naquela


época, era a capital do Império Austro-húngaro, possivelmente era uma
cidade mais importante, em relação à cultura, política e ciências que
Paris e Londres. Frankl nasceu do matrimônio de Gabriel Frankl e Elsa
Leon. Os dois eram tchecos, da República Tcheca, judeus, e vieram
para Viena porque suas famílias haviam participado de
uma migração de judeus da Tchecoslováquia que foram perseguidos
por razões religiosas e o imperador austro-húngaro abriu Viena para
recebê-los, dando-lhes um lugar onde supostamente ou, porquê ao
menos era a ilusão do imperador, que os judeus iriam viver em
segurança, com tranquilidade e com prosperidade.

As famílias se instalaram em um distrito na cidade de Viena que


é chamado Leopoldstadt, onde ficaram a maioria dos judeus. Embora
o imperador estivesse muito aberto a receber judeus, a cidade de
Viena sempre foi absolutamente anti-semita, de modo que os colonos
vienenses não estavam tão felizes com a chegada dos judeus.

Nesse distrito que estavam vivendo, eles o chamavam de “Ilha do


Alho” - era uma maneira depreciativa de chamá-lo, porque os judeus
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Transcrição/Resumo livre 109
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supostamente tinham um cheiro forte de alho, para eles. Assim, Gabriel


e Elsa se casaram e eles tiveram três filhos: Walter Augusto, seu primeiro
filho, Viktor Emil, seu segundo filho, e Stella Josefina, sua terceira filha.
Três filhos que viviam na Rua Czenin, na casa n° 6, ap. 25. Gabriel era
funcionário do império, trabalhando no Ministério da Educação, e era
tão apaixonado pela juventude que o Ministro da educação
o promoveu como secretário do ministério. Elsa Leon era uma dona de
casa amorosa e tradicional, cuidando dos meninos, educando-os.
Tanto Elsa quanto Gabriel eram judeus e professavam ativamente a
religião judaica. Elsa era descendente de dois rabinos muito importantes
na tradição judaica: um é chamado Rashi (?) e foi um dos grandes
intérpretes da Torá - talvez o mais importante -, e o outro rabino, o
grande rabino da sinagoga central de Praga. Ambos muito queridos e
reconhecidos na tradição judaica. E Gabriel, eu já disse, era
uma pessoa extremamente religiosa, ortodoxa em sua fé. Em torno da
casa havia um Templo, uma Sinagoga, e ele ia diariamente à Sinagoga
para rezar.

Nesse lar tão tingido pela religiosidade e pela presença do


judaísmo, de qualquer maneira, a educação de Viktor era muito
aberta, muito disposta, diríamos até ecumênica. Tanto que Viktor muitas
tardes cruzou a Avenida do Prater, que é uma rua próxima ao parque
tradicional em Viena, e ia correndo alguns quarteirões até o convento
das Freiras Carmelitas. Lá as freiras reuniam os meninos do bairro, os
faziam brincar, prepararam um lanche com chocolate quente e massas
vienenses e, enquanto isso, lhes ensinavam o Catecismo Católico.

Para os pais de Viktor Frankl não tinha nenhum problema que seu
filho passasse as tardes com as Freiras Carmelitas, sendo uma família
judia tradicional. Posso garantir que esse tipo de educação que Viktor
recebeu, não somente nesta área, que o pensamento de
Viktor também era um pensamento muito ecumênico na ciência. Você
nunca encontrará um trabalho em que Viktor diga a algum outro autor
que ele está errado. Ele não rejeita nenhum autor. Pode não concordar
com alguns aspectos, mas sempre tenta resgatar parte do pensamento
do outro. E isso eu acho que tem muito a ver com o local de nascimento
de onde vem Viktor Frankl.

LUÍS ENRIQUE: É interessante quando você diz isso dessa postura


de Viktor Frankl, é essa tentativa dele de encontrar algo que ele

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também possa estar de acordo, que cause nele uma admiração


mesmo que seja alguém de uma linha teórica distinta e de linha essa
que Viktor Frankl pode até ter algumas críticas no campo
epistemológico, no campo filosófico, antropológico, porque a gente
tem dito muito aqui no curso sobre as divergências entre Frankl e Freud.
É evidente que existiam e Frankl, eu deixei isso muito claro, quando ele
vai dizer de Freud ele diz: olha, é claro, temos as nossas divergências e
são tantas, mas Freud é um gigante. Hoje eu sou um anão, só que um
anão, ao subir no ombro de um gigante, pode ver além, pode ver mais
longe do que o próprio gigante. Mas ele é um gigante, o trabalho dele
é um trabalho de escavação, um trabalho fundamental. Você já vê
essa capacidade, essa docilidade à amabilidade e até uma atitude um
pouco diplomática de Viktor Frankl de conseguir enxergar não a teoria
simplesmente, que pode ser atacada e com isso derrubar o autor, mas
a pessoa por trás dessa teoria, que tem lá as suas particularidades, que
tem algo que encanta um único e irrepetível que também convoca
contemplação. Só esse parênteses, porque é algo que durante o curso
temos falado bastante, essa tua fala ajuda-nos a trazer quem é o
homem Viktor Frankl, não só a teoria dele.

DR. CLÁUDIO: Tomando o que você disse, tem uma explicação


para essa particular característica de Viktor Frankl: todos os autores, os
grandes autores (Freud, Adler, o que você deseja nomear), cometeram
um erro na minha opinião: eles superestimaram a teoria e tudo o que
fizeram foi para defender sua teoria. Frankl não colocou sua teoria no
centro de seu pensamento, ele colocou a pessoa humana no centro
de seus pensamentos. Seu único interesse era conhecê-lo, entendê-lo,
promovê-lo de tal maneira que sua teoria não fosse mais importante
que qualquer outra teoria e, de forma alguma, sua teoria seria mais
importante do que a pessoa humana. Se você pensar sobre algumas
técnicas que são específicas para Viktor Frankl como, por exemplo, a
intenção paradoxal, tem muitas contribuições de behaviorismo
americano (e eu estou falando do americano behaviorista, para quem
o homem é um animal e nada mais). Por isso você percebe como ele
não podia ter medo ou escandalizar-se com uma teoria que parece
cientificamente estar no outro extremo de seus pensamentos, mas
olhava e dizia: ‘isso é muito bom, eu vou aceitar”.

Acho que isso, sem descuidar de suas características inatas, tem


a ver com um olhar, com a cultura em que ele cresceu e naquele
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Transcrição/Resumo livre 111
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universo da infância de Viktor Frankl. Para localizarmos melhor, pense


que ele nasceu em 1905 - dissemos que era forte a presença religiosa
espiritual na casa, havia uma abertura que lhe permitiu não ter
problemas em passar as manhãs na Sinagoga e a tarde no
Convento com as freiras.

Abramos parênteses: quando ele veio a Buenos Aires, os


organizadores de sua visita sempre o levavam - porque ele era de
oração diária (morreu sendo judeu de oração diária, dedicando 2 horas
para orar) - para uma Sinagoga central da cidade. Mas quando ele
podia escapar, você sabe onde ia? À Catedral Metropolitana. Um dia
uma pessoa que estava na Catedral o reconheceu, ficou
escandalizada e perguntou: “Frankl, o que você faz em um
templo católico, sendo judeu?” E Frankl, que quando queria fazia
o melhor ingênuo, respondeu: “Acaso Deus não está em todo lugar?” E
ele disse que gostava da Catedral Metropolitana de Buenos Aires
porque tinha um clima muito místico, favorável para orar. É como se ele
dissesse: “que importa se é um templo católico ou judaico, se Deus está
em todo lugar? O elo com Deus é um elo pessoal, você pode encontrá-
lo em qualquer lugar.

Mas voltando à sua infância, ele foi muito feliz, teve muito bom
relacionamento com seus irmãos, um amor muito especial por sua irmã
mais nova que durou uma vida inteira; seus grandes passeios eram em
um parque de diversões que ficava perto de sua casa em Viena. E existe
uma circunstância muito curiosa: a família Frankl viveu numa rua sem
dúvida pequena, com quatro ou cinco quarteirões de comprimento. A
casa de Frankl era a de número 10, e ficava em frente à casa de
número 7. E no número 7, você sabe quem viveu? Os pais de Alfred
Adler. Os pais de Viktor Frankl eram vizinhos e amigos do Dr. Alfred Adler.
E ele era uma das figuras mais influenciadoras na vida de Frankl.

Quando Frankl tinha 5, 6 ou 7 anos, os pais de Viktor iam a um


café, que chamava Café Siller. E nesse café, o Dr. Adler conversou,
como estamos fazendo agora, com pessoas que estavam no café e
fazia perguntas. E Viktor, de 5, 6 anos se enfiava debaixo das mesas e ia
para frente, para estar muito perto e ouvir as aulas do médico.

Um pouco mais tarde, com 10 a 12 anos, sabe o que Frankl


gostava de ler? Os livros de Schopenhauer. Mas preste atenção: no ano
14, a história muda porque a 1ª Guerra Mundial eclode.
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A Áustria entra em um eixo de aliança com a Alemanha, durante


o tempo da guerra, de 14 a 18, e houve mudanças na vida do mundo,
e obviamente na vida de Frankl. Em alguns momentos comenta com
pesar que, com Walter, seu irmão, tenha saído para roubar comida
para comer, porque não tinham.

Terminou a Guerra no ano 18, de uma maneira muito ruim, pois


estava previsto que haveria uma 2ª Guerra como tal, mas pelo menos a
guerra terminou e os homens voltaram das linhas de frente. E a grande
notícia para Frankl é que a Áustria perde, se desfaz o Império Austro-
húngaro, que é dividido nas repúblicas atuais, mas Gabriel Frankl se
manteve no seu emprego no ministério da educação.

Viktor Frankl ficou muito feliz porque pôde terminar a escola


primária e entrar no ensino médio. Uma fase muito importante para
as crianças que tinham desejo de estudar numa universidade,
frequentaram o ensino médio. E, naquele colégio, Walter, seu irmão,
não queria estudar, fez um curso de design de interiores, e se dedicou a
isso. Stella não queria estudar, fez um curso de corte e costura e
terminou como designer de moda. E Viktor se apaixonou com os
estudos. Possivelmente seus melhores momentos da vida se passaram
nesse colégio.

Levem em conta o seguinte: todos os jovens vienenses queriam


ser Sigmund Freud, porque a figura de Freud era uma figura atraente. E
ele ficou animado por ser Freud. Um dia, ele disse a sua mãe que sonhou
que ele era um médico, que abriu a porta de seu consultório e havia
uma longa fila de pacientes esperando por ele, aos quais ele curou
todos sem dar remédios, apenas com a palavra. No colegial, ele
confirmou que queria ser médico e queria ser Freud. E aqui tenho
a circunstância: Adler morava na frente de sua casa e Freud morava a
seis ou sete quarteirões. E, um dia, com muita coragem, foi encorajado
a escrever uma carta pensando que o grande mestre Freud iria rejeitá-
lo, mas, para sua surpresa, o grande mestre respondeu à carta e eles
começaram uma troca de correspondência, que era muito intensa.
Inclusive um dia, Viktor Frankl estava no parque de diversões e lhe ocorre
o seguinte: começa a observar as pessoas quando comem, mastigam
e ficam felizes; se eles lhe derem algo que não gostam, recusam. E fez
um estudo sobre a mímica de mastigar e recusar alimentos, com um
pequeno punhado de reflexos.

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Ele coloca em um envelope e o envia ao grande mestre,


pensando que ele lhe diria “o que ele me enviou não faz sentido, é
bobagem”. Mas, para sua surpresa, recebe a resposta do mestre Freud,
pedindo autorização para publicar esse artigo no Jornal Internacional
de Psicanálise, o jornal de maior prestígio do momento no mundo
científico. E, de fato, na história do jornal, o único artigo de um autor
não psicanalista publicado foi esse. E isso o deixou mais empolgado
com o pensamento de Freud. Quando ele o conhece, ele já estava
aposentado, não dava mais aula na faculdade. E um dia Viktor estava
voltando da faculdade a pé, viu um senhor pela rua e pensou que era
Freud, mas duvidou, porque ele estava com roupas muito usadas e com
uma bengala muito comum. O grande mestre não podia se vestir assim!

E começa a seguí-lo. Freud morava em uma casa na


Rua Berggasse, n° 19. Viktor pensou que se ele virasse na Rua Berggasse,
possivelmente era Freud. E o homem virou naquela rua. Viktor o seguiu
e pensou que se ele parasse no número 19, obviamente ele é Freud.

E esse homem realmente parou no portão da frente do número


19 da Rua Berggassee puxou a chave para abrir a porta. Obviamente
era Freud. Frankl chegou muito timidamente e disse ao Dr. Freud: “meu
nome é Viktor Emil Frankl”, pensando que ia mandá-lo sair e não o
incomodar. Ele diz que Freud se virou, olhou-o de cima a baixo e disse:
“Viktor Emil Frankl, rua Czenin, na casa n° 6, ap. 25, 2º distrito postal de
Viena.”. Se conheciam pelo endereço de tantas cartas que estava
escrevendo para ele. E eles tiveram uma reunião para Frankl
muito agradável, mas ao mesmo tempo o deixou muito triste. Porque
naquele momento, Viktor já estava um pouco desencantado com
o pensamento de Freud e ficou mais impressionado com o pensamento
de Adler. E sentiu muito por não o ter conhecido anos antes, mas de
toda maneira continuou a manter correspondência. Uma das grandes
dores de Frankl foi perder todas aquelas cartas quando ele foi
deportado para os Campos. Imagine o que seria termos essas cartas
trocadas entre Frankl e Freud?! Teria que ver com os seguidores de Freud
se não há alguma carta perdida...

Seguindo o relato: Ele já estava encantado por Adler.


Ele pertence ao círculo Adleriano e Adler o recebia com grande
entusiasmo, porque o considerava seu grande sucessor, seu grande
discípulo. E, de fato, ele é imediatamente incorporado ao círculo das

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Transcrição/Resumo livre 114
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grandes conferências. Frankl sempre foi um grande orador e desde


muito jovem ele já conquistava o público.

E Adler até lhe pede que escreva um livro que seria o primeiro
livro da psicologia do indivíduo de Adler – seria escrito por Frankl. Por
que “teria sido e não foi?” Frankl recebeu seu diploma de médico
em 1930, nesse ano fazia parte do círculo Adleriano e conheceu dois
médicos muito importantes, um é o médico Osvald Swartz, um dos
grandes iniciantes da escola alemã de medicina psicossomática. O
outro, Rudolf Allers, um ótimo psiquiatra ultracatólico. Frankl se apegou
muito ao pensamento de Swartz e ao pensamento de Allers e, a certa
altura, Adler ficou com inveja de que seu grande discípulo estivesse
tão ligado aos outros dois médicos.

E, para piorar as coisas, Frankl fez uma observação a Adler: para


Adler todos nós nascemos com uma experiência de inferioridade e,
toda a vida, tudo o que fazemos é tentar superar essa experiência de
inferioridade; e como a alcançamos? Mostrando-nos superiores
ao outro de tal maneira que quando eu faço um ato de caridade, por
exemplo: quando você tem fome e eu te dou de comer, segundo Adler,
não o faço porque sinto muito por você ou porque eu respeito você ou
porque eu quero ajudá-lo, eu faço isso porque ao fazê-lo, me sinto
superior a você. De acordo com esse discurso, essa é a
última motivação do homem: sempre estar em um plano
de superioridade. Ele nunca a alcançará, porque sempre encontrará
para alguém que está acima, e essa é a neurose para Adler.

Frankl diz: mestre, é provável que isso ocorra em muitas pessoas


e provavelmente em todos, mas também há algo em que o espírito
com o qual eu posso fazer o bem, esquecendo de mim mesmo, pelo
respeito ao outro... nem todos tem que ser neuróticos. E Adler não
gostou dessa observação. Você acrescenta o ciúme que tinha pelos
outros, e isso gerou que Adler, em um ato público na frente dos colegas,
inicia uma sessão de sua escola dizendo que, a partir daquele
momento, o Dr. Swartz e o Dr. Allers são expulsos do movimento, o que
gerou uma grande surpresa e grande indignação por serem duas
pessoas muito reconhecidas.

Na mesma sessão pública, ele se dirige a Viktor e


diz publicamente: agora Viktor, você terá que escolher com quem
andarás. Viktor diz que foi um dos piores momentos de sua vida, porque
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ele tinha muito carinho por Adler. Lembre-se que ele o conhecia desde
que ele tinha 5 anos, mas ele não poderia trair o seu pensamento.
Ele disse que se levantou com os olhos cheios de lágrimas e disse que
estava saindo com eles para a surpresa de Adler. A principal surpresa
foi que atrás de Viktor, uma garota se levantou e disse que iria com eles
- aquela garota era Alejandra Adler, a filha do Dr. Adler. Estava
perdendo a filha biológica e o filho científico, digamos assim.

Isso gerou um grande conflito: eu digo a todos para


ficarem vigilantes, porque muitas vezes se diz que o pensamento de
Frankl é Adleriano, mas é Alleriano. Frankl é discípulo de Rudolf Allers, e
não de Alfred Adler. Tendo a oportunidade de ler a psiquiatria de Rudolf
Allers, eu recomendo enfaticamente porque é maravilhosa. O
problema é que Rudolf Allers esteve – veja que curioso; eu disse que ele
é ultracatólico - num momento em que a ciência era muito positivista,
falar de Deus fez com que os ambientes científicos o depreciassem, o
desprezassem.

E que é por isso que ele teve que ir para os EUA, onde publicou
muitos livros, muitos trabalhos, mas morreu quase no
esquecimento. Cada livro que Frankl publicava era enviado a Rudolf
Allers. Ele sabia que o recebera, mas Allers nunca lhe respondia as
cartas. E, de alguma forma, a entrada de Frankl nos EUA e o
desenvolvimento que a tarefa de Frankl tinha nos EUA, se deve a Rudolf
Allers que silenciosamente promoveu o trabalho de Viktor Frankl. E
quando você estuda a psicopatologia de Frankl, por exemplo, em livros
como a Teoria e Terapia das Neuroses, você também verá
uma influência muito forte de Oswald Swartz.

Por isso deixo a você como um fato: os grandes mestres científicos


de Frankl são Rudolf Allers, da psiquiatria, e Osvald Swartz, digamos, da
psicossomática do sofrimento humano.

Na época os grandes tinham um café. Adler tinha um onde


ele bebia café e dava reuniões, os psicanalistas não podiam entrar lá
para beber café. E Freud tinha outro café próximo chamado Arcade,
que os Adlerianos não podiam passar na calçada. E Viktor Frankl com
humor dizia: quando me separei de Adler, tinha um grande problema
em Viena, porque eu não podia ir ao café Arcade para tomar café,
pois todo mundo me identificava com Adler e eu não podia mais ir ao
Café Siller, porque Adler não falava mais comigo. Eu entrava, sentava
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de frente para ele e falava com ele, mas ele olhava para o outro lado.
Meu grande problema era que eu não tinha lugar para beber café em
Viena!

Luís Enrique comenta que ele era apaixonado com café. Cláudio
confirma: “Frankl era adicto a café”. Luís comenta que quando Frankl
ia a congressos, levava uma cápsula de café no bolso por precaução.

Mais curioso ainda, é que ele foi assistente por muitos anos em
um laboratório de pesquisa do comportamento que teve o Dr. Rudolf
Allers. Sendo um grande pesquisador, Frankl foi seu assistente. E uma das
principais pesquisas de Allers, que Frankl participou na linha de frente,
era o prejudicial efeito da cafeína no comportamento e
particularmente no desenvolvimento intelectual. Ele foi, no
entanto, viciado em cafeína.

Então, como ele ficou sem lugar para café, disse que não teve
escolha a não ser criar sua própria escola. E isso também é um fato
que peço que se registre: muitas pessoas continuam a insistir que Frankl
desenvolve sua teoria no campo de concentração ou que ele
desenvolve sua teoria quando sai do Campo de Concentração, que
sua teoria é o resultado da perda de sua família e o sofrimento no
Campo. Frankl em 1926, ele começou a desenvolver sua teoria. Em
1930, ele já falava do conceito de antagonismo psiconoético
facultativo.

Ele recebe seu diploma de médico tendo a essência de sua


teoria, já pensava. É por isso que, quando ele se separa de Adler,
Adler remove o manuscrito, para que ele não apareça nesse livro.

E Frankl continua sua tarefa de entrar nos hospitais, recebido


como médico, ele ainda se junta ao hospital da comunidade judaica,
um grande hospital que já não existe, que tinha como diretor outro
personagem muito importante para Viktor: dr. Otto, que era
católico, mas tão reconhecido como médico, que acabou sendo o
diretor do Hospital da Comunidade Judaica. O médico postulou que
ele se lembrava de Viktor porque quando Viktor era jovem, antes de ser
médico, ele organizou um centro de orientação para jovens e o Dr. Otto
apreciou muito essa iniciativa. Quando o encontrou, já médico
na policlínica, o deu uma grande alegria, e, após um curto período
de trabalho lá, ele admite que Viktor comece a testar com os pacientes
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a nova Teoria que ele possuía, de tal maneira que também


precisamos lembrá-lo do médico como um dos grandes promotores da
Logoterapia, porque foi ele que lhe deu a oportunidade do
jovem médico avançar com a sua Teoria.

Ele trabalhou muito tempo nesse hospital e logo entra um outro


hospital chamado Steinhof, um hospital que estava ainda nos arredores
de Viena, e lá se torna diretor do pavilhão número 3 para mulheres,
atendendo mulheres com tentativas de suicídio. Você pode pensar “se
justifica que destinar uma ala inteira de uma grande instituição para
atender apenas mulheres com tentativas de suicídio?” E os dados
justificavam: Frankl atendia uma média de três mil consultas por ano. Por
que tantas mulheres com tentativas de suicídio? Bem, muitas eram
mulheres que após a 1° Guerra tinham perdido propriedades, maridos,
filhos; muitas mulheres que tiveram que ser expostas a abusos de todos
os tipos devido a essa condição; mulheres que já estavam começando
a ser abusadas pelos primeiros avanços do socialismo nacional... Então
observe em que clima já se estava realmente.

Vivendo no meio de toda essa história, trabalhando em dois


hospitais; seu irmão Walter se casa e está prevendo que a situação em
Viena seria muito difícil. Walter se casa com uma mulher chamada Elsa
e vai embora. Não era conhecido, na época, onde Walter
estivera. Hoje sabemos que Walter foi para a Itália e ficou por muito
tempo isolado no Vaticano - o Vaticano durante o tempo
do nazismo asilou muitos judeus. Mas um dia Walter e Elsa pensaram
que não havia problema em sair do Vaticano e saíram de lá, a Gestapo,
na Itália, os agarrou e terminaram suas vidas em Auschwitz.

Stella havia se casado e tinha um apartamento lá em Viena. Mas


o que aconteceu? A Áustria foi anexada ao Terceiro Reich, sob o poder
do Nacional Socialismo, e foram imediatamente baixadas em toda
a Áustria as Leis de Nuremberg e marcam o início da perseguição
judaica. E entre estas leis, uma marcava a arianização da propriedade.
O que queria dizer? Um judeu era o legítimo proprietário
deste departamento, mas se um ariano viesse e dissesse que queria
esse apartamento, a Gestapo vinha e despejava o judeu, o jogava
para a rua, e agora que esse apartamento pertencia ao não-judeu.
Stella foi afastada de seu apartamento por essa lei, e naquele momento
decidiu sair de Viena com o marido. Não se sabia para onde ia. Após a

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Guerra, nós descobrimos que ela terminou seus dias na Austrália, e foi a
única da família Frankl que escapou dos Campos de Concentração.

Mas naquele momento, pensem que os pais de Viktor Frankl


ficaram em Viena com Viktor – os outros dois filhos, eles não sabiam
onde estavam naquele momento. Viktor Frankl tem que dar uma
palestra em um teatro que ainda existe, chamado Urania, sobre
o sentido da vida. Você vê que a história é verdadeira pois naquele
mesmo dia se firma a famosa anexação da Áustria ao Terceiro Reich. O
que foi a primeira coisa que Hitler decidiu fazer? Entrar triunfante na
Áustria, em Viena. (Eu não quero ir pela história de Hitler, que é muito
particular). E ele teve um ressentimento com Viena, porque
quando jovem sentia que foi maltratado. Então a primeira coisa que ele
faz é entrar triunfantemente na cidade de Viena – isso significava que
na frente dele iam as tropas da SS e da Gestapo, arrancavam as
pessoas de suas casas e as colocavam na rua para que todo o povo
de Viena cumprimentasse quando Hitler entrou.

As duas colunas da SS e da Gestapo convergiram e passaram


pela porta do teatro Urania, ao mesmo tempo em que Frankl fazia uma
palestra sobre o sentido da vida. Passando pela porta do teatro, a porta
do teatro se abre e um oficial da Gestapo entra. Viktor diz que não sabe
o porquê, mas olhou-o nos olhos e continuou dando a
conferência, convencido de que ia terminá-la. O oficial da Gestapo
estava na frente de Frankl olhando nos olhos dele sem fazer um gesto.
Depois de 20 minutos, Frankl terminou sua palestra olhando nos olhos do
oficial. Quando a palestra terminou, o oficial se virou e se retirou. Hitler
já havia passado pelo teatro e nenhum dos participantes saiu
para cumprimentá-lo.

Após esse episódio, ele diz que estava tremendo de medo,


pensando “como isso me ocorreu?” Quando chega em casa,
encontra sua mãe chorando desconsoladamente, porque ela foi
arrancada para ir à rua e já percebeu o que estava por vir.

Nesse momento, Frankl, tinha um amigo, um dos grandes


da Logoterapia. Acho que em algum momento teríamos que resgatar
quem ele era: o médico Paul Pollack, seu grande amigo, médico,
católico, e um de seus grandes companheiros. E Viktor Frankl um dia
recebeu a notificação do Consulado Americano de que havia lhe
concedido o visto para ir de Viena para os EUA. Ele duvidou e Paul
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Pollack o convenceu a ir para os EUA: “a Psicoterapia nos EUA tem muito


futuro e a Logoterapia terá muito futuro nos EUA; se não quer ir sozinho,
eu deixo tudo e vou acompanhá-lo.”

Mas naquela noite um outro significativo episódio acontece. A SS


durante a noite destruiu todas as lojas de judeus e queimou todas as
Sinagogas em Viena. É conhecida como a ¨Noite dos Cristais
Quebrados¨, ou programa de 8 a 9 de novembro.

Ao levantar-se de manhã, Viktor encontra Viena parcialmente


destruída e nesse dia seu visto venceria. Se ele não tomasse a decisão
de ir, nunca mais sairia de Viena. Ele continua andando por Viena,
comenta que cobre sua Estrela de Davi e sai para passear por Viena.
Onde? Na Catedral Metropolitana de Viena, Saint Stephan. Medita e
pede a Deus um sinal do céu: o que devo fazer, ir aos Estados Unidos e
cuidar do meu filho científico, a Logoterapia, ou ficar em Viena e cuidar
dos meus pais biológicos?

Ele era diretor de neurologia da policlínica judaica e sabia que os


médicos, enfermeiras e criadas da policlínica judaica seriam os últimos
a serem enviados para os Campos de Concentração. De modo que ele
sabia que, se fosse membro da policlínica, seus pais não seriam
deportados; mas se ele deixasse seus pais, eles
iriam imediatamente para os Campos. E fazia uma oração pedindo ao
Senhor um sinal do céu.

Quando ele chega em casa, seu pai mostra que ele havia
colecionado, das ruínas das Sinagogas que haviam destruído,
um pedaço de mármore da alvenaria que fazia parte das mesas
que estavam sobre o altar. E a peça de mármore tinha
uma carta gravada em hebraico, em ouro. Frankl não falava
hebraico, então perguntou ao pai, que disse o que o mármore e o pai
lhe disseram: o mármore é do decálogo dos dez mandamentos e esta
carta é a que corresponde ao mandamento que diz “honrará seu pai e
sua mãe e Deus lhe dará uma vida longa”. E Viktor diz, sem dúvida, que
foi o sinal do céu que pediu naquele momento e decide deixar o visto
expirar, e diz que foi o momento em que se decidiu por sobreviver os
quatro Campos de Concentração que depois viveu.

Um pouco mais tarde ele conhece uma garota, “Tilly” (Mathilde


Grosser), se apaixonam e ficam noivos. Os judeus estavam
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terrivelmente subjugados em Viena; os meninos não podiam ir à escola;


os judeus não podiam pegar um táxi, andar de bicicleta; apenas andar
era permitido; os profissionais não podiam exercer suas profissões; todos
os homens judeus tinham que mudar seu nome do meio pelo
nome “Israel” e todas as mulheres pelo nome do meio “Sara”. A idéia
era deixar absolutamente claro quem era judeu, para poder eliminá-los.

O que acontece é que um dia, no Prater, ele a pede em


casamento, ela aceita e Viktor lhe dá como presente de compromisso
uma pulseira - que era de pouco valor - com um pingente que era
um globo escrito “o amor faz o mundo girar”. Não valia nada porque
era uma bugiganga e era única coisa que ele podia comprar.

Eles se casam em um dia em dezembro, o último casamento. No


dia seguinte, às 5 da tarde, as Leis de Nuremberg proibiram os judeus de
se casarem; portanto, foi o último casamento de judeus em Viena.

Eles passaram meses fantásticos de muito amor. Com alegria,


descobriram que engravidaram, mas ao mesmo tempo que a gravidez
era um sinal do amor, significava uma dor muito grande. Porque as
famosas Leis de Nuremberg proibiram as mulheres judias
de engravidar e, se uma mulher judia engravidava, era deportada para
campos de trabalhos forçados e obrigada a trabalhar até a morte e
obviamente abortar espontaneamente.

Havia uma lei dentro das Leis de Nuremberg que era chamada
¨Lei da Pureza do Sangue Ário¨ e se uma mulher engravidava,
uma mulher judia, era considerada alta traição ao
Terceiro Reich porque se entendia que era uma tentativa de sujar a
pureza do sangue ariano.

Isso significava que Viktor e Tilly tinham que tomar uma decisão
que eles não queriam tomar e que a criança não nasceria. Veja a dor
de Viktor: isso foi no meio do ano 42, antes de ser deportado, e no ano
55, aproximadamente, publicou um livro chamado Psicoterapia e
Humanismo e esse livro é dedicado disse “a Harry ou Marion, uma
criança que ainda não nasceu”. Ele ainda expressa essa dor mesmo
tendo passado pelo calvário que passou.

Ele continuou trabalhando e um dia um oficial


da Gestapo aparece para ele no consultório do hospital, senta-se à sua
frente e disse: “Frankl, me disseram que tem um novo método. Eu quero
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perguntar algo: eu tenho um amigo que sofre de terrores noturnos. Seu


novo método poderia fazer algo pelo meu amigo?”

Viktor diz que imediatamente percebeu que não havia um amigo,


mas quem sofria os terrores era o oficial da Gestapo. E, tendo em conta
isso, ele lhe deu conselhos para dar a seu “amigo” e se dispôs a curá-lo.
E depois de algumas sessões o curou. Na sessão seguinte, o oficial
procurou por ele para enviá-lo aos campos. Aí reportaram ele, Tilly, sua
mãe, seu pai e a mãe de Tilly, que vivia com eles.

São encaminhados para o gueto de Terezin, que fica a uma hora


de Praga. Terezin era um gueto que era o passo anterior de Auschwitz.
Para você perceber as condições de vida, o gueto tinha capacidade
para abrigar quatro mil pessoas e chegaram a viver 400 mil pessoas. A
única vantagem era que as famílias continuavam unidas e eram
assediadas de todos os tipos de trabalho.

Ali mesmo, Frankl conhece Leo Baeck, um rabino tão prestigioso


que os nazistas lhe ofereceram um passe para ir embora, mas ele disse
que não iria abandonar suas pessoas. Baeck junto com Frankl organizou
uma série de palestras preventivas ou psicoprofiláticas para preparar as
pessoas para o que estava se tornando realidade.

Um dia ele é notificado de que precisava pegar o próximo


trem que o levaria a Auschwitz. Tilly era costureira profissional, muito
hábil nas mãos, e os nazistas a colocaram para trabalhar na fábrica de
munições. Ela ouviu que Viktor seria deportado e implorou para ficar
no mesmo trem.

A fantasia de Tilly era continuar com Viktor, não queria


separar dele. O que ela não imaginava é que em algum momento, os
homens foram para Auschwitz e as mulheres foram para o Campo de
Concentração de Bergen-Belsen. Quando estão prestes a se
separar, trocam promessas. Viktor foi pego quando estava escrevendo
um livro e Tilly pede que ele sobreviva para continuar a escrevê-lo, pois
seria uma grande contribuição para a humanidade. Viktor diz que
ok, eu vou escrever esse livro, mas você tem que ser minha primeira
leitora, assim que sobreviver e nos reencontrarmos em Viena; faça o que
for preciso para sobreviver, até mesmo prestar favores sexuais; não
tenha pudor para sobreviver.

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Em fevereiro do ano 45, Frankl, que estava no complexo


de Auschwitz, é mandado para a Alemanha. Os russos começam a
avançar; os alemães precisavam responder e não apenas recrutar o
exército, mas também os prisioneiros. Então Frankl é enviado a Dachau,
onde também estava o padre José Kentenich, fundador do movimento
de Schoenstatt. Nesse campo de Dachau, quando Viktor chega, se
depara com uma epidemia de tifo e as autoridades impuseram o
fardo de ser médico, lidar com prisioneiros que tinham tifo, sem
remédios, sem água e praticamente sem comida.

No mês de abril, os oficiais reúnem os mortos que estavam lá e


dizem a ele: “as tropas aliadas estão perto de descer, a qualquer
momento conseguirão libertar o Campo, para que possamos terminar
a guerra. Vamos abrir as portas do Campo, temos apenas um
caminhão. Os prisioneiros que querem ir, subam no caminhão. Para nós
a guerra terminou”.

Imaginemos que para aqueles homens o próprio diabo abria a


porta do inferno e dizia-lhes “vão”. Eles subiram no caminhão sem
pensar, e disseram a Viktor que subisse. Mas ele não quis subir e disse
que estava cuidando dos seus pacientes. Eles argumentam que os
pacientes iriam morrer e ele também. Aí Viktor Frankl responde com
uma frase que é um princípio para todo Logoterapeuta: “um médico
tem uma obrigação de curar e, quando ele não pode curar, tem que
assumir a responsabilidade de acompanhar a quem sofre em seu
sofrimento. Não posso curá-los, mas não os abandonarei porque eles
estão sofrendo.” Para nós isso é como um imperativo categórico.

Em poucos dias, o exército americano chegou para libertar


Dachau e Viktor pergunta por seus companheiros do caminhão. Ele
queria se encontrar com eles para comemorar a vitória de ter
sobrevivido, mas descobre que aquele caminhão foi dinamizado
a poucos quilômetros de Dachau: era um caminhão—bomba e foi uma
armadilha que os nazistas tinham feito, porque não queriam ninguém
vivo para dizer tudo o que tinha acontecido em Dachau.

Quando as pessoas diziam a Viktor “que sorte você não foi


naquele caminhão”, Viktor sorria e respondia: “não, não é sorte. A sorte
nunca vai salvar ninguém. Sabe o que salva o homem? Fazer sempre o
que deve fazer.

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Esse é outro imperativo categórico para os Logoterapeutas.


A felicidade, salvação, saúde, a possibilidade de superar
qualquer adversidade no mundo, a possibilidade de resolver qualquer
dilema que enfrentamos é sempre a mesma. A porta de saída é ter a
coragem de fazer o que devemos fazer.

Assim sobreviveu Frankl. Passou duas ou três semanas na Cruz


Vermelha Americana, e apenas no mês de agosto poderia voltar a
Viena. Estava desesperado para voltar a Viena, para se encontrar
novamente com Tilly.

Quando ele chega a Viena descobre que seu pai e sua mãe
morreram em Terezin, seu irmão e cunhada morreram em Auschwitz; ele
não tinha notícias de sua irmã; Viena foi totalmente destruída, ele
não tinha casa, ele não tinha emprego, e ainda por cima na lista da
Cruz Vermelha, Tilly aparecia. Estava falecida. Viktor pensou em
cometer suicídio, nada mais fazia sentido. Ele não tinha uma razão, um
para quê, para quem.

Ele vai atrás de seu amigo Paul Pollack, olhou para ele sem dizer
uma palavra, se jogou nos braços de Pollack e começou a chorar
incontrolavelmente. Paul percebeu o que estava passando pela
cabeça do vencedor e se desesperou. Ele dizia a Viktor Frankl: eu vou
conseguir um lugar para você morar, eu vou conseguir um emprego
para você; não esqueça que você precisa cumprir a promessa de
escrever seu livro.

“Mas eles tiraram de mim, não tenho mais. Eu acho que não posso
reconstruir o livro”, dizia Frankl. E Pollack o surpreende: ele tinha uma
cópia do manuscrito. E com essa cópia do manuscrito e algumas notas
que trazia do Campo, poderia cumprir a promessa que tinha feito a Tilly.

Ele disse à Pollack que escreveria, mas quando terminasse, não


sabia o que faria. Ele conseguiu morar em um apartamento que não
tinha eletricidade, gás ou água, tinha vidraças quebradas, não tinha
móveis, mas pelo menos tinha um teto.

Conseguiu um emprego na policlínica, em frente à sua casa, e lá


Viktor começou a trabalhar. Naqueles dias escreveu o
que conhecemos hoje como “O homem em busca de sentido”, uma
catarse de sua vida no campo; escreveu um livro que conhecemos pelo
menos em Espanhol, como “Psicanálise e Existencialismo”, o título em
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Transcrição/Resumo livre 124
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Alemão significa “a cura médica para a alma” (era o livro que ele havia
prometido a Tilly escrever); escreve poesias e escreve um tango – letra
e música.

Esse tango Viktor escreveu para Tilly, e na letra diz que à noite,
quando ele sonha, ele a encontra em sonhos, mas que ele vive sua
angústia o dia todo de que se, durante a noite, em sonhos, voltaria a
visitá-lo.

Voltou a trabalhar e um dia no mesmo andar onde estava a


neurologia, estava o serviço de odontologia de um médico de prestígio,
cujo chefe era o médico que operou Freud do câncer da mandíbula.
A assistente era uma senhora católica, Eleonor, que precisava de uma
cama para admitir um paciente e a única cama disponível era do
departamento de neurologia do Dr. Frankl.

Mas todo mundo tinha medo do Dr. Frankl, porque era um


homem muito quieto e introvertido. Eleonor disse: “bem, se ninguém
quer ir, eu vou pedir a cama a Dr. Frankl.”

O interrompeu no pior momento. Frankl, ele estava participando


da corrida dos pacientes, e essa garota ousada aparece. Ela o
interrompe e diz a ele: “Dr. Frankl, precisamos de uma cama para
um paciente que acabou de fazer uma cirurgia; a única cama
disponível está neste serviço e peço-lhe que, por favor, me permita que
pegue a cama¨. Frankl olhou para ela e disse que não havia problema,
que ele mesmo ia preparar a cama. Eleonor ficou surpresa por
não acreditar que eles tinham medo de um homem tão gentil. O resto
da equipe do hospital não podia acreditar que o doutor Frankl tinha
sido tão gentil.

Frankl se virou e disse a sua assistente: Não acredito que lindos


olhos negros tem esta enfermeira. Se apaixonou.

Ele diz que quando foi arrumar a cama, teve uma forte dor de
dente, que tem medo de dentistas. E Eleonor faz uma piada: faz
uma gravata borboleta, disse que eu vim pegá-lo para levá-lo ao
dentista. Não pode ficar com dor de dente. Lá, Viktor confessa que seus
dentes não doem, ele não tem medo do dentista, e era só uma
desculpa para a ver novamente.

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Transcrição/Resumo livre 125
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Alguns dias depois, eles foram morar juntos no apartamento de


Frankl, um grande escândalo, porque, embora soubesse que Tilly
havia morrido, ainda não tinha os papéis como viúvo, de modo que
seria concubino com essa mulher. Ele era judeu e ela era católica, em
uma Viena anti-semita, mais terrível. E, pouco tempo depois,
ela engravida.

Eles vivem suas vidas, em pouco tempo podem se casar. Em


pouco tempo nasce Gabriela, a única filha de Frankl.

Eleonor era 20 anos mais jovem que Frankl. Um dia, ela volta do
hospital e encontra Viktor deitado no chão. Tudo o que eles tinham era
um conjunto de lençóis, não tinham cama ou colchão. Eles jogaram o
lençol no chão e lá dormiram. Ela encontra Viktor
chorando inconsolavelmente. Pergunta o que aconteceu. Viktor estava
na rua e cruza com um homem que tinha algo no dedo como uma
correntinha girando. Viktor presta atenção nele: era a pulseira de Tilly.
Que loucura! Como este homem podia ter a pulseira de Tilly?

O homem explica a ele que quando a guerra terminou, os


aliados reuniram todas as coisas que os nazistas haviam roubado,
juntaram os contêineres e os leiloaram. Você comprava um contêiner
que poderia vir obras de arte, ouro, sapatos velhos... de tudo.

E naquele contêiner que ele comprara, tinha vindo aquela


pulseira que, não tendo nenhum valor, não tinha sido capaz de vender.
Era a pulseira de Tilly. Quando Viktor lhe conta, o homem lhe dá a
pulseira. Ele estava deitado no cobertor chorando inconsolável,
apertando em seu punho aquela pulseira.

O que isso significa para a jovem recém-casada, cujo marido


está chorando, de coração partido, pela lembrança de
sua falecida esposa? Ela o deixou e ele passou dois dias sem levantar-
se dos lençóis. No terceiro dia, quando ela volta do hospital, Viktor não
estava lá. Ela pensou o pior.

Viktor voltou para casa com um pequeno pacote na mão e,


quando ele chegou, entregou a ela este pequeno pacote, que tinha a
corrente. E agora Viktor adicionara um pequeno coração que, de um
lado, dizia seu número de prisioneiro, 119.104 e, de outro lado, a palavra
“amor”. Eleonor pergunta o que ele significa e Viktor diz: “tudo o que te
posso oferecer é meu passado e meu amor”.
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Transcrição/Resumo livre 126
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Em seguida, Viktor desenvolve sua teoria. Em Viena não é bem


recebido, por ser judeu e não se tornar um psicanalista. Ele consegue
contato com Stella, descobre que estava viva. Ela insistia que ele fosse
viver na Austrália, dizia que não amava os vienenses, mas amava Viena.

Em 54, faz sua primeira viagem acadêmica fora da Europa, e essa


jornada o traz para Buenos Aires e aqui funda a primeira sociedade de
Logoterapia da história e alguns de seus livros são traduzidos para o
Espanhol. Ele começa com Buenos Aires um relacionamento amoroso e
em seus últimos anos de vida ele confessou que se não tivesse vivido em
Viena, viveria em Buenos Aires - e declarou que Buenos Aires era a
segunda pátria da Logoterapia.

E definiu em 54 que sabia que o futuro da Logoterapia era


na América Latina e ele não estava errado, porque hoje como se vive
a Logoterapia, é estudada na América Latina, não acontece no
mundo ou na Europa, muito menos em Viena.

Começa uma série de viagens. Um fato muito significativo é que


no ano 54/55 ele é convidado a dar aulas de filosofia na universidade
de Cracóvia. Para sua surpresa, os estudantes de filosofia sabiam muito
sobre seu pensamento. Em uma conversa com o reitor da universidade
de Cracóvia, o reitor diz o que está acontecendo: aqui está um jovem
professor de filosofia que conhece seu trabalho e o admira
muito, chamado Karol Wojtyla, que depois foi nosso querido Papa João
Paulo II, sempre São João Paulo II.

Luís tem um trabalho magnífico que ele apresentou em um


Congresso, com a comparação do personalismo de Wojtyla e de Frankl.
É claro que o personalismo de Wojtyla são as dez teses da pessoa que
você está estudando.

Há muito a dizer, mas digamos que ele fez cerca de 70 viagens


aos EUA, viajou pelos cinco continentes, desenvolveu seu trabalho
de uma maneira quase exclusiva no hospital em que ele assistia,
em poucas consultas particulares, mas quando participava de seu
consultório particular, servia de graça, não cobrava, porque dizia que
o salário do hospital era o suficiente e ele não era médico para ganhar
dinheiro.

Ele recebeu ao longo de sua vida 30 títulos Honoris


Causa. Naquele dia a universidade de Chicago deu ao doutor Frankl a
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distinção Honoris causa e a deu a Eleonor, a sua esposa, em


reconhecimento à tarefa de Eleonor de ter sido o grande apoio
de Viktor. Alguém disse uma vez que se Viktor é a luz, Eleonor é o calor
que acompanha a luz. Então ele se desculpou porque disse que se
recebesse a distinção, passaria despercebido que Eleonor a recebera,
e ele queria que o mundo a celebrasse. Então só Eleonor recebeu, o
que para ela foi um ato de amor muito grande de Viktor.

Chega um momento em que Viktor é premiado na República


da Áustria com uma condecoração especialíssima, que lhe dão a
possibilidade de falecer tendo funerais como se ele fosse o presidente
da república e tendo no cemitério um mausoléu.

Viktor recebe em ato público, agradece, mas no dia seguinte


ele deixa escrito no seu testamento que renuncia a todas as honras, que
ele queria ser enterrado na antiga seção judaica do cemitério
municipal de Viena, na mesma cova onde estavam os restos mortais de
seus avós; e que sua lápide tinha que ter uma inscrição que dizia Viktor
Emil Frankl, data de nascimento e data de morte. E ele acrescenta no
testamento: vim a este mundo sendo apenas Viktor Emil Frankl e eu vou
sair deste mundo sendo apenas Viktor Emil Frankl. Por isso disse que ele
não fazia questão de colocar “doutor”, “professor” e muito menos
honras.

Até que, um dia em outubro do ano de 96, ele recebeu


um telefonema da Austrália, foi a sobrinha para lhe contar que havia
morrido Stella. Esse foi um grande impacto para ele. Ele desenvolve algo
no coração e durante quase um ano ia e vinha para a urgência do
hospital por ataques cardíacos.

Passado um ano e quase cego - ele tinha catarata e não era


capaz de operar por causa de sua saúde, do coração - atinge um
ponto crítico, em que ou operava do coração ou morria, mas se eles o
operassem era provável que ele morreria também. Ele tomou a decisão
de se submeter a cirurgia. Antes de entrar na sala de cirurgia, ele diz a
Eleonor que deixara em um livro uma dedicação especial para ela.

O operaram, a operação correu bem, mas depois de 2 dias


faleceu. Isso aconteceu em 02 de setembro de 1997.

Alguns dias depois, Eleonor vai encontrar esse livro. Corre a


biblioteca até que encontra: era um livro que Frankl escreveu em 1950,
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Homo Patiens. Frankl dedicava os livros colocando apenas o nome e


nada mais. Mas quando ela abre o livro, vê que Frankl havia
acrescentado ao manuscrito uma legenda que dizia: “para ela que
soube fazer de um homem que sofria, um homem que amava.” O amor
novamente!

Ele é enterrado, sua vontade foi


cumprida, se você for ao cemitério de Viena
verá que é bonito, porque tem todas as
sepulturas dos músicos, dos poetas, escritores,
tem jardins e no fundo há uma triste seção
cinza abandonada. O antigo setor judeu
do cemitério municipal. Há uma tumba. Os
judeus nas tumbas não colocam
flores, colocam pedras. Isso torna ainda mais
cinza. Mas há uma tumba que tem flores e é a
de Viktor Frankl, porque sua esposa
é católica e ela, quando podia, colocava
flores para Viktor.

Assim foi a história deste homem, e eu digo a todos vocês:


escrever coisas bonitas como muitas daquelas que Frankl escreveu não
é difícil; escrever coisas inteligentes como as que Viktor escreveu não é
difícil; agora viver coerentemente com o que foi escrito é que não é
fácil de encontrar, e Frankl foi um homem coerente. Se você estuda a
vida dele, entenderá o trabalho dele, o que a vida dele e o trabalho
dele são a mesma coisa.

Um homem que sempre privilegiou a pessoa e tudo


que personaliza. Um homem, como eu disse antes, que não coloca
na teoria, a vaidade pessoal ou o reconhecimento científico,
em primeiro. Coloca em último lugar, eu diria. Porque seu único desejo
era a pessoa humana e esse é o grande legado que ele nos deixou.

Algo que muitas pessoas não conhecem é que em 1995, antes da


morte de Frankl, a Igreja Católica, em um documento do conselho
pontifício para profissionais da saúde, fala pela primeira vez em
psicoterapia e de psicólogos. A Igreja Católica sempre teve medo
dos psicólogos e da psicologia. No ano 95 fala pela primeira vez sobre
sofrimento emocional e recomenda aos católicos que, se sofrem
emocionalmente, façam psicoterapia. E, no último ponto da
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recomendação diz: a psicoterapia privilegiada é a Logoterapia, por seu


alto conteúdo ético. De tal maneira que também para os católicos a
recomendação da Igreja sob o pontificado de João Paulo II
recomenda precisamente a Logoterapia como o caminho ético da
saúde.

Poderíamos ficar horas falando desse homem que sabia como ter
uma vida extraordinária, mas não queria ter uma vida extraordinária,
queria realmente morrer como um homem comum. Esse é o
principal testemunho e seu principal monumento.

Histórico de sobreviventes, existem muitos, felizmente -


eles honram a infeliz perda de tantos que foram deixados nos Campos
- e, se você me permitir, quero deixar essa mensagem: Hoje, existem
três sobreviventes que foram destacados pelos livros que
escreveram mais tarde. Um italiano chamado Primo Levi, que escreveu
um livro chamado “É isto um homem?”, que ganhou o Prêmio Nobel
de Literatura. Ele conta sua história em Auschwitz, sendo um jovem
preso. Quando se lê o livro do Primo Levi, cada página goteia angústia.
É difícil de virar a página, é terrível o que ele diz. Primo Levi sobreviveu.
Quando saiu dos Campos se casou, teve uma filha, ganhou o prêmio
Nobel de Literatura, mas em 1962 ele cometeu suicídio.

Outro é o Elie Wiesel, húngaro, que escreveu três livros


fantásticos chamados “Noite”, “Amanhecer” e “Dia”. Em “Noite”, ele
conta sua história como uma criança chegava nos Campos. Em
“Amanhecer” ele conta que, deixando os Campos, ele se tornou um
terrorista e lutou pelo estado livre de Israel. E em “Dia” é quando ele foi
para os Estados Unidos e vive como jornalista. Quando você lê a obra
de Wiesel, lhe traz ira. Ele morreu no ano passado. Tudo o que ele
escreveu era de raiva.

E temos Viktor Frankl. Primo Levi deixou o Campo, mas ele não se
libertou da angústia. Elie Wiesel, deixou o Campo, mas ele não se
libertou do ódio. Viktor Frankl estando dentro do campo, ele era
livre. Essa é a diferença. Por isso quando você lê “Em Busca de Sentido”,
não gera angústia nem gera ódio, porque ele soube ser livre, mesmo
no campo.

E, neste momento, todos vivemos em uma pandemia, em


quarentena, onde temos medo, onde sentimos que não podemos sair
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ou que somos proibidos de partir, temos medo do que virá no


mundo posterior, o novo normal, é bom que se tenha uma mensagem
de Viktor Frankl. Para que em casa, em quarentena, possamos ter
respostas significativas e preparar como ele se preparou, porque o dia
que esperamos, em que a porta se abrirá para o mundo, chegará em
breve. E que temos que nos libertar agora, como Viktor.

A todos, não deixem de ter esperança. Há um


pensamento oriental - com isso eu encerro - que diz: “no final tudo vai
ficar bem e se agora não está bem, é porque ainda não terminou.”

*Pode haver erros de tradução e transcrição.

Grifos do autor da transcrição/resumo. Transcrição: Ludmilla Dornellas e Guilherme Andrade.


Contribuição: Karen Ceolin e Regina Console. Revisão: Magali Castilho.

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