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No princípio era a

Um itinerário poético segundo os


EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
ORGANIZADOR
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

JESUÍTAS BRASIL
No princípio era a

ORGANIZADOR
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

GRUPO DE TRABALHO:
Miguel Martins, SJ
Raquel Beatriz Junqueira Guimarães
Paulo Moregola
Davi Caixeta, SJ
José Laércio de Lima, SJ

JESUÍTAS BRASIL
Copyright ©Jesuítas Brasil

CO O R D E N AÇ ÃO E D I TO R I A L, P R O J E TO G R Á F I CO E D I AG R A M AÇ ÃO
Comunicação da Província do Brasil

I LU S T R AÇ ÃO DA C A PA
Claudio Pastro

P E S Q U I S A I CO N O G R Á F I C A
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

(2022)
Todos os direitos desta edição reservados à

PR OV ÍNC I A DO S J E SU Í TAS D O BR A S IL
Rua Bambina, 115, Botafogo
Rio de Janeiro, RJ - Brasil
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Tel.: (21) 3622-0236
Sumário

PRÓLOGO

INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO AOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS


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POEMAS DO PEREGRINO
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prólogo
Benjamín González Buelta, SJ

Pediram-me para apresentar este livro de jovens poetas. Tentarei


escrever apoiando-me na experiência, não só na minha, embora eu não seja
jovem, nem tenha pretendido escrever poesias que possam ser classificadas
segundo modelos literários. Nos meus salmos há poesia, mas não há uma
opção por um gênero determinado. O que me interessa é ser claro e, em
alguns casos, me expressar de forma que possa chegar a outras pessoas.
Alguns salmos são mais poéticos e outros mais mistagógicos.

Minha inspiração é a forma da poesia bíblica, tão presente em alguns


profetas e nos Livros Sapienciais. O povo entende a sua linguagem,
identifica-se com ela e, em muitos casos, os salmos e as orações tornam-
se a sua oração permanente, porque resumem, de forma muito afetiva, o
momento da sua vida.

Quando a linguagem do encontro com Deus, tanto da sua presença


como do seu escondimento, que é outra forma de provocar o nosso vazio
sem fim, se torna pequena e carcereira, todos procuramos instintivamente
linguagens mais poéticas, mesmo que não pretendamos nos enquadrar em
nenhum molde definido de poesia.

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A poesia nasce quando nos adentramos no mistério, e se esse mistério
é o abismo inesgotável do Amor de Deus, abre-se para nós um encontro
com Ele que não tem ponto final, nem no caminho percorrido dentro
de sua intimidade, nem na iluminação da nossa. O encontro com Deus
também não se esgota quando entramos em toda a extensão da história,
na surpreendente beleza e sabedoria da criação, nas criações fascinantes
dos povos e das culturas, ou nas relações com cada pessoa humana. Às
vezes podemos sentir que a única forma de nos expressarmos é o silêncio
surpreendido que continua a ressoar no coração e no corpo, e que de forma
alguma queremos arranhar com a limitação de nossa palavra. Pode ser que
esse silêncio mais tarde nos presenteie com alguma palavra ou imagem
inesperada e fecunda.

Às vezes ouvimos dizer que o nosso tempo não é propício a esse tipo
de experiência, por causa da velocidade e da estridência que assaltam os
nossos sentidos e marcam o ritmo dos nossos passos e das nossas decisões

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mais ou menos colonizadas. Não conseguimos encontrar facilmente no
nosso itinerário espaços privilegiados que nos levem à calma e, por vezes,
só dedicamos tempo a um burburinho que se embaralha sozinho dentro de
nós com uma lógica que nos escapa.

Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que hoje a comunicação do


nosso universo interior pode ter outros códigos. Há alguns anos, prestei
atenção em uma jovem que tinha uma tatuagem que percorria a parte
interna de todo o seu antebraço. Eu perguntei a ela o que aquele desenho
significava. Ela me disse: “É um nome que eu não quero esquecer nunca,
que preciso ter sempre diante dos olhos, que seja tão duradouro quanto a
minha vida. É o nome da minha avó. Senti nela um amor tão incondicional,
que sempre continua a me inspirar em qualquer situação que eu viva”. A
cultura de hoje, que valoriza tanto a sensibilidade, a afetividade e o corpo,
e onde os sentidos são tão estudados e impactados, pode ser tão sensível
quanto em outras épocas, para acolher a linguagem a que recorremos para
expressar a profunda experiência de Deus, que é o Amor em todas as suas
inúmeras expressões.

Quando a experiência de Deus se aprofunda, sentimos em muitas


ocasiões que a linguagem racional e lógica dos discursos sobre Deus não
pode recolher e expressar nossa experiência. Procuramos, então, outras
linguagens mais imaginativas e simbólicas que nos possam referir a essa
experiência sem pretender capturá-la, sem guardá-la como uma carteira
de identidade, mas como um passaporte que nos abre para o melhor de
toda a realidade. Também sentimos que, quando lemos em outras pessoas
intimidades expressas com palavras evocadoras, podem-se despertar
nossas dimensões mais profundas, e sentimos que de alguma forma elas
estão falando de nós.

Os Exercícios Espirituais, que nos situam no centro do nosso ser e do nosso


devir, nos “exercitam” durante a primeira semana, para alicerçar a nossa vida
no amor de Deus, que nos ajuda a reconhecer e acolher o nosso pecado,
para que ele não nos desintegre a partir das sombras onde se esconde,
mas nos liberte e possamos ser recriados pela misericórdia de Deus na qual

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sempre vivemos. Depois, o exercitante concentra-se em contemplar, com os
sentidos da imaginação, o Filho encarnado que nos surpreende com a sua
maneira de olhar o mundo. Com o seu olhar livre, o exercitante descobre por
onde passa o reino de Deus, e fala e age de uma nova maneira.

Essa contemplação de Jesus vai mudando a nossa sensibilidade para


que também nós, com os nossos sentidos, possamos perceber o mundo
com todo o seu realismo. Poderemos contemplar que a última verdade da
realidade é a presença ativa de Deus. Os místicos não são os que têm visões,
mas os que contemplam Deus como a última dimensão do real, com o seu
dinamismo de reconciliação de tudo o que foi criado. Os Exercícios não nos
ajudam apenas a ordenar nossa afetividade para ordenar nossa vida; eles
também mudam nossa sensibilidade para “sentir e saborear” toda a nossa
vida de outra maneira. A novidade inesgotável de Deus sobre a realidade
nos surpreende e unimos nossa criatividade com a dele. Nesse momento,
os olhares desencantados se encantam, e se descobre o futuro novo em
pessoas e situações das quais ouvimos dizer que não pode sair nada de
novo e bom.

Nesse tão intenso processo de relacionamento com Deus e com a reali-


dade, podem nascer palavras e ações novas, até mesmo tão transgressoras
quanto as de Jesus. A linguagem poética pode oferecer palavras e imagens
que permanecem em nossa intimidade como memória da graça de Deus e,
às vezes, como ajuda para que outros também se aproximem de Deus e da
realidade com um olhar que, com a mesma força com que sofrem a dureza
do real, descubram mais profundamente a ação de Deus que a transforma.
Ele nos convida a associarmo-nos à sua própria missão de encantamento,
sem saber onde acaba a sua mão e começa a nossa.

Hoje todos necessitamos de palavras, imagens, símbolos, que emanam


do centro de toda a realidade e que não carregam entranhas de negócio, de
apropriação ou de exclusão, mas se oferecem aos paladares que procuram
saborear a vida em sua verdade mais profunda e mais bela.

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introdução
Alex Villas Boas

POESIA COMO EXERCÍCIO ESPIRITUAL

A relação entre Exercícios Espirituais e Poesia pode ser encontrada


já nas Constituições da Companhia de Jesus, integrando aquilo que os
jesuítas “han de studiar”, nomeadamente as “Letras de Humanidad” que
compreendiam “retórica, poesía y historia”, tendo por referência o tratado
sobre a Poética de Aristóteles, e a partir dele, o estudo dos clássicos. Dito
de outro modo, para Inácio a formação literária de um jesuíta comporta
obrigatoriamente o estudo da literatura como forma de acesso ao humanismo
comum compartilhado entre os clássicos da Antiguidade e o cristianismo, (cf.
Constituciones de la Compañia de Jesus, Capítulo 5 [“De lo que los Scolares
de la Compañia han de studiar”], nn. [351-352]; ainda cf. Cuarta Parte,
Capítulo 12 [“De las Faculdades que se han de enseñar en las Universidades
de la Compañia”], n. 2 A [448]). Essa abertura aos clássicos, própria da herança
cultural da Renascença, era em si, ainda para o século XVI, um lugar de
fronteira, dado o empenho de algumas figuras eclesiais em superar o que era
considerado um modismo perigoso por flertar com não cristãos.

Essa preocupação com a poesia, na perspectiva inaciana, pode ser


relacionada à consciência de que “o modo de falar ajude o modo de sentir”

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(cf. Examen, Capitulo 4 [“De algunas cosas que más conviene saber a los
que entran, de lo que han de observar en la Compañia”], n. 7 C [62]). E nesse
sentido a poesia é uma mediação, ou seja, fundamentalmente um meio de
ajudar as pessoas em duas coisas: a “fazer uma reflexão sobre si” e a provocar
“santos desejos” (cf. Cuarta Parte, Capítulo 8 [“Del instruir los scolares en los
médios de ayudar a sus próximos”], 4 D [407]; cf. ainda n. 45 [102]).

Tal relação entre o despertar de afetos e reflexão sobre si, mediada pela
linguagem constitutiva de uma lógica poética, como diria Giambatistta
Vico (1668 – 1744), perpassa toda a história do pensamento Ocidental e
Oriental na medida em que é a lógica própria dos textos sagrados e dos
mitos religiosos, entendidos aqui em seu melhor sentido, e a despeito de
sua não incomum desvalorização, sobretudo ao concorrer com modelos
mais abstratos e essencialistas no pensamento Ocidental. Essa tensão e
disputa entre poetas e filósofos ocorre já na Grécia Clássica, e é possível
encontrar o seu registro no livro X da República de Platão, herdeiro dessa
divergência que o antecede, mas que com ele ganha nova gravidade, ao
dissociar linguagem e pensamento. Entretanto, ao evocar os poetas, Platão
também atribui aos mesmos o ofício da teologia como “discurso divino”
(República 379a). Vale lembrar que a questão “do que é um deus” (tí theós)
já havia sido feita, quase um século antes do filósofo das ideias, com
Píndaro (522 a.C.-443 a.C., cf. Fragmento 140d). E, mesmo após Platão, várias
correntes do estoicismo entendiam que a leitura da poesia era também

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um dos exercícios espirituais importantes para o cuidado de si, ao lado
da pesquisa e da reflexão filosófica, de modo que dos mitos se extraiam
princípios racionais, como afirmava o estóico Lucius Annaeus Cornutus,
que viveu em torno do ano 60 d.C., em sua obra que ficou conhecida
como Compêndio de Teologia Grega, atribuída a autores pré-cristãos, já
em um momento em que a presença do cristianismo se faz sentir muito
visivelmente.

Tal recuo histórico tem a intenção de dizer que o caminho metafísico


platônico que resultou na desvalorização da poesia, na medida em que
dissocia o ato de pensar do ato de linguagem, assim como secundariza
dimensões de concretude da vida humana, foi fruto de escolhas não
dissociadas de um contexto político, que se sobrepuseram a outras atitudes
intelectuais que levaram muito tempo para vir à tona e ser reconhecidas
como alternativas que permitem revisitar a tradição teológica. Nomes
que ficaram à sombra de grandes vultos, obras consideradas de menor
importância, entre autores helênicos e cristãos, ajudam a escavar as
relações entre espiritualidade, teologia e poesia que ficaram soterradas
face aos intermináveis debates dogmáticos. Enquanto a poesia visava
enfrentar os limites da finitude para se encontrar com uma experiência
iluminadora de Deus, a dogmática, sobretudo a partir do estatuto jurídico
que o direito romano vai lhe imprimindo [regula fidei], vai se especializando
no enfrentamento de heresias, resultando em sobrevalorização conceitual

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que ofusca a dimensão estética do dogma, ou seja, a beleza de Deus. Se
a dogmática vai reforçando uma dinâmica de identidade que exclui sua
alteridade, especialmente em alguns grupos em que nomeadamente ao
lado dos hereges também se condena tudo o que não foi cristianizado,
sempre houve testemunhos de grande lucidez, como é o caso de São Basílio
de Cesareia em sua Carta aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã.

Ali, o grande não somente em santidade, mas também em sabedoria,


exorta os cristãos em processo formativo para assumirem o “ideal da
filosofia” (a teologia era parte da filosofia) a lerem Homero, Hesíodo, Sólon,
entre outros, por ser a poesia um “elogio à virtude”. Evoca ainda a metáfora
das abelhas como postura a ser tomada diante da literatura clássica pagã,
que um grupo de cristãos considerava ser desprezível, de modo que à
“imagem das abelhas” (mellitton tem eikóna) que se aproximam de todas as
flores, e delas se servem daquilo que auxilia seu trabalho, sem se importar
com o resto, assim deve ser o cristão em relação a tudo que lê (IV, 9). E
ainda, face àqueles que pretendiam controlar o que deveria ser lido, por
medo de que os estudantes se desviassem do caminho da fé, diz o Santo
sobre a liberdade intelectual: “é nobre quem discerne (sonoronta), por si
mesmo (par eautou)” (I, 4). Para os capadócios, já nos primeiros séculos do
cristianismo, a leitura da literatura grega era parte de sua askésis, ou como
se convencionou traduzir no Ocidente, de seus exercícios espirituais.

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Essa grande obra, escondida em um livrinho de Basílio, só foi traduzida no
Ocidente latino em 1405, por Leonardo Bruni, e foi de fundamental importância
para a consolidação de uma perspectiva de compatibilidade entre os clássicos
e o cristianismo, na emergência da Renascença. A partir daí é que Bruni foi
legitimado a prosseguir com as traduções latinas de Demóstenes, Plutarco,
Xenofonte, Platão e Aristóteles, sendo ele ao mesmo tempo membro de um
círculo de literatos que estudavam autores que inspiravam o renascentismo,
como Boccaccio, e, como chanceler, fora secretário pontifício de quatro
papados (Inocêncio III, Gregório XII, Alexandre V e João XXII).

Há incontáveis autores, ou obras menos conhecidas de grandes autores,


que prestaram esse serviço de ressignificar o papel da poesia no modo
de pensar a teologia, como Santo Efrém da Síria, Romano, o Melodista,
considerado o Píndaro cristão, Potâmio de Lisboa, entre outros, que a
historiografia, tanto a social, mas especialmente a eclesial, não privilegiou,
devido à ênfase no debate dogmático. Tais autores, cristão e “pagãos”,
recuperam a ideia da poesia como askésis, um exercício espiritual, a pensam
a partir de um imaginário que valoriza a concretude da vida, especificamente
a concretude do Amor na vida. Dizia o grande Tomás de Aquino que à
manifestação que desvela o Mistério de excesso de sentido na vida, e “a isso
chamamos Deus” [hoc dicimus Deum] (Suma Teológica I, questão 2, artigo
3), também provoca uma conversão da imaginação (conversio intellectus ad
phantasmata, Suma Teológica I, questão 84, artigo 7).

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Essa reflexão da concretude da vida, em que emergem experiências
doadoras de sentido, se fez presente na literatura de modo geral, e nos poetas
de modo específico, como um pensamento marcado pelo ato de imaginar,
incluindo nesse modo de pensar a representação de nossa ambiguidade, e
em meio a elas a emergência da esperança e o ensaio de novas realidades
a serem construídas, um antídoto à idealização da vida, que, como disse
Hölderlin, “poeticamente habita o humano sobre esta terra”, sendo a poesia
a testemunha por excelência da própria condição de possibilidade da
vida humana. Seguindo essa trilha aberta por Heidegger, é que o grande
teólogo jesuíta Karl Rahner lamentava o fato de que tão pouco se falou
sobre “tema tão elevado” na teologia do século XX, em seu escrito A palavra
poética e o Cristo (Das Wort der Dichtung und der Christ, p. 454). Rahner via
na poesia uma “escola de escuta” do Evangelho adequada à sua concepção
antropológica de ser humano como Ouvinte da Palavra. Essa palavra,
envolta em uma dinâmica poética, nasce silenciosamente como vontade de
sentido à espera da sua tradução em palavras que transubstanciem o desejo
em decisão em direção ao amor. A poesia, portanto, está a meio caminho
entre as potencialidades da vida [potentia] e suas concretizações [actus]. Por
isso, para o jesuíta alemão, o poeta tinha algo de sacerdote, assim como o
sacerdote deveria ter algo de poeta, sendo ambos mediadores do Mistério. A
poesia é uma escuta para o Evangelho porque a Palavra de Deus opera como
Palavra poética inspirada e que reinventa a vida. Se os Exercícios Espirituais
são entendidos por Rahner como “lógica de conhecimento existencial”,
é a lógica poética da contemplação das imagens igualmente poéticas do
Evangelho que dinamiza os afetos a entrarem na estrutura cristológica de
suas cenas, de onde emerge uma nova configuração da existência.

Não é à toa que a recomendação de Inácio nas Constituições sempre


gerou jesuítas que traduziram a mistagogia dos Exercícios Espirituais em
formas poético-literárias de colocar a linguagem ao serviço de despertar
o desejo por um Amor maior ou, como diria o próprio Inácio, santos
desejos. Insere-se aqui a emergência do teatro jesuítico, por exemplo,
como expressão da pedagogia humanista dos Colégios da Companhia de
Jesus, com nomes como Luís da Cruz (1543-1604), Miguel Venegas (1531-
1567), Stefano Tucci (1540-1597), Pedro Pablo de Acevedo (1522 – 1573),

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e que genialmente é adaptado e inaugurado no Brasil por São José de
Anchieta (1534 – 1597) para uma cultura radicalmente diferente de sua
origem europeia, e como instrumento de pacificação e de sensibilização
ética. O mesmo se pode dizer de seu confrade, Antonio Vieira (1608 – 1697),
chamado por Fernando Pessoa Imperador da Língua Portuguesa, em que
os Sermões vieirinos são cenificações que alteram profundamente o modo
de compreender a realidade. Tal ressignificação provocada pela cena
se dá devido ao fato de ela ser construída pela leitura literária como um
princípio de interiorização, um estilo que fora inaugurado por um brilhante
aluno de um colégio jesuíta na Espanha, chamado Miguel de Cervantes
(1547 – 1616), inspirado na antropologia literária da Autobiografia de
Santo Inácio de Loyola. Tal qual Inácio, o itinerário transforma o cavaleiro
Dom Quixote em peregrino, transmutando a visão de mundo a partir da
configuração autodirigida de um “novo eu”, em que a imaginação funciona
como uma visão interior de uma verdadeira ação teatral que mobiliza os
afetos. Do mesmo modo é que Gerard Manley Hopkins (1844 – 1889),
com seus Sonetos, cenifica as desolações da turbulenta modernidade no
mais concreto do cotidiano para lapidar com sua poesia a beleza bruta do
coração em que habita também a graça.

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Essa relação entre mística e poesia é lapidar em Michel de Certeau, e é
constitutiva da análise da presença da religião na Modernidade, sendo o
labor poético um exercício de produção do paradoxo em que se possibilita
o impossível na linguagem, um estilo mais compatível ao indivíduo
contemporâneo indisposto aos discursos mais pornográficos do anúncio
da fé, como dizia o crítico literário mexicano Juan García Ponce. O que pode
ser entendido como pornografia verborrágica da pregação da fé, reside
na compreensão de que a linguagem pornográfica não mostra demais,
mas sim de menos, porque o explícito atinge apenas de modo epidérmico
o desejo, tal qual uma pregação eivada de moralismos que visam coagir
à conversão. Tal coerção pelo explícito é incapaz de expressar a secreta
dinâmica erótica que vai seduzindo cada vez mais o desejo para o todo da
existência, e ordenando-a para o que faz mais sentido.

A poética que lapida a dimensão bruta da ambiguidade da vida e a


transubstancia em representação paradoxal da presença do que chamamos
Deus possui essa capacidade erótica de poeticamente possibilitar a
compreensão do que se chama Palavra divina, viável, portanto, pela poética
e pela mística, na condição de ser portadora de uma palavra inspirada, e
demanda uma educação da escuta para captar tal inspiração na vida de

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quem a recebe. Ademais, para evocar Michel de Certeau, a poesia como
prática discursiva também está relacionada a uma prática social, que possui
duas funções: ética e crítica. A ética representa como prática social aquilo
que a poética representa como prática discursiva, a saber, a abertura de um
espaço que não necessita ser autorizado por uma autoridade ou pela ordem
estabelecida da realidade, uma semente de possibilidade nas fendas dos
muros da impossibilidade, e que cria pontes para a esperança. Tal enunciado
do aparentemente impossível se desdobra potencial e frutuosamente na
cultura não como fruto de mera contestação, mas como emergência do
impossível que habita o desejo, e inquietantemente brota como confissão
do inevitável, modelo alternativo de inteligibilidade advinda da lógica
poética dos místicos.

Se a poética, portanto, tem outro registro de autorização que não se dá


pela reprodução de enunciados teológicos autorizados, mas sem negá-los,
traduz a beleza dos mesmos pelo exercício de engendrá-los poeticamente
na linguagem comum, que se impõe por sua força estética. O mesmo
vale para a emergência da sensibilidade ética que brota como Rosa no
asfalto, para lembrar Carlos Drummond de Andrade. E é exatamente nessa
condição de buscar exprimir o inefável do poético e do ético que ambas
as linguagens são formas de resistência da dignidade humana, e de modo

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muito peculiar, evocando Agamben, há na poética cristã um traço de
antitragédia, de insistência em reverter o itinerário para a fatalidade em
ocasião de mudança de mentalidade para reorientar a busca, de si, de uma
comunidade, de um povo. E é nesse sentido que tanto a mística quanto a
poesia, além de sacramentar, expressam esse chamado de tentar dizer o
impossível de ser totalmente dito, sobretudo em épocas que vão sendo
caracterizadas pelos muros, visíveis e invisíveis, de divisão, de proibição
da transparência, de impedimento da palavra, de abismos para a ética.
Não raro, é nesse momento de muralhamento ético que a poética vem
em seu auxílio, como ponte que nos aproxima dos dias que ainda não
se realizaram, mas que já estão presentes nos mais nobres sonhos de
humanidade, fraternidade, justiça e de paz que habitam nossos desejos.
Místicos e poetas habitam as fendas ainda não abertas na história, mas já
domiciliadas no desejo.

É assim que gostaria de tentar homenagear este precioso livro de


exercício poético, que faz jus ao cristianismo moderno da tradição inaciana,
e, junto com ele, alarga as fileiras daqueles que tentam recuperar o papel da
poesia no pensamento filosófico e teológico a fim de oferecer um cenário
em que o sujeito contemporâneo se identifique, e ali identifique o sentido
de Deus na sua busca de sentido.

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A imagética poética dos poemas escritos e visuais que aqui se encontram
é fruto da grande obra escondida no livrinho dos Exercícios Espirituais de
Santo Inácio de Loyola, que se não é ser lido, por outro lado é uma escola
de poetas como atesta a história dos jesuítas. Tal qual o poeta, o exercitante
dos Exercícios tem diante de si o desafio de inscrever na vida o efeito da
inspiração advinda sobre a vida. Todos somos poetas, mas apenas alguns
de nós escrevem. Todos somos chamados a poeticamente habitar nossa
história e nela descobrir um sentido que oriente a construção de uma nova
história. Alguns fazem poesia no modo como vivem, como trabalham,
como educam os filhos, como ajudam os que mais sofrem e alguns outros
também escrevem poemas, e na medida em que escrevem ajudam a
grande poética da vida a apostar que a vida é capaz de sentido apesar de
seu absurdo. Os poetas que escrevem prestam o nobre serviço de fomentar
a fraternidade entre aqueles que vivem a poética de sua vida. E os Exercícios
Espirituais têm a nobre missão de ajudar a perceber que a vida é capaz de
poesia e, sendo, é capaz de beleza, de bondade, de empenho por nobres
ideias, de resistência pelo que é justo, é capaz de Amor, a que os cristãos
chamam Deus.

A estes que escrevem, devemos nossa gratidão por proporcionar um


sentir cum poetas, que é de algum modo uma janela às suas almas que
foram atravessadas por um Mistério que o leitor aqui também persegue, e
que deverá descobrir que antes é por Ele seduzido. Seus poemas são, como
diriam os medievais, vestigia Dei, uma busca de transformar em sentido a
presença evanescente significante de algo que se situou em um tempo,
e que dela temos apenas seus ecos. É neste eco (oikos) que os autores
convidam o leitor a enxergar para além do que está escrito, ler o poema
como um exercício espiritual.

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“Não é o muito saber que sacia
e satisfaz a alma, mas o sentir
e saborear as coisas internamente.”
(Anotação 2)
GASTAR A VIDA
Padre Luís Espinal, SJ

Senhor Jesus Cristo, tu nos dissestes: Livra-nos da prudência covarde que


“Aquele que quiser salvar a sua vida, nos faz evitar o sacrifício e buscar a
vai perdê-la, segurança.
mas aquele que a gastar por mim e Tira-nos Senhor, essas falsas
pelo evangelho irá salvá-la”. prudências que pensam demasiado no
Porém, nos dá medo gastar a vida, “meu” amanhã.
entregá-la sem reservas. Temos que gastar-nos por Ti.
Um terrível instinto de conservação Gastar a vida não se faz com gastos
nos conduz ao egoísmo, espantosos,
e nos amedronta quando queremos ou falsa teatralidade. A vida se dá
gastar a vida. simplesmente, sem publicidade,
Procuramos segurança em toda parte, como a água da fonte, como a mãe dá
para evitar riscos. a mama ao bebê,
E sobretudo está presente a covardia. como o suor humilde do semeador.
Senhor Jesus Cristo, nos dá medo Ensina-nos, Senhor, a lançar-nos
gastar a vida. ao impossível,
Mas a vida Tu no-la deste para ser porque detrás do impossível está a tua
gasta; não se pode guardá-la em um graça, tua presença, estás Tu, Jesus;
estéril egoísmo. não podemos cair no vazio.
Gastar a vida é trabalhar pelos outros, O Futuro é um enigma, nosso caminho
mesmo quando não pagam; se adentra na obscuridade;
fazer um favor a quem não vai mas queremos continuar nos doando,
devolver. porque Tu nos estás esperando na
Gastar a vida é lançar-se, mesmo no noite,
fracasso, sem falsas prudências; com mil olhos humanos derramando
é “queimar os navios” pelo bem do lágrimas.
próximo. Senhor Jesus, ensina-nos a gastar a
Somos velas que somente temos vida,
sentido quando queimamos; a entregá-la sempre mais, sem
somente então, seremos luz. reservas, como Tu fizeste.

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PRECE
Jerfferson Amorim, SJ

Dá-me a graça de caminhar lento


quando o meu peito aberto
for lugar de repouso para os peregrinos do mundo.
Dá-me a graça de escutar sereno
e com paciência não pretender
dar respostas nem receitas.
Dá-me a graça de viver na abertura,
cultivando afetos
e tecendo relações solidárias.
Dá-me a graça de ser homem e menino
sempre discípulo, aprendiz.

22
MEU CORAÇÃO TEM CASA
André Araújo, SJ

Meu coração tem casa


tanta casa esse coração
tanta casa coração
tanto coração casa
e ele sabe
e bate asa
sem medo da solidão
e ele sobe
e entra em casa
no meio da escuridão.

23
“ÉL, GRAN MISTERIO”
Germán Méndez, SJ

¡Qué gran misterio eres!


Amor infinito que se mide en dos brazos extendidos.
Abrazo eterno que despliega su poder en lo frágil.
Fragilidad que todo lo puede porque todo lo ama.
Amor que todo lo perdona porque todo lo ha creado.
Creación que todo renueva porque todo lo habita.
Presencia plena que a todos llama a la vida.
Vida perene que no teme a la muerte.
¡Qué gran misterio eres!

24
OBRA:
SILÊNCIO
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a lápis grafite sobre papel.
Arte sobre o curvar-se, abraçar, contorcer-se, sentir a própria dor.
De que sou acusado? Seu olhar pode ser só de julgamento
e você nunca ouviu minha narrativa.

25
O SILÊNCIO
Igor Cristiano Oliveira, SJ

O que há no silêncio?
Murmúrio de Deus
Sim, é Ele sussurrando em meus ouvidos,
Entrando em meus sentidos, ou melhor, possuindo meus sentidos.

O que há no silêncio?
O encontro com o absoluto,
A inquietude de uma alma sedenta,
Provocador dos desejos irrequietos.

Silêncio, construção de intimidade


Busca pelo “Ser”
Clarificação dos mistérios transcendentes
Revelação, nudeza do inexprimível.

O que há no silêncio?
O inexprimível
O poético
O harmônico.

O que há no silêncio?
Liturgia,
Deus se corporificando,
Revelando,
Dando-se a nós.

26
OBRA:
SAIR DO QUADRO, ENTRAR NA VIDA
Alexandre Raimundo de Souza, SJ

27
“ESTOY SEDIENTO”
Germán Méndez, SJ (Província do México)

Mi alma está sedienta. Tengo miedo, Señor.


Estoy sediento del Dios que da la vida. Mi debilidad me asusta.
Tengo sed, hijo mío. Mi fuerza tierna brilla sobre el miedo.
Estoy sediento de tu amor. Mi amor en ti, hijo, fortalece tu
fragilidad.
Mi cuerpo está cansado, Padre.
Con ansias en ti busco descanso. Te veo mirarme, Padre.
Mis brazos están fatigados, hijo. En tu mirada me rehaces.
He muerto con ellos extendidos para Me veo en ti, hijo mío, creación mía.
que en ellos halles tu descanso. Mi amor entero arde serenamente
en ti.
Mis pasos no me sostienen.
De noche y día, Padre, te busco Amor mío, vida mía.
andando. Padre mío, amigo y refugio seguro.
Hijo, aquí están los míos clavados. Sueño mío, anhelo mío.
Fijos para que sepas encontrarlos. Locura mía, pasión mía, hijo
siempre mío.
Padre, mi rostro anhela tu rostro.
Al horizonte apunta esperándote en
la aurora.
Hijo, mi rostro he dejado caer mirando
abajo.
Así hallarás mi mirada siempre posada
en ti.

28
OBRA:
SILÊNCIO
Jobson Ramos, SJ

29
BUSCA
Pe. Jackson A. Carvalho, SJ

Para Te encontrar, por entre árvores que balançam,


basta o trabalho, pássaros que cantam,
uma disposição, no zumbido da abelha,
um jeito de ser, dentro do coração atento,
um sorriso. no assobiar do vento,
Para Te encontrar nuvem em movimento.
basta estar na história Ouvi tua voz
na realidade No silêncio imposto,
na partilha Em um guerrear sem sentido,
um pedaço de pão. Na ferida exposta,
Senhor, De um gesto te aproprias.
encontro a ti no irmão. Ouvi tua voz
Reconhecendo-te no rosto do outro, nas incelenças entoadas,
no perdão, nas novenas dos santos,
sacrifício, no pedido de chuva,
na reconciliação. na maré transbordada.
Senhor, para te encontrar, Ouvi tua voz
abro o coração, na família ferida,
na justiça cumprida, a pobreza sentida,
paz desmedida, da comida garantida,
na entrega de vida, tua voz se ouvia.
Palavra de Amor.
Onde estás?
Ouvi tua voz

30
AL OCÉANO
Tomás Browne Urzúa, SJ (Chile)

Al océano por tus manos


se lo boga sin prisa astilla por astilla
paladeando su espesor dejándote sin rostro
dejándote solo
No se avanza a borbotones Incluso la estela
con los pies desparramados con su fidelidad blanca
ni golpeando con rabia te habrá abandonado
el pelaje del mar y tú
Al agua se le soba no te agites
como a un animal pequeño Sigue bogando
perdiéndose en el ritmo apaciguado
En cada brazada siendo solo un movimiento
el rumbo Tú sigue
un sonido sigue bogando
y la cadencia de las olas hasta sentir la caricia
También la sal de la quilla sobre la arena.
que irá subiendo

31
SILÊNCIO
Jobson Ramos, SJ

Silêncio
Não queira me atrapalhar
Estou sendo criado em algum lugar

O corpo, a alma a cor


O receptáculo da calma e da dor
A sinceridade, a caridade, o pudor

Nem tudo são flores


Há espaço para o medo
Parte importante do segredo
Milagre

Falta pouco para o meu despertar


Silêncio
Não queira me atrapalhar

Você e eu
Você sou eu
Nós
Somos um
Estamos nus
A sós

Abra os olhos
Veja a luz
Seja luz.

32
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre tela. A arte do relacionar-se, do cuidar-se,
toda dignidade, toda ternura. Por vezes o pranto, o silêncio...

33
RETIRO
Luis Espinal, SJ

Esto es sólo un paréntesis. No hemos nacido para el silencio;


No podemos encerrarnos en nosotros porque Tú nos has cargado con tu
mismos, Señor, Palabra.
para entregarnos a Ti. A Ti te hallamos mejor en el ruido,
Apenas cerramos los ojos, en los problemas de los hombres,
hallamos solamente el desierto en estas personas heridas que se nos
de nuestro «yo», acercan.
la náusea de nuestra nada.
Nos da miedo una perfección Jesucristo, tal vez nos sobre petulancia,
algebrizada, pero nos asquean ciertas palabras:
con sus mil senderitos y grados. perfección, virtudes, santidad…
Señor, con los ojos abiertos Palabras de autopsia,
te quisiéramos hallar en los demás, estructuras que ocultan la vida, tu Vida.
porque nos sonríes desde todo rostro Líbranos del riesgo de volverte
humano. a desencarnar.
Te quisiéramos seguir a pleno sol, Tememos mediatizarte.
con la naturalidad de tu Evangelio. Ojalá no te perdamos entre tanto
Déjanos ser osados. andamio.
Nos pareces demasiado adusto en tus
santos; te preferimos a Ti, desnudo y
alucinante.

34
SILÊNCIO
Cláudia Honorio (Leiga, colaboradora dos EE)

Preciso do silêncio
E se eu abrir a boca, minha alma vai rachar.
Preciso do silêncio,
Nele me encontro com o Cristo, com a vida plena.
Preciso do silêncio cúmplice,
No silêncio rezo, amo, choro, me alegro.
Preciso do silêncio
E quando meus lábios estão fechados, Deus reza em mim.
Meu coração cresce de todo lado, nele tudo cabe.
Preciso do silêncio
O silêncio é tenso,
Mas nele, a presença é plena, amor discreto, calmo e alegre.
O silêncio é palavra de vida, o abraço, o riso sem razões. É ele! É o Senhor!
O silêncio é palavra agradecida.

35
PRECE DO AMOR PEQUENO
João Júnior

Amo-te
com meu pequeno coração,
com os cacos de mim.
Com aquilo só que, às vezes,
resta da batalha perdida,
os despojos do existir.

Acolhe
com carinho sem pena
e corajosa esperança
meu pequeno amor
e o vaso frágil de minha ternura.

E busca reconhecer
na confusão desses pedaços
a inteireza que nunca fui
e o sonho do que eu seria
se tocado por teu amor.

36
OBRA:
MENDIGO NA ORAÇÃO
José Paulino Martins, SJ

37
CAMINHADA
Renata Sales (Leiga, colaboradora do OPA)

Aquietar-se
Olhar o céu e sorrir
Sentir a brisa
Esmorecer
Erguer o corpo caído
Sustentar o peito
Sofrido
Encontrar o consolo
Deitar nos braços
De então,
Ouvir os conselhos
Afinal, quem caminha
Sozinho, solitário
Não sabe onde anda
Tropeça
O caminho não é uma estrada reta
É vendaval
É dilúvio
Esperança e
Silêncio também
É um encontro
Esperado
Sentado ao lado de alguém.

38
AMOR LONGE
João Júnior

O difícil de amar
para além do alcance das mãos
ou dos lábios,
e de ter o coração assim derramado,
é que sempre se estará
um pouco só.
E que ela, porém e inevitavelmente,
estará sempre ao lado;
ela, a saudade,
lembrança terna da finitude.

39
SOLEDAD
Luis Espinal, SJ

Todo hombre está siempre realizarnos, saciar nuestro amor


solo: con su «yo» impenetrable, en este abismo de noche.
su responsabilidad, su misterio, Te pedimos por la soledad
su amor, su predestinación… de los encarcelados;
Recordamos la soledad del huérfano por los pastores altiplánicos;
y la soledad del anciano, por los vigilantes nocturnos.
hambrientos de personas queridas. Jesús de Betania y de Caná,
La soledad del delito, enséñanos a encontrar y vivir
la soledad del sufrimiento, la amistad y el amor.
y de la tumba. Te pedimos por aquellos
La soledad del altiplano, que aún no han descubierto estos
la soledad de la pampa, tesoros.
del corazón de la mina, Que cuando nos sintamos solos,
y la soledad del mar… recordemos la soledad humana
Señor Jesús, de tu Encarnación y tu agonía.
enséñanos a vivir nuestra soledad; Te ofrecemos nuestra soledad,
todo hombre es un solitario. para que sea redentora unida a la tuya,
Nos pesa la vida, para que se complete lo que falta a tu
con esa gravitación constante Pasión.
hacia lo infinito, insatisfecha por ahora. No permitas que nos cerremos
Por esto te mendigamos misericordia en nuestra soledad;
para los suicidas y desesperados. ábrenos para salir al encuentro
Tú sabes, Señor, de la soledad de los otros.
la fascinación que ejerce Que no se nos eclipse la esperanza
sobre nosotros el pecado. de la comunión eterna Contigo.
Equivocadamente buscamos en él Ven, Señor Jesús.
el espejismo del absoluto:

40
OBRA:
TOQUE DIVINO
Jobson Ramos, SJ
DESCRIÇÃO:
A mão esquerda, cansada e sem vida, espera ansiosa por um toque divino.
A Mão direita, viva e forte, aguarda sem pressa a hora certa para se doar.
No encontro, a vida, há vida, transfusão de amor e cuidado.
Impressão de sabedoria e desejos. Toque que marca como tatuagem que jamais se
apaga. Toque que imprime digitais. Toque Divino. Toque humano.

41
FOME DE MIM
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Silêncio, preciso ouvir o céu


Quero escutar a imensidão da minha alma
Quero encontrar-me comigo
Quero mergulhar no meu sertão

Silêncio, preciso ouvir o vento


Quero ser inebriado pela harmonia
Quero me ver e desnudar-me de mim mesmo
Quero a fome do horizonte

Silêncio, preciso contemplar as estrelas


Quero uma vida metafórica
Quero olhos sensíveis
Quero sentidos abertos, atentos.

Silêncio, preciso da minha solidão


Quero possuir a mim mesmo
Quero tempo para as minhas inquietudes
Quero a liberdade de ser eu mesmo e me perdoar

Silêncio, preciso sentir a vida pulsar


Quero sentir fome da minha presença
Quero uma vida reinventada...

42
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
Maria Clara Lucchetti Bingemer

Somos seres posteriores. Ou seja, chegamos depois. Depois do pai e da mãe,


depois dos avós, depois do mundo, depois de séculos, milênios de história, de
processos internos da terra que habitamos. Somos posteriores às coisas criadas
que encontramos ao nascer. E nós e tudo o mais somos posteriores a Deus. Só Ele
é nosso Princípio e Fundamento.

Somos criados, criaturas. Somos fruto de um Amor infinito que nos desejou
e nos pensou para viver no amor, na reverência e no serviço. E tudo o que nos
circunda deve ajudar-nos a isso. Se não nos ajuda, deve ser descartado.

Nossa vida não pode contentar-se com a banalidade ou a mediocridade. Se


viemos de um Amor infinito, devemos viver para reproduzir com nossa vida a esse
amor, refleti-lo amando, reverenciando, servindo e buscando somente aquilo que
MAIS nos ajuda para essa plenitude de vida a nós doada com nossa criação.

Viemos de Outro que nos desejou e criou a fim de que vivamos para os outros,
para fora de nós, buscando sempre para além de nós mesmos, de nosso eu,
buscando sempre e em qualquer situação, vida ou morte, alegria ou dor, aquilo
que mais nos leva ao encontro d´Aquele que nos criou e é a rocha onde nossos
pés repousam, nosso Princípio e Fundamento.

Nossa identidade mais profunda é ser criados, redimidos e santificados.


Somos feitos para louvar a Deus que nos faz incessantemente, abrindo suas mãos
para que tenhamos vida. Feitos para reverenciar tudo o que é criado, desde a
mais minúscula plantinha até a mais próxima, querida e majestosa das criaturas.
Feitos para servir a tudo e a todos: à natureza que nos dá solo, alimento e vida.
Aos outros, nossos semelhantes que tal como nós são criados pelo mesmo
Criador que em sua benção amorosa original segue acreditando em sua criação e
chamando-a sem cessar à plenitude da vida.

43
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
Princípio e Fundamento – Caos sendo ordenado (Rm 8,18-30).

44
“O ser humano é criado para louvar
reverenciar e servir a Deus nosso Senhor
e, assim, salvar-se.”
(Anotação 23)

O DIVINO FEZ-SE POESIA


Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

No princípio era a poesia,


A poesia fez-se palavra,
Fez-se verbo
Fez-se humanidade redentora...

No princípio era o verso,


O verso fez-se melodia...
Fez-se pretexto
Fez-se corpo

No princípio era a saudade,


A saudade fez-se presença,
Fez-se nostalgia...
Fez-se fraqueza

No princípio era o desejo


O desejo fez-se cioforia
Fez-se espera...
Fez-se carne
E armou sua poesia entre nós.

45
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

46
A VIDA ACONTECENDO: EIS O SOBRESSALTO!
André Araújo, SJ

Além...

Olhei pro alto e me surpreendi


com o que via na parede.
Sorri.
Entrava sem que eu me desse conta.
Existe uma vida potente
que desponta,
trabalha lá fora
e aqui dentro da gente.
Um balé nas coisas e nas criaturas,
a carnalidade do mundo
que me apavora
e me entrega suas vísceras
com uma força
e um existir profundo,
que atravessa
e impressiona e mora e pulsa
e faz feliz toda hora.
Entrou como quis,
porque o sol saiu
e brilhou e insistiu.
Assim, naturalmente,
não pediu nada,
mesmo estando
a porta e a janela fechadas.

47
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura sobre madeira.
Arte sobre a delicadeza, ser acolhido, ser presença.

48
“AQUEL DÍA”
Germán Méndez, SJ (México)

El día en que no trinen las aves, El día en que ya no amemos,


bajaré al lago a buscar la lágrima que el lago me devolverá el dolor,
les robaron; la luna mis deseos,
ahí donde enterré mi dolor por tanta y el fuego mi esperanza.
muerte,
ahí donde ahogaste la pena de tus El día en que ya no amemos,
pérdidas. el lago te dará tus penas,
la luna tus promesas,
El día en que no brille la luciérnaga, y el fuego tu perdón.
volaré a la luna a buscar su luz;
ahí donde enviaba mis deseos, El día en que ya no amemos,
ahí donde guardaste tus promesas. la tierra nos dirá al oído,
que nos ama y nos anhela.
El día en que no dé concierto el grillo,
atravesaré el fuego en que ardió su Y en el amor de su barro,
cítara; hallaré yo mi sostén,
ahí donde ardió mi corazón en y por su amor, amaré.
esperanza,
ahí donde hallaste tu perdón. Y en el amor de su barro,
hallarás tú tu sostén,
El día en que ya no amemos, y por su amor, amarás.
me hundiré en el barro de donde me
formaron las entrañas; El día en que no amemos,
ahí donde me enseñaste a amar, y la tierra nos consuma,
ahí donde te enseñaron a amar. emergeremos de su barro,
amados por amor, amantes por amor.
El día en que ya no amemos,
mendigaré el canto al ave,
rogaré a la luciérnaga su brillo,
y su música al grillo.

49
NO CAMINHAR PELA VIDA
Davi Caixeta, SJ

No caminhar pela vida,


uma visão, uma voz, um chamado:
Tira as tuas sandálias!
Pisa neste chão com teus pés,
toca este barro que tu és,
sente esta terra que eu criei.

Como te revelas com tanta graça!


Cubro meu rosto diante de ti,
abro meus ouvidos para te escutar,
acolher tua Palavra.

Queres mesmo te fazer com esta lama?


Por que insistes em soprar este pó?
Ponho meus pés neste chão,
Junto à lama que eu sou, eu serei.

Fogo que ilumina sem se consumir,


brasa que transforma corações de pedra,
vem consumir a escravidão
e libertar este teu barro.
Eis aqui a tua terra!

50
ENTONCES, ¿QUÉ HACEMOS?
Pe. José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

¿Qué hacemos con los pies de barro,


con los sueños rotos,
con las noches de vigilia
y las puertas cerradas?

¿Qué hacemos con la fe asediada,


el amor negado,
los golpes injustos,
y el desaliento?

¿Qué hacemos con la pobreza,


con el fracaso, con el hambre,
con la guerra, con la tristeza
que campa a sus anchas
por tantas vidas?

No rendir la esperanza
ni blindarnos contra la tormenta,
no renunciar a los sueños,
seguir buscando la llave
que abra la vida,
que libere la alegría
que desencadene
la paz,
la abundancia,
la justicia.

Y seguir confiando,
que con nuestro barro
haces tú milagros.

51
FOTOGRAFIA:
José Paulino Martins, SJ

52
O HOMEM QUE SOU
Francys Silvestriny, SJ

O homem que sou Minha vida única


vem de tantos outros... esta dívida impagável
tem sido inteiramente saldada
Tantos pequenos tesouros pela compaixão
recebidos de presente de muitos corações generosos
achados com surpresa
surrupiados em segredo A você, meu irmão,
que carrega em si
Tantas fendas e brechas pedaços de mim
abertas pelo amor receba, feliz, a mesma anistia
rasgadas pelas feridas
rompidas pelos recomeços Pois você e eu
só estamos aqui porque
Como poderia eu devolver somos frutos de um mesmo Amor
a fortuna de meus tantos pedaços capaz de juntar os cacos
sem ser despedaçado e destruído? e revelar Beleza.

Como poderia eu exigir


outros tantos pedaços que
dei, perdi ou me tomaram no caminho
sem despedaçar e destruir os outros?

53
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura a óleo sobre tela com gesso.
Arte sobre os níveis do ser. Um sempre nascer, um parto, o ser humano
nos seus diferentes níveis da possibilidade de relação.
Este também extrapola os limites da tela, foge do espaço comum,
tende a expandir.

54
TATUAGEM
Jobson Ramos, SJ

Da natureza um fato
Da humanidade um ato
No coração um salto que me leva pra longe
Lá atrás, lembranças

Fui criado
Sentido
Sonhado

Agora, trago tatuado em minha pele


Tudo e nada
Fogo e água

Eis aí a minha referência


Uma resposta pra quem não me pergunta
Uma revolta pra uma renúncia
Resistência

Sinceramente
Eu me importo com o amanhã
Mas o meu lugar é hoje
Ninguém vai me roubar.

55
OBRA:
LIBERDADE
Jobson Ramos, SJ
DESCRIÇÃO:
“Tudo o que nos toca, nos transforma.
Deixemo-nos afetar pelo que é belo.”

56
ESTAMOS EM TI
Jackson Carvalho, SJ

Ah, Senhor! Porque criaturas saídas de ti,


Bem sei de tua bondade, carinho e Tu nos deste a nós o que criaste,
amor criador! Para cuidar, para nos manter, para
Não à toa, tu nos deste a vida! crescer.
Do barro fizeste a nós, humanos, Quanta bondade!
obra de tuas mãos, desejados por ti. Pensava no acaso...
Quando nos deste a vida, com olhar Sem ti, porém, nada teria sido criado,
amoroso, nada seria dado,
Tu viste que tudo era muito bom! nada de imagem tua.
Para ti fizeste cada pessoa humana! E tu, deste-nos tudo!
Somos para ti! Tu te deste a nós!
Permanecer em ti é graça! Ah, meu Senhor!
Se em ti estamos, contigo Meu Deus!
aprendemos; Do coração aberto de teu Filho Jesus
Se em ti estamos, iremos por onde Vem a liberdade pela qual nós, tuas
queiras. criaturas, ansiamos.
Por isso podemos te louvar e te servir. Realizar o que queres é objetivo.
Se assim nos encontramos, Viver em ti, que nos movimenta,
caminhamos por ti. Realizando tua vontade, sem medida,
Porque és trilha de vida, de salvação. desejamos.
Ah, Senhor! Por teu amor,
Além de nos saber tua imagem no vivemos,
mundo, entregamo-nos a ti.

57
PROCURAVAS... ENCONTRASTE!
Gleison Pereira, SJ

Procuravas... Encontraste! Nunca sozinho caminhava,


Ó Amor, aqui estavas, Nunca sozinho sofria,
E meu olhar não vias. Nunca sozinho chorava,
Ó Amor, me procuravas, Nunca sozinho seguia.
E de ti fugia.
Ó Amor, de mim cuidavas,
Sem ti caminhava, Junto a mim permanecias.
Mas de mim não esquecias. Bem perto ficavas,
Abandonado sentia que estava, Mesmo quando de Ti me esquecia.
Mas discreto me protegias.
Minha vida aceitaste,
Sozinho caminhava, Do barro me modelaste.
Sozinho sofria, Tua imagem manifestaste,
Sozinho chorava, Sem Ti não posso viver, pois me
Sozinho seguia. encontraste.

Ó Amor, encontrastes,
E mirando avistastes,
Os passos não faltastes,
Tua face no caminho revelastes.

58
TODO INTEIRO A TI, SENHOR
Guilherme Kaíque, SJ

“Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te
mostrarei.” (Gn 12, 1)
Como a andorinha que
voa livre suspensa no vento
quero também eu poder
me entregar, todo, inteiro
a ti, Senhor...
Que meu abandono seja
tal que eu não confie
em outro se não em ti
e tua poderosa e protetora mão
a me guiar...
Sei que me mostras
um novo país, uma nova terra.
Não imagino ser fácil o caminho,
mas se eu lhe entrego minha vida
o caminho muda...
Pedra de tropeço torna-se
pedra para edificação.
Edifica-me, Pai, faz-me
homem novo, todo, inteiro a ti, Senhor...

59
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

60
POETIZAR A VIDA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Eu quero é poetizar a vida,


Torná-la cheia de cores
Mesmo que dentro de mim exista um sertão
Quero poetizar a vida,
Descobrir e beber
das minhas próprias fontes.

Eu quero é poetizar a vida,


Amar a minha pobreza
Tornar minha esperança ativa
Quero poetizar esperançando,
Quero que meu ser finito anuncie um prelúdio de uma poesia litúrgica
transcendental.

Eu quero é poetizar a minha existência,


Dar sentido,
encontrar razões.
Quem sou eu?
Quero descobrir poetizando.

61
OBRA:
A VIDA SE TECE EM SONHOS
José Paulino Martins, SJ

62
CYBER SALMO
Alberto Luna, SJ (Paraguai)

Señor, tu me escaneas y me conoces, Pues mis archivos desde el principio


sabes si estoy conectado o ausente, están registrados en tu base de datos.
de lejos captas qué estoy pensando. Te doy gracias por tantas maravillas
Si chateo, caminando o acostado, admirables son tus obras
tu accedes a todos mis mensajes. y mi alma bien lo sabe.

Aún no he posteado una palabra Tu me tenías registrado en tu lista


y ya, Señor, conoces la frase entera. antes de que abriera ninguna cuenta.
Me rastreas por detrás y por delante, Todos mis contactos te son familiares.
y deslizas tu dedo sobre mí. Incluiste mi perfil en tu lista de amigos
y me has hecho miembro de tu grupo.
Tu saber desde la nube me supera,
son resoluciones muy altas para mí. Mis páginas favoritas están ante ti,
¿A dónde huiré lejos de tu alcance? y registras en tu portal mis accesos.
¿a dónde escaparé de tus redes? Tienes guardadas todas mis visitas.
Si escalo a un lugar sin señal
o voy a los confines sin wifi, Los datos de tu sistema son infinitos,
también allí estás conectado. superan los formatos de mi memoria.
¿Cómo podría yo almacenarlos?
Si me pongo alas, en modo avión, Aunque me pase la vida actualizando
o voy sin batería al otro lado del mar, jamás alcanzaré a tener tu última
también allá me encontrarás sin gps versión.
y me localizarás sin satélites.

Si digo entonces:
Borraré mi historial de navegación,
cancelaré los registros de acceso.
Mas para ti no hay datos ocultos
y las claves están todas abiertas.

63
OBRA:
O MENINO
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Xilogravura.
Estudos sobre expressões narrativas.

64
CREADOR DISCRETO
Benjamín González Buelta, SJ

No hay que pensar el aire para que crezcan,


para que se filtre ni espiar la semilla de arroz
al último rincón de los pulmones, para que se transforme
ni hay que imaginar la aurora en el secreto de la tierra.
para que decore el nuevo día
jugando con los colores y las sombras. En dosis exacta
de luz y de color,
No hay que dar órdenes de canto y de silencio,
al corazón tan fiel, nos llega de la vida sin notarlo,
ni a las células sin nombre don incesantemente tuyo,
para que luchen por la vida trabajador sin sábado,
hasta el último aliento. dios discreto.
para que tu infinitud
No hay que amenazar no nos espante,
a los pájaros para que canten te regalas en el don
ni vigilar los trigales en que te escondes.

65
OBRA:
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
Luís Renato Carvalho, SJ

66
REALIDAD
Alberto Luna, SJ (Paraguai)

De lejos me encantas,
de cerca me decepcionas.
Por vez primera me fascinas,
cada día me desilusionas.

Porque de cerca descolorea


tu imagen pintada en mí,
y cada día despiertan
las fantasías que soñé de ti.

Y al descorrer el velo
¿qué me queda de ti
sino tu presencia desnuda?
Esa que eres en verdad.

Esa que quiero ocultar


y me resisto a mirar.
La única que puedo amar,
la que se deja abrazar.

67
AMOR QUE SALVA
Alan Cavalcante, SJ

Todos os dias invade minha existência


Transborda
Minha consciência.

Caminho pelas ruas


E deixo-me tocar
Pelo amor
Que se oferece.

Busca morada nos


Seres que continuam
A concretização da vida
Em obras
Em palavras.

Oferece-se sempre
Com a bela pretensão
De salvar-nos dia a dia
Da turva visão.

68
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre papel cartão.
Arte sobre o quadro janela. Eu, artista, não posso prender as imagens na tela, elas
fogem da minha capacidade, são muitos sentidos e significados que não pintei.
Quem olha vê o que muitas vezes está dentro. A psiquê de um ser humano, nas suas
tantas janelas narrativas. Cada janela leva a uma outra janela. Podem ser infinitas.
De novo, o espaço das possibilidades de encontros.

69
AMAR SEM (RE)TER
Higor Lima, SJ

Amar sem (re)ter


Reter é o mesmo que não ter.
Aquilo que é retido deixa de ser o que era.
Aquele que retém não é o mesmo de antes.

Ter não é o mesmo que ser.


Aquilo que é tido, não é.
Aquele que tem, jamais será.

Sê livre.
(cf. EE 23)

70
OBRA:
ANDORINHAS NO FIO
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Nanquim aguado sobre papel.

71
O QUE HAVIA ANTES DA PALAVRA?
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

O que havia antes da palavra?


O nada
A nostalgia
O Silêncio
Deus dançando em seus desejos infinitos...

72
OBRA:
SILÊNCIO
Jobson Ramos, SJ

73
O ÍNTIMO MAIS ÍNTIMO
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Na escuridão da minha Alma Tu estás


O mais íntimo da minha solidão Tu habitas,
Move em meu corpo e em meus sentidos
Tu possuis o que de mais íntimo em mim é desconhecido.

Oh mistério, mais íntimo do que a mim mesmo


Onde tu habitas?
A sede dentro em minha alma é a descoberta de que és tu mesmo, possuindo-me;
É aqui que tu moras, tu habitas a minha alma inquieta.

Aqui dentro de minha alma, tu, mistério que me possui, constrange o meu Ser,
Dessedenta,
despe o Ser e,
se faz Palavra em mim.

74
HUMANO
Franklin Alves, SJ

O ser humano?
Um nó!
Feito com as cordas do tempo e do espaço.
Um nó tão angustiado…
Mas que tem tanto medo de ser desatado!

75
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre papel.

76
LÁGRIMAS
Franklin, SJ

Minhas rugas... dobras na pele, onde as minhas dores dormem despreocupadas


quando, então, acordadas por minhas lágrimas, descem faceiras e de mãos
dadas até os cantos da minha boca.
Minhas lágrimas... meu melhor remédio.

77
AMAR
José Fernandes, SJ

Por que te calas, minh’alma? Pelo ser amado.


Que silente segredo É libertar-se
Aninhas em teu ser? Como lua por entre nuvens
Em suave deslizar.
Acaso o amor te seduziu,
Ou escondes o teu medo Amar é ser nuvem
De amar Suja de dourado
Nas dobras do silêncio? Quando o sol posto
Amar. Se vai adormecendo
Amar é extrair do fundo É rir como límpida água
Da alma o romântico De riacho entre
Rosto da vida. Redondas pedras
Amar é não ter medo
Deus uma desilusão. Amar são tantas coisas
Tantas palavras e sonhos
É ser poeta Tantos cantos e silêncios
Que faz das palavras Que se unem e se conjugam
Um acalanto ao amor, No verbo amar.
Amar.
É quem permite
Um lento enlouquecer-se

78
DEUS TERNURA
Odair José Durau, SJ

Quem é Este que ama, chama e cuida? O Amor que até então era
Aprisionado na razão dura e crua, desconhecido
era incapaz de compreender, sentir foi ganhando identidade e um rosto
e experimentar o amor presente no de ternura e bondade.
mundo. Já tinha ouvido algo neste sentido:
Um amor discreto, sutil, profundo, “tarde te amei, ó beleza eterna”;
respeitoso e belo. mas hoje sou agradecido por ser
amado desde a mais tenra idade.
Por que será?
Talvez pela autossuficiência, quem Imerso e maravilhado na ternura de
sabe pela rudeza de um teimoso Deus,
ou quiçá por algum motivo que, percebi que nada é pequeno no Amor,
possivelmente, desconheço ou não nem mesmo eu que, incrivelmente, fui
quero nomear. acolhido na companhia desse Amor.
De fato, ainda falta muito para Ó feliz dor que me abriu os olhos para
caminhar, para me conhecer e um horizonte maior.
mergulhar com confiança na
imensidão do Amor. Hoje, sigo confiante o Caminho de luz,
Como um peregrino que não sabe o
Bendita foi a dor da perda que vai encontrar,
experimentada, afinal, nada mais me causa medo,
a qual foi dolorida no momento, A não ser, deixar escapar a graça de
mas fundamental para abrir uma fresta estar ao lado da Ternura.
no coração e, assim,
deixar o caminho livre para o Amor.

79
MIRAR DE NUEVO
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

Mirar de nuevo,
abrazando mi principio
reencontrándo lo principal,
dejando que me repares
en lo que soy, suavemente,
para caminar sin ataduras.

Mirar de nuevo,
sintiendo mi fundamento,
mi cimiento esencial
lo que acallo en mis calles,
lo que por ventura irrumpe
a pesar de mis resistencias.

Mirar de nuevo
aquello principal individualizante
y aquel cimiento estructurante
para ser libre de nuevo,
para volver a Ti.

80
BARRO EN LAS MANOS
Jaime Andrés, SJ (Equador)

barro en las manos


corazón palpitando
humano roto.

todo vibrando
resonando el amor
abrazo lento.

81
LIBÉRAME DE MÍ
Benjamín González Buelta, SJ

Aquí estoy, Señor, Aquí estoy, señor,


doblado curvado
con un signo como un anzuelo
de interrogación que busca afilado
que espera con su seguridad de acero
la respuesta la presa tangible
al ritmo urgente como pago justo
del deseo tan tirano. a su esfuerzo tenso.
ablanda mi rigidez
Aquí estoy, Señor, en el suave mecerse
hueco del sedal sobre las olas.
como la palma de la mano,
hecha un cuenco Aquí estoy, señor,
para recibir el agua acogiendo tu don,
sin demora. la alegría y la paz
distiende mis dedos de tu misterio.
de mendigo ansioso
en un ágil gesto
de baile y alabanza.

82
OBRA:
VINDE A MIM VÓS QUE ESTAIS CANSADOS
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Caneta esferográfica. 21x29cm – 1999.

83
INTIMIDAD
Luis Espinal, SJ

la intimidad, Nos sobrecoge un paisaje, Señor, enséñanos a respetar


nos alucina el misterio de la vida
submarina; pero ver un alma… este gran sacramento de tu presencia.
es cegador. Esta teofanía sencilla y afelpada,
La intimidad es la transparencia del como un musgo, pero capaz
amor. Tal vez, es el único lenguaje de hacernos reverdecer el alma.
plenamente comunicativo. Jesucristo, te agradecemos
En la intimidad se roza lo absoluto. que nos hayas hecho hallar
La intimidad permite el diálogo sin personas tan ricas de intimidad.
palabras. En ella, se rompe la barrera Pero, líbranos de profanarlas
entre exterior e interior, lo más mínimo.
entre tuyo y mío… La intimidad es el último reducto
Gracias, Señor, por este don de la libertad, el núcleo central de la
tan frágil de la intimidad. persona. Por eso, danos comprensión
La intimidad nos alcanza para intuir el misterio de cada
la comunicación plena, la comunión. persona. Para no intentar convertirla
Rompe un poco la epidermis del «yo», en una fórmula exacta.
y podemos convivir. Enséñanos a no juzgar a nadie,
Bajo el resplandor del «tú» al menos con este juicio radical
que se comunica, e inapelable.
se desmorona el egoísmo; Danos una postura delicada
llega la trascendencia, ante las personas queridas.
y comenzamos a verte a Ti, Señor. Las aceptamos totalmente, como son,
Lo que sería trivial si fuese nuestro, con sus virtudes, defectos y misterio.
se transfigura y se vuelve apertura En ellas respetamos este inmenso.
cósmica, cuando Tú nos lo das misterio de tu trascendencia.
en la intimidad humana.

84
PRIMEIRA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer

Esta não é a semana do pecado, como às vezes costuma ser chamada. Mas
é sim a semana antropológica, quando vamos aprender a nos olhar e ver como
criados para amar, reverenciar e servir. Vamos ver-nos humanos, mortais, falhos e
ao mesmo tempo grandes. E sobretudo vamos sentir-nos olhados e amados com
o olhar infinitamente misericordioso de Deus. Esse amor está expresso de forma
infinita e próxima no Cristo Crucificado, que nos amou e se entregou por nós.

Diante do Crucificado, Inácio de Loyola, o peregrino ferido pelo amor de Deus,


sentiu-se perdoado, resgatado, amado. E se perguntou: Que fiz por ti, Senhor?
Que faço? Que farei?

A misericórdia não nos deixa parados, simplesmente girando à volta de


nossos sentimentos. Ela nos impele para a frente, acendendo em nós o desejo de
fazer algo por esse que tudo fez por nós. Apesar de nossa finitude somos amados
infinitamente. E podemos amar porque fomos amados primeiro. Esse amor nos
envolveu, nos olhou nos olhos, nos chamou, nos levantou ao colo, nos acarinhou.
E quer que busquemos sempre mais. Sempre o que mais nos conduz para o fim
para o qual somos criados: louvar, reverenciar e servir. Em suma: amar do mesmo
amor com que somos amados.

Este é o conteúdo da primeira semana dos Exercícios. Ver como a graça de


Deus é maior do que qualquer pecado, como qualquer infidelidade é superada
pelo seu infinito amor, como esse amor nos constitui e nos faz ser quem
somos: filhos queridos e perdoados desde sempre e para sempre. Somos filhos
nascidos do desejo do Pai e renascidos do dom do Filho. Pelo Espírito, somos
constantemente ensinados a buscar mais vida, inspirada e gerada do perdão e
destinada à comunhão da Santíssima Trindade.

85
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
Caos – Consequência do pecado: O barco da Morte – CARONTE.
Da Mitologia Grega inspirando o Pecado e a Graça.

86
“Pedir a graça a Deus nosso Senhor para que todas
as minhas intenções, ações e operações sejam
puramente ordenadas a serviço e
louvor de sua divina Majestade.”
(EE 46)

NOVO SENTIDO
Carlos César, SJ

Quando pronuncias meu nome,


é poesia e afeto,
carícia e canção.
Eu ouço, reconheço e te sigo.

Quando me fitas o olhar,


é amor e verdade,
perdão e recomeço.
Eu olho, entendo e te recebo.

Quando tocas em mim,


é ternura e dança,
apoio e cura.
Eu sinto, me levanto e te anuncio.

Teus gestos, Senhor, me restituem e


Teus sentidos, convertem os meus.

87
OBRA:
JESUS – COLÔMBIA
Luís Renato Carvalho, SJ

88
CUANDO VINO LA LUZ
Pe. José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

Estábamos ciegos,
sumidos en la oscuridad
sin saberlo.
Creíamos tener el control
de vidas y haciendas,
de leyes y ritos,
de corazones y cuerpos.
Confundíamos realidad
con deseos,
lamábamos verdad
a lo que solo eran sueños.
Hasta que se hizo la luz,
y empezamos a vislumbrar
grietas en las paredes,
arrugas en el alma,
lágrimas en el rostro,
flaquezas en la entraña.
Hubo quien, entonces,
temió que el fulgor desvelase
solo miserias,
y optó por cerrar los ojos.
Pero el que se atrevió
a mirar descubrió,
más allá de las heridas,
una presencia distinta,
un amor sin cadenas,
a Dios…
Dios es el que late
en lo hondo
y da sentido
a las batallas cotidianas.
89
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ

DESCRIÇÃO:
Lápis grafite sobre papel.
Arte meu jeito de expressar. Sou negro, sou história.

90
FANTASMAS E DEMÔNIOS
Franklin, SJ

Espremido entre a embriaguez de Futuros e a tormenta de Passados


Quero gritar até que se abra o espaço do Presente
Onde eu possa dançar com os meus cem fantasmas
Sem máscaras e ao som da poesia
Embriagando-me de lágrimas!
Dançar! Dançar e dançando espalhar as cinzas dos meus tormentos.
Cantar! Cantar e cantando dominar os meus demônios
Repetindo ao repique de longínquos sinos:
Passa! Passa! Passa! Tudo passa...

91
DESCI AO INFERNO
Thalisson Bomfim

Um dia antes de ir, pela noite, já Via muitos rostos.


deitado na cama, aplico as adições que Dedos apontando, pedras para serem
me ensinaram... Num breve instante arremessadas.
preparo o outro dia. Sentia raiva de cada pessoa presente.
Desperto às 6h20 da manhã, como Senti o deboche, o escracho, a ira.
tinha proposto na adição do dia Não falava nada, só olhava e
anterior. experimentava o gosto do inferno.
Após abrir os olhos, a primeira coisa Saboreava cada olhar, gestos, toques,
em que penso é na atividade que me todos os movimentos e sentimentos.
fez acordar mais cedo. Nada passou despercebido.
Preparei-me antes e na hora para O inferno existe, ele é real!
descer ao inferno. O inferno existe e pode ser aqui e
E o inferno existe? Existe e fui até ele! agora!
Resisti, relutei, neguei. Mas Ele me O inferno existe e ele é existencial!
levou. O mais bonito dessa experiência foi
Fui de mãos dadas com Ele, parecendo levantar as mãos e Ele me puxar, me
uma criança com medo e acuada. chamar para viver no Céu.
O inferno era um ambiente familiar, Se o inferno existe o Céu também
muito familiar. pode existir ou ser construído.
Era a sala de minha casa. Voltei do inferno mais amado,
Da casa em que morei até há pouco perdoado, feliz e pronto para continuar
tempo. a ser criado e recriado na dinâmica do
O ambiente estava todo escuro, sem os amor e seguindo os passos d’Ele.
móveis. O Céu existe, ele é real!
Ouvia vozes, uma em especial pedindo O Céu existe e pode ser aqui e agora!
para parar... gritos, risadas, piadas. O Céu existe ele é existencial e é

92
PRECE
Rogério Barroso, SJ

Esta voz,
pela garganta
abafada,
não querendo,
senão por Ti,
calar,
trépidos sons grita,
angustiada,
e o medo pede
a tudo
olvidar.

93
OBRA:
AS MÃOS SOBRE O ROSTO
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a caneta esferográfica sobre papel.
Arte sobre os exercícios espirituais.

94
MASMORRA
Ozires Vieira de Sousa, SJ

Fiz-me de vítima, refém do abandono


Calei-me por medo de demonstrar minhas fraquezas
Gritei em silencio: socorro! Para não importunar os outros.
Então, decidi viver no castelo da superficialidade
Protegido pelos muros do medo, do silêncio e da aparente tranquilidade.
Sem perceber, tornei-me prisioneiro da solidão.
Cansado desta prisão, decidi me libertar.
Fugi do castelo pelo subterrâneo, abrindo os calabouços, deixando livres
Os sentimentos
Os traumas
E feridas
Fui me aventurar em outros reinos, tendo como companheira a minha
Consciência.

95
TEMPO DE PÁSCOA
Lucas Pedro, SJ

Deus, nos cativas com dom de sua alegria.


A luz da ressurreição adentra as trevas
E ilumina com o esplendor da bondade.
As fraquezas se transformam em coragem

O cheiro podre dá lugar a Aloés


A vida se reveste de amor
Os dias difíceis dão lugar
A um silêncio misterioso
Que toca!
Acalenta!!
Cuida!!!

A divindade diviniza a a humanidade


Se experimenta aqui
Aquilo que depois se gozará para sempre
Deus é assim
Mistura de amor
Banhado com excesso de alegria
Pequenas e singelas gotas
Que harmonizam
Que pacificam
Alma ansiosa na busca
Do mistério

Onde está Deus?


Qual o caminho para encontrá-lo
Apenas nas orações
Sigo minha intuição
Guiado por suas moções.

96
PERDONAR
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

Señor, cómo perdonar cuando hay palabras duras,


cuando la memoria me distancia, cuando mi deseo de perdonar
cuando no recuerdo haberlo hecho, no llega a mis acciones.
cuando no olvido la ofensa,
cuando no vuelvo al cotidiano Señor, sí lo intento,
que me recuerda como hermano. pero desearlo no basta,
pues no depende solo de mí
Cómo hacerlo que la memoria no me hiera,
cuando no entiendo la ofensa, que entienda tu misericordia,
cuando no sé perdonarme, y que mi voluntad se mueva.
cuando no lo pienso posible
cuando no imagino abrazar Señor hoy no puedo,
sin vencerme a mí mismo. pero deseo desear perdonar
Tú nos inspiras y mueves
Cómo lograrlo y cuando pueda será Gracia Tuya.
cuando mi voluntad se instala,
cuando me paraliza la herida,

97
A VIDA É MISTÉRIO DE TRANSCENDÊNCIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Eis que a prisão obscura onde me encontro me convida:


A Amar
A Esperançar
A Sonhar

Eis que meus olhos enxergam no cotidiano vácuo,


A beleza de abrir a janela, e perceber que o cotidiano é transcendência de
mistérios tangíveis...
Eis que minha vida é mais do que aquilo que se vê,
Minha vida é felicidade de desassossego.

Eis que a vida é uma paz inquietante, uma hora ela afrouxa, uma hora solta...
Quem me dera conhecer todos os mistérios que corroem dentro de mim.
Eis que sou guiado por uma grande fome;
bendita seja a fome dentro de Minh ‘alma.
Não quero jamais que ela se acabe.

Perderia o gosto de sonhar


De esperançar
De amar
De buscar...

Eis que o homem é um ser inquietante,


Inquieta-se tanto que sua alma só vive na busca de algo fora da materialidade.
Eis que o homem é uma realidade finita...
Mas eis que é Deus o princípio e fim do homem
É o absoluto de toda minha subjetividade...

98
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre tela.
Arte narrativa sobre as ataduras: não ser tolhido, não perder sua capacidade
de expressar, numa busca de liberdade e compreensão do outro.
Não somos monstros, somos seres que buscamos estabelecer relações.

99
SEM IGUAL
Álvaro Negromonte, SJ

Diante de ti, Senhor


Estive todo, completo em mim
A alegria me encheu o coração
Por teu amor-miserere sem fim

Sou teu copeiro, sei que sou


Quero servir à mesa, cuidar
Mesmo que tenha sido infiel em alguns momentos
Teu toque de perdão vem me inundar

Não há outro igual a ti, Senhor!


Sem fim é o teu amor, o teu perdão
Diante da minha pequenez
Rasgo o peito de dor e gratidão.

100
CORAÇÃO EXPANDINDO
Alan Cavalcante, SJ

Ajuda-me, Senhor,
A compreender
Teu perdão.
Aquela compreensão
Simples, profunda
Inesgotável
Do coração.

Diante de ti
Minhas culpas
Autojulgamentos, remorsos
Já não encontram
Lugar.

Os lugares de minha
Vida se abrem
Para outra presença.
A reconciliação
O olhar amoroso
O abraço acolhido.

Da tua misericórdia
Se expande meu coração
Expande-se para que
Mais possa amar.

101
OBRA:
INÁCIO EM MANRESA
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre tecido. 1,20x2,50m – 2000.

102
MUITAS VEZES, SENHOR!
Higor Lima, SJ

Muitas vezes, Senhor!


Quase sempre a mente está cansada.
O coração está insensível.
Os juízos são falsos, preconceituosos.

Todos os dias Tu nos estendes a mão.


Todos os dias nos dais a oportunidade de tomarmos parte contigo.
Dividir o pão.
Dilatar o coração.

Sempre titubeamos.

Perdão, Senhor!
Por nossa falta de confiança,
Por nosso amor vacilante.

Ensina-nos o teu modo de amar,


Para que assim o Teu coração ame em nós e por meio de nós.

103
MIRADA DE MISERICORDIA
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Miras el mundo herido


y su dolor te rasga,
cual amor no correspondido.
Te duele nuestro pecado,
pero te duele más no perdonarnos.
Tu mirada se alegra,
porque cuando nos nombras
cada uno te vuelve su rostro.
Tu mirada embellece,
porque cuando nos perdonas
cado uno es más hermoso.

104
OBRA:
CRISTO
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Técnica mista sobre página de revista – 20x20cm – 2006.

105
A VIDA EM MOVIMENTO
Agnaldo Duarte, SJ

Nestes dias de vento


Sem destino e documento
Precisamos do acalento
Pra curar a dor só o tempo

Neste momento, só o tempo


Mas passa tão lento
Precisamos do alento
Como o pão precisa do fermento

Nestes movimentos o fermento


Não é apenas um alimento
É preciso conhecer o sentimento
Que atravanca o corpo por dentro

Neste coração por dentro


Palpita em contentamento
A dor da gente é de sofrimento
Que grita vida adentro

Nestes mares adentro


Além das bússolas me oriento
Nas viagens sem mapas entro
Levo a esperança em dia cinzento

Neste dia tão cinzento


Que o sol se esconde no firmamento
Mudança de comportamento
O amor vive sempre em movimento.

106
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

107
PERDONAR
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Señor, cómo perdonar cuando hay palabras duras,


cuando la memoria me distancia, cuando mi deseo de perdonar
cuando no recuerdo haberlo hecho, no llega a mis acciones.
cuando no olvido la ofensa,
cuando no vuelvo al cotidiano Señor, sí lo intento,
que me recuerda como hermano. pero desearlo no basta,
pues no depende solo de mí
Cómo hacerlo que la memoria no me hiera,
cuando no entiendo la ofensa, que entienda tu misericordia,
cuando no sé perdonarme, y que mi voluntad se mueva.
cuando no lo pienso posible
cuando no imagino abrazar Señor hoy no puedo,
sin vencerme a mí mismo. pero deseo desear perdonar
Tú nos inspiras y mueves
Cómo lograrlo y cuando pueda será Gracia Tuya.
cuando mi voluntad se instala,
cuando me paraliza la herida,

108
OBRA:
NOSSA SENHORA DA RUA
José Paulino Martins, SJ

109
TIERRA QUEBRADA
Jaime Andrés, SJ (Província do Equador)

Tierra quebrada
resuenan los tambores
mirada pura

Atardecer
las palabras tejidas
migas de pan.

110
CETICISMO MÍSTICO
Rogério Barroso, SJ

Ecos vagos delineiam formas


Em abissos sonoros contidas
Avistam o Mistério que entorna
Além da sorte, o despertar da vida
Nada e Tudo se confundem
Na peleja vão luzes projetadas
Inertes, descobrem e se fundem
Imagens falsas por si criadas
Decriptam da alma seus postos
Decompostas presenças na dor do crível
Retornam os seres análogos e opostos
Religa-se o Necessário ao possível
Da lida plena a sentença é ato
Dela se diz oração, de fato?

111
OBRA:
CRIAÇÃO – PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
Rogério Barroso, SJ
DESCRIÇÃO:
Compensado naval, verniz vitral, purpurina dourada,
filó de algodão, barbante.

112
MIRO ADELANTE
Benjamín González Buelta, SJ

Miro en la risa
hacia atrás, sin trampa
y veo de los niños,
mis dolores en el ritmo
recientes de los jóvenes
e insepultos, que estrenan
y toda mi vida horizontes,
ambigua en las comunidades
y generosa que se unen
ya generosa contra las fuerzas
ya bajo la tierra de la muerte.
sepultada Mi vida ya va
a paladas en todos ellos
de días delante de mí
y de olvidos. más fuerte que yo,
Miro marcándome
adelante el camino
y me veo tirando de mis pasos.
en la vida Hoy,
que engendré ayer en este instante,
al sembrarme, escojo
creciendo hoy el futuro
delante y resucito.
de mí mismo,

113
OBRA:
Alexandre Raimundo, SJ

114
CABEÇA FORTE
Isaías Gomes, SJ

Levanto agradecendo a Deus por viver


Caminho com generosidade, tenho como andar
Me encontro, sei que posso presença-ser
Cresço, é possível amar, ser junto e cuidar
Caio, às vezes esqueço, o amor-cuidado pode perecer
Volto, com gratidão sei, é possível ainda continuar
Paro, converso, reflito, penso, é real crer, para tudo ver
Entre começar, caminhar, encontrar, cair e voltar
O quanto com Ele, elas e eles, me faço eu, forte para viver.

115
ABRO MEUS OLHOS
Higor Lima, SJ

Abro meus olhos.


Me olho no espelho.
Penso que vejo, mas não vejo.
Nada vejo!
Vejo sim.
Olhos;
Nariz;
Boca;
Pelos;
Cabelos.
Além dos poros, nada.
Ou quase nada.
Preciso de fôlego para mergulhar em mim.
Mas não acaba assim, triste fim.
É só o tempo da pupila se acostumar com a oscilação entre
claridade e escuridão.
E os pulmões se acostumarem com o ar às vezes abundante na alta pressão,
às vezes rarefeito na baixa pressão atmosférica que existe dentro de mim.

116
PREGUNTAS DE DIOS
Benjamín González Buelta, SJ

Donde estás?,
dice el Creador.
¿Dónde está tu hermano?,
dice el Padre.

¿Quién te liberó?,
dice el Señor.

¿Dónde están tus acusadores?,


dice el Pastor.

¿Por qué me persigues?,


dice el Hermano.

¿Por qué temes?,


dice el Amigo.
Preguntas de Dios
en nuestra tierra,
como la lluvia
que baja del cielo
y al cielo sube,
preguntas eternas
en la vida
que nos traen,
en la muerte
que se llevan.
Acogidas
como la lluvia,
ya nos van haciendo
eternidad ahora.

117
SEGUNDA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer

O perdão, que é amor sempre renovado, reiterado e revivido; dom que persiste
e se dá novamente, nos diz que não podemos conformar-nos com nenhuma
banalidade e qualquer mediocridade. Somos feitos para algo grande, a vida nos é
dada para um projeto maior. Temos que construir um Reino, que não é nosso, mas
do Rei Eterno e Senhor Universal. Ele nos chama, nos convida para estar perto
dele, junto dele, caminhando e vivendo.

O convite da segunda semana é apaixonar-se. Como diz o Pe. Arrupe:


quando nos apaixonamos, tudo passa a ser diferente: os horários, os critérios, as
atitudes, as prioridades. O amor rege nossa vida desde que acordamos até que
dormimos, desde que nascemos até que morremos. E esse amor tem nome: Jesus.
Nesta segunda semana somos chamados a ver, ouvir, tocar, contemplar, respirar
Jesus Cristo.

Sua encarnação no ventre de Maria, seu nascimento em meio a deslocamentos


e dificuldades, sua infância de alegria e graça, de obediência, liberdade e
descobertas, sua vida pública de paixão e entrega pelo projeto do Reino do Pai.

A graça a pedir é, como os primeiros discípulos, poder ver, ouvir, tocar, apalpar
o Verbo da Vida. A Vida se manifestou e a nós foi dada a graça de conhecê-la e
saber seu nome. Jesus de Nazaré é nossa vida. Nosso caminho, verdade e vida.
Segui-lo aonde ele for é o sentido maior da nossa vida.

118
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
A Igreja, a que caminha na LUZ ( Toda a epopeia de Moisés no livro do Êxodo).
MARIA, a que alcança o Céu e acolhe a DEUS (A Encarnação).

119
“Conhecimento interno do Senhor
que por mim se fez homem, para que
mais o ame e o siga.”
(EE 104)

A PALAVRA SE FEZ CARNE


Moisés Nonato , SJ

No silêncio...
coração a galope.
Os olhos não veem, se inundam.
Os ouvidos não escutam, sentem.
O olfato não cheira, aspira.
Os lábios não beijam, soluçam.
O paladar... a salobro.
O tato não toca, pulsa.
Na carne,
o latejo da vida.

120
OBRA:
FUGA PARA O EGITO
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre parede. Itaici. SP – 2013.

121
RECOLHE NOS TEUS BRAÇOS
Lucimara Trevizan (Leiga inaciana)

Recolhe nos teus braços, Menino Deus, o meu amor.


Veja nos meus olhos a imensa fragilidade que sinto e sou.
Poderia enumerar tudo o que em mim é impossibilidade, fraqueza e solidão.
Te dou minha enorme fome de amar.
Te dou o oceano de amor, dor, silêncio e saudade que me habitam.
Coloco aos teus pés minha vida.

Te amo.
Essa é uma verdade que me constitui.
Te amo antes de tudo.

Fica comigo nesse desassossego que não me deixa dormir.


Fica comigo nesse vazio imenso e intenso que pulsa no silêncio dessa noite
que invadiu o mundo.

122
OBRA:
UM MENINO NOS NASCEU, UM FILHO NOS FOI DADO, (IS 9,5)
Lúcio Américo

123
OS MAIORES DESEJOS
Gabriel Araújo Pacheco

Os maiores desejos
E uma oferta...

Coração ardente,
Chamado,
À misericórdia imensa se entrega:
Eu me ofereço!

Quem és? E por que tanto me chamas?


Pela tua causa, luta, exemplo,
E pela fé,
Aqui estou!

Confiança que se encarna em resposta!


Eterno Rei e Senhor!

124
OBRA:
INÁCIO EM MANRESA
José Paulino Martins, SJ

125
O BOM PASTOR CUIDA E CHAMA-ME
A CUIDAR DE SUAS OVELHAS
Paulo Vinícius da Silva Abreu, SJ

Tu és a porta,
Tu és a voz,
Tu és quem dá vida e em abundância.
E eu, às vezes, por um motivo ou outro
Afasto-me de Ti, do teu rebanho.
Ouço outras vozes e as sigo em algum momento.
Perco-me, me vejo só
Sem a Tua presença.
Mas Tu não desistes de mim
E assim sais a minha procura
E com a Voz suave e serena, sais a me chamar.
Alegro-me com o Teu chamado,
Com a Tua preocupação,
Com o Teu cuidado para comigo.
Ó Senhor, bom pastor,
Tu que dás a vida por tuas ovelhas
Ajuda-me a não me afastar de Ti
E ensina-me a ter os teus gestos,
Para que, ao contrário do mercenário
Eu possa cuidar, abraçar, preocupar-me
Levar a tua misericórdia
E ensinar o teu mandamento, que é o amor,
A todo um rebanho de ovelhas.
Ajuda-me, Senhor, para que
Esses gestos não fiquem só no coração,
Mas que eu possa levá-los aqui e agora.

126
VOCACIÓN
José María Rodríguez Olaizola, SJ

A veces hay que ser árbol


y dar sombra al caminante cansado.
Hay que ser agua, que alivie la sed de respuestas,
y fuego que arrase lo injusto, lo indigno, lo hueco.
Hay que ser roca que abrace los cimientos de lo duradero,
tierra que acoja las posibilidades de la semilla,
y océano, donde podamos zambullirnos,
para renacer llenos de libertad y de esperanza.
Hay que ser canción que alivie los vacíos,
y silencio habitado, que venza a la cháchara.
Unas veces hay que ser hogar al que regresar,
y otras veces, puerta que se abre a la tormenta.
Dios es el árbol y el agua, la roca, la tierra y el mar.
Dios es canto y silencio, hogar que acoge
y puerta que nos conduce a nuevas historias.
Pero hacen falta guías
que consagren sus días a buscar ese tesoro.
Hay quien se dedica a sembrar, encender,
forjar, regar, compartir y acompañar.
Hay trovadores que cantan con palabras prestadas,
cauces de agua ajena que trae vida verdadera.
Hay maestros con muchas preguntas y pocas respuestas,
que ayudan a otros a descubrir el Misterio.
Soñadores de un bien posible,
que convierten su amor en puente,
para acercar a hermano con hermano,
para unir al ser humano con Dios.
Apóstoles, con pies de barro
y corazón de fuego.
Que nunca nos falten.

127
POUCO OU NADA
André Araújo, SJ

Quis pegar a palavra no ar. Um vai negar,


Flecha disparada o outro vai trair.
não tencionava ferir. De mim o que se dirá?
Acreditava mais no homem Temo em perguntar
que o homem em si. pelo medo
Tinha outras na aljava de não suportar ouvir.
para momentos assim, No entanto,
de maior lucidez, em poucas linhas, o espanto:
quando a estupidez “Enche tuas talhas,
dá lugar à ação. a dimensão do teu voo é eterna,
Disparava e acertava não meças com o pó da terra
nas verdades necessárias. o que teu coração carrega,
Flecha como aquela se te dispersares no pequeno,
não sangrava. o que é grande escapará
Tanto melhor, naturalmente aos teus olhos,
não tinha mesmo inspiração não te impeça a curva de tuas asas
para um Sebastião. o voo pleno por entre os mundos,
Seria pior, deixa entre as nuvens o que segrega
fosse soldado ou rei, o teu existir profundo
era café pequeno, cair sobre os espaços da matéria.
desses que batem cabeça, O resto, pouco ou nada...
pregam a Lei
e ainda disputam
um lugar no Reino.

128
QUANDO VACILO
Jerfferson Amorim, SJ

Quando vacilo,
tu acolhes as minhas incertezas.
Quando me escondo,
tu continuas iluminando o caminho, para que eu não esqueça de onde vim.
Quando procuro as sombras,
tu brilhas como o sol, não por fora, mas desde dentro do meu interior,
fazendo-me ver que tu me tens.
E assim me sinto todo teu
como centelha de vida que
irradia a tua presença.

Teu olhar me acolhe sem me incriminar.


Acercas-te de mim e jamais me oprimes com a tua presença.
Tu pavimentas as minhas conquistas.
E fortaleces os meus passos.
Quando te vejo, o coração palpita.
Quando te sinto, confirmas a certeza de que vives em mim!

Quando me convidas a dar-me todo, respeitas o meu passo que é resposta ainda
medida e parcial, porque sou como Pedro na manhã da ressurreição:
tu me amas?
Tu sabes tudo, tu sabes que te quero, que gosto de ti, que sou teu amigo!

129
FALTA TÃO POUCO PARA QUE EU
Francys Adão, SJ

Falta tão pouco para que eu


termine a travessia do deserto
e entre na terra da Promessa
E tantos cansaços já me paralisam
tantas solidões me aprisionam
tantas lamentações me atrofiam
Mas Tu passas por mim
e não és indiferente
à minha miséria e dor
Tu vês e me fazes ver
a vida nova que posso ter
o desejo escondido em mim
a força para levantar e andar
Se acolho Teu olhar
escuto Tua Palavra
e obedeço ao Teu convite
já não há paralisia, mas movimento
já não há pecado, mas perdão
já não há ruptura, mas relação
Pois o Amor sempre me resgata
põe-me de pé
devolve-me a mim mesmo
e ao novo Caminho
que me faz cada dia mais
um filho querido do Alto
um irmão entre tantos irmãos.

130
NO NOS LLAMES
Benjamín González Buelta, SJ

no nos llames en las soledades del desierto


para aclarar las sombras que buscan el futuro
con velas frágiles secuelas de casa
protegido de los vientos que une a los amigos
con las palmas de la mano, compartiendo pan y pescado
no ser puros espejos o relámpago profético
que reflejan las luces ajenas, rasca la noche
estrellas citadas tan dueño de la muerte.
dependiente de otros soles,
que como amamos la noche nos ofreces
hacer brillar las superficies sé la luz de la gente
con reflejos fugaces Hoguera de Pentecostés
a tu gusto. en combustión persistente
de nuestros dias
nos ofreces iluminado por tu espíritu,
sé luz desde dentro, sé ligero en ti,
cuerpos iluminados que tu eres la luz,
con tu fuego insaciable inseparablemente fusionado
en la médula ósea nuestro fuego con tu fuego.
arbustos en llamas

131
PRECE À MÃE NEGRA
Solange do Carmo e Eduardo Calil (Teóloga, ex aluna da Faje)

Ó mãe preta, Ajudai-nos, mãe preta,


Preta igual aos negros da senzala, a fazer a grande festa da comunhão.
Igual à pele dos torturados, A do teu Filho,
Roxeada pelos hematomas. Onde somos todos irmãos.

Convosco podem se sentir Já tocam os tambores da alegria,


Irmanados os sujos mendigos, Entoam-se hinos de festa,
Os pobres que se arrastam pela sarjeta Há pão! Pão à revelia.
E reviram os lixões,
Os que não se sentem vistos. E o mendigo e o torturado curado
Levam junto a mão ao mesmo pedaço.
Olhai pra estes que são invisíveis, Há dança, há gozo,
Perambulai com os pobres nos
caminhos Os corpos se entrelaçam não na luta,
Da indiferença, Mas no abraço.
Sede companheira dos mendigos.
Nesse banquete,
Sarai as feridas também dos Os saciados pedem perdão
torturados, Para quem só restou migalhas.
E libertai os negros da senzala. Os fortes se redimem com os
Tocai conosco enfraquecidos.
O tambor da libertação. Os violentos beijam os pés de suas
vítimas.
E aos de pele clara,
Que não têm olhos para a senzala Só assim, Mãe Preta,
— não é onde estamos todos? — Seremos seus devotos,
Que deixem a ilusão de ser melhores, Porque seguidores do teu Filho,
Mais puros... pobre e torturado.

132
OBRA:
Lúcio Américo
DESCRIÇÃO:
Que seu amor nos encontre, Mãe Aparecida,
nos dias de sol e nas noites sem estrelas.
Que seu acalanto ilumine nosso caminho
e revele o rosto de Deus nesse chão tão seu.

133
DA PARTE DE DEUS
Carlos César, SJ

Há circunstâncias,
surpresas e mudanças.
Da minha parte,
há recusa,
aceite,
idas e vindas.

Mas a promessa de Deus não muda.


Há constância.
Se cumpre,
permanece e eterniza.

Da parte de Deus,
Há sempre amor,
paciência,
presença e ternura.
E isso basta!

134
OS LLAMO AMIGOS
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

No esperéis de mí
mentiras o adulación.
No escucharéis palabras
fáciles, pero engañosas,
ni os envolveré en silencios
cómodos, pero cómplices.
No os ofrezco
todas las ventajas
al menor de los costes,
cómodos plazos
para la justicia,
o triunfo
sin batalla.
No tendréis, en mí,
una caricatura
del amor
a medias.
Os llamo amigos,
y al hacerlo, os prometo
hondura, pasión, y verdad.
Os ofrezco mi cruz y mi cielo,
mi amor y mi fuego,
mi luz y mi tiempo.
Os presento mi camino,
mis pasos
y mi evangelio.
Cuando os sintáis
preparados,
os espero.

135
OBRA:
INÁCIO EM PARIS
José Paulino Martins, SJ

136
TUA CAUSA
Eduardo Carvalho, SJ

Jesus, como suportaste tanta perseguição


E o abandono de teus amigos
Quando mais precisou deles?
Tudo por causa de um Sonho
Sonho de um Reino
Sem injustiças
De paz e de amor
Onde o pão alimenta a todos
Onde a criança é criança
Onde a mulher não é explorada
Onde o idoso não jaz solitário
Ensina-me, Senhor,
A ter a Tua coragem
Denunciar os grilhões que privam a muitos
Da liberdade
Da vida digna
Faz-me sentir a dor dos que sofrem
E dar voz a tantos outros excluídos
Ajuda-me a ser coerente com o anel que carrego
Mantendo minha fidelidade à Tua Causa
Porque Tua Causa
Vale a Vida.

137
VOZ DO PASTOR
João Júnior

Chama-me E, atento à tua voz, Pastor,


com tua voz de Pastor. que me recorda o nome que me aviva,
o meu,
Chama-me pelo nome eu possa te seguir
e ajuda-me a crer pelas travessias sempre escorregadias
que, para além desse mar de angústia de ser eu mesmo.
e dessa solidão de indiferença,
em que nem números somos mais, Lá onde não há “rebanho”,
de tantos que já perdemos massa informe,
para a morte ou para a apatia, mas sempre “tu” e sempre “eu”,
ao menos para ti, naquilo único que faz viver:
ainda somos um “tu” o amor que me faz ver-te, enamorado,
com nome e história, e me faz ver-me, apaziguado.
com lágrima e esperança.

E leva-me para longe


das paredes seguras às quais,
um dia, penhorei a liberdade.

138
OBRA:
BOM PASTOR
Luís Renato Carvalho, SJ

139
¿A QUIÉN IREMOS?
José María Rodríguez Olaizola, SJ

Un día decidimos subir a tu barca,


confiarte el timón.
Desde entonces
navegamos por la vida
y escuchamos sonidos diversos,
el ruido del trueno
que anuncia la tormenta,
los cantos de sirena
que prometen paraísos imposibles,
el bramido de un mar poderoso
que nos recuerda nuestra fragilidad,
las conversaciones al atardecer
con distintos compañeros de viaje,
los nombres de lugares
que aún no hemos visitado,
y los de aquellos sitios
a los que no volveremos.
A veces nos sentimos tentados
de abandonar el barco,
de cambiar de ruta,
de refugiarnos en la seguridad
de la tierra firme.
Pero, Señor,
¿a quién iremos…
si solo tú puedes ayudarnos
a poner proa
hacia la tierra del amor
y la justicia?

140
APAIXONAR-SE PELAS COISAS NOVAS EM CRISTO
Davidson Braga, SJ

Apaixonei-me por Jesus Cristo. Em todos esses momentos fico como


Não pela imagem dele que carrego bobo, admirando-o.
comigo desde a infância. Em tudo isso me vejo apaixonado
Mas pelas vezes em que ele se por ele.
apresenta a mim como um Esta manhã outra vez ele veio a mim.
jovem inquieto, Olhou-me com tanto amor e com
questionando o fariseu que há em esperança de me ver novamente
mim e meu apego às leis. em breve.
Vejo-me apaixonado por ele quando, Ah, esse Deus Encarnado, este eterno
deitado em seu leito de morte, verbo amar.
ele me olha com esperança. Deixou-me apaixonado quando
Com mais esperança do que costumo decidiu atravessar este mar comigo,
ter todos os dias, sem nem mesmo me conhecer.
apesar de minha saúde e de todos Confiou em mim e me perguntava
os recursos a que tenho acesso. se eu apreciava sua companhia.
Estou perdidamente apaixonado Deixou sua mãe, seu povo
por sua pobreza, seu despojamento, e veio caminhar comigo por estradas
sua liberdade. que não conhecíamos.
Ele não me cobra nada. Este mesmo Jesus que, companheiro
Apenas se dá por inteiro, sem reservas. de longa jornada,
Quando ele vem a mim menino, decide partir outra vez e trilhar
com sorriso e olhar curioso, novos caminhos.
com respostas surpreendentes e Desapegado.
inusitadas. Ele me encanta todas as manhãs.
Quando ele me recebe em sua casa Abre meus olhos.
e me serve o melhor peixe, o melhor Cura minha cegueira.
açaí, a farinha especial. Destapa meus ouvidos e endireita
Quando conta suas histórias, suas minha coluna.
lutas, seus sonhos.

141
OBRA:
PANTOCRATOR
Luís Renato Carvalho, SJ

142
NASCEU-NOS O ENCANTO
Moisés Nonato, SJ

Alegria por todo canto.


Pranto em nenhum canto.
Canto em cada canto.
Nasceu-nos hoje o Encanto.

Tão bom é o Encanto


Que até o desencanto transforma,
Em verbo: des-encantar.
tirar dos cantos,
Sair dos guetos, entrar no Canto.

Como os pastores, outrora,


Saídos dos seus cantos
Ao som de todos os cantos
De anjos e arcanjos,
De querubins e serafins...
Desencantando-se para se encantarem.

Quem disse que nada há de bom no desencanto?


Depende de como o enxergamos:
Se substantivo, imutável,
Se Verbo, transitivo.
O primeiro, elege Herodes;
O segundo, move pastores. 

143
OBRA:
NASCIMENTO DO MENINO JESUS
José Paulino Martins, SJ

144
NO SILÊNCIO
Moisés Nonato, SJ

No silêncio...
coração a galope.
Os olhos não veem, se inundam.
Os ouvidos não escutam, sentem.
O olfato não cheira, aspira.
Os lábios não beijam, soluçam.
O paladar... salobro.
O tato não toca, pulsa.
Na carne,
o latejo da vida.

145
SALTO PROFÉTICO
Alberto Luna, SJ (Paraguai)

“Cuando tu saludo llegó a mis oídos caricia y canto de cuna


el niño saltó de alegría en mi seno” en la choza de cartón.
(Lucas 1,44). Inclínate a besarnos, María,
madre a destiempo,
Visítanos, María, embarazada de Dios.
desde tus ojos radiantes Abriga nuestro desconcierto
corre hacia nosotros abandonado a su suerte,
con los brazos abiertos. huérfano de abrazos,
Abrázanos y despierta sin lugar para hospedarse.
un salto de audacia, Migrante indocumentada
una palabra, un grito, de mirada suplicante,
una danza nueva desempleada en riesgo,
desde el vientre de la tierra. maquiladora explotada.
Salúdanos, María, Ven hacia nosotros
míranos niña indígena, llena de gracia,
joven campesina, déjanos oír tu voz,
adolescente negra, acércanos a tu pecho,
muchacha de barrio. hasta el ombligo de la tierra
Muéstranos tu rostro, en su danza de parto.
las cicatrices de esperanza
en tus manos de obrera, Canta conotros,
de tejedora silente, agita nuestro aliento,
de lavandera de dolores, y al ritmo del Espíritu
hechicera sanadora despierten las palabras,
de hierbas medicinales. salten los acordes vivos
Tu rostro de luna nueva, de una profecía nueva.
huerto de flores tempranas
donde brota chicha y maíz,

146
OBRA:
NOSSA SENHORA
Luís Renato Carvalho, SJ

147
TU DESEJAS QUE A TUA E A NOSSA VIDA
Francys Adão, SJ

Tu desejas que a Tua e a nossa vida


levem a Lei e os Profetas
a seu pleno cumprimento
Para isso Tu nos fazes enxergar
Teu jeito de ler as Escrituras Santas
reconhecendo que
o caminho para a Vida
é feito de letras
mas também de vírgulas
é permeado de palavras
mas também de respiros
é repleto de ações
mas também de repouso
Nestes tempos atribulados por
uma estranha enfermidade respiratória
ajuda-nos a reconhecer nesta pausa
em nossos ritmos acelerados
uma nova oportunidade de mergulho
no amor e no dom de si
Pois verdade seja dita
já havíamos esquecido
que as vírgulas da vida
abrem em nós espaços
para Teu Respiro santo
E sem essa Brisa suave
nos afastamos do Teu Céu.

148
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho sobre papel.
Gravura retrata as várias expressões dos jovens dentro
da catequese narrativa. Um trabalho junto aos jovens das comunidades.
Toda a beleza expressa no movimento do corpo.

149
LLAMA -REY ETERNAL
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Llamas a los que quieres.


A quien ves desde las entrañas
y elijes para anunciar tu Reino
sin borrar sus fragilidades.
Tú ¡llama! Somos tuyos.

Susurras nuestros nombres.


Nombres que sueñan e inquietas
a cambiar por ellos y por el pueblo,
sin desmerecer cualidades.
Entonces, ¡llama! Aquí estamos.

Llamas sin promesas.


Nuestro seguro es desgastarnos más,
porque no todos asumen tu llamado
y nos quitan sus posibilidades.
¡Sigue llamando! podremos sumarnos.

¡Llama! susurra fuerte


hasta que lleguemos a estar contigo,
hasta gastarnos por Ti intensamente;
porque sin Ti, todo esfuerzo es vacío.
Por favor, ¡Llama!

150
OBRA:
INÁCIO EM ROMA
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre tela.

151
O JOVEM POBRE
(MT 19, 16-30)
Álvaro Negromonte, SJ

Sou o avesso, o contrário


Não pergunto o que devo fazer de bom
Porque a resposta é amar sem condições
E ainda não aprendi a assim agir
Para que meu coração se abra à luz
Neste encontro de intimidade com Jesus

Não parto triste, não tenho bens


Sou deserdado deste mundo tão cruel
Mas sinto o coração arder em brasa
Quando mesmo tão fechado no meu eu
Ainda escuto que irei herdar o céu

Não vou embora, não pretendo ir sozinho


Ficarei ao teu lado, ó do impossível
Ter deixado casa, irmãos, pais, campos e filhos
Não me faz melhor que outros, isto eu sei
Que sou o homem pobre que chamaste
Para seguir atrás de ti, meu Deus e amigo.

152
SEGUINDO A ESTRELA
Odair José Durau, SJ

Três homens sábios atraídos por uma estrela,


deixaram a segurança e puseram-se a caminho.
Guiados por esse astro encontraram um Menino.
Como “secretário” anotava todos os detalhes desta grande epopeia.

Após o encontro, chegou o momento de oferecer os presentes.


Cada um ofertava o que possuía de melhor para aquela criança.
Chegada a minha vez, ofereci o livro das anotações da viagem.
Na verdade, era o meu livro, a minha história,
a busca de um coração que tinha procurado e, enfim, agora encontrado.

A peregrinação não pode parar.


Assim como os magos seguiram outro caminho,
continuarei seguindo os rabiscos daquela criança no meu livro.
Agora já não quero mais guiar, mas ser guiado por este Menino.

Quem sou eu para decidir o caminho?


Desejo seguir a trilha totalmente aberta tendo o Menino como guia.
Quero aventurar-me no desconhecido.
Com o cajado preparado com as iniciais do nome do Menino, do meu e de meus
companheiros, seguirei a estrela.

Seguir a estrela é uma experiência de fé.


Passo a passo acompanhava como Deus se revelava.
Dava-me conta de que meu coração não era suficiente,
o amor de um Deus apaixonado é uma escola de humanidade.

153
GASTA-TE
James Castro, SJ

Vem e gasta tua voz


Levanta altivo o teu grito
Em nome de um povo aflito
E não bradaremos a sós.

Vem e gasta-te de ouvir


Clamores e o choro profundo
Dos esquecidos do mundo
Que aos céus não podem subir.

Gasta-te por estares vendo


Tamanha dor e injustiça
Impostas por tanta cobiça
Ao povo que vai padecendo

Vem, sente o cheiro da morte


A impregnar teu nariz
Já tão comum ao infeliz
Largado à sua própria sorte.

Gasta teu toque e tua pele


No pranto que encharca este chão,
Nos calos que a enxada na mão
Ao Cristo no outro revele.

Gasta-te, assim, totalmente


Por todos que gastos já estão.
Gastando-se inteiro, e então
Inteiro estarás novamente.

154
ESPERA
Benjamín González Buelta, SJ

Esperaré a que crezca


El árbol,
y me dé sombra.
Pero abonaré la espera
con mis hojas secas.

Esperaré a que brote


El manantial,
y me dé agua.
Pero despejaré mi cauce
de memorias enlodadas.

Esperaré a que apunte


la aurora
y me ilumine.
Pero sacudiré mi noche
de postraciones y sudarios.

Esperaré a que llegue


lo que llegue
lo que no sé,
y me sorprenda.
Pero vaciaré mi casa
de todo lo enquistado.

Y al albonar el árbol,
despejar el cauce,
sacudir la noche
y vaciar la casa,
la tierra y el lamento
se abrirán a la esperanza.
155
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

156
ENCARNADO
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

Miras el mundo herido


y el dolor llega a tu intimidad.
Te duele nuestras infidelidades,
pero te duele más no salvarnos.
Y te haces como uno de nosotros.

Irrumpes encarnado
abrazando nuestra vulneravilidad,
entre fríos y humedades,
entre enos y chuvascos,
entre carencia y asombros.

Encarnado muestras tu modo.


Involucrando a la humanidad,
perdonando nuestras pasividades,
caminando junto a nosotros,
acariciando nuestros rostros.

157
OBRA:
NOSSA SENHORA OCRE
Luís Renato Carvalho, SJ

158
CAMINHAR CONTIGO
Alan Cavalcante, SJ

Tenho dúvidas se
Alcancei teus passos.
Ou se Tu, amavelmente,
Te aproximaste dos meus.

Os meus passos são vacilantes,


têm receios das incertezas.
Os teus me convidam a ver
Onde e como tu vives.

Tudo o que fazes é inesperado.


Desconhecido.
Me desconcerta.
E pouco a pouco
Tu te revelas
Caminhando conosco
Porque compartilhas
De nossa
Humanidade.
E mesmo em silêncio
Faz-me desejar
Caminhar Contigo.

159
OBRA:
OS DISCÍPULOS DE EMAÚS
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre Eucatex. 48x30cm – 2012.

160
OPRÓBIOS, HUMILHAÇÕES, AFRONTAS
Higor Lima, SJ

Opróbios, humilhações, afrontas,


vexame, desonra, injúrias, ofensas.
Promessa pesada.
Desejo leve.

Te peço, mas não quero.


Me é concedido, mas não vivo,
Blasfemo.

O amor há de ser reconhecido.


Quando diante das similaridades titubeio,
Fracasso.

O que pode sustentar tão grande desejo?

(Anotações dos EE 146)

161
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a caneta esferográfica sobre papel.
Arte sobre os Exercícios Espirituais – Uma visão sobre Jerusalém...
Uma janela, uma lágrima, uma mão estendida, por fim a cidade
e os últimos acontecimentos.

162
O SENHOR DEUS
Franklin Alves, SJ

“O Senhor Deus chamou o ser humano: ‘Ondes estás?’, disse ele. ‘Ouvi teu passo
no jardim’, respondeu o ser humano; ‘tive medo porque estou nu...’”
Tive medo...
Meus medos cabem todos na minha mão! Tenho pequenos cinco medos que se
confundem com meus dedos.
Tenho medo da morte! Parece ser o menor de todos os meus medos, por isso, ele
se desdobra no dedo mínimo.
Tenho medo da liberdade! Vizinho da morte, este medo se desdobra no dedo
anelar.
Tenho medo da solidão! Maior de todos os meus medos, ele se desdobra no
dedo médio.
Tenho medo da verdade! Apontar o dedo? Tenho medo! Por isso, ele se desdobra
no dedo indica-dor.
Por fim, tenho medo de ter medos! Talvez este seja o mais forte de todos os meus
medos e por isso ele se desdobra no dedo polegar.
Meus medos cabem todos na minha mão!
“Ondes estás? Ouvi teu passo no jardim; tive medo...”
Fechei minha mão, tentando conter meus medos!
Dobrei meus dedos, dobrei meus medos ao fechar a minha mão formando um
punho com o qual queria golpear a mim mesmo.
Fechei meus olhos e entendi que errei porque apenas “ouvi o teu passo no
jardim” e não a tua voz que gritava meu nome.
Foi, então, que te vi, vindo com teus passos leves sobre as águas e escutei a tua
voz que me dizia: “sou eu, não tenhais medo”. Nem mesmo o medo de ter medos!
Abri meus olhos e fechei minhas mãos, dobrei meus medos, transformando
meus dedos em arma letal! Punhos fechados para lutar e vencer!
“O Senhor Deus chamou... Onde estás?”

163
EXPERIÊNCIA DE AMOR
Renato Correia, SJ

O Amor
Quer ser amado.
Amor que é encontro
Quanto mais me deixo experimentar
Maior será minha entrega
Ao Amor obediente,
Ser fiel ao correspondente deste amor
Ao amor indiferente,
Indiferença que me fala de liberdade,
Que não quer nada do que sua vontade não me oferece.
Só assim poderei experimentar o amor de verdade
O amor que me identifica com o Amado.
Amor que gera entrega, livre e gratuita
Capaz de gastar a vida.
O amor quer ser amado.

164
BAJO TU BANDERA
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

Verdadero y sumo capitán,


desde un lugar humilde
escoges a tus amigos

para proclamar justicia.


Conquistas bajo una bandera
que promete solo pobreza
oprovios y humillaciones,
porque tu Reino es servicio.

Deseas conquistar a todos:


estados, condiciones y personas,
porque amas tu creación
y bajo tu bandera será cuidada.

Estar bajo tu bandera


es dejanos conquistar por Ti,
es conquistar a muchos
por una creación fraterna.

165
LIBERTAD CREADORA
Benjamín González Buelta, SJ

Cuando apresamos
las cosas y a las personas,
nos convertimos
en carceleros,
que también tienen
que estar en la cárcel
para que no se les escape
ningún preso.

Cuando dejamos
volar al pájaro,
rodar el oro
y alejarse a los seres
que más queremos,
vivimos libres
para ir a cualquier parte
y estrenar el futuro
donde aparezca el reino.

166
FOTOGRAFIA:
MIGRANTE
Dimas Oliveira, SJ

167
PAI-NOSSO DA TERRA
Luan Amorim, SJ

Pai dos marginalizados e dos vulneráveis,


Abbá de todos e todas que estais na terra.
Bendito seja vosso nome que pulsa no coração
de todos homens e mulheres de boa-vontade.
Que se realize no hoje de nossa história, o vosso projeto de vida plena.
Seja feito o vosso sonho esperançoso,
de uma humanidade de Justiça e reconciliação, em nossa casa comum.
O Pão da mesa da Palavra, da Eucaristia e do Cotidiano seja para todos e todas!
Perdoa as nossas ofensas contra os descartados e excluídos do nosso mundo,
que gritam por dignidade.
Assim como nos comprometemos em ser irmãos e irmãs, como fostes
de cada um de nós no alto da cruz.
E não nos deixeis cegar com o poder do antirreino,
Mas livrai-nos da apatia que dilacera o nosso sim!
Amém, Axé, Awere, Aleluia!

168
OBRA:
SANTA CEIA
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílico sobre tela. 145x94 cm – 2013.

169
CONTRALUZ
Alberto Luna, SJ
(Contemplación del nacimiento / José como “esclavito indigno”)

No, José.
No han venido a verte a ti.
Es a ella, la paloma,
y en el nido, a su pichón,
a quien todos quieren ver.

Es la estrella de este niño


parpadeando en su regazo
como en un cielo de nubes,
a quien cantan y celebran.

No, José.
Tu sigue juntando leña
y busca un poco de agua.
Ve si encuentras una manta,
algo de pan con leche tibia.
No dejes que en la noche fría
se nos apague la estrella.

170
OBRA:
FUGA PARA O EGITO
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre parede (detalhe). SP Itaici – 2013.

171
OS EMIGRANTES
Ir. Francisco Fagundes, SJ

Emigrantes, todos somos.


Possuímos nossos sonhos,
De chegarmos um dia,
Na pátria prometida
Para nós oferecida,
Enchendo-nos de euforia!

Existem emigrantes,
Vítimas inocentes,
Deixando seus lares,
Buscando a proteção
Tendo só uma intenção:
Buscar a normalidade.

172
FOTOGRAFIA:
MIGRAÇÃO
Dimas Oliveira, SJ

173
QUEM SOU?
Isaias Gomes, SJ

Quem sou?
Me afasto e me retiro, mas trago alguém comigo, não posso descer sozinho
subo as montanhas, entre companhia, pedras, escuros e buscas, desço para mim
estou só, mas estou acompanhado, porém, a partir daqui, desço sozinho,
não sei por que, não queria. Por que eles vieram? Podem ver o que vejo?
Sentir o que sinto?
Talvez, não tanto quanto, mas podem ver algo, sem eles eu não veria.
Vejo que outros vieram, estes bem mais velhos e de mais longe.
O que querem? Me deixar sozinho também?
Eles me disseram: há tempos que esperávamos por você.
Agora me entendo, sinto-me acompanhado por estes mais distantes.
Subo e vejo que os de agora, mesmo cansados, me esperam.

174
VAMOS FUGIR...
Thalisson Bomfim

Quem sou? Aqueles três que foram fugidos para


Pensava que o Egito era negro. o Egito não seriam refugiados?
Que era filho da mãe África. Pensei que Herodes tivesse morrido.
Mas como uma família de brancos Mas vejo-o na Venezuela, nos Estados
foge para o Egito, que é na África, Unidos na América, Coreia do Norte...
sem ser reconhecida? O Herodes de ontem é o Herodes
Não sei! Só sei que me contaram assim! de hoje!
Vi aquela família fugindo no meio da Quantas famílias e vidas ainda serão
madrugada. ceifadas em nome do deus dinheiro,
Fugindo por medo. Medo da morte e do deus poder?
da ganância pelo poder. Outro mundo é possível!
Para onde iriam? O que estamos esperando para
Para o Egito, mas qual lugar do Egito? fazê-lo acontecer?
Para casa de quem? O Deus menino nos contou
Como seria o sustento daquela família? como fazer.
Tinham uma criança no colo. Vem!
Como seria a vida desses três? Não sei! Vamos derrubar os Herodes do poder!
Vendo aquela família me lembrei de O Deus menino que fugiu para
algumas outras famílias. o Egito está conosco.
Famílias que fogem de seu país por Ele cresceu e nos chama a construir
medo da guerra. o novo mundo.
Da fome. Da sua etnia. Sejamos ousados!
Da orientação sexual. Não tenhamos medo!
Hoje chamamos essas pessoas de
refugiados.

175
OBRA:
TEOTÓKOS
José Paulino Martins, SJ

176
E O VERBO SE FEZ CARNE
MENINO
Renato Correia, SJ

Deus,
Trindade Deus
Se encarna,
Se faz um de nós.
Para quem ele veio?
Para quem ele vem?
Se fez pequeno e frágil
Na pureza de um menino.
Risco tremendo Deus corre.
Todo menino quer ser homem logo.
Todo homem, na sua autossuficiência,
Pensa que é Deus.
Mas Deus...
Deus quis ser menino!
Maranathá!

177
JUNTOS VAMOS REMANDO
Germán Méndez, SJ (México)

Juntos vamos remando,


en esta nuestra barca;
donde me dejas elegir
la dirección.

Juntos vamos remando,


hacia la voz del Padre;
a donde me has
invitado a remar.

Y si, en pleno mar,


temo a la tormenta;
es porque me asusta
llegar a verte dormido.

Mas en medio de la duda,


entre el llanto y la zozobra;
soy yo quien duerme,
y sueña verte dormido.

Pero cuando despierto,


sigues ahí en calma;
volvemos a tomar los remos
y juntos seguimos remando.

178
Engraçado... vão plantando a morte, vai brotando a Vida!

ACAMPOU ENTRE NÓS...


André Araújo, SJ

O semeador saiu viu-se a abundância


lançando grãos de manhã. do trigo,
Era um ato de coragem do vinho novo
quase vã e do azeite,
desafiar daquele jeito viu-se encherem-se as torrentes
as erosões. e os cativos regressarem
Saía com os seus feixes.
e, de mãos cheias, Nosso rosto
dispersava o que tivesse, iluminou-se de sorrisos,
toda hora do dia, nossos lábios, de canções.
sem que juízo houvesse A Alegria armou sua tenda
de chão, em nossa casa
de tempo bom e fez morada
ou ventania. em nossos corações.
Plantava sem escolher, Brotava a geração do Homem Novo,
porque outro regaria a voz do povo
e nenhum faria crescer. consolava multidões.
Servo inútil, Porque num dia,
incansável, trivial como o de hoje,
fazia o que devia fazer.
E quando em Sião alguém saiu
silenciaram-se as lágrimas, pra semear nas erosões.

179
OBRA:
SAGRADA FAMÍLIA
Luís Renato de Carvalho, SJ

180
MI OFRENDA
Germán Méndez, SJ (México)

Señor, quiero que cuando llegue a ti,


Te entregue una ofrenda casi vacía,
Que luzca incompleta y rota,
Que se aprecie poco agradable y hasta inútil.

Quiero que de ella no salga más;


Ni para ornato ni aprecio sea servible,
Quiero darte lo último que quede.
¿No sería esta ofrenda grata a ti?
Sí, una patena ya vacía,
De donde cuantos hermanos hayas querido
Se hayan servido ya de mí.

181
É preciso amar muito para entender de dor.
Para bom entendedor: “amar não acaba...”

PARA BOM ENTENDEDOR...


André Araújo, SJ

“A vida não é para amadores!” Quero ser entendedor.


Desculpem-me os entendedores. Quero entender da dor.
A vida é para amadores! Quero ser um amador.
Para entender de dores... Hoje eu quis até parar,
Amar e amar bonito. quis desistir, quis chorar,
Acolher do pobre o grito. mas também quis avançar:
Ouvir o irmão aflito. ver a vida começar!
Aprender de infinito. Me dá coragem e uns anos
Não passar indiferente. pra vencer medos e enganos,
Enxergar o indigente. para reparar os danos,
Amar o negligente. fazer amar os insanos.
Saber mais da nossa gente Teu povo vai resistir!
que ensina compaixão, Tua gente vai sorrir!
que foge da opressão, Quem não ama vai cair...
que não vive de ilusão. Amar: é questão de existir!
Amor assim não acaba, não!
Isto eu quero, meu Senhor!

182
DEI-TE TUDO
Claudia Honorio (Leiga inaciana)

Dei-te meu coração


Dei-te minhas histórias
Dei-te minhas lágrimas
Dei-te minhas alegrias
Dei-te os restos de meus dias, o que quer que isso viesse a significar.
Dei-te Tudo
Não te dei coisas grandes e difíceis,
Dei-te meu coração e o resto dos meus dias, o que quer que isso viesse a
significar.
Dei-te Tudo
Dei-te a doçura e a beleza na amargura atravessada.
Dei-te as lágrimas secas, mas o coração molhado.
Dei-te Tudo
O que quer que isso viesse a significar.

183
Desolado en Las Brisas…

ERES
Cristian Viñales SJ (Chile)

¿A qué te pareces? distinta en todo a las demás,


A un rey eterno han dicho, las que también eres,
quizás un niño y gris llorar, quien te mire y en cualquier lugar.
¿Quién digo hoy que eres? Eres tan tu que te imploro
Horizonte, atardecer del mar, y en el aire cariñoso vas cargando,
extensas y eternas avenidas esta súplica de siempre,
en el oleaje plata, inmensidad. tan mía, tan poco original.
Eres, fugaces e inéditos colores, Quisiera alcanzar a agradecerte,
íntimo en mis ojos, previo aquel instante ingrato,
rojo luminoso, en que ya no serás quien eres
eres sello y regalo personal. y esta oscura angustia mía,
Eres, hambre de caminarte, fría vuelve desde el mar.
esta nostalgia de futuro, ¿Ahora que pareces Atardecer?
el día que se va, Eres, quien yo perdí de vista
y la belleza que insinúa el infinito, y mil dedos señalando desde el cielo,
de seguro, si no eres allí estas. esto que yo parezco,
Eres, esta tarde impredecible, sin sentido y soledad.

184
OBRA:
É PRIMAVERA
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Técnica mista. 64x47cm – 2007.

185
RE-MAR
Marcos Sacramento, SJ

Voltar ao mar

Navegar.
Ancorar.
Descer da barca para consertar as redes e a vela costurar. Finda o dia e
o coração unificado descansa sob o Teu olhar.

No avançar da noite, uma voz que chama. Desperta! Arde a chama que
aponta e guia para outro mar.

Rema sem se adiantar ao Espírito.


Rema confiando e esperando no Pai.
Rema mar adentro com o Filho para servir e amar.

186
CHEIRO DE SAUDADE
James Castro, SJ

Pra minha história contar Ainda assim me feriu


Não trago nada na mão. Aquele namoro inocente.
De caixa não vou tirar, Aprendi, pois, pela dor
De saco nem matulão. Que aquele tal de amor
Hoje o que trago comigo Machuca e maltrata a gente.
E agora escancaro contigo
É o fundo do meu coração Chegou então o momento
De noutro céu eu voar.
Nasci no belo Sertão, Já feito o discernimento,
Foi lá também que cresci. Bem longe eu fui estudar.
Ao ver seu rachado chão E mesmo de casa distante,
Da seca nunca esqueci. Ainda simples estudante,
Seguindo a fé da família, O mundo eu queria mudar.
Andando na mesma trilha
A ter esperança aprendi. A vida foi sendo tocada,
Meus planos tornando reais.
Tive uma infância feliz, Mas quando olhava pra estrada
Banho de chuva eu tomei. Pensava: “falta algo mais”.
Um monte de amigos eu fiz, Era de Deus o chamado,
Com eles sorri e chorei. Mas eu, teimoso danado
Queimado, bila e pião, Olhava sempre pra trás.
Carrinho de rolimã, garrafão.
De tudo isso eu brinquei. Meus planos estavam indo
Mas tudo largar decidi.
Depois o amor juvenil De Deus o apelo ouvindo
Me veio quando adolescente. Confesso não mais resisti.

(continua)

187
(continuação)

CHEIRO DE SAUDADE

Fazendo de mim peregrino, Diante de tantas janelas


Com coração de menino, Minha vida fiz conhecer.
Seguir Jesus escolhi. Sem tranca, ferrolho ou tramela
Bem verdadeiro vou ser.
Ao longo dessa vida minha E agora encerramos assim:
Quantas pessoas passaram. Com um pouco de você em mim
Olhando quando se caminha E um pouco de mim em você!
Histórias que se cruzaram.
Choros sorrisos e abraços,
Na tranquilidade ou percalços
A minha história marcaram.

188
OBRA:
José Maria Fernandes Machado, SJ

189
DA PARTE DE DEUS
Carlos César, SJ

Há circunstâncias,
surpresas e mudanças.
Da minha parte,
há recusa,
aceite,
idas e vindas.

Mas a promessa de Deus não muda.


Há constância.
Se cumpre,
permanece e eterniza.

Da parte de Deus,
Há sempre amor,
paciência,
presença e ternura.
E isso basta!

190
OBRA:
FUGA PARA O EGITO
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre parede (detalhe). Itaici. SP – 2013.

191
SEDUÇÃO
Eliomar Ribeiro, SJ

Aproximou-se de mim
Com palavras encantadoras
Disse meu nome carinhosamente
Olhou-me nos olhos com ternura
Soprou segredos em meus ouvidos
Tocou meus lábios com suavidade
Fez meu corpo tremer de prazer
Alegrou meu coração
Amou-me apaixonadamente
Abraçou meus medos
Encheu de paz minha solidão
Reacendeu desejos adormecidos
Clareou a noite das minhas incertezas
Fui seduzido!
Já não tenho dúvidas:
A verdadeira vida
Nasce da entrega total
Ao Deus da Vida!

192
HASTA ENCONTRARTE
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ (Espanha)

Todo el mundo te busca,


aunque a menudo ni lo sabe.
Ese anhelo de plenitud,
esa ansia de abrazo,
la orfandad de a veces,
la pasión, la furia,
el baile con el tiempo
que es la vida,
la curiosidad, la imaginación,
la voluntad inquebrantable de crear,
todo eso es búsqueda.
Tenemos sed de ti,
una avidez insaciable
si no nos zambullimos
en tus aguas. Y hambre,
de justicia y evangelio,
de ternura y futuro,
que engañamos
al ocultarnos
en refugios insuficientes.
No queda otra que salir
de nuevo
a la intemperie
a la tormenta
a la verdad
para seguir buscando.
Hasta encontrarte.

193
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre tela estucada.
A arte da simplicidade, o narrar simplesmente.
O anunciar, o encontrar, o jeito de ser...

194
BATISMO DE JESUS
Eduardo Carvalho, SJ

Aproxima-te da fila, Nazareno Ao sair


Vai com o povo Ao abrir os olhos
Simples Com a água fria
Pobre Escorrendo pelo rosto
Pecador Rompe-se o Céu
Espera a Tua vez com paciência Numa voz
Para que toda a justiça seja cumprida De amor
“Este é meu Filho amado, em quem me
Tuas sandálias já gastas pus o meu agrado!”
Tu mesmo as tiras Arde Teu coração
E entra com reverência e expectativa Tu és o Filho de Deus
Nas águas do Jordão O Amado do Pai
E mergulha Vem, Senhor! Espalha esse Amor
Sob o rio Faz de nós
Tudo se cala Teus irmãos e irmãs
Num instante E anuncia o reinado de Teu Pai
De paz e quietude

195
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a caneta esferográfica sobre papel.
Arte sobre os Exercícios Espirituais – o instante do batismo nas águas do rio Jordão.
O desprender das vestes, a nudez, nas águas o nascimento, o feto conectado
à Árvore da vida. A gota de sangue que cai da mão fendida. O Cristo nu pode ser
um escândalo, mas é a força do amor que transparece, é vida.

196
VENID A MÍ
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ (Espanha)

«Venid a mí», bramó la tormenta,


invitándonos a adentrarnos
en su intemperie llena de posibilidades.
«Venid a mí», dijo la luz,
alejando de nosotros
el temor a la sombra.
«Venid a mí», propuso la esperanza,
convertida en caricia
para quienes andaban cansados y afligidos.
«Venid a mí», exclamó la pasión,
prometiendo un nuevo fuego
al rescoldo de corazones que en otro tiempo ardieron.
«Venid a mí», exigió la justicia,
herida – en las víctimas –
por tanta mentira dicha en su nombre.
«Venid a mí», susurró el silencio,
mostrando, con los brazos abiertos,
una forma distinta de cantar.
«Venid a mí», gritó la soledad,
cansada de deserciones y abandono.
«Venid a mí», pidió el dolor,
ofreciendo su rostro herido
para que la compasión lo acunase.
«Venid a mí», llamó el dios de los encuentros.
Y fuimos. A veces vacilantes,
con toda nuestra inseguridad a cuestas.
Pero fuimos.

197
ANDAR NA PRAIA
Jeferson Albuquerque, SJ

Como é bom andar na praia


Ali onde a areia se encontra com o mar
Onde o som do mar, no ar me deixa levar
Como é bom andar na praia
Onde os pés se encontram com o mar
E o mar se encontra com os pés.

Pés que caminham


Como é bom,
Alguns passos só na areia
Outros com o mar

Assim é a experiência de Deus


Como andar na praia
Deus, como o mar, sempre está lá
Ora, nós encontramos Deus
E nesse encontro ele me refresca
Ora, estou só na areia,
mas o mar, tal como Deus,
está logo ali.

198
CORAÇÃO DE PEREGRINO
Carlos César, SJ

Sigo em minha incessante busca, Como peregrino,


E meu coração de peregrino, tu, Contigo e por ti,
Senhor, o conheces. Aprendi a oferecer e pedir ajuda.

A cada passo dado, Nos caminhos sem atalho


Um punhado de nomes Ao teu lado lutei.
De dores e risos Aprendi a discernir batalhas
acertos e erros. E a caminhar com mãos calejadas e pés
cansados.
Contigo aprendi o sabor dos caminhos
novos, Te peço, Senhor,
Sem esquecer a beleza Que os meus pés ao andar
e a dureza dos caminhos antigos. Marquem teu passo.
Que meu coração ao buscar,
A cada passo dado, Encontre o seu.
Encontros e recomeços. Tu és o Caminho.
Algumas memórias que evocam Meu ponto de chegada e de partida.
plenitude
E outras que preferia esquecer.

199
FOTOGRAFIA:
José Paulino Martins, SJ

200
UM A UM
Francys Adão, SJ

Um a um
meus sentidos são recriados
em Tua Presença
Porque para Ti
tudo em minha humanidade
é um portal
que me conduz ao Reino
que me abre aos outros
que me eleva ao Céu
Respeitando meus processos
Tu me afastas
dos ruídos da multidão
Tu me aproximas
de Teu Silêncio curativo
Tu restauras
minha humanidade enferma
com o toque firme e suave
de Tua humanidade santa
Peço-Te, Senhor
que diante de minha vida de
homem aberto pela Graça
portador de uma Palavra
nascida da Escuta
Teus filhos possam reconhecer
o Dom que Tu és e
o Bem que Tu fazes
para cada pessoa que
inteiramente agradecida
escolhe amar-Te e seguir-Te.

201
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Detalle del dibujo del Ciego de nacimiento.

202
É A TI QUE EU PROCURO, SENHOR!
Paulo Vinícius da Silva Abreu, SJ (Noviço)

É a ti que eu procuro, Senhor!


Tu, que curas minhas cegueiras espirituais
Para que eu enxergue o teu caminho e te siga.
Tu, que desatrofias minha mão e todo o meu ser.
Tu, que me vês em cima de uma árvore
E pedes que eu desça, não só da árvore,
Mas dos meus orgulhos e egos, para que contigo
Espalhe a boa nova do Reino e construa um mundo de paz.

É a ti que eu procuro, Senhor!


Tu, que te disfarças de alguém,
Me vês jogado pelo caminho, vens ao meu encontro,
Me levantas, cuida de mim e diz: coragem!
Tu, que passas do meu lado e me chamas a te seguir
Para ser sinal de misericórdia por onde eu passar.
Tu, que me chamas a andar sobre as águas,
Apesar das minhas fraquezas e debilidades.

Mesmo que deitado em uma maca,


Com a ajuda de alguém, passo pela multidão,
Desço pelo telhado e digo com confiança:
“É a ti que eu procuro, Senhor!”,
Que me chamas a mais amar e servir os meus irmãos,
Os que estão à margem.

203
SOZINHO
Francys Adão, SJ

Sozinho
vivo em lugares rasos
Contigo
vou às aguas profundas
Sozinho
conheço a frustração do nada
Contigo
espanto-me com a abundância
Sozinho
temo a ruptura de minhas redes
Contigo
descubro a salvação da partilha
Sozinho
olho para minha indignidade
Contigo
escuto Teu convite ao Novo
Como poderia
ser tão insensato
a ponto de escolher a solidão
ao invés de Tua companhia?
Sim, eu Te seguirei
até o fim de meus dias
e descobrirei novas maneiras
de criar contigo
redes indestrutíveis
de uma humanidade reconciliada
pelo Teu Amor.

204
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
Quadro dos Exercícios Espirituais:
“Do caos à Revelação “ – O Chamado dos Apóstolos.

205
TERCEIRA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer

Como em toda vida verdadeiramente humana, a vida de Jesus também


conheceu a dor e a morte. E nesta terceira semana somos convidados a contemplar
a paixão e a morte de Jesus. Abrir-nos ao mistério de sua dor, da injustiça que
o condena, da sua passagem por uma provação inexplicável. Somos aqui
introduzidos no sofrimento injustificável de um inocente.

Surpresos e perplexos, veremos o Verbo da vida reduzido ao silêncio, o


Filho do Deus Altíssimo atado, supliciado, silenciado e condenado, submetido a
torturas como em tantos porões de tantos cárceres, de tantos regimes de força,
outros inocentes passam pelas mesmas dores. A divindade parece esconder-se e
calar-se. A injustiça parece vencer e ter a última palavra.

Na Cruz estão com ele dois ladrões, lado a lado. Ao pé da Cruz sua mãe
e outras mulheres, e o discípulo amado. Seus discípulos o deixaram sozinho.
O justo fica sozinho quando as forças do mal se desatam e querem sangue.
Jesus está sozinho e sozinho exala seu último suspiro. E nós somos convidados a
segui-lo aí, como o seguimos quando começou seu ministério na Galileia, quando
fazia sinais, curas e prodígios poderosos, quando ressuscitava mortos, andava
sobre as águas, multiplicava pães e encantava multidões.

Agora há que acompanhá-lo em sua solidão e sua morte. Buscando aprender


de sua paciência, de sua entrega fiel, de seu amor inesgotável, de seu perdão
sem limites. Acompanhando Maria, fazemos silêncio, em comunhão com todas
as mães que perderam seus filhos para a violência e a injustiça. Calamo-nos com
seu silêncio.

206
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
Inserção plena no Mistério Pascal.

207
“Considerar o que Cristo nosso Senhor
padece na humanidade.”
(EE 195)

OLHANDO PRO CRUCIFICADO (EE 53)


Creômenes Tenório Maciel, SJ

Olhando pro Crucificado… Olhando pro Crucificado...


A morte se anuncia. Vejo em suas chagas meus pecados,
Loucura! Uns dizem. Acordo minha voz com a voz do
Escândalo! Outros gritam. peregrino de Loyola e declaro:
(1Cor 1, 23) Por Cristo que fiz, que farei, que faço?
(EE 53)
Olhando pro Crucificado...
A dúvida assola. Olhando pro Crucificado...
Por que o Criador se fez carne? Com Deus me sinto reconciliado
Por que deixou a eternidade? N’Aquele que carregou nossos
Por que padecer neste vale pecados.
de sombras da morte? Vivo na justiça, declaro:
(EE 53; Sal 22, 4) “eis que venho... com prazer faço vossa
vontade, Senhor”
Olhando pro Crucificado... Eis minha oferta de amor.
Aquele que se fez pecado, (1Pd 2, 24; Sal 39, 8-9; Heb 10, 7, 9).
O louco amor de Deus se torna
mais claro.
Não poupou seu filho único,
Pra um dia ver um mundo reconciliado.
(2Cor 5,20; João 3, 16)

208
OBRA:
VIA SACRA – MORRER
José Maria Fernandes Machado, SJ

209
ARIDEZ
Moisés Nonato, SJ

Vendo a beleza das flores à minha volta,


sonhei que o meu amor por Ti fosse:
belo, esplendoroso, vicejante.

Em meu chão, porém, aridez.


Desnudaste-me como catingueira do sertão.

Murcha a flor de meu deserto,


que mais podia esperar?

Feito cacto, enraizei-me.


Sem muito me turbar,
Centrado na água,
que é vida em mim, cuidar.

Verde esperança, beleza árida.


Vigor, firmeza, constância.

Assim o meu Amor,


de flor, em cacto se converte.
Firme, não fenece,
amanhece.

210
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho lápis grafite sobre papel.
Arte que expressa a oração de Jesus no horto das oliveiras.

211
PAIXÃO
Renato Correia Santos, SJ

Dor
Sofrimento
Humilhação
Paixão
E para quê?
Para assumir a forma humana
Na radicalidade da limitação:
A morte!
E morte violenta.
Consequência de opções históricas
De seu messianismo
Morto e executado pelos deuses da morte. Por amor,
Amor de entrega,
Se converte em liberação
Para toda a humanidade.
Eu,
Discípulo anônimo,
Que um dia ouviu seu chamado,
Agora contemplo seu martírio.
Quanta tristeza invade meu coração!
No silêncio
Deixo-me impactar
Pelo mistério da sua Paixão.
Olhar fixo naquele homem
Que um dia prometi seguir até a morte.
A Paixão Dele
É a paixão do mundo.

212
OBRA:
VIA SACRA – DESPIR
José Maria Fernandes Machado, SJ

213
MOSTRA-ME (EZ 16)
Álvaro Negromonte, SJ

Por ti, Senhor,


Que devo fazer?
Que fiz e que faço
Desta vida que conservaste?

Desci aos porões contigo


Enfrentamos as minhas trevas, juntos
Reconheço e me arrependo
De não ter amado com todo o meu ser
Doe-me a alma porque há muitos vendo

Veem o íntimo das minhas entranhas


Movidas pelos afetos e desejos baixos
Se julgam vencedores de minha vida
Por pensarem que em seus esquemas me encaixo
Mas tu, Senhor, vens me salvar em teus braços, que me livras
Soltando-me dos laços que meu coração criou.

214
OBRA:
VIA SACRA – VERÔNICA
José Maria Fernandes Machado, SJ

215
EXPIRAR LA VIDA
– VIERNES SANTO –
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

¿Expirar solo en la cruz? convirtiendo agua en alegría;


Parecía esconderse tu divinidad, colocándote al final de la fila;
pero sin darnos cuenta, liberando en sábados;
tu cruz ilumina lo entregado, bienaventurando excluidos;
días tras día, persona a persona; llamando a entusiastas;
apasionado en una dispocisión curando enfermos maldecidos;
a darnos todo, sin reserva. misericordiando, dignificando,
y comprendiendo fragilidades.
Expiraste tu vida en cruz, Toda una vida dada día tras día;
pero ya nos la habías dado pero, provocando envídias
expirándola en lo cotidiano: y rasgando falsas vestiduras
no teniendo posada en Belén; en quienes idearon tu cruz,
naciendo en un pesebre; por no recordar el Padre Nuestro,
siendo familia migrante; que comparte nuestra humanidad
perdido y cuestionando para expirar la vida entre nosotros.
la indiferencia del Templo;

216
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a lápis grafite sobre papel.
Arte sobre Missão da Terra. Um peregrinar constante, um traçar caminhos pelas
veredas do sertão. Mãos, braços, olhares, cruzes, são vida das tantas pessoas, são
sentimentos que precisam ser narrados. São rostos, são rabiscos, são ternuras.

217
EU TENHO O CÁLCULO
Francys Adão, SJ

Eu tenho o cálculo
ela, o excesso
Eu tenho o protocolo
ela, o transbordamento
Eu tenho a razão
ela, o amor
Como posso entender-Te
se não me deixo tocar
pelo gesto dela?
Como compreenderei
Tua santa Unção
se não consigo me inebriar
com o perfume dela?
Como acolherei
Teu Dom radical
se não me alegro com
a qualidade da entrega dela?
Que a generosidade desta mulher
me provoque a amar mais
sem medir
sem temer
sem deixar restos
Só assim eu poderei ser
Teu companheiro fiel
diante do escândalo
de Tua Cruz.

218
OBRA:
VIA SACRA – MULHERES
José Maria Fernandes Machado, SJ

219
VIENES
Alberto Luna, SJ

Con los estigmas de la vergüenza


del condenado y del paria.
Vienes de abajo de la tierra,
del sepulcro ajeno sin nombre.
Vienes con tu presencia negada
y despreciada, sobreponiéndote.
Vienes desde el fondo oscuro
del fracaso y las decepciones.
Desde los pedestales caídos
y las ilusiones frustradas.
Vienes subiendo tercamente
desde los infiernos del asco,
después de vomitar veneno
y beber las heces del imperio
en calabozos putrefactos.
Vienes afirmando tu rostro
como la memoria enterrada
de una pesadilla subversiva.
Con la cicatriz de la desgracia
como un trofeo de guerra,
del lado de los que pierden.
Vienes entre los escombros
demolidos de la esperanza.
En el lugar de los ausentes.
Vienes.

220
SABER PERMANECER
Isaías Gomes, SJ

Saber permanecer
Se eu soubesse que ia ser tão assim, não teria seguido.
Se eu soubesse que iria sofrer tanto no final, não teria me alegrado no início.
Se eu soubesse que iria ficar tão difícil de suportar, não teria suportado antes.
Se eu soubesse prever o futuro, o tempo, os sentimentos, as emoções e a
angústia... não teria sentido primeiro.
Se eu soubesse... se eu soubesse o que eu sei hoje, não sei o que faria...
agora, apenas permaneço...

221
OBRA:
CIRENEU
José Maria Fernandes Machado, SJ

222
AQUELE QUE ME LAVA TAMBÉM ME POSSUI
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Lava-me, Senhor...
Lava-me porque meu ser precisa ser despido
Me espanta teu proceder
Inquieta-me no mais profundo de minha alma
Preciso ainda aprender o que é estar vazio, pobre

Lava-me, Senhor...
Transfigura-me na minha nudez
Despe o meu ser cansado e une meu coração ao teu
Desvela-me e torna-me teu amigo íntimo

Lava-me, Senhor...
Lava minha cabeça
Lava minhas mãos
Lava meus pés
Possui a mim, meu corpo,
todos os meus sentidos...

Possui o mais íntimo de mim, o que é desconhecido,


Minha parte oculta que só teu olhar é capaz de conhecer
E faze-me transfigurar no amor;
Pois a razão de tudo o que existe dentro das minhas entranhas é amar...
Amar até chegar à plenitude do meu vazio,
Da minha pobreza existencial
que me torna mais íntimo de ti e dos outros.

223
¿SERÉ YO?
José María Rodríguez Olaizola, SJ

¿Seré yo, Maestro,


quien afirme
o quien niegue?
¿Seré quien te venda
por treinta monedas
o seguiré a tu lado
con las manos vacías?
¿Pasaré alegremente
del «hossannah»
al «crucifícalo»,
o mi voz cantará
tu evangelio?
¿Seré de los que tiran la piedra
o de los que tocan la herida?
¿Seré levita, indiferente
al herido del camino,
o samaritano conmovido
por su dolor?
¿Seré espectador
o testigo?
¿Me lavaré las manos
para no implicarme,
o me las ensuciaré
en el contacto con el mundo?
¿Seré quien se rasga las vestiduras
y señala culpables,
o un buscador humilde de la verdad?

224
ATÉ QUANDO, SENHOR?
Guilherme Kaique, SJ

“Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.” (Jo 19, 1)


Até quando, Senhor?
Irmãos nossos vão sofrer
a mesma morte que tu?
Até quando, Senhor?
Vamos olhar pro Gólgota
e ver jovens sonhadores pendurados?
Até quando, Senhor?
Nós fugiremos de ti,
porque não queremos olhar?
Até quando nós
não O deixarmos
provocar mudanças em nós!
Até quando o Senhor
em nós continuar
de mãos atadas!
Até quando nós
não nos dermos conta
de que somos nós
a força D’Ele para transformar...
Até quando, Senhor? (...)

225
OBRA:
ATÉ QUANDO SENHOR?
Guilherme Kaique, SJ
DESCRIÇÃO:
Técnica mista: aquarela e nanquim, 297x210 mm – 2021.

226
O AMOR É A LEI
Carlos César, SJ

O veredito de Deus está dado:


É amor até o fim
E ponto!
Nele não há meias verdades.
É Aquele que É.

É promessa,
É vida doada,
É ternura consumada em serviço.

E por mais que tentem,


Usurpem,
Enganem,
Ou distorçam,
Nem mesmo a força das leis vigentes
Pode ir contra a força
Da Lei do Amor de Deus.

227
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a caneta esferográfica sobre papel.
Arte sobre os Exercícios Espirituais. A janela diante da mulher adúltera
que seria apedrejada. Os braços presos, a mulher... os escritos no chão e as
pedras que foram deixadas... na janela, uma pedra e algumas gotas de lágrima.
Fora do muro, a árvore da vida desponta. Não tem como
não me curvar diante deste encontro surpreendente.

228
O AMANTE
Jackson A. Carvalho, SJ

Fidelidade extremada
De uma vida doada, amor
E por isso ferida.
Se perguntas: de sentido perdido!
Teu corpo comunhão!
Tua face ferida, macerada
Da maior dor sentida,
Da vida perdida.
Teu andar cambaleante
Pelas ruas, às costas carregas
do que não fizeste,
do vil de cada um de nós.
Jesus,
olhar para ti é causa de vergonha e graça!
Por que sobre ti
do vil de mim e de cada um carregaste.
Portanto, nos assumiste.
Mesmo assim,
qual para a mulher aos teus pés que te suplicava,
tu olhaste para nós com amor
limpaste as nossas feridas com as tuas,
salvaste-nos!
Oh fidelidade bendita! Jesus.
Deus te glorificou com a vida plena!
Não te abandonou.
E a nós deu tua vida
O Amor se espalhou!

229
FOTOGRAFIA:
IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA – BH
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

230
LA SUPLICA DE LA COPA
Cristian Viñales SJ (Chile)

Vacíame de mí, Señor


de mi soberbia hazme libre,
de mis ilusiones despiértame,
que yo brille vacío de mí.
Vacíame,
del veneno que me tienta,
del fantasma que me acecha
susurrando lo que pudo ser
cantando la gesta
de la copa vacía de ti.
Vacío,
lluévete en mí,
por esta grieta dolorosa,
cuélate suave y lléname
así vengan todos a embriagarse de ti:
Quien quiera destrozarme,
y quien me quiera compartir.
Pero que beba el pobre,
y con esta copa en su boca,
mire atento el agua viva,
y se refleje en ti.

231
OBRA:
NOSSA SENHORA DA SOLIDÃO
José Paulino Martins, SJ

232
“AMOR-SIN-LÍMITES”
Germán Méndez, SJ (México)

Me amaste, En mi barro, tu amor


Y fui. No halla límites,
Me amaste, En el horizonte, tu amor
Y existí. No cesa de llenarlo todo.
Bendita mi fragilidad,
Miro al horizonte, Es huella de tu amor;
Y mi mirada Bendita tu fragilidad,
Encuentra un límite: Es huella de tu humanidad.
Es tu amor.
Bendita mi fortaleza,
Miro a mi interior, Es fruto de tu amor;
Y en mi barro Bendito tu poder,
Encuentro mi límite: Es llama eterna de vida.
Ahí también está tu amor.
Bella oscuridad
Miro a mi interior, Donde luce el lucero,
Y en mi barro Bella penumbra
está tu huella: Donde brilla la esperanza.
soy fragilidad poderosa. Bello pesar
Donde me siento sostenido,
Miro al horizonte, Bendita cruz,
Y pasando mi mirada Benditos clavos.
Estás tú, Amor-sin-límites:
Poder tan frágil.

233
OBRA:
Adaptações de desenhos de Claúdio Pastro
feitas por Rodrigo Souza Silva

234
HOJE TU ESTÁS CALADO
Francys Adão, SJ

Hoje Tu estás calado Quanto a mim


Tu, a Palavra serei eu capaz de
disseste tudo o que tinhas a dizer parar e repousar, por amor?
Mas Teu Silêncio também fala Em Teu Silêncio
Hoje é shabbat, dia do repouso ajuda-me a crer, a esperar e
Para a fé, o mundo existe porque pouco a pouco a aprender a amar
Teu Pai quis criar, trabalhando Pois neste Sábado
Mas para que o Amor possa brotar nas profundezas de nossos túmulos
livremente neste mundo criado algo radicalmente novo
Teu Pai quis gerar, parando é gerado em nossa humanidade
O Amor verdadeiro nunca se impõe cansada, amedrontada e ferida
Ele crê e espera E quem sabe
Ontem e hoje os poderes mundanos ao chegar o fim desta noite
ignoram esta lógica e meu coração estará pronto
têm dificuldade de entendê-la para enxergar o brilho
Tu, o Filho amado de Tua Luz que não se apaga.
sempre amaste, trabalhando
mas também aprendeste do Pai
o Mistério de amar, parando

235
OBRA:
VIA SACRA – TÚMULO
José Maria Fernandes Machado, SJ

236
MADRE DE LOS DÍAS INCIERTOS
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

Cuando muerda el frío, de las dudas, tan humanas.


ateridos, inseguros, Evoca, para nosotros,
anhelando la hoguera aquella intemperie
y sintiendo temor, que fue cuna de la Vida.
siéntate con nosotros, Enséñanos tú,
madre, maestra del silencio,
en el hogar. a guardar en el corazón
Cuéntanos la historia, las respuestas intuidas
de una muchacha que germinan
que no temió en fe inquebrantable.
la llamada Hasta la cruz.
que cambiaba todo. Y más allá.
Háblanos de aquel «Hágase» Cuando muerda el frío,
que abría la puerta sellada envuélvenos,
del perdón y la esperanza. señora, con tu manto.
Y de los días inciertos,
de las miradas difíciles,

237
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a lápis grafite sobre papel.
Arte sobre Nossa Senhora Aparecida. Esta arte é a junção de outros desenhos.
300 anos de história desde as correntes abertas do negro escravizado.
Mãe Negra, vestida com a coroa dos traçados destas terras, lembranças
das mulheres com cestos na cabeça. Intercede por tantas situações.

238
O QUE VOCÊ PROCURA?
Franklin, SJ

Caminhava cabisbaixo e ligeiro... parecia procurar algo.


— O que você procura, menino?!
— Procuro uma razão pra não morrer, disse o cabisbaixo menino.
— Mas... você caminha muito rápido! Difícil encontrar algo!
— Por que você caminha ligeiro, menino inquieto?!
— Caminho ligeiro porque já não me sinto parte de nenhum lugar. Carrego uma
saudade profunda, mas não sei de quê... parece que perdi algo que não consigo
encontrar...
Caminhava saudoso o cabisbaixo ligeiro menino.
— Ei, menino!! Procurar com a razão uma razão pra não morrer, não parece
muito razoável.
— A razão tornou-se uma ilusão, talvez, por isso não tenho mais razão pra viver,
disse o ligeiro menino.
— Ei, menino sem razão! Vai embora pra onde?!
— Sinto-me fruto de um erro, talvez, por isso passei minha curta vida
procurando acertar... eu, um erro! Disse o ligeiro, cabisbaixo, saudoso menino
que procurava uma razão pra não se matar.
O menino viu que as pessoas grandes que caminhavam a sua frente se
desviavam de algo que havia no chão. O menino parou de ser ligeiro... viu que
havia uma poça d`água no chão. Parou para olhar aquela poça d`água tranquila
e escura que parecia profunda... refletia um pedaço do seu rosto, um pedaço do
céu e um pedaço de um lampião apagado.
Abaixou-se e escreveu com a ponta do dedo seu nome – menino – sobre a água
que se transformou em pequenas confusas ondas que misturaram os pedaços
do céu, do lampião e do seu rosto...
— Agora, disse o menino, encontrei o que procurava!

239
TU MESA
– JUEVES SANTO –
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)

Nos dijiste que tu Reino En tu mesa nos heredas


era un gran banquete un ministerio que es servicio.
y esa tarde lo confirmó. Y siendo primero te haces último,
Te sentaste con los tuyos te levantas dejando el confort,
que no eran pocos te despojas de tu imagen
ni mucho menos iguales. y te ciñes todo lo necesario.
Te inclinas para contemplarnos
En tu mesa caben todos. en nuestros pies cansados,
El que descansa en tu hombro lavando falsas humildades
y el que te traiciona; y secando heridas con caricias.
los de promesas impetuosas
y los prudentes reflexivos; En tu mesa nos envías,
los jóvenes que renuevan Dispuestos a tener parte contigo
y los mayores que sostienen; en la pena y en la gloria,
los que enferman, hieren, porque esos pies lavados
y se inclinan a curar; han de caminar para lavar a otros;
los que esperan acomodarse rehabilitando pasos esperanzados
y los que ya se duermen que no se vencen fácilmente;
por haber servido contigo; pasos que misericordian debilidades;
el que aporta sus bienes y sirven al que no puede solo:
y el que no los tiene; pasos comprometidos con tu Reino.
los miedosos que te abandonan
o las valientes invisibilizadas.
Todos, hombres y mujeres, Juan
que te conocen como amigo,
hermano y salvador.

240
OBRA:
BODAS DE CANÁ
José Paulino Martins, SJ

241
“SEDIENTO”
Germán Augusto Méndez Ceval, SJ

En tu último suspiro, ¿De qué sirves, fiel sirviente,


Ahí en esa cruz clavado, Invisible en el madero,
Los pulmones soltando Cuando todo muere
El último de tus alientos; Con tu aliento?
Ahí te entregas llorando, ¿De qué sirves, hijo amado,
vuelves la mirada abajo, Cuando el cielo calla
y duele, te duele tanto. Y la tierra escupe?

Ves a quienes amas, Tu cuello se dobla,


Te entregaste en vida, Pesa tanto la espina,
A quienes te entregan Y en tus brazos
A la muerte en el madero; Midiendo el amor todo;
Y lloras tu dolor, Clavado te entregas,
Gimes a tu Padre, Amándolo todo,
Y no dejas de mirarles. Atrayéndolo todo.
Y con tu muerte se rasga un velo,
Tu boca está sedienta, La luz que cegaba: ilumina,
La lengua pegada, Volvemos todos a casa
Pero más sediento Con dolor golpeando el pecho;
Está tu corazón; Si tanto nos ama tu Padre,
Ama sin ser amado, Si nada tú te guardaste,
Mueres sediento, ¿por qué nos cuesta tanto amarte?
Sediento de amor.

242
OBRA:
O NASCIMENTO DA IGREJA
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre papel. 42x29cm –1997.

243
GESTOS
Claudia Honorio (Leiga inaciana)

A vocação é o amor
Fugir do quê?
Fugir do que está no coração
Esta vocação que é amor.
Gestos de amor que irão longe
Gestos para sair da opressão.
Gestos para sair da angústia interior.
Gestos de alegrias
Gestos que fazem o coração crescer de todo lado.
Fugir do quê? Deus é Amor.

244
OBRA:
EM MEMÓRIA DE MIM
Jobson Ramos, SJ

245
TRAS EL DISCURSO
Tomás Browne Urzúa, SJ

Tras el discurso
los abrazos
las promesas
las sonrisas
los aplausos
Tras las firmas
y diplomas
las estatuas
estandartes
y canciones,
asoma
de reojo
esa duda
capaz de destruirlo todo.

246
QUARTA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer

Tudo começou com um rumor. Ele está vivo. As mulheres viram. Ele não
está no túmulo. Os discípulos não deram crédito. Afinal, mulher gosta de inventar
história, fala demais... Mas os que foram ao túmulo... viram tudo como elas
disseram. Será que tinham razão?

O rumor cresceu e começou a transformar corações e vidas. Os medrosos


se converteram em intrépidos. Os fugitivos voltaram ao seio da comunidade.
Os desolados e desesperados sentiram seu coração quente. Os incrédulos
confessaram e adoraram seu Senhor e seu Deus. Os escondidos saíram à praça
pública e anunciaram que ele ressuscitara como disse e cantaram aleluias.

A alegria passou a reinar em lugar da dor. E nós somos chamados a entrar


nessa alegria, a alegrar-nos com a alegria do Mestre que cumpriu suas promessas,
com a misericórdia do Deus que jamais nos abandonou. Entramos no rastro dessa
alegria, procurando dar fruto, testemunhar, mostrar a todos seus verdadeiros e
santíssimos efeitos.

Alegrar-se com a alegria do Senhor Ressuscitado, isso precisamos aprender.


Aprender que a alegria permanece mesmo quando há dor, mesmo quando a
tribulação se aproxima, mesmo quando parece impossível sorrir.
A quarta semana nos inicia nessa alegria sem fim, mostrando uma realidade
toda ela transfigurada pelo amor do Deus que é vida em si mesmo e que com a
Ressurreição de Seu Filho nos diz que sua última palavra não é a morte, mas a
vida, não é o pranto, mas a alegria.

247
OBRA:
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO:
Ressuscitado – A Plena Revelação do sentido da Vida.

248
“Sentir intensa e profunda alegria
por tanta glória e gozo de Cristo
nosso Senhor.”
(EE 221)

“Vamos ressuscitando sem saber...” mas é preciso olhar


para aprender a ver!

OLHAI E VEDE!
André Araújo, SJ

Não pude conter o susto abençoaram-no,


quando vi o pão partido partiram-no
muito antes da Ceia. e o banquete estava pronto.
O pão vivo descido, Enviaram-no!
ali, pra quem quisesse ver. Difícil de entender?!
Como não tinha visto a mesa posta? Nova gramática
Como não havia percebido para as palavras antigas,
que, ali, acostumadas às velhas
naquela hora mesma, relações sintáticas.
o Menino envolto em faixas Outro enunciado
era comida e bebida bem mais arrojado
no cocho dos animais? que essa pragmática.
Sim! Com esse jeito novo
Manjedoura é palavra bonita demais, de habitar o mundo:
a gente até se esquece palavra-verbo-comida,
e só se lembra as estruturas mudam no profundo.
numas horas banais... Muda o gesto
Pois foi assim: a Palavra da Vida,
tomaram-no, a maneira de conjugar;

(continua)

249
(continuação)

“OLHAI E VEDE!

muda o modo de se alimentar, consolando e repartindo.


a forma de viver; Não vê quem chamou,
muda o jeito de querer. nem quem preparou,
Se não mudar, não vê os comensais.
o risco de olhar e não ver Olha e não o reconhece
é grande mesmo! urgente em tantas mesas,
Não vê o agricultor, presente em tanta prece,
não vê o trigo e a flor, pedindo que não nos faltem mais
não vê a uva pisada, o Pão e a Palavra,
não vê o cordeiro, maior riqueza,
não vê nada, tamanha delicadeza!
nem o Pão, O risco é grande:
nem a Palavra entra e se senta,
e a porta se abrindo, mas não se contenta,
autocomunicando-se e atraindo, passa fome,
chamando pra mais perto não bebe nem come...
os sedentos e os famintos,

250
OBRA:
COLHEITA
Jobson Ramos, SJ

251
PASCUA
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

La losa está apartada.


La luz se desparrama
por la tierra.
Que no se rindan
los buscadores
de amaneceres.
No hay noche eterna.
No hay victoria para el mal.
El sepulcro está vacío.
La tristeza, bailando,
se transforma
en alegría.
El muro sellado
es ahora ventana.
Al otro lado, muestra
un paisaje desconocido.
Dicen que el Amor
pasea por la tierra nueva.
Aparece a quien lo llama.
Solo hay que pronunciar
su nombre
con fe.
Su nombre
sobre todo nombre.
Aparecido.
Cicatrizado.
Resucitado.

252
ENTARDECER… AMANHECER!
Gabriel Araújo Pacheco

Entardecer...
O medo,
Desde as entranhas faz estremecer.
Fechamento, isolamento,
Do entardecer o medo ameaça.

Logo, a mudança,
Inesperada, inexplicável, indefinível.
Presença rara, sopro, paz,
Que do medo faz impulso,
Impulso vital, ressuscitador.

As dúvidas
Daqueles (e também nós, que por memória e chamado somos neles)
Dos incrédulos,
Dúvidas encontram um convite:
Que seja pessoa de fé!
Um aventurar-se, de fato,
Caminho de confiança.

Do medo à alegria
Do medo à saída.
Arriscar-se!
Risco de uma vida por paz (paz não tranquila, não fácil, mas instigante).
Uma vida pela paz,
Para consolar, liberar,
Ressuscitar...

Amanhecer!

253
FOTOGRAFIA:
PÔR DO SOL
Régis Sarto, SJ

254
RESSURREIÇÃO
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

O silêncio...
A solidão...
A noite escura...
Irrompida por uma grande novidade.
Trago-te aromas, perfumes
Quero embalsamar teu corpo e tocar tuas feridas

O raiar do sol...
A pedra...
A surpresa...
Venho a ti com pressa, como quem tem sede de Companhia
Quero na liberdade da solidão ressurgir junto contigo,

O túmulo...
O vazio...
O olhar...
Busco-te no silêncio, no vazio cheio de petrificação interior
Onde tu estás?
No mais íntimo de mim, ordenando o ser e o viver.

O abandono...
O medo...
A surpresa...
És tu caminhando em meu jardim,
Irrompendo as barreiras entre o tempo e a eternidade,
nutrindo minha esperança;
Ressurgindo minha vida de tua inexaurível presença
Fazendo-me contemplar e comungar de tuas profundezas.

255
FOTOGRAFIA:
PRIMAVERA
Ir. Lucemberg Lima de Oliveira, SJ

256
MANHÃ DA RESSURREIÇÃO
Luan Amorim, SJ

Doce jardineiro sinto a necessidade de encontrar contigo.


Quero como Maria de Magdala escutar o sussurro de tua voz,
E perceber que depois de uma longa jornada,
Possa ver teu rosto!
E ao voltar meu coração a ti,
Anseio ser criança aprendiz, que se encanta com cada saber novo.
Quero simplesmente te dizer:
Que sou terra árida e sedenta, que muitas vezes dá frutos insuficientes.
Mas sei, que tu, divino cultivador
Conheces com grande habilidade o laborioso cuidado da terra,
Com tuas mãos silenciosas e ternas.
Faz de mim aquele jardim daquela manhã,
E permite que eu escute meu nome em teus lábios
E como Maria possa dizer:
É o Senhor!

257
OBRA:
José Paulino Martins, SJ

DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre tela.
Nossa Senhora das Candeias, da luz, Luzia, luz guia – 2017.

258
ALÉGRATE
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Alégrate! Esa es la noche


en que el silencio fúnebre
fue salvíficamente quebrado.
La muerte ya no es fin, solo paso;
la soledad se hace abrazo;
las lágrimas dibujan sonrisas;
y el miedo se hace anuncio
de un Reino siempre actual.

Amanecimos ante lo imposible:


su tumba quedó vacía,
y sus lienzos gritan vivamente
que Dios no habita la muerte,
que Dios devuelve la esperanza,
que Dios nunca abandona,
que Dios no solo crea,
sino que levanta de la nada.

Alégrate! Ya no está entre piedras.


Nos espera en nuestros caminos,
entre los nuestros y necesitados,
entre las dudas y las certezas.
Resucitó para habitarnos
de esperanza y buenos deseos,
de misericordia, consuelo
y deseos de servirle.
Ya es Emanuel Resucitado,
El Dios con nosotros,
por siempre.

259
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
El Cristo Resucitado lleva las marcas de la cruz.
Los colores fuertes expresan la fuerza del amor.

260
TUDO É DOM
Jeferson Albuquerque, SJ

Antes de eu começar
Deus já sabia onde ia terminar
Tudo é dom
O que julgo ser meu,
Na verdade apenas está comigo
Todos os talentos eu apenas possuo,
Na verdade, tudo é de Deus
Tudo é dom.

261
CONSOLAÇÃO
Eliomar Ribeiro, SJ

Um cheiro de alecrim e cravo inebriou-me


Devo ter sonhado com plantas, doces, celebrações
São as primeiras horas da manhã de mais um dia
Sol claro, de primavera, entrando pela janela
Sem pedir licença e sem nenhuma modéstia
Gosto bom salivando na boca da história
A memória caminha a passos lentos
O coração acelera porque vive de desejos
Mais um dia de estudos, de saudades, de sonhos
A imagem da pombinha bebendo água na fonte
Desperta em mim uma sede insaciável de comunhão
A melodia encantadora das entranhas amazônicas
Toca o ouvido com toadas, rostos, flores, bichos e matas
Carrego comigo um balaio lotado de encantos
Às vezes penso que devia ter nascido mágico
Para enxugar cada lágrima derramada sem razão
Olho o mundo e vejo tanta falta de cuidado
Sei que devo continuar utopicamente cantando
Do chão regado em sangue a flor brota mais forte
No encontro com o Amado a palavra certa e preciosa:
“Maravilhas o Senhor fez por nós, encheu-nos de alegria!”

262
OBRA:
NOSSA SENHORA COLIBRIS
Luís Renato Carvalho, SJ

263
Dizem que estou ameaçado de morte. Um dia vou morrer.
Mas ando flertando com a vida...

AMEAÇA DE VIDA
André Araújo, SJ

Acostumara-se tanto ao sofrimento a menina que dorme e o filho da viúva,


que ser feliz soava como uma afronta a pecadora,
ou uma ofensa ao mundo. o amigo sepultado há quatro dias,
Era tão comum sentir-se ameaçado de os epiléticos e os atormentados,
morte a imensa multidão dos famintos,
que uma ameaça de vida constrangia. uma mulher da Samaria,
Ameaça devida: um publicano,
ver os sinais da Alegria um homem caído à beira do caminho,
na menor das vagas, um fariseu na estrada para Damasco,
ver no que está morto a dívida paga,
a vida que viria. a casa pra morar,
Não é essa a confiança o novo emprego,
que depositamos na semente? o pão de cada dia,
Em vez de viver morrendo um pouco a mãe recuperada,
cada dia, o menino que nasceu sadio,
seria diferente a febre que cessou,
experimentar que ressuscitava toda a hemorragia que estancou,
hora. a aprovação no concurso,
Esse era o maior desafio: a cirurgia que correu bem,
descobrir que vivia a escola pública e de qualidade,
e revivia sem saber, o sistema único de saúde garantido,
assim, ao menor sinal, o desenvolvimento sustentável,
como num atentado amoroso: a economia criativa,
o cego, o coxo, o surdo, os artistas e a cultura popular,
o homem da mão seca, a fraternidade e a dignidade humana,

(continua)

264
(continuação)

AMEAÇA DE VIDA

o migrante, a viúva e o órfão Por desaforo,


socorridos, decidiu não morrer!
as religiões, a diversidade e as etnias Ainda que o que se ofereça
respeitadas, seja forjado entre lágrimas.
a paz universal, Vejo a morte carregar a vida!
a ecologia integral, Luto sem substantivo,
a verdade da utopia, quero o Verbo renascendo
realizando-se no milagre, todo dia na primeira pessoa
no esforço de cada dia, que se une a outras tantas
nas ações mínimas entre mim e você.
e na política responsável. Prepare-se!
Tudo o que existe É uma ameaça com Vida!
canta e ameaça viver!

265
CONTAGIAR ALEGRÍA
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Te veo pasar y no me abrasas Y cuando te abracemos en tu ruta,


con tu calor galopante, ayúdanos a contagiarte a otros,
porque hay quién sufre y llora, con mensajes que griten,
porque hay enfermos, hambre, con carcajadas transparentes,
soledades y egoísmo. compartiendo pensamientos,
Con todo esto no puedo alegrarme, trasmitiendo sentimientos
me siento tímido para abrazarte. y sumándome a proyectos
que alegren a muchos.
Porque quien quiera abrazarte.
querrá transformarlo todo, Debo dejar mi timidez,
mirar con esperanza, no dejarte pasar de largo;
percibir la bondad del otro, porque vale la pena sentirte,
reconocerse con posibilidades, compartirte y alegrarme
compartir oportunidades, con otros, contigo.
reír con los amigos,
reemprender el camino,
y soñar una nueva ruta.

266
DO PERFUME DA MORTE AO PERFUME DA VIDA
Agnaldo Duarte, SJ

Com a paixão sentimos o mau cheiro da morte


Com a Páscoa sentimos o perfume da vida
Para que tanto desperdício de perfume?
Para que tanto mau cheiro no coração?
O perfume que custou acima de 300 denários
300 denários custou o mau cheiro da traição
Ela fez o que pôde: ungiu meu corpo com o perfume da sua consolação
Ele foi aos chefes: traiu-me com o mau cheiro da sua acusação
E assim...
Espalhou-se o perfume da vida onde existia o mau cheiro da morte
Alastrou-se o perfume da solidariedade onde existia o mau cheiro da fome
Propagou-se o perfume do diálogo onde existia o mau cheiro da dureza
Anunciou-se o perfume da reconciliação onde existia o mau cheiro da rispidez
Promoveu-se o perfume da justiça onde existia o mau cheiro da impunidade
Expandiu-se o perfume da esperança onde existia o mau cheiro do medo
Difundiu-se o perfume da dignidade onde existia o mau cheiro da obscenidade
Estendeu-se o perfume do acolhimento onde existia o mau cheiro do desafeto
Distribuiu-se o perfume do alimento onde existia o mau cheiro da miséria
Proclamou-se o perfume da Ressurreição onde existia o mau cheiro da violência
Enfim...
Espalhou-se a Palavra que é Vida, que gera vida e nos mantém vivos
Que não nos permite viver com o mau cheiro do desânimo
Absorvidos pelas desilusões
Derrubados pela força da morte
Com a Páscoa sentimos o perfume da vida
Compreendemos que a esperança sempre floresce
No instante que se experimenta o perfume do Eterno dentro do nosso ser.

267
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre tela.
Arte da vida! Ser cordeiro, ser passagem, ter coragem
e ser simplesmente amor. Mistério que dá sentido.

268
ENCUÉNTRAME…
Alberto Luna, SJ

En la madrugada del desconcierto,


después de la pesadilla nocturna,
entre los escombros de mis sueños.
Crúzate en mi camino desorientado,
perdido de la pista de tus huellas,
volviendo a mi rutina vacía y seca.
Asoma por la ventana tu mirada,
porque mi puerta está trancada
bajo siete llaves de hielo amarillo.
Acércame el costado atravesado
y las manos heridas a los ojos
engrillados por mis dudas ciegas.
Porque estoy solo en el entierro
de mis rosales marchitos,
bajo esa piedra imposible.
Empuña el cuchillo de fuego,
hiere de muerte a la noche
sepultada bajo mis párpados.
Alcánzame, jardinero del paraíso,
ese alto fruto, maduro y deseado,
que no tengo altura para tomar.

269
MIRAR DE NUEVO
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)

Señor queremos mirar de nuevo.


Toma nuestra libertad,
para silenciar nuestras distracciones
y reemprender tu servicio y misión.

Señor toma nuestra memoria,


para recordar cómo nos hablas
en el silencio cotidiano.

Señor toma nuestro entendimiento,


para comprender los ruidos
que no nos dejan escuchar tu voz.

Señor toma nuestra voluntad,


para parar y escuchar
para mirar de nuevo.

270
TEMPO E PROFECIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Neste novo tempo nascerá uma haste,


Surgirá também um rebento de uma flor
Haveremos de nos encantar com a beleza
Haveremos de nos espantar com tal mistério

A profecia tornar-se-á habitação, morada da esperança.


Os desanimados
Os tristes
Os humildes
Viverão com os corações inclinados e sentirão fome do horizonte.

Neste novo tempo uma flor irá desabrochar


A esperança nos acompanhará
O surgimento da vida anunciará
Um rumor entre o tempo e a eternidade.

271
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

272
CONTEMPLAÇÃO PARA ALCANÇAR O AMOR

Ao final do itinerário dos Exercícios Espirituais, o exercitante é devolvido ao


mundo criado, do qual na verdade nunca saiu. Está agora banhado da luz da
revelação de Jesus Cristo, Rei Eterno e Senhor do Universo inteiro. Redescobre
a criação e seu lugar nela banhado nesse mistério da Encarnação, vida, morte
e ressurreição de seu Senhor. A contemplação do final dos Exercícios – dita
“para alcançar o amor” – abre o panorama de toda a criação diante do olhar do
exercitante banhado pela luz crística.

A experiência de Inácio é, assim, marcada por uma teologia da “descida” e


do aniquilamento divinos. Todos os bens “descem” do alto, a Majestade divina
pode ser encontrada nas “coisas” mais pequenas e humildes. O lugar de Deus,
tal como percebido por Inácio, não é, portanto, outro, senão “todas as coisas”,
essas “coisas” onde a graça divina habita, resgatando e salvando. O Deus de toda
glória e majestade “desce” e se faz menor, no interior de sua Criação pecadora,
chamando o ser humano a entrar também nesse movimento de seguimento de
Jesus Cristo e de serviço sem limites para ser introduzido no amor propício e
glorioso do Pai.

O Deus de Inácio de Loyola é, portanto, um Deus-amor, que se dá e se


comunica de maneira real e operante ao homem, enquanto amor, que o “serve”
pelas obras salvíficas que realiza no mundo. Lançando o olhar sobre toda a
Criação, o convite é perceber Deus, enquanto princípio vital, enquanto sopro
que anima e dá “ser”, “crescimento” e “sensação” a tudo que existe (EE 235).
Olhando tudo que o circunda e em tudo encontrando a Deus como origem e
interioridade mais profunda percebe-se, então, a natureza e história humanas
como habitadas pelo próprio Deus.

(continua)

273
(continuação)

CONTEMPLAÇÃO PARA ALCANÇAR O AMOR

Esta presença de Deus nos seres e nas coisas encontra seu ponto máximo
no ser humano, de quem Deus faz “templo seu” (EE 235). Essa centralidade
antropológica no meio do mundo ganha ainda maior peso, se vista do ponto
de vista da Encarnação do Verbo de Deus. O significado e o valor das coisas
tornam-se radicalmente alterados pela presença do Cristo nelas. Mesmo as mais
radicais negatividades ontológicas ou religiosas são transvalorizadas, devido à
presença de Deus nelas até a inabitação do Espírito que faz do ser humano seu
templo. A Encarnação torna-se assim o mais alto instante de presença de Deus
na sua criação e no homem, mas, de uma certa maneira, também não a esgota.
O que Deus fez em Jesus Cristo é indicativo do que faz e continua fazendo pelo
homem, em todas as coisas e em seus templos de carne, escrevendo a nova lei
do amor em seus corações.

274
“O amor é comunicação de ambas
as partes. Isto é, quem ama dá e comunica
o que tem ou pode a quem ama.
Por sua vez, quem é amado dá
e comunica ao que ama.”
(EE 231)

AGORA
Jobson Ramos, SJ

Para o mundo que sofre uma dor que demora


Um sonho perdido, a criança que chora

Do fogo aquecido dos dias de outrora


Só resta essa chama apagando lá fora

A mão afagando o coração na aurora


Aquele que já não sustenta a hora

Na flor prevalece, porém, o amor


Já não se adia a esperança, é agora

Vem,
Faz florescer
Faz florear

Um simples botão é capaz, sim, de mudar


Um olhar
Esperançar.

275
OBRA:
AGORA
Jobson Ramos, SJ

276
SÓ MUDA DE LADO...
Eduardo Henriques, SJ

É pra passar a vida toda,


Pois aí está tudo da vida!
Colcha de retalhos infinita,
Só quando completa, orna.
Completa quando?
No amanhã do hoje,
No hoje amanhecido sempre.
Seu nome é:
Eternidade...

277
OBRA:
INÁCIO EM PARIS
José Paulino Martins, SJ

278
Que vida nova é essa que começamos agora?!
Quem é esse Anônimo que me consola?

“TEM DEUS!”
André Araújo, SJ

Quando Ele chegou, e pôs a mão no meu peito;


a mesa do café estava posta. consertou alguma coisa,
Fumegava o bule esmaltado lá bem do seu jeito.
e o coração parecia sossegado. Ela olhava de longe
Veio perguntando por mim, seus meninos crescidos.
Ela mostrava-se Sorria,
mais preocupada do que triste. senti sua ternura.
“Desde então, ele está assim”. Como podia?!
Falou com voz firme Não tinha amargura,
e apontou para mim. era toda alegria!
Eu dormia, Com Ela aprenderia
e Ele foi me acordar, o que importa
como sempre fazia. até o final dos meus dias.
Tocou-me o rosto Um seria para o outro
e me fez um carinho. verdadeira companhia.
Não acreditei no que via. Algo acontecia
Era Ele mesmo! num lugar
Como podia?! que não se vê muito bem.
Sentei-me depressa, Levantei,
deu-me um abraço forte, beijei-a na testa,
quis saber o que havia. tomei um banho,
Contei, chorei tomamos café.
e me desculpei, Era assim
disse que o decepcionaria. e não era estranho,
Ele sorriu, era mais um carinho
claro que já sabia e um cafuné.
(continua)

279
(continuação)

“TEM DEUS!”

Pois é... pois, no fim dá certo.


Como não ter Deus?! Mas, se não tem Deus,
Pegamos um livro, então, a gente não tem licença
que Ele quis ler, de coisa nenhuma!
e Ela, sorrindo, Porque existe dor.”
veio logo ver: Ela me olhou,
“Com Deus existindo, aprendi com amor
tudo dá esperança: e ainda hoje Ela insiste,
sempre um milagre é possível, num modo de me alegrar:
o mundo se resolve. “Deus existe
Mas, se não tem Deus [...] mesmo quando não há.”
é o aberto perigo
das grandes e pequenas horas,
não se podendo facilitar”.
E continuou devagar:
“Tendo Deus, é menos grave
se descuidar um pouquinho,

280
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

281
ONDE ESTÁS
Jackson A. Carvalho, SJ

Ouvi tua voz


por entre árvores que balançam,
pássaros que cantam,
no zumbido da abelha,
dentro do coração atento,
no assobiar do vento,
nuvem em movimento.
Ouvi tua voz
No silêncio imposto,
Em um guerrear sem sentido,
Na ferida exposta,
De um gesto te aproprias.
Ouvi tua voz
nas incelenças entoadas,
nas novenas dos santos,
no pedido de chuva,
na maré transbordada.
Ouvi tua voz
na família ferida,
a pobreza sentida,
da comida garantida,
tua voz se ouvia.

282
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Rabisco – grafite sobre papel.
Simplesmente simples, apenas um pouco de saudade.

283
QUIOSQUE!
Heber Salvador de Lima, SJ

Aqui está o novo Quiosque


Pr’a nossa felicidade,
quase no meio de um bosque,
no coração da cidade.

Será sempre um bom presente


Ao surgir dor ou cansaço;
quando mal-estar se sente
o quiosque nos dá um abraço!

Foi feito com muita arte


num jardim e seu esplendor
que o cerca de toda parte
e até faz dele uma flor!

Vamos usá-lo p’ra cantos,


pr’a jogos e refeições,
talvez p’ra momentos santos
de piedosas orações.

Obrigado, Senhor Deus,


Pelo quiosque que nos deste!
Para estes velhinhos teus
É um gozo quase celeste!

Aqui estará nossa idade


em serena quietude
pois paz e felicidade
têm jeito de juventude!

284
O NOVO DAS MESMAS COISAS
Carlos César, SJ

Todo dia a mesma coisa:


Nada mais parece surpreender.
O mesmo trabalho,
As mesmas pessoas.
Os mesmos dilemas,
Os velhos problemas disfarçados.

Viver a rotina,
Superar a mesmice,
Amar de novo as mesmas pessoas,
Reinventar o fazer,
Insistir no crer,
E não deixar que o desânimo ganhe a batalha.
Na rotina que não muda,
Eu mudo.
Desde o meu interior, eu mudo.

285
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

286
PERMANECER
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ

Hoy todo fluye, Ni el amor.


todo cambia, Ni las promesas que hicimos
todo trae fecha de caducidad. y que recibimos.
Maldito presente absoluto Ni la confianza
que se nos ha instalado dentro, en el para siempre.
como un intruso, No sabemos conjugar
ocupando las estancias el verbo permanecer,
de la memoria y la esperanza y exigimos
con su ahora que todo, hasta Dios,
cargado de exigencias. cambie a nuestra medida.
Y así, huérfanos de historias Así no hay viña que crezca y dé fruto.
y vacíos de futuro, Devuélvenos, Señor,
somos presa la conciencia
de los estados de ánimo, de tu tiempo y tu presencia.
tan cambiantes. Enséñanos a ser sarmientos
Nos devoran las crisis de la vid, que eres Tú.
en tiempo menguante. Devuélvenos la fe,
Nada perdura. Tú que calmas las tormentas.

287
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

288
LIBERDADE
Jobson Ramos, SJ

Eis um sonho, um desejo


Não meu, nem teu: nosso
Ser leve, suave, singelo
Voar sem destino certo
Pousar quando quiser
Parar.

Contemplar
Sentir

Voar de novo e repetir o mesmo ciclo quantas vezes quiser

Borboletear
Metamorfosear

Eis um sonho
Um desejo.

289
OBRA:
BORBOLETA
Jobson Ramos, SJ
DESCRIÇÃO:
Tudo que nos toca nos afeta, nos transforma.
Deixemo-nos afetar pelo que é belo.

290
EN TU NOMBRE
Alberto Luna, SJ

En el nombre del mar amigo de sudores de los pobres,


de las olas y la espuma. hasta llegar a Emaús contigo
En el nombre del sol en la mesa ardiente de pan y vino,
de la luna y las estrellas. el corazón anclado para siempre en ti.

Me crece en el pecho tu nombre. En el nombre del fuego


Padre, repite el raudal de mis venas. de las llamas y la chispa,
Padre creador, resuena, en el nombre de la fiesta
su eco me habita y llena. la música y la danza.
Padre protector de los pequeños,
Padre que cuidas a los tuyos Como el perfume de una sonrisa
y encuentras tu alegría plena te deslizas en la neblina discreta,
al verlos crecer en libertad, en las pupilas intuitivas,
al reflejar en ellos tu bondad. en la alegría de las cosas nuevas.
Espíritu Santo, inteligencia amorosa,
En el nombre de la flor poeta que das nombre a la alegría.
del fruto y la semilla, Infundes en todas mis fibras
en el nombre de la casa al cosmos en cada aliento.
de la mesa y el jardín. Me haces uno y solidario,
comprometido con todos
Se dilatan los ojos al verte, compañero, para que venga tu Reino.
rostro de luz abierto y transparente,
maestro de vida, pastor sincero, En el nombre de la tierra
de todo poder en el servicio. de los ríos y del bosque.
Jesús, oigo tu nombre como lluvia En el nombre del encuentro
que me empapa y fecunda de ternura. del beso y el abrazo.
Brota tu verbo erguido en mi aliento Amén.
y me lanzo al camino peregrino,

291
OBRA:
CRISTO AMARELO
José Paulino Martins, SJ

292
ALTAR E OFERENDA
Álvoro Negromonte, SJ

O que sou e o que tenho


Que sentido tem, se não moenda?
Se guardo sonhos, desejos e vontades
E não coloco no altar a oferenda?

Chegar ao lugar, autodeserto


Construir e reconstruir como uma renda
Perguntar se aqui devo ficar
Sem medo de propor uma outra estrada
Para a Maior Glória tão desejada
Fazer de si altar e oferenda

Ver o mundo com outro olhar menino


Como cordeiro pronto para doar a vida
Será a vontade que me acena?
Mudar o rumo, vencer não e buscar sins
Para desejar e ensinar ser altar e oferenda.

293
LO INDECIBLE
Tomás Browne Urzúa, SJ (Chile)

La vida
no es otra cosa
que el balbuceo de una guagua
Y una madre que la mira
sin entender
lo entiende todo.

294
OBRA:
NOSSA SENHORA DA PAZ
José Paulino Martins, SJ

295
CÁLICE
José Fernandes, SJ

Venha, ó eterno amor, Venha força da natureza,


Falar das coisas do coração, Encher as mãos
Fazer germinar belezas, Com os grãos da vida nova.
Da barriga da mãe terra. Chuva mansa nos cabelos
Lavando corações,
Venha, espírito de vida, Em miúdas e fecundas gotas.
Inundar rios em ondas Varrendo medos acumulados
De maré alta com Dos lixos nos beirais da vida.
Carícias de terno amor. Venha, Venham!
Venha na mansidão do Beber com a gente,
Amanhecer, O cálice da alegria
Filtrando o sol, Do licoroso vinho-doce mel
Nas frescas da mata escura. No oco do Jequitibá!
Venha, irmão das gentes,
Filho bonito da senhora,
Mãe da palavra paz,
Tão cheia de luar
Na noite da humanidade…

296
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

297
COTIDIANO
Renata Sales (Grupo OPA)

Céu azul
Aberto
Ergo as mãos
Ofereço
Dobro os joelhos
Rezo
As palavras
Silencio
Recolho os braços
Quieto
Deito o olhar
Contemplo
Vejo escrita
A Palavra
Ouço a voz
que me
Consola.

298
FOTOGRAFIA:
Ir. Lucemberg Lima de Oliveira, SJ

299
DESEO
Alberto Luna, SJ

Sólo en mitad de la mañana


el banco de la plaza calla,
recostado, sin más afanes
que perder la mirada,
dilatar el pecho, aspirar
el aroma inédito que pasa
en los rostros de la calle.
La quietud desata
el silencio de las manos,
apaga los ecos de las voces.
Al vuelo de las palomas
el corazón busca una nube
que no se lleve el viento,
un sendero en el horizonte
para darle pies al deseo.

300
Eu sinto que Alguém trabalha... e minha vergonha é tanta que,
agradecido, pego papel e caneta. Esse inventário não vai ter fim!

INVENTÁRIO DE CONSTRANGIMENTOS
André Araújo, SJ

Como olhar e não ver o Amor?! eu descobrindo os livros;


Olho os porquinhos no chiqueiro, com a tia moendo o milho, fazendo
o quarador e o abacateiro, fubá,
os pés-de-moleque e as cocadas, torrando café, comendo broa;
as comidas na casa da avó, eu levando almoço pra pai, dormindo
os bloquetes da rua coloridos de tarde,
com cacos de tijolo de tudo que era indo trabalhar, andando de ônibus,
cor, os amigos, os grupos de jovens,
as flores apanhadas na beira do rio, a crisma e a liturgia, a pastoral,
a água da biquinha, a escola plural,
o banho de mangueira, a universidade,
a água no telhado pra aguentar o calor, a literatura, a língua estrangeira,
as brincadeiras na rua; as viagens, a poesia,
nós rodando bombril, o terço, a solidariedade,
subindo nas árvores, apanhando a pesquisa, as aulas, a Companhia,
frutas, os pobres, a Filosofia,
comendo os doces e os biscoitos da as artes, a Teologia,
avó; uma nova gramática de relações,
eu cuidando das galinhas, o sacerdócio, o Nordeste,
tratando da cachorrinha; o enunciado e as enunciações,
nós brincando de gangorra, o ser da linguagem, a ficção,
passeando no sítio, o povo, a Missão,
com o tio tirando leite, o acompanhamento, a Consolação.
chupando cana, nadando na piscina; O dia em que vi minha tia

(continua)

301
(continuação)

INVENTÁRIO DE CONSTRANGIMENTOS

subindo as escadas lá de casa, Mas não dá pra esquecer:


com o pé quebrado e de bunda no muita coisa misturada!
chão, Não fico parado
vencendo no alto da escada,
degrau por degrau, caminho,
um a um, vou longe nesse sentimento,
com todo sofrimento, às vezes, sem prumo,
porque queria me ver desalinho,
antes que eu fosse embora, perco rumo
senti o que era ser amado e haja papel
até o mais profundo constrangimento. pra adiar o esquecimento;
Todo mundo quis ajudar, nada vai faltar
e ela não quis auxílio de ninguém. no meu itinerário,
Por medo de se machucar, tudo vai ficar
subiu devagar, forte, vivo e denso,
descansou, me abraçou, registrado aqui
lembro que a gente chorou. nesse meu inventário...
Muita história pra contar...

302
NO ALTO DA COLINA
Igor Cristiano Oliveira, SJ

Na casa do alto da colina


O serenar desperta o amanhã,
O fogão de lenha reúne os amigos,
Memórias despertam sorrisos, pura nostalgia...
É um aquecer a vida, esquentar nossas friezas.
Na casa do alto da colina
O entardecer anuncia aurora
O pôr do sol provoca calmaria na alma
Tudo lá se interliga num movimento singular.
Na casa do alto da colina
o anoitecer é uma liturgia,
a estrelas, o luar, tudo revela o absoluto.
No alto da colina nos permitimos ser encontrados pelo mistério.

303
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

304
NO BAILAR DAS ONDAS
Ozires Vieira de Sousa, SJ

Contemplem o mar!
O azul do céu
A tonalidade da água,
Às vezes azul, outras vezes verdes,
Mas a espuma é sempre branca
Fruto do vai e vem ritmado pelo vento.
Há uma intensidade para além da força das ondas
Há um mistério espiritual nesse ritmo
É a natureza nos falando de seus segredos divinos
Por que é tão difícil contemplá-la
E escutá-la?

305
FOTOGRAFIA:
Thiago Augusto Coelho

306
PRESENÇA
José Fernandes, SJ

Foi um instante… De antigas memórias,


Passou como nuvem errante Como musgo aderido
Fazendo sombra Nas pedras do caminho,
No ensolarado dia. Fazendo-se escorregadio.

Aquela constante presença Voltar ao início,


Nos passos da vida Refazer caminhos,
Trazendo alento Recolher o que se perdeu
Na carcomida memória Nos vão das pedras,
Perdida no tempo. Limpar e polir
As velhas lembranças,
Foi apenas um instante, Revelando a presença
Faísca de doces lembranças, Daquele que é e sempre foi
O vulto no espelho Mas que se perdeu
Do eu que me habita. Na ironia do esquecimento meu
Onde foi aquele que fui,
Esquecido de ser?! Ressuscitar exalando vida
Reviver o que se quer viver
Uma presença de não sei, Sonhar a eterna presença
Embaraçada no tempo De ser.

307
EPIFANIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

Era uma segunda-feira, uma segunda-feira normal,


Normal como os outros dias.
Na segunda-feira em que a alma parece sentir falta de um gesto gratuito.
Caminhava apressadamente, como alguém que sentia pressa de vencer o
cansaço exaustivo do cotidiano;
Estava vazio... corpo oco.
Não sentia nada, absolutamente nada.
Parecia não me pertencer, era como se meu corpo não estivesse unido
à minha alma,
Era como se minha alma não tivesse unido a minha poesia...
Foi quando passei por uma árvore de ipê
e contemplei um tapete belíssimo de flores,
coisa que os olhos não se acostumam a ver,
nem o corpo costuma sentir.
Por um instante uma pétala de flor caiu em meus ombros e... eu achei Deus
de uma grande fineza. Meu dia mudou com aquele instante, eu queria morar
dentro daquele instante; aprendi que é preciso deixar-se ser tocado.

308
FOTOGRAFIA:
IPÊ
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

309
ESPALDA DURA
Jaime Andrés, SJ (Equador)

Espalda dura
caminando los andes
corazón grande.

310
DEUS UNIFICADOR DE SENTIDOS
Igor Cristiano Oliveira, SJ

Toca em meus ouvidos, Senhor,


Para que não seja surdo aos teus gritos.
Toca em meus ouvidos, Senhor,
Para que meu corpo se incline em profunda reverência.
Toca em meus olhos, Senhor,
Para que não seja insensível a tua beleza manifestada nas tuas criaturas.
Toca em meus olhos, Senhor,
Para perceber que tu brincas conosco em nosso ser criança.
Toca, unifica meus sentidos aos teus, Senhor,
E faze-me poetizar à Vida.

311
PAISAJE
Alberto Luna, SJ

El filo de luz rasga el horizonte


y desviste el misterio de la noche,
abre las compuertas de los ojos
y derrama nombres en los labios.
Entre la bruma recién nacida
las gaviotas llaman a las olas.
Se despereza en la cañada
la verde quietud de los cipreses.
La brisa fresca inunda la vista
al soplo colorido de las flores.
El sol preside el rito originario
con su cortejo de nubes claras.
Como un eco de los ladridos
se oye al queltehue en el llano.
El paisaje vuela hacia adentro
y se posa en mi asombro niño,
trae a la playa de mis manos
guijarros pálidos, algas dormidas.
Como en una caracola antigua
resuena el mar en mis orillas,
venda con su velo de espuma
las heridas sufridas en la arena.

312
FOTOGRAFIA:
Régis Sarto, SJ

313
NO UN DIOS SOLO
Benjamín González Buelta, SJ

Solo Dios basta donde cada persona


pero un Dios se hace consistente.
al que no basta dios eclipsado,
andar él solo donde sólo nos quedan
por todo el universo. sus huella,
Dios se nos acerca tan leves como aliento
en cada ser el cosmos, de niño marginal,
que es para nosotros tan fuertes como un sismo
hogar, alimento, que cuartea el alma
tarea y horizonte. y los imperios.
¡comuníon cósmica dios del tú a tú
que nos une a dios en el instante
en la vida que nos llena transfigurado,
a través de los sentidos, donde todo los demás
don y presencia suya se ilumina desde dentro
en nosotros sin medida! en su verdad,
dios nuestro, en la comunión o se desvanece vacío
que se gesta con todos en su apariencia.
sin sobrantes ni descanso, sólo dios basta
en el vientre maternal pero un Dios
de la historia jadeante. al que no basta
Dios libre y único andar él solo
en el último rincón por todo el universo.
de callada intimida,

314
BAUTIZA MIS SENTIDOS
Benjamín González Buelta, SJ

Bautiza mis sentidos


No amanezcas, Señor,
que aun mis ojos
no aprendieron a verte
en medio de la noche.

No me hables, Señor
que aun mis oidos
no pueden escucharte
en los ruidos de la vida.

No me abraces, Señor
que aun mi cuerpo
no te fijes en tu piel
en abrazos y en la brisa.

No me endulces, Señor
que aun mi garganta
no saborea tu ternura,
en medio de lo amargo.

No me perfumes, Señor,
que aun mi nariz
no hueles tu presencia
en medio de la miseria.

bautiza mis sentidos


con el curso lento
de tu gracia encarnada,
fluyendo a través de mi cuerpo.

315
FOTOGRAFIA:
PRIMAVERA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ

316
O VIAJANTE PEDE O RUMO
Paulo Veríssimo, SJ

O viajante pede o rumo


Ao prumo da história
Para poder chegar
Onde viver é amar

O tempo revela o destino do homem


Cuja força de andar faz seguir
Feliz como quem já chegou
Onde viver é não parar

Viver é amar sem parar.

317
OBRA:
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Tres milagros de Jesús, la Samaritana en el pozo, agua viva que mata la sed.
Lázaro, Jesús le devolvió la vida. El ciego de nacimiento, Jesús ha hecho barro
con la saliva y polvo de tierra y le abrió los ojos. (Narrativas segundo San Juan).

318
INACIAR
Luiz Beltrão

A decisiva aventura não é risco. É escultura.


É terra seca tornar-se argila, pedra dura moldar-se bilha.
Todo início é exercício. Maior batalha, ceder muralha.
Pobre tíbia, mero símbolo, de fato címbalo que percutia:
“Qual é teu rumo? Valeu a pena? E se morrer dessa gangrena, como será
pós sepultura?”

E no balanço do percorrido, muda o senhor, troca o sentido.


Levanta. Manca. Tropeça. Avança.
Luz e querer.
Depõe sua capa. A forja é a lapa.
Jerusalém é ir além.
Pois Quem o chama merece e clama por nada aquém de todo o ser.

Eis o inciso do Peregrino:


remar preciso, leve e menino,
mas sempre em busca de precisão.
Processo eterno, inacabado,
em quatro tempos, fio trançado.
Contemplo o templo que pulsa dentro. A graça age na decisão.

O resto é espera, é confiança.


E qual criança fazer-me dom
pelo chamado imerecido.

No mar, a nau. Terceiro grau.


Inaciar o Reino aqui, com fundamento, discernimento,
justiça e paz, cada vez mais.
Junto com outros, pobres e loucos,
sob a bandeira do Cristo amigo.

320
A NATUREZA ME FEZ ASSIM
Felipe de Assunção Soriano, SJ

A natureza me fez assim...


O senhor era outro,
A cidade era outra,
A senhora era outra,
Outro era o Reino...
Os companheiros eram outros,
As armas eram outras,
As terras eram outras,
As glórias eram outras,
Outros eram os meios...
Se uma ferida foi o estopim,
Se dessa dor uma eleição,
Toda ferida esconde uma missão.

321
PEREGRINO, SÓ?
Guilherme Augusto Siebeneichler

Peregrino, só? Não se trata da distância,


Peregrino só, Mas a chama que arde e faz caminhar
Que tanto busca?
Pelo que tanto anseia? E então, vem a noite
O que lhe dá forças? Com ela, as estrelas e a lua
Silenciosos cristais do mistério
Faz a travessia de campos E o coração queima novamente com a
De florestas, de montes e montanhas beleza
Quilômetros seguidos de quilômetros
Escorre o suor de seus passos já A cada passo,
errantes Pegadas no chão, na areia, na lama
Marcas da continuidade do mistério
Cansado, senta-se E mais nomes, rostos, cheiros e cores
No coracão, nomes, rostos, cheiros e
cores Aqui, não é saber
Sabe que não está solitário É saborear
Brota um sorriso no rosto Não é antes, nem depois
É agora.
E no caminho
Dá passos silenciosos dentro de si

322
AS FERIDAS
Felipe de Lima França

Cristo,
nenhum osso te foi quebrado
Inácio,
uma bala quebrou tua perna

Cristo ficou chagado


Inácio ficou manco
Do fracasso
a vida
um processo
um apelo
uma vocação
uma missão
a salvação

E eu estou inteiro
E o mundo está ferido
No sofrimento do inocente
O Senhor chama um nome

De quem?

323
JERUSALÉM
Luisinho Vieira e Roberto Mesquita Ribeiro (Grupo OPA)

Vou para longe, vou. Vou onde Que não tem fim minha sede: desejo
Deus mandar. de caminhar...
Seja o limite do mundo, ou para Se acho que consegui, penso em
outro lugar. me instalar.
Quero poder partir, quero me Deus me convida: em frente.
encontrar. É hora de enfrentar!
Sonho em correr todo o mundo,
na mão de Deus caminhar. Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus. todos teus.
Jerusalém, meus sonhos são
todos teus. Em cada ir e vir, todo recomeçar.
Encontro minha verdade:
Quando deixei meu lar, promessa Jerusalém procurar.
recebi. Jerusalém jardim, meta que Deus
Recebo mais que entrego, Deus me deu.
mesmo vem se ofertar. Estrela que eu contemplo, templo
Caminho pra servir, sirvo pra encontrar. onde vou habitar.
Só me encontro no mundo, fazendo o
mundo mudar. Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus. todos teus.
Jerusalém, meus sonhos são
todos teus. Inácio Santo.

Não sei se vou chegar. Acho que não


tem fim.

324
OBRA:
Rogério Barroso, SJ

325

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