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BARROCO

A palavra barroco significa “pérola imperfeita”. Este foi
um movimento estilístico ocorrido entre o fim do século
XVI e o início do século XVIII, mais precisamente entre
1580 a 1756. As ideias surgidas em tal período tiveram
forte ligação com o movimento conhecido como
Contrarreforma, uma vez que as mesmas procuravam
restabelecer a vida cultural e econômica, em uma época
de profundas e significativas indagações e agitações
causadas pelo Renascimento.

 Falando especificamente da arte barroca, podemos dizer
que possui características opostas à arte renascentista.
Enquanto esta pregava a valorização da razão e da
perfeição em cada detalhe nas obras, a arte barroca
valorizava o sentimento, a emoção e o conjunto
harmônico criado.
 A arte barroca surgiu na Itália, no século XVII, e se
espalhou por diversos países, especialmente Espanha e
Áustria. Também podemos citar o fato de o estilo não ter
se propagado nos países protestantes, uma vez que o
mesmo parecia estar ligado de forma clara à Igreja
Católica.

A temática utilizada no estilo artístico barroco estava
baseada, essencialmente, na dualidade entre o humano
e o divino (antropocentrismo x teocentrismo) e na
subjetividade. Os artistas usavam efeitos de luz e
sombra, curvas e texturas, dando uma ideia de
movimento. Vale ressaltar também que a arte barroca
também teve certas características regionais.
Barroco brasileiro

 Estilo artístico desenvolvido na Europa, foi usado como
instrumento pela Igreja Católica para recuperação dos
fiéis (não somente por isso, também tem relação com a
queda de arrecadação do “dízimo”);
 Chegou tardiamente no Brasil, no final do século XVII,
tendo seu apogeu no século seguinte;
 Transmissor da cultura europeia e das leis católicas entre
os nativos e os cativos;
 Apalavra Barroco é de origem espanhola, Barrueco que
significa “pérolas irregulares”.





Características do Barroco:Escultura

As esculturas
eram ricamente
ornamentadas
com joias, tecidos
e até cabelo.













Observem na imagem linhas curvas lembrando flores e conchas, veja que as


linhas são contorcidas. Na fachada da igreja, inúmeras Figuras de santos,
anjos e motivos florais esculpidos em pedra.



São Paulo permaneceu estagnada por todo o século
XVIII; e as ordens religiosas apenas ergueram
modestas igrejas barrocas.

Hoje há poucas construções barrocas na cidade de


São Paulo. Delas, destaca-se o conjunto formado
pela igreja e pelo convento de Nossa Senhora da Luz.

A igreja de Nossa Senhora da Luz


Começou a ser construída por volta de 1600, passou por
muitas reconstruções, é um do poucos exemplos de
arquitetura colonial de São Paulo. Em 1970, instalou-se o
Museu de Arte Sacra de São Paulo, que reúne um conjunto
de importantes peças – o que restou de imagens, talhas,
castiçais, cálices, candelabros e outras peças de igrejas de
várias regiões do país, principalmente das igrejas paulista que
com o tempo foram destruídas.

A pintura barroca de São Paulo também traz traços de simplicidade. Observe
a pintura de Frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1818) e veja a
simplicidade na composição. Ele foi o pintor paulista mais conhecido do
período.





Na pintura do Barroco mineiro, destacou-se Manuel da
Costa Ataíde. Sua pintura nos forros de igreja revela
excepcional domínio de perspectiva.

Ataíde fez pinturas para as igrejas de Santo Antônio, em


Santa Bárbara, e para a igreja de Nossa Senhora do
Rosário, em Mariana, além d igreja de São Francisco, em
Ouro Preto.





Barroco

A ESTRUTURA:
poesia e prosa.
CULTISMO OU GONGORISMO:
Jogo de palavras.

Para esta linha de pensamento, conhecer seria descrever. O mundo é
descrito por meio de sensações, envolvendo as pessoas em uma
espécie de “delírio cromático”, o que explica a constante utilização de
figuras de linguagem como metáforas, antíteses, sinestesias, além de
figuras de sintaxe que tornam o estilo pesado, tortuoso, tais como
trocadilhos, dubiedades e hipérbatos.

Os artistas que exploraram este aspecto se voltavam para o jogo de


palavras, preciosismo vocabular, erudição, rebuscamento da forma, ou
seja, o que estava em pauta era a habilidade verbal do escritor. Nesse
sentido, podemos dizer que a realidade é retratada pelos cultistas de
forma indireta, já que a preocupação está centrada mais no como
representá-la, do que propriamente no representado.
O estilo cultista também recebeu o nome de Gongorismo, por ter como
principal representante o poeta espanhol Gôngora.

Exemplo do estilo cultista:


*Reparem no jogo de palavras promovido pelo poeta.

O todo sem a parte não é o todo;


A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,


E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo."

(Gregório de Matos)
Correntes do Barroco:


Cultismo (Gongorismo) – predomínio na poesia

• Intenção moralizante por meio dos sentidos;


• Teor descritivo;
• Valorização da forma de expressão;
• Estilo opulento e suntuoso;
• Rebuscamento vocabular - neologismos, figuras de sintaxe
(hipérbatos), figuras de linguagem (metáforas, antíteses,
sinestesias).
CONCEPTISMO OU QUEVEDISMO:
Jogo de ideias.

Para os conceptistas, o conhecimento pressupunha uma análise cuidadosa do objeto, a
fim de conhecer sua essência, chegar aos conceitos que o definem. Seus argumentos se
centram na Razão, na inteligência, e pretendem convencer pelo raciocínio, sem prejuízo
dos sentidos. Ao invés do exagero e exuberância do cultismo, o estilo conceptista
buscava concisão e ordem, operando sob os mecanismos da Lógica, dentre os quais se
destacam os silogismos e os sofismas. O principal objetivo era convencer o leitor.

Silogismo: é uma forma de raciocínio dedutivo que, partindo de duas premissas básicas,
delas concluem uma terceira, logicamente implicada. Exemplo: Todo homem é mortal.
Maurício é homem. Maurício é mortal.

Sofisma: trata-se de um argumento que parte de premissas verdadeiras e chega a uma


conclusão inadmissível, mas irrefutável formalmente, ou seja, inquestionável de acordo
com as regras formais do raciocínio. O sofisma tem por objetivo dissimular a verdade por
meio de esquemas que aparentam seguir as regras da lógica. Exemplo: Racismo é só
uma palavra. Não há por que discutir sobre palavras. Não há porque discutir racismo.
Correntes do Barroco


Conceptismo (Quevedismo) – predomínio na prosa
• Intenção educativa pelo convencimento e raciocínio
lógico;
• Teor argumentativo, conceptual;
• Valorização do conteúdo; relações lógicas das ideias;
• Estilo conciso e ordenado;
• Aproveitamento das nuances semânticas: duplo sentido,
associações inesperadas e engenhosas, paradoxos,
comparações inusitadas.
O estilo conceptista também recebeu o nome de Quevedismo, por ter
como principal representante o espanhol Quevedo. Por sua
preocupação em convencer, o conceptismo encontra-se muito
presente na oratória sacra (Padre Antônio Vieira, Padre Manuel
Bernardes) e na poesia religiosa (Gregório de Matos).


Exemplo do estilo conceptista:
*Premissa maior: amor infinito de Cristo salva o pecador./ Premissa
menor: sou pecador./ Conclusão: espero me salvar.

"Mui grande é o vosso amor e o meu delito;


Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Essa razão me obriga a confiar
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar."

(Gregório de Matos)
Anote!

 Período de conflito entre duas posturas - dúvidas
existenciais:
 postura racional e humanista – concepção
“classicista”.
 postura religiosa – concepção “medieval”.

 Resultado (Obras): as visões de mundo:


 Antropocentrismo x Teocentrismo

Contrastes

Barroco: época (valores espirituais da Igreja x valores


burgueses - o amor carnal, o dinheiro, a posição social,
etc.)

Dualismo: propicia o surgimento de uma arte que busca


conciliar visões opostas (antíteses): espírito x carne,
pecado x perdão, céu x terra, virtude x prazer, etc.

Na literatura, os contrastes se apresentam através das
figuras de linguagem (antítese, paradoxo).

Ex: Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,


da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinquido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Contexto histórico:

A Reforma Protestante
No século XVI (1517), Martinho Lutero (teólogo
alemão ) denuncia a prática das Indulgências.
(95 teses pregadas na porta da igreja do Castelo de
Wittenberg).
Contrarreforma: a resposta católica à Reforma
Protestante


Concílio de Trento (reunião de bispos), convocado pelo papa Paulo III ( 1545 a
1563)
- cidade italiana de Trento..

Objetivo: emitir decretos disciplinares.

Medidas tomadas:
• reafirmados os dogmas da Igreja ( valor das
indulgências e dos 7 sacramentos, reforço do
culto da Virgem e dos Santos...);
• reorganização e o fortalecimento da Inquisição;
• instituição de uma lista de livros proibidos aos Imagem: Paolo Farinatis /
Católicos, o Index Librorum Prohibitorum. Concílio de Trento , em 1563 / Public Domain
COMPANHIA DE JESUS

Ordem religiosa criada em 1534 por um grupo de estudantes
da Universidade de Paris liderados pelo basco Inácio de
Loyola e aprovada pelo Papa Paulo III.
Os jesuítas pautavam-se por uma obediência cega ao Papa e
destacaram-se nas missões e no ensino (fundação de
colégios e escolas).

Imagem: Símbolo da Companhia de Jesus/


Disponibilizado por Moranski / Public Domain
Características do estilo:


• O fusionismo e o culto do contraste;
- Na pintura: mistura entre luz e sombra;
- Na música: combinação de sons;
- Na literatura: associação entre a razão e a fé;

• O pessimismo: miséria da condição humana (aspectos cruéis,


dolorosos, repugnantes);
• O rebuscamento: jogos de palavras e figuras de linguagem;
• Dinamismo: sensação de movimento (linhas curvas);

Desenganos da vida humana, metaforicamente
Gregório de Matos

É vaidade, Fábio, nesta vida,



Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.

 Estilo barroco: soneto com versos decassílabos rimados


 Temática: a transitoriedade da existência terrena
 Linguagem: figuras de linguagem
( Metáfora: o próprio título, a
vaidade é rosa )
( Hipérbato : “É a vaidade, Fábio,
nesta vida )
( Hipérbole: “púrpuras mil”)
rebuscamento vocabular: (lisonjeada, púrpuras, airosa)
SEISCENTISMO/BARROCO


Barroco em Portugal: Contexto
histórico

Início 1580 (domínio espanhol) ->


morte de Dom Sebastião
(Alcácer Quibir)

Unificação da Península Ibérica –


Felipe II

Imagem: Juan Pantoja de la Cruz / Felipe II, em agosto de 1606 /


Public Domain
Barroco em Portugal


Escritores:

Padre Antônio Vieira


Francisco Rodrigues Lobo
D. Francisco Manuel de Melo
Padre Manuel Bernardes
Sóror Mariana do Alcoforado

Imagem: José Rodrigues Nunes / Padre Antônio Vieira , antes de


1871 / Imagem do catálogo MAB/Safra disponibilizada por Dornicke /
Public Domain
Barroco no Brasil: Contexto histórico
Século XVI – XVIII

• Colônia de Portugal

• Salvador (capital e sede da administração)
• Produções artísticas - moldes de Portugal (ideal da
Igreja)
• Não existia imprensa
• Marco Inicial: (1601) poema épico “Prosopopeia “ – Bento
Teixeira (Jorge de Albuquerque Coelho - donatário da capitania
de Pernambuco)
Representantes e Obras:


• Gregório de Matos: (maior poeta satírico: “boca do inferno”)
Obras: Poesia lírica, satírica, filosófica e religiosa

• Padre Antônio Vieira (sermões )


Obras:
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de
Holanda (Bahia – 1640)
Sermão da primeira dominga da Quaresma (Maranhão – 1653)
Gregório de Matos: “Boca do Inferno”
Sátiras (o clero, os governantes e toda a sociedade baiana )
Exílio: Angola


Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,


Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,


Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Gregório de Matos


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
depois da Luz se segue a noite escura,
em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

 Temática: a transitoriedade da existência humana


(não dura, sombras).
Exercícios

01. (UNIV. CAXIAS DO SUL) Escolha a alternativa que
completa de forma correta a frase abaixo:
A linguagem ______, o paradoxo, ________ e o registro das
impressões sensoriais são recursos linguísticos presentes
na poesia ________.
a) simples; a antítese; parnasiana.
b) rebuscada; a antítese; barroca.
c) objetiva; a metáfora; simbolista.
d) subjetiva; o verso livre; romântica.
e) detalhada; o subjetivismo; simbolista.
02. (MACKENZIE-SP) Assinale a alternativa incorreta:

a) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição
medieval e textos para teatro com clara intenção catequista.

b) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer


um levantamento da terra, daí ser predominantemente descritiva.

c) A literatura seiscentista reflete um dualismo:o ser humano dividido entre a


matéria e o espírito, o pecado e o perdão.

d) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses,


paradoxos, interrogações.

e) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta,


extravagante, enquanto o cultismo é marcado pelo jogo de ideias, seguindo
um raciocínio lógico, racionalista.
03. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:

a) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo,


morte e vida.


b) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu
aprimoramento, com base na cultura greco-latina.

c) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão,


conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de
outro, o antropocentrismo renascentista.

d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.

e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de


metáforas.
 04. (VUNESP)

Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando crista, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és fogo, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
O texto pertencente a Gregório de Matos apresenta todas seguintes
características:
a) Trocadilhos, predomínio de metonímias e de símiles, a dualidade
temática da sensualidade e do refreamento, antíteses claras dispostas
em ordem direta.

b) Sintaxe segundo a ordem lógica do Classicismo, a qual o autor
buscava imitar, predomínio das metáforas e das antíteses, temática da
fugacidade do tempo e da vida.
c) Dualidade temática da sensualidade e do refreamento, construção
sintática por simetrias sucessivas, predomínio figurativo das metáforas
e pares antitéticos que tendem para o paradoxo.
d) Temática naturalista, assimetria total de construção, ordem direta
predominando sobre a ordem inversa, imagens que prenunciam o
Romantismo.
e) Versificação clássica, temática neoclássica, sintaxe preciosista
evidente no uso das síntese, dos anacolutos e das alegorias, construção
assimétrica.
05. A respeito de Gregório de Matos, assinale a alternativa incorreta:


a) Alguns de seus sonetos sacros e líricos transpõem, com brilho, esquemas de
Gôngora e de Quevedo.

b) Alma maligna, caráter rancoroso, relaxado por temperamento e costumes,


verte fel em todas as suas sátiras.

c) Na poesia sacra, o homem não busca o perdão de Deus; não existe o


sentimento de culpa, ignorando-se a busca do perdão divino.

d) As suas farpas dirigiam-se de preferência contra os fidalgos caramurus.

e) A melhor produção literária do autor é constituída de poesias líricas, em


que desenvolve temas constantes da estática barroca, como a transitoriedade
da vida e das coisas.
Texto para as questões 06 a 08

À INSTABILIDADE DAS COUSAS DO MUNDO



Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em continuas tristezas a alegrias,

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto, da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,


Na formosura não se dê constância,
E na alegria, sinta-se triste.
Começa o Mundo enfim pela ignorância
A firmeza somente na inconstância.
06. No texto predominaram as imagens:

a) olfativas;
b) gustativas;
c) auditivas;
d) táteis;
e) visuais.

07. A ideia central do texto é:

a) a duração efêmera de todas as realidades do mundo;


b) a grandeza de Deus e a pequenez humana;
c) os contrastes da vida;
d) a falsidade das aparências;
e) a duração prolongada do sofrimento.
08. Qual é o elemento barroco mais característico da 1ª estrofe?

a) disposição antitética da frase;


b) cultismo;
c) estrutura bimembre;
d) concepção teocênctrica;

e) estrutura correlativa, disseminativa e recoletiva.

09. (SANTA CASA) A preocupação com a brevidade da vida induz o poeta


barroco a assumir uma atitude que:

a) descrê da misericórdia divina e contesta os valores da religião;


b) desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a mocidade e a beleza;
c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos céticos;
d) se revolta contra os insondáveis desígnios de Deus;
e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a mocidade dura.
10. (UEL) Identifique a afirmação que se refere a Gregório de Matos:

a) No seu esforço da criação da comédia brasileira, realiza um trabalho de


crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século
XIX.


b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o presente: ainda tem os
torneios verbais do Quinhentismo português, mas combina-os com a paixão
das imagens pré-românticas.

c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais
claramente manifestou as ideias da ilustração francesa.

d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os


desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que
caracteriza o estilo da época.

e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do chamado ciclo do


ouro é prova de que seus talento não se restringia ao lirismo amoroso.
Gabarito:

01 - B
02 - E
03 - B
04 - C
05 - D
06 - E
07 - A
08 - A
09 - E
10 - D
Para fixar: histórico do Barroco no Brasil


O ensino em Portugal e no Brasil era profundamente verbal e religioso,
voltado para os dogmas da Igreja Católica.

A capital do Brasil era Salvador, Bahia. Lá viviam a elite intelectual e


política brasileira.

Na sociedade brasileira dos séculos XVII e XVIII, ainda não havia um


público leitor para consumir obras literárias. O movimento barroco não
pôde, pois, espalhar-se pelo Brasil inteiro, de norte a sul. Ficou restrito a
dois núcleos culturais da época: Pernambuco (onde nasceu, com
Prosopopeia, de Bento Teixeira) e Salvador (onde viveu Gregório de
Matos).
Autores do Barroco brasileiro


1. BENTO TEIXEIRA: Iniciador do Barroco no Brasil, autor de
Prosopopeia.

2. GREGÓRIO DE MATOS: O Boca do Inferno; poeta maior do


Barroco brasileiro.

3. PADRE ANTÔNIO VIEIRA: Maior orador sacro de nossa


literatura.
Bento Teixeira

• Veio cedo para o Brasil; formou-se no Colégio da Bahia, onde foi
professor de primeiras letras.

• Assassinou a mulher em 1594; fugindo à prisão, refugiou-se em


Pernambuco, no convento dos beneditinos, em Olinda.

• A redação de Prosopopeia aconteceu durante o isolamento no


convento.

• Tudo indica que o motivo não era outro senão o de agradar os


poderosos, principalmente Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da
Capitania de Pernambuco.
PROSOPOPEIA

POEMA ÉPICO – Poemeto épico. O livro conta os feitos históricos de Jorge de
Albuquerque Coelho, governador de Pernambuco, a quem o autor pretendia
agradar.

A imitação de Os Lusíadas é frequente, desde a estrutura até as construções


sintáticas. Isto tirou da obra o valor literário que, porventura, pudesse ter,
ficando a fama histórica de ser o livro inaugurador do Barroco brasileiro.

Considerado o primeiro poema épico de nossa literatura.

Considerado poema laudatório (que contém louvor).

Personagens de Prosopopeia:

Proteu (narrador). Na mitologia grega, “Proteu” é deus marinho, capaz de se


transformar em animais, em água e em fogo.
Jorge de Albuquerque (herói).
Gregório de Matos

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, Bahia, em 7 de abril de 1636.

Faleceu em Pernambuco, em 1696.

De família abastada, Gregório estudou com os jesuítas de Salvador. Em 1650,


com 14 anos, embarcou para Portugal (Lisboa), aonde foi com o propósito de
estudar Direito.

Matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde se formou em julho de 1661


e passou a exercer a magistratura.

Interrompeu a carreira de juiz para voltar ao Brasil (por volta de 1680). Supõe-
se que, nessa altura, já teria feito conhecer o seu talento de repentista e
zombeteiro.

Enquanto viveu, seus poemas circulavam de mão em mão, de forma


manuscrita, ou de boca em boca, no aspecto oral.
Gregório de Matos: OBRAS PUBLICADAS


As obras de Gregório de Matos somente foram publicadas no século XX, entre
1923 e 1933, pela Academia Brasileira de Letras, em seis volumes:

I. Sacra
Contém todos os poemas religiosos.

II. Lírica
Contém todos os poemas lírico-amorosos.

III. Graciosa
Contém poemas que exploram o humor.

IV e V. Satírica
Contém todos os poemas que exploram a sátira.

VI. Última
Contém poemas misturados.
Gregório de Matos: POESIA SATÍRICA
À DESPEDIDA DO MAU GOVERNO QUE

 FEZ O GOVERNADOR DA BAHIA

Senhor Antão de Sousa de Menezes,


Quem sobe ao alto lugar, que não merece,
Apesar de ter exercido funções religiosas e Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.
de ter um irmão padre (Eusébio de Matos),
Gregório não perdoa a Igreja Católica A fortunilha, autora de entremezes
baiana: faz sátiras ferinas contra padres e Transpõe em burro o herói, que indigno
freiras, chegando mesmo a usar palavrões cresce:
em pleno século XVII. Desanda a roda, e logo homem parece,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.
Depois de ridicularizar a Igreja Católica,
Gregório voltou sua pena satírica contra o Homem sei eu que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a roda,
governador-geral da Bahia, Antônio de Burro foi ao subir tão alto clima.
Sousa Meneses, que esteve à frente do
governo de maio de 1682 a junho de 1684, Pois vá descendo do alto onde jazia,
como pode se notar no poema ao lado. Verá quanto melhor se lhe acomoda
Ser home em baixo, do que burro em
Conferir outros poemas de Gregório de Matos em cima.
https://www.academia.org.br/academicos/gregorio-de-matos/textos-escolhidos
Padre Antônio Vieira (1608 - 1697)


Nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro de 1608. Morreu em Salvador, em 18 de
julho de 1697.

Aos seis anos, veio para o Brasil; aos quinze, ingressou na Companhia de
Jesus. Ordenou-se em 1634 e logo ganhou fama de pregador eloquente e culto.

Em 1652, transferiu-se para o Maranhão, dedicando-se à catequese e à


conversão dos gentios. Nove anos depois, regressando a Lisboa, é preso.

Seu direito de pregar é cassado pela Inquisição, por traição por defender índios,
novos cristãos e judeus, e também por criticar a Igreja. Ficou preso por 2 anos e
foi impedido de palestrar pelo resto da vida.

OBS: Vieira usava o CONCEPTISMO em seus sermões, raciocínio lógico e


linguagem bem elaborada.
Padre Antônio Vieira (1608 - 1697)


Quando foi libertado, seguiu para Roma, onde conseguiu anulação do processo
e tornou-se orador oficial do salão literário da Rainha Cristina da Suécia.

Quando Portugal libertou-se da Espanha (1640), Vieira foi para a Metrópole e,


por meio do seu talento, impressionou o monarca D. João IV, tornando-se
pregador oficial da corte.

Em 1681, retornou ao Brasil, dedicando-se à faina de redigir e polir seus


sermões.

Dentre os inúmeros sermões de Vieira, é de leitura obrigatória:

Sermão da Sexagésima
Proferido na Capela Real de Lisboa, em 1655.
Sermão da Primeira Dominga da Quaresma
Pregado no Maranhão, em 1653, em que tenta
persuadir os colonos a libertarem os indígenas.
Notas importantes sobre Padre Antônio Vieira


 Tecia crítica aos pregadores cultistas;

 Conhecia a língua dos nativos e dos africanos;

 Mesclava vários registros (do alto, do baixo, do culto, do popular) em um


só trecho.

 Quando alguém tinha dificuldade para entender algo da pregação,


mandava ler atentamente o Exórdio. Nele estariam expostas as razões
do sermão e os objetivos do sermonista.

Glossário
Exórdio: Primeira parte do discurso que lhe serve como um prefácio.
Estrutura dos Sermões


 Exórdio
 Invocação
 Desenvolvimento
 Peroração.

Sermão da Sexagésima: trechos

Pregado na Capela Real, no ano de 1655.

Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11.

I

E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso
de luz. Logo, há mister luz, há mister
espelho e há mister olhos. Que coisa é a
conversão de uma alma, senão entrar um
auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como homem dentro em si e ver-se a si mesmo?
vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e Para esta vista são necessários olhos, e
ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe necessária luz e é necessário espelho. O
de tão longe. pregador concorre com o espelho, que é a
doutrina; Deus concorre com a luz, que é a
[...] graça; o homem concorre com os olhos, que
é o conhecimento. Ora suposto que a
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode conversão das almas por meio da pregação
proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, depende destes três concursos: de Deus, do
ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma pregador e do ouvinte, por qual deles
alma se converter por meio de um sermão, há-de haver devemos entender que falta? Por parte do
três concursos: ouvinte, ou por parte do pregador, ou por
parte de Deus?
há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo;
há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, [...]
percebendo; há-de concorrer Deus com a graça,
alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são
necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem
espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se
tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta
EXERCÍCIOS


1. (FUVEST – SP) A respeito do Padre Antônio Vieira, pode-se afirmar:

A) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana não se ocupou de problemas
locais.
B) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava.
C) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos.
D) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-o para justificar todos os
acontecimentos políticos e sociais.
E) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos.

02. Qual a figura de linguagem presente no trecho destacado?


A) Metonímia B) Paradoxo
C) Metáfora D) Eufemismo
E) Sinestesia
3. (UFSM 2007) a) problemática da pregação religiosa,
considerando as figuras dos pregadores e
Leia o trecho a seguir. dos fiéis.

Por isto são maus ouvintes os de


entendimentos agudos. Mas os de vontades
 b) necessidade do engajamento dos fiéis
nas batalhas contra os holandeses.

endurecidas ainda são piores, porque um c) perseguição sofrida pelo pregador em


entendimento agudo pode-se ferir pelos função do apoio que emprestava a índios e
mesmos fios e vencer-se uma agudeza com negros.
outra maior; mas contra vontades endurecidas
nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana d) exortação que o pregador fazia em favor
mais, porque quando as setas são mais agudas, de seu projeto de criar a Campanha das
tanto mais facilmente se despontam na pedra. Índias Ocidentais.
Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas,
que ainda são piores que as pedras. e) condenação aos governantes locais que
desobedeciam aos princípios do
(Sermão da Sexagésima, de Pe. Antônio Vieira.) mercantilismo seiscentista

Pelo trecho reproduzido, pode-se concluir


que o Sermão da Sexagésima trata da

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