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Barroco

... Surgido no contexto da Contr arreforma, o Barroco foi um


estilo marcado pelo dualismo e rebuscamento...
Introdução ao Barroco
Par a que possamos compreender melhor o período Barroco,
devemos relem br ar o contexto histórico que antecedeu o século
XVII .

Trovadorismo H umanismo Rena scimento

Início da Er a
Er a Medieval
Moderna
Deus no centro Fim da Er a
Homem no centro
de tudo Medieval
do mundo
Teocentrismo
Antropocentrismo

A Er a Medieval foi um período marcado pelo Teocentrismo,


doutrina segundo a qual Deus er a o centro do mundo, a explicação
de toda s as coisa s. Por isso, todo o poder cultur al estava
centr alizado na I greja Católica, que exercia gr ande influência na
sociedade daquela época. Então, o que mais importava par a o homem
naquele momento er a justamente a salvação de sua alma,
gar antindo a vida eterna.

Com o fim da Idade Média, no H umanismo, e o início da Er a Moderna,


no Rena scimento, prevaleceu o pensamento antropocentrista. Dessa
forma, o ser humano pa ssou a ter maior consciência de sua
dimensão física, de seu corpo, e a ssim seu principal objetivo er a
viver melhor, aproveitar a vida.
Essa mentalidade rena scentista foi um gr ande golpe par a a I greja
Católica. Além disso, a Reforma Protestante de Martinho Lutero
tam bém a balou a instituição cristã nesse período.

Tendo sua influência e seu poder a balados por esses dois motivos,
a I greja Católica partiu par a a ofensiva, posicionando-se contrária
aos valores modernos do Rena scimento e procur ando retomar, de
forma intensa, os valores cristãos. A esse movimento de reação da
I greja, damos o nome de Contr arreforma.
O momento de surgimento do Barroco foi exatamente o contexto da
Contr arreforma. Consequentemente, o ser humano desse período
viu-se no meio de dua s mentalidades bem diferentes:

X
Valores
Valores cristãos
rena scentista s
Teocentrismo
Antropocentrismo

Razão e Ciência
Espírito
Corpo
Salvação da Alma
Pr azer Físico

Além de ser dualista, ou seja, dividido entre mentalidades oposta s, o


ser humano do período barroco foi marcado pela angústia e pelo
sentimento de culpa, já que desejava, por exemplo, tanto os
pr azeres da carne quanto a salvação. Car acterizou-se, tam bém, por
expressar sua s crises, dores e sofrimentos advindos desse
dualismo.
Características gerais
Os dilema s vivenciados pelo ser humano no período barroco
tr ansformar am-se em diferentes expressões artística s. Em outr a s
palavr a s, o homem, dividido e atormentado por dua s mentalidades
diferentes, encontrou na arte uma forma de exprimir sua s
angústia s.

A principal car acterística barroca, portanto, é o dualismo – ser


humano sempre dividido entre mentalidades oposta s (bem X mal;
terr a X céu; céu X inferno; pecado X salvação). Esteticamente,
percebemos essa marca no jogo de contr a ste entre opostos.

Além de ser dualista, ou seja, dividido entre mentalidades oposta s, o


ser humano do período barroco foi marcado pela angústia e pelo
sentimento de culpa, já que desejava, por exemplo, tanto os
pr azeres da carne quanto a salvação. Car acterizou-se, tam bém, por
expressar sua s crises, dores e sofrimentos advindos desse
dualismo.
• Artes visuais: contr a stes entre claro e escuro, luz e som br a.
• Poesia: uso de figur a s de lingua gem par a marcar a s ideia s
contrária s – antítese, oximoro, par adoxo.
O exa gero é outr a car acterística do Barroco. Justamente por
sentir-se atormentado no meio de valores contr aditórios, o homem
extr ava sava sua s crises, dores e sofrimentos de maneir a explosiva
e com intensidade, deixando a r acionalidade de lado.

Além disso, outr a marca da s produções barroca foi o


rebuscamento, isto é, a expressão de forma complexa. Por estar
realmente confuso e dividido, o homem não se preocupava em
seguir a simplicidade e a clareza, tanto é que muita s vezes
construía fr a ses de maneir a invertida, quebr ando a ordem natur al
de construção das orações (sujeito + verbo + complemento) – hipérbato.
Exemplos das características barrocas

(Gregório de Matos)

(Gregório de Matos)
(Gregório de Matos)

(Gregório de Matos)
Os estilos do Barroco
No Barroco, existir am dois estilos diferentes que marcar am a s
produções literária s: o cultismo e o conceptismo.

• Cultismo
O estilo cultista apresenta obr a s de maior rebuscamento. Isso
porque sua ideia principal é tr a balhar com o jogo de palavr a s e,
par a isso, utiliza-se de um voca bulário mais intenso, bem como de
trocadilhos e “mala barismos” com a s palavr a s. Nos textos cultista s,
evidencia-se, portanto, a preocupação com a forma, em detrimento,
na maioria da s vezes, do conteúdo, que se torna esvaziado. Observe
um exemplo a seguir.

O todo sem a parte não é todo,


A parte sem o todo não é parte,
Ma s se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o sacr amento está Deus todo,


E todo a ssiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.

O br aço de Jesus não seja parte,


Pois que feito Jesus em partes todo
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sa bendo parte deste todo,


Um br aço, que lhe achar am, sendo parte,
Nos disse a s partes toda s deste todo.
(Gregório de Matos)
• Conceptismo
A palavr a “conceptismo” nos dá justamente a noção de qual é a
principal preocupação do estilo conceptista: o conteúdo. Assim, os
textos desse estilo preocupam-se com a concepção (construção)
de um jogo de argumentação, cuja principal intenção é envolver o
leitor em um r aciocínio, de modo a convencê-lo na defesa de uma
ideia. Há, portanto, predomínio do conteúdo, e não da forma. Confir a
o exemplo a seguir.

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,


Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.

Neste lance, por ser o derr adeiro,


Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hor a de se ver
A br andur a de um Pai manso Cordeiro.

Mui gr ande é vosso amor, e meu delito,


Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.

Esta r azão me obriga a confiar,


Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
(Gregório de Matos)
Barroco nas artes visuais
Na música, podemos encontr ar car acterística s barroca s na s obr a s
de Bach e Vivaldi, como o uso de muitos detalhes, acordes,
alternância de momentos fortes e fr acos, etc.

Johann Seba stian Bach Antonio Vivaldi

Na pintur a, um exemplo é a obr a A incredulidade de São Tomé, de


Car ava ggio, que apresenta a temática religiosa, com emprego do
jogo de luz e som br a e intensidade expressiva.

CARAVAGG IO. A i ncredu lidad e de São Tomé . Óleo sobre tela.


107 x 146. 1 c. 1601-1603.
Na escultur a, Aleijadinho é o principal nome. Observe na obr a
Fla gelação de Cristo, de sua autoria, a intensidade expressiva,
representando na face de Jesus Cristo sua dor e sofrimento.

ALEIJADINHO. F lag e la ção de Cr ist o .

A arquitetur a barroca er a ba stante rebuscada, apresentando uma


ornamentação exa ger ada. As fotos a seguir, por exemplo, são da
I greja de São Fr ancisco da Terceir a Ordem (Salvador/BA), exemplar
da tr adição barroca no país. Seu interior apresenta ricos detalhes e
relevos em ouro, tanto no altar quanto na s paredes de teto.
Essa última foto merece destaque. Ela retr ata o fundo simples da
I greja, local em que, no pa ssado, ficavam os escr avos. Assim,
percebemos o contr a ste riqueza X pobreza, rebuscamento X
simplicidade, remetendo-nos ao caráter dualista e contr aditório
desse período.
Os sermões de Vieira
Padre Antônio Vieir a é um dos principais representantes do
Barroco, tanto no Br a sil quanto em Portugal. Na scido em Lisboa
(1608) e falecido na Ba hia (1697), foi um importante padre jesuíta que
se destacou por ser um gr ande conselheiro religioso e político.
Dono de uma or atória invejável, foi um diplomata poderoso na
política e pode ser consider ado o “Maior Or ador da Língua
Portuguesa”.

Vieir a atuou em defesa dos índios, por quem er a chamado de Paiaçu


(G r ande Padre/Pai, em tupi), e dos cristãos novos
(recém-convertidos do Judaísmo), que er am recriminados pelos
cristãos velhos.

Além disso, com seu dom da palavr a, não exitou ao tecer fortes
crítica s sociais, política s e religiosa s, sendo inclusive chamado pelo
Tribunal da Inquisição par a prestar esclarecimentos, ma s se
defendeu e foi a bsolvido – demonstr ando seu gr ande poder de
or atória, argumentação e convencimento.

Na liter atur a, padre Vieir a produziu carta s de aconselhamentos e


exortações, ma s se destacou ao escrever sermões em prosa
barroca, que tinham como ba se a questão religiosa, ma s não se
limitavam apena s a ela s.

Utilizando-se de pa ssa gens bíblica s como fonte de argumentação em


discussões política s, sociais e religiosa s, Vieir a fez gr andes
reflexões sociais, política s e sobre o cotidiano daquele período.
Além disso, utilizou-se de recursos dr amáticos dur ante a s
pregações de seus sermões, bem como da Retórica ao empregar
seu poder de convencimento e persua são. Entre sua s obr a s,
ressaltam-se:
• Ser m ão pelo Bo m Sucesso das Armas de Portuga l Con tra as de
Ho la nda ;
• Ser m ão de Santo An tônio aos Pe i xes ;
• Ser m ão do Bo m Ladrão – crítica sobre o que é rou bar;
• Ser m ão da Sexagés i m a – demonstr a a arte de pregar.
verdadeir a doutrina; ou porque a terr a se não deixa salgar e os
ouvintes, sendo verdadeir a a doutrina que lhes dão, a não querem
receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma
cousa e fazem outr a; ou porque a terr a se não deixa salgar, e os
ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que
dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si
e não a Cristo; ou porque a terr a se não deixa salgar, e os ouvintes,
em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto
verdade? Ainda mal!”
(Padre Antônio Vieira)
Gregório de Matos
O início da poesia barroca no Br a sil data de 1601, com a pu blicação
de Prosopopeia, de Bento Teixeir a. No entanto, o maior expoente da
poesia barroca br a sileir a chama-se G regório de Matos.
G regório de Matos foi um bom representante dos conflitos e
contr a stes barrocos. Em sua vida, tendo circulado tanto em espaços
com valores rena scentista s quanto nos de valores cristãos – pecado
X salvação, igreja X esbórnia –, expressou o caráter dualista em
sua s obr a s, escrevendo poema s de conteúdos muito diferentes.
• Poesia lírica;
• Poesia religiosa;
• Poesia satírica.

Por isso, pelo fato de a bordar temática s tão diferenciada s, G regório


de Matos ficou conhecido por dois apelidos, a depender de sua s
produções.

Boca do “inferno” Boca do “céu”

Ao produzir: Ao produzir:
• poesia satírica • poesia lírica
• poesia erótica • poesia religiosa
• poesia encomiástica (homena gens)
• poesia lírico-amorosa

Devido às sua s car acterística s dualista s e contr aditória s, G regório


de Matos pode ser consider ado, ainda, um representante de toda s a s
faces barroca s. Confir a os exemplos de seus poema s a seguir.
• Cultismo barroco
Um soneto começo em vosso ga bo:
Contemos esta regr a por primeir a,
Já lá vão dua s e esta é a terceir a,
Já este quartetinho está no ca bo.

Na quinta torce a gor a a porca o r a bo;


A sexta vai tam bém desta maneir a:
Na sétima entro já com grã canseir a,
E saio dos quartetos muito br a bo.

Agor a nos tercetos que direi?


Direi que vós, Senhor, a mim me honr ais
Ga bando-vos a vós, e eu fico um rei.

Nesta vida um soneto já ditei;


Se desta a gor a escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o aca bei.

• Trecho de Definição do amor


[...]
O Amor é finalmente
um em bar aço de perna s,
uma união de barriga s,
um breve tremor de artéria s.

Uma confusão de boca s,


uma batalha de veia s,
um rebuliço de anca s;
quem diz outr a coisa, é besta.
• Retr ato da sociedade corrupta
Neste mundo é mais rico o que mais r apa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa.
O velhaco maior sempre tem capa.

Mostr a o patife da nobreza o mapa:


Quem tem mão de a garr ar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.

A flor baixa se inculca por tulipa;


Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostr a o que mais chupa.

Par a a tropa do tr apo vazo a tripa,


E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

• Poesia religiosa
Pequei, Senhor; ma s não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se ba sta a vos ir ar tanto pecado,


A a br andar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem par a o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobr ada


Glória tal e pr azer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacr a história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarr ada,
Cobr ai-a; e não queir ais, pa stor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

• Poesia satírica
TEVE O POETA NOTÍCIA QUE SEBASTIÃO DA ROCHA PITA SENDO
RAPAZ SE ESTRAGAVA COM BETICA

Brás pa stor inda donzelo,


Querendo desca baçar-se,
Viu Betica a recrear-se
Vinda ao pr ado de amarelo:
E tendo duro o pinguelo,
Foi lho metendo já nu,
Fossando como Tatu:
G ritou Brites, inda bem,
Que tudo sofre, quem tem
Rachadur a junto ao cu.

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