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Barroco
(1580 ou 1601 a 1756 ou 1768)
Contra-Reforma, no intuito de reaproximar o homem
de Deus, o celestial e o terreno, o religioso e o
profano, conciliando as duas heranças: medieval e a
renascentista. Daí o dualismo e o contraste formarem
o eixo espiritual ou teológico do Barroco.
Esse movimento de cunho religioso parte da
Espanha e Itália para o resto do mundo e caracteriza-
se, artisticamente, pelo antagonismo, aos moldes
Clássicos e renascentistas.
Cronologicamente, o Barroco surge logo após o
Renascimento. Revolucionariamente, à primeira vista
querendo destruir tudo o que caracterizava o
Renascimento, a ordem e o equilíbrio, o predomínio da
linha reta e pura, a clareza e nitidez de contornos
simétricos. No fundo, tentando uma conciliação, uma
fusão do ideal medieval, espiritual, supraterreno, com
os novos valores que o Renascimento colocou em
voga: o antropocentrismo humanista e o gosto pelas
coisas terrenas. Daí nasceu o Barroco, novo estilo de
vida, que traduz em suas contradições e distorções o
caráter dilemático da época, na arte, na filosofia,
religião e literatura.
O Barroco foi um movimento estético de
âmbito geral, espraio-se a todas as artes e em todos
os países. Na Espanha, houve um conceito de que toda
(A Conversão de Paulo – Caravaggio) a arte que se revelava sem freio de imaginação ou
exagerada na forma, podia ser considerada barroca.
● Considerações Gerais Na verdade, a arte barroca é audaciosa, sem limites de
forma. Encontramos, na literatura, abusos de imagens,
Chama-se Barroco a toda manifestação hipérboles, metáforas, antíteses, paradoxos,
exagerada, repleta de adornos, ou à ação nas artes e eufemismos, sinestesias, que se torna difícil penetrar
nas letras, na qual abundavam os enfeites de forma ou no seu sentido verdadeiro. Houve, logo de início, o
jogos de pensamento. Foi também um movimento propósito barroco em exagerar nos ornamentos.
artístico preso a certos movimentos espirituais. Surgiu,
como a Companhia de Jesus, do movimento da Contra- ● Fatores que propiciaram o surgimento
Reforma: da necessidade que sentia a igreja Católica
conservadora em unir o teocêntrico (literariamente,
do Barroco:
aqui, representado pela Idade Média), ao
antropocêntrico (representado pelo Renascimento). Dentre os acontecimentos que influenciaram o
Entretanto, voltar aos princípios religiosos do advento do Barroco, temos a reforma provocada por
medievalismo implicaria perder o que se conquistara Martinho Lutero, que reagiu contra os abusos da
no Renascimento. Confrontam-se, por isso, duas forças Igreja. Consolidando-se a Reforma, houve necessidade
opostas: teocentrismo religioso medieval (que a igreja de a Igreja conservadora manifestar-se na tentativa de
desejava reimplantar) e o antropocentrismo racional ganhar novamente o lugar perdido: é quando surge a
renascentista (que o homem não desejava perder). “Contra-Reforma” no Concílio de Trento. A Península
O homem da época tenta alcançar uma síntese Ibérica (Portugal e Espanha) torna-se o centro da
desses valores, isto é, conciliar razão e fé, “Contra-Reforma”, na tentativa de retornar à direção
espiritualismo e materialismo, carne e alma. perdida a partir da “Reforma Protestante” que abalara
o prestígio da Igreja Católica conservadora.
Notadamente, a Espanha se torna o foco
irradiador das forças religiosas. Nesta ocasião, funda-
Antropocentrismo se a Companhia de Jesus, lançando-se contra os
→ Tensão
adeptos de Lutero. Daí se dizer que as fontes da
literatura jesuítica se acham arraigadas dentro da
X estética barroca.
Todos esses fatos se refletem no homem da
época, colocando-o em conflito, e o condicionando à
formação de um outro homem, diferente do
renascentista, que tinha os pés na lógica racionalista
Teocentrismo
Tal atitude gera um estado de tensão do antropocentrismo. Essas características do “novo”
permanente, que se irradia para o modo de pensar, homem foram fornecidas pela Contra-Reforma.
para as ideologias políticas, para a estrutura social e, Enquanto o homem renascentista se volta para o
principalmente, para a arte produzida no período. O próprio homem, o homem barroco se volta para Deus
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e para as questões terrenas ao mesmo tempo, Renascimento. Sua falta de forma tem dentro de si
ocasionando em uma das características norteadoras algo de agressivo e auto-destruidor. Figura e espaços,
dessa nova estética: a tensão. homem e mundo já não se encontram em relação
harmônica.
Logo, sendo um produto de um período
ideologicamente marcado por tantos contrastes e
transformações, o Barroco caracteriza-se,
sobretudo, pelo gosto das contradições, do
conflito e dos paradoxos, rejeitando a ordem
estabelecida pela razão. Não existe mais para o
homem barroco, uma ordem antropocêntrica ou
uma ordem teocêntrica: o que existe é a fusão
das duas, numa nova ordem que a tudo
questiona. conflito e dos paradoxos, rejeitando a
ordem estabelecida pela raz Lutero. ar perdido:
● Aprofundando-se na estética
seiscentista:
A cosmovisão medieval, marcada pelo
radicalismo teocêntrico, é mitigada pela revolução que
o Renascimento imprime no pensamento do homem
que, agora, descobre-se mentor do seu próprio
destino. Assim, o divino, sob o impacto do
antropocentrismo, humaniza-se, propiciando um
deslocamento do olhar do sobrenatural para o humano.
O racionalismo consolida-se.
Na arte renascentista, nada é informe ou
disforme, o equilíbrio sucede as tensões. Por isso
poderíamos ver na Mona Lisa, de Leonardo da Vinci,
uma síntese da época. Seu quase imperceptível
sorriso, seu olhar plácido revelam ausência de tensões
e angústias, pois o homem, ao voltar-se para si
mesmo, crê na solidez do mundo.
No entanto, essa imagem harmoniosa da vida,
em meados do século XVI, começa a dissolver-se. O
indivíduo vê-se envolvido numa rede de contradições.
Tais contradições são resultantes do conflito entre as
concepções racionais da Renascença e a religiosidade
teocêntrica dos séculos medievais. Agora, o homem
perde-se nas incertezas: “To be or not to be?”. A esse
período, que marca a transição para o Barroco,
chamamos de 1Maneirismo
As cenas do Juízo Final, de Michelangelo,
pintadas na Capela Sistina, são mostras da destruição
da harmonia renascentista:
No Juízo Final (1534/1541), o espírito
maneirista domina já sem nenhuma delimitação. Já
não é mais um monumento de beleza e perfeição, de
força e juventude o que surge diante de nós e sim uma
imagem da confusão e do caos, do desespero, um grito
de libertação do caos que, de repente, ameaça devorar
tudo. O dever de entrega, de purificação de toda a vida
terrena, de purificação do corpóreo e do sensual
dominam a obra de arte. A harmonia espacial das
composições renascentistas desapareceu. Trata-se,
agora, de um espaço descontínuo, sem unidade. O
Juízo Final é o protesto violento contra o êxito da
forma bela, bem acabada e sem mácula do
1
Estilo artístico que consistiu numa espécie de desconstrução Percebe-se, desta maneira, que o Renascimento
da arte renascentista. Subjetivo, assimétrico e conflituoso, recusa a Idade Média, o Maneirismo encontra-se no
assinalou a transição para o Barroco (João Marcelo Rocha).
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centro do antagonismo entre as visões medieval e enquanto o anjo aponta para o celeste. No último
renascentista, o Barroco, por sua vez, tentará a verso do primeiro quarteto, o poeta funde o humano e
conciliação desses opostos. o sagrado: em quem senão em vós se uniformara?
Antes de questionarmos sobre essa tentativa – Na segunda estrofe, a dupla abordagem da
frustrada, acho – conciliatória da arte dos Seiscentos, mulher é clara. Primeiro, está expresso o desejo: no
convém pensarmos na classificação dada às verde pé de rama florescente, está a flor-mulher, que
expressões artísticas por Nietzsche, em Origem da o eu-lírico deseja colher para si. Nos versos seguintes,
Tragédia. O filósofo alemão elaborou uma teoria entre parece que o desejo arrefece, ou seja, esfria e,
a arte apolínea e a arte dionisíaca. novamente, dona Ângela está no pedestal, sendo
idolatrada.
“... O belo Apolo simboliza o desejo da forma No primeiro terceto, desmaterializada, a
contida, equilibrada e serena, que conduz à mulher está nos altares, exercendo o papel de anjo da
criação de um mundo compreensível, racional e guarda: livrara eu de diabólicos azares.
simétrico. Em oposição, a figura de Dionísio, Na última estrofe, logo no primeiro verso, o
desatinado deus do vinho, carrega consigo a halo sagrado do anjo é destecido pelos adjetivos bela e
imagem do desregramento, irracionalidade cega, galharda que, obviamente, são caracterizadores do
incontinência, sensualidade e liberação dos corpo. O verso final representa uma síntese desse
impulsos instintivos.” (Nietzsche) quadro de dualismos que o poeta vai pintando ao
longo das estrofes. O anjo é tentador.
Ao que parece, a função conciliadora do
Barroco não se faz sem conflitos. Os contornos
Diante das considerações de Nietzsche, maneiristas ou dionisíacos são evidentes. Por quê?
percebe-se que o Classicismo é a arte dos contornos Aqui, vale ressaltar, que na época do Barroco
apolíneos, o Maneirismo é dionisíaco. E o Barroco? ocorre a unificação da Península Ibérica. O brilho
Analisemos um dos mais célebres sonetos de conquistado pelos lusitanos, através das conquistas
Gregório de Matos. ultramarinas, apaga-se. Portugal amargará por
sessenta anos o domínio espanhol. Portugal e
Espanha, com o surgimento da Reforma Protestante,
“À mesma D. Ângela”
tornaram-se fortes redutos do Catolicismo. Unificados,
(Gregório de Matos Guerra)
os dois países construíram o palco ideal para o
desencadeamento da Contra-Reforma que, pela força
Anjo no nome, Angélica na cara,
do medo, do exército jesuítico, entre outros, busca
Isso é ser flor e Anjo juntamente,
resgatar os valores medievais. Entretanto, esse
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
resgate não foi capaz de apagar a evolução e as
Em quem senão em vós se uniformara:
transformações históricas: o homem ocidental
conheceu – a partir do Renascimento – o alargamento
Quem vira uma tal flor, que não a cortara
espacial da terra, as solicitações e atrações da vida
Do verde pé, de rama florescente?
humana, uma visão de liberdade se opõe à tradicional
E quem um anjo vira tão luzente
eternidade.
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Nesse estado de oposições, surge o Barroco
que, embora a serviço da Contra-Reforma,
Se pois como anjo sois dos meus altares,
movimenta-se como um pêndulo, ora se inclinado ao
Fôreis o meu Custódio e a minha guarda,
materialismo, ora voltando-se à religiosidade
Livrara eu de diabólicos azares.
carregada de culpas.
Como disse no texto anterior, o movimento da
Mas vejo, que de tão bela, e tão galharda,
arte barroca é pendular, oscilando entre o sagrado e o
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
profano.
Sois anjo, que me tenta, e não me guarda.
Para refletir enquanto você escuta Chico a) Requinte formal: O nível lingüístico dos
textos barrocos é sofisticado. O vocabulário é erudito,
Buarque!!! elevando as construções sintáticas a um certo
rebuscamento de suas formas, com uma linguagem
Se o autor barroco descreve a beleza de rica e bem trabalhada que reflete recursos imagéticos
uma mulher, vem-lhe logo ao pensamento a (imagem), tais como: excesso de antíteses e
efemeridade dessa beleza, aconselhando-a a hipérboles que expressam os aspectos contraditórios e
aproveitá-la ao máximo, pois breve acabará. exacerbados do mundo barroco.
Geralmente, a beleza feminina era comparada a b) Figuração: O autor barroco não se expressa de
uma rosa ou ao sol, que assim como surge e nasce, maneira direta e objetiva. Prefere a figuração (figuras
desaparece e morre. de linguagem), a sugestão através de metáforas e
outras figuras. Como já fora dito, o homem barroco
O homem barroco encara todos os aspectos está dividido entre o mundo espiritual e o mundo
da vida sempre num sentido transitório, material. Para expressar esse estado de alma, utiliza-
encaminhando-o à morte. se da antítese e do paradoxo.
A incapacidade desse homem de vencer a
c) Cultismo ou Gongorismo: É o
morte vai gerar uma concepção pessimista da vida.
rebuscamento formal caracterizado pelo jogo de
palavras e pelo excessivo emprego de figuras de
linguagem. Corresponde à tendência de explorar
Olha lá!!!
elementos de ordem sensorial, tais como: a
sonoridade, a cor, a forma, o volume, sugeridos por
O tema Carpe Diem (aproveitar o dia, vocábulos (palavras) raros, rebuscados, preciosos e
aproveitar a vida) não é exclusivo do Barroco. Na extravagantes, através da valorização do detalhe e das
verdade, toda a literatura de orientação clássica se construções de imagens, essencialmente,
utiliza do Carpe Diem, configurando-se como um descritivistas. O Cultismo predomina na poesia, mas
convite aos prazeres terrenos, ressaltando de que a pode ser encontrado no texto em prosa do Barroco.
beleza e a vida são efêmeras e que é preciso
d) Conceptismo ou Conceitismo:
aproveitar enquanto há tempo.
É o jogo de idéias, construída pelas sutilezas
do raciocínio e do pensamento lógico. É a linguagem
Presta atenção na tua vida!!! dos conceitos com o objetivo de ensinar, educar,
doutrinar ou, até mesmo, catequizar, como fora feito
Tome cuidado! Não considere Barroco todo pelos Jesuítas.
texto construído a partir de antíteses. Esse tipo de O Conceptismo é basicamente dissertativo,
figura pode ser utilizado em qualquer movimento levando o leitor a raciocinar. Manifesta-se,
literário. preferencialmente, no texto em prosa.
Só é Barroco o texto escrito entre os anos de e) Epicurismo ou Estoicismo: Epicurismo é
1580 a 1768, que sigam todas as características duais, uma doutrina filosófica de valorização do aspecto
contrastantes e conflituosas mencionadas já terreno, mundano e material, ditando ao homem que a
anteriormente. vida devia ser gozada com o máximo de prazeres e o
Observe: a letra abaixo da música “Quereres” de mínimo de sofrimentos; já o Estoicismo pratica o
Caetano Veloso, é construída através de oposições de contrário. No lugar dos prazeres e deleites sensuais,
idéias e de palavras, mas não é um texto barroco. aplicados pelo epicurismo, o estoicismo devia refrear
os instintos, valorizando a razão, objetivando uma
● Leia com atenção: certa rigidez moral, ainda que isso implicasse em dor e
sofrimento. Ambas correntes, advindas dos filósofos
gregos, podem ser encontradas na arte conflituosa,
“Onde queres o ato eu sou espírito conflitante, oscilante e contraditória do Barroco.
E onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde queres prazer sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói”.
G
A Mulher: há muitos poemas dedicados à figura
feminina. Porém, não é aquela mulher ideal como no
medievalismo. É muito mais a “mulher de carne”,
possuidora de belezas e atrativos carnais e, por isso,
transitórios.
Amor Místico x Amor Carnal: muitas vezes
regório de Matos Guerra, poeta do barroco brasileiro,
aparecem os autores barrocos reconciliados com Deus,
depois de ter tido uma vida pecaminosa. O eu-lírico nasceu em Salvador/BA, em 1633 e morreu em
pede perdão por seus pecados, buscando a salvação, a Recife/PE em 1696. Foi contemporâneo do Pe. Antônio
remissão para a sua alma. Vieira. Amado e odiado, é conhecido por muitos como
Natureza: os elementos da natureza aparecem "Boca do Inferno", em função de suas poesias que
nas obras dos autores barrocos para representar a satirizavam a sociedade baiana da época, muitas vezes
transitoriedade da vida, como exemplo da rosa, da flor, trabalhando o chulo em violentos ataques pessoais.
da planta, etc... Influenciado pela estética, estilo e sintaxe de Gôngora
e Quevedo, é considerado o verdadeiro iniciador da
literatura brasileira.
O Barroco no Brasil (1601-1768):
De família abastada (seu pai era proprietário
Século XVII a XVIII de engenhos), pôde estudar com os jesuítas em
As condições da colônia eram bem diferentes Salvador. Ainda muito jovem, vai para Portugal,
do luxo ostensivo das cortes européias apreciadores da formando-se em Direito pela Universidade de
arte barroca, e por essa razão, o Barroco apresenta, no Coimbra.
Brasil, algumas características específicas. É nomeado juiz-de-fora em Alcácer do Sal
As primeiras manifestações literárias em terras (Alentejo). Após alguns anos, torna-se procurador de
brasileiras eram ainda bem frágeis e presas aos Salvador junto à administração lisboeta.
modelos europeus. Volta ao Brasil pouco depois de 1678.
Não havia um público consumidor ativo e Quarentão e viúvo, tenta acomodar-se novamente
influente, mas já começavam a aparecer escritores na sociedade brasileira, tarefa impossível. Apesar de
nascidos na colônia e com eles surgiram as primeiras investido em funções religiosas, não perdoa o clero
manifestações ao sentimento nativista, ou seja, de nem o governador-geral (apelidado "Braço de Prata"
valorização da terra onde havia nascido. por causa de sua prótese) com seu sarcasmo.
Mulherengo, boêmio, irreverente, e possuidor de um
Não existia um sentimento de coletividade ou
legendário entusiasmo pelas mulatas, pôs muita
de grupo: nossa literatura da época foi fruto
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Lisonjeia outra vez impaciente a retenção de Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
sua mesma desgraça, aconselhando a esposa Da vossa alta clemência me despido;
neste regalado soneto Porque, quanto mais tenho delinqüido,
(Gregório de Matos Guerra) Vos tenho a perdoar mais empenhado.
“Buscando a Cristo”
(Gregório de Matos Guerra)
Quais são seus doces objetos?... Pretos. A Câmara não acode?... Não pode.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços. Pois não tem todo o poder?... Não quer.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos. É que o Governo a convence?... Não vence.
Mas no Sol e na Luz falte a firmeza, Mancebo sem dinheiro, bom barrete,
Na formosura não se dê constância, Medíocre o vestido, bom sapato,
E na alegria sinta-se tristeza. Meias velhas, calção de esfola-gato,
Cabelo penteado, bom topete.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza Presumir de dançar, cantar falsete,
A firmeza somente na inconstância. Jogo de fidalguia, bom barato,
Tirar falsídia ao Moço do seu trato,
Furtar a carne à ama, que promete.
Que me quer o Brasil, que me persegue? Ser homem embaixo do que burro em cima.
Que me querem pasguates, que me invejam?
Não vêem que os entendidos me cortejam,
E que os nobres é gente que me segue?
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Bahia.