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Barroco
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AULA
André Dias
Ilma Rebello
Marcos Pasche
Meta da aula
Apresentar o Barroco literário brasileiro, enfocan-
do-o dentro de um contexto histórico e estético,
relacionando-o a outras manifestações artísticas.
objetivos
GÊNESE BARROCA
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domínios pela via marítima. Isso era, inicialmente, mal visto e até mesmo
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impedido pela Igreja, à época alegando que a Terra não poderia ser
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circunavegada, e que os navegantes, ao cruzarem os mares em direção
ao horizonte, terminariam por cair em abismos onde seriam devorados
por monstros demoníacos.
Nas entrelinhas, o que se pode notar é que a Igreja temia, e por
isso bloqueava, tudo o que inspirasse a ideia de independência existencial
do homem, pois as religiões, via de regra, perpetuam sua existência e
poder por meio da subserviência intelectual de seus adeptos. E foi em
nome dessa tentativa de emancipação que despontou no século XV uma
tendência ideológica revolucionária no campo da filosofia, da arte e da
ciência: o Renascimento, que se difundiu e desenvolveu especialmente
na Itália, atingindo seu apogeu no século XVI, não por acaso o século
em que as grandes navegações tornaram-se cada vez mais constantes e
imprescindíveis para o enriquecimento europeu. Costuma-se dizer que a
Grécia representa o berço da civilização ocidental, ou seja, foi nela, em
seu período clássico, que se construíram e legitimaram ideias, valores e
costumes processados em todo o Ocidente durante séculos, e muito disso
vigora ainda hoje. Portanto, se uma corrente denomina-se Renascimento,
é sinal de que ela pretende resgatar valores e pensamentos próprios da
cultura do nascimento, o que se traduziu, também, pelo recuperar do
racionalismo em detrimento da fé cristã: se a Igreja medieval pregava o
teocentrismo, o Renascimento, inspirado pela cultura helênica, defendia
o antropocentrismo.
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Figura 20.2: A dama do arminho (Leonardo Da Vinci). O
equilíbrio dos traços e das formas ilustra o racionalismo
renascentista.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dama_com_Arminho
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Se o interior do homem barroco é impregnado de conflito, a
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linguagem artística do estilo será a imagem exterior de uma carga
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intensamente passional. Seja na arquitetura, na pintura, na escultura, na
literatura, na música, no teatro e, mais recentemente, no cinema, a forma
barroca está sempre associada às antíteses e ao exagero discursivo, em
desacordo com a linearidade e a contenção da linguagem clássica. Em
geral, a obra barroca é uma opulência de imagens e símbolos, palavras
e sons, gestos e referências, evidenciando, desse modo, uma angústia
sempre prestes a explodir.
O BARROCO NO BRASIL
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Mas nos parece mais apropriada a explicação baseada no fato
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de o pensamento do homem, bem como sua forma de se exprimir, não
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serem determinados por calendários, daí não ser absurdo que hoje algum
artista produza obras semelhantes às de um estilo de cem, duzentos ou
quinhentos anos. A mais, o Barroco se incorporou muito bem à cultura
brasileira, e dela foi criador e criatura. Nada mais esperável que perma-
necesse como tendência por bastante tempo.
Voltando à literatura barroca, os historiadores situam seu surgi-
mento no Brasil a partir da publicação do livro de poemas Prosopopeia,
de Bento Teixeira, em 1601. Em arte, esses estabelecimentos cronológicos
costumam ser meramente didáticos. Apesar da proeminência, Teixeira
não foi um autor representativo, assim como o também poeta Botelho
de Oliveira. Entretanto, mesmo com a inexistência de uma vida cultural
dinâmica e cosmopolita, o Barroco nacional foi bastante expressivo,
especialmente pela prosa de Padre Antônio Vieira e pela poesia de Gre-
gório de Matos.
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Ora, suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois
Deus o disse, perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos
distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nós
também somos pó: em que nos distinguimos uns dos outros?
Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o
pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído: os
vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet (“aqui
jaz”). Estão essas praças no verão cobertas de pó; dá um pé-de-
vento, levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos,
e muitos vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda,
corre, voa, entra por esta rua, sai por aquela; já vai adiante, já
torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba,
tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar,
nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o
vento, cai o pó, e onde o vento parou, ali fica, ou dentro de casa,
ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou
no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e
que vento é este? O pó somos nós: Quia pulvis es (“que pó és”);
o vento é a nossa vida: Quia ventus es vita mea (“minha vida é
como o vento”). Deu o vento, levantou-se o pó; parou o vento,
caiu. Deu o vento, eis o pó levantado: esses são os vivos. Parou o
vento, eis o pó caído: estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos
pó; os vivos pó levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com
vento, e por isso vãos; os mortos pó sem vento, e por isso sem
vaidade. Esta é a distinção, e não há outra.
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ela não segue um padrão linear de desenvolvimento. A todo o momento
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são feitas idas e vindas, repetições de perguntas, o que se assemelha ao
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traço circular e curvo da pintura e da escultura barroca.
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Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome, que me dais,
Meteia a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.
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ATIVIDADE
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Atende ao Objetivo 1
Texto I
Texto II
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Texto III
RESPOSTA COMENTADA
Resposta em aberto, pois a questão depende das escolhas e da sua
interpretação. Mas espera-se que sejam feitas referências a alguns
elementos da estética barroca, como a forma cultista, conceptista e
antitética da linguagem, além do conteúdo religioso e/ou conflitivo
de alguns textos.
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CONCLUSÃO
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AULA
Não convém desenvolver as aulas universitárias com base na forma
convencional das aulas do Nível Médio. Mas tendo em vista a possibili-
dade elementar de você atuar futuramente como professor do que antes
se chamava segundo grau, cabe listar as características elementares que
se atribuem ao Barroco:
– religiosidade;
– constatação da efemeridade da vida;
– carpe diem;
– dualismo;
– recorrência de antíteses e paradoxos;
– exagero;
– dramaticidade;
– cultismo (rebuscamento textual);
– conceptismo (a ideia do texto é apresentada exageradamente e de
maneira distorcida).
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ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 2
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Texto
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O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte fez todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
RESPOSTA COMENTADA
Você deverá observar que o poema tem uma linguagem conceptista na medida
em que uma única ideia (o todo, sem uma de suas partes, deixa de ser todo) é dita
de variadas formas exageradamente. Em O êxtase de Santa Teresa, predomina o
traço curvo, atingindo um ápice nas exacerbadas dobraduras da vestimenta da santa.
Tal aspecto é um forte traço de diferenciação entre a arte barroca e a arte clássica.
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RESUMO
LEITURA RECOMENDADA
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