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Apresentação
O Barroco português compreende as manifestações artísticas ocorridas entre os anos de 1600 e
1700. Esse período também é conhecido como Seiscentismo ou Escola Espanhola, por
compreender a produção artística do período de unificação da Península Ibérica, com o domínio da
Espanha sobre Portugal.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer mais sobre as marcas histórico-políticas
presentes nesse período cultural, bem como as características desse movimento, seus principais
artistas e obras.
Bons estudos.
Imagine que você está participando de um grupo de pesquisa sobre o Barroco português. A fim de
selecionar um estudante para representar o grupo em um congresso internacional, o coordenador
propõe um desafio:
Selecionar um texto (ou trecho de obra) e um autor que representem perfeitamente os principais
conflitos do homem barroco, justificando por meio de uma breve análise.
No Infográfico a seguir, você verá uma ilustração das metáforas utilizadas pelo Padre Antônio
Vieira em seu sermão para responder a essa pergunta e convencer seus fiéis.
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Conteúdo do livro
O Barroco pode ser resumido como uma expressão artística que tem origem nos diversos conflitos
religiosos, políticos e sociais do período. Em Portugal, o Barroco teve como um de seus maiores
representantes o Padre Antônio Vieira, confirmando o caráter religioso do período no país.
Boa leitura.
LITERATURA
PORTUGUESA: DO
TROVADORISMO
AO ARCADISMO
Introdução
A crise econômica e a crise dos valores renascentistas, acarretadas pelas
constantes lutas religiosas que Portugal travou ao longo do período
do Seiscentismo, proporcionaram o surgimento do estilo Barroco, que
representou, na arte, a busca do homem desse período por evadir-se
dessa crise e do constante estado de tensão em que se encontrava.
Neste capítulo, você conhecerá o contexto socio-político-cultural que
proporcionou o surgimento do Barroco, cuja principal característica é o
rebuscamento e o culto da forma próprios do homem seiscentista, bem
como conhecerá as principais obras e autores que marcaram esse período.
herdeiros, ocorre o início de uma nova dinastia, com o trono português pas-
sando às mãos dos espanhóis, com o reinado de Felipe II da Espanha. É uma
época de declínio econômico para o país, e, unida à Espanha, Portugal sofre
a decadência comercial e naval. Essas são as condições que influenciaram o
Barroco português, que durou até meados do século XVIII.
Em seu período inicial (1580–1640), Portugal é influenciado pelas mani-
festações culturais da Espanha, que vivia a época de ouro, com Calderon de
La Barca, Cervantes e Quevedo. O domínio da Espanha em todos os âmbitos
políticos e culturais é expressivo, chegando-se a denominar o Barroco portu-
guês de Escola Espanhola (NICOLA, 1999).
Essa situação criou uma forma diferente de Barroco no país: como forma de
oposição aos espanhóis, os escritores portugueses passaram a venerar a língua
lusitana por meio de simbolismos de enaltecimento dos antigos heróis, como
Vasco da Gama, Camões e D. Sebastião. Outra característica observada foi a
religiosidade adotada pelo Barroco português, inspirada na inquisição ibérica.
A longa duração do período Barroco na Península Ibérica (a partir do século
XVI até o século XVIII) é explicada pela defesa da contrarreforma por ambos
os países — Portugal e Espanha — e pela restauração da coroa portuguesa,
iniciada por volta de 1640, com o conflito militar que levou ao trono o primeiro
rei da dinastia de Bragança: D. João IV. Durante esse reinado, Portugal vive,
com a descoberta de ouro no Brasil, em Minas Gerais, um novo período de
riqueza e esbanja luxo e suntuosidade religiosa na corte e nas construções de
palácios e templos monumentais.
O Barroco português
Ao considerar o Barroco como um movimento ligado ao Absolutismo, a
compreensão dos princípios e das características desse movimento se torna
mais clara. Esse movimento ocorre pela centralização do poder dos reis, os
quais estavam em perfeita sintonia com a Igreja, reforçando o papel da auto-
ridade do papa. Isso é sentido, principalmente, na arquitetura, mas também
em outras formas de arte, como na pintura e na literatura, que refletem os
ideais da Igreja Católica, com uma arte mais homogeneizada e controlada
por essa instituição.
O Barroco pode ser resumido como uma expressão artística que foi resultado
de diversos conflitos religiosos, políticos e sociais. Nesse sentido, o período
Barroco foi um reflexo de sua época: pessimista, instável, contraditório, dra-
mático. O Barroco em Portugal, segundo Saraiva e Lopes (1967), passa de um
Barroco português 3
A arte barroca
A arte barroca é marcada pela angústia do homem do período Seiscen-
tista, um ser humano atormentado por dúvidas existenciais. As obras dos
principais artistas desse período, como Rembrandt (Holanda), Velásquez
(Espanha) e Caravaggio (Itália), expressam as contradições da época.
(ABAURRE; PONTARA, 2005, p. 165).
Um dos artistas mais conhecidos desse período é Diego Velásquez, que se destacou
pela intrigante obra As meninas (Figura 1). A composição do quadro apresenta pontos
curiosos, uma vez que se sabe quem são algumas das personagens ali retratadas, como
a princesa Margarida Teresa, filha de Filipe IV de Espanha, que seria a figura central do
quadro. No entanto, alguns elementos do quadro são curiosos: Vélasquez retratou a
si mesmo olhando como que para fora do quadro, para seu observador. Além disso,
ao fundo, é possível ver um espelho, onde estariam retratados os reis Felipe e Maria
Ana da Áustria. Por sua composição e diversas personagens curiosas, há muitas teorias
interpretativas sobre esse quadro.
Fonte: Observador (2015).
4 Barroco português
A literatura barroca
Apesar da grande influência do conceito barroco na arte e na arquitetura, é pos-
sível afirmar que a maior expressão do Barroco em Portugal se dá na literatura.
Suas obras seguem, em um primeiro momento, um estilo influenciado pelos
espanhóis, uma vez que “[...] a Espanha é o principal foco irradiador do novo
estilo [...]” (NICOLA, 1999, p. 85). No entanto, como visto anteriormente, os
portugueses encontram formas de manter o seu orgulho, como, por exemplo,
por meio da língua lusitana e pelo enaltecimento dos antigos heróis.
Como se sabe, uma vez que o estilo Barroco se originou na crise dos
valores renascentistas e na crise econômica vivida por Portugal, isso será
sentido na forma da escrita dos autores barrocos. Ou seja, o estado de
“tensão e desequilíbrio” experimentado pelo homem do Seiscentismo
Barroco português 7
Conta e Tempo
Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo [...]
Sermão da Sexagésima
Algum dia vos enganastes tanto comigo, que saíeis do sermão muito
contentes do pregador; agora quisera eu desenganar-vos tanto, que
saíreis muito descontentes de vós. Semeadores do Evangelho, eis aqui
o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens
saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não
que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal
os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições
e, enfim, todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si,
descontentem-se embora de nós. Si hominibusplacerem, Christusservus non
essem, dizia o maior de todos os pregadores, S. Paulo: Se eu contentara aos
homens, não seria servo de Deus. Oh, contentemos a Deus, e acabemos
de não fazer caso dos homens!
O Barroco português possui alguns outros autores cujas obras só foram descobertas
muito tempo depois. Soror Mariana Alcoforado é um desses autores. Ela é autora
de cinco cartas de amor que foram publicadas com o título Les Lettres Portugaises, cuja
autoria só foi revelada em 1810.
Mariana Alcoforado foi uma das religiosas da Ordem de Santa Clara, do Convento
da Conceição de Beja, local onde atualmente funciona o Museu Regional da cidade.
A autora nasceu em Beja, em 22 de abril de 1640, e entrou na clausura com 11 anos,
exercendo cargos como porteira, escrivã e vigária, durante a sua longa vida conventual.
Faleceu em 28 de julho de 1723, com 83 anos.
ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. Literatura brasileira: tempos, leitores e leituras. São Paulo:
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12 Barroco português
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Leituras recomendadas
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Dica do professor
Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, mas veio com a Companhia de Jesus para o Brasil, onde
catequizava os índios. Ele é conhecido por seus sermões críticos. No Sermão do Espírito Santo,
pregado no Maranhão, afirma que nas terras do Maranhão é mais necessário o amor que a
sabedoria, por dois motivos fundamentais: a qualidade de seus habitantes e a dificuldade das
línguas.
Nesta Dica do Professor, veja uma análise deste Sermão, observando as características do Barroco
presentes nele.
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Exercícios
1) A batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, foi, sem dúvida, um marco que levou Portugal a uma
nova fase de sua história. Esse período representou a crise dos valores renascentistas e a
entrada em um novo momento cultural e político da história de Portugal.
A) O Império de Portugal se une aos vizinhos do Reino de Espanha para dar força ao Império
Ibérico, o que proporciona o contexto de surgimento do Barroco português e a expansão da
cultura ibérica pelo mundo.
C) Após a batalha, o império português entra em declínio, com o trono passando aos espanhóis,
que, por sua vez, influenciaram Portugal por meio de suas manifestações artísticas e culturais.
B) por meio da exaltação da língua portuguesa e dos heróis nacionais, os artistas portugueses
conseguiram evitar a influência espanhola em sua arte barroca, impedindo qualquer
penetração espanhola em sua arte.
C) a fim de evitar a influência espanhola, os artistas portugueses não trabalhavam com a
temática religiosa, de modo a não se aproximarem das temáticas propostas pelo Barroco
espanhol.
D) a influência espanhola se deu de forma tão expressiva que os textos portugueses seguiam a
temática e a língua espanhola, de tal forma que o Barroco português passou a ser conhecido
como Escola Espanhola.
E) a influência espanhola foi muito expressiva no início, porém não se deu sem resistência: os
escritores portugueses passaram a venerar a língua lusitana de forma simbolista e exaltando
seus heróis.
B) O Barroco português estava totalmente ligado ao poder do rei; por esse motivo, a arte refletia
o paganismo da época.
4) O Barroco pode ser resumido como uma expressão artística que foi resultado de diversos
conflitos religiosos, políticos e sociais.
A) simplicidade e ambiguidade.
C) dualidade e rebuscamento.
D) detalhismo na arquitetura e simplicidade na linguagem.
E) religiosidade e simplicidade.
5) Alguns nomes que concretizaram a manifestação literária barroca em Portugal, por meio de
cartas, prosa, drama, sermões ou teatro, são Francisco Rodrigues Lobo, considerado o pai do
Barroco português, com sua obra Corte na aldeia, Frei António das Chagas e Antônio Barbosa
Bacelar.
Porém, nomes relevantes do Barroco português são Padre Antônio Vieira e Antônio José da
Silva, conhecido como O Judeu. Sobre esses autores e suas obras, é correto afirmar que:
A) Padre Antônio Vieira é o nome de maior destaque do Barroco português, especialmente por
conta de suas peças de teatro, por meio das quais catequizava os índios colonizados.
B) a obra de Padre Antônio Vieira permaneceu anônima até o século XIX, perdida entre os
escritos barrocos distribuídos pelo solo colonizado do Brasil, e sua autoria foi duvidosa até a
comprovação.
C) a obra de Vieira retratava sua vida particular, sendo composta por cartas de amor em que
refletia a dualidade do homem seiscentista, com temática de amor e morte e sem influências
religiosas.
D) Antônio José da Silva era um exímio orador; portanto, sua obra foi basicamente transmitida
de forma oral aos índios, o que impediu os registros escritos e dificultou a coletânea de seus
sermões.
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