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Contexto Histórico

O século XVI foi marcado, historicamente, pela crise dos valores


Renascentistas, uma época em que a população questionava os valores cultuados
pela Igreja Católica. Com o aparecimento de revoltas religiosas, — sendo a Reforma
Protestante de Martin Lutero a principal delas — e, consequentemente, a perda de
fiéis do catolicismo, a Igreja Católica viu-se obrigada a retomar o seu poder.

Nesse contexto, surge a Contrarreforma, um movimento católico de resgate


às ideias teocêntricas, com o intuito principal de frear a perda de seus fiéis,
majoritariamente os que pertenciam à classe burguesa. Inserido nesse cenário, o
barroco foi um movimento ensaiado pela Igreja Católica que visava difundir os
ensinamentos religiosos por meio da arte.

Portanto, o barroco e caracterizado por forte influência religiosa, devido ao


contexto histórico marcado pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma. No
entanto, ao lado de tanta religiosidade, havia também, na época, um forte apelo aos
prazeres sensoriais, bem como o desenvolvimento da retórica ao se avaliar e julgar
os acontecimentos da sociedade da época. Desse modo, o estilo configura-se,
basicamente, na aproximação dos opostos.

Portugal
O Barroco em Portugal teve início em 1580, ano da morte de Luís de Camões,
um dos maiores escritores clássicos de língua portuguesa.

Inicia-se durante o período de colonização do Brasil e de diversos conflitos


com os holandeses. Eles tentavam conquistar parte do território que estava sob
domínio português.

Além disso, o surgimento da União Ibérica, diversos conflitos com a Espanha


e a Guerra de Restauração, enfraqueciam ainda mais o país. Esses fatores foram
essenciais para o surgimento de uma grande crise econômica, política e social no
país.

Assim, Portugal estava sob o domínio espanhol e lutava pela independência

No geral, a Europa enfrentava momentos de crise entre o humanismo


renascentista e o medievalismo religioso.

O Barroco desenvolveu-se dentro de um período que alternava momentos de


depressão e pessimismo com instantes de euforia e nacionalismo. É uma época de
crise, turbulência e incertezas que serviu de inspiração para uma arte dinâmica,
violenta, perturbada, diferente da clareza, do racionalismo e da serenidade
desejados pelos clássicos.
Brasil
O Barroco foi o estilo artístico dominante no Brasil durante a maior parte do
período colonial, encontrando um terreno receptivo para um rico florescimento. Fez
sua aparição no país no início do século XVII, introduzido por missionários católicos,
especialmente jesuítas, que para lá se dirigiram a fim de catequizar e aculturar os
povos indígenas nativos e auxiliar os portugueses no processo colonizador. Na
literatura, o marco inicial do barroco é a publicação da obra “Prosopopeia” (1601) de
Bento Teixeira.

Não havia ainda uma ideia de Brasil como nação, a identidade do país estava
em construção. A principal influência cultural era portuguesa. Dessa maneira,
a religiosidade cristã ditava o comportamento das pessoas da época, comandadas
pela Igreja Católica

Pelo nosso país ser uma colônia de Portugal, naturalmente, o barroco


brasileiro sofreu forte influência portuguesa, principalmente após o descobrimento
das minas de ouro e pedras preciosas.

Minas Gerais, por ser o estado onde foi encontrado o maior número de
jazidas, e o Nordeste, por seu desenvolvimento atribuído à cana-de-açúcar, foram
as regiões do país mais influenciadas pela arte barroco

Aliado à exploração de ouro, que passou a ser a principal atividade econômica


desenvolvida, o aumento da população propiciou um forte desenvolvimento
econômico.

O Barroco desenvolveu-se em um período especial, época em que Portugal


passava por momentos de pessimismo, fato que tornou a literatura barroca
diferente dos clássicos conhecidos na época.

No Brasil o Barroco iniciou-se a partir do ciclo do ouro, e foi a primeira escola


artística que conseguiu criar expressões tipicamente brasileiras, um fato muito
importante para o começo de um sentimento nacionalista.

Características
Considerando que durante o período do Barroco enfrenta-se ao mesmo
tempo que uma forte influência religiosa, tanto vindo da Reforma e da
Contrarreforma, há uma forte aproximação a natureza humana. A oposição e o
conflito da época deságuam e descrevem inteiramente o Barroco em sua produção
literária.

Assim, a influência religiosa foi marcante na formação dos autores barrocos.


Como consequência essa religiosidade, havia também um forte apelo aos prazeres
sensoriais, um desejo de se entregar à mundanidade.

Entre os muitos temas que as obras barrocas discorrem estão principalmente


os que contemplam e criticam:
• Fragilidade Humana
• Velocidade do Tempo
• A vaidade
• Contradições do Amor

Linguagem
A Linguagem do Barroco é provocadora, rebelde, culta e detalhada. Ela
retrata a inquietação, a inconformidade do homem e o seu conflito do corpo e da
alma, da razão e da fé (dualismo e contradição). Isso tudo em virtude do contexto
histórico em que se insere, especialmente ao Renascimento e à Contrarreforma

O Barroco se destaca ao apresentar dois estilos: Conceptismo e Cultismo

O Cultismo, também chamado de jogo de palavras, se concentra na beleza do


texto, ou seja, o uso de termos cultos, linguagem rebuscada e na construção
ornamental da forma do texto das ideias apresentadas. Além disso vale pontuar o
constante uso de figuras de linguagem como hipérbole, sinestesia, antítese,
paradoxo, metáfora e outras.

O Conceptismo, também chamado de “jogo de ideias”, se concentra na


retórica e na construção de ideias, ou seja, na capacidade de se construir um
argumento e convencer o seu interlocutor. Valoriza-se os argumentos racionais o
pensamento lógico e o conteúdo do texto e desse estilo se pontuam duas formas de
construir esses argumentos:

O Primeiro é o Silogismo, que foi criado por Aristóteles, ele se constrói a


partir de duas afirmações que não se cancelam e se complementam e através da
dedução resultam em uma conclusão coesa fazendo que a argumentação seja
sustentada em duas vias por exemplo:

• Augusto é Manauara
• Todo Manauara nasceu no Amazonas
• Logo, Augusto nasceu no Amazonas

O segundo é o Sofismo, uma argumentação designada aos Sofistas pois ela


foi feita para se induzir ao erro. Ela segue a mesma estrutura do Silogismo, mas a
conclusão é por vezes paradoxal e insustentável fora da estrutura do Sofisma por
exemplo:

• O Augusto é branco
• O quadro é branco
• Logo o Augusto é o quadro
Padre Antonio Vieira
Padre Antônio Vieira foi um orador, filósofo, escritor e um dos missionários
enviados para a catequização dos índios (conversão para a religião católica) na
conquista do Brasil, no século XVII

Suas habilidades linguísticas impecáveis, sobretudo em retórica e oratória,


tornaram-no o pregador oficial da corte portuguesa por um período. E suas ideias
pouco convencionais levaram-no até mesmo à prisão por heresia.

Os sermões do Padre Antônio Vieira apresentam características como: culto


ao contraste, rebuscamento da linguagem. Foi um exímio pregador no Brasil e em
Portugal, dizia que “pregar é como semear” e foi pela forma do sermão que o
sacerdote encontrou um modo de disseminar seus pensamentos políticos e
religiosos em linguagem trabalhada com afinco, bem-acabada e ricamente
argumentativa, reverberando nos leitores e ouvintes o grande poder da Igreja
Católica e do reino português.

São exemplos de evangelização, da grande utopia de um catolicismo


universal, o que envolvia, para Vieira, a necessidade de grandes reformas
administrativas na colônia brasileira, misturando assuntos de ordem espiritual aos
de ordem material, como a economia açucareira e o modo de produção
escravocrata. Ousado, o padre autor lança mão de críticas mordazes aos vícios dos
colonos e à corrupção da administração colonial.

Gregório de Matos
Gregório de Matos foi um dos mais conhecidos poetas da literatura feita
durante o século XVII, período da cultura colonial brasileira.

Muitos de seus versos são ácidos, satíricos e refletem uma postura crítica à
administração colonial – excessivamente localista e burocrática –, à fidalguia
brasileira, ao clero moralista e corrupto e a quem mais compusesse a degradada
sociedade colonial, o que lhe rendeu o apelido de Boca do Inferno

As obras de Gregório de Matos possuem duas vertentes: a satírica, composta


dos versos de escárnio pelos quais ficou conhecido e que lhe renderam a alcunha de
Boca do Inferno, e a lírico-amorosa, cujos poemas dividem-se entre temas sacros e
do amor sensual. O poeta reverbera em sua obra características literárias
do barroco, como a moralização da vida terrena, o caráter contra reformista, o
dualismo e a angústia humana.

Gregório de Matos escreveu sonetos, quadras, sextilhas e poemas em formas


diversas, sempre rimados e geralmente seguindo o esquema métrico regular,
vigente no período (e que facilitava a memorização). É nos sonetos que se encontra
sobretudo a influência barroca de sua obra, com silogismos, uso abundante
de figuras de linguagem, jogos de palavras e oposições (sagrado-profano, amor-
pecado, sublime-grotesco etc.).

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