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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Arte e
Representação
Barroca

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Barroco
O termo “barroco” é utilizado recentemente para caracterizar algumas questões artísticas,
no entanto, a palavra já existia, apenas o seu significado foi alterado.
A grafia e o significado moderno do mesmo aparecem pela primeira em Colóquio dos
simples e drogas e causas medicinais da Índia, de 1563, da autoria de Garcia da Orta.
Este vai utilizar a palavra barroco para caracterizar a forma irregular das pérolas
encontradas nesse território.
Garcia da Orta descreve as pérolas como sendo, “uns barrocos mal-afeiçoados e não
redondos”, esta palavra serve para caracterizar uma forma imperfeita, não redonda e mal-
afeiçoada. É a partir da utilização da palavra neste contexto que vemos o termo aplicado
a algo na perspetiva de algo que não é perfeito.
O Barroco é, mais tarde, definido por Rafael Bluteau em 1712, em Vocabulário Português
e Latino, como uma pedra tosca, algo imperfeita e irregular.
No Dicionário da Língua Portuguesa de António de Moraes Silva, em 1789, entra uma
ideia de grande importância, a associação do Barroco à natureza – penedos, rochedos, etc.
–, mais especificamente a um penedo pequeno irregular.
É sobretudo a partir do século XIX que a expressão “Barroco”, com esta nomenclatura
imperfeita, começa a ser relacionada à escultura, à pintura, à arte. Estando sempre a ela
associada um ideia pejorativa.
O Barroco é, no fundo, um género de arte, uma fase de um qualquer momento artístico,
que tal como as pérolas descritas com o mesmo termo por Garcia da Orta, têm um sentido
pejorativo, de imperfeição, posteriormente, é adicionada uma terceira ideia, a da
extravagância.

Historiografia: Barroco vs. Renascimento


• Heinrich Wölfflin (Renaissance und Barock, 1888)
O conceito de Barroco é como que inventado pela historiografia alemã, o que Heinrich
Wölfflin faz nesta obra, que se centra no fenómeno do Renascimento, é procurar
caracterizar tudo aquilo que procede o Renascimento. Isto que é considerado uma
degeneração ao equilíbrio, ou até apenas uma degeneração a algo. Ele sistematiza e
analisa, detalhadamente, obras do período renascentista e anteriores, de forma a ver aquilo
que evolui e se transforma na arte.
As pinturas do Renascimento e do Barroco diferem tendo em conta os valores cromáticos,
e também o realismo que agora está presente na pintura barroca e que, na pintura
renascentista, não existia. A pintura do Renascimento segue o primado da linha em
oposição à mancha, a alteração que acontece como consequência do Barroco resulta de
uma evolução técnica.

Adoção Estilística
O mesmo acontecerá na produção escultórica, por exemplo, o que distingue duas
representações de David – uma de autoria de Michelangelo e outra de Bernini –, é a

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expressão facial, o movimento do corpo, e o facto de que se dá o rompimento dos cânones


greco-romanos, pois o cânone clássico deixa de estar na génese daquilo que é a produção
artística1.
A utilização do termo “Barroco” serve para se dirigir à produção cultural e artística de
uma determinada época, quase sempre em oposição ao Renascimento. O Barroco é
considerado, por Wöfflin, como um período centrado nos século XVII e XVIII.
Na obra Lo Barroco de Eugeni d’Ors, de 1944, estamos perante a utilização do termo
como uma categoria intemporal, uma expressão que designa a fase mais exuberante da
arte, toda e qualquer fase de uma corrente artística. Trata-se da evolução, compreende-se
então da fase final de uma corrente artística.
Na sua obra utiliza a janela do Convento de Cristo em Tomar como o arquétipo do
Barroco, podendo passar a deixar de ser considerada uma fase degenerativa da arte. A
partir desta, obra do século XX, temos de perceber que ele escreve tendo em vista os
historiados que lhes antecederam.
O Barroco é encarado como podendo ser uma nova fase de liberdade criativa, uma
corrente com características próprias.

Unidade e Diversidade
O Barroco vai estar ligado e dependente daquilo que são os contextos políticos de cada
região. É um dos movimentos mais longos, e vamos encontrar em todo o mundo aquilo
que é a representação física do Barroco nas suas produções culturais e artísticas, sendo
que vamos encontrar as primeiras mudanças na Itália.
É necessário perceber aquilo que são as especificidades dos territórios, as peculiaridades
que vão dar a diferentes barrocos, temos de perceber que há questões culturais que vão
ser profundamente marcantes.
Existem três modelos diferentes:
• Barroco da Contrarreforma
• Barroco do Absolutismo
• Barroco Protestante
Vai ser testemunhada uma difusão imensa por outros países, como é exemplo o Brasil, a
Índia e até em África, pois trata-se de uma absorção do que acontece na Europa
juntamente com as realidades locais, sobretudo nas artes decorativas.

Barroco da Contrarreforma
Este vai marcar os países católicos, mais precisamente os antigos domínios dos
Habsburgos: Itália, Espanha, Portugal, etc.
É na realidade um movimento cultural que acontece na Europa do século XVI e vai
promover uma rutura entre aquilo que são protestantes e católicos, e é desde logo
considerada uma rutura profunda.

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Adaptação artística.

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A Reforma conta como protagonistas com: Martinho Lutero, João Calvino e Henrique
VIII.
A Contrarreforma deu-se como resposta a uma reforma iniciada por Martinho de Lutero,
que conduziu a uma cisão efetiva da Europa, que levará a imensas consequências. Esta é
uma resposta da Igreja Católica aos Protestantes, algo de grande importância, pois, a arte
vai ser um verdadeiro instrumento, e é barroca.
• Paulo III (1534-1549)
• Júlio III (1549-1555)
• Paulo IV (1555-1559)
• Pio IV (1559-1565)
Tem uma base teórica no Concílio de Trento sendo a partir daqui que se vão decretar
novas orientações para os católicos, mas também para a expressão artística, o que é visível
no Barroco, sobretudo no século XVII.
Esta é uma arte que nasce como consequência de todas estas mudanças, de uma nova
realidade. Há uma nova visibilidade que se tenta dar à arte, há uma reflexão tendo em
vista os temas, pois a arte deve cativar; estes novos temas vão ao encontro da Igreja, uma
arte que chama à atenção, que causa impressões – vão-se mostrar os martírios das vidas
dos santos –, tendo o propósito de cativar.
O Barroco da Contrarreforma tem um peso imenso neste período, muito ligado às
diretrizes e orientações ligadas ao Concílio de Trento.
Roma vai constituir o grande modelo, o grande exemplo; as diretrizes começam a ser
aplicadas nesta cidade, por ser o palco da cristandade, onde vamos encontrar os exemplos
e matrizes daquilo que é o Barroco da Contrarreforma.

Barroco do Absolutismo
Este vai ser sobretudo marcante em França, mais precisamente na corte de Luís XIV,
sendo que vão ser trabalhadas as novidades sobre aquilo que é o barroco; por exemplo, o
palácio barroco nasce em França, é também a este que vão estar ligados alguns
componentes do retrato, etc.
Vai-nos transportar para novas realidades culturais e artísticas, que aparece a partir de um
período em que o poder dos monarcas se estabelece, que vai dar origem ao Absolutismo,
que se trata da concentração dos poderes numa única figura, a do rei. Esta nova realidade
vai ser fundamental nas culturas do século XVIII, um período marcado pelo luxo,
exuberância e pela riqueza.
O rei é soberano por graça de Deus, uma ideia proveniente da Teologia, ele é a
representação da lei viva, havendo apenas uma entidade acima do mesmo, no entanto é
necessário ter em conta que esta é uma entidade abstrata.
O Barroco do Absolutismo generaliza-se na Europa dos séculos XVII e XVIII, sendo que
Portugal também será um excelente exemplo para este tipo de Barroco, assim como no
da Contrarreforma.
• Luís XIV (1638-1715)

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• D. João V (1689-1750)
A arte é instrumentalizada para estar ao serviço do rei, é a imagem de marca de uma
governação forte, deve-se expor o rei da forma mais evidente, mostrando-se como um
soberano rico, melhor. Esta afirmação de poder vai ser vista nas procissões públicas, nos
palácios, em tudo aquilo que tiver um público e alvo civil.

Barroco Protestante
Estamos perante um realidade artística diferente que se desenvolve mais especificamente
nos Países Baixos (na Holanda) e na Bélgica. O enfoque nestas regiões é o quotidiano,
pois falamos sobretudo de burguesia, de uma arte dirigida a este grupo, que terá um
protagonismo imenso e muito importante, vai haver um consumo artístico que é
completamente diferente daquele que existia até agora.
Este terá um grande impacto na pintura; temos o surgimento de temas de costumes, de
paisagens, as cenas de género, as representação do quotidiano e os interiores domésticos
que serão também explorados.
• O Barroco depende sempre daquilo que é o contexto no qual se desenvolve, pois
são os contextos que definem aquilo a que chamamos estilos.

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Arquitetura Barroca
Quando falamos de arquitetura barroca falamos sobretudo de dois grandes paradigmas,
por um lado temos o paradigma de Itália e pelo outro temos o paradigma de França, o
primeiro é o grande paradigma da arquitetura religiosa, já o segundo diz respeito à
arquitetura civil. Trata-se de dois modelos formais que vão dar origem a realidades muito
diferentes.
Há uma questão fundamental ligada à arquitetura e ao espaço, a vinculação do espectador,
assim como a arquitetura o consegue fazer. De forma que o espectador se sinta veiculado
ao espaço, a arquitetura e o espaço interior podem ser idealizados de forma a captar a
atenção de quem lá está, assim como a convidar à participação de quem se encontra no
interior.
Esta articulação vai fazer-se de diferentes maneiras, pois o espaço interior também se faz
de diferentes maneiras: tendencial complexificação das plantas, por exemplo, as plantas
centralizadas não vão desaparecer, mas vamos encontrar uma tendência para complicar
as planimetrias; havendo também a junção de vários tipos de plantas.
• A Igreja do Gésu é caracterizada pela sua planta em cruz latina, com capelas
laterais intercomunicantes, estas que vão ser as mais usadas ao longo do século
XVII. A zona para acolher os fiéis é cada vez mais ampla, o altar-mor ganha cada
vez mais importância.
• Igreja de San Carlo alle Quatro Fontane
• Igreja de Sant’Ivo alla Sapienza
Um segundo aspeto importante é um que é transversal à arte barroca, a relação
privilegiada das formas curvilíneas, a linha curva, sendo formas mais movimentadas,
aplicando-se a tudo e não apenas à arquitetura. Na arquitetura é evidente nas plantas e nas
próprias fachadas, as linhas curvas dão movimento e dinamismo à arquitetura e permitem
a obtenção de efeitos lumínicos na arquitetura, por vezes são elementos complexos nas
obras dos autores.
Outro aspeto que caracteriza a arquitetura barroca é a atitude anticlássica que várias vezes
aparece, pois, o barroco vai transgredir as regras da Antiguidade, vai segui-las por vezes,
mas muitas mais vezes as irá romper; estas transgressões acontecem nas mais variáveis
maneiras.
• O barroco é uma estética de sensações, mas também de detalhes.
As transgressões são encontradas em momentos da arquitetura, em pilares, em colunas –
estas que nem sempre têm função estrutural, podem ter apenas uma questão decorativa, a
partir desta época passa a haver a utilização dos elementos da arquitetura de forma
ornamental.
Há uma subversão recorrente do classicismo, encontrada em elementos como uma coluna
invertida mais estreita na base e larga na parte superior, muito comum na arquitetura
barroca. As colunas salomónicas são também muito típicas da arquitetura barroca, estas
que diferem das clássicas, pois estavam caracterizadas por serem o mais simples possível.

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O fuste das colunas contorcido, recebe depois ornamentação, um dos elementos que será
aplicado em muitas circunstâncias.
Os frontões também serão alterados, sendo que vamos encontrar frontões interrompidos,
ou que vão ondular, sendo de algum modo alterados de algum classicismo, são elementos
arquitetónicos, mas também decorativos.
Está presente uma busca constante de efeitos, estes que se promovem nos espaços
barrocos acontecem pela importância que os efeitos lumínicos têm nos espaços. A
abertura de janelas acontece de um modo muito criterioso dos espaços, as fachadas da
arquitetura barroca são caracterizadas por terem muitas aberturas, o que terá uma
consequência direta no espaço interior.
Os efeitos ilusórios são também importantes no barroco, este que é caracterizado por ser
o movimento da ilusão onde a teatralidade tem um carácter acentuado, o parecer e não
ser, é algo muito frequente na arte barroca.
Na arquitetura este percebe-se naquilo que é uma desmaterialização dos espaços, pois
deixamos de perceber onde este começa e acaba, o que acontece com o uso de pintura em
trompe l’oeil: uma pintura ilusória que vai ser explora e até avançada. Para a
desmaterialização dos espaços é também utilizado o estuque tendo em vista a utilização
do relevo.
Esta terá relevância em toda a arquitetura barroca, no entanto, manifestada de diferentes
maneiras em diferentes aspetos, em Portugal trata-se da utilização da azulejaria.
Arte Barroca:


simbiose de toas as
artes; absoluta Belcomposto consiste na noção de obra de arte total.
harmonia de todas as
expressões artísticas
Quando falamos de arte barroca é quase impossível falar dela no total, pois temos de o
fazer in situ, a questão da dependência de todas as artes é fundamental quando falamos
de barroco.
Esta noção de obra de arte total é uma das principais e grandes características do barroco,
pois trata-se da simbiose de todas as artes, todos os elementos se articulam perfeitamente.
As artes acomodam-se à arquitetura. Esta questão leva-nos à absoluta harmonia de todas
as expressões artísticas, mas que faz com que todas as obras sejam dependentes umas das
outras.
O estilo barroco alarga-
se até à cidade, aos
edifícios e ao espaço O conceito de obra de arte total alarga-se também à cidade, ao conjunto urbano, entender
interior, servindo para
captar a atenção, o barroco passa também por perceber as mudanças que este período vai ter nas cidades.
persuadir o espetador
e demonstrar o poder -
Há um novo conceito de cidade que passa para o edifício e daí para o interior. Estas
religioso ou régio. mudanças servem sempre para captar a atenção, persuadir os espectadores,
independentemente de quem estes sejam; servindo para demonstração de poder, quer seja
religioso ou régio.
A cidade torna-se o
palco para as A cidade é o primeiro palco do barroco, onde tudo se irá desenvolver, onde vão ocorrer
demonstrações de
poder: civil - grandes as demonstrações de poder. É o placo de um espetáculo que pode ser civil, vendo-se
palácios, desfiles
militares; religioso - através dos grandes palácios, desfiles militares, civis, etc., ou religioso, o que se vê
procissões,
manifestações de fé através de procissões, manifestações de fé, etc.
A cidade emerge como mais um símbolo de poder, onde há uma articulação de todas as
partes. Há uma nova articulação do espaço urbano para se atingir estes objetivos, espaços
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A cidade torna-se um
símbolo de poder,
articulando novas
espaços urbanos Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023
públicos e de
exibição de edifícios
muito uniformizados
- com capacidade de públicos para o público, as cidades terão cada vez mais espaços para a exibição do poder,
se tornarem
monumentos edifícios muito uniformizados, que tem a capacidade de criar algo monumental.
• A praça real é um dos elementos fundamentais da cidade barroca.
A cidade barroco
uniformizou a
própria cidade
A cidade barroca tende a uniformizar a imagem da própria cidade, esta que se faz, por
através das fachadas
que delimitavam os
vezes, através das fachadas de forma a regular a imagem das cidades. As fachadas servem
espaços urbanos para delimitar os espaços urbanos.

Arquitetura Barroca: Roma


Roma tem um
papel fundamental
O barroco da arquitetura de Roma é muitas vezes relacionado com o Barroco da
na arquitetura
barroca já que se
Contrarreforma, que terá um impacto significativo em toda a Europa. Roma tem u lugar
trata do palco da fundamental quando falamos da arquitetura barroca, pois trata-se do placo da cristandade,
Cristandade,
sendo também é a partir daqui que tudo se começará a transformar.
associado ao
Barroco da
Contrarreforma • Carlo Maderno (1556-1629)
• Gian Lorenzo Bernini (1598-1680)
• Francesco Borromini (1599-1667)
Bernini e Borromini
desenvolveram obras Bernini e Borromini são dois nomes que têm um grande impacto em Roma, estes que
arquitetónicas indo de
encontro à vontade da atuaram sempre em plena conformidade com aquilo que foi a vontade da Igreja, sendo
Igreja: espalhar a nova
palavra (da Igreja que estamos perante uma Igreja reformada e também da necessidade da arte para espalhar
reformado)
a nova palavra.
Estes dois artistas
moldaram a fisionomia
da cidade Roma, Foram estes dois que moldaram a fisionomia da cidade, transformando-a num grande
transformando-a num
exemplo do poder golpe do Cristianismo, no fundo, transformam-na num exemplo do poder papal.
papal - primeira grande
transformação neste
sentido: Basílica de • No início do século XVIII vemos uma grande mudança na casa-mãe da Igreja
São Pedro (casa-mãe
da Igreja Católica do
Católica, a Basílica de São Pedro. Esta vai ser o nosso primeiro caso de estudo
século XVIII para entendermos esta transformação.
Carlos Maderno é o
primeiro arquiteto
responsável pelas
Carlo Maderno é um dos mais notáveis arquitetos da sua época, pois é o primeiro
mudanças feitas à responsável pelas mudanças daquilo que era a arquitetura renascentistas que ainda se
arquitetura
renascentista da encontrava na Basílica, dirige as obras entre 1603 e 1629, que depois será substituído por
Basílica
Bernini.
Maderno dirige as
obras entre 1603 e
1629, sendo É ele que desencadeia aquelas que são as primeiras grandes alterações na arquitetura. A
substituído por
Bernini Igreja vai receber uma grande cúpula e será ampliada para se transformar numa enorme
É com Bernini que se igreja com planta de cruz latina com capelas laterais, alterando a obra de Michelangelo.
dão as principais
alterações à Basílica: Com Bernini esta passa para o urbanismo barroco, onde há a articulação entre o edifício
- grande cúpula;
- ampliada; e a cidade. Bernini introduz o urbanismo barroco, articulando os edifícios às cidades em que trabalhava.
- planta de cruz latina;
- capelas laterais
O palco da cristandade deve ser visível a longa distância, o que acontece até hoje, Bernini
Além das obras na
Basílica, Bernini cria transforma estes espaços num grandioso acesso à Basílica; trata-se de uma forma de uma
espaços que a
circundavam: grande elipse, com um grande átrio de acesso.
grandioso átrio de
acesso à Basílica - em
forma de grande
Bernini e Borromini vão ser os responsáveis pela mudança da realidade da arquitetura
elipse europeia, no entanto, Bernini contou com mais apoio dos papas, não obstante, ambos
deixaram marcas muito importantes na arquitetura.
Bernini e Borromini foram os grandes protagonistas das mudanças de realidade da arquitetura europeia, deixando marcas
importante no domínio da arquitetura. No entanto, foi Bernini quem contou com mais apoio dos papas.

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Bernini, pela seu apoio papal, utilizava materiais nobres - bronzes, mármores -, sendo
essa a sua imagem de marca

Borromini utilizava materiais menos nobres - estuques - mas que conferiam Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023
grande textura às suas obras

Esta Igreja tem As obras arquitetónicas de Bernini são marcadas por materiais nobres, esta que é uma das
outro de tipo de
qualidade, suas imagens de marca: os bronzes, os mármores, etc., já Borromini utiliza materiais
testemunhada pela
presença de: menos nobres, como são exemplo os estuques.
- pórtico com
linhas curvas;
- brasão papal; A Igreja de Sant’Andrea all Quirinale tem um pórtico com linhas curvas, contém o brasão
- planta
diferenciada. papal e quando olhamos para a planta percebemos que estamos perante um espaço
É um excelente
exemplo da
extraordinário. Aqui também vemos a articulação de várias artes, a articulação entre a
articulação de arquitetura e a escultura; o carácter lúdico percebe-se neste tipo de detalhes,
artes - arquitetura
e escultura -, com
carácter lúdico
diferenciados.
Bernini e
Borromini são
Gian Lorenzo Bernini, nasce em Nápoles em 1598 e morre em Roma no ano de 1680,
duas importantes teve desde cedo reputação mundial, marcada por encomendas internacionais, tendo em
figuras na
imposição do conta que está associado com o círculo de influências no qual se encontrava inserido.
Barroco ainda que
os seus percursos
de vida e Francesco Borromini era uma figura com um temperamento apaixonado e inquieto sem a
profissionais
divirjam imenso quantidade de encomendas e obras associadas a Bernini, no entanto foi um dos criadores
Borromini diferia mais extraordinários do Barroco. Em Roma tem um lugar de segundo plano, não
de Bernini em
imensos aspetos:
ascendendo a fama internacional, e tem uma obra muito menos abundante, com materiais
* audácia - e acessos a meios muito inferiores.
rompimento das
regras clássicas;
utilização da linha
curva e elementos
Este vai deixar algumas obras fundamentais e influentes aquilo que é a arquitetura
ondulantes ocidental no século XVII, é caracterizado:
(dinamismo);
* luz - colocação
estratégicas de • pela audácia, no que diz respeito ao rompimento das regras, essencialmente das
janelas para
causar contrastes; clássicas, ultrapassando Bernini no arrojo; utiliza a linha curva e os elementos
* subversão dos
elementos ondulantes; as suas obras são de dinamismo sem precedentes, parecendo um
clássicos -
frontões, volutas/ escultor na sua arquitetura.
colunas
investidas, quebra • pela luz, um dos melhores exemplos é a sua colocação estratégicas de janelas,
arcos e detalhes.
para causar contrastes de alguma violência.
Borromini foi dos
• pela subversão dos elementos clássicos, através dos frontões, das volutas
principais
influentes da
invertidas, dos quebra arcos, e os detalhes que são fundamentais.
arquitetura
ocidental no
século XVII
O frontão mistilíneo é uma imagem de marca da sua arquitetura.
A sua obra mais Uma das suas obras mais notórias é a Igreja de San Carlo alle Quattro Fontane, esta é
notória foi apenas
construída até à apenas da sua autoria até à cimalha, a parte superior é obra de Bernardo Borromini, seu
cimalha que a
parte superior é da filho, pois trata-se de uma fachada ondulante, sinuosa, dinâmica, articulada com a cidade,
autoria do seu filho
e apresenta uma que se enquadra num cruzamento com quatro fontes (daí a designação).
fachada ondulante,
dinâmica e
articulada com a A escultura parece dialogar com quem passa, e os nichos assumem uma importância
cidade
enorme neste diálogo que parece haver entre as duas partes. A planta da Igreja de Sant’Ivo
é classificada como mistilínea; a Igreja de Sant’Agnese, também de autoria de Francesco
Borromini, está também pautada na representação da cidade.
Duas das grandes representações de Francesco Borromini são classificadas como mistilíneas - com dois tipos de plantas - mas
sempre são enquandradas na representação da cidade.

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O barroco francês Barroco do Absolutismo2


insere-se como
um caso exclusivo
já que vinha a ser Este barroco vai assentar essencialmente naquilo que é um período marcado por um tipo
preparado desde o
Renascimento
de governação muito específico, o Absolutismo.
francês com os
governos de
Henrique Iv e de
• Henrique IV (1594-1610)
Luís XIII.
• Luís XIII (1610-1643)
É no culminar do • Cardeal Mazarin (1643-1661)
governo de Luís
XIV, na segunda • Luís XIV (1661-1715)
metade do século
XVII, que se dá a
transferência de
No caso francês este irá culminar no governo de Luís XIV, na segunda metade do século
uma estética
influenciada pela
XVII, esta realidade que vem sendo preparada desde aquilo que foi o Renascimento
Itália para algo francês com os governos de Henrique IV (1553-1610) e de Luís XIII (1601-1643). Este
caracteristicament
e francês, sem é um período transitório do Renascimento para o Barroco, um período de uma estética
influências
externas. influenciada por Itália, quando se fala de transição tem que ver com uma continuidade de
É pois com Luís busca de algo caracteristicamente francesa sem influências externas.
XIV que se
consegue criar
uma estética Saímos de um período marcado pela influência italiana e a progressiva evolução tem
inerentemente
francesa, uma
sempre o objetivo único de procurar e encontrar uma estética inerentemente francesa, uma
espécie de
imagem de marca
espécie de imagem de marca, o que será conseguido com Luís XIV.
Na verdade, é o
Cardeal Mazarin,
O Cardeal Marzarin é a figura que vai assumir a regência dos governos de Luís XIII e
quem assume a Luís XIV, contando com uma papel fundamental neste período saído do Renascimento,
regência dos
governos de Luís sempre procurando uma estética e um gosto absolutamente francês.
III e Luís XIV,
quem se esforça
por encontrar uma O período que nos interessa é a época de Luís XIV que conta com um legado longíssimo
estética e um
gosto marcado pela diferença e pela sua influência. O Cardeal entra em cena devido à
absolutamente
francês menoridade de Luís XIV, contendo um papel e protagonismo essencial: vamos ver aquilo
São o ambiente que é o ambiente político, cultual e social da época, sendo estas as linhas que vão definir
político, cultura e
social da época
aquilo que é o barroco francês, que conta com o rei como figura central.
que definem o
barroco francês, Isto começa-se a construir com o Cardeal, pois vão tentar descolar a França daquilo que
que conta com o
rei como a figura
central.
era a dependência de outras culturas, como pela matriz italiana na cultura, assim como
pela dependência das exportações – algo que já se via nos reinados anteriores, mas este
O Cardeal procura,
acima de tudo, a descolamento só irá acontecer com Luís XIV, num processo longo.
independência de
França
relativamente às Os Absolutismos assumem um papel importante, a dependência vai-se processar através
outras culturas -
especialmente a do engrandecimento do poder real assim como a imagem nacionalista que se constrói
italiana (a matriz
estética) através dele, que se faz através da implementação de um novo regime político que traz
Esta independência
uma mudança que terá consequências em várias áreas.
estava fortemente
ligada aos No século XVII, essencialmente desde França, o poder político dos monarcas é reforçado
absolutismo,
processando-se
através do poder
com as monarquias absolutistas, sistema político que irá preponderar os interesses
real e da nacionais, ou seja, a nação acima de tudo. Isto irá obrigar a várias mudanças, o prestígio
implementação de
uma imagem do país tem de estar acima de tudo.
nacionalista.
No século XVII, o poder político dos monarcas é reforçado pelas monarquias absolutistas, um sistema político que
preponderava os interesses nacionais — “a nação acima de tudo” e “o prestígio do país acima de tudo”

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Ocorre sobretudo a partir de França no desenvolvimento do barroco romano; vamos procurar olhar para
estes diferentes contextos para entendermos a diversidade, que assenta sempre nos contextos próprios e
realidades específicas de cada território.

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A nobreza torna-
se cada vez mais
A nobreza vai ser cada vez mais dependente do rei, sendo o único limite ao poder do rei
dependente do Deus.
rei, uma figura
que centraliza em
si todos os
poderes - Le Roi
• É na figura do rei que se centralizam todos os poderes: Le Roi Soleil, assim
Soleil chamado pois os raios da sua luz deviam iluminar toda a França.
O Mercantismo -
prática Muito ligado ao Absolutismo está uma prática económica, o Mercantilismo, no qual
económica de
valorização do falamos sempre de uma valorização ao que é nacional. Este modelo económico
que é nacional -
interliga-se ao implementado deve-se ao facto de impedir que saia dinheiro do país, de divisa do país,
Absolutismo
por outro lado fomentar a produção interna evitando comprar ao estrangeiro. Assim, vai
Este modelo
económico reforçar no plano económico aquilo que são os nacionalismos. Esta irá relançar as
impedia a saída
de dinheiro do economias onde se vai desenvolver. as economias são relançadas em conformidade com a formação dos nacionalismos
país, fomentado a
produção interna
e evitando a
A França foi a pioneira na eficácia no implementação destas medidas, na prática vamos
compra ao
estrangeiro
assistir ao surgimento de muitas manufaturas, chegamos até a falar de indústrias próprias.
Colbert, ministro Jean-Baptiste Colbert é o poderoso ministro de Luís XIV, apresentado ao mesmo pelo
de Luís XIV,
desenvolve um Cardeal Mazarin, que contará com um papel importante naquilo que é o mercantilismo
importante papel
na implementação em França. Contribuiu imenso para o desenvolvimento da indústria francesa, assim como
do mercantilismo
francês, levando para o enriquecimento dos cofres do Estado.
ao
desenvolvimento
da indústria Este tipo de barroco só é possível devido aos recursos do país, sendo que será mais
francesa e ao
enriquecimento
próspero consoante a prosperidade do país, é o ministro que vai ser responsável pela
dos cofres do
Estado
criação de algumas das mais importantes manufaturas de França, a nível de porcelanas,
tapeçarias, etc. O Barroco francês só foi possível através dos recursos que o país tinha, sendo ele mais próspero consoante a
prosperidade do país - manufaturas (porcelanas, tapeçarias, etc.)
A corte de Luís XIV
torna-se alvo de Ambiente da corte: aparato, luxo e prestígio
grande interesse
por parte dos
grupos sociais Existe a criação de uma corte à volta de um rei, esta que pretende controlar os grupos
mais elevados que
procuram poder. sociais. Nesta, o rei oferece poder aos mais poderosos de forma a controlá-los, sendo que
A corte cresce
a sua corte é absolutamente fundamental, a grande preocupação do monarca passa pelo
exponencialmente,
tornando-se um
poder.
modelo que
controla e A sua corte vai crescer exponencialmente Luís XIV não tem debaixo da sua tutela as
influencia toda a
sociedade, a nível outras camadas sociais, oferecendo-lhes um modo de vida ativo e sobretudo luxuoso. Esta
político, cultural e
estético (moda) torna-se num modelo que controla e influencia toda a sociedade, não só a política, mas
também na cultura e na moda.
A corte tem, ainda,
influência nos
objetos que
Hierarquia
regulam os
privilégios e os Terá influência nos objetos e em tudo, sendo que regula os privilégios e ordenados
ordenados de cada
uma das figuras da associados a cada uma destas figura, a sua corte é um lugar muito apetecível ao qual se
corte.
A corte é, portanto, pertencer.
um lugar muito
apetecível.
Em diferentes domínio da vida da corte os objetos comportavam-se de acordo com os
Os objetos na corte cenários, um exemplo muito interessante é o do mobiliário (tabourets e ployants). Os
seguiam os cenários
que ocupavam. membros da família real tinham uma cadeira de braços, os nobres muito próximos do rei
Particularmente o
mobiliário:
ficariam em cadeiras, ou outros ficariam em bancos, almofadas e outros sem título
- membro da família hierárquico não teriam sequer lugar na sua corte.
real tinha uma
cadeira com braços;
- nobres próximos
do rei, tinham direito
A arte é o elemento central e a protagonista disto tudo, é aquilo que se vê, com o qual o
a cadeira/bancos rei se pode rodear, assiste-se a uma enorme instrumentalização da arte que serve para
almofadados;
- os sem título
hierárquico não
tinham lugar na
11
corte.
Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023
Assiste-se à
instrumentalizaçã
o da arte já que
este serva para exibir o poder do rei, mostrando a riqueza do país. A arte vai ser transformada em função
exibir o poder do
rei, a riqueza do deste ambiente e do cenário, o do espetáculo real que se quer mostrar e a arte vai ser
país e os seus
grandes feitos perfeita para fazer isto, permite exibir a ostentação assim como os grandes feitos do país.
A par do que
acontecia com a A realidade era igual à da Igreja devido ao facto de que ambos pretendiam mostrar o seu
Igreja, as
manifestações
poder, o poder só é perfeito se se manifestar aos olhos de todos, tudo aquilo que são
públicas de poder
eram essenciais.
manifestações públicas de poder são essenciais: o cenário onde tudo isso se exerce é muito
importante.
A arte é, na prática, uma manifestação material do poder, acompanhando os países de
diferentes maneiras.
O estilo oficial
francês está Há uma busca incessante de se procurar uma estética própria, os franceses, ainda hoje,
irrevogavelmente
ligado ao Barroco
dizem que não têm barroco o que há é o classicismo francês que é uma estética sob o
do Absolutismo ponto de vista clássico que nada tem que ver com o barroco que vemos na realidade
que, por
oposição ao
barroco romana,
italiana. Vemos uma espécie de arquitetura clássica, onde a relação com o classicismo é
fazia uso das muito mais evidente, sendo a construção de um estilo próprio, acabando por ser um
curvas mantendo
características de modelo para outras cortes e países.
simetria.

Este movimento artístico que se desenvolve em França vai definir uma espécie de “estilo
oficial” francês que é um período muito ligado ao Barroco do Absolutismo, um dos
períodos mais brilhantes da arte francesa, em oposição ao barroco romano, com as curvas,
com as características pautadas pela simetria, etc.
As academias
serviam para
impor regras,
Academias
dando-se não só
uma centralização O surgimento das academias que tem para nós grande importância pois estas servem para
dos poderes mas
também do gosto. impor regras, há uma centralização dos poderes, mas também do gosto. Há uma
Há uma centralização das academias, estas que irão regular a maneira de fazer as coisa, são
centralização das
academias que instituições que estabelecem as diretrizes da criação artística, sobretudos as das Belas
passam a regular a
maneira de Artes, contaminadas pelo absolutismo e centralismo régio.
fazerem as obras.

Estas instituições - A Manufatura Real dos Móveis da Coroa, Gobelins – Manufatura Real dos Móveis da
Belas Artes -
estabeleciam as Coroa (1667) foi uma das mais importantes manufaturas do caso francês que se dedicou
diretrizes da
criação artística em exclusivo à produção de objetos de luxo, com o propósito de servirem a corte de Luís
Outro grande XIV. Esta gera mão de obra interna, a capacidade de produzir dentro das fronteiras e que
exemplo são as
Manufaturas
terá ecos e consequências futuramente.
criadas que geram
mão de obra
interna e a
Charles Le Brun é o pintor régio de Luís XIV, estes que são normalmente figuras
capacidade de relevantes, vai ser um dos grandes responsáveis por aquilo que vai ser a imagem da
produzir dentro
das fronteiras. produção artística, sendo que a irá gerir de um modo centralizado para que aconteça uma
O pintor régio é um centralização a nível da arte. O que acaba por ocasionar uma enorme uniformidade para
dos grandes
responsáveis para a construção de uma espécie de imagem de marca, sendo que a arte está sempre dirigida
a criação da
imagem da para a figura do rei de forma a exaltá-la3.
produção artística,
centralizando a
arte e criando uma Palácio Barroco
imagem de marca
sempre dirigida
para a figura do rei, No Barroco do Absolutismo há a fixação de um modelo que é o Palácio Barroco, a França
exaltando-o
vai deixar uma série de orientações inquestionáveis. Vemos o palácio como um cenário

3
Vamos encontrar os célebres “Ls” entrelaçados, o sol raiado e as flores de lis.

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O Palácio do
Barroco torna-se Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023
um cenário de
exaltação do poder,
sendo objeto de
alterações em
grandes e de poder, como o grande invólucro onde se exerce o poder, vai ser objeto de inúmeras
pequenas cidades
europeias. alterações em grandes cidades europeias ou até em pequenas cidades.
A renovação do
Palácio do Louvre Coloca-se a necessidade de renovar o Palácio do Louvre no reinado de Luís XIV, no seu
fico encarregue a
dois arquitetos reinado e é nestes anos que se equaciona uma alteração numa das fachadas do palácio. É
clássicos que
fizeram alterações
no contexto desta reformulação que se pedem propostas a Bernini, mas é totalmente
nos pavimentos contrário classicismo francês (1666), vê-se a oposição do gosto italiano e do gosto
superiores e
introduzindo uma
escultórica
francês. Permite-nos colocar em confrontação estas duas estéticas, sendo que quem vai
simétrica - vingar é Claude Peralt e Louis Le Vau no ano seguinte, a sua proposta é classicista, numa
colunatas
arquitetura clássica, um pavimentos superior com uma colunata e uma componente
confronto de duas
estéticas: gosto escultórica simétrica.
italiano e o gosto
francês
Versailles
Versailles serve para compreendermos tudo aquilo que é o Barroco do Absolutismo, da
ideia do edificado até para tudo o que o compões internamente e externamente. Este é o
grande paradigma da arte barroca francesa, sendo um exemplo que irá contaminar muitos
outros países e, consequentemente, edifícios.
O palácio é objeto de uma renovação no século XVII, materializando aquilo que é o
barroco no barroco francês e vai fixar um conjunto de modelos que iremos ver replicados
ao longo da Europa.
Versailles foi a obra mais importante do reinado de Luís XIV, representando tudo aquilo
que já havíamos falado, vamos ver França com uma identidade muito própria a nível
artístico, vemos também muito marcado o prestígio político que pretendiam representar.
É a conjuntura que faz deste o grande exemplo do Barroco do Absolutismo, este que é
criado para glorificar a imagem de uma figura.
Este palácio é também um testemunho dos melhores artistas franceses, é aqui que será
inaugurada a vida de corte, pois este é um cenário privilegiado para o exercício do poder
como é também um palco que será replicado por outras cortes.
Vemos o palácio barroco enquanto cenário de poder, assim como os modelos que se
cristalizam a partir deste e que passam para outras cortes, este não vai ao encontro dos
interesses do país, mas sim ao desta monarquia absoluta, pois tudo é feito à volta da figura
do rei: as festas, as cerimónias memoráveis, etc.
• O grande objetivo é glorificar a imagem do rei, o prestígio do rei é mais eficaz
consoante a sua visibilidade.

Modelos
• Palácio Barroco
• Jardim Formal
• Praça Real
Versailles é, na realidade, uma localidade muito próxima de Paris. Luís XIV pretendia
construir o seu cenário fora de Paris, tendo o palácio a sua origem naquilo que era um
antigo pavilhão de caça erguido pelo seu antecessor.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

A história do palácio é muitíssimo longa, tendo uma construção relativamente rápida,


contando com muitos intervenientes, destes destacando:
• Louis Le Vau (1612-1670)
• Jules Hardoun-Mansart (1645-1708)
• Charles Le Brun (1619-1690)
• Andre Le Notre (1613-1700)
Os dois primeiros são os arquitetos, aqueles que foram responsáveis pelo projeto; o
terceiro tem que ver com os interiores do palácio, é ele que vai conduzir udo o que é
pintura, mas também as grandes campanhas decorativas de cada sala; o quarto é o
arquiteta paisagista, um grande nome, e responsável por aquilo que é o arranjo exterior
do Palácio de Versailles.

Louis Le Vau
É um dos arquitetos que está associado há muito à Casa Real, associado também ao
Palácio do Louvre, é o responsável pela estrutura emblemática essencial do palácio. É o
responsável pela remodelação do pavilhão de caça, que irá retomar uma das ideias de
Bernini para o Palácio do Louvre numa das fachadas do Palácio de Versailles (um piso
térreo maciço, encontrando uma linguagem clássica em vários edifícios).
O palácio é construído numa planta em U, ou seja, tudo se desenvolve em volta de um
pátio central – esta que é uma das suas grandes marcas. Vemos um pátio central em torno
do qual se desenvolvem as alas, todo o palácio se vira para os jardins, toda a vida do
palácio se vira para os jardins, que têm um papel fundamental.

Jules Hardoun-Mansart
É quem concretiza o projeto de Le Vau, sendo responsável pelas principais obras de Luís
XIV, assim como pelo engrandecimentos de muitas coisas que se fazem no edifício. Este
é sobrinho de um arquiteto que cria uma cobertura com o nome de “cobertura mansarda”,
na qual há o aproveitamento dos pisos superiores, que recebe janelas, o que também se
vê em Versailles.

Estrutura e organização interna dos espaços


No caso do palácio de Luís XIV, deve-se ter em conta a atenção à organização em U, de
um lado estão os aposentos da rainha e do outros estão os do rei, estas duas que estão
ligadas por um corredor, a Galeria dos Espelhos.
Esta liga funcionalmente as duas aulas, sendo voltada para os jardins; todos os espaços
principais são tendencialmente virados para os jardins, o acesso está virado para o pátio,
sendo que as alas acabam por ser acrescentos à área original.
A Galeria está rasgada pelas 17 janelas que se refletem nos espelhos, mostrando os jardins
e as vastas áreas que rodeiam o palácio. Há uma linguagem decorativa ligada pelo uso
dos materiais nobres onde os bronzes, os cristais e os mármores vão ter um protagonismo
fundamental, também significativo é a componente pictórica associada a todo o palácio.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

• Ainda hoje Versailles traduz o espírito do Absolutismo, pois as primeiras


campanhas decorativas foram feitas no reinado de Luís XIV.

Charles Le Brun
A pintura pretende destacar através dos temas os feitos heroicos e guerreiros do reinado
de Luís XIV, como são exemplo as obras O Rei Governa e Proteção das Belas Artes,
quase tudo o que está em Versailles foi objeto de gravura, e como estas viajavam de forma
fácil acabaram por influenciar muitas obras.
Uma das características decorativas que mais marca a Galeria é a nobreza e a qualidade
dos materiais, estando destacado um interior marcado por 24 candelabros em prata
maciça, estando atualmente no seu lugar réplicas de madeira. Os lustres dos mesmos são
em cristal da boémia, mostrando o absolutismo neste cenário da corte, tratando-se de um
espaço de representação de poder.

O Palácio Barroco
Todo este ambiente vai provocar uma inequívoca informação daquilo que era a corte,
soberanos de outros países a vão querer imitar, tornando-se uma fisionomia modelo. A
França inventa aquilo que é um modelo construtivo de um palácio barroco, um edifício
marcado pela horizontalidade, pela praça central de acesso, o envolvimento dos seus
jardins e interiores sumptuosos.
Um dos primeiros elementos do palácio barroco a destacar é o vestíbulo, que ganhará
cada vez mais importância no século XVIII. Este é um espaço de receção, o primeiro que
conhecemos quando entramos, é a ligação entre o pátio exterior e o interior do edifício.
É uma espécie de mostruário das glórias da família, das obras de prestígio e por outro
lado, além de ser um espaço de aparato, é também muito importante pois o resto da casa
se organiza em torno do mesmo.
A escadaria, que ali se localiza, é o segundo elemento essencial do palácio barroco,
desenvolvendo-se em vários lanços e têm um papel de aparato e de função social, como
que um carácter de palco, assim como de distribuição da casa. É a partir dali que se
desenvolvem os espaços principais da casa.
O programa de engrandecimento do palácio alargou-se à envolvente, mas também ao
exterior em torno de outras construções que tinham a função de recreio, servindo para
entreter a corte: a Grand Orangerie e o Grand Trianon.
A Grand Orangerie era uma equipamento que servia para abrigar plantas frágeis e
sensíveis, com o objetivo de impressionar os visitantes e que no inverno abrigava mais
de mil árvores exóticas. O Grand Trianon era uma espécie de pequeno palácio fora do
palácio com uma estrutura clássica que servia para quando Luís XIV quisesse descansar
da corte, para o fazer ainda dentro do palácio de Versailles.

Jardim Formal
É planeada a sua envolvente, cerca de oitocentos hectares, uma área imensa onde vamos
encontrar um verdadeiro cenário teatral que servia para a corte se entreter, servindo de
cenário ao palácio e a toda aquela vida de corte.
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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

• Este já foi objeto de inúmeros estudo, abrigava várias espécies de vida selvagem,
sendo uma estrutura complexa tendo em vista a sua composição.
A fixação de mais um modelo fundamental é lançado a partir do Barroco Francês, este
que é o jardim formal, sendo o seu responsável Andre Le Notre. Este vai ser o arquiteto
convidado para projetar os parques de Versailles a pedido do próprio rei, vai criar um
estilo de jardinagem simétrica e rigorosa, inspirada nos modelos classicistas.
Há uma escala impressionante a nível da proporcionalidade, fixa este modelo de jardim
que ficou conhecido como um jardim “à francesa”, caracterizado pelo geometrismo, pelo
rigor das suas formas e que se vai disseminar pela Europa a outras escalas.
O que o caracteriza é a absoluta submissão da natureza, o domínio da mesma, organizada
em praças e alamedas que se organiza das mais variadas formas que vão ser predefinidas
anteriormente; a vegetação, tudo aquilo que é considerada selvagem haverá apenas em
vasos.
Os pontos de água são muito importantes, sendo que tem que ver com a proliferação de
fontes, bacias e lagos, com componente escultórica sendo que em Versailles é tudo em
grande.
Como já havíamos visto, além do impacto do palácio no seu próprio tempo e no panorama
francês, vemos que o Absolutismo Francês vai levar ao poder que estes acabarão por ter
na pintura e na arquitetura.
Há um outro modelo fundamental, que não tem uma relação direta com a arquitetura, mas
com o novo modo de conceber a cidade; a ideia da grandeza está muito associada ao
Barroco, principalmente ao do Absolutismo, que passará para a cidade e constitui, tal
como a arquitetura e a pintura, um outro modo de persuadir o espectador.

Praça Real
A cidade, nos finais do século XVII e ao longo de todo o século XVIII, vai surgir como
um verdadeiro palco para a representação do poder, sendo que a sua organização é um
tópico muito importante no contexto do Barroco.
Fundamentalmente, no contexto dos desenvolvimentos das cidades europeias,
particularmente a partir de França, a praça assume um papel de relevo, desenhada como
um núcleo urbano absolutamente elementar que agrega os edifícios e que vai, ainda hoje,
ter um papel fundamental na estrutura das cidades.
As praças são planificadas para a obtenção de perspetivas impressionantes, todas as
principais construções organizam-se em torno da praça, vamos perceber que foram muitas
as cidades que foram alvo de renovações urbanas por várias razões (fenómeno que iremos
assistir a partir de França).
Eram praças reais, na maior parte dos casos, que contam com um conjunto de elementos
mais ou menos comuns:
• a frequente relação entre o poder político e o poder religioso através de vários
edifícios: quando falamos de uma praça real falamos de um edifício central

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

dominante que, ou é uma grande igreja ou um enorme palácio (paço), e um eixo


que conduz a esse edifício.
o os outros edifícios são normalmente públicos, desenvolvendo-se em torno
do edifício principal (Bolsa, Tribunais, Câmaras Municipais, Alfândegas),
são normalmente difíceis de distinguir, havendo uma coerência no
desenho arquitetónico dos elementos.
• a marcação simbólica do poder: esta é normalmente feita com uma representação
ou do rei ou de uma estátua equestre, ou pedestre, no eixo central da praça, muitos
representados à maneira de um imperador romano.
Devemos denotar a importância que os arquitetos de Luís XIV tiveram nesta ideologia
política do Absolutismo, encontraremos com eles as principais praças reais em honra de
Luís XIV. No seu reinado surgem as primeiras praças reais em Paris com Jules Hardoun-
Mansart, como são exemplo: Places des Victoires e Place Vendôme, podendo ser
consideradas quase entidades autónomas. A maior parte das estátuas foi destruída com a
Revolução Francesa de 1789, havendo muitas praças sem as estátuas, muitas delas
substituídas.

Diversidade das praças


No caso de Bordéus a praça vira-se para o rio, de forma a se interrelacionar com o mesmo,
já em Berlim e em Nancy temos exemplos de uma série de arquitetos que se dedicam ao
urbanismo, tendo em conta este padrão.
No caso português temos o Terreiro do Paço, a realidade é que houve a capacidade de
projetar um projeto original e moderno, não apenas do ponto de vista da arquitetura e das
funções estruturais, mas sobretudo na perspetiva que é uma obra-prima, pois esta foi
concebida à maneira das praças reais.
• O Terreiro do Paço é uma praça real e não uma praça do comércio, como é
erradamente considerada.
Esta praça tem um significado simbólico dado ao rio, sendo este em local de entrada na
cidade, o Tejo que é indissociável da praça, com os torreões a definir o início da praça;
aqui situava-se a célebre igreja de D. João V. O arco será apenas erguido pela Câmara no
século XIX, que irá organizar e estruturar a cidade de um modo interessante.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Barroco em Portugal
Desenvolver-se-á essencialmente em dois momentos-chave muito distintos:
• Uma primeira fase associada à segunda metade do século XVII, o Primeiro
Barroco Português. Esta encontra-se arcada pela Restauração da Independência,
todo um contexto que irá interferir com a produção artística.
• Uma segunda fase, fortíssima com características muito distintas da anterior,
marcada pelo reinado de D. João V, período absolutista, o Barroco Joanino em
Portugal. Esta é mais consolidada e internacional, estando ligada à transição do
século XVII à primeira metade do século XVIII.

Anti-Barroco
Este movimento é pertencente ao século XIX, com nomes como Almeida Garrett e
Alexandre Herculano como seus representantes.
Os primeiros contributos historiográficos do barroco são marcados por uma tónica
depreciativa, a historiografia do barroco é deste século, e a sua má fama é uma constante.
Os artistas que se dedicam a estudar o património artístico português mostram uma ideia
depreciativa.
A arte medieval era aquela que era enaltecida, objeto das atenções, Almeida Garrett faz
apenas referência ao medieval favorecendo tudo o que era gótico. O mesmo se diz de
Alexandre Herculano que tem uma atuação relevante no património português do século
XIX, assumindo a mesma perspetiva, chega a compara o Mosteiro da Batalha ao Palácio
de Mafra.
Nesta visão romântica do século XIX vamos reter uma ideia depreciativa do Barroco por
questões estéticas, neste século encontramos também questões políticas para esta
depreciação. Destas questões temos Antero de Quental e Joaquim de Oliveira Martins que
atacam o barroco, visando-o por questões políticas concretas dado ao período no qual se
desenvolve, o reinado de D. João V (de forma a ilustrar uma ideia política para este
período). O que aqui se condena é a motivação política que esteve por trás do Barroco,
mas também a estética dos edifícios.
Antero de Quental considera que é a partir do século XVII que Portugal entra em
decadência, usando como exemplo a relação entre o Catolicismo e o Absolutismo, por
isso Mafra foi visadíssima, considerando-a o símbolo da decadência desse período em
Portugal (ideia que será repetida por vários autores).

Resignificação
Este movimento é pertencente ao século XX contando com nomes como o de António
José Saraiva e de Ana Hatherly, olham para o Barroco como algo que caracteriza um
período, uma época em várias áreas e não apenas na arte. Ana Hatherly tem um papel
fundamental, sobretudo pelas relações que estabeleceu entre a literatura e as artes
plásticas do Barroco.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Valorização
É um movimento pertencente ao século XX, contando com nomes como Robert C. Smith
e Germain Bazin, que visava valorizar a produção artística da época, o que acontece nos
meados do século, por autores estrangeiros e não portugueses.
Começa com uma nova valorização da historiografia da arte a ser produzida, sendo
responsáveis pelos primeiros estudos de referência em Portugal, no entanto, são autores
datados. Irão estabelecer uma relação entre a arte em Portugal e a arte no Brasil, estes que
vão dar um contributo muito interessante para as mesmas.

Contextos
Ganham importância no século XX, e no fundo o que valorizam é o contexto no qual a
obra de arte foi produzida.
Existem uma série de valores contextualizantes fundamentais para o barroco português,
sendo uma produção artística marcada pelos valores tridentinos, sendo que o ambiente
cultural é pós-tridentino, ou seja, tudo o que envolve a religião tem de ser pensado.
Há um outro aspeto importante, que é exclusivo a Portugal, que é a questão da
Reconstituição, um contexto muito específico, sendo que a esta se somaram uma série de
conflitos e situações que levaram a condições nefastas a nível do reino.
No podemos esquecer o reinado rico de D. João V, que explicará muitas coisas, em todos
os domínios artísticos. Esta realidade do Barroco em Portugal vai moldar uma vasta
produção, sendo um em que se nota uma grande quantidade de obras, assim como os
interiores e lugares em geral que são reconsiderados.
• A cultura luso-brasileira será um dos grandes contributos do Barroco Português,
sobretudo ao longo do século XVIII.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

A Arquitetura Barroca em Portugal


Encontramo-nos num período no qual o país precisava de novas motivações, trabalhando
para se afirmar perante os outros países, todo um novo caminho que levará a um desfecho.
Foi um período marcado pela guerra que se irá prolongar por quase trinta nos, esta é uma
fase complexão, não apenas a nível de perspetiva social e de afirmação ao exterior, mas
também de um país que irá atravessar um período de guerra que tem que ver com uma
série de outras potências que pretendiam ter território português, sobretudo sobre os
Holandeses.
As prioridades da época não estão focadas na arte, ou seja, vamos assistir a uma produção
artística e arquitetónica ligada ao militar. Esta é uma arquitetura é simples e despojada,
sem aparente ligação aquilo que é a arte internacional.
Temos de ter presente as consequências e necessidades impostas pela guerra, assim como
o modo como esta vai interferir na arquitetura, os homens que vão erguer os edifícios
ligados ao Primeiro Barroco são os engenheiros ligados a estruturas militares de defesa.
Quando pretendemos caracterizar algo que foi feito na segunda metade do século XVII
tem uma forte relação com a Arquitetura Militar; o próprio ensino da arquitetura em
Portugal está ligado a estes edifícios, como é exemplo a ala de fortificação e a arquitetura
militar. Esta é uma prática muito específica da Arquitetura Portuguesa, sendo
indissociável à mesma.
O Primeiro Barroco Português está globalmente divido em duas partes, em dois períodos:
• Experimentação (1651-1690), como é exemplo a Igreja da Nossa Senhora da
Piedade em Santarém.
• Definição (1690-17174), como é exemplo a Igreja de Santa Engrácia em Lisboa.
Há um contraste absoluto que se evidencia entre os interiores e os exteriores, do ponto de
vista arquitetónico; os interiores são marcados por uma riqueza marcada pelos valores do
barroco. A originalidade e os primeiros passados daquilo que é o Barroco encontram-se
nos interiores.
Esta realidade vai-se aplicar em duas circunstâncias, vamos assistir à reformulação de
edifícios que já existiam, encontrando-se também uma polifonia das várias artes muito
características muito inerentes ao Barroco, que os marcarão pela diferença; estes são os
cenários que vão configurar o aspeto mais revolucionário do Barroco Português: o azulejo
e a talha dourada são uma via decorativa do barroco português, que, por vezes, é a única
via.
• Desmaterialização dos espaços interiores
O primeiro barroco que se desenvolve na sequência da Restauração da Independência vai
ser marcado pelas duas etapas já mencionadas. A primeira pode ser caracterizada como
um barroco algo pobre e a segunda é caracterizada por ser um período mais definitivo
mais próximo do século XVIII, naquilo que será a obra de João Antunes.

4
O ano de 1717 é a data que está ligada à Basílica de Mafra.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Um dos primeiros grandes representantes do Barroco em Portugal no domínio da


arquitetura é João Nunes Tinoco, sendo considerado o primeiro representante deste neste
período, vai ter vários cargos e incumbências ao qual está associado ao longo da sua
carreira. Este é associado a uma família que terá continuidade ainda no século XVIII,
sendo óbvio pela quantidade de Tinocos que se encontram presentes na arquitetura.
O seu trabalho é do final do século XVII e a obra a que está associado decorre de algo
importante, de gerações de artistas que vão ter cargos oficiais sobretudo no contexto do
Estado e da Casa Real, estando a família associada às principais obras, pois os cargos
sucedem-se geracionalmente. As grandes obras estão associadas às grandes encomendas
e a estes cargos, sendo que são estes que são os conhecidos.
Na Igreja de Nossa Senhora da Piedade encontramos o Barroco nos portais, é um
arquiteto com uma obra muito residual que apresenta uma das primeiras experiências que
se podem inscrever no Barroco.
Estamos perante um Portugal que saiu do domínio filipino, por isso assistimos a um
período complexo a nível cultural, social e económico.
No domínio da arquitetura encontramos episódios isolados e modernos no panorama da
arte portuguesa e internacional, uma obra que foi destruída com o Terramoto de 1755.
Esta foi uma igreja que foi encomendada a Guarino Guarini, que trabalhou para Portugal
no século XVII, um homem muito próximo de Borromini que vai construir um edifício
com os valores da arquitetura do seu tempo. Trabalhou em Itália, mais nomeadamente em
Turim, e também em Lisboa, aqui desenha uma igreja para a Ordem dos Teatinos: uma
igreja longitudinal com elipses em curva e em contracurva. A obra foi iniciada em 1668,
entretanto acabada, mas acabou por cair em 1755, esta era a Igreja da Divina Providência.
• A individualização dos artistas é algo importante.

João Antunes (1642-1711)


É frequentemente assumido como o grande representante desta primeira fase do Barroco,
revolucionando aquilo que é a arquitetura do seu tempo, introduzindo novidades na
arquitetura portuguesa. É um arquiteto marcado pelo facto de ser concentrado nos
modelos da matriz romana.
Existem inúmeras atribuições que são feitas por analogia, pois o que prepondera na arte
portuguesa é o anonimato, sendo apenas atribuídas a uma mão cheia de obras a João
Antunes.
A sua obra magna é a Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, é uma recriação que se
prolongou até ao século XX, apenas metade lhe pertence. Esta é uma iniciativa
patrocinada pela filha do rei D. Manuel I, a Infanta D. Maria, para receber as relíquias de
Santa Engrácia de Saragoça. Será apenas construída no século XVII por projeto de João
Antunes.
A primeira pedra do projeto é lançada no ano de 1682, que irá inaugurar um novo capítulo
na História da Arquitetura Portuguesa, o seu projeto corresponde apenas à cimalha, o
resto é construído já no século XX.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Este é um corpo retangular marcado pela ondulação dos alçados, uma construção sem
precedentes e continuidade, sendo caracterizada como uma obra única; de planta
centralizada à maneira da tratadística do tempo, marcada pela sobriedade dos materiais.
Estes que são materiais nobres, consistindo em mármores abundantes, o que é raro em
Portugal, sendo maioritariamente polícromos; a cúpula que também constitui a igreja já
é de construção posterior, no entanto mostra a obra de João Antunes.
A Igreja de Santa Engrácia nunca funcionou como igreja, nos finais do século XIX
funcionou como depósito do armamento do exército; em 1910 é declarado Monumento
Nacional; em 1916 é-lhe atribuída a função de Panteão; em 1966 dá-se a finalização das
obras, depois de um hiato de quase 300 anos.
Um outro exemplo da obra de João Antunes, relevante na sua obra, é a Igreja do Senhor
Bom Jesus da Cruz de Barcelos, um outro caso emblemático da sua obra, é um projeto
desenvolvido nos finais da sua vida (1705-1710). É uma igreja lançada pelo Bispo de
Braga, concurso à qual concorrem dois arquitetos que ele acaba por vencer; é uma igreja
de planta centralizada com curvas e inusitada no panorama da arquitetura desta época.
• Uma das marcas mais importantes na sua obra é o detalhe, sendo que os dois
aspetos/particularidades da sua obra são:
o colunas salomónicas, normalmente encontradas nos pórticos; é muito
frequente a adoção desta tipologia de coluna presente em várias obras
como é exemplo a derivação do Baldaquino de S. Pedro, de Bernini, no
Vaticano.
o embutidos marmóreos, encontramo-los em pormenores até, é uma
sinfonia de cor misturado com talha dourada, é uma opção decorativa
morosa, sendo uma base de mármore onde é solecado o desenho e em cada
um são embutidas pequenas peças de mármore; um grande exemplo desta
técnica é o Túmulo de Santa Joana Princesa.

Primeira Metade do Século XVIII


• D. João V (1689-1750)
• D. Maria Ana de Áustria (1683-1754)
Há um barroco que acontece no reinado de D. João V designado de Barroco Joanino,
havendo uma enorme diversidade no Barroco. Na sequência daquilo que são as primeiras
experiências seiscentistas, a primeira metade do século XVIII vai ser marcada pelo
reinado de D. João V, esta que é uma característica importante tendo em conta tudo o que
engloba a produção artística.
Abrange a primeira metade do século, período que se inaugura em 1717, sendo que foi
um dos monarcas que mais governou, o que vai fazer com que haja tempo para se produzir
tudo aquilo que se produziu. Esta foi uma governação fortíssima com um grande impacto
nas artes, um dos períodos que mais ajudou a fortalecer o património em Portugal, aqui
abrangendo obras de raiz e obras que seriam reconstruídas.
É um período marcado por várias contingências, de grande prosperidade e situação
económica muito favorável que correspondem às exigências do monarca, D. João V herda
um período de paz, o que é fundamental.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

No Primeiro Barroco as atenções estavam focadas na proteção, sendo possível a D. João


V consolidar as suas políticas, conjuntura de riqueza proveniente das colónias
portuguesas o que permite financiamento. Mais do que nunca, é no seu reinado que a
expansão deste universo artístico se transfere para outros impérios, a produção artística
que se alarga ao Brasil, à África, à Ásia, etc. Uma época em que os investimentos se
fazem para lá das fronteiras.
Um terceiro aspeto fundamenta para entendermos a arte do seu reinado passa para aquilo
que é o grande mote do Absolutismo, é o monarca que melhor irá implicar a monarquia
absoluta, um regime voltado para a figura do soberano.
A arte tem a função de prestigiar a figura do Rei, a arte passa a ter o papel da representação
do poder, o que permite construir cenários de poder, sendo que acabou de sair de um
período complexo no ponto de vista da sua identidade: vai ter uma política regida no ideal
de colocar Portugal vista como uma ação sólida e independente.
Trata-se da imagem externa, é preciso parecer mais do que apenas ser, mostrar uma
encenação prestigiante, normalmente há empenhamento pessoal por parte do rei nas
orientações que dá aos seus embaixadores espalhados pelas cidades europeias,
controlando o seu trabalho, procurando estar atualizado em relação ao que melhor se faz
no mundo, D. João V nunca quererá para Portugal menos do que encontra no exterior.
É um Barroco marcado pelo carácter internacional da arte portuguesa, o carácter da
internacionalização de Portugal, um país em linha com as grandes potências europeias,
tendo a arte um papel fundamental. São dois os seus grandes modelos:
• o Mecenato Papal/Pontifício
• o Barroco do Absolutismo Francês
Portugal torna-se numa nação respeitada, e o isolamento que marcou Portugal e que
justifica uma falta na arte portuguesa é completamente mudado nesta época. D. João V
preocupou-se com o que estava lá fora, mas também com os artistas nacionais,
principalmente com o que lhes faltava.
Quando falamos do Barroco Joanino não falamos apenas das grandes encomendas, mas
das campanhas da formulação e dos apoios que foi concedendo.

Arquitetura na Primeira Metade do Século XVIII


O prestígio de um país tem uma grande importância num cenário de Monarquia Absoluta,
o que se mostrará na ação política, cultural e social feita, que se mostra inovadora na
época.
O rei procura os principais modelos a seguir em toda a Europa, tendo um grande papel o
Modelo Pontifício e a Corte Francesa. Haverá uma circulação de modelos, mas também
de artistas, particularmente de artistas destas duas proveniências.
• Catarina de Bragança
• Luís XV
• Clemente XII

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Entre essas influências está a influência inglesa, a relação entre Portugal e Inglaterra,
sendo uma relação política também, que decorre de uma fortíssima relação de dois países
que foram aliados durante muito tempo.
A partir de 1642 reestabelece-se a relação de amizade entre os dois países, sendo
concedida a liberdade de comércio aos ingleses no domínio de Portugal, existe também
um outro momento fundamental que antecede D. João V, mostrando a reaproximação no
ponto de vista político. Em 1661 dá-se o tratado que une Portugal a Inglaterra contra
Espanha na Guerra da Sucessão.
Estes dois acontecimentos vão fortalecer tendencialmente aquilo que é a predominância
inglesa sobre Portugal, um início de relação que terá imensos ecos naquilo que são as
colónias portuguesas em vários períodos e momentos.
Um terceiro momento-chave é o acordo de casamento entre Carlos II de Inglaterra e D.
Catarina de Bragança que vai estar associado à entrega de algumas cidades portuguesas
nas colónias aos ingleses, que será fundamental para o estreitamento destas relações (esta
que funciona como a entrega do dote).
A questão de uma princesa portuguesa passar a ser rainha de Inglaterra é importante
quando esta regressa a Portugal traz consigo toda uma série de influências, de hábitos e
até peças inglesas, o mesmo aconteceu quando esta foi para Inglaterra, introduzindo o uso
do garfo e também o chá na corte inglesa.
Às portas do reinado de D. João V, um quarto evento que irá reforçar a longa tradição de
relação dos dois países logo nos primeiros anos do século XVII é a assinatura do Tratado
de Methuen, um tratado comercial entre os dois países, assinado como parte da Guerra de
Sucessão de Espanha.
• Manuel Teles da Silva, 3º Marquês de Alegrete
• Pedro II de Portugal
• John Metheun
• Ana de Grã-Bretanha
Em Portugal reinava Pedro II, já em Inglaterra reinava Ana de Grã-Bretanha, sendo que
acaba por ser mediado por um representante de cada país daí o nome do mesmo. Este
destacaria a igualdade de impostos para vinhos portugueses e para vinhos franceses, a
partir da assinatura deste tratado assume-se a igualdade, os vinhos que Portugal importa
para Inglaterra não podem ser taxados.
Os portugueses recebem têxteis manufaturados em Inglaterra, não sendo cobrado de
imposto, isto facilitava o comércio de produtos em Inglaterra e a sua chegada a Portugal,
Portugal compromete-se a receber manufatura inglesa em troca do vinho do Porto. As
trocas comerciais são essenciais e serão desenvolvidas durante o século XVIII e XIX até
à atualidade.
Temos a influência italiana e a francesa, D. João V vai procurar ao longo do seu reinado
aquilo que é o brilho e prestígio daquilo que considera serem os melhores exemplos da
Europa.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

• Influência Italiana: A arte joanina é um dos períodos mais italianizantes da arte


portuguesa, os modelos romanos vão ser transportados e transferidos para o nosso
país e vai haver uma série de cerimónias relevantes ligadas aos acontecimentos de
natureza religiosa onde a corte pontifícia seriam um exemplo.
• Influência Francesa: Vai-se verificar a nível da corte do próprio rei, uma área
que não está muito estudada em Portugal, sabe-se muito pouco sobre o quotidiano
na vida da corte, mas sabe-se que se apropria do que acontece na corte de Luís
XIV. Há artistas franceses que se fixam em Portugal, trazendo com eles a bagagem
da sua formação.
Este período foi um dos mais ricos períodos de intercâmbios culturais no ponto de vista
das pessoas, marcado pelas embaixadas faustosas (Arte Efémera), há também o fenómeno
da chegada de artistas estrangeiros neste reinado. Vamos assistir à chegada de vários
artistas que serão os responsáveis por aquilo que acontece na arte portuguesa, à sombra
da capacidade financeira do país e do rei magnânimo, este que procura simular os modelos
artísticos de onde eles vêm recebendo-os de braços abertos, fazendo com que os
portugueses sejam postos em segundo plano.

Os artistas são de diversas áreas:


• Arquitetura: Filippo Juvarra, Nicola Salvi, Luigi Vanvitelli, António Canevari, João
Frederico Ludovice
• Pintura: Pierre Antoine Quillard, Domenico Duprá
• Escultura: Claude La Prade, Giovanni Antonio Bellini, Alessandro Giusti
Esta é uma forma de intercâmbio, que acaba por ser feita por vontade própria, vêm das
mais diversas circunstâncias à procura de trabalho reconhecendo em Portugal o potencial
de uma carreira de sucesso.
Entre as preocupações de D. João V na arte está a consciência da necessidade de
desenvolvimento da formação dos portugueses.
Dá-se a criação de uma Academia de Portugal em Roma, é criada no coração da cidade
uma academia para formar artistas, tendo como professores os melhores artistas romanos,
os artistas portugueses iam aprender as técnicas como bolseiros do rei. Este teve uma vida
curtíssima devido ao corte de relações com o Papa, no entanto, enquanto esta durou houve
uma alteração no método e ensino, pois como não havia um ensino académico em
Portugal, o conhecimento passava-se de pais para filhos.
Há um outro aspeto da arte joanina que é único na História da Arte Portuguesa, que é a
vontade férrea de estar atualizado sobre tudo o que acontecia em todo o lado, ele interfere
na encomenda da obra de arte não deixando que sejam outros a fazê-lo. Uma das suas
grandes preocupações foi a de estar sempre a par com aquilo que estava a ser feito nas
outras capitais europeias, sendo que os embaixadores vão ter um papel importantíssimo
nestas questões.
• O monarca vai estar a par de tudo aquilo que se faz na Europa, através de
maquetes.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Álbum Weale: tratava-se de um álbum de desenhos que tinha o objetivo de informar o


rei sobre aquilo que, neste caso, estava a ser feito em Roma. O rei mandava alterar as
obras de acordo com aquilo que era feito na Europa de forma a serem ainda melhores do
que esses.
D. João V vai fazer encomendas às principais cidades da Europa, como é exemplo Roma,
em vários campos; sendo que teve uma das mais notáveis bibliotecas de todos os tempos.

Igreja do Menino de Deus, Lisboa (1711)


Uma das grandes diferenças do Segundo Barroco em comparação ao Primeiro é a sua
coerência, as suas ideias são muito consolidadas marcadas por todos estes fatores.
Destacam-se algumas das grandes realizações que contaram com recursos para a sua
edificação, marca um lugar pioneiro no joanino tendo em conta a utilização do modelo
romano.
A igreja nunca foi concluída, toda a parte superior nunca foi executada, tem um conjunto
de nichos que foi preparado para receber esculturas, o que nunca aconteceu. É pautada
por um interior acabado e em conformidade com aquilo que é o barroco joanino, a
articulação entre as várias artes, a ideia de “arte total” que vamos encontrar na arte
portuguesa da primeira metade do século XVII.
Podemos observar o modelo romano naquilo que é a explosão de cor, a riqueza e a
nobreza dos materiais, muita da arte portuguesa é marcada pelo azulejo e pela talha, já
esta é pautada pelo emprego dos mármores.
Impõe-se a planimetria, uma espécie de retângulos com os ângulos chanfrados, é uma
planta centralizada.
Destacar-se-ia um outro aspeto que é a pintura de quadratura, em trompe l’oeil, que será
desenvolvida durante o século XVIII, sobretudo na primeira metade do mesmo. Não
sendo mais do que uma pintura ilusória marcada pelos enquadramentos arquitetónicos, e
que vão ter um impacto imenso ao longo de todo o reinado joanino, este é sobretudo feito
em tetos.

Palácio de Mafra
É a grande realização do rei, o exemplo máximo da arquitetura joanina, e o exemplo que
representa aquilo que pretende emular o modelo romano. É a imagem de marca do
Absolutismo em Portugal, a materialização plena do seu reinado em Portugal.
Tem um impacto que passa por muitas outras áreas para além da arquitetura, como na
escultura e na pintura, mas foi também um estaleiro (estaleiro de obras e arquitetos) que
durou muitos anos e que tem uma grande influência no reinado de D. João V.
Contou com o empenho pessoal do rei, que disponibilizou para Mafra todos os meios às
sua disposição tanto a nível nacional como internacional. É erguido em menos de 20 anos,
tempo record, é uma obra que nasce como uma concretização de um voto do rei, uma
promessa do rei por ocasião do nascimento do seu primeiro filho varão, o que lhe iria
suceder, ergueria em homenagem do facto uma grande igreja, palácio e convento.

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

Em 1717 é lançada a primeira pedra de Mafra, o que significa que os esforços do rei e da
coroa estão todos canalizados para Mafra, e nos 15 anos que se seguem tudo se faz
concentrado em Mafra: construção de novas estradas e também todos os recursos
materiais e humanos serão necessários para a finalização da basílica.
Entre 1717 e 1730 o essencial do projeto está feito, tornando-se num dos edifícios que
mais beneficiou de mão-de-obra europeia, Roma está quase toda a trabalhar em Portugal.
Os principais artistas estavam a trabalhar para a Corte Portuguesa, fenómeno que se irá
repetir em outras encomendas e outros tipos de edifícios.
Vai definir um modelo tipológico muito interessante, encontramos a arquitetura do
palácio francês em articulação com aquilo que é a arquitetura religiosa. Encontramos em
Mafra aquilo que é uma ligação/um encontro entre o poder político e o poder religioso,
sendo que é um conjunto de três partes agregadas: o convento, a basílica5 e o palácio.
O palácio é constituído por dois corpos laterais para aquilo que são as áreas palacianas e
que são rematadas nos ângulos por dois torreões6 à maneira de uma arquitetura de defesa
e fortificada. Toda a zona posterior é ocupada pelo Palácio do Príncipe de um lado e o
Palácio da Princesa no outro e, fundindo-se com isto, a área conventual.

João Frederico Ludovice


É a figura copular do reino, o arquiteto de Mafra, mas também o arquiteto régio, aquele
que estará ligado às principais encomendas desta época.
É o exemplo de um artista que vem alguns anos antes do reinado de D. João V, partindo
nos inícios do século XVIII, mas quando começa o reinado joanino tem uma enorme
vantagem, o facto de ser estrangeiro e um homem que se movem num circulo de
influência muito importante. Vem trabalhar para os Jesuítas, e é a formação romana que
o faz singrar. Assume os cargos todos que há para assumir no campo da arquitetura,
tornando-se o principal arquiteto no reinado de D. João V, associado às principais obras
mandadas fazer pelo mesmo.
Terá uma outra vantagem, esta que foi o facto de saber perceber o que o rei queria, adotou
o modelo romano que conhecia bem, podendo ser possível encontrar muitas coisas
semelhantes àquilo que podemos encontrar na Roma da época. É um arquiteto que
privilegia da matriz romana, no qual o uso dos materiais nobres tem uma grande
importância, como é exemplo a Capela-Mor da Sé de Évora, na qual podemos percecionar
o exemplo de uma linguagem romanizada nas renovações das capelas-mores da Época
Medieval.

Antonio Canevari
Foi um artista italiano que trabalhou para Portugal e em Portugal, aqui permanece entre
1728 e 1732. É-lhe atribuída uma intervenção naquilo que era o Paço da Ribeira (o Paço

5
Esta que é o corpo central, na qual se situa uma galeria que é a Sala da Bênção que se encontrava
voltada para o poder religioso.
6
Os Torreões de Mafra baseavam-se no Torreão do Paço do Rei em Lisboa, imagem muito interessante e
popular à época.

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Real), a Torre do Relógio, e é na sequência desta intervenção que temos a construção da


Torre da Universidade de Coimbra (1728).
O Paço de Santo Antão do Tojal (1717) é uma residência em Loures, o paço do primeiro
Patriarca de Lisboa, o Cardeal D. Tomás de Almeida, D. João V quer emular a própria
corte pontifícia em Lisboa, o que torna possível com a construção deste paço; um projeto
monumental e interessante.
O Aqueduto das Águas Livres, de Lisboa, (1732) aparece no panorama daquilo que é
um governo absolutista e na chamada à atenção da importância da cidade que lhe é tão
característica, o ir ao encontro de necessidades tão básicas quanto o abastecimento de
águas. Traz, finalmente, aos habitantes de Lisboa o acesso à água, por meio das inúmeras
fontes e chafarizes que serão também edificadas.
A Igreja Patriarcal de Lisboa (1740) é uma das maiores obras do reinado de D. João V,
vai querer erguer no local da Capela, elevando-a à condição de Igreja Patriarcal tornando
o Cardeal em Patriarca, o que acontecerá, assistindo à chegada de inúmeros privilégios
por parte da Santa Fé: uma pequena Roma em Lisboa.
O que sobra são apenas as informações, é um exemplo de uma obra que nos dá conta
daquilo que são os meios sem precedentes, acaba por repetir encomendas que vinham de
Roma e de França.
A Igreja de São Roque é contemporânea à Igreja Patriarcal e dá-nos ideia do que será o
esplendor da anteriormente referida, visto que consumiu os mesmos recursos e artistas. A
ela pertence a obra que fecha o reinado de D. João V sendo esta uma das capelas laterais
da Igreja, a Capela de São João Batista, encomendada a Nicola Salvi e Luigi Vanvitelli,
sendo feita em Roma, transportada para Portugal através da via marítima.
É benzida em Roma pelo próprio Papa, algo importante para o rei, a capela chega a Lisboa
em 1747, três anos mais tarde, e é montada na Igreja nesse ano. Com a capela vieram os
artistas acompanhando a montagem da mesma (vão trabalhar inúmeros artistas vendo-se
a linguagem do barroco romano do século XVIII). A capela veio acompanhada das
próprias alfaias litúrgicas, parte integrada da encomenda; o rei conhece apenas a capela
através de uma maquete devido a doença.
O Palácio das Necessidades em Lisboa é uma construção do tempo de D. João V, que
conta com uma igreja e convento de Oratorianos, é um complexo monumental que
articulas estas três componentes. Esta foi uma obra que o rei não acompanhou de perto,
sendo consequência o facto de os intervenientes serem todos portugueses, o que é
completamente diferente daquilo que havia sido feito no seu reinado.

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Escultura Barroca
A escultura vai ser particularmente apreciada no contexto do barroco pelo seu carácter
teatral e pela sua tridimensionalidade.
Existe um grande paradigma que incide sobre os contributos de Bernini (Itália):
• Sentido paradigmático do Barroco
• Carácter teatral da escultura, sendo que as esculturas conferem no espaço onde se
localizam
• Uma crescente procura ao real, havendo uma aproximação do natural/real

Expressão
Existe uma tendência para uma expressividade crescente, não existindo no barroco a ideia
de uma obra perfeita. É concebida uma especial atenção à representação dos sentimentos
e do conteúdo psicológico, temos a representação da velhice, assim como todos os outros
valores e sentimentos.

Movimento
O Barroco está marcado por um horror às linhas direitas, passamos a encontrar o
movimento nas obras artísticas com muita frequência; trata-se de obras cada vez mais
dinâmicas, tem um eixo de leitura serpenteado (em zig zag). Conseguimos ver também
movimento nos espanejamentos, pois vão-se descolar dos corpos, esvoaçando, etc.
Uma escultura barroca não é feita para ser vista apenas de frente; os gestos das figuras
também são importantes.
• Eixo compositivo: eixos diagonais; em “s”; serpentina (curva e contracurva –
efeito de torção), projeção ao espectador. São sempre composições assimétricas.

Luz
No barroco é dada primazia ao modo como a luz incide nos objetos; na escultura, destaca-
se a luz através dos tipos de acabamento. Para se chegar aos contrastes de luz e sombra é
frequente que as esculturas tenham superfícies muito desgastadas.

Materiais
No caso italiano há um gosto pela policromia que permite obtenção de efeitos muito
interessantes, marcado pela nobreza dos materiais, imagem de marca, o que mostra
diversidade. A escultura italiana é normalmente de mármore e bronze, materiais
abundantes nestas produções e também em destaque, sendo os dois necessários de
técnicas diferentes, o bronze necessitando de vários intervenientes.

Temas
A diversidade temática e a novidade, assim como o surgimento de algumas temáticas,
será notório, assim como o contexto da escultura propriamente dita. No caso italiano
domina a temática religiosa, sendo que nos encontramos na época da Contrarreforma, e
então há a necessidade de fazer obras novas. A resposta à Contrarreforma passa muito

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Renata Tenreiro Bernardo | 2022/2023

pela imagem e a escultura será bastante destacada aqui. Vemos representações específicas
de momentos específicos da vida dos santos, havendo a necessidade de mostrar isto aos
fiéis, o que vai fazer com que as obras se multipliquem e que surgem novas iconografias.
• A cidade tem um papel ativo no Barroco, vemos esculturas na ornamentação das
fachadas e também nas fontes, a relação com a água é muito importante.
Gian Lorenzo Bernini, nascido em Nápoles 1598, acabando por morrer em Roma no
ano de 1680, é o principal representante da escultura em Itália, tendo uma técnica de
maior versatilidade. Este desempana uma influência enorme naquilo que são muitas das
novidades e características que encontramos nos mais variados países.
Vemos representações das cenas e dos momentos com grande tensão, sendo que o que o
barroco representa é o momentos. Bernini é responsável pela fixação de alguns
movimentos fundamentais, fixando padrões que irão ser copiados por toda a Europa.
• Na carreira de Bernini encontramos duas grandes fases.
O que marca este período é a encomenda específica para o Cardeal Scipione Caffarelli-
Borghese, vemos aqui a experimentação de algumas temáticas e composições. É um
período inicial da carreira de Bernini, mas onde ele vai produzir uma das suas maiores no
contexto de toda a sua longa produção.

Casa Borghese
O Rapto de Proserpina (1621-22), esta retrata o rapto de Proserpina (Perséfone) por
Plutão (Hades) em que esta é levada para a profundidade da Terra; o que Bernini faz é
representar o momento de maior tensão, no qual Proserpina tenta soltar-se do seu raptor.
David (1623-24) retrata o momento em que David tenta matar Tobias, Bernini representa
o preciso instante em que David vai arremessar a pedra. Vemos o momento de
concentração na expressão do rosto de David, esta é uma escultura que desafia o
espectador para este andar à volta da mesma, sendo uma das obras que varia em função
dos ângulos.
Apolo e Dafne (1622-25), nesta obra vemos retratado o momento em que Apolo percebe
que a sua amada é Dafne, sendo que esta não quer ficar com ele. Vemos aqui retratado o
momento em que Apolo toca em Dafne e que esta se transforma num loureiro. Esta é uma
escultura extraordinária que deve ser vistas em multíplices de ângulos, permitindo ao
espectador ver os diferentes sentimentos das personagens – um único instante numa
história tão complexa (captação de um momento).

Basílica de S. Pedro, Roma


• Urbano VIII (1623-1644)
Algo que devemos ter em conta é a relação de Bernini com os pontífices, com os Papas
do seu tempo. A primeira grande encomenda que estes fazem a Bernini é o baldaquino
que irá integrar a mesma, e para isso era necessário marcar o sítio onde estava o túmulo
de S. Pedro; este tem um impacto significativo no interior da Basílica, transformando-o
num interior de fé. Este marca as soluções de capela-mor, os retábulos, etc.

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Ele cria um baldaquino, que era apenas utilizado em procissões, Bernini faz uma
megaestrutura com a forma do mesmo, tudo isto que se encontra no centro. É uma
estrutura com 29 metros de altura, 4 colunas com um grande dossel e uma componente
escultórica imensa.
Temos a introdução das colunas salomónicas que pela primeira vez são empregues e
utilizadas no Baldaquino de S. Pedro, a partir daqui, passam a ser aplicadas nas mais
variadas circunstâncias, como é exemplo, na Igreja de Val-de-Grace, em Paris.
É pedido a Bernini uma solução para a abside da igreja, mais precisamente no sítio onde
o Papa se senta, Bernini propõem fazer uma grande cadeira, a Cátedra, mantada a uma
altura que permitisse a visibilidade do Papa. Por fim, para a Basílica, faz uma escultura
de São Longinus, com cerca de três metros, que tem presente mais uma vez o momento.

Êxtase de Santa Teresa, Igreja de Santa Maria della Vitoria7 (1645-52)


Esta escultura serve para mostrar que os santos foram homens que viveram na terra e que
estes foram como todos os outros. Os momentos mais gloriosos e dramáticos vão ser
explorados, e temos neste êxtase isso mesmo, a captação de um momento.
Aqui está retratado o episódio da Transversão, o momento em que o anjo espeta uma seta
no coração de Santa Teresa. Iconograficamente, Bernini fixa o rosto de Santa Teresa,
onde vemos uma figura em êxtase, o que vai ser repetido sistematicamente nos mais
variados contextos e realidades.
Quando entramos na igreja ficamos impressionados, pois esta escultura está inserida num
cenário barroco, ladeado de espectadores, com duas tribunas laterais com “pessoas” a
assistir. Vemos a escultura iluminada por raios, estes em forma de “escultura”; temos uma
cenografia explorada ainda mais com os próprios membros, que mandaram encomendar
a obra, a assistir à cena das tribunas, representados de forma escultórica.

Morte da Beata Ludovica Albertoni, Chiesa de San Francesco a Rippa8


Temos aqui a representação da morte da santa, sendo que foi pedido ao artista a
representação do momento em que a santa está a morrer. Vemos também um domínio
magistral do mármore.
Quando reparamos nas mãos das figuras de Bernini podemos ver que estas são sempre
representadas com quatro falanges tendo um aspeto alongado.
A escultura é muito de valores sensitivos, é necessário contactar ao vivo com a obra de
arte.
Bernini também trabalha a parte da escultura fúnebre, vemos os defuntos muitas vezes
representados com atitudes heroicas.
A Fonte dos Quatro Rios (1648-51) é uma das obras mais importantes de Bernini em
Roma, as fontes públicas contam com um papel enorme na sua carreira; os rochedos são
aqui representados de um modo maus austero.

7
Capela Cornaro
8
Capela Altieri

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Vamos ver a temática do retrato a crescer em vários portes e também no domínio da


escultura, os bustos contando com uma importância significativa. Esta é a fixação do que
se virá converter num retrato formal, vamos encontrar em toda a Europa do século XVII
e XVIII todos os soberanos a terem um retrato esculpido.
• Constanza Buonarelli, 1635
• Cardeal Scipion Borghese, 1632
• Luís XIV, 1665

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Escultura em Portugal no período barroco


Centrar-nos-emos, inicialmente, na primeira fase do barroco em Portugal e também quais
foram as novidades plásticas que a irão acompanhar. A escultura portuguesa do século
XVII vai-se manter presa àquilo que foi a escultura dos séculos anteriores.
A Porta Férrea da Universidade de Coimbra conta com uma intervenção que acontece em
plena cronologia do barroco, nos anos 30 do século XVII, num tempo que coincide com
intervenções romanas e que faz eco da realidade predominante em todo o país. Falamos
do acesso privilegiado ao Paço das Escolas, nos nichos encontramos esculturas. Vemos
uma porta tratada à maneira de um retábulo, durante um período que se arrasta, assistindo
ainda a uma produção muito presa aos valores medievais (como é exemplo o hierarquismo
e a serenidade).
Quase até ao final do século XVII vamos encontrar escultura que tem mais que ver com
épocas passadas do que com o Barroco. Os artistas portugueses vão-se acomodando às
mudanças que estão a acontecer por toda a Europa.
• No entanto, existem algumas (poucas) obras que vão já contar com aspetos do
barroco:
A Capela de S. Gonçalo de Amarante na Igreja do Convento de S. Domingos de Benfica
(1670-1677) é uma delas. Assistimos a uma importação de obras de arte fundamental no
século XVIII, que já se desencadeia no século XVII; esta acaba por ter uma grande
importância naquilo que é o gosto em Portugal, traz para aqui novidades que outrora não
eram conhecidas.
As obras, um conjunto escultórico muito interessante, que a compõem vão ser
encomendadas em Roma por D. Frei Manuel Pereira, o futuro Secretário de Estado do
rei, que vai estar em Roma durante uma temporada, e, como é evidente, vai trazer aquilo
que de melhor se está a fazer no tempo em que lá vive.
É um conjunto de nove esculturas (todas elas em consonância com o barroco do século
XVII), com São Gonçalo ao centro, todas elas feitas em mármore, sendo muito
provavelmente encomendada a um discípulo de Bernini. Esta serve para mostrar e ilustrar
a chegada, fora de contexto, de uma realidade estética que ainda não se pratica em
Portugal.
Olhando particularmente para a escultura de Santa Teresa, conta com uma expressão
muito semelhante àquela que aparece no Êxtase de Santa Teresa, e encontramos também
a questão da mão berniniana, onde existem quatro falanges nos dedos.
• Dinamismo
• Movimento
• Serpentinata
• Gestualidade
• Coloquialidade
• Equilíbrio precário (perna recuada, joelho fletido)
• Membros superiores afastados do corpo
• Modelos bernianos convencionais

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Um outro exemplo é a Fonte de Neptuno, mais precisamente a estátua de Neptuno, no


Palácio de Queluz, escultura que se encontra associada ao embaixador de Portugal em
Itália – podemos ligar as fontes ao Jardim Francês tão característico do Barroco do
Absolutismo –, a sua atual localização não era o seu destino inicial.
Paralelamente a esta realidade da importação de obras de arte, um pouco episódico no
século XVII e mais generalizado no século XVIII em Portugal o que se faz é uma prática
da escultura ainda um pouco presa às épocas passadas, no qual os artistas adquirem o seu
conhecimento através dos seus pais; o que leva a que estes valores modernos entrem
lentamente em Portugal.

Um dos casos mais importantes é o fenómeno dos Barristas de Alcobaça, que


encontramos no Mosteiro de Alcobaça, região rica em barro/terracota, sendo que a
abundância do material favorece o trabalho do barro. Falamos de um conjunto sem
paralelo na arte portuguesa, uma produção que remonta à primeira metade do século
XVII, esculturas feitas em barro cozido (terracota), e que depois é normalmente
policromado.
A Capela Relicário do Mosteiro é um dos espaços que se preserva de uma forma
minimamente condigna, trata-se de uma capela para relíquias – estas que são objetos que
tenham estado em contacto com os santos, o que passa a estar em voga desde a
Contrarreforma, tendo um grande impacto na História da Arte –, ganhando um papel de
destaque.
O Mosteiro de São Martinho de Tibães conta com esculturas do Frei Cipriano da Cruz,
representante daquilo que é o barroco em Portugal, na segunda metade do século XVII.
É frade deste mesmo mosteiro para o qual ingressa muito jovem, acaba mesmo por se
converter num escultor de referência com obras em madeira, barro e pedra. Não se
conhecem obras anteriores àquelas que faz em Tibães, deixando obras interessantes e
relevantes tanto no mosteiro como por todo o país.
Executará algumas esculturas para a cenografia do retábulo, e vai faz essencialmente
santos beneditinos. A sacristia contém ainda hoje as esculturas feitas por ele, e ainda para
o convento executa algumas esculturas para capelas, como é exemplo Visão de Santa
Lutgarda, um tema absolutamente caro ao Barroco da Contrarreforma, o que retrata o
evidente contacto que tem de ter tido com artistas internacionais.
Um dos conjuntos mais importantes a seguir ao de Tibães é aquele que faz para Coimbra,
acabando por se tornar num escultor da ordem beneditina, algumas destas obras que
tiveram como destino a cidade coimbrã encontram-se atualmente no Museu Nacional
Machado de Castro.

O pregueado muito miúdo é uma espécie de marca no trabalho de Frei Cipriano da


Cruz (nascido em Braga em c.1645-1716), que se encontra em Coimbra em 1680/1690,
assim como a preocupação com os detalhes, do tratamento do padrão e relevo que forma
uma espécie de tecido, assim como os gestos, etc. Trata-se de uma escultura mais
atualizada.
Nossa Senhora da Piedade: é um tema do barroco que vai levar às últimas consequências,
e que Frei Cipriano da Cruz vai retratar, atingindo um dos seus pontos mais altos e que

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nos remete para o contacto com os modelos internacionais que encontramos em obras de
Rubens, cuja obra foi objeto de rápida dispersão devido às gravuras (encontrando aqui
várias composições comparativas).
No contexto da sua atividade para o Colégio de S. Bento de Coimbra, vai estar também
associado à Universidade de Coimbra, a sua atividade na mesma está associada à imagem
de Santa Catarina na Capela de S. Miguel, que conta com valores como a volumetria, a
qualidade, a execução, o detalhe, a serenidade do rosto (1691-92).
Também no contexto da Universidade, este será responsável pela execução de uma outra
obra, em pedra calcária, a representação da sabedoria, a figuração de Minerva, rematando
o segundo acesso ao Paço das Escolas. Tratando-se de uma escultura de exterior, está
relativamente danificada, tendo em conta que o calcário da região de Coimbra se degrada
com bastante facilidade, no entanto, mantém os valores e o tratamento escultórico dos
elementos, marcando a sua obra.

Escultura Barroca em Portugal (1700-1750)


Este século será marcado por uma conjuntura cultural e política onde a figura de D. João
V conta com um papel muito importante; temos um panorama artístico e cultural marcado
pela influência italiana que se faz sentir em Portugal em longa data, que serão fomentados
no reinado de D. João V.
O que aqui abordaremos é a produção escultórica na primeira metade do século XVIII,
acabando por representar uma realidade transversal a todo o país, começaremos pelo
fenómeno de artistas em Portugal, e que aqui deixam a sua influência. Uma outra
realidade que temos presente é a encomenda muito mais significativa de escultura ao
estrangeiro que trará novidades estéticas no domínio da escultura e, por fim, a realidade
de escultores portugueses em Portugal.
Um dos grandes fenómenos a que se assiste no reinado de D. João V é a vinda de artistas
estrangeiros para Portugal, tornando-o num mecenas muito importante.

Claude Laprade
Nasce em 1682 na cidade francesa de Avignon e acaba por falecer em 1738, em Lisboa.
É um dos mais importantes no campo da escultura, e um dos melhores representantes
daquilo que é a escultura do Barroco em Portugal, do Joanino, no entanto, não se sabe o
porquê de vir para Portugal.
É natural de França, de uma região muito particular, tratando-se de um domínio
pontifício, uma região caracterizada por uma influência italiana fortíssima. Laprade,
apesar de ser francês, é um artista profundamente marcado pela matriz italiana, pois era
uma espécie de região-estado do Vaticano.
Estamos a falar de uma figura que nasce em 1682, vindo para Portugal com cerca de 17
anos, deixa aqui o essencial da sua obra. Encontramo-lo encarregue de encomendas
relevantes no programa artístico português e na sua própria carreira que o irão lançar.
Com apenas 17/18 anos já está associado à Quinta da Vista Alegre, pertencente ao antigo
reitor de Coimbra, D. Manuel de Moura Manuel, mais precisamente ao túmulo deste

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último na Capela de Nossa Senhora da Penha de França, em Ílhavo. Executará também,


para o exterior desta mesma capela, uma imagem que se localiza num dos nichos,
representante da Nossa Senhora da Penha.
É uma obra ímpar e uma peça absolutamente notável do ponto de vista do conjunto
tumular, mas daquilo que é a excelência técnica que lhe está associada. Laprade destaca-
se pelo predomínio de um material que os produtores portugueses não dominaram até ao
final do século XVIII; a sua obra é marcada por uma componente iconográfica muito
relevante, o que irá lançar Laprade no panorama artístico português é a sua excelência de
produção e de detalhes.
Há um domínio completo com a pedra, do próprio material; os penteados do género vão
ser empregues também em outras representações, assim como o tratamento dos
panejamentos.
Vamos encontrar Laprade a trabalhar nos primeiros anos do século XVIII, mais
concretamente entre 1700-1702, para a Universidade de Coimbra, que decorre da
Reforma dos Estudos na Universidade, no Paço das Escolas, a reforma dos Gerais9, que
correspondem às aulas maiores: Leis, Teologia, Cânones e Medicina.
É no contexto desta reforma D. Nuno da Silva Teles vai pedir uma reforma arquitetónica,
mas também escultórica; Laprade irá decorar as sobreportas realizando um conjunto de
baixos-relevos: um retrato raríssimo do rei D. Pedro II e a antiga Torre. Para o interior
das salas executa esculturas de vulto, figuras representativas das disciplinas lecionadas
nos Gerais, que atualmente incorporam o Museu Nacional Machado de Castro.
Ainda no contexto da Universidade de Coimbra temos ainda uma última intervenção de
Laprade, na entrada de aparato no Paço das Escolas, o que se conhece como Via Latina
não existia à época, sendo uma obra mal identificada até um passo muito próximo.
Ao centro do pórtico encontramos a representação de D. José, ladeado por dois atlantes
que suportam o peso de toda a estrutura, e na sua base conta com duas alegorias. Estas
duas são as representações alegóricas da Fortaleza e da Justiça, como características têm
os seus pescoços longos, cabeças muito pequenas, olhos amendoados e os penteados já
antes mencionados.
Não se conhece bem a sua vida, mas daqui para a frente encontramo-lo associado a
esculturas em madeira e retábulos em talha dourada, associado a Ordens Religiosas, o que
terá que ver com o gosto dos encomendadores10.

João António Bellini


Terá nascido em c. 1690 e morrido por volta de 1760. Foi alguém que terá estado em
Portugal durante uma temporada muito significativa da sua atividade, morrendo,
provavelmente, em Espanha.
Os contornos da sua chegada acontecem por via da Companhia de Jesus, particularmente
ligado a Ludovice. A primeira obra à qual está ligado é a Capela-Mor da Sé de Évora,
esta que se trata de uma Sé Medieval, além de termos aqui um conjunto de obras da Itália,
9
Correspondia à antiga Ala da Rainha.
10
Vemos aqui como se desaproveitam as qualidades de um artista.

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temos também obras de Bellini: dois bustos sobre a porta das capelas e dois anjos orantes
à beira do crucifixo, assim como outras figuras sobre as janelas.
Bellini conta com uma obra marcada pelo mármore, conseguindo-o sempre trabalhar de
melhor forma. Do espólio da Sacristia da Igreja do Antigo Colégio de Santo Antão-o-
Novo sobreviveram apenas as esculturas dos doze apóstolos, que agora decoram a fachada
de um dos hospitais de Lisboa, sendo as primeiras obras documentadas dele.
Numa outra campanha que deixa uma boa parte da sua obra é o Colégio Jesuíta de
Santarém, atualmente a Catedral de Santarém, e que guardará aquilo que era o espólio
dos jesuítas, entre este contamos com as representações de S. Francisco Xavier e S. Inácio
de Loiola. Nestas revela um domínio absoluto dos pormenores, um dos mais importantes
e identitário da sua obra são as bases das esculturas, bases rochosas, irregulares com
carácter mais naturalista.
É também na Sé de Santarém que vai deixar uma das obras mais extraordinárias do
barroco português, um dos contributos mais sólidos da sua carreira, é uma peça excêntrica
daquilo que é a realidade retabulística em Portugal. Trata-se de um retábulo pétreo à
maneira daquilo que é comum nas igrejas romanas, dedicado à Senhora da Boa Morte, ou
seja, uma imagem de Nossa Senhora morta, e encontramos uma escultura retabular
marcada pela Ascensão da Virgem; a nível escultórico vemos aqui o baixo-relevo, que
não terá seguidores em Portugal.
Um terceiro caso, para lá daquilo que é este grupo de autores italianos/estrangeiros
conhecidos em Portugal, é de um enorme desconhecimento. Uma das encomendas mais
significativas é aquela que se dirige à Basílica de Mafra, assistiremos também a
encomendas sucessivas nas mais variadas áreas de remessas de encomendas que chegam
a Portugal vindas de Roma11; é feito um esforço diplomático, havendo um volume de
obras romanas muito grande em Portugal.
No caso específico da Basílica de Mafra, encontramos uma encomenda feita para a galilé
e para as capelas laterais, nesta contamos com obras de:
• Giuseppe Lironi
• Carlo Monaldi
• Giovanni Batttista Maini
• G. Rusconi

Manuel Dias
Terá nascido em 1688, em Oeiras, e morrido no ano de 1755 em Lisboa.
A imaginária em madeira é das mais abundantes no património móvel que têm sempre
uma coisa em comum, o facto de serem anónimas, sobretudo no século XVIII. Os artistas
portugueses têm um lugar absolutamente menorizado e secundarizado no reinado de D.
João V, principalmente marcado pelo prestígio italiano.

11
Lisboa Romana e Roma Lusitana.

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Na sua obra vamos encontrar tiques de execução, como é exemplo a posição das mãos
das mulheres: na escultura da Nossa Senhora do Carmo, em Coimbra, e na de Nossa
Senhora da Caridade, que atualmente se encontra no MNAA.
Este é um escultor muito importante no panorama português, sendo o autor do cristo
crucificado que se encontra na Sé de Évora, esta que é uma escultura em madeira, que
evidencia a realidade plástica dos artistas portugueses. Esta é encomendada a este autor
que tem o cognome de “O Pae dos Christos”12.
Em Portugal, a escultura em madeira é menorizada sendo do património móvel mais
maltratado.

José de Almeida
Nasce e morre em Lisboa, terá nascido em 1708 e morrido em 1769.
Tem, desde logo, uma questão associada à sua educação, sendo que foi um dos raríssimos
bolseiros de D. João V em Roma, vai para a cidade italiana com cerca de 10/12 anos,
tendo sido discípulo de Carlo Monaldi, regressando para solo português com cerca de 20
anos formado pelos romanos.
Quando chega a Portugal são-lhe entregues tarefas menores, e será remetido para outro
domínio da encomenda, as Ordens Religiosas. Uma das primeiras obras que vai fazer um
conjunto em madeira, para tomar o lugar de umas encomendas que ainda tardavam em
chegar.
Aquela que é considerada a sua grande encomenda pertence a uma intervenção feita no
Palácio das Necessidades, com as esculturas de São Paulo e de São Camilo de Lélis
(1744-47), onde vemos um domínio imenso no trabalho de mármore, uma qualidade
equivalente a uma escultura italiana destes anos, o que seria de esperar.
Tem subjacente um trabalho de desenho notável, mas, tal como a esmagadora maioria
dos escultores portugueses, é a madeira que vai prevalecer no seu trabalho; é necessário
ter em conta a qualidade da execução das obras.

12
Exemplos deste facto são os cristos crucificados que se encontram no Convento do Varatojo em Torres
Vedras e no Convento de São José em Ponta Delgada.

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