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4º Bimestre – Aula 07
Aula do dia: 22/12/2021.
1) BARROCO: INTRODUÇÃO
Partindo das artes plásticas, tendo seu apogeu literário no século XVII, e
prolongando-se até meados do século XVIII, o Barroco é caracterizado por forte
influência religiosa, devido ao contexto histórico marcado pela Reforma Protestante e
pela Contrarreforma. No entanto, ao lado de tanta religiosidade, havia também, na época,
um forte apelo aos prazeres do mundo terreno, relacionados à perspectiva
antropocêntrica herdada do Renascimento. Desse modo, o estilo configura-se,
basicamente, na representação de um período que vive de contrastes que traduzem a
tensão de um ser humano atormentado por grandes dúvidas existenciais.
A Itália é o berço desse movimento e seu maior representante, nas artes visuais, é
o pintor italiano Caravaggio (1571-1610). A sua obra e de outros imponentes artistas
barrocos europeus como Rubens, Rembrandt e Velázquez buscam unir aspectos
contraditórios: o sagrado e o profano, as luzes e as sombras (oposição que dará origem a
uma técnica conhecida como chiaroscuro, isto é, claro-escuro), o paganismo e o
cristianismo, o racional e o irracional.
Assim, a tradição católica está fortemente refletida na arte barroca, seja nas artes
visuais, seja na literatura. Entretanto, muitas obras desse período trazem imagens
conflituosas, já que a fé, paradoxalmente, convivia com a incerteza.
A Contrarreforma Católica
3) CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
É preciso ressaltar que a presença de luz e sombra, nos textos barrocos, normalmente,
está associada à juventude (luz) e à velhice (sombra). Nessa perspectiva, o poeta barroco
sempre lembra aos leitores o quanto a juventude é fugaz e o quão rápido chega a
velhice e, consequentemente, a morte. Há, por isso, uma supervalorização da
juventude e dos prazeres que essa fase da vida pode oferecer.
Nessa mesma linha de pensamento, a natureza, quando retratada, serve para lembrar
que a beleza – por exemplo, a de uma rosa – é fugaz, assim como a juventude. Além
disso, imagens como a da aurora (transição entre a noite e o dia) e a do crepúsculo
(transição entre o dia e a noite) simbolizam o dualismo típico do estilo barroco.
3.2) O pessimismo:
3.3) O rebuscamento
A leitura dos principais poetas clássicos influencia a escolha dos temas mais
recorrentes na poesia barroca. Vários textos abordam a reflexão da fragilidade da vida
humana, a fugacidade do tempo, a crítica à vaidade (a beleza é sempre destruída pela
passagem do tempo), as contradições do amor.
O desejo de produzir textos muito elaborados, contudo, faz com que a escolha dos
temas tenha menos importância do que o trabalho com a linguagem.
imagens que pudessem ser vistas como agudezas. O engenho é a capacidade de promover
correspondências inesperadas entre ideias e conseguir sintetizar um pensamento em
“palavras brilhantes”. Os poetas definiram um processo que os auxiliava a criar
metáforas.
À morte de F.
VASCONCELOS, Francisco de. In: PÉCORA, Alcir (Org.). Poesia seiscentista: Fênix renascida
&Postilhão de Apolo. São Paulo: Hedra, 2002. p. 150.
Vocabulário:
Arminhos: mamíferos carnívoros de pelagem branca no inverno. Em sentido figurado: aquilo que é muito
alvo, muito branco.
Nácares: madrepérolas. Em sentido figurado: cor rosada, carmim.
Aljôfares: gota-d’água com aspecto de pérola. Em sentido figurado: gota de orvalho.
Púrpuras: cores vibrantes, tendentes para o roxo.
Pez: piche.
Tersa: pura, limpa.
Escarlata: de cor vermelha muito viva, escarlate.
Deidade: divindade.
O soneto desenvolve o tema da morte e ilustra como ela chega após um processo
de transformação que destrói tudo o que havia de belo na vida. Nesse caso específico, a
sra. F., uma mulher caracterizada como divina, é reduzida a cinzas por efeito da morte.
sra. F. O movimento entre vida e morte é construído pela alternância entre as metáforas
da vida (apresentadas na primeira, terceira e quarta estrofes) e as da morte (presentes na
segunda e quarta estrofes).
Tome nota:
Como todo o trabalho literário do Barroco está centrado no uso elaborado dos
recursos da linguagem, os autores do período exploram várias figuras de linguagem e
jogos de palavras.
No soneto “À morte de F.”, ocorrem dois jogos de palavras diferentes: o uso de
termos com sentidos semelhantes (sinonímia), em “jasmim/rosa”, “troca/muda”,
“pez/barro”; e o uso de termos com sentidos opostos (antonímia), em “jasmim/ cinza”,
“aurora/pranto”, “fonte/pez”, “rosa/luto”.
Ao lado da metáfora, outras figuras de linguagem muito utilizadas na literatura barroca
são antíteses, paradoxos e hipérboles.
Tome nota:
4) As correntes do Barroco
• Cultismo ou gongorismo:
Exemplo:
Observe que o texto de Gregório consegue transmitir ao seu leitor muito da angústia do
eu lírico através dascontradições dos sentidos das palavras, do não entendimento, do
questionamento do mundo. O nascer e o questionamento desta ação, a constância que
se revela inconstante, e a firmeza que tem como característica ser inconstante (e por
isso não ser firme)revelam uma dificuldade em entender e aceitar o mundo real como ele
é. E, como você deve lembrar, estas características opostas em são formalizadas pelo uso
do paradoxo.
• Conceptismo ou quevedismo:
Exemplos:
Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos fosse o esmalte das armas dos
portugueses, para que entendêssemos que o brasão de nascer portugueses era a
obrigação de morrer peregrinos: com as armas nos obrigou Cristo a peregrinar, e com
a sepultura nos empenhou a morrer. Mas se nos deu o brasão que nos havia de levar
da pátria, também nos deu a terra que nos havia de cobrir fora dela. Nascer pequeno e
morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o
nascimento e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a
terra; para nascer, Portugal; para morrer, o mundo.
Professor Denise Adélia Vieira– 3º ano Integrado
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Observe que neste texto, Vieira procura justificar o expansionismo português com as
Grandes Navegações e consolar os exilados no Brasil das saudades de sua terra Natal. Ser
peregrino é a missão que Deus, segundo ele, deu aos portugueses.
1. Deus deu pouca terra aos portugueses para nascerem, numa alusão à
pequenaextensão do país;
2. Mas deu muitas terras onde morrerem, numa referência às várias colônias de
Portugal em três continentes (América, África e Ásia).
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
RUBENS, P. P. O martírio de Santo Estêvão. c. 1617. Óleo sobre painel, 427 × 280 cm.
2. Santo Estêvão, acusado de blasfêmia, foi condenado pelas autoridades judaicas a ser
apedrejado até a morte. O martírio do santo é relatado nos Atos dos apóstolos:
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[...] como ele estava cheio do Espírito Santo, olhando para o céu, viu a glória de Deus e
Jesus que estava em pé à direita de Deus. E disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho
do homem em pé à mão direita de Deus. Então eles, levantando um grande
clamor, taparam os ouvidos, e todos juntos arremeteram contra ele com fúria. E, tendo-
o lançado fora da cidade, o apedrejavam [...].
Bíblia Sagrada. Atos dos apóstolos – 7, 55. 15. ed. Traduzida de vulgata e anotada pelo Pe. Matos Soares.
São Paulo: Paulinas, 1962. p. 1323.
a) O quadro de Rubens apresenta uma recriação dessa passagem da Bíblia. Que recursos
foram utilizados pelo pintor para estabelecer uma diferença entre as dimensões terrena e
celestial?
b) Observe o olhar das pessoas que participam do plano terreno da cena. De que modo a
direção em que olham pode ser interpretada pelo observador do quadro?
3. Quais dos adjetivos abaixo você escolheria para caracterizar essa pintura? Justifique
sua resposta.
Singela grandiosa frágil impactante estática dinâmica
4. No século XVII, diferentes formas de arte exploram temas ligados à religião. O texto
a seguir foi retirado de uma das meditações escritas por John Donne (1572-1631), um
bispo da Igreja Anglicana da Inglaterra.
Meditação XVII
(de Devoções para ocasiões especiais — 1623)
[...] A Igreja é católica, universal, e assim são os seus atos; tudo o que faz pertence a
todos. Quando ela batiza uma criança, tal ato me diz respeito; pois aquela criança, dessa
forma, se une àquele corpo que igualmente é minha cabeça, e se enxerta naquele corpo
do qual sou membro. E quando ela enterra um homem, tal ato me diz respeito: a
humanidade toda é de um só autor, e constitui um só volume; quando um homem morre,
não é um capítulo que se arranca do livro, mas é apenas um que se traduziu para idioma
melhor; e todos os capítulos devem assim ser traduzidos. Deus emprega diversos
tradutores; alguns trechos são traduzidos pela idade, outros pela doença, outros pela
guerra, outros pela justiça; mas a mão de Deus está presente em todas as traduções, e é
sua mão que reencadernará todas as nossas folhas dispersas para aquela
biblioteca onde cada livro deverá jazer aberto um para o outro. Portanto, assim como o
sino ao anunciar o sermão não convoca apenas o pregador, mas a congregação inteira,
assim também este sino convoca a todos nós [...]. Nenhum homem é uma ilha, completa
em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um
torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um
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DONNE, John. In: VIZIOLI, Paulo (Intr., sel., trad. e notas). John Donne, o poeta do amor e da
morte. Ed. bilíngue. São Paulo: J. C. Ismael, 1985. p. 103-105. (Fragmento).
> John Donne inicia sua meditação explicitando a tese que irá defender ao longo do texto.
Que tese é essa?
5. Podemos afirmar que a ideia básica por trás dessa tese é antecipada pela epígrafe: “Este
sino, ora a dobrar por outro lentamente, me diz: ‘Irás morrer’”. Por quê?
6. Duas imagens são utilizadas, por John Donne, como uma “ilustração” metafórica da
tese que defende. Quais são elas?
> Explique por que, na perspectiva cristã, tradução é uma boa metáfora para morte.
7. Releia.
9.
(FEI)
Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de linguagem que
consiste em aproximar termos de significados opostos, como “tristezas” e “alegria”. O
nome desta figura de linguagem é:
a) metáfora
b) aliteração
c) eufemismo
d) antítese
e) sinédoque
(Gregório de Matos)
a) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do séc. XVI, sustentando uma crítica à
preocupação feminina com a beleza.
b) jogo metafórico do Barroco, a respeito da fugacidade da vida, exaltando gozo do
momento.
c) estilo pedagógico da poesia neoclássica, ratificando as reflexões do poeta sobre as
mulheres maduras.
d) as características de um romântico, porque fala de flores, terra, sombras.
e) uma poesia que fala de uma existência mais materialista do que espiritual, própria da
visão de mundo nostálgico-cultista.
13.O barroco literário é marcado por dois estilos denominados: cultismo e conceptismo.
A alternativaCORRETA sobre esses conceitos é:
14. O uso de figuras de linguagem no movimento do Barroco é algo marcante, sendo que
as principais são:
Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
[...]
O açúcar já se acabou?..................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Logo já convalesceu?.....................Morreu.
À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 41-43.
GABARITO
> Alguns elementos definem o caráter religioso dessa obra: a presença de anjos, de Jesus
Cristo e de Deus entre as nuvens e as vestes de Estêvão, na cor vermelha, característica
dos bispos católicos.
2. a) A observação da obra permite identificar uma espécie de linha imaginária que corta
obliquamente o quadro, logo acima da cabeça de Santo Estêvão. Essa linha, sugerida pela
luz que emana do céu e se projeta para baixo dos anjos, além de organizar e dar
movimento à composição, divide a cena em duas partes: a dimensão celestial está
acima dela; a terrena, abaixo. Além disso, as cores utilizadas para representar as pessoas
que se encontram no plano terreno são bem mais vivas e fortes do que as utilizadas na
representação dos anjos, de Jesus e de Deus. Esse recurso promove um ar mais etéreo aos
seres celestiais.
5. Paraentender o sentido geral da epígrafe é preciso saber que, no ritual fúnebre da Igreja
Católica, os sinos dobram pela pessoa que morreu. A epígrafe afirma que uma pessoa,
aoouvir o sino tocar pela morte de outra, deve entender tal ação como um anúncio da sua
própria mortalidade. Sendo assim, a epígrafe também afirma o princípio geral da
universalidade dos atos da Igreja.
> Como, para os católicos, o momento da morte é um momento de passagem para a vida
eterna, faz sentido representá-lo, metaforicamente, pela ideia de tradução. A tradução é a
transposição de um texto escrito em uma língua para uma segunda língua. Nesse sentido,
a morte traduz a vida terrena em vida eterna. Segundo o texto, o fato de haver diferentes
tipos de morte (doença, velhice, guerra, etc.) poderia ser explicado porque Deus recorre
a diferentes “tradutores” (agentes) para promover a passagem de um estado humano,
finito, terreno, para outro, celestial, eterno.
7. a) Quando utiliza a metáfora da ilha para afirmar que a morte de um indivíduo afeta a
todos, o autor leva adiante a primeira afirmação feita no texto. Por trás da universalidade
da Igreja, o que Donne pretende afirmar é a unidade de todos os seus membros a partir da
figura central de Deus.
b) A tese defendida por Donne, nessa meditação, é a da irmandade dos seres humanos por
meio de Deus. A ilha representa o isolamento, a solidão, a individualidade. Na passagem
citada, o autor volta a falar sobre a morte de um indivíduo, recorrendo à imagem do torrão
levado pelo mar, para explicitar que a perda é muito maior, porque o próprio continente
(a Europa) seria afetado.
Santo Estêvão para o céu revela que, apesar da violência voltada contra ele, o mártir
acredita na sua salvação. Nesse sentido, Deus é o fator de união de todos aqueles que se
encontram sob sua proteção e misericórdia. Isso fica representado, na tela, pela posição
superior ocupada por Cristo e por Deus e também pela intervenção dos anjos que vêm em
socorro do mártir católico. John Donne explora a mesma ideia por meio de suas
metáforas. A tese defendida por ele é a de que a humanidade constitui um único corpo e,
na hora da morte, Deus se encarrega de “reencadernar” as folhas (almas dos mortos) nos
volumes que compõem a sua grande biblioteca. Mais uma vez, Deus está presente como
elemento central em torno do qual se organizam os seres humanos.
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9. d
10. b
11.d
12. d
13.a
14.c
A metáfora da doença - no verso “Baixou, Subiu e Morreu”, por meio da qual o autor
compara a situação de degradação política e socioeconômica da Bahia com a progressão
da enfermidade de um doente.
Percebe-se a presença de antíteses pelo uso dos pares “nobre” e “pobre’, e “honra” e
“vergonha”, “baixou” e “subiu”, “caí" e “cresce”.
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BIBLIOGRAFIA
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-barroco.htm#:~:text=Barroco-
,Literatura,Reforma%20Protestante%20e%20pela%20Contrarreforma.