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SITUAÇÃO HISTÓRICA
Na tentativa de recuperar o seu prestígio bastante abalado socialmente, a Igreja organiza a
Contra-Reforma e funda a Companhia de Jesus, objetivando a aproximação do homem ao seu criador.
Desta forma, desencadeia-se um novo processo religioso com apelo aos valores espirituais em que a
finalidade era a salvação da alma.
Por outro lado, nasce a filosofia racionalista de Descartes e Newton em contraste com o espírito
da Contra-Reforma e espalhando-se por toda a Europa.
Assim, na tentativa de conciliar o celestial e o terreno, o material e o espiritual surge o Barroco,
movimento alicerçado na dualidade existencial do momento.
O porquê do nome
O termo barroco origina-se na pintura e na arquitetura e aparece por assemelhar-se a uma pérola
de superfície irregular disforme, com várias faces. Justificam-se, a partir daí, o contraste, o conflito, a
irregularidade da arte barroca.
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CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
1. FUSIONISMO
Tentativa de reconciliação de coisas opostas, conflitantes (matéria X espírito; paganismo X
cristianismo; pureza X pecado; pecado X perdão). Daí a preferência pelas antíteses.
“A vós correndo vou, Braços Sagrados
Nessa Cruz Sacrossanta descobertos,
Que para receber-me estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados”.
(Versos de Gregório de Matos, nos quais se procura conciliar o pecado com o perdão, o amor com o castigo).
2. VALORIZAÇÃO DO MISTICISMO
Apesar da dúvida e do pessimismo, o homem barroco teme a Deus e, mesmo gozando os prazeres
mundanos, está com o espírito voltado para Ele.
“Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa Glória”.
(Reconhecendo-se pecador, o poeta apela para Deus, numa atitude de humildade e respeito. Observe que as letras
maiúsculas salientam ainda mais o espírito místico).
3. A TRANSITORIEDADE DA VIDA
A vida é passageira, portanto é preciso gozá-la. (Epicurismo)
“Goza, goza a flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda flor sua pisada.
Oh! não aguardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”.
(O poeta adverte uma bela mulher, a fim de que ela goze a juventude).
4. TRANSITORIEDADE DO SENTIMENTO
Ninguém ama, nem odeia, nem se ilude, nem é bom por toda a vida. O sentimento passa como passa
a própria vida.
“Nenhum amor dura tanto que chegue a ser velho. Mas esta interpretação tem contra o exem-
plo de Jacó com Raquel, e outros grandes, ainda que poucos. Pois se há também amor que dure
muitos anos, por que no-lo pintam os sábios sempre menino? Pinta-se o amor sempre menino,
porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacó, nunca chega à Idade do uso da razão”.
(Vieira)
CARACTERÍSTICAS DE FORMA
A literatura barroca distingue-se pela abundância de ornatos, pela elaboração formal, pelo estilo
trabalhado e decorativo. Entre os recursos, destacam-se:
a) antítese d) hipérbato
b) paradoxo e) comparação
c) metáfora f) hipérbole
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AS CORRENTES DO BARROCO
CULTISMO: (poesia)
Formalismo que se distingue pelo jogo de palavras, de construções e de imagens. Uma tentativa de
aristocratização da linguagem.
“O alegre dia entristecido
O silêncio da noite perturbado,
O resplendor do sol todo eclipsado
E o luzente da lua desmentido”.
CONCEPTISMO: (prosa)
A imagem se torna sutil pelo jogo das ideias e dos conceitos.
“Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora, é néscio. Assim como a
ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento”.
AUTORES DO BARROCO
1) GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA
(Salvador, 1633 — Recife, 1696)
TRAÇOS ESTÉTICOS
• A obra poética de Gregório de Matos pode ser dividida em três partes:
1a) poesia de circunstância: aquela que se volta para a realidade circundante, o meio social, a
cidade, o Recôncavo baiano. Nesta parte podemos incluir a sátira social (a crise econômica da sociedade
do açúcar, a debilitação das Câmaras, a ascensão do negociante português, a opressão colonial
portuguesa), a graciosa (referência a acontecimentos pitorescos, folguedos, festas, divertimentos da
Bahia), e a poesia encomiástica (caráter elogioso e de experimentação formal).
2a) poesia amorosa: a poesia lírico-amorosa e a que se pode chamar de erótico-irônica (também
com aspectos satíricos, sempre ligados a motivos de sexualidade).
3a) poesia religiosa: onde Gregório tematiza a culpa e o perdão, a ideia da vida como trânsito (Tema
do "carpe diem") diluindo todas as noções de estabilidade e equilíbrio.
OBRA
Sermões; Cartas
Arte de Furtar; Quinto Império; História do Futuro; Clavis Prophetarum.
TRAÇOS ESTÉTICOS
• Sua obra revela uma perfeita conciliação entre os fundamentos de sua formação jesuítica e o
estilo de época barroco tanto nos Sermões, como nas Cartas.
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• Virtuosidade na expressão sutil, no fraseado de intrincada estrutura lógica, carregada de
alegorias e antíteses.
• O melhor exemplo de conceptismo na literatura da língua portuguesa: imagens muito rica,
representando perfeitamente a substância das coisas, dos sentimentos e da condição humana nas suas
relações com Deus.
• Sermões que mais interessam ao leitor brasileiro: Sermão da Sexagésima (proferido na Capela
Real de Lisboa (1655), onde Vieira expõe sua arte de pregar, teorizando sobre o oratório e o orador
Sacros); Sermão do Primeiro Domingo da Quaresma (pregado no Maranhão, em 1653. O orador tenta
persuadir os colonos a libertarem os indígenas); Sermão XIV do Rosário (pregado em 1633 na Irmandade
dos Pretos de um engenho baiano, onde equipara os sofrimentos de Cristo aos dos escravos negros);
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda e Sermão de Santo Antonio aos
peixes.
• Extraordinária capacidade didática, recursando-se da criação de um diálogo fictício com os
ouvintes, referindo-se constantemente a fatos concretos, envolvendo emocionalmente os ouvintes com
descrições realistas e tocantes.
• Atenção para a cuidadosa organização de raciocínio que caracteriza os sermões de Vieira:
inicialmente propõe um problema, depois desdobra esta proposição, mostrando a interdependência de
suas partes. Em seguida, levanta uma hipótese, demonstrando-a ou justificando-a; confirmada a hipótese
esta é transformada em tese. Normalmente, Vieira ainda dá um reforço, rejustificando a tese. Assim, o
raciocínio de Vieira pode ser representado por um círculo, porque volta sempre ao ponto de partida.
• Vieira, muitas vezes, desenvolve seu raciocínio em vários círculos através de vários argumentos,
que se encadeiam, aprisionando cada vez mais o tema dentro dos limites ou perspectivas que ele pretende.
• No Sermão da Sexagésima, Vieira dá a fórmula de seus sermões:
"Há que tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para
que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o
exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias que se hão de seguir,
com os inconvenientes que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades,
há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disso há de
colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar".
• Apesar de se proclamar conceptista, atacando o cultismo, por exemplo, nestas palavras: "Este
desventurado estilo que se usa hoje, os que querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam
chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro e negro braçal
e muito cerrado. (...)
... (...) os pregadores cultistas ficam a motivar desvelos, a acreditar empenhos, a requintar finezas, a
lisonjear precipícios, a brilhar auroras, a derreter cristais, a desmaiar jasmins, a toucar primaveras e outras
mil indignidades destas(...)", Vieira, entretanto, muitas vezes incorreu em tais vícios em seus sermões,
usando antíteses, promovendo a escavação semântica das palavras, trocadilhos ("Ah Pregadores! os de cá,
achar-vos-eis com mais Paço; os de lá, com mais passos...").
• utilização do método parenético: pensava todas as possibilidades que surgiam na cabeça dos
outros e as derrubava; pensava todas as soluções possíveis, recolhia-as e concluía, desarmando o ouvinte
(ou o leitor).
• Sermão da Sexagésima: desagravo contra os dominicanos, criticando-os através da arma da
ironia, à maneira de pregar e tornando-os suspeitos de falso zelo apostólico.
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EXERCÍCIOS
01. “Primeiramente só Cristo amou, porque amou sabendo. Para inteligência desta amorosa verdade,
havemos de supor outra não menos certa, e é que, no mundo e entre os homens, isto que vulgarmente
se chama amor, é ignorância. Pintaram os Antigos, ao amor menino. E a razão, dizia em o ano
passado, que era porque nenhum amor dura tanto que chegue a ser velho”.
O texto exemplifica:
01) a prosa conceptista do Padre Antônio Vieira.
02) a forma cultista do Barroco.
03) o exagero do estilo barroco, conhecido por Barroquismo.
04) a obra religiosa de Gregório de Matos.
05) o cultismo de Bento Teixeira.
02.
I
“Lembra-te Deus que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te”.
II
“A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabanas e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro”.
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05) materialistas e temporais
TEXTO
(Gregório de Matos)
06. Em que verso se dá, através de um verbo, a síntese dos dois atributos: anjo e flor - o espiritual e o
material?
01) "anjo no nome, Angélica na cara"
02) "isso é ser flor, e Anjo juntamente"
03) "ser Angélica flor e Anjo florente"
04) "em quem, senão em vós, se uniformara"
05) "sois anjo, que me tenta, e não me guarda"
08. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar
galanterias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar a quem os não pica. Aliud cecidit inter
spinas: O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o picaram a ele; e o mesmo sucede cá.
Cuidais que o sermão vos picou a vós, e não é assim; vós sois os que picais o sermão. Por isto são
maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque
um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior;
mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto
as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra.
VIEIRA, Antônio. In: Vieira – Trechos escolhidos por Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Agir, 1971. P. 78-9.
TEXTO
Soneto
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O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
MATOS, Gregório de. In: Poemas escolhidos. São Paulo:
Círculo do Livro, s/d. p. 32.
10. No soneto,
01) os termos "rapa" (v. 1) e "carepa" (v. 2) pertencem à mesma classe gramatical.
02) a palavra "se" (v. 2) tem função apassivadora.
03) as palavras "maior" (v. 4) e "menos" (v. 7) são formas comparativas irregulares.
04) a expressão "da nobreza" (v. 5) exerce função adverbial.
05) o vocábulo "o" (v. 11) possui valor demonstrativo.
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04) O soneto é um excelente exemplo das contradições do espírito barroco em que convivem a
humildade e a pequenez do homem diante de Deus, num ato de contrição (o teocentrismo contra-
reformista), unidas, paradoxalmente, ao orgulho e à altivez da inteligência (antropocentrismo).
05) A autoconfiança do eu-lírico chega ao ponto do desafio do pecador a Deus na última estrofe, o
que mostra que, embora soneto pareça pertencer ao gênero lírico religioso, na verdade ele é
satírico, pois ironiza a fraqueza de Deus.
Os tercetos ilustram:
01) uma poesia que fala de uma existência mais materialista que espiritualista, própria da visão de
mundo nostálgica cultista.
02) a presença do tom subjetivo e ameno, pois o poeta utiliza símbolos da natureza para exaltar a
existência humana.
03) o estilo pedagógico da poesia barroca, ratificando as reflexões do poeta sobre as mulheres
maduras.
04) o caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do século XVI, sustentando uma crítica à
preocupação feminina com a beleza.
05) o jogo metafórico próprio do Barroco, a respeito da fugacidade da vida exaltando o gozo do
momento presente.
Gabarito
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
0 – 01 05 04 05 03 04 05 04 01
1 05 05 05 – – – – – – –
8
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