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Caminhando pela história


"Notas para a história de Araçariguama"

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Autor

Dr. Elias Silva


Historiador

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Elias Silva

APRESENTAÇÃO

Escrever a história de um município sem cair na armadilha de se fazer


genealogia(substituir a história do município pela das famílias) é uma
tarefa que exige discernimento, sensibilidade e conhecimento de cau-
sa. O historiador Elias Silva, que embora jovem é um dos mais conhe-
cidos, respeitados e experientes pesquisadores de história regional do
nosso estado, e, talvez, do nosso país, conseguiu em perfeito equilí-
brio, unir todos os requisitos exigidos em mais essa tarefa que abra-
çou.
O livro “Caminhando pela História” é justamente o que o título sugere,
é uma viagem pelo passado e também, pelo presente, cujo itinerário
nos permite visualizar Araçariguama, mesmo que jamais tenhamos
colocado os pés em seu território.
Este livro, com linguagem ágil e sem complexidades, bem pausado em
seus capítulos, nos traz informações dos séculos XVI ao final do XX com
a mesma fluidez, o que permite que seja trabalhado em todos os níveis
escolares ( Fundamental, Médio e Superior e mesmo Infantil) com a
mesma intensidade e com o mesmo índice de assimilação.
Só mesmo alguém que persegue os documentos com a disposição que
luta pela própria existência, seria capaz de reunir e detalhar tantos
anos de história em apenas um livro, considerando-se principalmente
ser ele um livro que partiu de si próprio até se concatenar e tomar
forma.
Falar do historiador Elias Silva torna-se desnecessário, afinal, este é o
seu quarto livro e seu nome já ocupa lugar de destaque na historiogra-
fia do país e é uma referência nas páginas da grande imprensa e na
imprensa regional e, neste particular, Araçariguama é um município
privilegiado em ter sua história escrita por ele. Assim, partindo do
pressuposto de que uma sociedade que não tem história não tem

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identidade, podemos Afirmar que a partir de agora Araçariguama se
encontra plenamente identificada, e com méritos.
Prof. Guilherme Augusto Guiducci Motta
Professor de História e ex-presidente da ANPAP-
Assoc. Nacional de Pesquisadores em Arquivos Públicos.

AGRADECIMENTOS

Sempre consciente de que a história é uma máquina movida


pelos atos dos homens e de acordo com as circunstâncias que o tempo
se encarrega de transmitir a cada um, iniciamos as pesquisas que resul-
taram neste livro a partir de uma motivação muito especial de amigos
como os irmãos Marco e Dimas (Ferreira de Carvalho)e que foi sendo
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ampliada e envolveu inúmeras outras pessoas a quem devemos agrade-
cimentos mas que não citaremos uma a uma para, na hipótese de es-
quecimento, injustiçar qualquer delas.
No decorrer das pesquisas que compreenderam milhares de do-
cumentos e dezenas de depoimentos, muitas outras pessoas contribuíram
com sugestões, críticas e referências com as quais pudemos enriquecer o
conteúdo deste livro. Agradecemos a elas e principalmente aos atenden-
tes dos arquivos (do Estado de São Paulo, da Cúria Metropolitana de São
Paulo, do IEB-Instituto de Estudos Brasileiros da USP, aos bibliotecários da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e aos respon-
sáveis pelas Câmaras municipais de Santana de Parnaíba e São Roque
que também contribuíram tanto quanto.
Agradeço também ao Sr. Pedro Vicente Lucca que me abriu as
portas de sua casa e permitiu que eu consultasse seu arquivo particular
no qual consta uma ampla documentação do período da primeira eman-
cipação de Araçariguama(1874-1934).Com a maior das paixões pela
história araçariguamense, devo destacar a participação do companheiro
Claudio Nicoleti Junior com o qual percorremos cada rua de cada bairro
de Araçariguama fotografando seus aspectos sociais e monumentos
históricos, os quais aparecem na parte iconográfica deste livro.
Este livro é dedicado especialmente aos responsáveis pelo jor-
nal Cidade de Araçariguama, que sempre incentivaram e abriram espaço
para a divulgação da história local, espaço este, que fez germinar este
livro e o acompanhou da semente ao fruto.
Aos meus filhos Jeruza, Arthur e Rodrigo que juntamente com
minha esposa Sonia em diversas oportunidades abriram mão da minha
presença e até mesmo de recursos familiares para que eu pudesse apli-
cá-los no desenvolvimento deste projeto que ora se concretiza.
Elias Silva

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INTRODUÇÃO

Esta edição denominada " Notas para a História de Araçariguama"


é uma condensação complementada da coluna "Caminhando pela Histó-
ria" que foi publicada no jornal "Cidade de Araçariguama" em vinte capí-
tulos semanais( de 21/03 a 02/08/1997).
Com as limitações técnicas de tempo e espaço, características do
veículo de comunicação jornal, os capítulos de "Caminhando pela Histó-
ria" buscaram ser uma base preliminar para um trabalho histórico de
maior abrangência e específico para Araçariguama, cuja história vem ao
longo dos anos incutidas em histórias de outros municípios, tais como
Santana de Parnaíba e São Roque aos quais Araçariguama esteve vincu-
lada geográfica e administrativamente em períodos anteriores.
Esta edição é portanto, o alicerce de uma obra que deverá ser
composta de uma trilogia de cunho didático-pedagógico onde a história
de Araçariguama será apresentada em vocabulários e metodologia dis-
tinta para estudantes em fase de alfabetização( cartilha pautada em
aspectos históricos do município), semi-alfabetizados (livro didático de
estudos sociais do município) e plenamente alfabetizados(livro pautado
em metodologia científica e com análises estruturais e conjunturais).
Para escrevermos sobre a história de Araçariguama é preciso an-
tes de mais nada entendermos que apesar da ocupação do planalto
paulista ter se dado em 1554 com a fundação de São Paulo, apenas a
partir de 1556 é que os colonizadores começam atuar de forma organi-
zada e dão início às expedições ao chamado "sertão", principalmente
em busca de ouro.
Com a instalação oficial da vila de São Paulo em 1560 quando se
constituiu sua primeira Câmara Municipal e com ela a fixação de muitos
portugueses no local é que os imigrantes mais ricos (muitos dos quais
fugindo das lutas entre Portugal e Espanha na Europa) passaram a mar-
car presença na região, estruturando assim uma sociedade com foros de
nobreza que se transferiria para as terras mais próximas edificando sun-
tuosas mansões e fazendas.
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A formação de povoados nas terras paulistas só se tornaria uma
realidade a partir de 1570 quando foram fundadas as capelas de Mogi
das Cruzes e Santana de Parnaíba, sendo que esta última que é a que
efetivamente ocupará maior espaço neste trabalho só foi elevada a vila
em 1580, justamente no ano em que Portugal caiu sob o domínio espa-
nhol.
Da vila de Parnaíba os colonizadores, bandeirantes e fazendeiros
estenderam seus anseios para o imenso "sertão" que se lhes apresenta-
va e com a obtenção de cartas de sesmarias (documento de comprova-
ção de doação terras) foram estendendo seus domínios para as terras
mais próximas e daí por todo o estado e pelo país, ora garimpando ouro
e prata, ora estabelecendo propriedades agrícolas ou mesmo apenas
edificando capelas em locais onde acampavam.
Enquanto a vila de São Paulo tinha uma população oscilante,
dado que os homens que ali chegavam permaneciam apenas o tempo
necessário para se equiparem e partirem para a região interiorana em
busca de riquezas, a vila de Santana de Parnaíba tornava-se um local de
permanência dos mesmos, (daí ser denominada "berço dos bandeiran-
tes") que expandindo seu território alcançaria a região onde hoje se
situam os municípios de Sorocaba, Itú, Jundiaí e outros de menor porte.
Araçariguama adentra a história de Santana de Parnaíba por
volta de 1590 (com a descoberta de ouro no Voturuna) mas só passa a
integrá-la de forma efetiva a partir de 1640 (ano da expulsão dos jesuí-
tas, de São Paulo) quando alguns abastados moradores de São Paulo
deixando aquela vila vieram se fixar nas proximidades de Santana de
Parnaíba na região onde hoje se encontra o município de Araçariguama.
Das fazendas com suas capelas (as capelas eram construídas nas
fazendas como prova da religiosidade de seus proprietários e eram de-
dicadas aos santos de devoção dos mesmos) surgiria um povoado que
reconhecido como tal pela igreja católica, deu razões suficientes para
que fosse oficializada a paróquia de Araçariguama em 1653. Do reco-
nhecimento oficial , dado como fundação , alicerça-se a história que
buscaremos descrever ao longo dos capítulos deste livro.
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Alertamos aos leitores que o nosso objetivo com este livro foi o
de expandirmos o material publicado no jornal Cidade de Araçariguama
e darmos-lhe a dimensão necessária para que a história do município se
faça presente na leitura de cada um, sem que, todavia, encontre no
mesmo questões voltadas para estudos de cunho genealógico. Interes-
sou-nos a história de Araçariguama e não a história específica de cada
uma de suas famílias ou personalidades, exceção feita à família Pompeu
de Almeida, cuja trajetória em terras araçariguamenses transcende o
aspecto familiar propriamente dito.
Desta forma, esta publicação em livro da coluna "Caminhando
pela História", cujos capítulos vinham sendo utilizados nas escolas atra-
vés de recortes do jornal supra-mencionado, pretende atender um pú-
blico que apesar de interessado em disseminar a nossa história em seus
aspectos mais amplos não dispõe até o momento de nenhum livro que
atenda especificamente a história de Araçariguama e que supra seus
intentos.
Consciente de que este livro, respaldado em fontes documenta-
res e orais, apesar da tentativa ainda não é uma resposta definitiva para
muitos de nossos questionamentos, até mesmo devido a ausência de
alguns e incineração de outros documentos que poderiam compor nos-
sa história e dada a forma e público a que foi inicialmente destinado,
cremos ser ele um ponto de partida para estudos mais detalhados dos
aspectos sociais, econômicos, políticos, demográficos, religiosos e cultu-
rais da sociedade araçariguamense ao longo dos seus 344 anos de exis-
tência oficializada.
Pretendemos com este pequeno livro, começarmos a preencher
esta imensa lacuna existente na área de estudos históricos, próprios de
Araçariguama, com a convicção de que embora o mesmo apresente
uma visão global de nossa história, ele estará abrindo as portas para que
desta visão macro possamos contar com uma diversidade de visões mi-
cros e assim avançarmos para uma obra completa da história de Araça-
riguama.

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Capítulo I

DO IBITURUNA À ARAÇARIGUAMA

Na segunda metade do século XV as expedições paulistas em


busca de pedras preciosas eram consideradas a principal atividade eco-
nômica a impulsionar os colonizadores para as regiões mais distantes do
litoral e do planalto de Piratininga, ou seja, de São Vicente e da Vila de
São Paulo.
Em 1590, o mameluco Affonso Sardinha comandando uma
destas expedições avançou rumo a região então denominada, sertão,e
registrou a descoberta de " ouro de lavagem" no local denominado "ser-
ra do Ibituruna" próximo ao recém-fundado(em 1580) vilarejo de Santa-
na de Parnaíba.
A serra chamada "morro negro"(ibitira + una) constituiu-se a
partir de então no primeiro veio aurífero localizado nas imediações da
Vila de São Paulo( posteriormente seria encontrado também na serra do
Jaraguá) e no primeiro registro de uma área que posteriormente se tor-
naria ponto de referência em qualquer estudo acerca da história do hoje
município de Araçariguama.
O Ibituruna, cuja grafia foi alterada no decorrer dos anos (Ibi-
turuna, Ivuturuna, Bituruna,Vuturuna e atualmente Voturuna),porém
mantendo o seu significado( morro negro) é destarte o primeiro ponto
geográfico conhecido da história que estaremos descrevendo nas pági-
nas e capítulos seguintes, da história de Araçariguama.
Entre 1590 e 1640, as únicas referências documentares que
mais tarde viriam compor a história de Araçariguama, eram aquelas que
vez ou outra tratavam do "ouro de lavagem" da serra do Ibituruna. To-
davia, em 1640 encontramos o registro de uma doação de carta de ses-
maria ao Sr. Gonçalo Chassim, assinada pelo capitão-mor de São Paulo,
Manoel de Carvalho. As terras desta sesmaria onde se formaria a fazen-
da da família Chassim se tornaram a pedra basilar para a formação de
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uma localidade que se concatenaria e tomaria as dimensões de um im-
portante povoado.
Na fazenda localizada em território da já Vila de Parnaíba( Par-
naíba fôra elevada à condição de Vila em 1625) , Gonçalo Bicudo Chas-
sim edificou uma capela onde este e seus escravos se reuniam para mis-
sas semanais rezadas por padres trazido da paróquia parnaibana. Esta
capela edificada na fazenda dos Chassim que dispunha de muitas rique-
zas e com estas a paramentaram, foi dedicada à nossa Senhora da Pe-
nha, cujos registros indicam que teve suas primeiras missas rezadas em
fins de 1648.
Estabelecida em sua fazenda , a família Chassim receberia co-
mo vizinho ao final da década de 1640, o capitão Guilherme Pompeu de
Almeida que após o assassinato do pai(Pedro Taques) em São Paulo
(durante luta entre as famílias paulistanas Pires e Camargo) fixou-se em
terras herdadas do mesmo formando nestas a fazenda Ibituruna .
Em sua fazenda, Guilherme Pompeu de Almeida edificou uma
capela em louvor a Nossa Senhora da Conceição que passou a ser de-
nominada "Nossa Senhora da Conceição do Ibituruna". Juntamente com
Guilherme Pompeu de Almeida, mudaram-se para a fazenda um grande
número de amigos, escravos (índios) e parentes deste, fazendo com que
houvesse um adensamento populacional na área onde inicialmente só
encontravamos referências ao garimpo de "ouro de lavagem".
Dentre os acompanhantes de Pompeu constavam o capitão
Pedro Vaz de Barros, Francisco Rodrigues Penteado, Fernão Paes de
Barros e outros homens detentores de grandes posses e que buscavam
se estabelecer em território de Santana de Parnaíba. Tal referência se
faz necessária porque dentre estes homens encontravam-se o fundador
de São Roque (Pedro Vaz de Barros) e Francisco Rodrigues Penteado,
que edificaria capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade também em
Araçariguama.
Entre 1648 e 1650, o capitão Guilherme Pompeu de Almeida
adquirindo novas terras nas proximidades do local onde vivia, constituiu
uma outra fazenda denominando-a Araçariguama( cujo significado é
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sítio onde os pássaros araçaris se reúnem para comer) edificando ali
uma outra capela em louvor a Nossa Senhora da Conceição, acrescen-
tando-lhe o "de Araçariguama".

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Capítulo II

DAS FAZENDAS E CAPELAS À PARÓQUIA

Como vimos no capítulo anterior, as primeiras referências histó-


ricas à Araçariguama foram feitas através do ouro do Ibituruna, posteri-
ormente estas passaram a se ampliar com as fazendas de Gonçalo Chas-
sim e Guilherme Pompeu , que como era costume à época ali edificaram
as capelas de Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da Conceição do
Ibituruna, Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Conceição de
Araçariguama .
Com o estabelecimento das primeiras fazendas e suas capelas a
região passou a ser um importante reduto de homens que se tornaram
grandes personagens ( mineradores, fazendeiros, colonizadores e ban-
deirantes) da história de São Paulo, dada as suas atividades de desbra-
vamento, colonização e produção agrícola no então denominado sertão
de São Paulo, estando todavia em solo pertencente à administração da
Vila de Santana de Parnaíba.
Tais moradores fizeram com que as fazendas locais obtivessem
grande importância não só pelas suas produções e importância no po-
voamento de São Paulo mas, principalmente pela relevância que seus
habitantes desfrutavam entre as autoridades administrativas da metró-
pole(Portugal) e de seus representantes no país.
Em decorrência desta importância, em 1653, as capelas de Ara-
çariguama que contavam grande número de fiéis( fazendeiros e escra-
vos índios) em suas missas e por estarem sediadas mais próximas em
relação à distância que as separavam da Paróquia de Santana de Parnaí-
ba, permitiu que a Câmara Episcopal de São Paulo viabilizasse a criação
de uma paróquia que unissem a todos naquele local.
Seguindo tal orientação, em outubro de 1653 foi criada( con-
forme registro no livro 1 da Câmara Episcopal)a Paróquia de Araçari-
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guama sendo a mesma direcionada à capela de Nossa Senhora da Penha
que passaria a ser a partir de então a padroeira dos moradores das fa-
zendas(a data só foi comemorado, no entanto, no dia 08 de dezembro,
quando diversas autoridades religiosas do estado se reuniram para as
festividades dedicadas a Nossa Senhora da Conceição, naquele ano. As
demais capelas, muito embora, permaneceram recebendo missas com
regularidade. A criação da paróquia de Araçariguama sob a invocação de
Nossa Senhora da Penha, desmembrada de Santana de Parnaíba tornou-
se o registro oficial da existência do povoado e por conseguinte de um
núcleo populacional, conforme os ditames administrativos da época.
Compreender que a determinação eclesiástica de se oficializar
povoados por meio de "paróquias" e "freguesias" era regulamentada
pela vinculação entre a igreja e o Estado no Brasil Colônia é de grande
valia para que entendamos que embora as cartas de sesmarias e as fa-
zendas com datas anteriores a 1653 indiquem que a fundação de Araça-
riguama data de meados de 1640, somente com sua elevação a paró-
quia é que há uma oficialização do povoado e portanto, um registro
legal de sua povoação, daí aceitarmos o 8 de dezembro de 1653 como
data de fundação de Araçariguama.
A jurisprudência de se oficializar a criação de povoados por par-
te da igreja era um dos principais acordos existentes entre esta e a co-
roa portuguesa nas expedições de colonização do Brasil sobretudo a
partir do domínio espanhol sobre Portugal em 1580.
Após a criação da paróquia registrou-se a chegada de inúmeros
novos e ricos moradores em Araçariguama, dentre os quais podemos
destacar Sebastião Raposo e João Rodrigues da Fonseca que juntamente
com Gonçalo "Rodrigo" Bicudo Chassim, Guilherme Pompeu de Almeida,
Fernão Paes de Barros e Pedro Vaz de Barros (estabelecidos em São
Roque) e Francisco Penteado introduziram centenas de escravos( índios
e negros) em suas fazendas, povoando as mesmas e fazendo com que a
paróquia adentrasse o século XVII com opulência, nobreza e população
iguais ou superiores(em dados momentos) à da Vila de Santana de Par-
naíba, à qual Araçariguama pertencia geográfica e administrativamente.
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As capelas de Araçariguama, retratavam a religiosidade de seus
moradores e a relevância que a igreja reconhecia nesta paróquia. Entre
1650 e 1692 as capelas de Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da
Conceição do Ibituruna, Nossa Senhora da Conceição de Araçariguama,
Nossa Senhora da Piedade e Santo Antonio, constituíam um dos mais
destacados núcleos de atividade religiosa da Vila de Parnaíba que dota-
das de valiosos ornamentos produzidos em ouro e prata doados pelos
seus edificadores eram também edificações de grande valor material.
Os homens que acompanharam Guilherme Pompeu (falecido
em 12/11/1691) em sua mudança para esta área, e também fundaram
capelas tais como a de Nossa Senhora da Piedade, (na estrada entre
Pirapora e Araçariguama por Francisco Rodrigues Penteado) e a de San-
to Antonio (em São Roque por Fernão Paes de Barros) marcaram época
na história de São Paulo, cabendo ao primeiro(falecido em 13/11/1678)
ser citado como um dos fundadores de Araçariguama e o outro(falecido
em 1676) o fundador de São Roque.
Com tamanha religiosidade, fundamentada em suas capelas, a
paróquia de Araçariguama se constituiria num centro religioso cujas
festividades atraíam para o local os mais respeitados clérigos e morado-
res de São Paulo. As festas em louvor a Nossa Senhora da Conceição,
organizada pela família Pompeu de Almeida e que eram celebradas nos
dias 8 de dezembro de cada ano era acompanhada de perto pelas auto-
ridades políticas e religiosas das mais diversas vilas e ordens de São Pau-
lo fossem da Companhia de Jesus, do Carmo, de São Bento ou de São
Francisco.
A riqueza dos moradores e o significativo (para o período) cres-
cimento demográfico da paróquia de Araçariguama tornaram o local
uma área nobre de Santana de Parnaíba e como tal passou a ser esco-
lhida como local de residência de muitos parnaibanos e paulistanos que
chegavam de suas expedições ou buscavam ampliar suas produções em
terras não muito distantes da Vila de São Paulo.
Inúmeros documentos existentes no Arquivo Nacional, na Cúria
Metropolitana e no Arquivo do Estado de São Paulo, sobretudo os de
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natureza fiscal, nos dão a dimensão da riqueza e importância dos mora-
dores de Araçariguama, riquezas estas evidenciadas na ornamentação
da igreja matriz a partir de 1653, bem como nas demais capelas.

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Capítulo III

ÍNDIOS EM ARAÇARIGUAMA

A importância do elemento indígena na formação social de


Araçariguama está vinculada diretamente aos povoadores de São Paulo,
principalmente no processo de colonização da região planaltina, que
num primeiro momento provocou o deslocamento dos primitivos habi-
tantes para regiões mais distantes e posteriormente pela própria trans-
migração dos índios na condição de escravos para as atividades produti-
vas de busca de minérios ou produção agrícola.
Os índios das tribos dos guaianás (guaianases) que habitavam
a região do planalto e grande parte do interior de São Paulo e baseavam
sua subsistência na coleta, na caça, na pesca e numa incipiente agricul-
tura de milho e mandioca foram os primeiros silvícolas a serem domes-
ticados e por conseguinte transformados em escravos dos grandes po-
tentados paulistas em suas expedições de garimpo ou colonização.
Não consta que houvesse índios naturais de Araçariguama ao
longo de sua história, todavia a grande massa indígena deslocada em
fuga, ou levada como escrava para as fazendas tiveram grande papel na
composição demográfica do lugar principalmente após 1650 quando
inúmeros paulistas se transferiram para a mesma levando consigo o
elemento indígena como mão-de-obra para o cultivo de suas fazendas.
As atividades de busca de metais preciosos na serra do Ibitu-
runa entre as décadas de 1590 e 1610 fizeram com que principalmente
guaianases e goitacazes, natural do planalto fossem conduzidos para
exploração do metal fazendo parte de diversas expedições.
Registrando-se durante o trabalho com as bateias (espécie
de peneira para lavagem do ouro) a fuga de inúmeros índios que passa-
ram a vagar pela região encontraremos relatos de vestígios dos mesmos
principalmente em áreas próximas aos ribeirões Cavetá, Colégio e Coru-
ruquara onde estes tinham maiores possibilidades de fuga quando pro-
curados.
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A dispersão de índios guaianás e goitacás pelos sertões de
São Paulo fizeram com que as atividades de aprisionamento do índio
para o trabalho escravo se voltasse para os ocupantes da costa brasilei-
ra, onde os índios carijós, mais amistosos e sem vocação para grandes
reações ou guerra, se tornaram alvos fáceis e passaram a constituir o
maior contingente de escravos nas fazendas de Araçariguama, notada-
mente nas pertencentes à família Pompeu de Almeida,
As indicações presentes em alguns históricos sobre Araçari-
guama onde constam os indígenas como primeiros ocupantes da região
onde se formaria o povoado carecem de dados documentares mais con-
cisos, principalmente, pelo fato de que as origens dos índios apresenta-
dos como tais, não refletem a realidade histórica do espaço ocupado
pelos mesmos.
As diversas tribos com registro antropológico no Brasil, não
indicam presença nesta região de São Paulo, portanto, os guaianás e
carijós não possuíam vinculação com Araçariguama até que foram for-
çados a trabalharem em suas minas e fazendas.
A presença concreta dos índios na formação social araçari-
guamense faz parte de um período posterior a sua estruturação como
núcleo populacional, a qual trataremos com maior objetividade em ou-
tros capítulos para que não quebremos a ordem cronológica estabeleci-
da para melhor compreensão deste trabalho.
Desta forma, embora presente na história e na cultura local a
presença do índio é explicada muito mais pelas atividades ora de garim-
po ora de produção agrícola que os direcionavam para a região do que
por estabelecimento natural dos mesmos em períodos antecedentes, e
sendo assim, os utensílios e peças arqueológicas encontradas em várias
partes da localidade remontam aos séculos XVII e XVIII quando estes
ocuparam espaço muito significativo no quadro demográfico local e não
por qualquer afinidade originária destes com a região em questão.
Convém registrar que a aldeia de Maniçoba na região de Itú é
a que teve maior proximidade de Araçariguama, todavia tratou-se de
um aldeamento constituído em caráter religioso-catequético para o qual
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foram levados inúmeros índios guaianás da região do Ipiranga e não de
naturais da terra.

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Capítulo IV

A FAMÍLIA POMPEU DE ALMEIDA

O papel desempenhado pela família Pompeu de Almeida para


o povoamento, enriquecimento e religiosidade do então povoado, de-
pois paróquia de Araçariguama, a partir de suas fazendas Ibituruna e
Araçariguama e suas duas capelas dedicadas a Nossa Senhora da Con-
ceição colocam a mesma como um dos principais baluartes para a estru-
turação e dinamização desta área então parnaibana.
Assim, faz-se necessário descrevermos a procedência e a ori-
gem das riquezas dispendidas e a dedicação desta família para a valori-
zação econômica, política, social e religiosa da paróquia de Araçarigua-
ma.
Guilherme Pompeu de Almeida, capitão-mor de São Paulo,
nasceu em Setúbal-Portugal. Filho de Pedro Taques de Almeida e Ana
Proença, construiu sua fortuna principalmente pela herança que rece-
beu do pai que acumulara muitas riquezas explorando minérios (princi-
palmente ouro) nos sertões de São Paulo e nas Minas Gerais.
Segundo filho de Pedro Taques, Guilherme Pompeu de Almei-
da administrava um grande número de propriedades adquiridas pelo pai
em Santana de Parnaíba, Sorocaba e Itú, além das minas e escravos que
este mantinha em Minas Gerais, vindo a se fixar na primeira em 1644.
Em Santana de Parnaíba, acompanhado da esposa Ana de Li-
ma, passou a residir inicialmente na fazenda Ibituruna e após adquirir
novas áreas próximas estabeleceu-se na fazenda Araçariguama.
Na fazenda Ibituruna mandou construir uma capela em louvor
a Nossa Senhora da Conceição, denominando-a, Nossa Senhora da Con-
ceição do Ibituruna. Em 1649 com a compra de partes das terras que
pertencia a Gonçalo Chassim, Guilherme Pompeu edificou nesta uma
outra capela em louvor a Nossa Senhora da Conceição, acrescentando-
lhe o, de Araçariguama.

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Em 1679, o primeiro filho de Guilherme Pompeu, que nascera
em Santana de Parnaíba e herdara-lhe o nome sagrou-se padre e passou
a exercer suas funções sacerdotais nas inúmeras capelas existentes na
região onde estava as fazendas do pais, notadamente na capela de Nos-
sa Senhora da Conceição de Araçariguama onde tornaria famosa a festa
anual realizada no dia 8 de dezembro.
Oito anos depois o padre Guilherme Pompeu iniciou a constru-
ção de uma capela anexa à casa onde vivia o administrador das fazendas
do pai (Antonio de Godói Moreira casado com sua irmã Ana de Lima
Moraes) para que ali pudesse realizar missas para os escravos que traba-
lhavam nas plantações da família. Consta que a primeira missa realizada
nesta capela aconteceu em 1688 e portanto foi registrada em seu portal
externo a frase " 14 de julho de 1688,Maria,Jesus Salvador dos Homens,
José" e no seu interior "Lembra, homem que és poeira" dado que a
mesma era voltada basicamente para a conversão dos escravos e para
estes as mensagens se dirigiam.
Esta capela, anexa a parte da casa ainda existente no local de-
nominado sítio dos Barbosa preserva parte de suas características, prin-
cipalmente na parte do oratório onde um crucifixo permanecia exposto
até meados de 1997,ou seja, trezentos anos resistindo ao tempo e ao
abandono porém preservando suas características.
A fazenda Araçariguama tornou-se a principal propriedade da
família Pompeu pois era palco da festa anual de Nossa Senhora da Con-
ceição e também a principal produtora de cereais para o consumo de
seus habitantes ( cerca de duzentos escravos entre negros e índios e
trabalhadores livres) e visitantes que ali se hospedavam durante vários
meses do ano, conforme registros no 1º Cartório de Órfãos de São Pau-
lo.
Segundo registros da Cúria Metropolitana de São Paulo, as ca-
pelas existentes nas fazendas da família Pompeu de Almeida em Araça-
riguama( Nossa Senhora da Conceição do Ibituruna, Nossa Senhora da
Conceição de Araçariguama e a Capela da Casa de Administração) eram
ornamentadas com castiçais de ouro e prata confeccionados a mando
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do padre Pompeu com os minérios que traziam de suas minas espalha-
das em vários pontos das Minas Gerais.
Além destas riquezas doadas às capelas, todas as despesas
com transporte e hospedagens de padres e autoridades convidadas para
as festividades religiosas realizadas na paróquia eram pagas com recur-
sos da família.
Após a morte do vizinho Gonçalo Chassim que deixou sua he-
rança para o filho Rodrigo Chassim, o capitão Guilherme Pompeu adqui-
riu a mesma e tornou-se proprietário de toda a área e patrono também
da capela de Nossa Senhora da Penha.
No dia 12 de novembro de 1691 faleceu Guilherme Pompeu(
pai ) deixando para o padre toda sua fortuna e propriedades e este a fez
ampliar com as remessas de ouro que seus feitores e escravatura extraí-
am nas minas herdadas em testamento.
Ao final do século XVII o padre Guilherme Pompeu possuía em
Araçariguama - Santana de Parnaíba quatro fazendas, sendo elas a Ibitu-
runa (passando a gravar-se Ivuturuna), a Araçariguama, a Taquarimin-
duba e a Apoteroby, nas quais mantinha trezentos e cinco escravos(
cento e um negros e duzentos e quatro índios conforme registrara em
1691) e onde produzia milho, mandioca, trigo, amendoim e criava gado,
cavalos, porcos e cabras. Há que se registrar que a quase totalidade da
produção era voltada para o consumo local e só o excedente era comer-
cializado em Santana de Parnaíba.
Detentor de tantas riquezas, ao falecer no dia 07 de janeiro de
1713, o padre Guilherme Pompeu de Almeida que não possuía herdeiros
deixou todos os seus bens para a Companhia de Jesus( administradora
espiritual de suas capelas) sendo sepultado em São Paulo sob o epitáfio
"Hic jacet in tumulo Guilelmus Presbíter auro et genere et magno nomi-
ne Pompeyus".
Os jesuítas que receberam os bens de seu sacerdote falecido
tomaram posse dos mesmos e poucos anos depois com exceção da casa
onde vivia Guilherme Pompeu( o chamado Casarão no bairro do Colé-
gio) desfez-se destes remetendo os recursos obtidos ali para São Paulo,
22
tornando as capelas locais desamparadas economicamente, muito em-
bora assistidas por padres como desejara o padre em seu testamento.
Inúmeras são as questões em que o nome do padre Pompeu e
suas atividades são apresentadas em desacordo com o sacerdócio e com
as virtudes necessárias para tal, destacando-se o livro do Barão de Pira-
tininga (que trataremos posteriormente) Cruz de Cedro onde o mesmo é
apresentado como um negociante com escrúpulos discutíveis, notada-
mente pelo papel de "banqueiro" que exercia. Importante registrar que
o padre Pompeu, assim como o pai, fazia empréstimos a juros e patroci-
nava expedições de busca ao ouro nas Minas Gerais cobrando percentu-
ais deste metal sobre as mesmas o que justificava o sempre crescente
enriquecimento destes.

23
Capítulo V

NOVA ESTRUTURAÇÃO SOCIAL

Apesar da permanência reduzida à frente da paróquia, o padre


Belchior de Pontes pelo seu passado dedicado ao sacerdócio antes de
assumir a paróquia de Araçariguama foi um dos principais personagens
nas tarefas de preservar a obra religiosa do padre Pompeu e na de es-
truturação social do vilarejo/povoado de Araçariguama onde viveu até
os fins dos seus dias.
O padre Belchior de Pontes Em decorrência da morte de seus
mais ilustres moradores como, Francisco Rodrigues Penteado
(1678),Capitão Guilherme Pompeu de Almeida (1691) e do padre Gui-
lherme Pompeu de Almeida (1713) o povoado da paróquia de Araçari-
guama iniciou uma nova fase em sua estruturação econômica e social.
Ocupando as propriedades que o padre Pompeu lhe deixara
em testamento a Companhia de Jesus manteve a capela de Araçarigua-
ma assistida por sacerdotes de sua ordem como fôra desejo do padre,
expresso no testamento registrado em 30 de janeiro de 1710.
Tais propriedades cujas edificações foram sem exceção, pre-
cedentes à doação demonstram a importância da família Pompeu na
organização física do povoado e justificam a dispersão das capelas bem
como as casas onde residia a família e o administrador em pontos dis-
tinto do povoado, ou seja, estas ocupavam locais diferentes por estarem
localizadas em fazendas diferentes.
Por outro lado ressaltamos que as edificações existentes nas
diversas fazendas não foram construídas pelos jesuítas, assim como não
há nenhum registro documentar de que esta ordem tenha realizado
qualquer construção religiosa ou afins em Araçariguama, mas sim, ape-
nas utilizou-se das que recebera.

24
Assim, no plano paisagístico-arquitetônico araçariguamense
anterior ao século XVII não houve maior influência do que a registrada
nas edificações realizadas pela família Pompeu de Almeida, cujas carac-
terísticas presentes nas construções das paredes em taipa(madeiras
recobertas com barro) estiveram presentes em todas suas capelas e
casas. Em taipa de mão( aplicação do barro com as mãos) ou taipa de
pilão( barro e cascalho socados com madeira) as edificações construídas
pelos escravos da família Pompeu ainda apresentam resquícios em di-
versos locais de Araçariguama e Santana de Parnaíba.
Já num plano social, o desaparecimento dos Pompeus provo-
cou uma dispersão de centenas de escravos( negros e índios)que lhes
pertenciam e que se refugiaram em outras fazendas e áreas circunvizi-
nhas passando a ocupar papel de destaque na formação étnica local
como salientamos no capítulo III.
Agricultores, ferreiros, doceiros, sapateiros, padeiros e tantos
outros que exerciam funções nas fazendas Ivuturuna, Taquariminduba,
Apoteroby e Araçariguama e se viram órfãos de seus senhores passaram
a vagar na região trabalhando no ramo de jornal(diaristas) miscigenan-
do-se entre negros e índios e produzindo uma alteração social extre-
mamente significativa na composição física do araçariguamense.
Na condição de escravos sem donos, centenas de homens e
mulheres estabeleceram alguns núcleos populacionais que rapidamente
impulsionaram a miscigenação e geraram um crescimento demográfico,
em dadas épocas superior ao que se verificava na Vila de Santana de
Parnaíba à qual a paróquia se vinculava.
Enquanto pertencente à Santana de Parnaíba a paróquia de
Araçariguama firmava-se como povoado de "escravos sem donos" e de
"quilombos"( núcleos de aglomeração de escravos negros foragidos) dos
quais os mais significativos foram os de Apotribu e do Ubaté ( no morro
homônimo) e sobressaía-se demograficamente em relação àquela.
Se por um lado Santana de Parnaíba via sua população ser
constantemente reduzida, ora pela morte de muitos bandeirantes que
ali residiam e em razão destas a mudança das viúvas com numerosa
25
escravaria, ora pelas expedições ao centro oeste do país onde muitos se
fixavam e não mais retornavam e mesmo por epidemias, por outro Ara-
çariguama mantinha-se em constante crescimento populacional.
Os escravos que se dispersaram bem como os demais traba-
lhadores das fazendas dos Pompeus se transformaram em pequenos
agricultores, diaristas e tocadores de tropas(tropeiros) deixando de vive-
rem como ciganos(de fazenda em fazenda), mas, transformaram-se
sobretudo em arrendatários o que lhes permitia viverem na região de
Araçariguama na condição de sitiantes.
No denominado "Bairro das Três Capelas" a população araçari-
guamense crescia, a produção local se avolumava e a paróquia tomava a
forma de um verdadeiro vilarejo.
Muito embora a Companhia de Jesus tenha se desfeito de
grande parcela das propriedades que o padre Guilherme Pompeu lhe
deixou de herança em nome da capela de Nossa Senhora da Conceição
de Araçariguama, esta e a casa da família foram preservadas sendo a
segunda transformada em colégio e a primeira mantendo-se assistida
por padres da Companhia.
Após a morte do padre Pompeu registraram-se como párocos
de Araçariguama os seguintes padres: Antonio Rodrigues (1714-1717),
Belchior de Pontes (1717-1719), Inácio Pinheiro (1719-1720), Manuel de
Oliveira (1720-1721), Manuel Cabby (1721-1722), Manuel Velho( 1722-
1724), Antonio dos Reis (1725), Domingos Rêbelo (1726-1729), Gonçalo
de Souza (1727), Inácio de Moraes (1728), Antonio Bacelar (1731), Ma-
nuel Cardoso(1732), Manuel Rodrigues( 1733), Domingos Machado
(1734) e novamente Antonio Bacelar que ali permaneceu até a expulsão
dos jesuítas, do Brasil, em 1759.
O padre Belchior de Pontes que assistiu nos principais núcleos
populacionais e aldeamentos da hoje denominada região metropolitana
de São Paulo faleceu aos 75 anos de idade( 22/ 09/ 1719) como pároco
de Araçariguama após dois anos de frutífero trabalho no colégio, paró-
quia e capelas de Araçariguama e localidades vizinhas o que lhe rendeu
honrarias em toda província de São Paulo.
26
Em Araçariguama o padre Belchior de Pontes teve seu nome
registrado na memória histórica local notadamente pelo obelisco na
praça da Matriz, inaugurado por ocasião das festividades pela passagem
do III Centenário da fundação da paróquia em 1953.
Durante todo o decorrer do século XVII o povoado da paróquia
de Araçariguama manteve-se em crescimento populacional e produtivo,
onde o amendoim, o milho, o trigo, o arroz e a mandioca eram os prin-
cipais cultivos (notadamente nas terras de Policarpo Joaquim de Olivei-
ra que se tornara um grande proprietário de terras que as arrendava aos
ex-escravos ampliando suas produções)e nelas fazia exploração minera-
lógica(no morro do Saboó) as atividades voltadas para o transporte de
tropas ocupava uma grande parte de seus moradores não ligados à agri-
cultura.
Tal crescimento, passou todavia a ser estacionário após a cons-
trução de novas vias ligando São Paulo a Itú e Sorocaba( e vice-versa)
que deixaram Araçariguama à margem dos caminhos de tropas e liga-
ções mais próximas com os povoados vizinhos. Tornando-se distante das
rotas comerciais para a capital, a estagnação seria superada pela força
produtiva local como veremos em capítulos posteriores.

27
Capítulo VI

REVALORIZAÇÃO DAS FAZENDAS

Ao adentrarmos o século XVIII, numa época em que as ques-


tões ligadas à terra, doadas em sesmarias ou adquiridas por meio de
compra ou permuta, começaram a ganhar contornos sociais e de cunho
político-eleitoral, as riquezas calcadas nesta (principal fator de indicação
de bens à época) tornaram-se fator a influenciar diretamente na com-
posição dos corpos administrativos do país, e não seria diferente na Vila
de Santana de Parnaíba e suas paróquias, como era o caso de Araçari-
guama.
Este período, marca também uma fase onde a igreja, depois
que os jesuítas (Companhia de Jesus) foram expulsos do Brasil(1759)
passou a atuar no sentido de ampliar seu raio de ação e importância
material e por conseguinte começou a requisitar todas as propriedades
que doadas para ela (por clérigos ou leigos) vinham sendo ocupadas por
gente do povo, e, embora lhes pertencessem sem todavia constarem
em sua administração ( como consta em relatório do padre João Gon-
çalves Lima datado de 1801).
Dentre as terras reclamadas pela igreja incluíam-se as fazendas
de Araçariguama que a igreja herdara do padre Pompeu de Almeida,
que consideradas devolutas foram sumariamente transferidas para o
Estado.
A terra como fator de prestígio social, tornando-se de extrema
relevância, devido principalmente à inserção do voto censitário nas leis
brasileiras (só podiam votar e serem votados quem comprovasse possu-
ir bens em valores monetários e propriedades, estipulados a cada elei-
ção) tinha na Vila de Santana de Parnaíba e por extensão no povoado de
Araçariguama um vasto campo de manipulação por parte de posseiros,
tais como Policarpo Joaquim de Oliveira que se apossara e arrendava
grande extensão de terras pertencentes a igreja.
28
Desta forma, para compreendermos e assimilarmos a impor-
tância das capelas e da igreja para a estruturação social e econômica de
Araçariguama no primeiro quarto do século XVIII, temos que recorrer-
mos ao papel de revalorização da terra e ao que as capelas e igrejas
representavam em termos de bens móveis e imóveis e de como tais
bens influenciavam para que notáveis personagens paulistanos e par-
naibanos (principalmente) se transferissem para Araçariguama e partici-
passem de sua evolução histórica.
Assim, antes de se constituir como vilarejo, que doravante de-
nominaremos "núcleo populacional" Araçariguama era o nome de uma
entre as muitas fazendas inseridas no território da Vila de Parnaíba, e ,
cuja administração pertencia àquela.
Cumpre-nos ressaltar que o significado de Vila, na época, não
era o mesmo que se conhece hoje, pois Vila no século XVIII tinha uma
função administrativa equivalente ao dos municípios atuais, com ressal-
vas para o fato da inexistência de poderes executivos municipais.
Desta forma, por se destacar entre as demais em grau de ri-
quezas, número de habitantes e nível de produção agrícola, a fazenda
Araçariguama acabou por tornar-se o nome de referência do lugar e
todas as edificações religiosas ou não, construídas a posteriori tinham
como complemento o "de Araçariguama".
Este fato reflete na data de fundação de Araçariguama e no
elemento que lhe permitiu originar, qual seja, a doação de uma sesma-
ria que originou uma primeira fazenda e assim por diante. Esta questão
é de substancial importância para desmistificarmos uma controvérsia
existente na data de sua fundação daí abrirmos aqui um parêntese para
tal explicação
Muito embora a primeira carta de doação de sesmaria date de
1640 (pressupondo-se a fixação de moradores no local) a influência da
igreja nas questões administrativas na época só lhe reconhece como
fundada quando elevada à condição de paróquia, o que implica dizer
que muito embora houvesse inclusive o registro de capelas na área (co-
mo a de Nossa Senhora da Penha) anterior a 1650, somente o des-
29
membramento da paróquia de Araçariguama da de Santana de Parnaíba
é reconhecido como oficialização do lugar.
Não obstante os registros documentares apontarem a forma-
ção de fazendas e edificações de capelas em toda a área que se esten-
deria e daria lugar a Araçariguama já a partir de 1640 (que alguns histo-
riadores consideram ser o verdadeiro ano de fundação) o reconheci-
mento da existência de um núcleo populacional na área só se oficializou
com a criação da paróquia (por permitir a contagem dos habitantes do
local) daí considerar-se efetivamente o ano de 1653.
Iniciamos este capítulo falando do desaparecimento (morte)
dos Guilhermes Pompeus e em nosso capítulo anterior da dispersão dos
escravos(negros africanos e índios brasileiros) que a eles pertenciam
pelas demais fazendas e sítios da região, mas com residência regulares
nas imediações da paróquia e, de como eles contribuíram para a ampli-
ação do quadro demográfico araçariguamense durante o período 1713-
1830;falaremos agora da organização destes.
O crescimento populacional da paróquia, compreendendo os
núcleos populacionais que se organizavam em torno das capelas de
Nossa Senhora da Penha e Nossa Senhora da Conceição do Ivuturuna e
em menor número nas proximidades das capelas de Nossa Senhora da
Conceição de Araçariguama e Nossa Senhora da Piedade como decor-
rência da fixação de trabalhadores rurais nas fazendas que se recorta-
vam e tomavam menores dimensões era bastante significativo.
Muitos moradores de Araçariguama que haviam partido em
período anterior em expedições de garimpo e retornaram a ela, tais
como Antão Leme da Silva, Fernando Paes de Barros, Pedro Frazão de
Brito e outros de não menos importância fizeram com que a paróquia
encerrasse o século XVIII com uma revalorização de suas terras e como
um povoado de grande influência na política administrativa da Vila de
Santana de Parnaíba, quando Araçariguama contou com inúmeros ve-
readores na composição da Câmara parnaibana.
A importância deste povoado onde estavam as mais destaca-
das fazendas da vila parnaibana em termos de notabilidade de seus
30
habitantes e de volume de sua produção começou a consolidar-se com
maior nitidez após a elevação de São Roque à condição de freguesia em
1768.
Inúmeros registros da Cúria Metropolitana e do arquivo do Es-
tado de São Paulo apontam Araçariguama como principal núcleo religio-
so-econômico das proximidades da Vila de Parnaíba e indicam que a
dedicação que seus moradores dispensavam às causas eclesiásticas se
faziam refletir nas capelas existentes no povoado.
Em 1830 havia capelas em todas fazendas existentes em terri-
tório araçariguamense e as reformas realizadas na igreja matriz entre
1772 e 1835( sendo as maiores em 1772 e 1833) confirmam a formação
religiosa e o interesse com que os moradores de maiores posses direci-
onavam seus bens para a ornamentação de todas elas.
Neste imenso quadro onde as fazendas araçariguamenses re-
tratavam suas riquezas e, suas capelas refletiam a religiosidade de seus
habitantes, superando de forma bastante significativa o que se registra-
va em Santana de Parnaíba, a elevação de São Roque à Vila (decreto
provincial de 10 de julho de 1832) estimulou a administração parnaiba-
na a voltar suas atenções para este povoado a fim de oferecer-lhes me-
lhores condições e por conseguinte usufruir de suas riquezas na forma
de tributos.
As fazendas e as capelas de Araçariguama, orgulho dos mora-
dores do lugar, influenciavam diretamente na fixação de novos morado-
res. Assim, enquanto a vizinha São Roque tornava-se Vila, sendo sua
fundação contemporânea à do povoado araçariguamense sua popula-
ção tornava-se um elo de extrema relevância entre São Roque e Santana
de Parnaíba e a sua incorporação era um desejo dos sanroquenses e um
receio para os parnaibanos.
Incrustrada entre duas vilas com processos distintos de cres-
cimento demográfico e econômico, Araçariguama tornou-se um filão de
riquezas entre uma Parnaíba decadente e São Roque em ascensão.

31
Capítulo VII

DA PARÓQUIA A
FREGUESIA E VILA

Com a oficialização da extinção dos aldeamentos existentes


nas cercanias de São Paulo, em 1803, as paróquias e freguesias passa-
ram a figurar em primeiro plano no processo de colonização da provín-
cia de São Paulo.
Após esta resolução que deu liberdade aos índios que habita-
vam os aldeamentos e se estendia a todos aqueles que viviam na condi-
ção de escravos nas diversas áreas agrícolas de São Paulo, como no caso
de Araçariguama onde estes viviam como fugitivos, os moradores locais
se aglomeraram em torno da igreja matriz e fizeram emergir o casario
que constituiria o local onde situa-se o atual centro da cidade.
Se por questões diretamente ligadas às mortes de seus ante-
passados ilustres, mencionados no capítulo anterior, Araçariguama so-
freu uma interrupção momentânea em seu crescimento, a partir da
elevação de São Roque a Vila e de Araçariguama a freguesia de Santana
de Parnaíba, a mesma época, esta voltou a registrar significativo cresci-
mento.
As grandes produções de milho, feijão, arroz, cana-de-açucar,
amendoim e algodão, assim como a ampliação das atividades ligadas a
criação de gado e animais para transporte(cavalos e mulas-principal
veículo de condução à época) colocaram Araçariguama em condições
econômicas semelhante à de São Roque e alguns moradores das fazen-
das aqui existentes vislumbravam a possibilidade de transformá-la tam-
bém em Vila.
Em função de tais condições econômicas os vereadores da
Câmara da Vila de São Roque solicitaram ao deputado provincial Carlos
Ilidro da Silva, grande produtor de algodão e aguardente na freguesia(
32
morreu em Araçariguama em 08/12/1884) que buscasse meios de in-
corporar Araçariguama àquela Vila, incorporação esta que foi defendida
por Antonio Joaquim da Rosa( Barão de Piratininga autor de entre ou-
tros do livro Cruz de Cedro) então presidente da Câmara sanroquense, a
qual foi discutida e aceita pela Assembléia Legislativa Provincial que a
encaminhou ao presidente da província.
Assim, no inicio de 1844, o presidente da província( cargo
equivalente a governador do estado na época) Manoel Felisardo de
Souza e Mello assinou a seguinte lei;

Lei nº 227 de 12 de fevereiro de 1844


(Lei nº 10 de 1844)

Manoel Felisardo de Souza e Mello, Presidente desta Província


de São Paulo etc. faço saber a todos os seus habitantes que a Assem-
bléia Legislativa Provinçal decretou e eu sancionei a Lei seguinte :
Art. 1º - A freguezia de Araçariguama do município de Parnaí-
ba fica desanexada d'este e reunida ao de S.Roque.
Art. 2º - Ficam revogadas as disposições em contrário.
Mando portanto a todas as auctoridades a quem o conheci-
mento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam
cumprir tão inteiramente como nella se contém. O Secretário desta Pro-
víncia a faça imprimir publicar e correr.
Dada no Palácio do Governo de São Paulo aos doze de feverei-
ro de mil oitocentos e quarenta e quatro.

Manoel Felisardo de Souza e Mello

Carta de Lei pela qual Vossa Excellencia manda executar o de-


creto da Assembléia Legislativa Provincial, que houve por bem sanccio-
nar, desannexando a freguezia de Araçariguama do município de Parna-
íba, e reunindo a ao de São Roque, como acima se declara.
Secretário do Governo- Francisco José de Lima
33
Registrada a fl. 101 do livro 2º de Leis Provinciais.
Secretaria de Governo de São Paulo,
12 de fevereiro de 1844.

Ao ser desmembrada de uma vila (município) que se apresen-


tava decadente, economicamente e demograficamente como estava
Santana de Parnaíba em meados do século XIX, Araçariguama restabele-
cia sua importância nestes setores, sob outra administração.
Tais aspectos refletiram diretamente nas condições sócio-
econômicas e sócio-produtivas de São Roque já que Araçariguama pas-
sou a responder por 30% do contingente populacional sanroquense e
por grande parcela da produção agrícola do município ao qual se inte-
grara.
Contemporaneamente à incorporação de Araçariguama como
freguesia de São Roque, os irmãos Manoel Inocêncio da Rosa e Antonio
Joaquim da Rosa tornavam-se as principais lideranças políticas sanro-
quenses e como tais , as autoridades administrativas daquela Vila e por
meio destes, principalmente por Antonio Joaquim, Araçariguama aden-
traria nos anais da história paulista notadamente pelo romance-
histórico "Cruz de Cedro" escrito por este e publicado em 1851,além de
dois outros não menos famosos, “A Feiticeira” e “A Assassina”.
Antonio Joaquim da Rosa que desde jovem assumiu importan-
tes cargos em São Roque teria papel de grande relevância no desenvol-
vimento de Araçariguama após galgar os degraus da política estadual
integrando a Assembléia Legislativa como deputado provincial em seis
biênios (1850-51, 52-53, 54-55,56-57,76-77 e 78-79) e participando co-
mo deputado da Assembléia Geral entre 1869 e 1875.
Foi também vice-presidente da província de São Paulo, sendo
condecorado com título de Barão de Piratininga em 13 de novembro de
1872. Em função do cargo que ocupava e devido ao crescimento da fre-
guesia de Araçariguama, Antonio Joaquim era procurado por moradores
desta com o intuito de com a sua influência ajudar-lhes na obtenção de

34
instalação do pelouro na mesma (a instalação do pelouro indicava a
elevação da freguesia à condição de vila).
Em 1849 foi criada a primeira cadeira de primeiras letras (lei nº
13 de 21/03) para estudantes do sexo masculino. Já dissemos anterior-
mente que todo o transporte, fosse de carga ou passageiros que partia
ou chegava a Araçariguama era realizado por meio de tropas e a fregue-
sia que contava com importante fração na economia decorrente desta
(por situar-se em condições mais favoráveis para acessar as vilas de Itú e
Sorocaba onde se realizavam grandes feiras de compra e venda de ani-
mais para atenderem a demanda de São Paulo) buscava obter para si as
condições administrativas que em breve as ferrovias que começavam
ser construídas poderiam lhe dificultar.
Neste sentido, as confabulações com Antonio Joaquim da Rosa
resultava em grandes possibilidades de elevação à Vila, sobretudo de-
pois deste ter obtido a elevação de São Roque à categoria de cidade em
22 de abril de 1864.
Ciente de que Araçariguama apresentava as condições neces-
sárias para se auto-administrar o deputado encaminhou pedidos à As-
sembléia Provincial e no dia 16 de abril de 1874 o presidente da provín-
cia João Teodoro Xavier assinou a Lei nº 43 que consubstanciava a cria-
ção da Vila de Araçariguama e determinava a realização da qualificação
eleitoral para que esta pudesse escolher seus próprios governantes.
Há que se ressaltar que no ano em que Araçariguama obtinha
sua elevação à Vila, São Roque passava por um momento de angústia,
quando uma forte epidemia de varíola dizimaria 153 vidas naquela cida-
de, em poucos meses (agosto-outubro).

35
Capítulo VIII

PRIMEIROS GOVERNANTES

A sanção da lei 43, que consolidaria a autonomia por garantir a


emancipação político-administrativa de Araçariguama deflagrou o pro-
cesso de escolha dos vereadores que seriam também os primeiros ad-
ministradores da vila recém-criada.
A escolha dos vereadores que aconteceria no dia 7 de julho de
1874 definiria os governantes que instalariam a Câmara Municipal de
Araçariguama no dia 07 de dezembro daquele mesmo ano e que assu-
miriam as funções administrativas, fazendárias(econômicas) e judiciárias
do território. Nesta mesma eleição eleger-se-ia o Juiz de Paz da Vila, que
tinha cargo eletivo e respondia juntamente com o presidente da Câmara
pelas questões legais de interesse da administração local.
Ao obter sua emancipação político-administrativa Araçarigua-
ma registrava em seus anais o processo de sua evolução.

Da fundação a 1832- Paróquia pertencente a Santana de Parnaíba;


De 1832 a 1844 - Freguesia pertencente a Santana de Parnaíba;
De 1844 a 1874 - Freguesia pertencente a São Roque
A partir de 1874 - Vila, com autonomia administrativa.

Para efeito de comparação há que se registrar que no recen-


ceamento realizado em 1874, Santana de Parnaíba contava 3.338 habi-
tantes, São Roque 3.131 e Araçariguama, 1621 ,ou seja, a Vila, já obti-
nha sua autonomia com 50% da população daquelas que as administra-
ra até então e com território e núcleos populacionais restritos em rela-
ção àquelas.
Do total da população araçariguamense em 1874, 218 eleito-
res se qualificaram e encontravam se aptos a participarem da primeira
eleição municipal (não podemos esquecer e deixar de levar em conside-
36
ração que a condição para ser votante ou votado estava estabelecida
nos bens que os indivíduos possuíam). Para ser votado o cidadão deve-
ria possuir renda não inferior a 200$ 00 (duzentos réis) enquanto para
votar este deveria ser possuidor de uma renda mínima de 100$00(cem
réis).
Devido a não exigência de obrigatoriedade de voto, apenas 36
eleitores compareceram para indicarem os sete vereadores que compo-
riam a Câmara Municipal da Vila de Araçariguama que por conseguinte
se tornariam os primeiros governantes da Vila.
Dos 36 votos apurados para os cargos de vereador e juiz de
paz, apenas 17 foram válidos para o primeiro cargo enquanto 18 tive-
ram validade para o segundo, que foram distribuídos da seguinte forma:

Joaquim Augusto da Silva Santana 04 votos


Joaquim José da Rocha 03 votos
Antonio Claudiano da Rosa 02 votos
José Flamínio de Vasconcelos 02 votos
Antonio da Silva Cesar 02 votos
José Antonio da Silveira 02 votos
Joaquim da Silva Moraes 02 votos

Com esta votação, estes homens se tornaram os primeiros


cidadãos da administração araçariguamense. Para o cargo de Juiz de
Paz, o padre Manoel Zeferino de Oliveira obteve uma votação superior à
da soma de todos vereadores eleitos,18 votos, demonstrando assim o
respeito que as autoridades religiosas usufruíam junto aos araçarigua-
menses, desde sua fundação, e o respaldo que recebiam como retorno
para suas atividades.
Cabe neste ponto uma explicação para o leitor acerca da
composição das administrações municipais.
A Câmara de vereadores era o órgão máximo da administra-
ção local, não existindo à época o poder executivo municipal, os presi-
37
dentes da Câmara acumulavam as funções que atualmente cabem ao
prefeito e tomavam suas decisões legislativas, judiciárias e fazendárias
em conformidade com o Juiz de Paz.
Na administração das Vilas, embora com todas as prerrogati-
vas legais de um município o cargo de prefeito só foi inserido no país
após a proclamação da República e mesmo assim, inúmeros ocupantes
deste cargo eram nomeados pelos presidentes da província, retirando
da população a faculdade de escolher o que melhor lhes convinha.
A composição das Câmara se dava em eleições a cada três
anos onde os vereadores eleitos não podiam se candidatar no pleito
seguinte o que justifica que dos 7 vereadores eleitos em 1874 (as vilas
elegiam 7 vereadores, as cidades 9 ) nenhum pleiteou a reeleição em
1877, exceção feita ao Juiz de Paz que poderia concorrer e ser eleito em
quantos pleitos se apresentasse.
Feitas estas explicações, temos portanto que o primeiro
mandatário eleito para o governo de Araçariguama foi o vereador José
Flamínio de Vasconcelos que teve os votos de seus pares e elegeu-se
presidente da Câmara Municipal de Araçariguama, instalada em 07 de
dezembro de 1874, cuja primeira sessão foi realizada na mesma data e
presidida pelo presidente da Câmara Municipal da Vila de São Roque,
Dr. Julio Xavier Ferreira, que deu posse aos eleitos.

38
Capítulo IX

UMA VILA À MARGEM DOS TRILHOS URBANOS

Em 1870, num processo de busca de aproximação das locali-


dades paulistas e por este meio uma melhor forma de carrear suas pro-
duções para os centros consumidores que se solidificavam, iniciou-se a
construção de importantes ferrovias que ligariam algumas cidades e
vilas a São Paulo.
As construções das ferrovias Ituana (ligando Itú a Jundiaí) e So-
rocabana (ligando São Paulo a Sorocaba) iniciadas por volta de 1870
foram gradativamente interferindo na economia araçariguamense, prin-
cipal no setor de transportes de tropas quando muitos tropeiros viam
ameaçada a sua atividade por entenderem que os produtores optariam
pela condução de seus animais através dos vagões de trens, conseguin-
do por este meio uma redução nos seus custos e maior rapidez na en-
trega dos animais na capital.
A estrada de ferro Ituana, inaugurada em 17 de abril de 1873 e
a Sorocabana que teve a sua inauguração em 10 de julho de 1875 que
num primeiro momento ofereceu inúmeros empregos e ocupação de
animais dos tropeiros, foi gradativamente provocando a supressão desta
atividade que era em algumas localidades como Araçariguama uma das
mais importantes atividades e fonte de rendimentos para centenas de
trabalhadores.
Os proprietários dos chamados "lotes arreados", bem como os
indivíduos que sobreviviam da prestação de serviços aos tropeiros, co-
mo vendedores de equipamentos, ferreiros, hospedeiros, e comercian-
tes de mantimentos voltados para o abastecimento daqueles que com-
punham as tropas, passaram a depender de outros rendimentos e mui-
tos destes se deslocaram para locais onde a ferrovia ainda não havia
chegado, causando um decréscimo acentuado neste setor econômico.

39
Para São Roque que em 1873 era elevado à condição de co-
marca (compreendendo Una, Piedade e Araçariguama) a ferrovia seria
uma alavanca para o seu progresso, principalmente para a população
que estabelecida na área central da cidade teve um incremento nas suas
atividades comerciais por meio do abastecimento dos trabalhadores
braçais e técnicos da mesma que ali se fixaram enquanto os trilhos eram
colocados.
Por outro lado, também os moradores que não viviam exclusi-
vamente do transporte de tropas, mas que se utilizavam destes para
fazerem suas produções chegarem aos pontos em que desejavam, tive-
ram seus hábitos alterados. Os grandes produtores que fazendo com
que o resultado de suas lavouras fossem direcionados para as estações
ferroviárias ao diminuiriam o número de trabalhadores envolvidos no
transporte destas a fim de obterem preços mais compatíveis interferiri-
am também no quadro de atividades profissionais praticadas na Vila.
Num plano propriamente social, as ferrovias que cortaram as
principais localidades da região, deixaram duas vilas com ligações geo-
gráficas bastante significativas ilhadas em meios aos avanços e progres-
sos que estas ofereciam aos pontos onde passavam. Santana de Parnaí-
ba e Araçariguama que outrora tinham importantes ligações e se viram
privadas inicialmente das vias de comunicações viárias eram atingidas
também pelas vias ferroviárias, iniciando um processo onde as vanta-
gens de um primeiro momento refletiriam extremamente negativas no
decorrer dos anos.
As fazendas antes procuradas por inúmeros trabalhadores pa-
ra venderem sua mão-de-obra, principalmente no período das colheitas
passaram a se deslocar para as localidades próximas às ferrovias onde
obtinham trabalho ora ligado a elas, ora ligados a locais servidos pelas
mesmas e que dispunham de melhores condições para deslocamentos
diários, condições que não se apresentavam para Santana de Parnaíba e
Araçariguama.
As ferrovias e as vias de comunicação com as vilas mais impor-
tantes da província à época, Itú, Sorocaba, Jundiaí, São Paulo e Santos
40
por estarem distantes de Araçariguama tornavam os produtos desta
menos compatíveis com o mercado, mas não interferiam na disposição
de seus governantes de torná-la viável economicamente e inseri-la no
rol de desenvolvimento que os trilhos ofereciam, daí a construção de
uma via ligando Araçariguama a São Roque voltada principalmente para
a escoagem de suas colheitas, via esta que denominada estrada do Ibaté
ligava-se a atual rua sanroquense, Dr.Stevaux .

41
Capítulo X

PRIMEIROS ANOS DE VILA

Como vimos anteriormente, a elevação de Araçariguama à


Vila esteve intermediada pela elevação de São Roque a Comarca e por
duas inaugurações ferroviárias(Ituana- 1873 e Sorocabana-1875) que
interfeririam diretamente na condução de sua administração e de suas
estruturas econômicas e sociais.
A segunda eleição à Câmara de vereadores de Araçariguama,
realizada em 1877 contou com a presença de 73 eleitores dos 228 aptos
a votarem e estes indicaram para a vereança os senhores Manoel Zefe-
rino de Oliveira( juiz de paz na eleição anterior), João José de Camargo,
João Pereira de Oliveira, Joaquim Basilio de Camargo, Domingos José de
Oliveira Leite, Salvador da Silveira e Joaquim Augusto de Santana, ca-
bendo ao primeiro a presidência da Câmara. Para o cargo de Juiz de Paz
elegeu-se Antonio Felix Fernandes.
O quadro de eleitores qualificados na Vila de Araçariguama
oscilava em grandes índices, refletindo uma situação em que os contin-
gentes habilitados para votarem obedeciam uma regra sazonal influen-
ciada pelos períodos de alta, média ou baixa produção, agrícola e pecuá-
ria. Desta forma, tivemos 218 eleitores em 1874, 222 em 1876 e 228 em
1877,mantendo-se uma média significativa em relação às vilas vizinhas .
Em razão da legislação do voto censitário podemos afirmar
com convicção que estes foram anos onde a produção manteve-se em
alta e com ela a manutenção da renda mínima exigida dos leitores para
que pudessem ser qualificados.
Quando as eleições passaram a realizar-se em períodos de
quatro anos, o quadro de eleitores de Araçariguama foi sendo reduzido
de forma bastante significativa na questão censitária sendo que no ano
da Proclamação da República os eleitores registrados estavam reduzidos
à metade do que no da instalação da Vila,(101)só voltando a ampliar-se
quando em 1892 o voto deixou de ser censitário para eleitores, porém
42
permanecendo como necessário para eleitos que ganharam o direito a
reeleição.
A exigibilidade de bens para que um cidadão pudesse ser
eleito tornou o quadro de envolvidos na administração local estacioná-
rio, pois os mesmos indivíduos passaram a obterem a reeleição e torna-
ram-se os principais condutores da administração local, caso de José
Flamínio Vasconcelos que com Joaquim Augusto da Silva foram durante
os anos finais do século XIX as principais autoridades políticas araçari-
guamenses.
O aumento registrado da população, seguido de um quadro
de redução no número de elegíveis significava que a vila estava regis-
trando uma diminuição bastante considerável na sua classe social mais
abastada, enquanto ampliava-se o número de moradores com rendas
inferiores ao estipulado para serem eleitos.
As grandes produções de café e cana-de-açúcar na província
de São Paulo, estimulando a saída dos grandes produtores locais para
estes cultivos em outras regiões do estado atingiria diretamente o culti-
vo de cereais em Araçariguama fazendo com que o município registras-
se momentos de grandes dificuldades financeiras para a manutenção da
administração local, haja visto que apenas as produções de batata ingle-
sa e algodão mantinham-se estáveis.
Foram justamente estes produtos que se tornaram o esteio
de Araçariguama no adentrar do século XX, que permitiram que a muni-
cipalidade pudesse arcar com suas obrigações administrativas e manter-
se perene em âmbito político e social.
O quadro abaixo demonstra que o crescimento vislumbrado
por Araçariguama em seu primeiro quarto de século de vida autônoma
foi extremamente prejudicado pelos deslocamentos de moradores lo-
cais para outros ramos de produção em outras regiões e em contrapar-
tida o registro de um crescimento demográfico composto de trabalha-
dores sem maiores posses para interferirem na organização política e
social araçariguamense.

43
Ano População Eleitores Não eleitores
1874 1.621 218 1.403
1876 1.718 228 1.496
1881 2.012 104 1.908
1885 2.072 105 1.967
1889 2.202 101 2.101
1893 2.615 102 2.513
1897 2.701 51 2.650

Traçando-se um paralelo entre a variação no número de elei-


tores e o crescimento populacional, observamos que enquanto há um
crescimento da população, verifica-se simultaneamente uma sub-
representação da mesma em nível de Câmara Municipal, ou seja, há um
empobrecimento da população, pois poucos passaram a eleger os que
governariam um número cada vez maior de habitantes.
No alistamento mais especificado, o de 1893, registraram-se
como eleitores 84 agricultores, 7 comerciantes, 4 artistas (função de
quem trabalhava com produtos artesanais), 3 empregados públicos e 4
com atividades diversas, fazendo transparecer com nitidez a importân-
cia da produção agrícola para o município que adentrava o século XX
respaldado nos impostos decorrentes dos cultivos e venda de algodão e
batata-inglesa que detalharemos em capítulo posteriores.
Os dados presentes no quadro acima, mesmo com a inclusão
de eleitores sem rendas delimitadas após a Lei 35 de 26 de janeiro de
1892(para a primeira eleição municipal republicana realizada em
30/08/1892), com permissão de votos para eleitores maiores de 18 anos
(exceto mulheres) aponta uma situação em que a participação política
local se restringia a um grupo extremamente limitado, cujos reflexos
serão analisados adiante.

44
Capítulo XI

DÉCADAS DE OPULÊNCIA

Tendo ficado à margem dos benefícios que a obras e outros


aspectos econômicos decorrentes das construções das estradas de ferro
Ituana e Sorocabana deixaram para alguns municípios vizinhos, Araçari-
guama voltara-se para o setor agro-pecuário como base de sua econo-
mia e como fonte de subsistência de seus moradores.
Como vimos no capítulo anterior, em 1897 a população da Vila
de Araçariguama era de 2.701 habitantes, sendo que apenas 51 havia se
registrado na qualificação eleitoral para os pleitos municipais, estaduais
e federais. Rebuscando as listas eleitorais dos anos anteriores verifica-
mos tratarem-se dos principais produtores locais, seus administradores
e trabalhadores alfabetizados que exerciam atividades nas fazendas
destes.
Todavia, em 1889 a Vila já contava com 3 cadeiras escolares
masculinas(centro ,bairro Colégio e Itatuva) e 2 femininas( centro e Pai-
ol).No centro os professores eram Joaquim Manoel de Sant’Anna e Ma-
ria do Carmo Antunes Procópio. No Colégio lecionavam, Thomaz de
Castro Gomide e no Itatuva, Julio de Oliveira Chagas. Rosalina Maria de
Sant’Anna era a professora na escola do Paiol.Em 1903 a escola do Colé-
gio foi transferida para o bairro Ronda e desde 24/03 daquele ano ficou
a cargo da professora Ana Rosa de Athaíde.
Dentre os eleitores de 1897, registrados anteriormente, desta-
cavam-se os senhores Higino Honorato, Bento Gomide de Castro, Pauli-
no da Rocha Camargo, José Nunes de Matos, João Pereira Penteado,
Joaquim Antonio de Moraes, José de Oliveira Pinto e Tristão Firmino de
Almeida, dentre outros... que aliando suas produções com o comércio
eram os responsáveis por grande parcela da receita municipal, dado que
esta originava-se da tributação de seus comércios, produtos e produ-
ções
45
No inicio do século XX algumas alterações na forma de admi-
nistração municipal mudaram as regras até então vigentes. Se nos pri-
meiros 30 anos de vida independente Araçariguama era administrada
por uma Câmara Municipal, cujo presidente exercia as funções do Exe-
cutivo e os demais vereadores as funções legislativas, em 1906 a lei nº
1038 de 19 de dezembro, instituiu os cargos de prefeito, vice-prefeito e
sub-prefeito com mandatos de 2 anos enquanto os dos vereadores
permaneceram em quatro anos, porém com renovação bianual.
Dentre estes prefeitos destacaram-se os senhores Domingos
Marucci, Joaquim Augusto da Silva e João Pereira Penteado que ocupa-
ram o cargo em várias ocasiões e traçaram uma estrutura administrativa
que resultaria em grande opulência na vida local, principalmente nos
descortinos das décadas de 1900, 1910 e 1920.
Importante destacar que no aspecto político-eleitoral-
administrativo, os vereadores que exerciam o cargo sem qualquer re-
muneração é que fixavam os vencimentos do prefeito enquanto o vice-
prefeito e sub-prefeitos (escolhidos dentre os vereadores em eleição
indireta) exerciam os cargos também sem remuneração ou ajuda de
custo.
No aspecto econômico administrativo é de relevância, também
o fato de que os vereadores que se ausentassem das sessões, sem justi-
ficação, eram submetidos ainda a uma multa de 10$000. A partir de
1907, novas regras eleitorais reduziram o tempo de mandato dos prefei-
tos, vice-prefeitos e sub-prefeitos para um ano, com direito a reeleição.
Esta legislação, ao fixar a eleição indireta para o preenchimento destes
cargos (dentre os vereadores)estimulou que houvesse uma baixa rotati-
vidade entre os governantes locais, daí poucos nomes de prefeitos pre-
enchendo o cargo por muitos anos.
Durante os primeiros anos do século XX, Araçariguama tornou-
se um celeiro agrícola que respondia por importantes frações da agricul-
tura estadual, sendo que no ano de 1913 foi apontada pela Comissão de
Estatística do Estado de São Paulo como maior produtora de batata
inglesa( a famosa batatinha - 4.500.000 lts, numa média de 3.000
46
lts/hec)) e a de maior produtora de algodão(300 arrobas/hec) além de
figurar entre as 50 maiores produtoras de milho, feijão e mandioca.
Neste aspecto, em face da carência de mão-de-obra local, so-
bretudo nos períodos de colheita, muitos trabalhadores vindos de fora
para venderem sua força de trabalho acabaram se fixando no município
fazendo com que sua população crescesse de forma bastante acelerada
para as condições da época, tanto que em 1916 contavam-se em Araça-
riguama 4.060 habitantes.
Não obstante registrar crescimento demográfico, as receitas
municipais que mostravam-se opulentas entre 1900 e 1915,a partir de
1916 permaneceram restritas à tributação de poucos moradores, sendo
que neste ano apenas 15 moradores tiveram seus nomes registrados
nos livros de arrecadação de impostos do município.
A fase de resplendor das primeiras décadas de vida autônoma,
dado o grande contingente de moradores dotados de grandes posses,
não se reproduzira ao comemorar o seu cinquentenário de elevação à
Vila (1924) pois a situação econômica local apresentava-se oscilante e
gerava as primeiras dificuldades para que as despesas municipais se
equilibrassem com as demandas decorrentes do crescimento populaci-
onal.
Neste ano do cinquentenário não houve uma contrapartida
tributária compatível com as necessidades geradas pelo crescimento
demográfico, já que muitos trabalhadores chegados para as produções
agrícolas passaram a se deslocar para as atividades de garimpos provo-
cando novos ingressos de trabalhadores rurais.
Vislumbrando a extração de ouro e prata no morro do Vuturu-
na, mais especificamente no Macaco e Cantagalo, inúmeros trabalhado-
res deixaram suas atividades nas colheitas e se dirigiram para estes na
expectativa de grandes jazidas, expectativas que não se confirmaram
dado que a extração de tais veios auríferos exauriram-se com grande
rapidez até que novas técnicas de extração foram implementadas no
ano seguinte.

47
As riquezas araçariguamenses, centralizadas em poucas mãos
tornavam o número de elegíveis aos cargos de vereadores e prefeitos
bastante limitados sendo que dos 15 contribuintes de 1916 com renda
superior a 200$00( duzentos réis) apenas 11 voltaram a registrar os
mesmos bens em 1928.
Pelas condições locais, o grupo que detinha poder econômico
e que era também o que detinha o poder político tornava-se instável
ano a ano e oscilavam de acordo com as produções, constando também
em relatórios que alguns destes embora com poder político sonegavam
suas contribuições refletindo seriamente nos interesses da maior fatia
da população.
Em 1925, a Câmara de Araçariguama solicitou a Afonso de
D’Escragnolle Taunay a confecção de um brasão para o município. O
heráldico, Afonso Taunay foi o criador dos brasões de Santana do Par-
naíba, Itú, Sorocaba, Jundiaí e Lorena dentre outros. O trabalho apre-
sentado pelo heráldico, descrito em registros da Câmara Municipal de
1925, apresentava os seguintes aspectos: Um garimpeiro à direita e um
índio à esquerda, ladeando um escudo onde se destacavam três torres
sobre uma panóplia de fundo amarelo, contendo em seu interior uma
floresta, um sino e um ramo de algodão,(fazendo lembrar as grandes
matas do então município, suas capelas e o produto mais importante à
época- 0 algodão, além do ouro já representado pela panóplia amarela
e pelo garimpeiro) divisadas por uma faixa prateada, representando o
rio Anhembi (Tietê). Sob o brasão a frase Liberior et Auctum (Livres para
crescer)entre as datas, 1653-1874. Apesar de solicitado pelo tão presi-
dente da Câmara, Antonio de Oliveira Pinto, os vereadores não oficiali-
zaram o brasão pois alguns deles se posicionaram contra o mesmo,
principalmente por não haver referências à atividade comercial em sua
estruturação. As demandas da população começaram a se agravar e
entre 1925 e 1928 muitos). A ausência de serviços públicos em com-
passo com as araçariguamenses transferiram-se para outras localida-
des, principalmente para aquelas mais próximas da ferrovia, como Itú,
Sorocaba e São Roque, onde encontravam melhores condições de tra-
48
balho e transportes e mesmo para as regiões suburbanas de São Paulo
onde as indústrias iniciavam uma fase de grande expansão.
O primeiro prefeito de Araçariguama foi escolhido em pleito
indireto (pelos vereadores, em conformidade com lei 1038) e coube a
Joaquim Augusto da Silva ocupar este cargo. Em 1908,o prefeito foi José
Nunes de Mattos que pediu afastamento antes do primeiro ano de
mandato, cabendo ao vice, Joaquim Augusto da Silva, concluí-lo. Suce-
dendo Joaquim Augusto, Domingos Marucci foi o prefeito escolhido em
1910,1912 e 1914.(em 1914 os mandatos de prefeitos foram reduzidos
para um ano).
Em 1915 Joaquim Augusto voltou a ocupar o cargo de prefeito,
sendo reeleito em 1916 e 1917 quando transferiu-o ao sucessor Thomás
Gomide que governou até 1919 quando João Pereira Oliveira Penteado
foi o escolhido. No ano de 1920 Bazilio Benjamim de Castro assumiu o
cargo e em 1921 Gastão D’Orleans Borba foi eleito pela Câmara. No ano
seguinte, o indicado para o cargo, Aloísio Honorato de Moraes renunci-
ou por motivo de doença e João Pereira Penteado, que era o vice, con-
cluiu o mandato, transferindo – o em 1923 para José da Silveira Castro
que governou até junho e pediu afastamento, assumindo o vice Francis-
co Rodrigues Correia.
Com a volta do mandato de dois anos, em 1924 Joaquim Au-
gusto da Silva retomou o governo municipal sendo reeleito, permane-
cendo no cargo portanto, até 1928 quando Domingos Marucci voltou a
responder pelo governo municipal. Em 1930, foi eleito para o cargo de
prefeito, Bazilio Benjamim de Castro que governando por apenas um
ano transferiu o cargo para João de Moraes que permaneceu no mesmo
até 1932, quando Joaquim Augusto da Silva retornou ao mesmo, per-
manecendo nele até a extinção do município em 1934.
Como poucos homens ocuparam o cargo de prefeito no muni-
cípio de Araçariguama em sua primeira emancipação, e alguns dos quais
o fizeram em várias oportunidades, a prefeitura que funcionava em uma
casa de propriedade de Belarmino Francisco Alves, registrou em sua
chefia neste período os seguintes prefeitos:
49
Cap.Joaquim Augusto da Silva - 1906-1907,1909,1915-1917 e 1932-34
José Nunes de Matos - 1908
Domingos Marucci - 1910-1914,1927-28,1929-30
Thomás Gomide de Castro - 1918-1920
João Pereira Oliveira Penteado- 1920, 1922
Bazilio Benjamim de Castro - 1921,1931
Aloísio Honorato de Moraes - (março/ 1921-set/1922)
José da Silveira Castro - ( fev- junho /1923)
Ten.Gastão D’Orleans Borba - ( junho /1923 –fev./1924)
Francisco Rodrigues Correia - ( 1924-1926)
João de Moraes - (1931-32)

Na presidência da Câmara de vereadores, além de Joaquim


Augusto que a presidiu de 1892 a 1905, destacaram-se João Gomide de
Castro, Benedito de Athaíde, Domingos Marucci, Adelmo Marucci, Luiz
Antonio Athaíde, Antonio de Oliveira Pinto, Francisco Antonio de Olivei-
ra e João Pereira Oliveira Penteado.
Destaque deve ser dado neste período, aos irmãos comerci-
antes Antonio de Oliveira Pinto e José de Oliveira Pinto que entre 1918 e
1932 acudiram com empréstimos, à Câmara e à Prefeitura para ameni-
zar as dificuldades em que as mesmas se encontravam, principalmente
entre 1927 e 1930 quando estes mantiveram o funcionamento dos po-
deres públicos municipais praticamente às suas expensas.

50
Capítulo XII

A CORRIDA DO OURO E A DECADÊNCIA

No ano de 1926,repercutindo as buscas de ouro que alguns


mineradores vinham realizando nos morros do Voturuna, Cantagalo e
Macaco um grupo de ingleses radicados no Canadá solicitaram e obtive-
ram o direito de explorarem a área em apreço, constituindo para tal a
empresa denominada "Saint George Gold Mine" tendo como dirigente
maior o general George Raston.
Esta empresa que estabeleceu novas formas de perfuração do
morro deu origem à entrada da mina que se encontra na atual fazenda
Cintra Gordinho e dali chegou a retirar por volta de 1927 e 1930 uma
média de 20 quilos de ouro e a mesma quantidade de prata anualmen-
te, sendo que o ano de maior produção foi o de 1930 quando esta mina
passou a ser considerada o maior veio aurífero em exploração no estado
de São Paulo.
Araçariguama, à época administrada pelo prefeito Joaquim
Augusto da Silva não soube tirar os devidos tributos do ouro que era
retirado de seu território e a monopolização da exploração por parte da
Saint George não lhe permitiu que expandisse as produções agrícolas o
que provocou a curto prazo uma drástica redução econômica acompa-
nhada de um significativo êxodo de seus habitantes.
O quadro populacional que indicava 4.060 habitantes em 1916
e crescera com a corrida do ouro para 4.310 em 1924 e 4.718 em 1928
começou a decair quando os mineradores viram as possibilidades de
exploração do metal em poder da Saint George que empregava pouco
mais de 30 funcionários na atividade extrativa, deixando os demais à
mercê dos períodos de colheita que fôra relegada a segundo plano dado
que as atividades comerciais junto aos trabalhadores da mina mudaram
o eixo econômico do município.
As denúncias de que o ouro extraído de Araçariguama tomava
rumos escusos(contrabando) e não dispendia tributos no município
51
colocou técnicos do governo federal na fiscalização da mesma, mas não
ousou melhorar a receita araçariguamense que ao ingressar na década
de 1930 padecia de grandes dificuldades tendo sua população reduzida
a 3.940 habitantes em 1930.
Ressentindo-se de uma via de comunicação que a ligasse aos
centros comerciais mais desenvolvidos, próximos da capital e do porto
de Santos, portanto permanecendo em situação de isolamento e que
em decorrência da ausência desta via, o município acompanhava o ouro
produzido em suas terras será transportados por caminhos poucos se-
guros e mais propensos a desvios (consta que o ouro era transportado
em cangas e muares utilizando a estrada imperial, passando por São
Roque, Canguera, Ibiúna, Piedade, Tapiraí, Registro, Juquiá, Miracatu e
daí para Itanhanhém onde era embarcado) logo, sem qualquer inspeção
que fizesse com que o município obtivesse vantagens desta produção os
tributos decorrentes do comércio tornava-se exíguo para saldar suas
obrigações administrativas junto ao Estado e seus moradores.
Em 1930 embora reconhecida como grande produtora de ou-
ro, Araçariguama não tinha uma receita compatível com suas despesas o
que a tornava dependente economicamente de recursos do Estado e do
Governo Federal. É neste ano inclusive que Araçariguama começou a
viver a pior situação financeira de sua história pois com a chamada "re-
volução de trinta" e a ascensão de Getúlio Vargas à presidência da Re-
pública, os repasses federais ao município foram sensivelmente prejudi-
cados.
A política centralizadora de Getúlio Vargas no sentido de sub-
trair qualquer nível de importância municipal se fez presente no próprio
decreto que instituiu o governo provisório. Em 11 de novembro de
1930(decreto 19.398)o governo provisório retirou a autonomia financei-
ra dos municípios permitindo-a somente aos Estados e ao Distrito Fede-
ral. Nos vários artigos do decreto 19.398 a vida municipal se veria afeta-
da como podemos observar na transcrição abaixo:

52
Decreto 19.398 de 11/11/1930
...Art.9 - É mantida a autonomia financeira dos Estados e do Distrito Federal.
...Art 10 - São mantidas em pleno vigor todas as obrigações assumidas pela União
Federal,pelos Estados e pelos municípios,em virtude de empréstimos ou de qua-
esquer operações de crédito público.
... Art.11 - O governo provisório nomeará um interventor federal para cada
estado...
§ 4º - O interventor nomeará um prefeito para cada município, que exercerá
ahí todas as funções executivas e legislativas podendo o interventor exonerá-lo
quando entenda conveniente, revogar ou modificar qualquer dos seus atos ou
resoluções e dar-lhe instruções para o bom desempenho dos cargos respectivos e
regularização e eficiência dos serviços municipaes."
... Art. 18* - Revogam-se todas as disposições em contrário

Rio de Janeiro,11 de novembro de 1930, 109º ano da


Independência e 42º da República.
Getulio Vargas

Osvaldo Aranha , José Maria Whitaker, Paulo de Moraes Barros, Afrânio de


Melo Franco, José Fernandes Leite de Castro, José Isaías de Noronha

Pelo decreto nº 19.400 editado no dia seguinte o governo fe-


deral deu prazo de 15 dias para que as obrigações vencidas nos Estados
e municípios fossem saldadas o que colocou inúmeras localidades em
dificuldades ainda maiores do que as que já vinham enfrentando.
Por outro lado a exigência de só serem considerados exequí-
veis os municípios com rendas superiores a 25:000$000(vinte e cinco
contos de réis) agravaria o quadro econômico local, pois embora com
produções significativas o fato de poucos serem proprietários destas,
logo, poucos serem os contribuintes não havia um direcionamento de
tributos aos cofres públicos.
A ausência de uma distribuição de renda que ampliasse o nú-
mero de contribuintes tornava Araçariguama inexequível economica-
mente.
Os tributos municipais a que nos referimos no decorrer deste e
de capítulos anteriores eram os seguintes: imposto de licença, imposto
predial e territorial urbano( cobrado sob a forma de décima ou de cédu-
la de renda), imposto sobre diversões públicas, imposto cedular sobre a
53
renda de imóveis rurais, taxas de serviços municipais e contribuições de
melhorias, taxas sobre comércios e outros impostos estaduais e fede-
rais.
Se o município já havia sido atingido pela ausência de ligações
rodoviárias e ferroviárias no século XIX e pelo abandono a que fora rele-
gada a estrada imperial esta foi isolada de forma mais intensa com a
construção da atual rodovia Raposo Tavares que além de passar ao lon-
go de Araçariguama carreou para esta um eixo de desenvolvimento que
novamente alijaria o município das grandes rotas comerciais.
Tais fatores acumulados nos anos iniciais da década de 1930
deixava a população de Araçariguama insegura quanto ao futuro de sua
autonomia e de seus governantes.

54
Capítulo XIII

O MUNICÍPIO PERDE A AUTONOMIA

Iniciando a década de 1930 dependente de recursos estaduais


e federais para a manutenção de sua administração, e, sob a mão forte
de Getúlio Vargas na presidência da República, Araçariguama começou a
sentir mais fortemente a crise econômica que abalou o país em 1929 e
que significou em cortes de verbas dos Estados para os municípios.
Como registramos no capítulo anterior, desde o final do século
XIX a população de Araçariguma apresentava-se em crescimento e após
1928 iniciou uma fase de decadência cujos reflexos alterariam comple-
tamente o cotidiano sócio-econômico do município.
Temos assim que dos 4.718 habitantes registrados em 1928 e
3.940 em 1930 a queda após 1932 e 1933(apesar de serem os anos on-
de a Saint George extraiu o maior volume de ouro de Araçariguama) se
estenderia e mesmo com o acréscimo de um número significativo de
estrangeiros que ali se fixaram(principalmente espanhóis, japoneses,
italianos e portugueses)representando 7% dos moradores, em janeiro
de 1934 a população reduzira-se para 3.780 habitantes.
Visando promover uma recuperação dos municípios que que-
riam se manter como tais mas que não atestavam condições para so-
breviverem de forma autônoma, o interventor federal de São Paulo
(Pedro de Toledo)que assinara em 1932 o decreto 5.785 dando descon-
tos de 50% para os impostos cobrados de atividades comerciais e indus-
triais não conseguiu amenizar o quadro de déficit em inúmeros municí-
pios que viviam nas mesmas condições de Araçariguama.
Os descontos cobrados nas transferências de atividades co-
merciais e industriais não afetaram Araçariguama porque esta apesar do
comércio ter se ampliado tinha a base de sua economia na agricultura e
por isto, seus balancetes administrativos demonstravam só e tão so-
mente, queda de potencial arrecadador.

55
Mesmo tendo este decreto prorrogado pelo interventor Ar-
mando de Sales Oliveira que assumira o cargo em 21 de agosto de 1933,
Araçariguama não apresentava numerário para saldar a exigibilidade de
suas obrigações vencidas ou perspectivas para as que estavam por ven-
cer.
Em janeiro de 1934, Armando Sales de Oliveira nomeou uma
comissão para realizar uma revisão dos valores das propriedades, co-
mércio e indústria de Araçariguama objetivando um relatório pormeno-
rizado das condições financeiras do município.
A comissão composta por um coletor estadual, um escrivão de
rendas e dois membros escolhidos entre os contribuintes do município,
tinha como responsabilidade avaliar a viabilidade de recuperação eco-
nômica de Araçariguama e determinar as soluções a serem tomadas se
esta não se apresentasse possível, algo que o prefeito Joaquim Augusto
da Silva julgava inadmissível.
Independente dos anseios do prefeito, o relatório apresentado
ao interventor estadual colocava a impossibilidade de Araçariguama se
auto-administrar, pelas dificuldades de manutenção de sua estrutura
municipal.
Descrevendo um quadro desalentador em relação a previsão
de receitas futuras, o relatório teve um impacto extremamente negati-
vo, fazendo com que "para defender os interesses da população do mu-
nicípio", o governador-interventor assinasse e fizesse publicar o seguin-
te decreto:

56
Decreto 6.448 de 21 de maio de 1934
Extingue os municípios de Araçariguama, Buquira, Capoeiras, Espirito
Santo do Turvo, Igaratá, Iporanga, Jatahy, Lagoinha, Pilar, Pinheiros, Platina,
Redempção, Ribeira, Ribeirão Vermelho, Ribeirão Branco, Sarapuhy, Santa Cruz
da Conceição e Vila Bella e dispõe sobra sua annexação a outros municípios.
O Doutor ARMANDO SALES DE OLIVEIRA, Interventor Federal no
Estado de São Paulo, usando das attribuições que lhe confere o decreto n* 19.398
de 11 de novembro de 1930,
Considerando que os municípios de Araçariguama... não podem com seus
próprios recursos manter os encargos decorrentes de suas administrações devido à
exiguidade das respectivas rendas
considerando que a renda annual desses municípios inferior a
25:000$000(vinte e cinco contos de réis) ,em alguns delles não atinge a
10:000$000(dez contos de réis) e é, na sua maior parte applicada sómente com as
despesas do funcionalismo, sem vantagens para os serviços públicos
considerando que é de toda conveniência a annexação desses municípios a
outros mais prósperos
Atendendoe de as
melhores condições do
determinações financeiras:
governo estadual, o então
DECRETA
prefeito de São Roque, Argeu Vilaça nomeou uma comissão para realizar
Art.1º - Os municípios de Araçariguama... passam à categoria de disctritos de paz
um actuaes
e suas levantamento de todos
divisas ficam os valores, bens móveis e imóveis, bem co-
annexados:
O município de Araçariguama
mo um relatório ao de São
pormenorizado dasRoque: ... e despesas município ex-
receitas
...Art. 4º - Os débitos e outros compromissos assumidos
tinto e que passou para a sua administração na condição pelos municípios
de distrito.extinctos
ficarão a cargo do município ao qual for elle anexado.
... Art. 5º - Os funccionários com mais de 5(cinco)annos de effectivo exercício nas
prefeituras ora transformadas em districtos de paz serão incluídos, de accordo
com a conveniência do serviço, no quadro do funccionalismo do município ao qual
for annexada a prefeitura extincta.
... Art.6º - Este decreto entra em vigor na data da publicação, revogadas as dispo-
sições em contrário.
Palácio do Governo do Estado de São Paulo, aos 21 de maio de 1934.
Armando de Sales Oliveira
Marcio P. Munhoz Valdomiro Silveira
Publicado no Departamento de Administração Municipal aos 21 de maio de 1934 -
Mario Egydio de O. Carvalho - Director

Esta comissão foi formada pelos senhores Alfredo Salvetti,


Joaquim Marques da Silva e José Maria Borba.
Ao perder a sua autonomia político-administrativa, Araçari-
guama adentrou uma fase de retroação demográfica ainda mais acele-
rada, que agravada com a decadência econômica ofuscaria todo o brilho
e o respaldo político obtido no último quarto do século XIX quando ci-
57
dadãos como Joaquim Augusto da Silva, Benedicto Antonio de Athayde,
Antonio Joaquim de Barros, Brasilio José de Oliveira, Avelino Augusto da
Roza, Antonio Claudiano da Rosa, Thomáz Gregório da Silveira, João José
de Oliveira Camargo, Joaquim Zeferino Procópio, Joaquim José da Ro-
cha, Joaquim da Silva Moraes, Albano José de Oliveira, Bento de Barros
Neto, João Batista de Oliveira Leite, José Indalécio da Silva, Francisco de
Vasconcelos e outros ex-ocupantes de cargos político-administrativos do
município tanto lutaram para construir e preservar.
A redução de Araçariguama à condição de distrito não permi-
tiu que esta reconquistasse o espaço perdido, mesmo obtendo repre-
sentação política a posteriori, na administração de São Roque.

58
Capítulo XIV

NOVAMENTE DISTRITO

Como vimos no capítulo anterior, a redução de Araçariguama à


condição de distrito de paz de São Roque e a absorção de suas respon-
sabilidades financeiras pela cidade irmã (não podemos nos esquecer sob
quaisquer hipótese que Araçariguama foi fundada em território de San-
tana de Parnaíba, assim como São Roque e só em 1844 foi incorporada à
administração sanroquense da qual se desligaria 30 anos depois para
tornar-se Vila (município),logo, a cidade de São Roque é cidade irmã de
Araçariguama enquanto Santana de Parnaíba é a mãe de ambas) fez
com que sua população de 3.780 habitantes se visse na contingência de
apelar à administração sanroquense (via sub-prefeitos indicado por
aquela) para a manutenção de seus interesses de natureza pública.
As demandas araçariguamenses junto ao município de São Ro-
que, que teve seu espaço político-administrativo ampliado territorial-
mente e demograficamente, sem o devido acompanhamento orçamen-
tário ficaram visivelmente prejudicadas e em decorrência disso a popu-
lação local começou a deixar o agora distrito, sobretudo depois que as
atividades de extração de ouro pela Saint George foram desestimuladas
pela lacração da mina (por determinação do governo federal).
A variação no número de habitantes que pode ser vista no
quadro abaixo justifica tal êxodo da população araçariguamense e é um
indicador dos períodos econômicos mais destacados na evolução histó-
rica araçariguamense:

59
Variação da população de Araçariguama 1874-1940

Anos População Anos População


1874 1.621 1914 4.078
1890 2.202 1920 4.310
1893 2.615 1928 4.718
1900 2.872 1934 3.780
1910 4.060 1940 2.723

Fonte: Anuários Estatísticos de São Paulo, Recenceamen-


to Geral do Brasil e Relatórios da Comissão de Estatística
da Província e do Estado de São Paulo.

Considerando-se que o recenceamento de Araçariguama indi-


ca que 90,9% da população residia em área rural (fazendas, pequenos
sítios e demais propriedades agrícolas)dispersa em seus 190 Km2 temos
uma situação em que podemos demonstrar com muita clareza que a
extinção do município atingiu sobremaneira a população urba-
na(atuante junto ao comércio e às esferas públicas) enquanto foi grada-
tivamente assimilada pela população rural.
A primeira década após a reintegração de Araçariguama a São
Roque foi extremamente complexa para a organização social e econô-
mica do distrito, principalmente porque distante das vias de comunica-
ção com as principais cidades vizinhas (Santana de Parnaíba, Sorocaba e
Itú)encontrava dificuldades para atendimentos emergenciais de sua
gente ao mesmo tempo em que permanecia sem meios rápidos de es-
coamento de suas produções que passava a ser paulatinamente substi-
tuída pela produção mineral.
Submetida à administração de sub-prefeitos que acumulavam
o cargo com outras atividades profissionais e sub-delegados (que traba-
lhavam sem uma remuneração que os colocassem integralmente a ser-
viço da população) indicados pelos titulares instalados em São Roque, as
60
necessidades básicas dos araçariguamenses, em compasso com uma
ausência de recursos para atendê-las, impulsionavam a migração em
índices extremamente elevados tanto na área urbana quanto na rural.
A produção vinícola que se solidificava em São Roque após a
década de 1930 não refletia em Araçariguama. Como as terras araçari-
guamenses não eram favoráveis à vitivinicultura que se firmava como
principal produção do município ao qual pertencia, esta encontrou na
produção de eucaliptos (cultivo por reflorestamento) uma fonte de ren-
da que a manteria em equilíbrio após os anos 50, época em que se inau-
guraria a rodovia São Paulo- São Roque e colocaria o município como
um polo de produção industrial.
Araçariguama por sua vez, sem estradas em condições ade-
quadas de tráfego e sem investimentos de monta que trouxesse melho-
rias para o sistema viário local que começava a ser utilizado por algumas
linhas de ônibus ligando esta a outras localidades, permanecia à mar-
gem do progresso decorrente de atividades industriais tal como ocorria
com sua cidade-mãe, Santana de Parnaíba.
À decadência econômica somava-se a decadência demográfi-
ca, restringindo-lhe o acesso a representação política, ficando assim a
mercê da atuação de moradores do distrito que com às suas expensas
realizavam algumas melhorias no mesmo, como Albertino de Castro
Prestes, vereador em São Roque e sub-prefeito de Araçariguama entre
1945 e 1950 e que morreu em acidente de avião em 25 de dezembro de
1953.

61
Capítulo XV

A DÉCADA DO III CENTENÁRIO

Ao abordarmos as condições econômicas e demográficas de


Araçariguama depois que esta deixou de ser município, apresentamos
um quadro cujo gráfico demonstra que a população local caiu no perío-
do 1930-1934 nas mesmas proporções em que crescera entre 1900 e
1920(ápice da produção agrícola e mineral do município).
Iniciando a década de 1950 administrada pelo sub-prefeito
Horácio Lane, indicado pelo prefeito sanroquense Danton Castilho Ca-
bral, Araçariguama se iluminaria com a instalação da luz elétrica no dis-
trito (até então a energia era produzida por geradores à base de água,
óleo diesel e querosene) melhoramento este que já atingira grande par-
te das localidades vizinhas e que alterara significativamente o cotidiano
das mesmas, enquanto preparava-se para as comemorações alusivas ao
seu III Centenário de fundação.
Com a chegada da energia elétrica o distrito vislumbrava si-
nais de recuperação no sentido de ampliação de suas atividades econô-
micas, porém, mesmo com a abertura e inauguração da rodovia São
Paulo - Itú (em 1952) a captação de benefícios capaz de tirá-la do isola-
mento se fez presente.
A posição de distrito-ponte que Araçariguama experimentara
em períodos anteriores e sob a qual estabelecera uma considerável teia
comercial (fornecimento de material e equipamentos para os tropei-
ros)e que já tornara-se insignificante era rebuscada a cada sinal de cons-
trução de obras viárias em áreas circunvizinhas.
Distante das ferrovias (Ituana e Sorocabana) e das rodovias
(Raposo Tavares e São Paulo-Itú) e carente de vias que as aproximasse
de seu núcleo populacional mais representativo(a chamada Vila) possibi-
litando a sua inserção no surto econômico-industrial que se registrava
nas regiões suburbanas de São Paulo, Araçariguama, no alvorecer da
62
década de 1950 ressentia-se ainda de serviços de abastecimento de
água, redes de esgotos e outros serviços, dificultados pela sua topogra-
fia.
Por ocasião do III Centenário de fundação de Araçariguama, a
prefeitura de São Roque realizou diversas obras no distrito. Com a fina-
lidade de oferecer ao distrito melhores condições de acesso a ferrovia
que cortava o território sanroquense em 82,5 quilômetros, proporcio-
nando aos araçariguamenses um intercâmbio social mais amplo com a
população do distrito sede e maiores facilidades de contato com a capi-
tal foi inaugurada em fins de 1952 uma linha de ônibus que ligava o
distrito de Araçariguama a São Roque, a São João Novo e a Pirapora do
Bom Jesus.
Sob os governos dos prefeitos sanroquenses Danton Castilho
e Livio Tagliasacchi que lhes dedicaram maior atenção, inúmeras e im-
portantes obras conquistadas pela municipalidade e por meio do Esta-
do, como iluminação pública, reforma no grupo escolar e outras tão
importantes quanto, foram direcionadas para Araçariguama no sentido
de enaltecer a sua relevância no contexto histórico-administrativo da
região, culminando com a inauguração de um obelisco em homenagem
ao padre Belchior de Pontes pelos serviços prestados à comunidade
entre 1717 e 1719 quando foi o pároco de Araçariguama.
As riquezas descritas nas fontes documentares de Araçari-
guama à época de sua fundação, trezentos anos depois, eram apenas
lembranças e expectativas para a população local. A decadência econô-
mica e demográfica decorrente da significativa redução nas principais
culturas locais (algodão, batata inglesa, amendoim e milho), da divisão
das grandes fazendas em pequenos sítios e da substituição agrícola pri-
meiramente pela pecuária e depois pela extração vegetal e mineral,
resultou em redução de postos de serviços e por conseguinte no núme-
ro de moradores, tanto na área urbana quanto na rural.
No ano de seu terceiro centenário as produções econômicas
locais, nas justas medidas consideradas industriais, estavam representa-
das por duas olarias e duas empresas de extração de minérios. O trans-
63
porte servido por "jardineiras" ligando o distrito a São Roque e Pirapora
do Bom Jesus e adjacências, contribuía para que os moradores se deslo-
cassem para estes locais onde realizavam suas compras, refletindo as-
sim numa atuação bastante limitada do comércio local(representado no
mesmo ano por três casas de secos & molhados-empórios) e dois "bo-
tequins", responsáveis por todo abastecimento do distrito.
As dificuldades de comunicação, de emprego de mão-de-
obra local e de abrangência do comércio faria com que a população
passasse a depender em demasia de moradores de maiores posses e
que lhes prestavam atendimento por estarem diretamente envolvidos e
interessados na reconstrução do município e desenvolvimento da co-
munidade, caso das famílias Castro Prestes, Horácio Lane, Cintra Gordi-
nho, Eurico Cezar, Santos Brito, Victorazzo e Castro Andrade dentre
outros, que colocavam os desígnios de Araçariguama acima de seus
próprios interesses.
No plano da produção agrícola, as fazendas recortadas em sí-
tios, onde a produção se dava primordialmente para o auto-consumo,
envolvendo pequenos grupos familiares(mormente em terras arrenda-
das) que tinham como produtos negociáveis basicamente o milho e a
cebola(que ora começava a ser produzida no distrito)não mais atraíam a
atenção dos trabalhadores para seus cultivos e foi um fator que contri-
buiu sobremaneira para que Araçariguama concluísse a década que
marcara o seu tricentenário com baixa densidade demográfica e eco-
nômica.

64
Capítulo XVI

OS ANOS SESSENTA

Os alentos obtidos pela população do distrito de Araçariguama


com as obras realizadas pelos prefeitos que governaram São Roque e
por extensão Araçariguama, Danton Castilho, Livio Tagliasacchi e Mário
Luiz Oliveira, foram melhor valorizadas e provisionadas quando em 1963
o governador do Estado, Adhemar de Barros, eleito em 1962 anunciou e
deu inicio à construção de uma rodovia que passando por Araçariguama
lhe possibilitaria uma relação mais próxima com outras comunidades.
A rodovia do Oeste como foi inicialmente chamada( que com a
deflagração do movimento golpista de 1964 teve a sua denominação
mudada para Presidente Castelo Branco, em homenagem ao general
que assumira a presidência do país) demandaria para sua obra um gran-
de contingente de trabalhadores que fixando-se próximo à Araçarigua-
ma redimensionaria o seu setor comercial, sobretudo na área de servi-
ços. Após a cassação de Adhemar de Barros em 1966, a obra teve se-
quência com o vice que assumiu o governo, Laudo Natel.
Se num primeiro momento os prefeitos acima mencionados,
mesmo que em proporções muito aquém às reivindicações dos araçari-
guamense implantaram no distrito uma estrutura básica de serviços
públicos, os seus sucessores na década de sessenta, notadamente Hei-
tor Boccato, souberam aliar tais benfeitorias com melhoramentos de-
correntes da construção da rodovia( como calçamento e pedregulha-
mento de ruas com o uso de maquinários pertencentes à empresa cons-
trutora- CBPO, entre outras)motivaram uma reativação das atividades
econômicas locais.
Os melhoramentos obtidos por intermédio das empresas res-
ponsáveis pela construção da rodovia Castelo Branco alavancaram as
atividades econômicas no distrito e impulsionaram a formação de uma
classe social formada por operários ligados a estas e às empresas de

65
reflorestamento sediadas em Araçariguama, como a Santa Rita, dentre
outras.
Em capítulos anteriores referimo-nos ao impacto econômico
que a construção, primeiramente da Estrada de Ferro Sorocabana e
depois da rodovia Raposo Tavares trouxeram para o município de São
Roque.
Para que possamos ter um parâmetro que nos permita com-
preender melhor este paralelo econômico, apresentamos adiante um
quadro onde comparamos o crescimento demográfico de dois municí-
pios aos quais o distrito esteve vinculado geográfica e administrativa-
mente, São Roque e Santana de Parnaíba.
Tal quadro se faz necessário para que possamos visualizar a
evolução perene de São Roque e a oscilação demográfica de Santana de
Parnaíba que ao ter emancipado o seu distrito servido por ferrovia e
rodovia (Barueri) teve uma queda abrupta em seu quadro demográfico,
pois não encontrava meios de crescimento sem vias de comunicação
que a ligasse aos demais centros e lhe apresentasse perspectivas de
desenvolvimento autônomo.
Comparação Demográfica São Roque / Parnaíba
Ano São Roque Santana de Parnaíba
1940 22.465 14.350
1945 24.120 13.345
1948 26.220 16.983 *
1953 28.506 10.904
1958 28.658 3.223
1960 29.100 5.244 **
1969 34.358 6.192
Fonte; Anuários Estatísticos de São Paulo
* - Sem Barueri emancipado em 1949 ( com ferrovia e rodovia)
** - Sem Cajamar emancipado em 1959 e Pirapora do Bom Jesus emancipado em
1960 (com rodovias).

Considerando-se que Santana de Parnaíba permaneceu ao


longo dos anos isolada tal qual ocorrera com Araçariguama, muito em-
bora tivesse em seu território distritos com grandes contingentes popu-
lacionais e servidos por ferrovias e rodovias e que São Roque era servido
diretamente por ambos serviços o quadro nos permite visualizar que a

66
influência destes serviços tornara-se imprescindível para o crescimento
populacional de ambas.
O distanciamento que colocara Santana de Parnaíba à margem
dos eixos de desenvolvimento alicerçados no setor de transportes atin-
gira Araçariguama nas mesmas dimensões, ressaltando-se o fato de
Araçariguama contar com apenas um distrito enquanto Santana de Par-
naíba apresentava-se com o maior número de núcleos populacionais e
área territorial de toda região.
A década de sessenta, todavia, apresentava-se aos araçari-
guamenses como um período onde o distrito adentrando no mapa ro-
doviário do Estado de São Paulo, iniciava uma fase de retomada demo-
gráfica e de busca da importância que a sua redução a distrito lhe fizera
perder no decorrer dos anos 40 e 50.

67
Capítulo XVII

A CASTELO BRANCO E A RETOMADA


ECONÔMICO-DEMOGRÁFICA

Com a construção da rodovia do oeste(Castelo Branco) tanto


São Roque quanto seu distrito, Araçariguama foram amplamente favo-
recidos a nível econômico e demográfico. A inauguração da rodovia no
dia 10 de novembro de 1968 colocaria Araçariguama em definitivo no
quadro de ocupação territorial sanroquense, ampliando e diversificando
suas atividades nos mais diversos setores da economia.
A estagnação que caracterizara Araçariguama nas décadas an-
teriores se tornaria menos contundente após a inauguração da rodovia,
quando muitos de seus operários optaram por permanecer no distrito
fazendo com que o local fosse gradativamente redesenhado. Ao cortar o
distrito de Araçariguama em sua parte central, dividindo o mesmo em
duas partes, deixando de um lado o principal núcleo populacional e de
outro o cemitério, a Castelo Branco injetou vida nova para Araçarigua-
ma e para os seus habitantes, araçariguamenses ou não.
As administrações dos prefeitos Heitor Boccato e seu sucessor
Henrique Luiz Arnóbio, que conciliando disposição, materiais e equipa-
mentos (cedidos ou deixados pelas empresas que construíram o trecho
de Araçariguama da rodovia) reativaram as obras públicas no distrito e
estabeleceram com diversas melhorias um estímulo para os moradores
locais. Tal estímulo pode ser observado pelo crescimento da população
de São Roque e de Araçariguama , a primeira passando de 34.358 habi-
tantes em 1969 para 37.108 em 1970, enquanto Araçariguama recupe-
rava-se, atingindo 2.780 moradores no mesmo ano.( número pouco
superior ao que esta contava em 1940 (2.723) porém significativo já
que chegara a registrar apenas 1.072 em fins da década de 50.
A retomada populacional e econômica que marcaria um ter-
ceiro ciclo da produção econômica araçariguamense : algodão (1895-
1912), ouro (1924-1930 e 1936-1939) e agora embasado na construção
68
civil(rodovia) ampliaria o nível de participação político-social dos seus
moradores, sobretudo, a partir do 3* ano de inauguração da rodovia.
Estes aspectos decorrentes desta maior participação político-
social resultaria em um maior envolvimento da população local nas
questões político-administrativas, ocorrendo também, por conseguinte
um maior envolvimento destes no quadro político-partidário do municí-
pio, e um grande impulso nas atividades sócio-culturais araçariguamen-
ses.
Nesta área social, há que se registrar como um marco na orga-
nização social dos moradores do distrito a fundação da União Social
Esportiva e Recreativa Araçariguamense (U.S.E.R.A.) datada de 11 de
agosto de 1973, envolvendo um grande número de participantes inte-
ressados neste aspecto sócio-cultural-desportivo da comunidade.
Além destas, inúmeras conquistas de caráter estrutural nos se-
tores de educação (Ginásio Estadual Professor Humberto Victorazzo-
antigo Grupo Escolar de Araçariguama ,que recebeu o nome deste pro-
fessor que faleceu aos 71 anos de idade e era bastante respeitado em
toda região), linhas telefônicas, estação de tratamento de água, agência
de correios, posto bancário e outros serviços de semelhante importân-
cia marcariam os anos iniciais da década de 70 e a partir de meados
desta com o aval do prefeito Jarbas de Moraes e dos vereadores Ataliba
de Castro e Moisés de Andrade estes seriam melhorados e estendidos a
uma maior parcela da população local.
Com a rodovia e a sua inserção no rol das localidades com co-
municação ágil e direta com a capital, Araçariguama passou a ocupar
uma posição estratégica no crescimento de São Roque por ser ela um
elo de ligação desta rodovia com a sede do distrito que até então vinha
sendo superado em larga escala pelo então distrito de Mayrinque, cuja
população em 1970 representava cerca de 50% do quadro sanroquense,
ou seja, 18.174 habitantes.
Quatro décadas após perder a sua autonomia o distrito passou
a se destacar na economia sanroquense principalmente no ramo de
extrativismo (mineral e vegetal) preponderando ainda as produções
69
agrícolas de subsistência, enquanto que o comércio alavancado pelos
trabalhadores da rodovia no período anterior diversificou-se, tomou
volume e ampliou os gêneros de mercadorias oferecidas para o consu-
mo da população.
No ano em que comemoraria seu centenário de autonomia
(interrompida em 1934) depois de ter convivido com sua própria Câma-
ra de Vereadores e seu Paço Municipal, Araçariguama buscava sua re-
presentação por meio de vereadores eleitos à Câmara de São Roque e
por meio de suas famílias mais tradicionais e outras radicadas no distrito
nas décadas de 1960 e 70.
Anteriormente fizemos referência aos 40 anos sob uma sub-
administração sanroquense e ao redimensionamento da mesma no
quadro político-administrativo municipal, sobretudo sob as gestões dos
prefeitos Heitor Boccato (quando da inauguração da rodovia Castelo
Branco), Henrique Luiz Arnóbio e Jarbas de Moraes, que às suas medi-
das, compreenderam a importância histórico-social de Araçariguama e
deram grande impulso à estruturação viária e aos serviços públicos des-
tinados ao distrito, caso da inauguração do Posto da Caixa Econômica
Estadual em 1978.
A política de organização industrial voltada para Araçariguama
com o intuito de melhor dimensionar e dar aproveitamento positivo ao
fato da rodovia lhe cortar o território foram buscadas pelos prefeitos
sanroquenses Quintino de Aguiar (que faleceu durante o mandato),
sendo empossado o vice Antonio Carlos Moya e Mario Luiz que impulsi-
onados pelos vereadores Luiz Roberto Sanches Soares (Beto) e Antonio
Sanches Dias somaram esforços em prol da população local com a pre-
sença efetiva e atuante de membros componentes da sociedade e com
liderança sobre a mesma, como, Dimas Ferreira de Carvalho( denomi-
nado "O Bandeirante da Castelo") e João Roque de Andrade, dentre
outros, que realizavam serviços sociais reconhecidos pela comunidade.
Com uma população estimada em 4.600 habitantes em 1980,
um comércio em ascensão, quatro indústrias em atividade, além de
outras empresas de extração de minérios pré-existentes, Araçariguama
70
marcou o início dos anos 80 registrando manifestações em busca de
uma retomada da autonomia perdida, manifestações estas que se am-
pliavam e tomavam consistência motivadas pelos senhores Severino
Alves Filho(Paraíba), José Braz Aurélio, Dimas Ferreira de Carvalho, João
de Eugênio, Salvador Gouveia, Adolfo Alves da Silva e João Roque de
Andrade.

71
Capítulo XVIII

A ALVORADA DOS ANOS 80

Embora limitados pelas exigências legais para criação de no-


vos municípios contidas em leis federais ( LF nº 01 de 09/11/1967) e
estaduais( aprovação da Assembléia Legislativa) os moradores de Araça-
riguama ao vislumbrarem novos horizontes para o distrito, colocaram
como meta para si mesmos, a reconquista da administração político-
administrativa.
Promovendo reuniões no distrito e contatos políticos e jurí-
dicos fora dele, a busca da autonomia tomava forma e ganhava corpo
moldada nos ideais de um grupo de moradores locais, como; Benedito
de Godoy, Dimas Ferreira de Carvalho Junior, Sebastião Salvador e Adol-
fo Alves, que já em 1978, através do deputado Archimedes Lamoglia,
solicitaria pela primeira vez(após 1934)a emancipação de Araçariguama.
Motivados pelas emancipações que haviam surtido efeito
positivo para as comunidades que optaram pelas mesmas em períodos
anteriores, porém recentes, como no caso de Mairinque que se desliga-
ra de São Roque e se constituíra como município apresentando grande
desenvolvimento sócio econômico, em 1980 o grupo se ampliaria com
outros moradores, como Severino Alves Filho no grupo que tinha, Dimas
Ferreira de Carvalho Junior, Adolfo Alves, Sebastião Salvador e Benedito
Godoy, e deram origem à primeira Comissão Pró-Emancipação que or-
ganizando a documentação requisitada apresentaram naquele mesmo
ano uma solicitação de realização de plebiscito no distrito, mas não ob-
tiveram sucesso nesta reivindicação.
Diante da experiência negativa da primeira tentativa e bus-
cando respaldo jurídico e político para ser inserido nas discussões de
desmembramentos de distritos levados a efeito pela Assembléia Legisla-
tiva de São Paulo, os autonomistas (inicialmente alcunhados de separa-

72
tistas) acumulavam informações e instruções para a realização do proje-
to que defendiam.
Sem a presença de importantes personalidades da sociedade
araçariguamense que alimentavam a expectativa do restabelecimento
da autonomia perdida( até mesmo comparecendo com frações de suas
posses para tal) mas que vieram a falecer sem comemorarem a realiza-
ção deste anseio, tais como João de Oliveira Penteado, Albertino de
Castro Prestes, João de Castro Andrade, Humberto Victorazzo e outros,
os novos autonomistas encontravam nas esperanças destes o combustí-
vel que os moveriam na empreitada emancipacionista.
Buscando a emancipação em todas as possibilidades em
1981 a Comissão teve um segundo pedido rejeitado pela Assembléia
Legislativa mas a mesma se enraizava e sem desviar a atenção da políti-
ca municipal e buscando ampliar a representação araçariguamense na
Câmara de vereadores de São Roque nas eleições de 1982 lançaria a
candidatura de Dimas Ferreira de Carvalho Junior à prefeitura sanro-
quense e outro membro do grupo, Severino Alves Filho à vereança, pelo
Partido dos Trabalhadores (PT).
Apesar da boa votação de Severino Alves Filho (292 votos), a
falta de uma maior votação da legenda deixou o emancipacionista fora
da câmara porque sua legenda não logrou ter obtido o coeficiente elei-
toral necessário.
Não obstante as pregações emancipacionistas o envolvimen-
to da população do distrito na política administrativa de São Roque tor-
nava-se sólido e os representantes locais, caso do vereador Luiz Roberto
Sanches Soares(Beto) somavam melhorias para a comunidade, como o
centro de saúde, inaugurado em setembro de 1983.
Se por um lado Araçariguama seguia sua trajetória obtendo
significativos avanços nos setores comerciais e industriais e ampliando o
ideário emancipacionista local, por outro o prefeito Mário Luiz buscava
dotar o distrito com melhorias que pudessem inibir o emancipacionis-
mo. À medida que pressupunha que a comunidade se contentasse com
os investimentos ali realizados, o prefeito acreditava que com benefícios
73
públicos pudesse esvaziar os propósitos emancipacionistas e minimizar
a participação da população neste processo.
Desta forma, ao tentar abortar o movimento autonomista
pela via da destinação de obras para o distrito a política-administrativa
sanroquense refletia-se inversamente, pois, dotando o distrito com me-
lhorias, dava-lhes as condições necessárias para o preenchimento dos
requisitos exigidos para este se tornar município, tal como pré-
estabelecia a legislação para a criação e incorporação de distritos e mu-
nicípios.
Em 1986, dez dos dezesseis municípios que haviam sido re-
duzidos à condição de distrito, juntamente com Araçariguama (em
1934) já haviam restabelecido sua autonomia administrativa (Platina,
Sarapuí, Santa Cruz da Conceição, Ribeirão Branco, Ribeira, Redenção,
Pilar, Lagoinha, Iporanga e Igarataí) sendo que o mais populoso deles
neste ano era Ribeirão Branco (16.145 habitantes) e o menor Platina
(2.118 habitantes).
Dos demais distritos atingidos pelo decreto 6.448(ver capítu-
lo XIII ) apenas Araçariguama vinha realizando gestões junto às esferas
estaduais e federais visando a sua emancipação.
Com a nova legislação para a criação de novos municípios
sancionada em 1985, Araçariguama encontrava-se em condições de se
enquadrar economicamente e demograficamente na mesma pois man-
tinha os requisitos para estar em conformidade com a Lei complementar
que previa que:

Lei Complementar 410 de 28/08/1985

... Art. 108 - São requisitos para que o Distrito ou Sub-distrito se constitua em
município, além dos fixados pela lei complementar federal,os seguintes:
I- Ser Distrito ou Sub-distrito há mais de três anos;
II- ter condições apropriadas para instalação da Prefeitura e da Câma-
ra Municipal;
III- apresentar solução de continuidade de cinco quilômetros no mí-
nimo, entre o seu perímetro urbano e do Município de origem, excetuando-se os
distritos e sub-distritos integrantes da área metropolitana da Grande São Pau-
lo;
IV- não interromper a continuidade territorial do município de origem.
74
Como Araçariguama apresentava os quesitos ora exigidos pe-
la legislação que passara a vigorar a partir de 1985, os autonomistas
buscaram organizar a documentação comprobatória destes aspectos
para que pudessem reformular o projeto que permitiria a sua inserção
na Comissão de Assuntos Municipais da Assembléia Legislativa objeti-
vando aprovação após as eleições de 1986 que definiria o novo gover-
nador, deputados e senadores do estado.

75
Capítulo XIX

A CAMINHO DA EMANCIPAÇÃO

Após as eleições de 1986, quando elegeram-se os novos go-


vernantes de São Paulo, (Orestes Quércia governador) a Comissão Pró-
emancipação de Araçariguama encontraria importantes aliados para
que o projeto fosse levado adiante e atingisse o seu objetivo. Entre tais
aliados destacaram-se os deputados Arnaldo Jardim, Tonca Falcetti,
Edinho Araújo, Alcides Bianchi, Archimedes Lamoglia, José Dirceu e Ivan
Valente que se mostraram solidários à causa araçariguamense.
A construção da área industrial de São Roque em território
do distrito de Araçariguama constituir-se-ia num importante passo para
os propósitos emancipacionistas locais, pois, seria uma fonte de receitas
para a manutenção da estrutura econômica do possível novo município.
Com a abertura de novos loteamentos que rapidamente se
constituíram em bairros densamente povoados, mesmo sem grandes
obras de infra-estrutura, a população do distrito de Araçariguama se
ampliava e com ela crescia a luta emancipatória, pois a industrialização
,embora incipiente, atraía novos moradores, novos investidores e uma
diversificação de idéias que assimiladas pelos autonomistas lhes amplia-
vam o universo de luta.
Através da A.M.D.A. (Associação de Moradores de Araçari-
guama) de cuja importância trataremos no capítulo XX, entidade funda-
da para conduzir o processo emancipatório e atuar junto aos deputados
estaduais e às instâncias federais para que a população pudesse optar
democraticamente pela sua permanência como distrito de São Ro-
que(administrada pelo Executivo e Legislativo sanroquense) ou pela
criação sua própria estrutura político-administrativa, os autonomistas
encontraram guarida na Frente Distrital de Emancipação que composta
por distritos de todo Brasil buscava influenciar os deputados que redigi-
am a nova Constituição do país em Brasília.

76
Apesar das ações anti-autonomia desencadeadas pelo prefei-
to Mário Luiz e levadas adiante pelo sucessor Antonio Carlos Moya, a
Assembléia Legislativa de São Paulo iniciou a tramitação político-
burocrática da legislação estadual para criação de novos municípios a
ser inserida na Constituição estadual, enquanto os autonomistas aguar-
davam o melhor momento para que seu projeto pudesse ser inserido no
rol dos distritos que realizariam plebiscito no período 1988-1991.
Objetivando evitar um novo recorte no município que já tive-
ra na emancipação de Mairinque uma perda significativa para o municí-
pio, décadas antes, e que agora convivia com a possibilidade de perder
Araçariguama, o Executivo sanroquense passou a investir no distrito no
sentido de preservar a unidade territorial de São Roque ou na pior das
hipóteses transferir tal recorte para a gestão seguinte.
Atuando em conjunto com a Frente Distrital Paulista de
Emancipação, que tinha como finalidade conquistar alterações políticas
e jurídicas para a criação de novos municípios, junto à Assembléia Legis-
lativa, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, o auto-
nomista Severino Alves Filho acreditava e não media esforços para que
o sonho da emancipação se tornasse realidade.
A Constituição federal promulgada em 05 de outubro de
1988 em seu artigo 18 # 4* previa que: "A criação, a incorporação, a
fusão e o desmembramento de Municípios preservarão a continuidade
e a unidade histórico-cultural do ambiente, far-se-ão por lei estadual,
obedecidos os requisitos previstos em lei complementar estadual, e
dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dire-
tamente interessadas", texto que foi transferido em sua íntegra para o
artigo 145 da Constituição Estadual promulgada em 05 de outubro de
1989.
Após as eleições municipais de 1988, quando Araçariguama
elegeu três vereadores à Câmara de São Roque, Severino Alves Fi-
lho(com a maior votação do município - 522 votos), Celso Grande e João
de Castro de Andrade Neto e o suplente Belarmino Alves Pinto, o auto-
nomista Severino Alves Filho indicado presidente da Câmara passou a
77
defender da tribuna da mesma a emancipação do distrito de Araçari-
guama, tendo a favor deste projeto um foro próprio para tal, o legislati-
vo.
Ancorados na luta do vereador emancipacionista o movimen-
to ganhava contornos cada vez mais sólidos com a incorporação de
segmentos sociais ligados ao comércio local e a movimentos da comuni-
dade, como a U.J.A (União de Jovens de Araçariguama). O Executivo
sanroquense, por sua vez ocupado pelo prefeito José Fernandes Zito
Garcia buscava mecanismos para desarticular a A.M.D.A, (cuja atuação
veremos no capítulo seguinte) que em seus estatutos priorizava de for-
ma indelével a criação do município de Araçariguama.

78
Capítulo XX

A A.M.D.A E O SENTIMENTO EMANCIPACIONISTA

Os cidadãos araçariguamense que tinham como virtude a


perseverança e como meta a conquista da autonomia do distrito para
que pudessem se auto-conduzirem e administrarem as receitas geradas
em Araçariguama a fim de direcioná-las para as demandas da comuni-
dade que não tinha, segundo os mesmos, a devida atenção por parte
das administrações sanroquenses buscaram se reunir e se organizarem
através de uma entidade popular e representativa.
Com base no artigo 100 da Lei Complementar 355 que de-
terminava que "a criação de Municípios, Distritos e Sub-distritos e suas
alterações territoriais só poderão ser feitas quadrienalmente, no ano
anterior ao das eleições gerais, mediante consulta plebiscitária às popu-
lações interessadas, atendidos os requisitos da lei complementar federal
e da legislação estadual...",considerando-se eleições gerais as que forem
realizadas para governador, vice-governador e deputados, os autono-
mistas araçariguamenses iniciaram contatos para constituírem uma
sociedade organizada e com meios para obterem a emancipação antes
de 1992.
Para tal fim, no dia 03 de julho de 1987, reuniram-se na sede
da Plimec (Rua São João-centro), Severino Alves Filho, Belarmino Alves
Pinto, Alice Aparecida Soares Martins, Orlando Soares, João Roque de
Andrade, João de Oliveira Sales Sobrinho, Valter Aurélio Carvalho Gue-
des, Benedito Aparecido de Godoy, Wilson Ferreira de Carvalho, Hermes
da Fonseca, Natalício Vieira Brandão, Benedito Roberto da Silva, Celso
Grande, Mauro Bonifácio, Eneias Brito de Oliveira, José Gatti, Paulo
Alonso Cassemiro, Luiz Gonzaga Prestes, Argemiro dos Santos, João
Ferreira de Carvalho Sobrinho e Alzira de Carvalho Guedes, que decidi-
ram pela criação de uma associação de moradores. Nascia assim a
A.M.D.A (Associação de Moradores de Araçariguama).
79
Os acima mencionados elegeram uma diretoria provisória
que teve Severino Alves Filho(Paraíba) como presidente e Wilson Ferrei-
ra de Carvalho (Bola) como vice. Em sua primeira reunião extraordinária
realizada no dia 22 de agosto de 1988 a direção da A.M.D.A. deliberou
que a entidade realizaria um Censo no distrito, prevendo-se incorporar
o mesmo na solicitação de emancipação político administrativa apresen-
tada à Assembléia Legislativa do Estado. Para esta tarefa foi organizada
uma comissão composta de 12 membros tendo à frente o presidente
provisório da entidade.
Estabelecida na Praça da Matriz (conforme consta de sua do-
cumentação) os estatutos da A.M.D.A definia como suas atribuições que
esta tinha por objetivo básico, congregar os habitantes de Araçariguama
em torno dos interesses comuns, para assim, promoverem o desenvol-
vimento local e a possível conquista da autonomia do distrito.
Com parecer favorável da Comissão de Assuntos Municipais
da Assembléia Legislativa, cujo presidente era o deputado Alcides Bian-
chi, que tomou por base o artigo 34 das disposições transitórias da
Constituição paulista, foi marcada pelo TER (Tribunal Regional Eleitoral)a
data de realização de plebiscito em Araçariguama que aconteceria no
dia 5 de novembro de 1989.

A redação do artigo 34 estabelecia que:


"Até que lei complementar disponha sobre a matéria, na
forma do artigo 145 desta Constituição, a criação de Municípios fica
condicionada à observância dos seguintes requisitos:
I- população mínima de dois mil e quinhentos habitantes e
eleitorado não inferior a dez por cento da população;
II- centro urbano já constituído com um mínimo de duzentas
casas;
III- a área da nova unidade municipal deve ser distrito ou
subdistrito há mais de três anos e ter condições apropriadas para a ins-
talação da Prefeitura e da Câmara Municipal;

80
IV- a área deve apresentar solução de continuidade de pelo
menos cinco quilômetros, entre o seu perímetro urbano e o do Município
de origem, excetuando-se neste caso, os distritos e sub-distritos inte-
grantes de áreas metropolitanas;
V - a área não pode interromper a continuidade territorial do
Município de origem;
VI- o nome do novo Município não pode repetir outro já exis-
tente no País, bem como conter a designação de datas e nomes de pes-
soas vivas.
...§ 3* - Somente será considerada aprovada a emancipação
quando o resultado favorável do plebiscito obtiver a maioria dos votos
válidos, tendo votado a maioria absoluta dos eleitores.

Entrementes, no intuito de impedir que Araçariguama pu-


desse obter a emancipação, já que preenchia todos os requisitos acima
descritos, o prefeito de São Roque, José Fernandes Zito Garcia articulou
um golpe contra os emancipacionistas, apresentando projeto que alte-
rava as divisas do distrito e, portanto, tornando-o inapto à autonomia,
projeto este que aprovado pela Câmara sanroquense transformou-se
na Lei 1.727/89. Apesar dos votos contrários dos araçariguamenses, o
Executivo conseguiu obstar o plebiscito por esta lei e por um mandado
de segurança (MS 1.184) impetrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral
e que aceito pelo ministro Octávio Galloti suspendeu a realização da
consulta plebiscitária.
Com a frustração da suspensão do plebiscito, o vereador Se-
verino Alves Filho voltou a atuar junto às esferas estaduais para obten-
ção de meios jurídicos capazes de permitir a criação do município de
Araçariguama. Em 1990, transformada em entidade sem fins lucrativos a
A.M.D.A. ampliava seu número de associados e captando o interesse
popular (agravado pelo golpe sofrido do Executivo sanroquense) obteve
respaldo mais consistente para nova solicitação de plebiscito junto à
Assembléia Legislativa.

81
Com o aval dos deputados já mencionados que aprovaram o
Projeto de Lei Complementar (PLC/03) apresentado pelo deputado Edi-
nho Araújo no dia 29 de junho de 1990, Araçariguama pôde novamente
ser inserida no rol dos distritos que pleiteavam emancipação após o
governador sancionar o projeto e transformá-lo em Lei dois dias depois.
Tendo a Assembléia compreendido que Araçariguama dispu-
nha de todos os requisitos necessários para sua emancipação, marcou-
se nova data para que os moradores pudessem optar pela mesma e
torná-la efetiva. O plebiscito foi marcado para o dia 19 de maio de 1991.
No plano interno, em março de 1991(dia 31) tendo já obtido
o respaldado da população, a A.M.D.A realizou a eleição de sua diretoria
colocando fim a provisoriedade da mesma. O consenso resultou na
formação de uma chapa única denominada "Independência" que foi
composta por Severino Alves Filho (presidente), Belarmino Alves Pinto
(vice), Benedito Aparecido Godoy (1º secretário), Mauro Bonifácio (2º
secretário), Hermes da Fonseca (1º tesoureiro), Luiz Gonzaga Prestes (2º
tesoureiro), Luiz Rovina Salgado (Diretor Social), João Roque de Andra-
de, José Luiz de Mattos e Argemiro dos Santos (Conselho Fiscal), e Círio
Omero Pereira, José dos Santos Aguiar e Pedro Felix (suplentes do Con-
selho Fiscal).
Obtendo 46 dos 51 votos válidos (5 brancos e um nulo e au-
sência de 16 associados) a chapa "Independência" tornou-se o principal
baluarte para as lutas emancipatórias, cujo trabalho iniciou-se com a
campanha para que a população votasse SIM no plebiscito que se reali-
zaria no 19 de maio seguinte (49 dias depois).
Com a confecção de materiais de divulgação e ampla campa-
nha, a diretoria da A.M.D.A. apostava na vitória do SIM, e no dia 19 de
maio de 1991 compareceram às urnas 2.073 eleitores, sendo que 1.984
votaram a favor e 89 votos foram dispersos entre nulos, brancos e con-
trários. O resultado do plebiscito foi encaminhado às instâncias legais e
no dia 30 de dezembro de 1991 o governador Luiz Antonio Fleury sanci-
onaria a Lei 7.664 que assim foi redigida:

82
Lei 7.664
30 de dezembro de 1991
Dispõe sobre alterações no Quadro
Territorial- Administrativo do Estado

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:


Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a se-
guinte lei:
Artigo 1º - O Quadro Territorial Administrativo do Estado, estabelecido
pela Lei 8.050 de 31 de dezembro de 1963, repromulgada pela Assem-
bléia Legislativa como Lei 8.092, de 28 de fevereiro de 1964, com as
modificações posteriores, fica alterada na conformidade do disposto
na presente lei.
Artigo 2º - Ficam criados os seguintes Municípios:
I -Município de Ilha Solteira...
II-Município de Alumínio...
III-Município de Pedrinhas Paulista...
IV-Município de Araçariguama, com sede no distrito de Araçariguama
e com território deste mesmo distrito, do Município de São Roque,
tendo as seguintes divisas:
a) Com o Município de Itú
b) Começa no Ribeirão Putribu de Cima, na foz do ribeirão Putribu de
Baixo desce por aquele até a foz no Rio Tietê.
c) b) Com o município de Cabreúva
d) Começa no Rio Tietê, na foz do ribeirão Putribu de Cima, sobe por
aquele até a foz do Rio Jundiuvira.
e) c) Com o município de Pirapora do Bom JesusComeça no Rio Tietê,
na foz do Rio Jundiuvira; sobe pelo Rio Tietê até a foz do ribeirão
Cavetá, sobe por este até o ponto onde finda o maciço do morro
do Voturuna.
d) Com o município de Santana de Parnaíba
f) Começa no ribeirão Cavetá, no ponto onde finda o maciço do mor-
ro do Voturuna; sobe pelo ribeirão Cavetá até o ribeirão do Paiol,
83
pelo qual sobe até sua confluência com o ribeirão Coruquara, se-
gue pelo contraforte entre estas duas águas, até encontrar com o
espigão entre os Rios Tietê e São João ou Barueri, na cabeceira
mais setentrional do córrego do Sabiá.
e) Com o município de São Roque Começa no espigão entre os Rios
Tietê e São João ou Barueri, na cabeceira mais setentrional do córrego
do Sabiá; vai daí, em reta, ao alto do morro do Itapoçu e, por nova reta
de rumo Oeste, vai até o ribeirão do Colégio, pelo qual desce até a foz
do córrego Ibaté; segue pelo contraforte da margem esquerda do cór-
rego Ibaté até o divisor entre as águas dos ribeirões Putribu de Baixo e
do Colégio; segue por este divisor em demanda na cabeceira sudorien-
tal do córrego da Grama; desce por este até sua foz no ribeirão Putribu
de Baixo, pelo qual desce até sua foz no ribeirão Putribú de Cima, onde
inicio tiveram estas divisas.

Aprovada, sancionada, promulgada e publicada no Diário Ofi-


cial (30/12/1991,p.6), a Lei que criou o município de Araçariguama (e
mais 35 outros em todo o Estado)colocava fim a um período de sub-
administração na condição de distrito de São Roque e permitia que seus
moradores pudessem marchar com suas próprias pernas a partir do
primeiro dia do ano de 1993, quando se instalaria oficialmente os pode-
res Executivo (Prefeitura) e Legislativo (Câmara Municipal) do município
que desprendia-se das amarras que lhe atingira em 1934.
No dia 03 de outubro de 1992 4.448 eleitores de Araçarigua-
ma estavam aptos para irem às urnas para elegerem seus vereadores,
prefeito e vice e assim restabelecerem os ideários do município (iniciado
com a emancipação interrompida em 1934) e através de sua auto-
administração transferir para os araçariguamenses os recursos que estes
produziam e que até então eram canalizados para a prefeitura de São
Roque.

84
Capítulo XXI

NOVAMENTE MUNICÍPIO

Com o território descrito no capítulo anterior, perfazendo


uma área de 138 Km2 e com uma população estimada em 8.000 habi-
tantes, cujo núcleo urbano representava em torno de 60% desta, o elei-
torado de Araçariguama que optara pela sua emancipação (ao contrário
de 1874 quando esta fôra obtida por meio da influência do deputado
Antonio Joaquim da Rosa- Barão de Piratininga) encontrava o direcio-
namento para escolher dentre seus próprios moradores aqueles que lhe
administrariam a partir de 1993.
A área emancipada, contando com inúmeros núcleos popula-
cionais (bairros e vilas) dentre os quais podemos citar o Santa Ella, Apo-
tribú, Moraes, Mombaça, Ibaté, Rio Acima, Colégio, Laranja Azeda, Ron-
da, Nova Esperança, Estância Imperial, Viçoso, Chácara Dora, Tanque
Velho, Vale da Benção, Bom Jardim, Butantã, Santa Rita, Roma, Paiol
Velho, Lagoa, Santa Helena, Voturuna, Ocidental, Terra Baixa, Vila Alu-
minio, Vila Nova, São Francisco, Cintra Gordinho, Jardim Nova Era, Cruz
das Almas, Vila Verde, Igavetá, Caxambú, Vale do Sino, Aparecidinha,
Paiol Esmeril, Stela e outros, com maior ou menor densidade demográ-
fica, estabeleceria a estrutura a ser administrada pelos primeiros gover-
nantes da segunda autonomia araçariguamense.
Por outro lado, o parque industrial local que contava com
empresas já solidificadas das quais podemos enumerar o Pastifício Scala,
Café Brasileiro, Tinturaria Camahji, Abrasipa, Mineradora Moraes, Mine-
radora Boa Vista, Frigorífico Irmãos Reis, Frigorífico Boa Vista, Beneficia-
dora Boa Vista, Metalúrgica Metalur, Tecne Gilardini Ltda, Indústria de
Papéis Matarazzo, Minebra S/A, Arex Química Ltda, Chemicon S/A, Mi-
neradora Morro Grande, NYS Indústria de Embalagens, Embalagens
Babadópulos, SNA Fundição, Serrarias Paineiras, Art'Banho, Metalurgica
Concórdia, Extração de Areia Vera Cruz, Extração de Areia Tanque Ve-
85
lho, Extração de Areia Dunas, Extração de Areia Cruz Preta, Termo-Troc,
Forjaria João Sass , Metalurgica Metalvic e Vic-Transmissões, entre ou-
tras, instaladas após a emancipação ou em fase de instalação.
Respaldados nestes aspectos demográfico-econômicos, os
eleitores de Araçariguama fariam sua opção entre um de três candida-
tos ao Executivo e nove dentre 82 candidatos que concorreriam ao car-
go de vereador.
O presidente da A.M.D.A, Severino Alves Filho (PMDB)em co-
ligação com PSB, PRP, PCDN, PDC e apoio do PL, apresentou-se como
candidato ao Executivo, enquanto Belarmino Alves Pinto (Belo), vice-
presidente da A.M.D.A, compôs a chapa na condição de vice-prefeito.
Disputaram também o cargo de prefeito o ex-vereador Moisés de An-
drade (PSD) e Carlos Aymar (PST).
No dia 03 de outubro de 1992, 4.054 eleitores comparece-
ram aos seus locais de votação e sufragaram o nome de seus candida-
tos, ou seja, os representantes que teriam a missão de criar a estrutura
administrativa municipal e conduzirem através de seus cargos os desti-
nos políticos, administrativos, econômicos, sociais, desportivos e cultu-
rais da municipalidade que se instalaria no primeiro dia de 1993.
Um ato digno de registro foi o posicionamento de todos con-
correntes à administração local que após encerrada a votação se reuni-
ram na Praça da Matriz e trocaram materiais de campanha (bonés e
camisetas) e de mãos dadas entoaram o hino nacional. Fazendo preva-
lecer o espírito de cordialidade que todos compreendiam ser necessário
para transformar o município de Araçariguama numa força capaz de
apagar da memória de seus habitantes a malsinada derrocada de 1934,
os candidatos gritaram em coro pelo sucesso do vencedor e do futuro
do município.
Concluídos os trabalhos de apuração dos votos, as urnas nas
quais foram depositados os anseios dos araçariguamenses indicaram o
seguinte quadro:

Eleições Municipais de 15 de novembro de 1992


86
Candidatos a prefeito Votação
Severino Alves Filho 1.681 votos
Moisés de Andrade 1.242 votos
Carlos Aymar 643 votos
Brancos 384 votos
Nulos 104 votos

Para a composição da Câmara Municipal de Araçariguama fo-


ram eleitos os seguintes vereadores:

Eleitos Partido Votação


Mauro Bonifácio * PMDB 230
Francisco Martins PSDB 188
Orlando Moraes ** PDS 124
José Aparecido Felix (Tatu) PMDB 123
Ana Ap.de Castro Marchiori PSDB 113
Osvaldo de Deus PSD 103
João Antonio da Silva(Coco) PFL 102
José Pereira de Oliveira PMDB 91
Inácio Egidio Martins PMDB 78
* Presidente da Câmara(1993-94)
** Presidente da Câmara(1995-96)

Nesta gestão em razão de afastamento dos vereadores Iná-


cio, Mauro e José Felix para assumirem secretarias na prefeitura (Obras,
Planejamento e Esportes, respectivamente), assumiram os suplentes
Alice Ap. Martins Soares, Antonio Carlos Nunes e Marcio dos Santos
Reino.
Os eleitos para os poderes Executivo e Legislativo de Araçari-
guama ao serem empossados em seus cargos receberam como missão a
estruturação da máquina governamental e a redação de uma legislação
para a organização social do município (Lei Orgânica Municipal) alicer-
çando assim as bases na qual os araçariguamenses se assentariam nos
anos seguintes.
A construção de prédios públicos e/ou aluguel de imóveis
que pudessem abrigar os diversos setores da administração pública fo-
87
ram concretizadas por meio da arrecadação dos tributos gerados no
então distrito desde a sanção da lei que criou o município, que legal-
mente, passaram a ser recolhidos em separado pela prefeitura de São
Roque. Destaca-se o fato de que inúmeros bens móveis pertencentes à
prefeitura de São Roque e que prestavam serviços em Araçariguama
foram apropriados pela nova prefeitura de Araçariguama. No dia 21 de
outubro de 1995 foi inaugurado o Palácio dos Autonomistas que abriga
a prefeitura de Araçariguama.
Após a conclusão do mandato de seus primeiros mandatários
e estabelecidos os parâmetros técnicos-legislativos para a condução de
Araçariguama, as eleições realizadas em 1986 colocando Moisés de An-
drade e Carlos Aymar que haviam postulado o cargo em 1992, como
concorrentes ao Executivo, registrou-se a vitória do primeiro que tendo
João Ferreira de Carvalho Sobrinho (João Borg) como vice, assumiram a
administração municipal no dia 1º de janeiro de 1997.
A segunda legislatura da Câmara de Araçariguama passou a
ser composta pelos vereadores:

Vereador Partido
Gilberto Brandão Fonseca * PFL
Márcio dos Santos Reino PFL
Leandro Amaro de Andrade PFL
Ana Ap.Castro Marchiori PSDB
Missias Reis da Silva PSDB
Rodrigo de Almeida Souza PSDB
Mauro Bonifácio PMDB
José Ap. Felix (Tatu) PMDB
José Donizete de Araújo PMDB
* Presidente da Câmara (1997-98)

Em 1996, Araçariguama registrou, 34 estabelecimentos in-


dustriais, 13 estabelecimentos de mineração, 132 estabelecimentos
comerciais e cerca de 200 propriedades agrícolas que em 1995 movi-
mentaram cerca de R$ 129.000.000.00.

88
A população estimada (dados de março de 1997) é de cerca
de 9.569 habitantes, servidos no município por Delegacia de Polícia,
Centro de Saúde, Agência de Correios, Serviço de Telefonia ( móvel e
celular), linhas de ônibus que ligam o município a São Roque, Itapevi,
Sorocaba, São Paulo e Itú além de serviço de transporte coletivo muni-
cipal operado por empresa concessionária, dois jornais semanários (Ci-
dade de Araçariguama e Gazeta de Araçariguama) e um posto bancário
da Nossa Caixa & Nosso Banco, recentemente inaugurado.

89
Capítulo XXII

ECOVILLE: RESIDENCIAL ECOLÓGICO

A partir de 1984, visando oferecer um modelo de urbanização


baseado no tripé, trabalho/moradia/lazer, o Grupo Cragnotti & Partners,
através da Tevere, uma das empresas do grupo, estabeleceria em terri-
tório araçariguamense o desenvolvimento da primeira “edge-city” brasi-
leira, o Ecoville.
Em sintonia com o avanço tecnológico que experimentamos
atualmente, em todos os setores da vida, onde o verde(natureza) pas-
sou a ser considerado uma necessidade e um direito fundamental do
homem, na mesma dimensão que este tem na casa, na escola, no local
de trabalho e na área de lazer, com os devidos serviços essenciais à sua
manutenção, o EcoVille é uma resposta para quem buscava um lugar
onde estas necessidades fossem atendidas.
A “edge-city”, ou “cidade de contorno”, é um empreendimen-
to planejado para oferecer aos moradores da mesma, uma nova pers-
pectiva de habitação, ou seja, uma conciliação entre a qualidade de vida
oferecida pelo campo, com as facilidades de trabalho, serviços e lazer
oferecidos pela cidade.
EcoVille foi projetado como um núcleo habitacional diferenci-
ado, voltado para atender as estruturas essenciais da vida humana, ao
mesmo tempo em que revigora os valores naturais do homem contem-
porâneo, baseado, não só na área territorial, mas em sentido social,
também nos aspectos ligados a costumes e comportamentos, o que
permite uma mudança na qualidade de vida, com todos os serviços ne-
cessários para a manutenção desta qualidade.
O EcoVille, que pode ser traduzido como “Vila Ecológica” não é
apenas um espaço funcional de instalações residenciais e de serviços,
mas como uma condição essencial para a manutenção de zonas naturais
e paisagísticas que o homem moderno busca, quando se desloca da
90
cidade para o campo, em finais de semana, ou, em férias. Em EcoVille, o
espaço ecosssistêmico é um elemento orgânico e dominante no seu
espaço “urbanizado”.
Localizado no Km 46 da rodovia Castelo Branco, ocupando
uma área de 11,2 milhões de m2, que era voltada anteriormente para
atividades de reflorestamento, o EcoVille tem no Parque Ecológico do
Morro do Voturuna ( o mesmo morro descrito por Affonso Sardinha em
1590-ver capítulo I) uma reserva florestal que além do verde oferece
uma série de opções de esporte e lazer.
Para tanto, houve a preocupação de se criar centros de espor-
tes temáticos no local, como o Tennis Center e o Equestrien Center, o
primeiro próximo ao “Lago Ventenário” e o segundo ao “Morro do Votu-
runa”, oferecendo condições para a prática do hipismo e outros espor-
tes ligados à natureza. Também neste aspecto, houve uma preocupação
com o esporte, na criação do “Communit Center”, com quadras polies-
portivas e piscinas.
Projetado pelo italiano, radicado no Brasil, Rafaelli Belassai,
que compreendendo que o verde é um bem social considerado essencial
para a obtenção de uma qualidade de vida que a cidade não oferece em
sua plenitude. Ciente de que esta qualidade de vida poderia ser traba-
lhada de forma funcional e conjugada, como uma alternativa para o
indivíduo que se sacrifica na insalubridade de uma metrópole como São
Paulo durante a semana e no fim dela quer fugir de suas proximidades,
o arquiteto Belassai transformou o ideal em realidade.
A localização de EcoVille,permite que o campo fique mais pró-
ximo da cidade, sem todavia, ser atingido pelas ações poluidoras e de-
generadoras da saúde e dos bens sociais, tão importantes para o bem-
estar dos seres humanos, que na metrópole se registra.
Do ponto de vista social, ao dispor de grandes e amplas áreas
verdes, de preservação de mananciais e de centros de lazer e serviços,
EcoVille tornou-se um modelo de construção urbana em que os mora-
dores são protagonistas de um processo sociológico com apelo ecológi-
co em todos os níveis.
91
Assim, como é característica de todas “edges-city”, Ecoville
conta com projetos voltados para a implantação de restaurantes, lo-
jas(de serviço e conveniência), capelas, bares e casas de espetáculos,
objetivando fazer com que todas as necessidades dos moradores pos-
sam ser atendidas com eficiência e sem complexidades. A destinação de
áreas específicas para cada tipo de serviço, para cada tipo de atividade
social e enfim, para todas as ações dos moradores fazem do uso do solo
em EcoVille (sintonizado com os ditames das organizações internacio-
nais) uma ocupação territorial voltada para o bem estar de todos e com
auto-suficiência em todas as esferas do dia a dia de seus moradores.
Por todas essas condições e características, EcoVille não é
apenas um empreendimento imobiliário, é, estrutura urbana que obe-
decendo sua topografia original faz dela um ambiente ecológico e cultu-
ral voltado para as necessidades do homem moderno e um núcleo habi-
tacional dotado de todas as condições exigidas pelas entidades ambien-
tais governamentais e não governamentais, do Brasil e do exterior.
Em Ecoville, o equilíbrio entre o homem e a natureza está pre-
sente em todos os pontos, desde uma usina de reciclagem do lixo pro-
duzido em seu interior, até uma interação arquitetura-natureza, que
integra as construções com os recursos naturais, sempre com acompa-
nhamento técnico e gerencial em todos os níveis e em todas etapas da
edificação.
A infra-estrutura e a tecnologia utilizada na organização paisa-
gística do EcoVille, colocando a qualidade de vida como prioridade para
seus moradores, fazem do mesmo uma alternativa conciliatória para
quem não quer se distanciar de São Paulo, ao mesmo tempo em que
pode desfrutar de todos os atrativos que a vida no campo pode ofere-
cer.
Com esta envergadura em sua organização territorial, social,
ambiental, residencial e econômica a Tevere fez com que EcoVille pas-
sasse a integrar os anais da história de Araçariguama como um registro
de extrema relevância para o estudo desta área onde se deu as primei-

92
ras notas sobre o local onde se fundaria e se desenvolveria o hoje muni-
cípio araçariguamense, o morro do Voturuna.
Ao restabelecer a importância histórica desta área onde Affon-
so Sardinha garimpara o “ouro de lavagem” em 1590, EcoVille alia os
registros documentais de uma época e de um local onde se estabelecia
a riqueza araçariguamense, nos séculos XV e XVI, com a riqueza do ho-
mem deste final de século XX e inicio do XXI, que é, a qualidade de vida
e a revalorização do seu espaço ambiental.
A “edge-city”, EcoVille, representa uma forma diferenciada de
ocupação territorial não só no município de Araçariguama, mas em toda
nossa região , nosso estado e nosso país, representando um avanço
urbanístico em busca da retomada da qualidade de vida que o desen-
volvimento industrial retirou dos moradores da metrópole paulistana,
conciliando natureza e urbanização.
Esta estrutura urbana criada por Rafaelli Belassai conduz Ara-
çariguama para uma relação social e ambiental própria do milênio que
se aproxima, onde a tecnologia e a ecologia ditam as formas de capaci-
tação do espaço, em sintonia com os interesses sócio-culturais e ambi-
entais dos seus moradores.

93
Capítulo XXIII

O VALE DA BENÇÃO

Em meados de 1981, uma missão evangélica sediada no bairro


do Ipiranga/SP (Missão Antióquia), vislumbrando uma área onde pudes-
se desenvolver um projeto de cunho religioso/social/cultural, encontra-
ria em Araçariguama o local que seu presidente (Pastor Jonathan Ferrei-
ra dos Santos) julgava necessário para tal empreendimento.
Tal local, uma área de dezoito alqueires, propriedade do Sr.
Leone Mott (situada no lado direito da rodovia Castelo Branco-sentido
São Paulo) preenchia os requisitos que o pastor objetivava para instalar
a sede da Missão e que seria destinada também para um trabalho sócio
assistencial com crianças, jovens e idosos, uma escola para formação de
pastores e outras atividades afins.
A área, negociada com os corretores-emancipacionistas, Seve-
rino Alves Filho e João Antonio da Silva (João Coco), com um grupo de
pastores e líderes evangélicos era segundo o pastor Jonathan, o dobro
do que a Missão precisava para suprir suas necessidades. Todavia, pos-
sibilitava que parte dela fosse loteada para que com o numerário desta
parte se obtivesse recursos para o pagamento da outra parte, doada à
Missão.
Assim, juntamente com o pastor Jonathan, um grupo de de-
zessete pessoas simpatizantes da Missão Antióquia, se cotizaram para
adquirir a propriedade que foi paga em dez parcelas. Através da venda
de quotas-partes do loteamento que criariam naquela propriedade e da
colaboração de membros e outras doações foram obtidos os meios para
a aquisição e pagamento da área que conta hoje com o Bairro Vale da
Benção e com a Associação Educacional Beneficente Vale da Benção
(AEBVB), na mesma propriedade que pertencera a Leone Mott, porém,
com formas diferenciadas de povoamento e estruturação social.
As referências específicas ao Vale da Benção , se fazem neces-
sárias neste livro, justamente por constituir-se numa forma diferenciada
94
de aquisição, loteamento e ocupação territorial no ainda Distrito de
Araçariguama e, sobretudo, pelo aparato constitutivo e administrativo
das atividades sociais que passaram a ser desenvolvidas no mesmo a
partir de 1982, quando o projeto do pastor Jonathan se solidificaria e
tomaria forma, com as primeiras construções no local.
As primeiras edificações no Vale da Benção começaram a ser
alicerçadas em 1982 com a construção de um Centro de Oração que
daria consistência espiritual e seria um ponto de referência para os idea-
lizadores desta comunidade evangélica que ao longo do tempo se am-
pliaria e obteria reconhecimento nacional e internacional fazendo com
que o nome de Araçariguama fosse levado para os mais distintos pontos
do Brasil e do mundo.
No decorrer dos anos, tanto a área loteada quanto aquela des-
tinada à Missão Antióquia ,seriam ocupadas e ampliadas, dando lugar a
um bairro bastante populoso no primeiro caso, e no segundo, à Casas
Lares, Seminário para formação de pastores, Acampamento, Instalações
desportivas ,e , Instalações residenciais destinadas aos frequentadores
dos cursos ali oferecidos em regime de internato.
No setor produtivo da comunidade do Vale da Benção, há uma
produção agrícola que permite que alimentos essenciais ao consumo
sejam produzidos na/e pela própria comunidade, tais como: frutas, ver-
duras, legumes, mel e leite, além da criação de peixes, frangos, carnei-
ros e outros animais, cuja produção, é voltada para o consumo interno
do Vale, o que demonstra um grau de diferenciação extremamente sig-
nificativo daquela localidade, em relação aos demais bairros araçari-
guamenses.
Cidade da Criança : Amparados numa perspectiva que entende
que trabalhar com crianças e adolescentes carentes, sob uma ótica as-
sistencial e religiosa, a fim de auxiliá-las e as encaminharem para um lar,
é uma obrigação de todos e em especial daquela Missão, o Vale da Ben-
ção atendia em 1996 cerca de 120 crianças e adolescentes. Estas, esta-
vam sendo educadas e preparadas para serem reintegradas às suas fa-
mílias ou adotadas por outras que se dispuserem a lhes oferecer um lar
95
substituto e as encaminharem para um convívio social harmônico e soli-
dário.
Esta experiência social que os membros da Missão Antióquia
haviam adquirido ao iniciarem o trabalho com crianças no bairro da
Lapa/SP, em 1986, impulsionaria a criação de um projeto mais amplo e
efetivo. A convicção de que o trabalho assistencial não pode ser apenas
um atributo dos governantes e suas instâncias destinadas para este fim,
em 1996 o pastor Jonathan anunciou o lançamento da
Pedra Fundamental de um grande projeto denominado “Cida-
de da Criança”.
O projeto “Cidade da Criança” prevê, após concluído, a cons-
trução de 30(trinta) casas a serem ocupadas por crianças e adolescen-
tes, bem como, 04(quatro) outras que serão destinadas a idosos e vo-
luntários que trabalharão com as mesmas, visando uma constituição
familiar que auxiliará na formação social e encaminhamento das mes-
mas.
Captando recursos por meio de doações e contando com o
trabalho voluntário para dar sequência aos projetos criados para o Vale
da Benção, o pastor Jonathan faz daquela comunidade, um local onde a
vida social-evangélica, sócio-comunitária e assistencial, transcenda o
espiritual, na religiosidade ou solidariedade, nos desafios e sobretudo,
nas conquistas.
Deste modo, o aspecto religioso-assistencial do Vale da Benção
foi gradativamente caracterizado. Os lotes que foram vendidos para a
aquisição total da propriedade consubstanciaram um bairro onde sua
população embora não seja ligada à comunidade Vale da Benção, bairro,
cujas atividades econômicas de subsistência capacitam a AEBVB a man-
ter sua estrutura independentemente da caracterização religiosa da
mesma, assume papel bastante relevante no quadro demográfico araça-
riguamense.
Com a construção e efetivação do projeto “Cidade da Criança”,
o Vale da Benção ampliará sua atividade assistencial que, juntamente
com uma chácara, em Sorocaba, onde são atendidos adolescentes e é
96
administrada também por pastores, esta Associação estará apta a aten-
der aproximadamente 500 crianças.
Assim, ao ultrapassar a marca dos seus quinze anos de funda-
ção, precedendo uma década da elevação de Araçariguama à condição
de Município, o Vale da Benção registra sua existência na história local,
como uma comunidade que, a despeito das peculiaridades religiosas de
sua concepção, vêm interferindo diretamente na formação social de
ampla parcela de araçariguamense e na estruturação e conscientização
sócio-religiosa-assistencial dos membros da comunidade.
De acordo com o pastor Jonathan, em depoimento a este au-
tor, o projeto de atividades do Vale da Benção prevê ainda a construção
de um posto de combustíveis, lojas de serviço e conveniências e outras
atividades do setor terciário de nossa economia, cujos resultados, serão
revertidos para a manutenção e ampliação das atividades ali desenvol-
vidas.
A importância do Vale da Benção para a história de Araçari-
guama é proporcional ao que este representa espiritualmente para os
membros daquela comunidade e que registra a presença evangélica
neste município que embora originário de ações ligadas à igreja católica,
corporificou uma estratificação no seu legado religioso e cultural, carac-
terizando-se hoje por uma convivência entre denominações evangélicas
e devoção aos princípios do catolicismo que é historicamente e sociolo-
gicamente uma das pedras basilares da formação sócio-cultural dos
araçariguamenses e que vem perpassando ao longo dos anos, desde sua
fundação.

97
Capítulo XXIV

O ESPAÇO HIDRO-AMBIENTAL

O espaço hídrico e ambiental araçariguamense, diretamente


ligado às sua formação geológica assume um aspecto extremamente
importante para a organização de sua estrutura econômica e ambiental.
O rio Tietê, próximo do qual destacam-se principalmente os
núcleos habitacionais do Tanque Velho e Santa Ella, com maiores con-
tingentes demográficos, e, com o qual Araçariguama divisa-se com Itú,
Cabreúva e em seu espigão, com São Roque, se não ofereceu para este
povoado, no período de sua formação, a mesma importância que trans-
feriu a localidades vizinhas como Barueri, Santana do Parnaíba, Itú e
Porto Feliz, dentre outras, pelas expedições bandeirantes através do
mesmo, foi e é sem dúvida um elemento natural de extrema relevâncias
para a diversificação da fauna e da flora local.
O Tietê, ou, o outrora Anhembi, que percorre em sua extensão
(toda ela no estado de São Paulo)cerca de 1120 quilômetros e banha
alguns dos principais municípios da região metropolitana de São Paulo e
do interior oeste paulista, em seu sinuoso traçado, passa por Araçari-
guama em condições consideradas impróprias para a navegação(devido
ao leito granítico que encontra nesta área).
Este leito granítico no trecho araçariguamense do Tietê ofere-
ce ao município inúmeras cachoeiras e corredeiras, dentre as quais, a
mais conhecida na cidade é a denominada “Laranja Azeda”.
A navegação pelo Tietê, sendo praticamente nula e, no passa-
do, sem muita importância para o desenvolvimento de Araçariguama já
que os antigos viajantes e bandeirantes receavam atravessar suas cor-
redeiras e os que o faziam tinham que desembarcar e transportar seus
carros pelas matas, fez com que, por outro lado, registrasse pela interfe-
rência do mesmo, soberbos arvoredos (angicos, paineiras, seringueiras)
e muitas espécies de vegetação frutífera (amoreiras, araças, morangos

98
silvestres)e vários tipos de peixes no interior dele, como o pacú, o pira-
canjuba, o tabarana, a traíra, o bagre e o cascudo).
Serpenteada pelo Tietê e constituída em grandes extensões
por Mata Atlântica, Araçariguama registra em seu território uma fauna
vastíssima, que num passado, até recente, apresentava várias espécimes
de capivaras, veados, pacas, catitus, tatus e jaguatiricas além de aves
como a seriema, a perdiz, o araçari (que empresta seu nome à cidade) e
o sanhaço de encontro amarelo, entre outros, que foram sendo reduzi-
dos ao longo do tempo, principalmente devido à exploração do carvão
vegetal e a substituição de grandes faixas de matas nativas por planta-
ções de eucaliptos.
Neste sentido, também a flora araçariguamense foi atingida
significativamente, inicialmente pelas atividades agrícolas, depois pela
exploração mineralógica e posteriormente em função da ocupação terri-
torial devido à rápida urbanização do município, que, atingiu a cidade
em todos os seus quadrantes, eliminando-se por conseguinte várias
espécies de paineiras, angicos e seringueiras, só para citar os arvoredos
que predominavam na cidade.
A faixa territorial araçariguamense que circunda e acompanha
a sinuosidade do rio Tietê, bem como o trecho de Mata Atlântica que
pertence ao município e é considerada área de preservação ambiental
(Constituição do Estado de São Paulo, artigo 190) são, na justa medida,
os espaços hidro-ambientais do município que formam o seu complexo
ecológico e em caráter mais específico, somados aos morros do Ibaté,
Saboó e Voturuna, constituem o pulmão biológico da região formada
por Santana do Parnaíba, Cabreúva, Itú, São Roque , Pirapora do Bom
Jesus e Araçariguama.
Ao oferecer aos municípios banhados pelo Tietê, situados adi-
ante do nosso, uma água purificada e oxigenada pelas nossas cachoeiras
e corredeiras, Araçariguama assume um papel de grande importância
para a preservação e revitalização do “velho Anhembi” que após ganhar
importância histórica na colonização e expansão territorial paulista foi
amplamente degenerado pelo crescimento do demográfico e industrial
99
dos municípios metropolitanos por onde passa, até chegar em nosso
território e dele sair menos problemático.
Juntamente com os ribeirões Potribú, Cavetá, Paiol, Coruru-
quara, Araçariguama, Colégio e Santo Antonio, os córregos Ibaté, do
Sabiá e da Grama e os rios Jundiuvira e São João, que banham ou cor-
tam o município em seus diversos pontos, o rio Tietê integra a bacia
hidrográfica araçariguamense e coloca o município no mapa hidrográfi-
co e morfológico de São Paulo.
No aspecto topográfico e hidrográfico, caracterizados por uma
formação tectônica quartzítica que acentuam os declives das serras e
morros locais, como o Voturuna(dotado geologicamente de jazidas de
minério de ferro, ouro, prata, quartzito, calcário e xisto) há uma intensi-
ficação de níveis de anfibólitos que formam blocos lacustres e geram as
corredeiras e cachoeiras do Tietê, explicando assim a elevação da estru-
tura cristalina do seu leito.
Segundo os professores Valdemar Lefévre e Lester King que
estudaram profundamente a formação geomorfológica das áreas cir-
cundadas pelo rio Tietê, as barragens naturais que formam as cachoei-
ras existentes em Araçariguama, muito mais que um espetáculo natural
de rara beleza, funcionam como purificadores biológicos da poluição
que o Tietê recebe desde sua nascente em Salesópolis até chegar às
proximidades da Usina do Rasgão e de Araçariguama.
A topografia de Araçariguama, cuja área originária da povoa-
ção foi encravada em um vale, apresenta desde os primórdios do povo-
ado, um obstáculo constante às vias de comunicação. Os problemas do
relevo que dificultaria inicialmente a penetração dos bandeirantes e
outras correntes de povoamento em nosso território, não obstruiria
porém os mineradores que, compensando o desgaste do solo agrícola
em meados deste século, introduziram nesta região a exploração de
calcário que aparece na estrutura cristalina do solo local, em quase todo
o município.
Impelido pelo relevo acidentado, cujas partes mais baixas ele-
vam-se a mais de 60 metros do nível do Tietê, com suas rochas memór-
100
ficas sedimentadas, como no cimo do Voturuna, o conjunto de serras e
montanhas de Araçariguama constituem uma topografia muito repre-
sentativa para a geologia, para a ecologia e para a mineralogia, consubs-
tanciada pela riqueza e diversificação do solo, que vai do calcáreo aos
metais nobres, evidenciando nos afloramentos de rochas o seu papel
escultural / natural em nossas áreas mais elevadas.
Estas características hidro-ambientais araçariguamense real-
çam sua temperatura média de 19C, sua umidade relativa do ar de 77
HR% e precipitações pluviométricas médias de 1300/1600 mm/ano.
No que se refere especificamente à nossa fauna e flora, estas
passaram a ser recuperadas de forma indireta, e , gradativa, com a divi-
são das grandes propriedades em sítios de lazer e áreas de camping, que
limitaram a ação de caçadores e extração de carvão e no momento
permitem uma retomada na reprodução dos animais componentes de
nossa fauna e um recrudescimento de nossa flora, principalmente pelo
processo de arborização dos sítios e propriedades afins.
Temos desta forma, um constituição hidrográfica, topográfica
e ecossistêmica no território municipal que a coloca dentre os municí-
pios privilegiados pela natureza no estado de São Paulo, tornando – o
um espaço permanente de preservação dos seus recursos naturais.

101
CONCLUSÕES

Ao longo dos capítulos e das páginas percorridas até este


ponto, buscamos traduzir através de bases documentares e de história
oral (depoimentos) um quadro sinóptico da origem, evolução e os des-
dobramentos que consubstanciaram o hoje município de Araçariguama,
sintetizando nestas páginas uma visão macro dos 344 anos da história
de Araçariguama.
No decorrer destes capítulos constituídos por informações
pinçadas de diversos documentos dispersos em diversos arquivos, bus-
camos apresentar os principais acontecimentos demográficos, econômi-
cos, políticos, sociais e culturais que interferiram na formação e estrutu-
ração do município que ora conhecemos.
Sempre cônscios de que tratamos dos "principais aconteci-
mentos" e não de detalhes mais específicos, temos a medida exata des-
tes detalhes que poderiam ser incorporados, mas que por circunstâncias
alheias à nossa vontade não puderam ser descritos ou narrados neste
trabalho.
Certos de que para este trabalho introdutório não dispuse-
mos de mecanismos mais abrangentes para fazer com que o mesmo
comportasse detalhes e especificações dos eventos e acontecimentos
que constituíram estes capítulos, cremos ter cumprido o papel a que nos
propusemos, qual seja, tornar o passado histórico de Araçariguama mais
próximo do presente e mais acessível ao conhecimento de seus milhares
de moradores.
Assim, ao estabelecermos as fases históricas que nortearam
a vida de Araçariguama em cortes temporais e espaciais, de cunho ad-
ministrativo (religioso e político-exatamente nesta ordem, como no
quadro a seguir) buscamos retratar seus aspectos demográficos,
econômicos, sociais e culturais, para que compreendendo sua evolução
histórica os eleitores possam organizar seus juízos de valor, algo que
buscamos nos restringir de fazer.
102
Fases Históricas de Araçariguama
1640- 1653 - Período de ocupação territorial - Fazendas
1653- 1674 - Período de administração religiosa – Paróquia
1874-1934- Período de administração autonôma- Vila
1934 -1992 - Período de reestruturação econômica- Distrito
1993 - ... - Reconquista da autonomia -Município

Visualizando os cortes temporais apresentados podemos


construir parâmetros analíticos acerca da evolução histórica araçari-
guamense, destacando-se as passagens e alterações na sua estrutura
econômica e demográfica, balisadas nas categorias administrativas que
a mesma experimentou desde sua origem até os dias atuais.
Desta forma, temos um período de efetiva ocupação territo-
rial quando a formação das fazendas na área circunvizinha ao morro do
Voturuna caracterizam um momento de riquezas de personagens que
adentrariam não só a história local, como a regional e nacional na con-
dição de detentores de grandes fortunas e de maneiras peculiares de
utilização e ampliação das mesmas, destacando-se entre estes, Gonçalo
Bicudo Chassim (Capela de Nossa Senhora da Penha), capitão Guilherme
Pompeu de Almeida (Capela de Nossa Senhora da Conceição do Ivutu-
runa), Francisco Rodrigues Penteado( Capela de Nossa Senhora da Pie-
dade), Fernão Dias de Barros (Capela de Santo Antonio), Pedro Vaz de
Barros (Capela de São Roque) padre Guilherme Pompeu de Almeida
(Capela de Nossa Senhora da Conceição de Araçariguama) como os mais
importantes dos três primeiros períodos.
Há que se ressaltar neste capítulo conclusivo, que durante os
anos de 1640 e 1832, todo o território que se estendia de Araçariguama
a São Roque pertencia a então Vila de Santana de Parnaíba e portanto
compreendiam uma mesma administração. Em 1768 São Roque tornou-
se freguesia e só em 1832 seria elevada a Vila.
A divisão administrativa que vigorou no Brasil até os anos ini-
ciais da instauração da República obedecia a seguinte hierarquia:
103
Comarca
Administração Política (9 vereadores) e um Juiz de Direito
Cidade
Administração Política (9 vereadores) e um Juiz municipal
Vila
Administração Política (7 vereadores) e um Juiz de Paz
Freguesia
Um Juiz de Paz
Paróquia
Administração eclesiástica ( um padre fixo)
Capela
Administração leiga vinculada a uma paróquia

Como não existia Registro Civil de nascimentos, óbitos e casa-


mentos, os registros eram feitos pela igreja que como religião oficial
tinha seus padres com funções equiparadas a de funcionários públicos,
recebendo salários do Tesouro Nacional para a realização destas fun-
ções.
O segundo período do qual nos ocupamos e que consideramos
como sendo o de organização social de Araçariguama retratou o proces-
so de miscigenação resultante da liberdade de índios e negros que habi-
tavam as fazendas na condição de escravos e que se estabeleceram nas
proximidades das mesmas após a morte de seus "donos".
Esta fase que marca a transferência da freguesia de Araçari-
guama da administração de Santana de Parnaíba para a administração
de São Roque caracterizou-se por um processo de diversificação eco-
nômica com a inclusão de novas atividades profissionais dentre os mo-
radores locais, como tropeiros, ferreiros, jornaleiros (diaristas) e arren-
datários.
A organização social que se estabelece neste período e que é
impulsionada pelas grandes produções de cereais que demandavam um
incremento populacional na freguesia permitiu que num curto espaço
104
de três décadas, Araçariguama fosse elevada a condição de Vila e por tal
elevação agraciada com a autonomia que lhe possibilitou eleger e insta-
lar o seu próprio corpo administrativo, ou seja, sua Câmara de vereado-
res.
Partindo do pressuposto de que relembrar o passado é uma
forma de nos esclarecermos acerca do que está acontecendo no presen-
te para que no futuro não venhamos a cometer os mesmos erros, ou
mesmo, não cometermos erros que outros já cometeram, ou ainda,
errarmos de forma diferente, não por ignorância, mas sim pela busca de
novas experiências administrativas, sociais, políticas, econômicas e cul-
turais, entendemos que compreender o período que vai de 1874 a 1934
é um aprendizado histórico e sociológico que deveria nortear a atuação
de todos administradores que ocuparam, ocupam ou venham a ocupar
cargos públicos neste município.
A fase de autonomia político-administrativa iniciada com a ins-
talação da Câmara da Vila de Araçariguama no dia 07 de dezembro de
1874, considerada complexa e paradoxal, ilustra um período onde a
riqueza oriunda das grandes produções agrícolas num primeiro momen-
to e nos anos áureos da exploração de ouro no momento seguinte cul-
minariam em uma situação de decadência econômica nos cofres públi-
cos e na redução do município à condição de distrito.
Na conjuntura presente neste período onde as produções de
algodão, batata inglesa, milho e feijão estiveram entre as maiores regis-
tradas pela Comissão de Estatística do Governo de São Paulo e no qual
a empresa mineradora Saint George Gold Mine registrou grandes explo-
rações de ouro e prata no território araçariguamense, a política-
econômica local carece ainda de estudos mais abrangentes e específi-
cos.
A situação decorrente de ser a classe econômica local a mesma
a administrar o município e, por conseguinte a mesma a compor seu
quadro de contribuintes apontam que embora Araçariguama houvesse
sido prejudicada por ficar distanciada das principais vias de comunica-
ção entre a região e os centros mais desenvolvidos da época, a sua pro-
105
dução lhe permitiria o cumprimento das obrigações assumidas pela
prefeitura local, todavia, o que revelou-se foi um quadro onde o ouro
era contrabandeado e os grandes produtores não saldavam seus tribu-
tos tornando o município inexequível economicamente.
Em razão de fenômenos políticos-administrativos desta natu-
reza compreendemos que a história do município, como fator de desen-
volvimento social e cidadania torna-se cada dia mais necessária. Torna-
se cada vez mais imperativo que haja uma participação coletiva na fisca-
lização dos atos de nossos representantes para que desta participação
surja os mecanismos capazes de explicitarmos situações que nos apre-
sentam contraditórias e cujas definições tornam-se prejudiciais a toda
uma coletividade, tal qual ocorreu no período em questão.
A fase de reestruturação econômica e demográfica de Araçari-
guama que perdurou de 1934 a 1992, quando os moradores locais bus-
caram exorcizar o estigma do fracasso econômico do período de maio-
res produções agrícolas e minerais, portanto de maiores riquezas produ-
zidas no município foi tão longa quanto aquela que manteve-se com
administração autônoma.
As décadas iniciais da perda da autonomia caracterizaram-se
por constantes quedas econômicas e demográficas sendo que em dados
momentos a população local chegou a atingir índices verificados em
meados do século XIX.A substituição de produções(produtos agrícolas
por extração de areia e eucaliptos)como forma de restabelecimento do
quadro econômico de décadas passadas só tornou-se bem sucedida a
partir de meados da década de sessenta quando em função da constru-
ção da rodovia Castelo Branco Araçariguama viu-se integrada aos gran-
des centros comerciais de São Paulo.
Ao deixar o isolamento a que fora submetida pelas diversas
formas de vias de transportes e atividades econômicas ligadas a elas
(tropeira, ferroviária e rodoviária) Araçariguama que contava ao inaugu-
rar-se a Castelo Branco, uma população de 2.700 habitantes(igual a de
1897- 2.701) rapidamente se repovoaria e alcançaria condições capazes
de lhe restituir a emancipação.
106
As transformações de cunho econômico e social nas décadas
de 1970 e 1980 interferiu diretamente no comportamento político-
eleitoral do distrito que obtendo significativa representação na adminis-
tração sanroquense alicerçou as bases para o desenvolvimento que ora
experimenta e cujas portas se abrem para que ele seja cada dia mais
sólido e abrangente.
Por tudo o que foi descrito e narrado nas páginas que compu-
seram este livro, compreendemos que a tarefa atual dos araçarigua-
menses estará balisada no sentido de preservação de seu patrimônio
histórico, cujo trabalho não deverá se restringir apenas aos historiado-
res, aos professores de história, aos arquivistas, aos museólogos e en-
fim, aos especialistas, mas compete a todos que fazem parte dela e por-
tanto são sujeitos da história que produzem cotidianamente.
Assim, podemos afirmar com plena convicção que estimular o
aprendizado e o conhecimento histórico é estimular as novas gerações a
conquistarem a cidadania a partir do conhecimento assimilado e trans-
mitido por seus antepassados porque a história muito mais que a pre-
servação de bens móveis e imóveis é o fruto da produção cultural de um
povo e da vivência comunitária de cada uma das gerações que a antece-
deram, logo é fruto da ação cultural de todos e, de cada um.
Como fator de desenvolvimento social que resulta em desen-
volvimento econômico e cultural, a história do município torna-se tão
importante quanto necessária, principalmente quando a relacionamos
com nossas atividade cotidianas.
Neste aspecto, quanto mais assimilamos o que vimos e conhe-
cemos ontem (passado) melhores preparados estaremos para condu-
zirmos nossas atividades (presente) e organizarmos nossos projetos
(futuro), logo, a história está tão próxima do nosso dia a dia que nos
afastarmos dela significa nos afastarmos de nossas próprias expectativas
e objetivos de desenvolvimento.

107
VOCABULÁRIO BÁSICO

Ao longo dos capítulos que compuseram este livro fizemos


referências a alguns predicamentos administrativos cuja terminologia e
significado foram alterados ao longo dos anos, transformando-lhes o
grau de importância e de conotação, mas que, com raras exceções ainda
estão presentes em nosso cotidianos registrando outra significação.
Para que o leitor não seja levado a confundir-se com termos
que são do seu dia a dia mas que tinham outra significação com as quais
não estão familiarizados e para que a leitura seja dirigida sem sobressal-
tos apresentamos abaixo algumas definições destes termos que utiliza-
mos com maior frequência ao longo das páginas componentes deste
livro.
Paróquia - Território com agrupamento populacional que
possui a jurisdição espiritual ligada a um padre (pároco) estabelecido na
mesma. Divisão territorial de uma diocese, nos séculos XVI e XVII era o
reconhecimento oficial da existência de um núcleo populacional.
Povoado - Núcleo populacional composto por mais de 30 fa-
mílias estabelecidas em território não pertencente a um único proprie-
tário e que se juntem a um ou mais estabelecimentos comerciais, cape-
la, igreja e etc. que dêem ao mesmo uma noção de independência em
relação à sede administrativa a que pertença.
Freguesia - Unidade territorial ligada a outra por meio de au-
toridades administrativas, políticas e eclesiásticas e de um juiz de paz
(cidadão sem formação jurídica) . Sinônimo religioso de povoado, ou,
conjunto de membros de uma paróquia. Até 1854 era quesito necessá-
rio para elevação à Vila.
Vila - Sede distrital. Localidade com o mesmo nome do distri-
to a que pertence e onde se sediava a autoridade distrital. Até o final do
século XIX era sinônimo de município. Categoria administrativa que dava
autonomia para os moradores elegerem vereadores para governá-los
em questões políticas, econômicas e judiciárias.
108
Em 1860 haviam 64 vilas no estado de São Paulo sendo que as
mais próximas de Araçariguama eram; São Paulo(25/01/1554), Santana
de Parnaíba (14/11/1625), Jundiaí (14/12/1655), Itú (18/04/1657), Soro-
caba (03/03/1661), São Roque(10/07/ 1832), Santo Amaro(10/07/1832),
Cotia(02/04/1856) e Cabreúva(24/03/1859)
Cidade - Sede de Vila. Núcleo de concentração populacional
não agrícola e onde ficavam estabelecidos os órgãos administrativos de
um município. Sede de município independente do número de habitan-
tes no mesmo. A diferença entre Vila e cidade à época era que esta con-
tava com um juiz de direito com formação e sua Câmara de vereadores
era acrescida de mais dois cargos passando a ser composta por nove
membros
Distrito - Divisão administrativa de um município que compre-
ende mais de um agrupamento populacional (bairro) independente de
serem estes urbanos ou rurais. Ainda hoje requisito necessário para
elevação à categoria de município.
Município - Território com administração independente e que
tem seu governo constituído pelos poderes correspondentes, porém,
submissos às Constituições federal e do Estado, sobre as quais suas leis
não podem se sobrepor. Diferencia-se das antigas vilas, porque nestas
inexistiam o poder Executivo e os vereadores acumulavam as funções
do mesmo através do presidente da Câmara.
Os termos distrito e município passaram a ser utilizados em
maior escala em substituição aos de freguesia e vila, sobretudo a partir
da instauração da República e após a primeira década do século XX.
Bairros - Pequeno povoado, caracterizado pelo agrupamento
de pelo menos dez residências, pertencentes a diferentes donos.
Localidade - É todo local onde existe um aglomerado perma-
nente de habitantes desde que possua um nome pelo qual seja conheci-
do.
Propriedade rural - Localidade que não tem a categoria de se-
de de circunscrição administrativa e onde se manifesta exclusivamente
o domínio privado.
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Fazendas - Propriedades agrícolas que pela extensão territori-
al, pelo número de casas e por outras características independem das
atividades realizadas na sede do município.

SUMÁRIO

Introdução ...................................................................................
Capítulo I
Do Ibituruna à Araçariguama.....................................................
Capítulo II
Das fazendas e capelas à paróquia...............................................
Capítulo III
Índios em Araçariguama.............................................................
Capítulo IV
A família Pompeu de Almeida....................................................
Capítulo V
Uma nova estruturação social....................................................
Capítulo VI
Revalorização das fazendas.......................................................
Capítulo VII
Da paróquia a freguesia e vila....................................................
Capítulo VIII
Primeiros governantes...................................................................
Capítulo IX
Uma vila à margem dos trilhos urbanos.......................................
Capítulo X
Primeiros anos de vila......................................................................
Capítulo XI
Décadas de opulência.......................................................................
Capítulo XII
A corrida do ouro e a decadência....................................................
Capítulo XIII

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O município perde a autonomia ................................................
Capítulo XIV
Novamente distrito ..................................................................
Capítulo XV
A década do III Centenário ........................................................
Capítulo XVI
Os anos sessenta .......................................................................
Capítulo XVII
A Castelo Branco e a retomada econômico-demográfica................
Capítulo XVIII
A alvorada dos anos 1980 .................................................................
Capítulo XIX
A caminho da emancipação .......................................................
Capítulo XX
A A.M.D.A e o sentimento emancipacionista..............................
Capítulo XXI
Novamente município ...............................................................
Capítulo XXII
Ecoville ..................................................................................
Capítulo XXIII
O Vale da Benção ....................................................................
Capítulo XXIV
O Espaço-Hidroambiental .........................................................
Conclusões ...............................................................................
Vocabulário básico ..................................................................

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