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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA &

IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE


O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

Trajetória contraditória ou sujeito em transformação:


A ilusão biográfica em Araújo (1963-2002)

Uílder do Espírito Santo Celestino1

Resumo

O presente artigo considera passagens da vida e produção de Acrísio Torres


Araújo a partir de sua inserção na sociedade sergipana enquanto intelectual, homem
público e formador de opinião. Procurou-se situar o conjunto de seus livros e artigos,
juntamente com a revisão da bibliografia interessada em sua produção. A apresentação
dos trabalhos contribuiu com o objetivo de identificar sua trajetória intelectual em
Sergipe. Observa-se o caráter diverso da produção, abrigando livros didáticos,
memórias históricas, biografias, um dicionário de literatura e uma obra historiográfica.
Considera-se também a existência de publicações nos jornais de Aracaju. A pesquisa
contou com o levantamento dos artigos publicados pelo autor na Gazeta de Sergipe
durante os anos de 1970 a 2002, disponíveis nos acervos do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe e da hemeroteca da Biblioteca Pública Epiphânio Dória. A
reflexão sobre sua trajetória pauta-se na percepção de um sujeito contraditório ou em
transformação, permitindo, conforme apontamentos de Pierre Bourdieu (1996), a uma
narrativa em fuga da tendência comum de uma biografia oficial.

Palavras-Chave: Acrísio Torres Araújo; sujeito; trajetória.

Chegada a Sergipe e Produção

“Essa propensão a tornar-se o ideólogo de sua própria


vida, selecionando, em função de urna intenção global, certos
acontecimentos significativos e estabelecendo entre eles

1
Mestre em Sociologia, especialista em História Cultural. E-mail: uilder.celestino@gmail.com
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conexões para lhes dar coerência, como as que implica a sua


instituição como causas ou, com mais freqüência, como fins,
conta com a cumplicidade natural do biógrafo, que, a começar
por suas disposições de profissional da interpretação, só pode
ser levado a aceitar essa criação artificial de sentido.”
Pierre Bourdieu (1996:168)

Possuía 32 anos de idade quando, acompanhado do irmão que era engenheiro


civil2, Acrísio Torres Araújo chegou à capital sergipana. Diplomado em Direito e
Filosofia no ano de 1955, pela Universidade do Ceará, este cearense de Crateús,
município que faz divisa com o Piauí, exerceu por dois anos a advocacia, depois
ingressando também no Magistério. Antes de chegar a Sergipe, tem-se notícia dos
primeiros trabalhos do autor: “A primeira obra publicada pelo professor Acrísio foi um
trabalho sobre ‘Pio IX e a questão religiosa no Brasil’.” 3 Logo em seguida, em 1960,
escreveu uma tese para a cátedra de História do Brasil do Colégio Estadual do Piauí,
intitulada: Napoleão e a Independência do Brasil. “Tinha quatro candidatos e o
concurso foi cancelado.” 4
Publicou ainda vários trabalhos sobre o teatro infantil e de
outros assuntos, inclusive um livro de poesias.

Passados três anos da tentativa do Magistério no Piauí, encontrava-se em


Aracaju, com sua mulher e seis filhos. Não pretendia ficar quatorze anos na capital
sergipana (1963-1977). Seu desejo era chegar a Curitiba num Jipe. Ficou na cidade

2
Cf. ALVES, João Oliva. Os arquivos de Acrísio Torres. In: Gazeta de Sergipe, 22 de julho de 1999.
3
JESUS, Antônio Francisco de. In: A Cruzada, 19 de fevereiro de 1966.
4
SANTOS, Vera Maria dos. In: A geografia e os seus livros didáticos sobre Sergipe: do século XIX ao
século XX. São Cristóvão, SE, 2004. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de
Sergipe, UFS. p. 100.
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tempo suficiente de ter seu último filho, mantendo-se nos primeiros anos graças às
aulas, realizadas desde o ano seguinte a 1963.5

Ensinou no Colégio Tobias Barreto (1966) e na Escola Normal (1969). Estudou


sobre a história de Sergipe, ganhou espaço nos jornais do Estado, produziu livros de
várias espécies. O declarado desejo de residir em Curitiba jamais seria concretizado.
Absorvido em meio a sociedade sergipana, apenas deixou-a por algum motivo
suficientemente forte, dada a relação que estabeleceu com o menor Estado
geograficamente da nação. Somente em 1978 tornou-se professor da Universidade de
Brasília, aposentando-se em 2002.6

Na Capital Federal, passa os últimos momentos de sua vida, mas continua ligado
à vida intelectual sergipana. Prova disso está no diálogo que ele mantém com o Estado,
através dos jornais e pela publicação de livros. Em 1999, veio a Aracaju especialmente
para lançar a obra Pó dos Arquivos. Posteriormente, o Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe abriu-lhe as portas para o lançamento do livro Toga a Crime. Sua produção,
portanto, atravessa o tempo em que ele residiu em Sergipe, de modo que é coerente sua
afirmação: “Estou ligado a Sergipe pela teoria literária de J. Osório de Oliveira, de que
o berço de um autor é a terra que serviu de cenário às suas obras.” 7

Participou ativamente da vida intelectual sergipana. Além de sua presença nos


jornais e nos livros didáticos, fez biografias, estudou e publicou sobre a história de
Sergipe. A Pequena História de Sergipe8 foi sua primeira obra publicada em Sergipe,
em março de 1966, sendo idealizada, segundo o autor, a partir de uma motivação

5
ARAÚJO, Acrísio Torres. Silva Xavier (6). In: Gazeta de Sergipe, 23 de julho de 2002.
6
Cf. SANTOS, Vera Maria dos. op. cit., p. 101-22.
7
ARAÚJO, Acrísio Torres. Obrigado Sr. Governador. In: Gazeta de Sergipe. 14 de outubro de 1992.
8
ARAÚJO, Acrísio Torres. Pequena História de Sergipe. Aracaju, 1966.
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especial: chegado às terras sergipanas em outubro de 1963 e encantado com o


imponente edifício, n. 41, da Rua Itabaianhinha, declarou que, no mês seguinte,
percebera o problema da incompletude da história de Sergipe ao observar o trabalho de
Felisbelo Freire.9

Em entrevista ao Jornal A Cruzada completou: a obra realizada “[...]


representava sua grande aspiração desde quando chegou a Sergipe.”10 O resultado foi
uma síntese da história de Sergipe compreendida da carta de doação de 26 de agosto de
1534, feita por D. João III a Francisco Pereira Coutinho, até o governo de Sebastião
Celso de Carvalho. Nesta síntese, foram utilizadas como fontes, diversas publicações
(de História do Brasil e de Sergipe, dicionários bio-bibliográficos, publicações da
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe) e “[...] documentos autênticos
tais como cartas-régias, decretos, leis, relatórios, mensagens e jornais da época
estudada.”11

Enquanto produção historiográfica, o trabalho recebeu as críticas encontradas


nos Cadernos da UFS12, onde o professor José Silvério Leite Fontes informou que à
época daquela publicação faltavam livros nas livrarias sobre a história de Sergipe, e que
pouco se utilizava o acervo do IHGS. A obra teria contribuído apenas para o retorno da
discussão do tema da história de Sergipe. Outra crítica de Silvério Fontes se observa
cerca de quatro anos depois, num discurso mais arrojado sobre a obra de Acrísio Torres
Araújo: agora se percebia nela um grande retrocesso em relação a Felisbelo Freire.
Mérito novamente apenas o de falar sobre a história de Sergipe, naquela época

9
Cf. ARAÚJO, Acrísio Torres. O Secretário de Guilherme Campos. Aracaju: Regina, 1968. p. 14
10
JESUS, Antônio Francisco de. In: A Cruzada, 19 de fevereiro de 1966.
11
SANT’ANNA, Virgínio de. Prefácio. In: Pequena História de Sergipe. Aracaju, 1966.
12
FONTES, José Silvério Leite, 1972, p. 4-12.
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esquecida, despertando os estudiosos de Sergipe para a sua história, que dava novas
mostras de carência.13

O noticiário do dia 7 de Março de 1966 do Diário Oficial registrou a visita


realizada por Acrísio Torres Araújo ao então Governador Sebastião Celso de Carvalho,
e a oferta de sua obra, a Pequena História de Sergipe, ao chefe do Estado. No dia
seguinte, o Diário de Aracaju mencionou as instituições de ensino que adotaram aquela
obra. Todas as atenções destacadas pelos noticiários dos jornais de Sergipe, que
antecederam ao lançamento do livro, confirmaram-se após sua publicação, projetando
Acrísio Torres Araújo no cenário dos intelectuais sergipanos. Conseguia o professor
despertar a atenção de órgãos de comunicação, da área de ensino escolar e da
Autoridade Governamental. Posteriormente, o alvo do professor ficaria relacionado à
situação de carência de livros didáticos para o ensino primário, no qual se encontrava o
ensino de Sergipe, para tal investindo-se agora deliberadamente nesta categoria de
produção.

As obras mais editadas de Acrísio Torres Araújo orientaram-se inevitavelmente


para o ramo dos didáticos. José Calazans, novamente na sua Introdução ao Estudo da
Historiografia Sergipana, dedicou breve passagem, a respeito deste autor no contexto
dos livros didáticos, onde é citada a obra História de Sergipe 3º ano Primário, que
substituiu, no ensino primário, o Meu Sergipe, de Elias Montalvão, que ganhara, em
outubro de 1914, aprovação para ser usado nas escolas primárias por uma Comissão,

13
Cf. Id., 1976, p. 7-14.
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chamada de Congregação da Escola Normal, porque era sintético e acessível, além de


outras qualidades que lhe foram atribuídas. 14

Após o Meu Sergipe, nada havia sido publicado para servir de didático às
escolas primárias. Tratava-se de uma lacuna que, conforme Calazans, Acrísio Torres
Araújo tomou a incumbência de preencher. Assim, em novembro de 1966, outros livros
seriam recomendados para uso no ensino primário, mas agora pelo Conselho Estadual
de Educação, um deles a História de Sergipe 3º ano Primário, que, tal como opinou
aquele Conselho, tornou-se um subsídio para o professor e um guia para o estudante,
15
durante o tempo em que foi utilizada. No ano seguinte ao parecer do Conselho
Estadual de Educação, publicava-se a segunda edição deste livro didático. Em 1970 e
1974, observa-se sua terceira e quarta edição, sendo que tais publicações indicam
naturalmente a forma de como o livro foi largamente utilizado no curso a que se
destinava. Também segundo Calazans, a partir da ampliação deste livro fora realizado
um outro, o História de Sergipe para o Curso Normal (1970).

O evento que cristalizou a opção pelo ramo dos didáticos foi certamente a
recomendação do Conselho Estadual de Educação para a utilização dos dois primeiros
livros didáticos de ensino primário de Acrísio Torres Araújo. A experiência dos
didáticos se revelaria promissora: por um aspecto, havia a repercussão da Pequena
História de Sergipe que, mesmo não sendo deliberadamente um livro didático, ainda
assim subsidiou as várias esferas de ensino anteriores ao ensino superior. A obra
também projetou seu autor no cenário dos intelectuais sergipanos. Noutro aspecto, havia

14
PARECER. In: MONTALVÃO, Elias. Meu Sergipe. Aracaju: Typografia, 1916. p. 9. (Aprovado por
unanimidade em sessão ordinária de 1º de outubro de 1914 e assinado por todos os Membros da
Congregação)
15
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. Parecer nº 18/66. Proc. 24/66 Aprovado em 09 de
novembro de1966.
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a inexistência de livros didáticos nas escolas, ou seja, havia um público disponível


desde que houvesse produção.

A experiência no ramo dos didáticos transbordou do ambiente da História de


Sergipe, para também ganhar espaço na Geografia e na Literatura sergipanas, áreas
então carentes de produção didática. Em entrevista concedida à professora Vera Maria
dos Santos, Araújo comentou que “[...] nem ele mesmo sabe o que já escreveu.” 16
Não
obstante, seus os livros juntaram-se numa cadeia de produção, estando todos eles
interrelacionados, sendo quase invariavelmente um livro referenciado pelo outro. Para
cada produção do autor, encontram-se as notícias do prelo, das obras já existentes e das
vindouras, garantindo segurança sobre a totalidade dos materiais produzidos.

Busca por subvenção dos trabalhos

É o nome próprio (...), com a individualidade biológica


da qual ele representa a forma socialmente instituída, que
assegura a constância através do tempo e a unidade através dos
espaços sociais dos diferentes agentes sociais que são a
manifestação dessa individualidade nos diferentes campos, o
dono de empresa, o dono de jornal, o deputado, o produtor de
filmes, etc.
Pierre Bourdieu (1996:167)

16
SANTOS, Vera Maria dos. op. cit., p. 107.
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Em Nota Introdutória ao livro Dramatização na Escola, o autor informa que


todo o material se encontrava escrito desde 1964. Estava pronto, mas não foi o primeiro
livro a ser publicado, devido à falta de incentivo. Procurava-se que o Governo apoiasse
a produção. “Em vão os seus esforços. [o autor refere-se a ele mesmo] Ao Governo de
então, ou a seus assessores, não pareceu útil o teatro infantil, úteis as dramatizações na
escola.” Como não viera, àquela hora, o apoio esperado, as Dramatizações foram
engavetadas, para investir-se melhor num outro projeto. E malgrado a visita realizada
por Acrísio Torres Araújo a Celso de Carvalho, e a oferta ao Governador da obra
Pequena História de Sergipe por ocasião de seu lançamento, ainda assim reclamou o
professor na mesma Nota: “[...] faltou apoio Oficial à edição de sua modesta ‘História
de Sergipe’.”

No entanto, acredita-se que foi a aceitação da História de Sergipe, entre as


escolas e o público geral, uma das razões que garantiu a futura aliança entre o governo e
seus trabalhos, ocorrida após 1968: “ – Meu Governo dará todo apoio à publicação de
suas obras, disse-me o Governador do Estado.” Naquele momento, Acrísio Torres
Araújo era dono da mais “completa” e lida obra de síntese de história de Sergipe do
momento; de um parecer favorável à utilização de dois livros didáticos seus e;
finalmente, do apoio oficial vindo do Governador Lourival Baptista, que garantiu a
publicação, em 1968, do livro Dramatização na Escola. 17

Em seguida, vários outros livros didáticos surgiriam para o Estado de Sergipe. A


série de livros intitulada Leituras Sergipanas18, por exemplo, encontrada na Biblioteca
Pública Epiphânio Dória, tem dedicatória do autor para aquela biblioteca datada de
1970. Ela foi produzida, portanto, na sua primeira edição, no máximo por aquele ano.

17
ARAÚJO, Acrísio Torres. Dramatização na escola. Aracaju: Regina, 1968.
18
Id., Leituras Sergipanas [Coleção 1ª a 4ª Série, individuais]. Salvador: Ed. Do Brasil, [s/d].
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Consistia em estorinhas, que misturavam ficção e fato histórico, na tentativa, talvez, de


se tornarem mais atrativas às crianças. Nesta série tornava-se possível ainda, para as
crianças, conhecer os valores da literatura sergipana. Jackson da Silva Lima comentou o
4º ano primário da série, segundo ele, “[...] como não poderia deixar de ser, omitiram-
se alguns bons valores [...]”.19

Em 1973, lançou-se Aracaju, minha terra 2ª série primário – Estudos Sociais20


numa reedição de Aracaju, minha capital 2º ano primário21, produzida em 1966.
Reeditou-se ainda por diversas vezes a Geografia de Sergipe22, com uma nova
orientação para “Estudos Sociais”, que, aliás, a partir da década de 1970, esteve
presente em todos os seus livros didáticos, agora saídos pela Editora do Brasil. Os livros
didáticos desta década consistiam em reedições (com pequenas revisões) de trabalhos
realizados durante a segunda metade da década de 1960, inclusive o último deles,
chamado Sergipe e o Brasil23, cuja primeira edição deve ter saído no ano de 1970. Este
foi o último de todos os livros didáticos produzidos, principalmente quando se considera
o livro Literatura Sergipana24 enquanto dicionário de literatos sergipanos, que teve
primeira edição em 1972 e segunda em 1976.

Os trabalhos de Acrísio Torres Araújo não ficaram apenas circunscritos ao


ambiente dos livros. Entre 1965 e 1966 contribuiu para com os jornais sergipanos A
Cruzada, e para o Jornal da Semana25, onde primeiramente surgiu a sua coluna “Pó dos

19
LIMA, Jackson da Silva. História da literatura sergipana. Vol. I. Aracaju: Livraria Regina, 1971. p.88
20
ARAÚJO, Acrísio Torres. Aracaju, minha terra 2ª série – Estudos Sociais. Salvador: Ed. do Brasil,
1973a.
21
Id., Aracaju, minha capital 2º ano primário. Aracaju, 1966.
22
Id., Geografia de Sergipe. Área Estudos Sociais. Salvador: Ed. do Brasil, [s/d].
23
Id., Sergipe e o Brasil. Área Estudos Sociais. 4ª Série. São Paulo: Ed. do Brasil, 1973c.
24
Id., Literatura Sergipana. Aracaju: Imprensa Oficial, 1972.
25
ARAÚJO, Acrísio Torres. Eu, o Ateu? (2), 29 de Fevereiro de 2000.
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Arquivos”. Na Gazeta de Sergipe, em 1976, foi editor-chefe da Momento, 26 a revista


cultural daquele jornal, numa época de estreita relação com seu grande amigo e
fundador da Gazeta de Sergipe, o jornalista Orlando Dantas. Foi também Editorialista
do jornal, provavelmente nos idos de 1977.

Por esta época, pretendeu juntamente com João Oliva Alves fundar um jornal
aqui em Sergipe. No entanto, seus planos não vingaram visto que ainda durante aquele
ano deixaria Aracaju para fixar residência em Brasília. De lá, continuou contribuindo
com artigos de jornais, enviando-os para Sergipe, que atualmente vão publicados no
27
semanário Gazeta New. Também escreveu no Diário de Aracaju. Ignora-se a
existência de artigos em outros jornais sergipanos, muito embora não seja possível
descartá-la.

É impossível ignorar a atuação de Acrísio Torres Araújo no cumprimento de seu


ofício de escrever e publicar, ofício que, segundo objetou, carrega o peso das idéias que
ele próprio defende: “[...] meu ofício é dizer o que penso” .28 O ofício de escrever,
ocorreu em Sergipe e em Brasília, sendo nesta última cidade através da figura de Carlos
d'Eça, pseudônimo adotado por Acrísio Torres Araújo na imprensa da Capital Federal.29

Em Sergipe, várias centenas de artigos foram publicados em pouco mais de 40


anos. Os temas preferidos foram os de História de Sergipe, Religião, Política, Literatura,
Educação e Filosofia. Merece destaque os escritos em sua coluna, Pó dos Arquivos,
cujas principais publicações compreendidas entre 1975 a 1986 foram compiladas e
transformaram-se em livro de mesmo título em 1999; e também (agora no ambiente da

26
Id., Leia-se Manoel Bonfim. In: Gazeta de Sergipe, 19 de Dezembro de 1996.
27
SANTOS, Vera Maria dos. op. cit., p. 107.
28
ARAÚJO, Acrísio Torres. Espada de Dâmocles. In: Gazeta de Sergipe, 01 de junho de 1999.
29
Id., Cães, os Santos. In: Gazeta de Sergipe, 05 de junho de 2000.
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política) seu declarado apoio ao bloco da Social Democracia brasileira, atualmente


representada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Seus artigos com o
tema da educação manifestam grande desesperança diante do que chamou de
imobilismo intelectual observado entre professores e alunos das Instituições de Ensino
Superior do país, constatado a partir do exemplo da Universidade de Brasília (UnB).

De títulos sempre lacônicos e às vezes enigmáticos, seus artigos, notadamente os


encontrados a partir da década de 1990, possuem estilo livre na escrita, de uso
despreocupado da pontuação, como se estivessem a expressar gritos de perplexidade,
angústia, descrença ou admiração. A presença de Acrísio Torres Araújo nos jornais
sergipanos deixa manifestar alguns de seus valores, um pouco de seu perfil intelectual, e
muito de sua personalidade.

A abrangência das publicações

Os acontecimentos biográficos se definem como


colocações e deslocamentos no espaço social, isto é, mais
precisamente nos diferentes estados sucessivos da estrutura da
distribuição das diferentes espécies de capital que estão em jogo
no campo considerado. (...) O que equivale a dizer que não
podemos compreender urna trajetória (isto é, o envelhecimento
social que, embora o acompanhe de forma inevitável, é
independente do envelhecimento biológico) sem que tenhamos
previamente construído os estados sucessivos do campo no qual
ela se desenrolou e, logo, o conjunto das relações objetivas que
uniram o agente considerado – pelo menos em certo número de
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estados pertinentes – ao conjunto dos outros agentes


envolvidos no mesmo campo e confrontados com o mesmo
espaço dos possíveis.
Pierre Bourdieu (1996: 190)

Merece atenção o entendimento de Orlando Dantas em relação à figura de


Araújo. “[...] na verdade, é um voluntarioso, disposto a fazer o que julga verdadeiro e
correto.”30 O comentário fora encontrado no prefácio de uma obra lançada em 1999,
tempo em que podia-se pôr em revista cerca de quatro décadas da participação do
jornalista na vida intelectual sergipana, através dos livros publicados e em virtude do
seu relacionamento com os formadores de opinião e com as autoridades sergipanas.
Olhar o passado para prefaciar a obra foi provavelmente o método utilizado por Orlando
Dantas: “[...] Bacharel em Direito, Liberal, boa cultura, escritor [...] passava por ele
indiferente [...]”31, lembrava o fundador da extinta Gazeta de Sergipe, numa referência à
época em que não eram amigos.

Aos poucos vieram os convites: para receber o título de Cidadão Sergipano,


ofertado pela Assembléia Legislativa ao cearense; para a posse da Cadeira nº 36 da
Academia Sergipana de Letras. Dantas presenciou ambas as solenidades, ocorridas em
1974, e agora julgava ter simpatia pela inteligência e pelo valor da oração de Acrísio
Torres Araújo. “Ficamos amigos [...] abri-lhe as portas da Gazeta de Sergipe [...]”. 32
Era um escritor de classe, que ganhava a Gazeta.

Algo semelhante conclui-se da leitura do generoso prefácio de José Calazans,


para o Pó dos Arquivos, outra obra lançada em 1999, quando o autor voltava, de visita,

30
DANTAS, Orlando. Prefácio. In: Sergipe/Crimes políticos I. Brasília: Thesauros, 1999. p. 8-9.
31
Ibid., p.8.
32
Ibid., p.9.
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às terras sergipanas: “[...] ele é, sobretudo, um pesquisador de velhos jornais de


Aracaju [...] Acrísio pode mesmo ser considerado um discípulo de Epifânio Dória
[...]”33. Mas os jornais são fontes tendenciosas, ponderou Calazans, apontando
discretamente para as dificuldades do pesquisador em separar o joio do trigo.
Finalmente, importante incorreção apontou Jackson da Silva Lima sobre os artigos
apresentados em 1975 na Gazeta de Sergipe, posteriormente reunidos no livro Os
Amores de Pedro II em Sergipe.34 Para o trabalho, sugeriu-se que talvez não existiria
fundamento na tese de que a Ofenísia, do anagrama de Pedro de Calazans, tenha sido na
verdade Josefina Emília da Silveira: “[...] porém, à pretendida identificação de Ofenísia
na pessoa de Josefina Emilia da Silveira, há todo um longo percurso de obscuridades
[...]”35. Conclui-se que se tratava de uma análise literária, interferindo no conteúdo
histórico da obra, ambos, portanto, sendo questionados.

O reconhecimento da origem dos trabalhos contribui para o entendimento de


suas limitações. Eram artigos para jornais, a grande maioria saídos na Gazeta de
Sergipe. Abrigavam no máximo a preocupação com a beleza da forma. Surgiram em
forma de crônicas, escritos de maneira livre, pessoal. Mas os artigos atenderam os
objetivos do jornal, prova disso é que a Coluna Pó dos Arquivos sobreviveu por mais de
uma década, sendo ainda saudosamente resgatada, através do livro de mesmo nome.
Não precisavam possuir inteiro ineditismo. Bastaria apenas que os temas dos artigos
fossem atraentes, foi o que deixou confessar nos Amores de Pedro segundo em Sergipe:
o tema fora explorado em 1935, na imprensa, por José Sebrão de Carvalho Sobrinho e
estava sendo retomado em 1975, devido aos 150 anos do nascimento de Pedro II.

33
CALAZANS, José. Prefácio/Um livro sergipano. In: Pó dos Arquivos. Brasília: Thesauros, 1999. p. 9.
34
ARAÚJO, Acrísio Torres. Os Amores de Pedro II em Sergipe. Brasília: SENADO FEDERAL
CENTRO GRÁFICO, 1981.
35
LIMA, Jackson da Silva. História da Literatura Sergipana: fase romântica. Vol II. Aracaju:
FUNDESC, 1986. p. 148.
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Acrísio Torres Araújo falou em público sobre Pedro II em Maruim, em comemoração à


data. O público acolheu o discurso proferido, e o tema foi para o jornal.

Através dos jornais, por pouco mais de uma década manteve-se próximo do
discurso oficial do governo implantado pelo regime militar em Sergipe. Ele “[...]
36
tornou-se assessor intelectual de executivos públicos de primeiro escalão.” ,
testemunhou João Oliva Alves. E quando, em 1988, João Emílio Falcão apresentou
Araújo enquanto um “[...] erudito, autor de vários livros [...]” 37
, estava ele apenas se
referindo, sem provável conhecimento de causa, aos livros que foram produzidos em
Sergipe. Não havia notícias de outros trabalhos que não fossem a Pequena História de
Sergipe, as biografias, os livros didáticos, o dicionário de literatura sergipana e as
crônicas reunidas sobre Pedro II. Por não conhecer as tramas que envolveram estes
trabalhos, João Emílio Falcão não compreendeu a antítese que engendra as obras
realizadas em seu berço intelectual e as cartas que foram enviadas para o Jornal de
Brasília, assinadas sob o pseudônimo de Carlos d’Eça.

Enquanto esteve em Sergipe, foram reduzidos os descontentamentos


manifestados quanto aos Governos estabelecidos. Apenas um equívoco mereceu a
atenção do professor, que naquela época também era assessor do Governo. Em 1975,
reclamou do que ele chamou de “a comédia do Real” e das “comemorações
extemporâneas” empreendidas em Sergipe, lembrando a suposta passagem os 400 anos
do início da colonização sergipana. De fato, as missões do padre Gaspar Lourenço não
possuíram, ou não conseguiram ganhar pretensões colonizadoras. Fora acertada,
portanto, a reclamação, que, embora dirigida ao governo, estava vazia de conteúdo

36
ALVES, João Oliva. Os arquivos de Acrísio Torres. In: Gazeta de Sergipe, 22 de julho de 1999.
37
FALCÃO, João Emílio. Prefácio. In: Cátedra e Política. Brasília: Senado Federal Centro Gráfico,
1988. p. 11.
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político. Antes, a queixa buscava apenas a correção de um erro histórico, para isso
amparando-se nas “[...] forças imparciais da história.” 38

Nenhuma crítica poderia ir além, dada a posição que ocupou na sociedade


sergipana e a investidura do caráter oficial que tomaram suas produções. Em 1964,
buscava-se o apoio oficial, que não fez despertar interesses. Com a Pequena História de
Sergipe, buscou-se novamente o amparo governamental, também sem êxito. A obra foi
mesmo assim publicada, munida de relevante prefácio. Enquanto o professor Virgínio
de Sant’Anna concedia legitimidade ao trabalho, Araújo lançava, em 1967, sua primeira
biografia, Virnínio de Sant’Anna39, num momento de excelentes concessões
intelectuais. Neste momento observou-se pela primeira vez o interesse do governo para
com seus acenos. A biografia fora lançada no Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, estando o Governador Lourival Baptista representado por seu Assistente
Técnico, o jornalista Juarez Ribeiro.40 Com o lançamento das biografias, especialmente
com as duas primeiras publicadas, ganhava-se espaço na intelectualidade sergipana,
enquanto o governo forjava empenho no desenvolvimento de atividades culturais.

Não apenas a aceitação da Pequena História de Sergipe entre as escolas e o


público geral foi razão que garantiu a aliança entre o governo e Araújo. Importou
também a repercussão dos trabalhos biográficos. No Secretário de Guilherme Campos
biografou-se Edilberto Campos, filho de uma ex-autoridade governamental, e secretário
do governo do pai. A biografia lembrava o edificante Governo de Guilherme Campos, e
lamentava o excesso de liberdade observado em Sergipe durante o final do século XIX e

38
ARAÚJO, Acrísio Torres. Últimas considerações sobre a “comédia do Real”. In: Gazeta de Sergipe, 31
de outubro de 1975.
39
ARAÚJO, Acrísio Torres. Virnínio de Sant’Anna. Aracaju: Regina, 1967.
40
DIÁRIO OFICIAL do Estado de Sergipe apud SANTOS, 2004, p. 116-7.
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início do XX, ambiente cujo descontrole maior observou-se quando das mortes de
Fausto Cardoso e Olympio Campos em 1906.41

O governo de Sergipe tornar-se-ia novamente presente no seu lançamento, agora


através do Vice-Governador, Dr. Manoel Cabral Machado.42 Em carta à professora Vera
Maria dos Santos, Araújo lembrou que, na noite daquele lançamento, o representante do
governo declarou a idéia de se criar, na Escola Normal, a disciplina História de Sergipe,
para nomear, o autor das biografias, como seu titular.43

Os progressos intelectuais realizados em Sergipe estiveram rodeados de


interesses oficiais cada vez mais crescentes. Havia sido excelente para o autor os
resultados de 1968, quando publicou sua segunda biografia, O Secretário de Guilherme
Campos; ano em que lançou o livro Dramatizações na Escola, e que recebeu, na noite
de natal daquele ano, o título de Cidadão Aracajuano44. A euforia diante dos progressos
fez-se sentir na introdução do citado livro: “Esta obra é mais uma prova desse carinho e
preocupação do senhor Governador Lourival Baptista.”45

Consolidava-se a aliança entre Araújo e o Governo Lourival Baptista (1967-70),


figura abrasadamente apresentada na História Política de Sergipe de Ariosvaldo
Figueiredo como “[...] um governador que acha que todo homem tem seu preço [...]” e
que exigia contrapartida para qualquer favor oferecido.46 Para Ariosvaldo Figueiredo,
este governo representou o máximo do arbítrio do Regime Militar em Sergipe.

41
ARAÚJO, Acrísio Torres. O Secretário de Guilherme Campos. Aracaju: Regina, 1968b. p.57-60.
42
GAZETA DE SERGIPE apud SANTOS, 2004, p. 118.
43
Cf. ARAÚJO apud SANTOS, 2004, p. 118.
44
Cf. ARAÚJO, Acrísio Torres. Carta do Sr. Prefeito. In: Gazeta de Sergipe, 18 de novembro de 1975.
45
Id., 1968a. p. 14
46
FIGUEIREDO, Ariosvaldo. História Política de Sergipe (Vol. V). Aracaju: Sociedade Editorial de
Sergipe, 1986. p. 207-16.
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Argumenta que Lourival Baptista conseguira criar o inédito cargo de “Responsável pelo
Expediente da Prefeitura” de Aracaju, concedido ao professor José Aloísio de Campos,
e teve o substituto que pretendeu para o Estado, o Engenheiro Paulo Barreto de
Menezes (1971-75), após o mandato tampão de João Andrade Garcez (1970-71).

Sintonizado com as autoridades, tornou-se professor da Escola Normal de 1969


47
a 1973, publicou, em 1970, pela Imprensa Oficial, a memória O velho Atheneu
Sergipense: hoje Colégio Estadual de Sergipe, em comemoração dos 100 anos do
Colégio48. No mesmo ano inscreveu-se à cadeira nº 36 da Academia Sergipana de
Letras. Sob a tutela do governo Paulo Barreto de Menezes surgiria outra memória,
Sergipe e a Independência do Brasil,49 quando, em 1972, comemorava-se o
sesquicentenário da independência do Brasil.

No mesmo ano, Araújo serviu-se do então recente primeiro volume da História


da Literatura Sergipana, de Jackson da Silva Lima50, e fez publicar o dicionário
Literatura Sergipana.51 Além desses, também pela Imprensa Oficial e graças ao
Governo de Paulo Barreto de Menezes, surgiria: as biografias Graccho Cardoso52,
realizada por ocasião da transladação dos restos mortais do biografado do Rio de
Janeiro para Sergipe; e Augusto Leite, médico sergipano que idealizou o hospital de
Cirurgia, construído no Governo de Maurício Graccho Cardoso.

47
Cf. SANTOS, Vera Maria dos. op. cit., p. 118.
48
ARAÚJO, Acrísio Torres. O velho Ateneu Sergipense: hoje Colégio Estadual de Sergipe. Aracaju:
Imprensa Oficial, 1970.
49
Id., Sergipe e a Independência do Brasil. Aracaju: Imprensa Oficial, 1972b.
50
Cf. GAZETA DE SERGIPE, 29 de Dezembro de 1971.
51
ARAÚJO, Acrísio Torres. Literatura Sergipana. Aracaju, Imprensa Oficial, 1972a.
52
Id., Graccho Cardoso. Aracaju: Imprensa Oficial, 1973b.
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A Gazeta de Sergipe53 cobriu em 1973 a singela cerimônia, ocorrida no IHGS,


para o lançamento da biografia de Zózimo Lima, único livro realizado sem que seja
observada a presença imediata do conteúdo ideológico do governo. Significava uma
espécie de agradecimento ao assumido conservador jornalista Zózimo Lima pelas
atenções que dispensadas à primeira publicação Araújo, a Pequena História de Sergipe.
Nos demais casos, o discurso do cearense esteve preocupado com o “fazer-se
subvencionar” pelos sucessivos governos de Sergipe. Para tanto, seus trabalhos
precisavam estar automaticamente sintonizados com os interesses dos revolucionários
de março.

Conseguia-se dos governos implantados em Sergipe pelo Regime Militar a


esperada subvenção, que não propriamente serviu para a melhoria de seu patrimônio
material, visto que em Sergipe era humilde no vestir-se. Ainda em 1975, Orlando
Dantas intrigava-se com a “[...] modéstia excessiva de como andava nas ruas da
cidade”54. Em 1973, deixou as aulas da Escola Normal para ser chefe de gabinete da
Secretaria da Justiça, no governo de Paulo Barreto de Menezes. Também trabalhou na
Companhia de Habitação de Sergipe (COHAB).55

Cargos e nomeações não são eternos, independentemente do numerário que eles


ocasionam. Assim, decide ir a Brasília em 1977 porque era necessário encaminhar seus
filhos. não demonstrava preocupação com dividendos financeiros. Tratava
majoritariamente de obter patrocínio para seus trabalhos, o que lhe garantiu prestígio no
ambiente intelectual. Tratava-se de uma Ditadura Militar, período que José Silvério
Leite Fontes lembrou como tempo em que quase nada havia escrito, porque não se

53
Cf. GAZETA DE SERGIPE, 29 de junho de 1973.
54
DANTAS, Orlando. Prefácio. In: Sergipe/Crimes políticos I. Brasília: Thesauros, 1999. p. 8-9.
55
Cf. SANTOS. Vera Maria dos. op. cit., p. 118-9.
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podia escrever livremente em épocas de Ditadura.56 Araújo, pelo contrário, manteve seu
ofício, e por esta época escreveu muito.

Em Sergipe, serviu para com a construção da consciência estabelecida pelo


Regime Militar; deu conteúdo histórico à biblioteca Epifânio Dória57, construção de
Paulo Barreto Menezes; levou os Amores de Pedro II para Maruim a fim de lembrar o
nascimento do Imperador; em 1974, Leandro Maciel Filho juntamente com a
Assembléia Legislativa concedeu-lhe o Título de Cidadão Sergipano; no mesmo ano,
foi recebido por Luiz Garcia na ASL para a posse da Cadeira nº 36, quando seu discurso
enalteceu os valores de Hunald Cardoso, homem “[...] que precedeu os revolucionários
de março”58, na medida que criticou a democracia ocorrida no Brasil a partir de 1946.

Da Subvenção à Subversão

Em outras palavras, ele só pode atestar a identidade da


personalidade, como individualidade socialmente constituída, a
custa de uma formidável abstração. Eis o que evoca o uso
inabitual que Proust faz do nome próprio precedido do artigo
definido (...), rodeio complexo pelo qual se enunciam ao mesmo
tempo a “súbita revelação de um sujeito fracionado, múltiplo” e
a permanência para além da pluralidade dos mundos da
identidade socialmente determinada pelo nome próprio.

56
Cf. MENEZES, Ademir Pinto de. Jose Silvério Leite Fontes: uma contribuição a historiografia de
sergipe. SE, 1998. Monografia (Licenciatura em Historia). Universidade Federal de Sergipe, UFS.
57
ARAÚJO, Acrísio Torres. Biblioteca Epifanio Dória. In: Gazeta de Sergipe. 29 de outubro de 1974.
58
DISCURSO do Acadêmico Acrísio Torres Araújo ao tomar posse da cadeira nº 36 da Academia
Sergipana de Letras, em 11 de setembro de 1974. In: Revista da Academia Sergipana de Letras, nº 26,
Aracaju, março de 1978. p. 107-18.
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Pierre Bourdieu (1996: 187)

De maneira idêntica a Orlando Dantas, em Sergipe declarava-se um liberal


apoiador da revolução brasileira tanto que nas suas Reflexões sobre o Decênio
Revolucionário, escreveu que o governo Revolucionário refletia as aspirações do povo.
59
Mas, com uma nova identidade, em 1978 deu-se uma gravitação da subvenção à
subversão. Tinha-se neste momento um novo cenário – Brasília – para a transformação.
Lugar novo, obrigatoriamente alheio às tramas ocorridas durante os quatorze anos
vividos em Sergipe.

O livro Cátedra e Política salvaguardou um momento de forte crítica


empreendida por Carlos d’Eça ao Regime Militar. Entre 1978 e 1985 foram publicadas
416 cartas no Jornal de Brasília, todas em completa aversão ao governo
antidemocrático. Em Brasília, Araújo apresentou-se enquanto “[...] um homem
revoltado, adversário declarado dos Governos Militares [...] prova [...] do seu caráter
60
de lutador e inconformado.” Neste ponto, é perfeitamente possível compreender a
mudança de posição acerca dos Governos Militares como fruto da análise ou da
experiência histórica, temas efervescentes em sua mente. Não obstante, nunca existiu
em Sergipe o “Libelo Antiditadura Militar” que Araújo proclamou. 61
Seus discursos
apenas ganharam uma investidura crítica após ter deixado o Estado de Sergipe. Neste
momento, o cearense gravitou da subvenção à subversão.

O ano de 1978 pode servir como um marco divisório das idéias. Este homem
que, desde a década de 1960, buscou formar a opinião daqueles que freqüentaram as
59
ARAÚJO, Acrísio Torres. Reflexões sobre o Decênio Revolucionário. In: Gazeta de Sergipe, 02 de
março de 1974.
60
FALCÃO, João Emílio. Prefácio. In: Cátedra e Política. Brasília: Senado Federal Centro Gráfico,
1988. p. 11.
61
ARAÚJO, Acrísio Torres. Cães, os Santos. In: Gazeta de Sergipe, 05 de junho de 2000.
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páginas dos jornais de Sergipe, nos últimos anos fez crítica aberta às formas de se
governar e de se educar no país. Nas cartas de Carlos d’Eça, identificou as autoridades
políticas provenientes da ditadura militar enquanto hábeis oportunistas em busca do
poder; em revolucionários conservadores, idênticos ao barbeiro Porfírio Caetano do
conto O Alienista de Machado de Assis. Em contrapartida, durante sua permanência em
Sergipe, acompanhou, esperançoso, as ações do regime militar, apoiando-o e por ele
sendo apoiado.

Diante das várias centenas de artigos publicados, é imprescindível considerá-los


nos períodos anterior e posterior à sua transferência para Brasília. Quando o autor
sugere à professora Vera Maria dos Santos a leitura de seus artigos na Gazeta de
Sergipe como maneira de forjar sua aversão à política62 e juntamente quando dá
acentuada ênfase ao livro Cátedra e Política, por ser constituído de cartas em crítica ao
regime militar, tais eventos refletem uma tentativa de manter no obscurantismo as
diferenças pertinentes aos dois momentos de sua vida pública. O “biônico” Lourival
Baptista, que, em 1968, foi um grande incentivador dos trabalhos de Araújo, na carta de
novembro 1979 é classificado como “[...] um acabado espécime das classes
dominantes, que, tendo vivido séculos como parasitas, perderam as qualidades de
caráter, moralidade, inteligência [...]” 63

Considerações Finais

62
SANTOS, Vera Maria dos. op. cit., p. 121.
63
ARAÚJO, Acrísio Torres, Cátedra e Política. Brasília: Senado Federal Centro Gráfico, 1988.
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Enquanto esteve no Estado de Sergipe, Acrísio Torres Araújo exerceu o


Magistério, trabalhou para órgãos do governo do Estado, contribuiu para revistas e
jornais e publicou vários livros. De todo o trabalho realizado durante os catorze anos de
sua moradia em Sergipe, mais tempo lhe tomou o trabalho de escrever. O interesse de
publicar trabalhos justificou a sua procura pelo apoio dos sucessivos governos do
Estado. Uma boa publicação gerava-lhe prestígio que lhe gerava mais publicações.

Pode-se identificar alguns momentos importantes de publicações: primeiramente


a fase do surgimento de trabalhos voltados para o ensino didático, curiosamente sendo
iniciada em 1966 com uma obra historiográfica. A segunda fase de publicações pode ser
identificada a partir do estreitamento de sua relação com os governos do Estado de
Sergipe. É desta época o surgimento das biografias, das memórias históricas, como
também é o momento da consolidação de seu prestígio perante a sociedade Sergipana,
algo expresso no recebimento de diversas homenagens. A terceira fase de suas
publicações situa-se no aumento da freqüência dos artigos em jornais, notadamente a
partir de sua inserção da Gazeta de Sergipe mantendo-se a aliança com o governo
Estadual.

Uma quarta fase pode ser identificada quando deixou o estado de Sergipe para
residir em Brasília. Trata-se de uma época de críticas à ditadura militar, através das
cartas enviadas para o Jornal de Brasília e de sua atuação enquanto professor de Estudo
dos Problemas Brasileiros I e II na Universidade de Brasília. Com esta fase, aliados
sergipanos do passado são criticados nas cartas emitidas em Brasília, como é o caso do
ex-governador Lourival Baptista e o grupo que ele representava.

Por intermédio da investigação documental, optou-se por uma pesquisa original


seguindo-se apontamentos em Bourdieu (1996), pretendendo captar um sujeito múltiplo,
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para além da identidade socialmente determinada, ou determinada por outros aspectos,


tendo como pressuposto que as transformações do sujeito são ocorrências sempre
esperadas, o que contribui com a tendência da fuga em relação a uma biografia oficial.

Referência Bibliográfica

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