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HISTORIOGRAFIA
Resumo:
A década de 1970 assistiu ao nascimento dos primeiros estudos de História da Historiografia
Sergipana, textos pioneiros da lavra de José Silvério Leite Fontes (1972), Vladimir Souza
Carvalho (1973) e José Calasans Brandão da Silva (1973). A partir de fins da década de 1990,
a trajetória dos fazeres historiográficos voltou a interessar os intelectuais de Sergipe d’El Rey,
notadamente Itamar Freitas (2002 e 2007), Jorge Carvalho do Nascimento (2003) e Antonio
Fernando de Araújo Sá (2013). A atenta revisão desses estudos nos permite acompanhar, para
além da recepção crítica, a trajetória da historiografia sobre Sergipe Oitocentista, principiada
com a publicação da Historia de Sergipe, do médico Felisbello Firmo de Oliveira Freire, em
1891. Nesse sentido, este trabalho tenciona contribuir com estudos dedicados às
historiografias sobre o Brasil do século XIX, perscrutando obras pioneiras sobre a História da
Historiografia Sergipana.
Palavras-chave: História; Historiografia; Sergipe; Século XIX.
Abstract:
The 1970s watched the birth of the first studies of the History of Sergipe Historiography:
pioneer texts written by José Silvério Leite Fontes (1972), Vladimir Souza Carvalho (1973)
and José Calasans Brandão da Silva (1973). During the late 1990s, the trajectory of
historiographical interest were back on the intellectuals minds of Sergipe d'El Rey, notably
Itamar Freitas (2002 and 2007), Jorge Carvalho do Nascimento (2003) and Antonio Fernando
de Araújo Sá (2013). A careful review of these studies allows us to follow, beyond the critical
reception, the trajectory of the nineteenth-century historiography of Sergipe, which has started
with the publication of the History of Sergipe, by the physician Felisbello Firmo Freire de
Oliveira, in 1891. In this sense, this paper intends to contribute to studies devoted to the
historiography of the nineteenth-century in Brazil.
Key Words: History; Historiography; Sergipe; 19th century
Campinas, São Paulo, julho de 1972. Entre os dias 9 e 15, a UNICAMP abrigou o III
Encontro de Professores de Introdução aos Estudos Históricos, evento que reuniu
profissionais do ensino superior de História de todo o país.
José Silvério Leite Fontes (1925-2005), professor de Introdução aos Estudos Históricos
do Departamento de História e Filosofia, representou a Universidade Federal de Sergipe –
UFS no encontro e apresentou o projeto Levantamento das fontes primárias da história de
Sergipe, cuja execução capitaneava em seu pequeno estado.
Mas qual seria a relação entre aquela comunicação de julho de 1972 e a História da
Historiografia Sergipana? Ocorre que o seu texto-base, publicado meses depois no Cadernos
UFS, possui um brevíssimo (porém pioneiro) estudo sobre a trajetória dos fazeres
historiográficos em Sergipe. Trata-se de uma espécie de introdução ao projeto divulgado,
dando conta do estado da arte no campo da História de Sergipe.A natureza do trabalho
justifica, inclusive, a sumaríssima análise que dele resulta. Aliás, o próprio Silvério Fontes
registrou que o tema mereceria “estudos mais acurados”, considerando que sua atenção se
voltou, apenas, para “alguns pontos relevantes” (FONTES, 1972, p. 4).
Orientando sua análise, Silvério Fontes propôs uma periodização tripartite para a
Historiografia Sergipana. A primeira fase iria de princípios da década de 1890 a fins da
década de 1920, a segunda de fins da década de 1920 a fins da década de 1950 e a terceira
teria se iniciado em princípios da década de 1960.
Outros autores foram relacionados por Silvério, que, sutilmente, teceu suas críticas ao
legado intelectual de parte deles. Sobre as corografias de Laudelino Freire e L. C. Silva
Lisboa, por exemplo, destaca o valor documental e não historiográfico dessas obras (ambas
referenciadas ao final deste artigo). Crítica similar fez aos autores que “relataram o
movimento republicano e a implantação da República, no Estado”, referindo-se aos trabalhos
de Balthazar Góes, autor de A Republica em Sergipe (1891); Manuel Curvelo de Mendonça,
autor de Sergipe republicano (1896); e F. Nobre de Lacerda, autor de A decada republicana
em Sergipe (1906).
Entre os autores que, nas trevas da segunda fase da Historiografia Sergipana, não
deixaram desaparecer a chama do templo de Clio, estariam: Sebrão sobrinho, com suas
Laudas da História do Aracaju (1955); Epifânio da Fonseca Dórea, com dezenas de
trabalhos, sobretudo pequenas biografias e necrológios, publicados na Revista do IHGSE
entre as décadas de 1910 e 1960; Philadelpho Jonathas de Oliveira, autor de Historia de
Laranjeiras Catholica (1935) e de Registo de fatos históricos de Laranjeiras (1942); João
Dantas Martins dos Reis, que publicou trabalhos na Revista do IHGSE a partir de princípios
da década de 1940, tratando, principalmente, da história do poder judiciário em Sergipe; Felte
Bezerra, autor de Etnias sergipanas (1950) e de Investigações Histórico-Geográficas de
Sergipe (1952); e José Calasans, autor de Aracaju: contribuição à História da capital de
Sergipe (1942) e de Temas da Provincia (1944), além de outros estudos publicados na Revista
do IHGSE desde princípios da década de 1940.
Finda a leitura das reflexões de Silvério Fontes, é possível flagrar algumas ausências na
“galeria de historiadores” da qual ele foi curador. Não sabemos ao certo o que o levou a
ignorar as contribuições, por exemplo, de Elias Montalvão, autor de Meu Sergipe (1916), e
Clodomir Silva, autor do Album de Sergipe (1920) e de Minha gente (1962). No mais, o texto
parece ter sido escrito para leitores familiarizados com a produção historiográfica sergipana,
posto que o seu autor não teve a preocupação de relacionar os trabalhos da maior parte
intelectuais citados.
É preciso registrar que o legado intelectual de Silvério Fontes conta com pelo menos
dois outros estudos circunscritos no campo da História da Historiografia e que merecem uma
análise detida. São eles: Quatro diretrizes da Historiografia Brasileira Contemporânea
(1975) e Marxismos na Historiografia Brasileira Contemporânea (2000). Quanto aos estudos
de História da Historiografia Sergipana, sabemos que foram cultivados por outros intelectuais
da década de 1970, notadamente pelo jovem itabaianense Vladimir Souza Carvalho e pelo
festejado professor José Calasans Brandão da Silva.
Algumas das ausências notadas na análise de Silvério Fontes não foram ignoradas por
Vladimir Carvalho. O álbum de Clodomir Silva, por exemplo, ocupada lugar de destaque em
seu estudo sobre os fazeres historiográficos em Sergipe. Segundo Vladimir, com o Album de
Sergipe (1920), Clodomir havia dado “excelente contribuição”, com significativos avanços
heurísticos, “que fazem de seu trabalho um livro sério e paciente”, e com a divulgação de uma
farta documentação fotográfica referente à capital e aos municípios sergipanos de princípios
do século XX.
Assinalemos que existem mais encontros que desencontros entre as análises de Vladimir
e Silvério. A avaliação que fazem, por exemplo, da contribuição de Acrísio Tôrres de Araújo
e J. Pires Wynne são convergentes. Mesmo notando certa superioridade de Pires Wynne em
relação a Acrísio Tôrres, Vladimir concluiu que “tanto um como o outro seguem de perto as
pegadas de Felisbelo Freire, perdendo-se a partir do instante histórico (1855) em que o
historiador itaporanguense encerra seu [primeiro] trabalho” (CARVALHO, 1973, p. 12). O
veredito é, a nosso ver, justo e preciso: “nada de novo trouxeram”.
A análise de Vladimir possui conclusões dignas de nota. Esse é o caso da avaliação que
fez da tinta gasta com a questão dos limites entre Sergipe e Bahia. Plenamente de acordo,
transcrevemos sua conclusão:
Interessante é, também, a avaliação que fez o autor do perfil dos trabalhos dedicados à
história dos municípios, evidenciando o caráter mais memorialístico que historiográfico dos
mesmos. Vejamos:
Ao que tudo indica, não houve uma interlocução direta entre as interpretações de
Silvério Fontes e Vladimir Carvalho acerca da História da Historiografia Sergipana, posto que
a segunda contribuição, publicada em 1973, teve sua redação final concluída em princípios de
1972 (conforme nota do autor), meses antes, portanto, da veiculação da primeira nos
Cadernos da UFS. Nesse sentido, o nome de dois bacharéis em Direito, José Silvério Leite
Fontes e Vladimir Souza Carvalho, refletem ações pioneiras nos estudos de História da
Historiografia Sergipana, campo que logo seria alargado por outro bacharel, José Calasans
Brandão da Silva, de cuja contribuição trataremos oportunamente.
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