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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CAMPUS I
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA HISTÓRIA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
COMPONENTE CURRICULAR: HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA I
DOCENTE: ALBERTO EDVANILDO SOBREIRA COURA
DISCENTE: FELIPE CAMARGO FERNANDES

O lugar social de Sergio Buarque de Holanda e a apresentação de Raízes do Brasil

O lugar social de Sergio Buarque de Holanda é de alguém que nasce em 1902 em São
Paulo, por sinal o ano de seu nascimento é o mesmo ano de publicação de Os sertões1, seu pai
era de Pernambuco, isso já mostra a migração que ocorria com certa frequência para centros
urbanos de maiores porte, com a finalidade de procurar por oportunidades melhores na cidade
grande, levando em consideração que seu pai tinha formação na área de saúde, e em São Paulo
se torna funcionário do estado, Sergio teve uma vida modesta, mais sem lhe faltar nada do
essencial segundo REIS (1999), levou uma vida totalmente urbana, já que depois da mudança
de seu pai, a família não retornou a Pernambuco, teve estudo regular, se interessava pela leitura,
e escrita, tinha uma veia artística, para compor, afinidade em tocar instrumentos, como piano,
além de dançar, posteriormente se muda para o Rio de Janeiro em 1921, e se forma em direito
na atual UFRJ de hoje, mesmo que depois não vá exerce a função, começa a trabalhar como
crítico literário e jornalista, viaja para Itália, Alemanha, e por sinal, 19292 é na Alemanha que
entrevista vários intelectuais, e um em especial um que irá influenciar sua escrita, Weber.

Segundo REIS “S.B de Holanda é um outro “milagre de formação”3. Segundo os seus


biógrafos e analistas, possuía grande erudição em ciências sociais, literatura e artes, apesar de
indisciplinado e boêmio.”4, Sergio participa mesmo que indiretamente da semana de Arte
Moderna de 1922, onde posteriormente continua publicando conteúdos de viés modernista nas
revistas onde trabalhava como; a Klaxon e Estética, Sergio vive em um período conturbado

1
Escrito por Euclides da Cunha, o livro mostra os conflitos no contexto da republica que se instaura,
principalmente no episódio da Guerra de Canudos, Sergio Buarque já nasce num contexto pôs e c conflituoso ao
mesmo tempo, e de reafirmação de um novo cenário governamental do Brasil.
2
A formação Annales d’ HIstoire Economique et Sociale, acontece no mesmo ano em que Sergio está na
Alemanha, pode se ter noção dos debates que circulavam em torno da nova história, da interdicisplinaridade, do
novo conceito de fonte, tem contato com a sociologia weberiana, bem como o historicismo rankeano, e a literatura
alemã, que vai contribuir para a forma que Raízes do Brasil vai ser escrita.
3
Quando Reis se refere a outro, esta citando Capistrano, que mesmo com sua modesta educação quando criança
se torna um intelectual completo, autodidata, e o precursor da ruptura da história do Brasil que até então era escrita.
4
(REIS, 1999, p.116)
pelo debate político de 1920 a 1930, seguindo um pós revolução, todos os acontecimentos
provenientes desse recorte de tempo o fazem ter uma interpretação de Brasil diferente,
principalmente daquela nos moldes do IHGB, e esse movimento de ruptura que começa a partir
do próprio Capistrano como aborda REIS (1999), ruptura essa com a história oficial, faz Sergio
formular sua própria interpretação do Brasil a partir de sua obra Raízes do Brasil, que começa
a ser gestada na Alemanha, o lugar social do autor, é de um historiador que é filho do seu tempo,
mesmo não sendo historiador de oficio, e ao beber de Ranke e Weber, demostra em sua escrita
suas inquietações sobre a formação da identidade do Brasil e seus atores, buscando uma ruptura
com a “velha” escrita da história até então contada, Sergio leciona em várias escolas superiores,
em 1956 assume a cátedra de história da Civilização Brasileira da USP, foi professor visitante
em várias universidades estrangeiras, como na Universidade de Roma, onde ocupou a cátedra
de estudos brasileiros, produziu várias obras, e acabou falecendo em 1982. O contexto de
gestação de Raízes do Brasil se dá segundo REIS, quando Sergio,

[...]Ainda na Alemanha, pensou em escrever um livro sobre o Brasil e escreveu


mesmo um volumoso texto, ao qual deu o título de Teoria da América, mas não
publicou tal como escreveu. Esse texto volumoso deu origem a um dos textos mais
curtos, sintéticos, da historiografia brasileira: Raízes do Brasil: ensaio de psicologia
social.[...]5

Em 1936 é lançada a primeira edição de Raízes do Brasil, tida por muito como obra, ou
uma das obras fundadoras da historiografia brasileira, a edição que irei apresentar é a 26. ed 6,
segundo REIS (1999), sua viagem à Alemanha traz contribuições preciosas que influenciam
sua escrita nesse texto, tanto da sociologia weberiana, quanto do historicismo de Ranke. A
edição a ser apresentada, conta com sete capítulos e 220 páginas, nos quais serão apresentadas
a seguir brevemente, cada capitulo mostra um olhar imbricado em etapas diferentes da formação
da identidade brasileira, no primeiro capítulo, começa por investigar a ibéria não, onde vai
distinguir as diferenças entre a colonização de Portugal e Espanha, com isso vê a falta de
hierarquia em Portugal, por exemplo onde todos são fidalgos, legando uma colonização com
traços anárquicos e em parte com desordem. No segundo capitulo enfatiza a dualidade da
tipologia dos sujeitos históricos que colonizaram o continente americano, os trabalhadores
(voltados para uma ética protestante) e os aventureiros (católicos), onde dá ênfase aos

5
(REIS, 1999, p.116)
6
Holanda, Sergio Buarque. Raízes do Brasil. 26. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
aventureiros que seriam portugueses, espanhóis e ingleses, dando uma importância quase nula
aos trabalhadores. No terceiro capitulo analisa a vida rural e sua importância na formação da
sociedade brasileira, a importância da escravidão nesse contexto, e a oposição da vida urbana
versos a rural. No quarto capitulo são estabelecidas as diferenças entre portugueses e espanhóis,
o português seria o semeador aquele que em tese só se preocupa em explorar, é desleixado,
aquele que procura uma forma de fazer fortuna rapidamente, o espanhol seria o ladrilhador, o
que planeja, que organiza, trazia sua organização social para suas colônias, explorava, mais se
preocupava em uma permanência de desenvolvimento estável da metrópole. No quinto capitulo
trata do homem cordial, que herda as relações de simpatia, dificultando outras relações, como,
as com o estado, as achando desagradáveis, levando em consideração que esse homem não é
bondoso, e sim afetivo. No sexto capitulo apresenta certas consequências que a sociedade
brasileira sofre, a partir da chegada da família real portuguesa, em seguida traça o contexto em
que o positivismo s inseri, passando posteriormente a ideia falha de democracia, os movimentos
reformadores que sempre vem de cima pra baixo. No sétimo e último capítulo, o autor traz a
substituição da sociedade tradicional, causando contradições que migrarão para o campo da
política, além da substituição do rural para o urbano, e com isso a superação das raízes ibéricas,
por uma novo estilo americano.

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