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TEXTO RESENHADO

“1º Momento da Historiografia Brasileira”

DISCIPLINA

HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Jéssica Ramos da Silva Dantas

Rio de Janeiro

2.2017
 Quais os aspectos que marcaram o primeiro momento da historiografia
brasileira?
 O primeiro momento da historiografia brasileira foi marcado pela escrita
e o discurso a partir de crônicas, pode-se dizer que este formato era
efetivamente uma produção historiográfica? Justifique.
 As obras feitas na primeira fase eram descritas a partir de um discurso
setorizado e não sequencial o que não se consegue identificar através
destas uma história total do Brasil, porém, qual o valor historiográfico
essas produções tem para historiografia brasileira?

Francisco Iglesias faz uma análise sobre o primeiro momento da


historiografia brasileira, onde apresenta, estudiosos e características literárias
de cada um, ou seja, como cada personagem escreve. Segundo Iglesias, João
de Barros foi identificado como possível iniciador deste primeiro momento, com
a característica da escrita como crônicas, foi um homem muito importante e
principalmente o que propiciava sua motivação para seus escritos, era o seu
acesso à documentação, por ocupar cargos administrativos no serviço público.
Iglesias cita uma obra produzida por João de Barros que foi a História da
província de Santa Cruz, porém o autor lamenta por essa obra ter se perdido.
Segundo Iglesias, a historiografia brasileira foi marcada por
características sendo denominado por um discurso e escrita narrativa, discurso
que enaltecia a fase colonial, que se preocupava com a oratória e o louvor a
terra. O historiador Pero de Magalhães Gândavo tem sua produção identificada
como a primeira a ser referida como gênero, o cronista tinha a característica de
uma escrita propagandista, na qual tinha por aspecto o louvor a nova terra.
Porém, Iglesias é enfático em ressaltar que o historiador mesmo tendo a nova
terra como base para suas escritas, ele não tinha um conhecimento efetivo do
país, segundo Iglesias seu conhecimento era mais por referências do que por
vivência, sendo uma obra pouco historiográfica.
Até então as produções no início da primeira fase tinham como
característica serem descritivas, que pouco se parecia com a história, porém a
enfática descrição dos homens e da terra. Porém, o mérito pela primeira obra
que teve o interesse de enfatizar sobre o país é dado sem dúvidas a Gândavo,
mesmo ainda não tendo uma característica historiográfica.
O aperfeiçoamento, logo após Gândavo vem através das crônicas
jesuítas com uma fixação melhor sobre as ideias de nova terra. Como, por
exemplo, apontado por Iglesias caso de Fernão Cardim, que ao contrário de
Gândavo teve vivência na nova terra, onde viveu por 40 anos, tendo
oportunidade de escrever melhor sobre o Brasil e sua gente. Os textos de
Cardim tiveram sua primeira publicação no século XVII, porém os mais
significativos foram identificados ainda no século passado. Já no século XX
Capistrano de Abreu, no volume publicado em 1925 de título Tratados da Terra
e Gente do Brasil, tem participação com notas introdutórias.
Ainda no século XVII Gabriel Soares de Souza, português que morava na
Bahia, viveu no Brasil por 17 anos, sua produção escrita foi publicada apenas
no século XIX, com edição de Varnhagen. Gabriel foi considerado o que melhor
descreveu sobre a nova terra no período colonial, mas, não foi uma obra
historiográfica profissional. Em comparação entre Gabriel e Gândavo, a
produção de Gândavo tem uma ênfase descritiva mais rica em relação à
natureza, porém fraca na reconstituição histórica do país.
A primeira obra da História do Brasil foi escrita no início de seiscentos por
um brasileiro chamado Frei Vicente do Salvador que tinha um tom mais crítico
em sua produção, Frei Vicente era baiano, passou por Pernambuco, Paraíba e
Rio de Janeiro. Porém, viveu maior parte do tempo da sua vida na Bahia, era
um intelectual e muito culto, tinha um bom gosto, sendo sua obra marcada por
uma característica mais profissional, com uma composição mais leve e
agradável. Por seu conhecimento e entendimento literário Frei Vicente foi um
autor que teve acesso a documentos e literaturas, ainda tinha o conhecimento
da tradição oral. Sua obra se caracterizou por sua simplicidade e naturalidade
explicita, referindo-se à história, seu aspecto eloquente e retórico como era
notado em Portugal. Porém, um notório exagero de como foi contada a História
do Brasil, que segundo Capistrano de Abreu tinha mais um teor de estórias do
efetivamente a história real do Brasil. Mas Frei Vicente tratou de uma realidade
que tinha preocupação em um Brasil colonial com os colonizadores e não com
o colonizado, retratando a vida e a luta dos indígenas, a subjugação dos
brasileiros e a mau administração no referente, a desonestidade e abuso de
poder. A qual mesmo tímido denuncia através de suas escritas e
principalmente caracteriza-se por um nacionalismo não tão expressivo, porém
implícito.
No século XVII não modifica muita coisa, sendo ainda a história produzida
através das particularidades, não incluindo ainda uma visão geral. Porém, era
compreensível, sendo Iglesias, essa falta de preocupação com uma história
total, porque ainda não havia uma consciência de nacionalidade no Brasil, o
gerava uma fragmentação por falta de conhecimento do país, onde apenas se
conhecia partes dele, o que dificultava uma totalidade na História do país.
Ainda no século XVIII fora escrito e publicado pelo baiano Sebastião Rocha
Pita a “História da América Portuguesa”. Rocha Pita foi um homem importante
no meio acadêmico e nos setores públicos, era um homem dedicado ao
magistério, diferente de seu conterrâneo Frei Vicente, Rocha Pita não era nada
simplista em seu discurso preciosista, grandiloquente, que fugiam da
característica naturalista, com uma linguagem rebuscada. Ainda segundo as
escritas de José Honório Rodrigues, Rocha Pita era o oposto de Frei Vicente,
onde seus textos tinham para Rodrigues explicito o preconceito e discriminação
em relação aos indígenas, negros, judeus, entre outros. Segundo Rodrigues
tinha a característica de contra o Brasil e pró-Portugal.
Ainda essa primeira fase é caracterizada pelo conservadorismo ligado ao
antipopularismo, relacionado à população brasileira e engrandecimento a
Portugal, que enaltecia a figura do colonizador.
André João Antonil era um jesuíta da Toscana que veio para o Brasil, e
que desempenhou cargos sólidos junto aos jesuítas. Sua escrita foi marcada
pela característica da erudição, pela narrativa e pragmático, foi responsável por
uma produção onde explicava com especificidade o detalhamento de técnicas
de produção, plantio e extração de minérios, está produção fora extraviada pelo
governo, mas algumas partes apareceram sendo publicadas no século XIX. Em
seus textos, apesar de ser encontrado um comportamento de orgulho
exagerado, porém ele era muito crítico, em tempo que dificilmente encontrava-
se uma capacidade de análise econômica.
Contudo, ainda no século XVIII é caracterizado pelos aspectos políticos e
a crônica pormenorizada sobre a vida política, religiosa, militar, na qual a parte
social e econômica quase nem é falada. Porém, a linguagem dos textos é
compreendida pelo aspecto redundante, mas mesmo assim muitas produções
atingem um nível historiográfico, no qual os relatos e documentos produzidos
no Brasil seguiram para Portugal, servindo de fontes historiográficas. Essas
características são construídas através das produções, onde se tem a
preocupação em reunir documentos e recuperar o que foi perdido, com isso é
criada à constituição sistemática das disciplinas auxiliares, onde algumas
noções adquirem técnicas eficazes, na construção de escolas de pesquisa. É
então o início da cientificação da História, essa nova realidade traz aspectos de
neutralidade e imparcialidade na forma de se escrever, no qual a partir disso
levou-se ao chamado positivismo. Ou seja, a produção deveria ser justificada
por fontes e documentos, a partir disso a história deve ser vista como ciência.
Com essa renovação no século XIX a historiografia brasileira nessa primeira
fase ainda é marcada pela criação do IHGB em 1838, que fora criado a partir
da repercussão desta nova realidade historiográfica.
Portanto, os estudiosos, especialistas da primeira fase da historiografia
brasileira não conseguiram com suas obras realmente contar a História efetiva
do Brasil. No entanto, não se pode negar suas contribuições em relação à
documentação que produziram, aonde a partir da segunda fase são utilizadas
como documentos fragmentados, sendo fontes a serem estudadas e
reutilizadas de certa forma. A primeira fase, na verdade, foi feita de
especialistas onde catalogaram, redigiram relatórios, crônicas e muitas vezes
eram apenas narrativas sem muito senso crítico, o que não dava uma
efetividade a História do Brasil. Essa fase foi marcada pelo conservadorismo,
enaltecimento do colonizador, por apenas algumas especificidades, onde a
interdisciplinaridade não existia e por fim foi marcada pelo positivismo.

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