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Resumo livro Identidades do Brasil de Varnhagen á FHC Parte I

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878)

O titulo de Heródoto Brasileiro e fundador da história oficial do Brasil, lhes é propicio segundo
José Carlos Reis, a história produzida por Varnhagen foi pioneira pelo fato de ter tido grande
apoio do governo monárquico brasileiro, como também por acesso fácil as fontes oficiais e
pelo seu talento indiscutível de autodidata. Fortemente ligado e influenciado pelo convívio
com a dinastia de Bragança, ele produziu uma história do ponto de vista do conquistador,
exaltando seus feitos e heróis nacionais, a colonização portuguesa que para ele teria sido um
grande feito que abriria possibilidades de um futuro promissor. A história geral do Brasil
superou as demais obras de seus contemporâneos, Reis nos diz que essa história geral do
Brasil refletia uma preocupação nova no Brasil, com sua própria história, com a documentação
sobre o passado, proporcionada pela fundação do IHGB. Reis também relata que a constituição
dessa obra só foi possível por que as condições históricas lhes eram propicio e o processo de
independência e a politica juntamente com a constituição do Estado nacional Brasileiro havia
avançado na década de 1850. A obra de Varnhagen ganhou notoriedade e ele granjeou o titulo
de visconde de Porto Seguro, morando na Europa sua história sofreu influência de Ranke na
sua linha de pensamento, pois ele era bem criterioso na exegese documental. Varnhagen
queria assessorar o jovem imperador na construção da identidade do seu império, e o
imperador precisava dos historiadores para legitimar-se no poder, a nação precisava de uma
historia oficial, de um passado pelo qual se pudesse orgulhar-se, e esse passado é
extremamente luso-brasileira, sua conquista e colonização aparecem na obra de Varnhagen de
forma apaixonante, que mostrou o português como o grande inventou do Brasil, desbravador,
herói que venceu as adversidades físicas dos trópicos e modificou todo o território brasileiro,
lançando as bases da nação. Varnhagen sofreu duras críticas das gerações seguintes, desde
Capistrano de Abreu foi seu maior crítico, acusou Varnhagen de produzir uma história
repetitiva não reconhecendo os movimentos populares. A visão do português como agente
civilizador, que trouxe a cultura, idioma e a religião, lançando as luzes para um mundo
primitivo dominado por selvagens, e a recém-formada nação não sobreviveria sem esse legado
histórico-cultural e político oriundo da Europa.

Gilberto Freyre (1930)

Esses Adjetivos definido por José Carlos Reis tenta definir a importância de Gilberto Freyre e
sua obra para se definir o Brasil posterior a Varnhagen e Capistrano de Abreu, grande casa e
senzala (1933) e sobrados e mocambos (1936), grande casa e senzala é a interpretação mais
conhecida do Brasil no exterior. Reis vai nos mostrar que a obra que Gilberto Freyre produziu
foi uma espécie de auto antropologia da cultura na qual nasceu, a nordestina, o relato de
Freyre aparece vivo em sua complexidade e contraditoriedade. Ele quis mostrar que houve
uma junção entre as varias culturas que formaram o Brasil, Reis vai dizer que ele uma
revivência desse passado colonial brasileiro e uma recriação do nosso passado, em seus
espirito e no leitor de sua obra. Freyre foi fortemente influenciado por Franz Boas,
antropólogo Americano ao qual importou o conceito de cultura e o historicismo, sua
abordagem histórica é não evolucionista, não progressiva e anti-iluminista neokantistas.
Grande casa e senzala é uma obra que tem os princípios varnhagianos, pois, tenta reelogiar e
justificar a colonização portuguesa do Brasil, mostrando o Brasil como uma sociedade original
e multirracial nos trópicos, criação do português, para sua época onde as elites entram em
crise ele traz um Brasil orgulhoso de sua colonização portuguesa, sua legitimação varnhagiana
da conquista e colonização colonial. Reis vai nos dizer que Freyre até supera Varnhagen em sua
justificativa para a escravidão negra dizendo que os meios e as circunstancias exigiam os
escravos, diferentemente de Freyre que defendia a colonização do tipo latifundiária e
escravista, para Varnhagen poderia ser diferente a escravidão poderia ser substituída pela
servidão, para Varnhagen a presença da escravidão negra manchou a bem sucedida
colonização portuguesa e é um ponto de divergência entre Freyre e Varnhagen A historiografia
produzida por Freyre não traz mais como sujeitos os heróis nacionais de Capistrano de Abreu,
mas a historia dos não heróis, dos anônimos, em Capistrano encontra o conceito de raça
substituído por cultura e alguns temas antecipados que irão encorpar a obra de Freyre, como a
escravidão domestica e o caráter doce e alegre do negro. Seguindo a interpretação
Varnhagiana Freyre traça um Brasil continuísta de seu passado colonial, conservador,
patriarcal, orgulha de sua formação Lusa, escravista e colonialista, que Capistrano irá romper
com essa linha elogiadora oriunda de Varnhagen, do elogio à colonização portuguesa. E no
conjunto de sua obra Freyre é enquadrada entre “um descobridor do Brasil”. A obra de
Gilberto Freyre teve duras críticas da recente corrente marxista encabeçada por Florestan
Fernandes, que começará a interpretar o Brasil como uma sociedade de classe, visão essa que
contrapõe todo o pensamento freyriano, quebra essa visão do mundo que o português criou
cheio de harmonia.

Capistrano de Abreu

Com Capistrano surge um povo brasileiro, em historia geral do Brasil, critico assíduo de
Varnhagen e leitor atento, ele começa a sua inovadora interpretação do Brasil, não somente
em termos de sua origem social, mas além em termos de uma nova aurora intelectual do Brasil
nos anos 1870, distinguindo a realidade brasileira e o pensamento que eles próprios
produziam. Capistrano defendia o povo e sua formação étnica, diferente de Varnhagen que
defendia o Estado imperial. Capistrano pensava que a sociedade poderia ser estudada com a
mesma objetividade que se estuda a natureza. Nessa aurora intelectual do século XIX o
pensamento histórico brasileiro se dividiu na escola de Recife mais historicista e a do Rio de
Janeiro mais positivista. Capistrano era bem rigoroso em sua analise documental, influência
alemã ele defendia os acontecimentos como realmente tinham ocorrido. Tomara de
Varnhagen essa posição em principio Rankiana, ele era muito atento às teorias da história, não
saiu do Brasil, mas era um estudioso inteirado com as ciências sociais europeias. Muito
influenciado pela corrente cientificista, ao qual escrevia artigos e fazia palestras. Em plena
revolução dos annales, passou do método positivista para o realismo histórico alemão em
contra posição dos annales francês. Alguns consideram que Capistrano fez uma reviravolta na
historiografia brasileira, com seus conhecimentos e posição teórica. Ele redescobrirá o Brasil
valorizando seu povo, seus labores e lutas, costumes, clima tropical e a natureza no geral,
recuperando seu passado, procurando suas identidades em contraposição das elites luso-
brasileiras. Sua principal obra foi Capítulos da historia colonial, que irá englobar todos os
aspectos da historia brasileira como historicista, não uma historia politica-administrativa ou
biográfica, mas o povo e sua vida em sua complexidade étnica e social. Ele valoriza a presença
dos índios, suas miscigenações mostram o quanto nosso pais foi alterado pela colonização,
adentrando sertão mostra como ocorreram as transformações da personalidade brasileira, que
segundo ele nasce esse homem novo inexistente no mundo, ele mostra um Brasil novo, que os
seus antecessores não optaram por mostrar. Segundo Reis capítulos da historia colonial foi
uma redescoberta do Brasil e ao mesmo tempo foi um elogio ao espírito guerreiro brasileiro
em suas rebeliões por independência e liberdade.

Sergio Buarque de Holanda

Buarque assim como Capistrano de Abreu sofreu com uma educação rígida, contudo se
superou achando nos livros seu melhor caminho de ascensão social. Sua principal obra foi
raízes do Brasil, bastante influenciada pelo historicismo alemão, em raízes do Brasil ele mescla
os contatos que tivera com a sociologia e a escola Rankiana na Alemanha, onde se nota a
influência weberiana e Rankiana. Buarque escreva num época de mudanças sociais, estruturais
e politicas no Brasil dos anos 30, o Estado começa a investir na educação superior
desvinculando-a da religião, o campo de atuação da história se alarga com sua união com as
ciências sociais. Essas mudanças fizeram com que a historiografia de Buarque ganhasse corpo
e consistência, um Brasil que precisava ser conhecido pelas suas peculiaridades. Com a luta
pela cidadania no século XIX, passou a defender a inclusão de negros, mulheres e pobres na
sociedade, dizendo ele que o Brasil não teria futuro se excluindo sua própria população, esse
Brasil precisava mudar e não mais ficar nas mãos dos conquistadores, nessa visão Buarque diz
que o Brasil precisava ser redescoberto e reconstruindo sua própria população e deverá ser
bem diferente de seu passado colonial, nesse sentido ele segue segundo o autor a linha de
Capistrano de Abreu e será um dos pensadores da revolução brasileira. Em raízes do Brasil,
Buarque nos mostra forte influência do pensamento alemão moderno de Dilthey e Weber,
onde mostra a especificidade temporal de cada realidade histórica aplicando ao Brasil, que irá
também incluir a sociologia compreensiva weberiana, uma historia que recorre a sinais e recria
situações, não necessitando de leis ou politica, estudando os homens e suas ações sem se
submeter a leis, já o seu historicismo só aparece nas suas temáticas, Reis vai também citar que
a interpretação do Brasil de Buarque também é psicológica, pois ele queria conhecer a vida
humana do brasileiro e do ibérico para assim revivê-la e recriá-la em seu contexto. Não se
prendia a tradições embora o historicista gostasse delas, diferente de Gilberto Freyre seu olhar
para o passado brasileiro é sem lamento das glorias oligárquicas passadas, prefere que o Brasil
se refaça com seus novos sujeitos sociais e mentalidades, tinha desejo que o Brasil fosse sem
senhores e sem escravos, habitados por cidadãos, onde todos soubessem seus lugares e
convivessem pacificamente. Esse mundo que o português criou não mais a essa altura
interessa mais, e o Brasil precisa criar seu próprio mundo e fará isso rompendo com seu
passado colonial português. E segundo ele o Brasil é mais português do que gostaríamos que
fosse e ele nos chama de neoportugueses e devamos nos tornar Brasileiros.

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