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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - PEDAGOGIA

RESENHA SOBRE O LIVRO “ VIDA SOCIAL NO BRASIL NOS


MEADOS DO SÉCULO XIX “ DE GILBERTO FREYRE.

TÁISLA SANTOS CARVALHO DA SILVA

SALVADOR
2022
TÁISLA SANTOS CARVALHO DA SILVA

RESENHA SOBRE O LIVRO “ VIDA SOCIAL NO BRASIL NOS


MEADOS DO SÉCULO XIX “ DE GILBERTO FREYRE

Trabalho apresentado ao componente curricular


História da Civilização Brasileira, Faculdade de
Educação, Universidade Federal da Bahia, como
requisito avaliativo para aprovação do mesmo.

Docente: Carlos Eugenio Libano Soares

SALVADOR
2022
A obra “Vida Social no Brasil nos meados do século XIX “ de autoria de Gilberto
Freyre, sociólogo, antropólogo, deputado e professor universitário brasileiro,
perpassa desde o seu início, sob uma reconstituição notável de aspectos cruciais e
pouco relatados no dia a dia.Menos ostensivamente públicos e oficiais, no entanto,
de uma significância tamanha para entender o caminhar histórico do modo de vida
da sociedade brasileira daquela época, na qual o patriarcalismo predominava e
resplandecia fortemente nos espaços urbanos e rurais.
Ademais, o livro emerge um forte embate sobre o alto grau de miscigenação da
população brasileira presente naquela época, bem como a forte presença da Igreja
Católica na sociedade e a concentração do poderio político nas mãos de poucos, de
uma elite regida a discursos classistas e retrógrado – inspirados ainda em um molde
europeu que em nada valorizava o espírito brasileiro de progresso. Uma sociedade
que para Freyre, vivia em constante atraso e retrocesso, comparada por ele a uma
sociedade Feudal, sendo detalhado dessa ótica diversos aspectos sociais de
verossimilhança.
Por conseguinte, a obra – realizada por ele quando recém tinha saído da
faculdade – vai servir para compor reflexões e esboços para o que viria a seguir
com seu trabalho “Casa-grande & senzala'' e entre outros trabalhos célebres do
autor.Ao fazer uma tentativa de ruptura epistemológica de conceitos, Freyre vai
relocar a discussão de raça do campo da Biologia, das ciências biológicas – como
costumava ser a tradição do pensamento brasileiro naquela época – para trazer
para o campo das ciências sociais, propondo assim que a raça não é categoria
biológica e sim cultural. Dessa maneira, ele vai ser importante por possibilitar um
novo olhar sobre as relações étnicos - raciais, visto que fez uma transfiguração do
estudo das relações sociais aqui no Brasil, e, sendo assim, nos apresenta uma
realidade crua do que somos formados. Um Brasil dos meados do século
XIX.Entretanto, há uma certa incompreensão em relação a sua obra, visto que o
movimento negro sempre critica ele sobre luz ao conceito de democracia racial.
Freyre com suas obras foi muito criticado e acusado por não ter retratado de
maneira fidedigna a relação entre negros e brancos, entre dominadores e
dominados e o terror da escravidão vivenciada durante o Brasil Colônia. Vale
ressaltar que Freyre fez parte de outra época, de outro tempo, logo, muitos
pensamentos retratados em sua obra refletem um pensar diferente da nossa
sociedade hodiernamente.Ele defendia a miscigenação das raças como
imprescindível para a formação da sociedade brasileira, uma sociedade diferente a
dos países europeus, híbrida e sobretudo, formada por vários “Brasis”. E, esta
mistura de raças na qual tanto Freyre retrata, será bem discorrida na obra, ao trazer
inclusive dados das características raciais da população, na qual a miscigenação
imperava e era muito evidente e frequente a mistura de brasileiros brancos com
“gentes de cor” – inclusive de europeus. No entanto, mistura essa que não ocorria
com tanta frequência no sul do Brasil, com brancos colonos vindos do Norte da
Europa, ao contrário dos portugueses.
Em um artigo publicado em 1987 no O Diário pelo estatístico brasileiro F. Nunes
de Souza, reforça-se bastante esse perfil brasileiro, sendo a partir dos dados, a
população brasileira da época compsota por cerca de 7.360.000 habitantes,
2.120.000 classificados como brancos; 1.100.000, como mulatos livres; 3.120.000
como negros escravos; 180.000, como nativos africanos liberto; e 800.000, como
índios. Dessa maneira, elucida-se fortemente o fato de que a população de “cor”
predominava, sendo um fator crucial para o caminhar brasileiro.O que é
contraditório é o teor altamente excludente e embaraçoso a respeito dessa mistura
de povos, prevalecendo sempre o enaltecimento e valorização da cor branca e da
origem européia.
Os anúncios traziam nos jornais brasileiros nessa época, a condição de
escravizados à venda ou de escravos fugidos que alastrava-se, e foi um dos indícios
de que já era “comum” a miscigenação aos olhos da sociedade brasileira.Eram
comuns anúncios com termos como “mulatinhas”, “mulatas de bonita figura”,
“pardos”, “acobreados”, de “cabras”.Sendo esta última colocada – pejorativamente,
quiçá – com tamanha naturalidade por Freyre, explicitado pelo mesmo que o que
distinguiam das cabras animais era apenas a especificação, sendo então postos nos
anúncios como cabras homens e cabras mulheres – sempre mestiços – , bem como
“cabrinhas” quando se referia a crianças mestiças. O que desvela um certo teor
agonizante à maneira como se referiam à população mestiça na época.
Dessa maneira, com relação ao abordado, no século passado existiam dois lados
antagônicos que formavam a sociedade brasileira, de um lado via-se os
escravocratas e propriedades de terra e de outro, os escravos. E ele traz que em
1881, o francês Louis Couty tece algumas observações e impressões sobre o Brasil
ainda patriarcal e escravocrata, e uma delas, é sobre não se ter "um povo", na qual
não possuía um povo considerável pertencente a classe média e produtiva, e, para
além disso, existiam também pequenos lavradores e "pequenos burgueses" nesse
meio. Em geral, quem compunham esse grupo de pequenos burgueses eram os
portugueses e marinheiros.
Assim como Freyre assinalou perspicazmente, naquela época, a força da nobreza,
bem como seu poderio econômico e social, era ditado pela quantidade de escravos
que se tinha e também pela sua larga e extensa posse de terras.Mas, por fim, o que
imperava e prevalecia – no quesito valorização – mesmo era a quantidade de
escravos que se possuía.Chamava-se de senhores de engenho os donos mais
poderosos desses donos de terra e de escravos, e ao decorrer do território
brasileiro, esses senhores mudavam seu interesse de plantio, no Sul tinha-se
proprietários de terra para plantio do café, no Nordeste prevalecia a cana-de-açúcar
e no Sul o que ganhava a vez era o plantio de café.
O livro discorre cabalmente sobre o processo de transição e modificações
econômicas que ocorreram em algumas províncias do Brasil, a exemplo de São
Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e até mesmo a Bahia. Em Minas Gerais
prevaleceu durante muito tempo o poderio das minas – província esta que fora
colonizada pelos garimpeiros – mas após a independência do Brasil, a mineração
deu lugar à atividade agrária, ficando muitas cidades de Minas Gerais em uma
situação difícil, já que acabaram de perder certa força do seu ouro e pedras
preciosas.São Paulo prosperou sob a égide da exportação de café, e Pernambuco
teve seu progresso agrícola pautado no açúcar, sendo até então Recife o mais forte
mercado açucareiro da época, concentrando-se a maioria na região conhecida
como “Zona da Mata”. Região essa retratada por Freyre na qual os proprietários
viviam numa espécie de feudo, dotados de um estilo econômico e social parecido.
Ademais, o grande contingente populacional vivia desde os períodos coloniais na
costa brasileira. E foi no urgir do dito século de ouro que ocorreu uma migração
considerável do litoral para o centro do território brasileiro. Já em meados do século
XIX ocorreu de outra forma, a população saia do Norte açucareiro para o Sul
cafeeiro. E o sertão do país era considerado uma região misteriosa, e perigosa até,
terra sem lei com policiamento quase que irrisório, embora fizesse parte do sistema
patriarcal.Motivo este provável pelo qual o sertanejo com toda gana e sina não
tinham medo nem mesmo do sistema de recolhimento de impostos. A Bahia, por
sua vez, rival de Pernambuco, já que possuía também muitas plantações de cana-
de-açúcar, sofreu fortemente com uma epidemia de cólera que matou mais pessoas
do que o restante do Brasil – a epidemia alcançou de norte a sul – , e os escravos
foram os que mais sofreram.
Quanto ao processo de industrialização, no Rio de Janeiro ficou o foco dos
interesses manufatureiros, tendo cerca de cinquenta e duas fábricas localizadas na
região.Já em Pernambuco, ocorreu o inevitável: uma certa introdução da
modernização no processo de fabricação do açúcar e não demorou muito para que
a indústria do açúcar trouxesse interesse dos franceses e ingleses. Os franceses
aqui se destacaram com as modistas, relojoeiros, artigos finos e entre outros,
enquanto os ingleses ficaram famosos com uma astuta engenharia mecânica.Mas o
que chamou a atenção mesmo dos europeus foi a mão de obra escrava negra,
muitos dotados de uma habilidade admirável, a exemplo da confecção de flores
artificiais feitas com penas de pássaros e na confecção de elegantes roupas e
bordados. Assim como nos jornais da época estavam repletos de anúncios com
referências a escravos negros e pardos habilidosos nessas práticas supracitadas.
As primeiras estradas de ferro do Brasil ganharam forma por volta da década de
1850, entretanto só cerca de 20 anos depois das primeiras construções – ligadas ao
capital estrangeiro – é que as estradas de ferro foram um dos determinantes para o
mover diário da sociedade brasileira e as ferrovias foram presentes inicialmente em
São Paulo, na Bahia e em Pernambuco.Para além disso, teve-se presente outro
meio de transporte nas principais capitais, na qual foi relato por Freyre como sendo
uma espécie de ônibus, chamado no Rio de Janeiro de “gondola”. Um fato curioso
relato e que cabe também ser mencionado é que dromedários já estiveram
presentes no Brasil, mais especificamente no Ceará, como Freyre coloca como “um
verdadeiro episódio de mil e uma noites”, e foram usados para tentar sanar o
problema de transporte no semiárido nordestino.
Freyre cita a impressão que um estrangeiro teve ao viajar pelo interior do Brasil:
“O proprietário de um engenho de açúcar ou de uma fazenda de gado é,
praticamente, senhor absoluto. [...] capazes de levar inúmeros vassalos e sequazes
para a luta, a tranquilidade das províncias era a princípio seriamente perturbada
pelas revoltas, que davam ao governo muito trabalho”. Com a citação que o autor
traz, pode-se verificar que o proprietário de terra assemelhava-se, como já dito
anteriormente, a um senhor feudal, na qual toda uma comunidade vivia na sombra
de suas regalias e caprichos, tendo inclusive o governo receio dele. Outrossim, os
engenhos no geral, possuíam seus próprios eixos econômicos e sociais, isolando-se
assim por muitas vezes do mercado exterior, portanto tendo como base suprir o
mercado interno com cana-de-açúcar, café, mandioca, feijão-preto e dentre outros
produtos assim produzidos.E, paralelamente aos engenhos, estavam ocorrendo o
desenvolvimento de pequenas indústrias caseiras, como as de queijo coalho e as de
vinhos de jenipapo.
E quanto aos trabalhadores escravos presentes nesses grandes engenhos,
Freyre introduz uma fala de um observador estrangeiro de que eles eram bem
alimentados e recebiam cuidados dos senhores, fazendo alusão a como se fosse
uma “família de crianças”. Três refeições e um pouco de aguardente pela manhã
para aquecer do frio e para os animar, parecia ser mais que suficiente.É relato
também que a escravidão no Brasil agrário-patriarcal, pouco teve de cruel e que em
meados do século XIX o escravo tinha uma vida de anjo, ao compará-los com
escravos ingleses.No entanto, cabe salientar, que muitos escravos foram tirados
forçadamente de suas casas e impostos num esquema de inculturação, suprimindo
muitas vezes sua própria vontade.Logo, é preciso fazer uma leitura atenta e separar
o contexto social em que Freyre estava inserido, do contexto obscuro que
hodiernamente faz-se presente daquela época.
Mais adiante, o autor introduz uma análise com alguns aspectos de como era a
realidade das mulheres nessa época – sinhás e escravas – , mas que embora em
realidades distintas, possuíam algo em comum que era a condição submissa que
era inserida a figura da mulher.As sinhás eram destinadas a cuidar e manter a
ordem no lar e eram repletas de escravos e servos, por isso para muitos elas eram
repletas de regalias e ociosidade – preguiçosas. No entanto, elas pouco saiam de
casa, e quando saiam, costumavam fazer suas compras no período da manhã, para
que logo retomasse seus afazeres domésticos, e passava a maior parte do seu
tempo em casa, sem ter o direito a fala e escolha de muitas questões.Como as
sinhás representavam para os homens uma mulher pueril – a maioria casava-se
antes dos dezoito –, não eram vistas como símbolo sexual, logo, as escravas
negras – na flor da idade – que acabavam por iniciar os homens em sua vida
sexual, e, muitas vezes engravidavam dos seus senhores e as sinhás acabavam
criando, em salvos casos, os filhos do marido.
Como dito anteriormente, o apreço pelas mulatas na flor da idade era tamanho, e
Freyre coloca que o que ocorriam nesses espaços, nesses “feudos” eram
verdadeiros haréns, visto que o senhor tal qual o seu filho satisfaziam seus gostos
sexuais com as suas escravas – das pretas retintas às mulatas claras. E, dessas
relações, frequentemente, geram-se muitos filhos mestiços, sendo alguns criados
juntamente com os filhos brancos. Freyre pontua uma curiosidade que o historiador
Oliveira Lima informa a ele pessoalmente, de que alguns desses chamados
mestiços ladinos – descendentes de europeu de boa linhagem – viriam até a
conquistarem posições de prestígio social e serem líderes, como é o caso de dois
mestiços que chegaram na presidência da República.
Os homens brasileiros neste tempo não eram muito adeptos à uma vida caseira,
a rua e a vida “de camaradagem” os atraia, enquanto as mulheres possuíam uma
posição de respeito e passavam mais tempo em suas casas.O autor fala também
que a religião – católica – tinha lugar imprescindível no seio familiar, visto que a
disciplina doméstica seguia preceitos de cunho católico e desde a tenra idade as
crianças aprendiam, principalmente com suas mães, a serem tementes a Deus.E
isso refletia com ênfase nas relações diárias da família e isso era vivido com
tamanha intensidade, a exemplo de que deveriam agradecer à Deus antes e depois
das refeições e ao deitar ou levantar rezavam e agradeciam mais uma vez.No
entanto, quando essa disciplina falhava, recorriam com severidade e certo exagero
a ação do chicote, inclusive os escravos também eram punidos de formas
repugnantes quando cometiam algo que desagradasse seus senhores, a exemplo
de furtos, vícios e fugas. Ou seja, o castigo era certo.
Ademais, Freyre também traz algumas observações acerca da postura que os
pais tinham perante a educação dos filhos: as filhas a partir de oito ou nove anos
eram enviadas para um internato religioso, para assim dar continuação à sua
educação que foi iniciada em casa e lá, segundo o autor, para aprender a delicada
arte de ser mulher. As famílias que não enviassem para o internato, no geral,
iniciavam a busca por tutores para que as instruíssem. E, amadureciam muito cedo,
na maioria das vezes casavam muito novas, em casamentos arranjados, e
carregavam um semblante triste.Casamentos precoces, que traziam para essas
mulheres meninas, o fardo já de serem mães com a mocidade tendo às sido tirada
muito cedo e sem conhecerem intensamente a vida.
Segue então a descrever que assim como as meninas, os meninos cresciam
numa precocidade tamanha , tendo sido roubados da sua mocidade, aos dez anos
já pareciam a miniatura de um homem. A exemplo de Dom Pedro II, que foi
imperador aos quinze anos de idade. Então cedo era enviado para o internato, com
raras vezes que visitava suas casas – uma vez ao mês – , ainda que morasse
próximo da escola. Dessa maneira, as famílias asseguravam que ele iria se
desenvolver mais rápido, distantes da famílias, ficando logo um homem maduro.
Assim como as meninas, Freyre relata que através das fotografias pode-se observar
um ar tristonho no semblante e crianças vestidas já como pessoas adultas. A
escolha profissional ficava por incubência dos pais, com o intuito de que a família
patriarcal fosse representada nas diversas profissões importantes. Em geral, um era
escolhido para cursar Direito, outro para cursar Medicina, um terceiro para ser
cadete na Escola Militar e um quarto para ingressar num seminário.Em verdade , as
famílias tinham que ter um padre.
Quando esses acadêmicos iam para as cidades do litoral a fim de ingressarem
numa universidade, vinham acompanhados de escravos de confiança da família
chamados de pajens.Eles ficavam de olho nos filhos dos seus senhores e
funcionavam como uma espécie de vigia, encarregados de zelar pela saúde e,
quando preciso fosse, pelo comportamento dos filhos dos seus senhores. Em
alguns casos os pajens patriarcais influenciavam os jovens a conhecerem muitas
mulheres brancas na cidade, a fim de que se desgarrassem da família e, como cita
Freyre, suas “mulatas de estimação”.O que desvela a tentativa do escravo de
romper com a concórdia da família.
Mais adiante, ele tece algumas observações sobre as ruas repletas de mendigos
na década de 1850.Diz que alguns desses eram velhos negros doentes que eram
jogados na rua pelos seus senhores.Mas havia também mendigos que não sofriam
de nenhuma enfermidade e ainda assim moravam nas ruas.Fala também sobre a
situação deplorável de imundície que se encontravam as cidades.Higiene pública?
Não se ouvia falar sobre.Segundo um esboço que Freyre traz da história dos
serviços de saúde pública, tem-se uma descrição de como era o Rio de Janeiro
naquele momento: “Uma cidade imunda, na qual, pode-se dizer, não havia ar, nem
luz, nem esgotos, nem limpeza das ruas.[...] onde os mosquitos proliferavam
livremente.” Logo, vale salientar que a população precisava de cuidados básicos,
necessários para a manutenção da saúde pública, nem mesmo a coleta de lixo e de
excrementos eram realizadas da maneira ideal.
Freyre também cita a inexistência de encanamento para drenagem e a falta de
uma rede distribuição de água nas casas, tendo-se apenas o charafiz como sistema
de suprimento de água para a população urbana, fonte esta já obsoleta na Europa.
Logo, para driblar um pouco a falta d’água, utilizavam escravos avantajados para
carregarem a água e os mais pobres, por não possuírem poços, tomavam banho em
rios. Tal qual foi um período marcado pela precarização da saúde pública, a década
de 1850 no Brasil foi marcada por uma elevada mortalidade devido à epidemia de
Febre Amarela e a Cólera e a crença religiosa era o que acalentava a vida dos
familiares que perderam seus entes queridos.
Outrossim,ao trazer àquela realidade de falta de cuidados para os dias atuais,
pode-se constatar uma ligeira semelhança, no que diz respeito à postergação de
falta de cuidados e omissão com a saúde da população brasileira.Por conseguinte,
ler Gilberto Freyre desperta a curiosidade, desperta o senso crítico. É sabido então
que com todos estes escritos relatados por ele em seu livro, mesmo naqueles
tempos outros, respeitando-se todas as particularidades sociais e políticas inerentes
àquela época, pode-se ver claramente uma verossimilhança com o atual, com o que
o Brasil é hoje em dia.
A questão conceitual que é polêmica em Freyre, é o conceito de equilíbrio de
antagonismos, mas é preciso entender sua obra no contexto histórico na qual ela foi
elaborada e é importante destacar o papel que ele desempenha em trazer a questão
racial para a dimensão das ciências sociais, rompendo uma lógica que era
tradicional no pensamento brasileiro em vez a raça como categoria biológica.
Analisar quais são os fundamentos sociológicos e as relações sociais sob esse
prisma, talvez seja uma das coisas mais desafiantes em Gilberto Freyre.
REFERÊNCIA

FREYRE, Gilberto. A vida social no Brasil nos meados do século XIX. São
Paulo, Global, 2008, pp. 59-90.

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