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Jeferson Bacelar**
*
Esta é uma versão inicial e reduzida de um capítulo do trabalho “A comida dos baianos no
século XIX”, cuja pesquisa foi realizada com o apoio do CNPQ. Agradeço a João Reis, pelo
constante subsídio bibliográfico.
**
Professor da Universidade Federal da Bahia. E-mail: bacelarj@ufba.br
1
Katia M. de Queirós Mattoso. “A opulência na província da Bahia”, in Luis Felipe de Alencastro
(org.), História da vida privada no Brasil: Império (São Paulo: Companhia das Letras, 1997) p.
147.
2
Luis dos Santos Vilhena, A Bahia no século XVIII. Bahia: Itapuã, 1969, pp. 279 e 284. A
edição tem três volumes, e as citações aqui utilizadas são majoritariamente do primeiro volu-
me. Quando retiradas dos volumes 2 e 3, serão devidamente identificadas. O livro foi origi-
nalmente editado com o título Recopilação de noticias soteropolitanas e brasilicas, Bahia:
Imprensa Official do Estado, 1921.
3
Convém notar que a denominação erudita para os nascidos em Salvador, soteropolitanos —
de sotero (“salvador” ) + polis (“cidade”) —, permanece até os dias de hoje.
4
Nas Cartas se autodenomina Amador Veríssimo de Aleteya, que em grego significa “fiel ami-
go da verdade”. As primeiras Cartas foram enviadas a D. João, a quem denomina Filipono,
ou seja, “amante do trabalho”. Já as quatro últimas foram encaminhadas a D. Rodrigo de
Souza Coutinho, a quem chama de Patrífilo, ou seja, “amigo da pátria”. Vilhena, A Bahia, p.
29 e Vilhena, A Bahia, v. 3, p. 757.
5
As informações sobre a vida e o pensamento de Vilhena foram obtidas em Leopoldo Collor
Jobim, “Luis dos Santos Vilhena e o pensamento iluminista no Brasil” (Dissertação de Mes-
trado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1981).
6
Gregório de Matos, Antologia Gregório de Matos Guerra. Seleção e notas de Higino Barros.
Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 103.
7
Katia M. de Queirós Mattoso. Bahia, século XIX. Uma província no Império. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1992, pp. 84-90.
8
Vilhena, A Bahia, pp. 197, 199, 231, 232.
9
Sobre os contrastes, do ponto de vista simbólico, entre o açúcar e o fumo, ver Fernando
Ortiz, Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar, Habana: Editorial de Ciencias Sociales,
1983, pp. 1-17.
10
Vilhena, A Bahia, p. 200.
11
Vilhena, A Bahia, p. 202. Ainda hoje, o aipim cozido faz parte do café da manhã de muitos
baianos, servido quente com manteiga.
12
Vilhena, A Bahia, pp. 156-8.
13
Estudiosos do tráfico estimam que Salvador teria recebido, entre 1678 e 1830, cerca de 790.000
africanos. Ver Manolo Florentino, Alexandre Vieira Ribeiro e Daniel Domingues Silva, “As-
pectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil (séculos XVIII e XIX)”, Afro-Ásia,
v. 31 (2004), p. 97.
14
Sobre as crises de alimentação, ver B. J. Barickman, Um contraponto baiano. Açúcar, fumo,
mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003, p. 133.
15
Vilhena, A Bahia, p. 159. Trata-se de uma referência a Roma, que se valia da Sicília em
tempos de escassez.
16
Sobre o abastecimento dos navios em Salvador, desrespeitando as normas estabelecidas, ver
Jaime Rodrigues, De costa a costa. Escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro
de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860), São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 60.
17
Thales de Azevedo, Povoamento da cidade do Salvador, Bahia: Itapuã, 1969, p. 298.
18
Avanete Pereira Sousa, A Bahia no século XVIII. Poder político local e atividades econômi-
cas, São Paulo: Alameda, 2012, p. 151.
19
Sobre a importância da pecuária para a economia baiana, além de Sousa (A Bahia no século XVIII),
ver Azevedo, Povoamento. pp. 320-36: Stuart B. Schwartz, Segredos internos. Engenhos e escravos
na sociedade colonial, São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 88; Eurico Alves Boaventura,
Fidalgos e vaqueiros, Salvador: UFBA-Centro Editorial e Didático, 1989; Maria Aparecida Silva de
Sousa, A conquista do Sertão da Ressaca: povoamento e posse da terra no interior da Bahia,
Vitória da Conquista: UESB, 2001; Erivaldo Fagundes Neves, Uma comunidade sertaneja: da
sesmaria ao minifúndio. Um estudo de história regional e local. Salvador/Feira de Santana: EDUFBA/
UEFS, 2008. pp. 183-226.
20
Neves, “Policultura e autossuficiência”, p. 187.
21
Neves, “Policultura e autossuficiência”, p. 185.
22
Azevedo, Povoamento, pp. 273-4.
23
Vilhena, A Bahia, p. 41.
24
Vilhena, A Bahia, p. 50.
25
Vilhena, A Bahia, p. 479.
26
Petitingas são petiscos muito comuns nos bares de Salvador.
27
Moquecas, sem dendê, são bastante raras hoje. Mesmo assim, anos recentes, o bar e restau-
rante Rombiamar, na Boca do Rio, sempre servia essas moquecas, apimentadas, que vinham
do interior.
28
“Saem da vila da Cachoeira diferentes estradas, o que concorre muito para faze-la famosa,
pois que de todas as minas, e sertões se vem dar àquele porto; há muitos pastos em que se
refazem as cavalgaduras, que pisam aquelas estradas, e os viajantes ali vão deixar uma grande
parte do seu dinheiro. A estrada que sai por S. Pedro da Muritiba estende-se até Minas Novas,
Rio de Contas, Serro do Frio, e todas as minas gerais, até que circulando vai sair ao Rio de
Janeiro; sai outra que passando pela vila de Água Fria, passa às minas da Jacobina, corta
parte do Piauí, e conduz até o Maranhão; e além destas saem outras de menos conta, e menor
distância.” Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 483.
29
Segundo Barickman, Jaguaripe e Maragogipe forneciam grande parte da farinha vendida no
mercado de Salvador. Ver Barickman, Um contraponto baiano, p. 173. De referência a Nazaré,
contida na vila de Jaguaripe, a que Vilhena são se refere, informa Graham: “No mercado de
Nazaré aos sábados, 10 a 12 mil alqueires de farinha eram vendidos. Os barcos de Nazaré e
Jaguaripe juntos providenciavam 43% da farinha de Salvador” (tradução livre do autor). Ver
Richard Graham, Feeding the City: from Street Market to Liberal Reform in Salvador, Brazil.
1780-1860, Texas, USA: University of Texas Press, 2010, p. 86.
30
Sobre a autossuficiência das fazendas de tabaco, que muitas vezes produziam também feijão
e milho, além de mandioca, ver Barickman, Um contraponto baiano, p. 103.
31
Vilhena, A Bahia, p. 492.
32
Tendo em vista que Vilhena não viajou pelo interior da Bahia, muito menos por outras capita-
nias, embora seu relato chegue à Amazônia, deixo de apresentar o seu capítulo sobre as rique-
zas naturais do Brasil. Suponho que o mesmo, em grande parte, teria se baseado em outros
cronistas, sendo uma cópia empobrecida de autores como Gabriel Soares de Sousa, Tratado
descritivo do Brasil em 1587, São Paulo: EDUSP/ Nacional, 1971; Pe. Fernão Cardim, Tra-
tados da terra e gente do Brasil, São Paulo/Brasília: Nacional/INL, 1978; Maria Leda Olivei-
ra, A história do Brasil de Frei Vicente do Salvador: história e política no Império Português
do século XVII, Rio de Janeiro/São Paulo: Versal/ Odebrecht, 2008. Assim como vários ou-
tros, ele passeia da fartura alimentar ao inferno na terra, com os “tigres inimicíssimos dos
jacarés”. Ver Vilhena, A Bahia, v. 3, pp. 675-733.
33
Vilhena, A Bahia, p. 497. A cachaça de Parati manteve-se em parte do século XX com grande
prestígio. E a de Camamu? Talvez os historiadores possam esclarecer.
34
Vilhena, A Bahia, p. 501.
35
Sousa, A Bahia no século XVIII, p. 38.
36
Azevedo, Povoamento, pp. 325-6.
37
Graham, Feeding the City, p. 122.
38
Vilhena, A Bahia, p. 502
39
Vilhena, A Bahia, pp. 510-1.
40
Vilhena, A Bahia, p.518.
41
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 520.
42
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 521.
43
Vilhena, A Bahia, v. 2, pp. 523-4.
44
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 525. Hoje, a localidade denomina-se Cumuruxatiba.
45
Vilhena, A Bahia, v. 2, pp. 526-7.
46
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 528.
47
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 561.
48
Vilhena, A Bahia, v. 2, p. 561.
49
Antonio Risério, Uma história da Cidade da Bahia, Rio de Janeiro: Versal, 2004, p. 238.
50
Azevedo, Povoamento, p. 275.
51
Vilhena, A Bahia, p. 948.
52
Vilhena, A Bahia, p. 59.
68
Vilhena, A Bahia, p. 59.
69
Unidade portuguesa de capacidade para líquidos, correspondente a 1,4 litros. Para A. Saramago,
a medida corresponde a cerca de dois litros. Ver Cristiana Couto, Arte de cozinha. Alimenta-
ção e dietética em Portugal e no Brasil (séculos XVII-XIX), São Paulo: SENAC, 2007, p.157.
70
Vilhena, A Bahia, p. 61.
71
Relativamente, porque algumas vilas eram grandes produtoras de alimentos, como Nazaré
das Farinhas. E, mesmo em Salvador, existia uma produção, a ser avaliada, de mandioca,
feijão e legumes.
72
Vilhena, A Bahia, p. 41.
73
Graham, Feeding the City, pp. 74-91. O autor traça uma excelente radiografia da população
marítima, sua composição e suas relações sociais, e da tipologia das embarcações, mas em
grande parte com informações da segunda metade do século XIX.
74
Era a Câmara Municipal do período, com atribuições hoje divididas com as esferas estaduais
e federais. Constituía-se no órgão governamental da Coroa Portuguesa. Ver Sousa, A Bahia
no século XVIII, livro que, em grande parte, trata da organização do poder político.
75
Graham, Feeding the City, p. 174.
76
Segundo o mapa de Vilhena, o celeiro situava-se, na época, na freguesia da Conceição da
Praia, nas proximidades do atual Mercado Modelo ou no local em que hoje se encontra.
83
Vilhena, A Bahia, p. 157.
84
Em alqueires, seriam as seguintes correspondências: farinha, 3 669 769; milho, 267 839, 1/4;
arroz, 131 475, 1/2; feijão, 94 475, 3/4. Vilhena, A Bahia, “Memória dos Rendimentos do
Celeiro Público da Cidade da Bahia desde 9 de setembro de 1785, dia da sua abertura, até
dezembro de 1798”, p.72.
85
O que contraria o postulado de Cascudo, de que “Poderiamos dizer o binômio feijão-e-farinha
estava governando o cardápio brasileiro desde a primeira metade do século XVII. Luis da Câ-
mara Cascudo, História da alimentação no Brasil, São Paulo: Global, 2004, p. 441. Entretanto,
não se pode desconhecer, segundo Papavero, que o feijão já estava presente no Brasil, inclusive
por serem conhecidos na Europa de longa data, desde o século XVII. Porém, ser um ingrediente
valorizado na dieta local, era outra coisa. Ver Claude G. Papavero, “Ingredientes de uma identi-
dade colonial: os alimentos na poesia de Gregório de Matos” (Tese de Doutorado, Universidade
de São Paulo 2007), pp. 241-4. São intrigantes os dados apresentados por Russel-Wood, a partir
de um documento de 1749, em relação à alimentação da casa de retiro da Santa Casa de Mise-
ricórdia, onde as recolhidas recebiam “3 quartos de farinha de guerra por pessoa, mensalmente,
e 6 para a regente” e, ao mesmo tempo, “9 quartos de feijão para todas, mensalmente”, in
Russel-Wood, A. J. R. Fidalgos e filantropos: a Santa Casa da Misericórdia da Bahia, 1550-
1755. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1981, pp. 262-3. Um documento do século
XVIII, encontrado por Luís Mott no Arquivo Público da Bahia, registra a presença do feijão e da
farinha na alimentação dos baianos, além de o arroz aparecer com frequência. Desse documento
se dará conta, oportunamente, no texto “Uma mesa aristocrática de um prisioneiro no século
XVIII na Bahia”, da autoria de Luís Mott e Jeferson Bacelar.
86
Graham, Feeding the City, pp. 221-3.
87
Sobre a importância da carne, com perspectivas divergentes, ver: Alan Beardsworth and Tere-
sa Keil, The Mysterious Meanings of Meat, in Sociology on the Menu. An Invitation to the
Study of Food and Society, London/New York: Routledge, 1997, pp. 193-217; Marvin Harris,
Bueno para comer. Enigmas de alimentación y cultura, Madrid: Alianza, 2011, pp. 22-64.
88
Graham, Feeding the City, p. 107.
89
Vilhena, A Bahia, p. 160. Vilhena escreve apenas “Feira”. Édison Carneiro, em nota de rodapé,
completa com “de Santana”.
90
Vilhena, A Bahia, p. 160.
91
Vilhena, A Bahia, pp. 127-8.
96
Graham, Feeding the City, p. 113.
97
Vilhena, A Bahia, p. 70.
98
Vilhena, A Bahia, pp. 129-30.
99
Graham, Feeding the City, p. 119.
100
Vilhena, A Bahia, p. 69. A Sala do Senado é o belo salão onde atualmente se reúne a Câmara
de Vereadores.
104
Para não morrer de sede
Tratando ainda da Cidade da Bahia, Vilhena, como sempre, é crítico em
relação ao acesso à água: “não há dentro na cidade uma única fonte,
cuja água se possa beber, quando para gasto não abundam”.105 Na cida-
de baixa, para o gasto, existiam as fontes da Preguiça, da ladeira da
Misericórdia, e a Fonte do Pereira, no fundo da ladeira do Tabuão.106
Ressalta, todavia, que “toda a montanha na sua falda geme água, e pou-
101
Sousa, A Bahia no século XVIII, p. 155.
102
Vilhena, A Bahia, p. 129.
103
Vilhena, A Bahia, p. 129.
104
Contemporaneamente, com a postura dos ambientalistas, já existe uma preocupação com a
escassez de água no Ocidente desenvolvido. Entretanto, a literatura antropológica sobre os
problemas de água nas cidades é escassa. Ver o interessante artigo de Guy Thuillier, “Water
Supplies in Nineteenth-Century Nivernais”, in Robert Forster and Orest A. Ranum (ed.), Food
and Drink in History: Selections from the Annales, Economies, Sociétés, Civilisations, v. 5
(Baltimore/London: The John Hopkins University Press, 1979), pp. 109-25.
105
Vilhena, A Bahia, p. 102.
106
Vilhena, A Bahia, p. 102.
107
Provavelmente, a denominação se refere a cisternas ou poços perfurados, muito comuns nas
casas baianas ainda no século XX.
108
Vilhena, A Bahia, pp. 102-3.
109
Vilhena, A Bahia, p. 103.
110
Vilhena, A Bahia, p. 103.
111
Vilhena, A Bahia, p. 109.
112
Vilhena, A Bahia, p. 108.
113
Vilhena, A Bahia, pp. 108-9.
114
Faria Vilhena alguma distinção entre as designações “preto” e “negro”? Embora atente para
as dificuldades ou ambiguidades em torno da classificação racial nos séculos XVIII e XIX,
Santos escreve: “Por certo as categorias ‘preta’ ou ‘negra’ na sociedade brasileira referiam-se
a ‘africano’ e a ‘negro escravo’. Ver Jocélio Teles dos Santos, “De pardos disfarçados a bran-
cos pouco claros: classificações raciais no Brasil dos séculos XVIII-XIX”, Afro-Ásia, 32 (2005),
p. 137. Já Silvia Lara afirma o contrário: “Negro, segundo Bluteau, era um designativo de
cor, origem e nascimento: trata-se de alguém ‘natural da terra dos negros’ ou ‘filho de pais
negros’” e acrescenta em nota: “A terra dos negros ou ‘Nigritas’ é uma vastíssima região da
África entre o Saara e o [sic] Guiné”. “A palavra ‘preto’, por sua vez, aparece claramente
associada à condição escrava”. Ver Silvia Hunold Lara, Fragmentos setecentistas. Escravi-
dão, cultura e poder na América portuguesa, São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 132
e p. 135.
115
Vilhena, A Bahia, p. 109.
116
Vilhena, A Bahia, p. 108.
117
Matos, Antologia, p. 103.
118
Vilhena, A Bahia, p. 56.
119
Vilhena, A Bahia, p. 56.
120
Sousa, A Bahia no século XVIII, p. 52.
121
Vilhena, A Bahia, p. 95.
122
Vilhena, A Bahia, p. 131.
123
Vilhena, A Bahia, p. 131.
124
Vilhena, A Bahia, p. 131. O rendeiro do Ver era o indivíduo que arrematava em hasta pública
o direito de cobrar dos vendeiros, taberneiros e regateiros, quando eles vendiam sem licença
ou praticavam preços superiores ao estipulado pela municipalidade. Sobre o assunto, ver
Sousa, A Bahia no século XVIII, pp. 160-3.
125
Vilhena, A Bahia, p. 131.
126
Vilhena, A Bahia, p. 131.
127
Sousa, A Bahia no século XVIII, p. 234.
128
Vilhena, A Bahia, p. 57.
129
Graham, Feeding the City, p. 35.
130
Vilhena, A Bahia, p. 93.
131
Seria a Conceição da Praia.
132
Vilhena, A Bahia, p. 93.
133
Sousa, A Bahia no século XVIII, p. 143.
134
Vilhena, A Bahia, p. 127.
135
Vilhena, A Bahia, pp. 126-7. Falando sobre o assunto, Sousa informa: “Situadas, inicialmen-
te, apenas na zona da cidade baixa conhecida por Praia e na Praça do Terreiro, ao longo dos
séculos, foram instaladas balanças do pescado também na Pituba, em Itapoã, na Gamboa, em
Itapagipe, no Rio Vermelho, em Água de Meninos, nas Pedreiras e em Ubaranas”. Ver Souza,
A Bahia no século XVIII, p. 159.
136
Vilhena, A Bahia, p. 127.
137
Vilhena, A Bahia, p. 127.
138
Vilhena, A Bahia, p. 127.
139
Sobre a participação das mulheres nos mercados africanos, ver Pierre Verger e Roger Bastide,
“Contribuição ao estudo dos mercados nagôs do Baixo Benin”, in Pierre Verger, Artigos, São
Paulo: Corrupio, 1992, pp. 122-59. Sobre as ganhadeiras em Salvador, no século XIX, ver
Cecília C. Moreira Soares, Mulher negra na Bahia no século XIX, Salvador: Eduneb, 2007, pp.
57-81 e, também, Maria Inês Côrtes de Oliveira, O liberto: seu mundo e os outros, São Paulo:
Corrupio, 1988. Sobre o poder e a organização dos ganhadores, ver João José Reis, “A greve
negra de 1857 na Bahia”, Revista USP, Dossiê Brasil/África, v. 18 (1993), pp. 7-29.
140
Vilhena, A Bahia, p. 132.
141
Azevedo, Povoamento, pp. 348-9.
142
Vilhena, A Bahia, p. 132.
“Especialidades baianas”
O texto abaixo é o mais citado de Vilhena:
Não deixa de ser digno de reparo o ver que das casas mais opulentas
desta cidade, onde andam os contratos, e negociações de maior porte,
saem oito, dez, e mais negros a vender pelas ruas a pregão as cousas
mais insignificantes, e vis; como sejam iguarias de diversas qualidades
v.g. mocotós, mãos de vaca, carurus, vatapás, mingau, pamonha, canji-
ca, isto é, papas de milho, acaçá, acarajé, ubobó, arroz de côco, feijão
de côco, angu, pão-de-ló de arroz, o mesmo de milho, roletes de cana,
queimados isto é rebuçados a 8 por um vintém, e doces de infinitas
qualidades ótimos muitos deles, pelo seu asseio, para tomar por
vomitórios; e o que mais escandaliza é uma água suja feita com mel, e
certas misturas a que chamam o aloá, que faz vêzes de limonadas para
os negros”.144
Muito tem sido dito, a partir dessa citação, para caracterizar uma
possível africanização da comida baiana. Entretanto, Vivaldo da Costa
Lima, embora reconheça uma amostra considerável na relação de
Vilhena, viu apenas quatro pratos “tipicamente africanos, como o acarajé,
o acaçá, o vatapá145 e o abará”.146 Era evidente que, após mais de dois
séculos do tráfico de escravos, com o acúmulo de povos de duas regiões
(África Central e Costa da Mina), o aumento do contingente de negros
livres, muitos deles negociantes, e as relações constantes com a África,
crescia em muito a probabilidade de terem sido incorporadas à realida-
de baiana novos ingredientes e outras técnicas culinárias, além das já
existentes, oriundas dos portugueses e de povos indígenas. Muitos des-
143
Vilhena, A Bahia, p. 132.
144
Vilhena, A Bahia, p. 130.
145
Vivaldo da Costa Lima, já nos seus últimos anos de vida, em conversa informal com o autor,
declarou ter dúvida em relação à origem africana do vatapá.
146
Vivaldo da Costa Lima, “As dietas africanas no sistema alimentar brasileiro”, in Carlos Caroso
e Jeferson Bacelar (orgs.), Faces da tradição afro-brasileira (Rio de Janeiro/Salvador: Pallas/
CEAO, 2006), p. 321.
147
Luiz Antonio de Oliveira Mendes, Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura
entre a Costa d’África e o Brazil. Apresentada à Real Academia das Ciências de Lisboa em
1793, Porto: Escorpião, 1977.
148
Vilhena, A Bahia, p. 130.
149
Claude G. Papavero, “Ingredientes de uma identidade colonial”, pp. 390-1.
150
Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Sabores do Brasil em Portugal. Descobrir e transfor-
mar novos alimentos (séculos XVI-XXI), São Paulo: Senac, 2010, p. 76.
151
Vilhena, A Bahia, p. 260.
152
Papavero, “Ingredientes de uma identidade colonial”, p. 379.
153
Sobre o assunto, ver Claude G. Papavero, “Mulheres, açúcar e comidas no Brasil seiscentis-
ta”, Caderno Espaço Feminino, v. 19, n.1 (2008), pp. 59-88.
154
Matos, Antologia, p. 35.
155
Vilhena, A Bahia, p. 157.
156
O Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 147, define aletria como “massa de farinha
de trigo crua e seca, em fios muito delgados, us. em sopas ou, em pratos doces, combinada
com leite, ovos e açúcar” e indica como sinônimos: cabelo-de-anjo, fidelinho, fidéu e letria.
Outros davam aos escravos, apenas e tão somente, o sábado para traba-
lharem para si, adicionando mais “uma quarta de farinha, e três libras e
meia de carne seca, e salgada para se sustentarem dez dias. Outros po-
157
Carne de sertão é uma das designações para o “charque”, também conhecido por jabá e
carne seca.
158
Vilhena, A Bahia, p. 161.
159
Matos, Antologia, p. 47.
160
Vilhena, A Bahia, p. 158.
161
Vilhena, A Bahia, p. 185.
Como se pode perceber, Vilhena trata apenas dos escravos dos enge-
nhos de açúcar, não incluindo os escravos da plantação fumageira, da
farinha ou mesmo do sertão da Bahia. Tampouco os escravos urbanos.
Todos eles com melhores condições de trabalho e provavelmente com
maior mobilidade física e relativa liberdade. O que, possivelmente, se
traduziria em melhor alimentação.
Russel-Wood, no seu livro Escravos e libertos no Brasil colonial,164
refere-se às pesquisas realizadas no Recôncavo baiano no período 1780-
1860. Usando Barickman, observa que,
[...] embora a prática de permitir que os escravos cultivassem roças fos-
se comum nas plantations açucareiras e nos canaviais, a produção não
atendia às necessidades de sobrevivência, o excedente para a venda era
raro e o potencial de vender a produção, limitado”.165
162
Vilhena, A Bahia, p. 186.
163
Vilhena, A Bahia, p. 186.
164
A. J. R. Russel-Wood, Escravos e libertos no Brasil colonial, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2005. O livro foi originalmente publicado na Inglaterra, em 1982, e o texto aqui
citado está em “Epílogo: Considerações retrospectivas, atuais e prospectivas”, que faz parte
da edição brasileira.
165
Russel-Wood, Escravos e libertos, p. 310.
166
Barickman, Um contraponto baiano, p. 308.
167
Barickman, Um contraponto baiano, p. 308.
168
Walter Fraga Filho, Encruzilhadas da liberdade. Histórias de escravos e libertos na Bahia
(1870-1910), Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
169
Vilhena, A Bahia, p. 186.
Despedindo-me de Vilhena
Adeus praia, adeus Cidade,
e agora me deverás,
Velhaca, dar eu adeus,
a quem devo ao demo dar.
Gregório de Matos174
Resumo
A Recopilação de notícias soteropolitanas e brasílicas, popularmente conhe-
cida como as Cartas de Vilhena, são uma referência constante dos pesquisado-
res sobre a Bahia nos finais do século XVIII. Neste artigo, elas são utilizadas
como uma forma de compreensão da alimentação dos baianos em uma aborda-
gem introdutória, na medida em que suas informações são concentradas na
produção e distribuição de alimentos. Porém, muitos desses alimentos já estão
preparados, como a célebre relação de “especialidades baianas”, o que termina
por nos fazer pensar sobre a mesa dos baianos nos últimos momentos do sécu-
lo XVIII.
Palavras-chave: Bahia – alimentação – culinária – escravidão
Abstract
Recopilação de notícias soteropolitanas e brasílicas (Compilation of News on
Salvador and Brazil), popularly known as “The Letters of Vilhena,” has always
been a source of reference for scholars of late eighteenth-century Bahia. In
this paper, these letters are used to understand the Bahian people’s eating
habits. It takes an introductory approach, since the data focuses on the
production and distribution of food. However, much of that food was already
cooked, such as the famous list of “Bahian specialities,” which leads us to
think about the tables of Bahian people in the twilight of the eighteenth century.
Keywords: Bahia – food – cooking – slavery