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O conceito de antropologia, de maneira geral, e em toda sua amplitude é definido por ser o “estudo

do ser humano”, ou seja, estudo tanto biológico como sociológico, a definir pelo agente pesquisador.
Se o foco for cultura, deve ser traçado o rumo em cruzamento com as ciências, tecnologias, artes,
esporte, lazer e a ética.
A cultura é vulgarmente observada por ser a expressão das artes sensoriais, visuais e auditivas,
mas, uma vez observado de maneira mais profunda percebe-se que é muito mais do isso e essa
visão será explanada a seguir. Para ser mais preciso, será observado com relação ao âmbito do
território histórico brasileiro em tabelamento com as grandes linhagens étnicas históricas no Brasil:

1. Os milenares povos ameríndios cronologicamente considerados os primeiros habitantes


humanos das terras brasileiras devem ser os primeiros a serem citados, de modo que a
contribuição cultural ao Brasil atual encontra-se no nosso idioma, no conhecimento botânico,
na agricultura, caça e pesca. Logicamente seu valor histórico não limita-se somente aos
tópicos citados, cabe ainda citar os eventos folclóricos muito presentes na região
norte/amazônica, mas também há no sul. O próprio “fogo de chão”, necessário para assar
uma “janela” (costela bovina inteira), é uma herança indígena, assim como o hábito de beber
o “mate” em cuia, que é outra tradição cultural da região sul, que tem origem nos primeiros
habitantes brasileiros.
2. O segundo grande evento antropológico na história brasileira certamente é o desembarque
dos primeiros europeus nas terras brasilis, representados por portugueses e espanhóis, que
desembarcam de suas naus e caravelas, portando suas armas de fogo, lâminas e toda sua
tecnologia bélica desenvolvida ao longo dos séculos de conflitos entre reinos europeus.
Ainda, trazem consigo um conceito de propriedade e posse completamente diferente dos
anteriormente conhecidos pelos ora donos das terras, os índios. Conceito que predomina na
constituição, nas leis e na ética atual, conceito marcado por: “o dono da terra tem direito de
intervir em tudo que estiver em sua propriedade, pois senhor dela ele é”, que é um fato
contrastante com a cultura pré colonial brasileira de tupis e guaranis, que de modo religioso
difundido à valores éticos, tais sociedades viviam de modo mais respeitoso e harmonioso
com relação à vegetação nativa e sua fauna, pois delas dependiam sua subsistência, e viam-
se como parte dela, parte de um todo vivo, um sistema vivo e divino criado por Tupã seu
deus maior, criador.
3. No próximo momento, após os espanhóis e os colonizadores portugueses terem tentado,
sem sucesso, converter os índios ao catolicismo e escravizá-los (nem todas, algumas etnias
alienaram-se aos colonos, pois observaram que tinham inimigos em comum), a coroa
luso/hispânica tomou a atitude de “importar” mão de obra africana, sequestrando ou
“comprando pessoas” com o fim de escravizá-las, algo que assim como ocorreu com os
índios, foi cruel, mas neste texto o assunto não será explorado a fundo, pois desvincular-se-
ia ao objetivo supra proposto. O que é importante à pauta é a bagagem cultural e
antropológica desses povos, que de modo forçado, emigraram das terras africanas,
tornando-se imigrantes escravizados no Brasil e isso será exposto. Quando observa-se o
atual Brasil pelo prisma de um estrageiro é comum linkar logo ao samba, caipirinha, feijoada
e futebol e desses dois itens citados a invenção é de uma bagagem cultural de origem
africana consumada nas terras brasileiras, assim como, no referente à religiosidade dos
brasileiros a umbanda, quimbanda e candomblé, que dividem espaço com espiritismo,
catolicismo e crenças cristãs protestantes. Interessante e importantíssimo que deve-se
ressaltar é o fato de toda uma população de imigrantes que chegaram aqui, de maneira
forçada, para aqui fazerem trabalhos braçais e menos apreciados pelos imigrantes europeus,
pelo método escravagista, construírem uma identidade musical, artística e culinária tão forte
ao ponto de tornar-se um cartão de visita aos turistas que interessam-se em visitar o país.
Talvez isso deva-se a numerosa população de descendência africana no Brasil, fruto deste
repugnante fato histórico que é a escravidão nas Américas. Fato demográfico que prova-se
nos dados de pesquisa do IBGE, que têm como brasileiros identificados por negros em
“9,4%” e pardos em “46,8%”, sendo que os brasileiros que indentificam-se por brancos são
“42,7%” –https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html; esse fato
explana uma característica da população brasileira que é a miscigenação étnico/racial e
como foi construída essa relação antropológica de povos de origens tão diversas e
conflitantes em convergência nesta terra.
4. Cabe citar, que é observado historicamente no brasil a maior colônia de estrangeiros fora de
seu país de origem, a colônia japonesa. Mais precisamente concentrada na cidade de São
Paulo - SP no bairro da Liberdade. E os motivos de tal movimento está colacionado a seguir
“No começo do século XX, o Brasil precisava de mão de obra estrangeira para as lavouras de café,
enquanto o Japão, passava por um período de grande crescimento populacional. A economia nipônica
não conseguia gerar os empregos necessários para toda população, então, para suprir as
necessidades de ambos países, foi selado um acordo imigratório entre os governos brasileiro e
japonês.” —https://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/imigracao_japonesa.htm . Entre as contribuições
étnico/cultural japonesa aos brasileiros estão: nos esportes, o jiu-jitsu e o baseball e no nicho
da culinária e agricultura tem-se a difusão da produção de amendoim japonês e cerejeiras,
cabe citar a criação de carpas e galinhas. Outra interessante contribuição tecnológica
recebida pelo Brasil que tem origem no Japão, é nada menos que as clássico chinelo
Havaianas que todos temos uma em casa, inspiradas nas sandálias japonesas zori
—https://www.havaianas-store.com/pt/historia.
5. Em 1888 ocorre a Abolição da Escravatura no Brasil e esse fato histórico ganha um evento
acessório, a imigração italiana. Os donos de terras após perderem a “propriedade” da sua
força humana de trabalho, tomaram a atitude (apoiados pelo estado) de não contratarem a
mão de obra dos anteriormente escravizados, agora queriam descendentes europeus. A
Itália estava em crise econômica e o desemprego crescia entre os italianos. Assim, a
simbiose fatídica dos eventos veio a favorecer os italianos, que em busca de boas e novas
oportunidades econômicas veem no Brasil o “sonho americano”. Entre os novos
nacionalizados vieram agricultores, comerciantes, industriários e trabalhadores urbanos, dos
quais muitos construíram impérios econômicos, pois sabiam como fazer, muitos já eram
empresários falidos na Itália, portanto, não começaram do zero, já possuíam experiência
quando aqui chegaram. É interessante ressaltar que, assim como os que foram
anteriormente citados, os italianos têm forte influência em nossa culinária
—nacional.https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/italianos/razoes-da-emigracao-
italiana.html.
6. Citar-lo-ei por último os alemães simplesmente por causa cronológica, mesmo que o início do
processo migratório tenha sido em paralelo com os imigrantes italianos, o topo da imigração
alemã dá-se no entorno do ano de 1920. Assim como os vizinhos europeus já citados, os
alemães também tiveram incentivo do governo brasileiro a fim de “embranquecer” a
população brasileira e colonizar as áreas rurais. O que concretizou-se em colônias
homogêneas ao longo do país, em especial ao sul, como percebe-se nas cidades de São
Leopoldo, Blumenau, Joinville, Ingrejinha e muitas outras na região. Sua influência cultural
transita no meio das inovações tecnológicas nos ramos industrial, agropecuário e acadêmico
até culinária, folclore e religião. Os alemães, assim como os outros, têm fortes influências na
culinária local típica do sul do país e em festas folclóricas, como por exemplo, a Oktoberfest.
O Brasil atual, suas divergências, convergências, sua população heterogênea, diversa, miscigenada
e multicultural é resultado do que fora exposto, populações de diversas partes do mundo unindo-se
em um só lugar, integrando-se em um intercâmbio de valores éticos, religiosos, econômicos e
tecnológicos somados neste território que resulta em uma república multicultural. Essas nuances
culturais são facilmente percebidas, de região à região, por exemplo, a cultura nordestina difere da
nortista, que difere da sulista, pois, a receita miscegenation do sul é diferente do norte e diferente do
centro-oeste, por óbvio, difere do sudeste. Portanto reafirmo que nossa cultura é diversa e em muitos
casos divergente e injusta, como por exemplo, quando certo grupo étnico subjuga outro por crer que
sua verdade é mais verdadeira do que a do outro. Porém sejamos otimistas, pois conflitos existem
em toda convergência étnica, especialmente em sociedades relativamente jovens, como é o caso
referido. A cada cada geração mais conexões interculturais são feitas, o que pode levar a uma
homogeneidade cultural futura ou talvez o fortalecimento contrastante regional, de toda forma, todos
os povos contribuintes têm igual importância na construção de um povo, sendo merecido igual
respeito, direitos e méritos.

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