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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO - DECEX
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO PREPARATÓRIA E ASSISTENCIAL - DEPA
COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR

DISCIPLINA: Geografia PROFESSOR: Edcassio Avelino


SÉRIE: 2º Ano do Ensino Médio TURMA: 201, 202, 203 e 204

A formação do povo e a construção do território brasileiro

Segundo o professor Antonio Carlos Robert Moraes, o que é colonização? Para este
pesquisa e professor, colonização é a relação entre uma sociedade que cresce e os locais
que ocupam nesse processo de expansão. Sendo assim, a colonização em si mesma é
conquista, nesse sentido, toda colonização é uma forma de dominação. Uma dominação
que é social, cultural, política, econômica e territorial.

Ninguém fala em colonizar seu próprio espaço. Na verdade, a colonização diz


respeito a uma adição de território ao seu patrimônio territorial. Se colonização é o
crescimento de uma sociedade e área que gradativamente ocupa, então, a colônia refere-se
à efetivação da conquista territorial.

Quando se fala de colonização europeia, especialmente, espanhola e a portuguesa é


importante destacar que esses processos aconteceram de maneiras diferentes. A
colonização espanhola ela foi mais demorada, mais violenta e mais cara, uma vez que as
áreas de colonizações espanhola era ocupadas por civilização (Incas, Maias e Astecas) com
volume de população elevado e com níveis de desenvolvimento social, político singulares.

Por sua vez, a colonização portuguesa ocorreu com nível menor de adversidades,
uma vez que as populações estavam distribuídas de forma rarefeita pelo terreno, não
tinham atingidos níveis mais complexos de organização social e política; sendo assim, a
violência aplicada pelos portugueses fez com que a colonização fosse um processo mais
rápido e barato.

Um outro fato importante a considerar está ligado à União Ibérica (1580-1640),


processo político em que a monarquia espanhola se apropria da monarquia portuguesa,
com implicações territoriais direta tanto na metrópole portuguesas quanto de suas colônia.
A União Ibérica faz com que a Espanha se apodere dos territórios portugueses (metrópole e
colônias), no caso, da colônia portuguesas hoje Brasil, a principal consequência foi a
extinção do Tratado de Tordesilhas, uma vez que não faz sentido a existência de linha
(limite) entre terras que pertencem ao mesmo dono.

A partir de 1640, Portugal volta a reivindicar a sua autonomia política em relação à


Espanha, e de maneira gradativa, vai recuperando os seus territórios (metrópole e
colônias). No caso das Américas, Portugal e Espanha passam a ter conflitos territoriais, e
nesse contexto, surge o Tratado de Madri que trás o principio de Uti Possidetis, segundo o
qual quem ocupa a terra primeiro é o seu dono. Outro documento importante é o Tratado
de Santo Idelfonso, que trouxe como principal contribuição o uso de critérios técnicos
para a separação territorial entre áreas portuguesas e espanholas.

A partir desse processo, ocorre uma ampliação da ocupação da colônia portuguesa,


no sentido Oeste, e do ponto de vista territorial, surge os contornos iniciais da área que,
posteriormente, será denominado de território brasileiro.

Os primeiros contatos entre os colonizadores e as populações indígenas foram


marcados por contradições e conflitos. Eram diferentes os valores e os interesses acerca
dos recursos naturais: de um lado, os indígenas se depararam com a visão capitalista dos
colonizadores, cuja preocupação era a busca por riquezas, sobretudo metais preciosos. De
outro lado, na visão dos colonizadores, os indígenas eram considerados improdutivos, pelo
fato de seus modos de vida não visarem ao acúmulo de riqueza material.

Na historiografia espacial, para os europeus colonos era conveniente formar


vínculos de convivência com os indígenas, pois estes lhes serviriam de mão de obra na
extração de Pau-Brasil, depois com a produção de cana-de-açúcar e, posteriormente, com a
extração de metais preciosos e outros produtos tropicais. Os primeiros grupos de
colonizadores (portugueses, franceses e holandeses), especialmente, os portugueses, em
sua maioria eram homens e, distantes dos padrões morais da Europa, tiveram filhos com as
mulheres indígenas que foram denominados mestiços.

Em alguns casos, a miscigenação foi ainda incentivada pela Coroa Portuguesa, a


exemplo do que aconteceu na área hoje conhecida como Região Amazônica. Para explorar
o extrativismo das chamadas drogas do sertão tais como: cacau, canela, baunilha, óleo,
resina e tubérculos; com grande valor comercial na ocasião, e para manter a ocupação da
forma mais pacífica possível, a Coroa enviou colonos brancos de Açores à área (Região
Amazônica) e estimulou o casamento entre eles e os nativos indígenas.

Nessa relação contraditória entre indígenas e colonos portugueses, insere-se a


participação da Igreja Católica, sobretudo pela atuação da Companhia de Jesus, nos séculos
XVI a XVIII. Além de catequizar os indígenas, os jesuítas também tentavam recriar o
modo de vida desses povos desde a forma de se vestir até desenvolver atividades
econômicas tais como a produção de cerâmica e a criação de gado nas reduções ou missões
na área hoje conhecida como Região Sul, da então Colônia do Brasil, atual estado do Rio
Grande do Sul. Contudo, os indígenas entraram em conflito com os colonos porque eles
queriam que eles servissem como mão de obra escravizada em suas lavouras e construções.

De acordo com o Instituto socioambiental - ISA, no período colonial a etnia


Guarani estava presente em extensa área que se expandiam do litoral do Estado de São
Paulo até o Rio Grande do Sul adentrando o interior nas bacias hidrográficas de vários rios
(hoje chamado de Paraná, Uruguai e Paraguai), nessa parte do continente americano esse
povo foi importante para a formação das missões que depois se tornaram vilas e cidades
conhecidas por fazerem parte da chamada Região das Missões.

Ainda no século XVI, foram instalados os primeiros engenhos de açúcar no


nordeste da colônia, mais diante das dificuldades de manter os indígenas como mão de
obra escrava, a coroa traficou de várias regiões da África pessoas que foram retiradas de
seus grupos étnicos de origem e separada de seus familiares para trabalhar inicialmente nas
fazendas açucareiras e, depois nas minas e, posteriormente, nas fazendas de café. Essa
medida tinha como função diminuir o contato entre as pessoas de uma mesma família para
evitar motins e ou resistências e ter algum controle sobre as relações matrimoniais e,
consequentemente, sobre a reprodução, a fim de dar origem apenas a negros mais fortes,
como os crioulos denominação dada aos negros escravizados nascidos no Brasil.

Em pouco tempo, os novos cruzamentos que ocorreram na colônia, entre brancos


europeus e negros africanos, deram origem ao grupo que na época foi denominado de
mulato primeiro filho de donos de fazendas de engenho e negras africanas de outros grupos
sociais. Com o passar do tempo, o termo passou a ser criticado e deixou de ser usado pela
historiografia oficial por seu forte teor discriminatório e ofensivo à época (mulata
derivação da palavra mula - animal), esse grupo e os negros nascidos na colônia
desenvolviam atividades domésticas na casa-grande, serviços artesanais e na supervisão do
trabalho das outras pessoas escravizadas, restando aos africanos recém-chegado ao Brasil,
os trabalhos mais pesados.

Calcula-se que mais de 4 milhões de Africanos tenham sido traficados da África


para o Brasil entre os séculos XVI e XIX. Muitos deles resistiram à submissão do trabalho
escravizado e logo despontaram as primeiras revoltas e fugas, em consequência, surgiram
os quilombos como de Palmares, então na capitania de Pernambuco.

Brasil: Identidades regionais

É ampla a presença de outros grupos étnicos na ocupação do território nacional


ponto de acordo com o sociólogo Darcy Ribeiro, alguns grupos escaparam das
generalizações de: branco, amarelo, negro, mulato, caboclo ou cafuzo, mas ganhar outras
iluminações. Veja algumas das generalizações que se transformaram em uma espécie de
identidade regional:

(i) O caipira - nascidos no interior do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Paraná, Goiás, resultantes da mistura entre negros brancos e indígenas procurar o
ser dono de terras e da produção, mas poucos tiveram êxito, como foi o caso dos colonos
imigrantes forçados a enfrentar um regime de semiescravidão por causa das condições
contratuais firmadas com os fazendeiros.

(ii) O sertanejo - mestiço que não tinha lugar no sistema açucareiro e migraram para
o interior da Região Nordeste para trabalhar nas fazendas de gado, com esperança de se
tornarem criadores. Nos dias atuais, a maioria vive em condições hostis relacionadas à
irregularidade de chuvas ligadas ao ambiente de Clima Tropical Semiárido.

(iii) O caboclo - constitui o nascido na região da Floresta Amazônica, também


chamado de “Brasil caboclo”. A área é classificada como um lugar de beleza natural
singular e habitada por diversas tribos indígenas, que dominavam – e ainda dominam – os
conhecimentos sobre a natureza e os seus poderes para cura de muitas doenças. Uma parte
dos caboclos carregam um conjunto de saberes sobre o local de origem chamado de
saberes tradicionais.

(iv) O gaúcho - no Rio Grande do Sul surgiram da mistura entre homens Luso
espanhóis e mulheres da etnia Guaranis e logo se especializaram na criação de gado. Ao
estado chegaram, posteriormente, século XIX, os imigrantes alemães, Italianos, poloneses
e outros chamados gringos, que, no final do período colonial receberam pequenas
propriedades e praticaram a policultura. Embora a primeira geração de imigrantes tenha
tido muita dificuldade na ocupação de áreas distantes do litoral, conseguiu, com as terras
que recebeu, organizar a autonomia, a própria vida e criar escolas e igrejas.

Cabe destacar que a entrada de imigrante europeu não correspondeu aos planos do
governo, na ocasião, na tentativa de branqueamento do povo brasileiro. Na verdade, houve
uma miscigenação ainda maior em todo o país, de modo que o Brasil é reconhecido,
internacionalmente, por ser um país mestiço com participação expressiva das populações
afrodescendentes, na composição étnica populacional.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, desde 1991 adota 5 (cinco)


categorias para a composição étnica da população brasileira: branca, preta, parda, amarela
e indígena. Para coletar esses dados durante a realização de censos, o que prevalece é uma
abordagem cultural, pois cada um diz a qual grupo pertence, isto é, mostra como se vê
diante dos grupos propostos durante esse levantamento, o pesquisador do IBGE solicita
que cada indivíduo declare sua cor de pele independentemente da sua etnia, uma pessoa
pode declarar-se parda, por exemplo e ser descendentes de africano ou de indígena.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de


2009 e de 2013, realizada pelo IBGE, houve crescimento da proporção da população que
se declarou parda, amarela ou indígena, o que revela uma possível recuperação da
identidade étnico. Apesar desse resgate da identidade étnica por uma parcela da população
de cor preta, parda, amarela ou indígena, esse grupo integra uma camada desfavorecida e
representa a desigualdade no país, isso acontece não só pelo fato de parte dessas pessoas
serem descendentes de escravo sem posses, mas também porque esses grupos sociais
carregam as consequências da história econômica de um país ainda marcado pela
concentração da propriedade rural pela concentração de renda e pela falta de oportunidade
de acesso à educação de qualidade e ao emprego, ou seja, as desigualdades sociais geram
desigualdade de moradias, de infraestruturas, também chamadas de desigualdades
territoriais.

Imigração e miscigenação brasileira


A imigração no Brasil deve ser analisada e o contexto histórico e geográfico
diversos fatores sociais, políticos e econômicos, no interior do país no mundo, propiciaram
os movimentos migratórios em direção ao território brasileiro. Cabe destacar que a causa
principal para migração e tantas pessoas de um país para outro, em período diferentes e
lugares diversos, é a busca de oportunidade de trabalho e de melhores condições de vida.

O advento da indústria e a intensificação do comércio mundial de produtos na


segunda metade do século XIX e as pressões internacionais de países industrializados,
como a Inglaterra e França, exigiram a abertura do mercado brasileiro a economia mundial.
Esses países desejavam exportar seus produtos manufaturados e adquirir matéria-prima,
por isso queria um fim da escravidão nas colônias, uma vez que os trabalhadores
escravizados não receberam salário e, portanto, não compunham um mercado consumidor
que poderia comprar produtos industrializados.

Com o objetivo de adaptar a essas mudanças, em 1850 foi promulgada a Lei


Eusébio de Queirós, que pôs fim ao tráfico negreiro da África para o Brasil. Nesse mesmo
ano, também se tratou de organizar a vinda de estrangeiros à colônia, para o trabalho na
lavoura cafeeira, promulgando para isso a Lei de Terras, com o estabelecimento dessa lei,
as pessoas só poderiam ter posse de terras (terreno) por meio da compra em dinheiro; os
que possuem o título de sesmarias e outros ocupantes de terras ficaram sujeito a
legitimação ou não de seus direitos.

As grandes dificuldades de obter emprego na Europa, em virtude da substituição do


Artesanato pela produção industrial e do grande contingente populacional das doenças
endêmicas, facilitar a atração para o Brasil de famílias europeias inteiras de diversos
países. Em geral, os imigrantes europeus foram estimulados por propaganda enganosa,
segundo os quais o Brasil seria uma ilha de prosperidade.

Boa parte dos imigrantes, que logo chegou, passou a cumprir as primeiras jornadas
de trabalho nas fazendas de cafés. Esses migrantes tinham diferentes tipos de qualificação
profissional, eram: marceneiro serralheiro operadores de máquina entre outras funções;
mas em sua maioria eram agricultores que tinham sido expropriados de suas terras ou não
conseguiram readquiri-las em seus países de origens.

Os afrodescendentes, por sua vez, já liberto, ficaram abandonados à própria sorte,


vítima da política racista da aristocracia brasileira que não se restringia ao meio rural. Sem
salários essas pessoas essas pessoas trabalhavam em troca de alimentação e abrigo ou iam
para as cidades, onde prestavam serviço doméstico, manuais ou faziam a limpeza pública
da cidade; enfim, atividades que não ofereciam perspectiva de ascensão social.

Esse processo histórico está na raiz da complexa dificuldade enfrentada pelos


afrodescendentes no Brasil desde a colonização até dias de hoje, mantida mesmo após o
fim da escravidão. Diante dessa realidade, é fundamental reconhecer e valorizar a
importante contribuição da população afrodescendente a formação do povo da cultura e no
território brasileiro

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