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18/03/23, 18:23 Disciplina Portal

HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 2 - O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO


ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS: O APRESAMENTO
INDÍGENA
INTRODUÇÃO

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Pretende-se com essa aula analisar a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente
para a economia paulista, bem como compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de
apresamento indígena. Em seguida, será realizada uma reflexão a cerca do apresamento dos guaranis como fator de
ocupação do planalto paulista e da região sul do Brasil. Por fim, serão examinados os embates entre colonos e jesuítas
nas relações com os índios.

OBJETIVOS

Perceber a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente para a economia paulista;

Compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de apresamento indígena;

Refletir sobre os aldeamentos jesuíticos e seu importante papel na aculturação do indígena;

Compreender os embates entre colonos e jesuítas nas relações com os índios.

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Extração de Pau-Brasil no Século XVI


Como bem se sabe Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro
anos do século XVI os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio feito no Oceano Índico, no
qual produtos de grande valor como ouro, prata, seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se
preocupar, de fato, com suas terras americanas a partir de 1530.

Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo foram marcados pela atuação dos jesuítas na
conversão dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos
portugueses que estavam interessados, sobretudo, na extração do pau-Brasil, obtido por meio do trabalho indígena.

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Capitanias Hereditárias
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico trouxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também
começavam a ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da
Coroa lusitana no outro lado do Atlântico a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da
recente aquisição.

A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em
dezesseis grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias.

Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário) que deveria construir
vilas, arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a terra para quem pudesse cultivá-la. No entanto, muitos
donatários não cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras
brasileiras.

A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Em 1548
foi instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa.

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O primeiro Governador Geral


A fim de consolidar o domínio português no litoral, Tomé de Souza foi nomeado como primeiro governador-geral do
Brasil.

O primeiro governador geral, Tomé de Souza, ficou responsável pela construção da cidade de Salvador, na capitania da
Bahia, que seria a sede do governo-geral. Além de ser um ponto relativamente mais próximo da metrópole, a capital
colonial estava localizada num ponto estratégico, perto das principais regiões produtoras do açúcar, produtor que anos
mais tarde seria considerado o “ouro branco” da colônia. Isso facilitava o controle da produção e exportação do açúcar,
garantindo assim, o exclusivismo da Coroa Portuguesa.

A mão-de-obra escrava nos engenhos açucareiros


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Por questões geomorfológicas (solo fértil e água abundante) e políticas, durante séculos XVI e XVII, a
produção açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, principalmente na Bahia de
todos os santos e em Pernambuco. Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indígenas
compuseram parte significativa da mão-de-obra escrava dos engenhos açucareiros. Na realidade, o
intervalo entre os anos de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização indígena nesses engenhos.
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No entanto, a descoberta de uma “nova humanidade” criou debates filosóficos extremamente
profundos em toda a Europa. Os missionários católicos e protestantes que haviam entrado em
contato com os diferentes grupos indígenas das Américas, lideraram discussões acerca da natureza
desses homens e mulheres “recém-descobertos” que marcaram o cenário intelectual do século XVI.
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Seguindo as determinações tomadas pela própria Igreja Católica, em 1570, a Coroa portuguesa
sancionou a lei que proibia a escravização do gentio – cujo fragmento vimos no início desta aula.
Com exceção feita aos aimorés – que se recusavam militarmente à conversão católica, os índios
ficavam sob a tutela da Companhia de Jesus, não podendo mais servir como escravos nos engenhos
de açúcar.
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Em tese, após 1570, as questões indígenas passavam a ser decididas apenas pelos missionários
responsáveis por sua evangelização.
No entanto, por trás dessa decisão da Coroa lusitana também estavam interesses econômicos de
muitos fidalgos portugueses que, há muito, estavam envolvidos com o tráfico de negros da guiné.
Esses africanos escravizados substituiriam os indígenas na produção de açúcar. A partir da
promulgação da “lei de liberdade dos gentios”, houve a substituição crescente de índios por africanos
escravizados.
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No entanto, essa mudança ocorreu principalmente nas capitanias que mais produziam açúcar e que,
justamente por isso, eram mais vigiadas pelo Estado português.

Como será analisado na próxima aula, é preciso assinalar que, embora a entrada de africanos tenha
se intensificado sobremaneira a partir do último quartel do século XVI, durante todo o período de
vigência da escravidão, parte significativa dos grupos indígenas também foi reduzida à condição de
cativeiro, muitas vezes subjugados pelos próprios missionários.

As capitanias do Sul

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Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei
de rei D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como
gentios (ou seja, eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente
os grupos autóctones (glossário) rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os
indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram como mão-de-obra fundamental na expansão territorial
levada a cabo pelos colonos paulistas.

Ao analisar a relação entre índios e bandeirantes na origem de São Paulo, o historiador John Monteiro mostrou que a
colonização foi um processo plural. Ainda que boa parte da América portuguesa tenha vivenciado experiências
comuns advindas do encontro entre colonos e índios– encontro este que foi marcado pela desintegração de muitas
sociedades indígenas e pelo processo de catequização daquelas que conseguiram sobreviver -, a partir de meados do
século XVI, a relação entre ambos tomou rumos distintos.

No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra
morta. De acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que
assaltavam aldeias indígenas transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” (MONTEIRO: 1994,
57). Isso porque, diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no
circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se
lançarem para o mar, os paulistas se embrenharam sertão adentro.

As Expedições
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros europeus que se lançaram ao mar no século XV, e que
em parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o
desejo de muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeiras expedições para as
regiões interioranas da colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza
armou uma série de expedições em busca de metais preciosos.  A vertente paulista, chefiada por João Pereira
Botafogo conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No
entanto, as expedições subsequentes não corresponderam ás expectativas criadas pelos colonos.

A Escravidão Indígena
Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um
produto extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco
voltou a Portugal com o intuito de colocar em prática um projeto que visava fomentar a economia das capitanias
sulistas da colônia. Com inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo era articular diferentes setores
econômicos (mineração, agricultura e indústria), tendo como base o uso da mão-de-obra indígena (MONTEIRO: 1994,
59).

Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Mas a proposta do antigo governador
acabou redimensionando os objetivos das expedições para o interior.  A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento
de índios. Embora os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava
inúmeras leis proibindo a escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se
transformaram em verdadeiras empreitadas escravizadoras.

A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha, que rapidamente criou-se uma intricada rede de
negociações nas capitanias do sul. Praticamente toda a mão-de-obra dessa localidade da colônia era formada por
índios escravizados. Os lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas.

Colonos x Jesuítas
Além das sociedades indígenas, os maiores opositores das expedições foram os missionários e demais religiosos
responsáveis pela evangelização dos índios. Embora os indígenas trabalhassem em condições muito ruins nas
missões e aldeamentos, ali não havia o discurso nem a prática efetiva da escravização. Soma-se a isso, nessas

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organizações, os índios recebiam instruções religiosas para que se convertessem ao cristianismo e passassem a
seguir um padrão europeu de vida e de relação com o trabalho. Nenhuma dessas preocupações pautou a organização
das expedições nos séculos XVII e XVIII.

Centenas de aldeias foram destruídas, e milhares de índios foram reduzidos ao cativeiro. Segundo Monteiro, o padre
Montoya afirmava que as expedições haviam destruído 11 missões, o que significava o apresamento de praticamente
50 mil índios. Ao descrever as expedições no Rio de Janeiro, o padre Lourenço de Mendonça apontou quem 60 mil
guaranis foram escravizados e levados para São Paulo (MONTEIRO: 1994, 73-74). Tais índios eram utilizados,
sobretudo, na reposição da força de trabalho da região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana.

Graças às bandeiras que identificavam as expedições, as campanhas organizadas por colonos paulistas em busca de
índios ficaram conhecida como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento ocorreu na segunda metade do
século XVII, momento em que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam
reconhecimento em toda colônia. Jorge Velho foi, inclusive, convocado pela Coroa Portuguesa para sufocar a rebelião
indígena chefiada por Canindé (Rio Grande), além de ter sido um dos responsáveis pela desarticulação do Quilombo
dos Palmares.
, À medida que as bandeiras aumentavam, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos
missionários. Amparados pela letra da lei, esses religiosos recorreram diversas vezes ao rei português
a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos colonos paulistas. Outro fator que começou a
dificultar o movimento foi o aumento das distâncias. O sertão era cada vez mais distante, o que
encarecia muito a organização das expedições (que necessitam de pólvora, chumbo, correntes e
índios escravizados)., , Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator que levou à
diminuição significativa das expedições de apresamento (que praticamente deixaram de existir a
partir do século XVIII) foram diferentes movimentos de resistência dos grupos indígenas. Revoltas
individuais, migrações para regiões ainda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas
despontaram nesse contexto.

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Glossário
AUTÓCTONES

Grupos naturais da região

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