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A gênese do Brasil, Jorge Couto – fichamento

1. Descobrimento do Brasil: em lugar de “descobrimento”, o autor usa a expressão


“achamento”.

2. O surto de expansão quatrocentista e quinhentista lusitano contribuiu decisivamente para o


estabelecimento de ligações marítimas e comerciais entre todos os continentes, bem como
para o surgimento de profundas mutações de natureza cultural, designadamente nos campos
da geografia, botânica e zoologia, avultando, entre os mais relevantes, a modificação da
concepção europeia do mundo.

3. O autor relata, já no primeiro encontro, “relações cordiais entre os marinheiros lusos e os


tupiniquins traduzidas em trocas de objetos (carapuças, manilhas e guizos por arcos, flechas e
adornos de penas) e na colaboração prestada pelos indígenas nas operações de abastecimento
de água e lenha”.

4. Importante ressaltar a realização de uma missa no primeiro domingo após o “achamento”,


missa da qual participou a tripulação e cerca de 200 tupiniquins.

5. Importante também ressaltar a realização de um baile, do qual participaram portugueses e


ameríndios.

6. O autor destaca a criação de um “clima de cordialidade com os tupiniquins, alguns dos quais
foram convidados a tomar refeições e a pernoitar nas naus”.

7. A historiografia tem discutido a possibilidades de precursores de Cabral na região brasílica.

8. Os primeiros “moradores” do que viria a ser o Brasil foram dois desertores (grumetes) e dois
degredados. O primeiro nome recebido foi “Terra de Santa Cruz”.

9. O “achamento” do Brasil foi, a princípio, mantido em segredo.

10. O traçado da costa brasileira foi propositadamente alterado de modo a fazer com que os
espanhóis não tivessem conhecimento da área “achada”.

11. D. Manuel I arrendou a Terra de Santa Cruz a uma associação de mercadores. O contrato
tinha uma duração prevista de três anos. Concedia o monopólio da exploração do território à
sociedade encabeçada por Fernão de Loronha e vedava a importação do Oriente da variedade
asiática do pau-brasil.

12. Os beneficiários das capitanias deveriam povoá-las e desenvolvê-las economicamente. As


contrapartidas para a Coroa portuguesa vinham na forma de pagamentos pelos rendimentos
obtidos. Mas a Coroa teria direito exclusivo ao pau-brasil e às especiarias.

13. Logo nos anos posteriores ao “achamento”, optou-se pela criação de feitorias para facilitar
o comércio de pau-brasil. Para tanto, era necessária a colaboração dos indígenas.

14. O termo “Brasil” é usado pela primeira vez em 1512. A substituição do nome “Terra de
Santa Cruz” por Brasil, “pau que tinge panos”, seria duramente criticada, na segunda metade
do século XVI, por João de Barros e por Pero de Magalhães de Gândavo, atribuindo-a a obra do
demônio.

14. Desvendado o segredo de que o reino vizinho tinha direito a uma parcela das terras
“achadas”, d. Manuel apressou-se a mandar publicar os dados cartográficos relativos a elas de
forma a poder invocar, nas inevitáveis negociações que se seguiriam sobre a definição dos
respectivos limites, os direitos de Portugal aos territórios situados entre Cananéia e o rio da
Prata, baseados na prioridade do descobrimento.

15. Numa primeira fase (1500-1530), o relacionamento entre portugueses e indígenas limitou-
se à prática do escambo, à criação de feitorias, à fixação de um escasso número de “lançados”
no Brasil, e às pouco frutuosas tentativas de missionação empreendidas por franciscanos.

16. Em face da resistência dos índios em permitir a fixação de portugueses no seu território, D.
João III se vale de três modelos para garantir a colonização do Brasil.

17. Primeiro modelo: exclusividade régia (1530-1533). Logo ficou claro que a Coroa não
possuía os recursos necessários, até porque a colonização do Brasil não era assunto prioritário.

18. Segundo modelo: exclusividade particular (1534-1548). Também não logrou êxito, por
causa da difícil fiscalização e das elevadas exigências materiais e humanas, das quais os
particulares não tinham condições.

19. Terceiro modelo: modelo misto: articulava um forte empenhamento militar, econômico e
judicial da coroa com a manutenção das capitanias-donatárias, embora expropriando os seus
titulares de muitas das competências inicialmente concedidas. Adotou-se, por conseguinte, um
modelo misto que mantinha as capitanias-donatárias, embora reduzindo substancialmente as
suas atribuições iniciais, articulava-as com o funcionamento de órgãos da administração régia
estabelecidos na Província de Santa Cruz e, em vários domínios (militar, judicial e fiscal),
submetia-as à inspeção de representantes diretamente nomeados pelo rei instalados no
próprio território.

20. A adoção do terceiro modelo, que conjugava recursos régios e particulares, consolidava a
presença lusitana no Brasil, defendendo-a, simultaneamente, de ataques internos e externos
tendo permitido alcançar progressos significativos na ocupação da terra brasílica, resistir
vitoriosamente às investidas francesas, fomentar o crescimento econômico e aperfeiçoar o
funcionamento das instituições.

21. Uma das consequências do avanço do processo colonizador residiu, contudo, na


introdução de profundas modificações no quadro das relações entre tupis e portugueses, o
qual garantira, até então, a manutenção da autonomia dos grupos tribais. A paulatina fixação
dos europeus, com caráter permanente, em diversos pontos da costa brasílica pôs em causa o
equilíbrio existente, provocando dois tipos de reações distintas por parte das comunidades
aborígines: aceitação pacífica ou resistência armada.

22. As características geográficas de várias regiões, com especial incidência no sudeste,


dificultaram significativamente a penetração portuguesa no sertão, condicionando a forma de
ocupação do território brasílico nos séculos XVI e XVII.
23. Dispondo Portugal de reduzidos recursos demográficos no século XVI, o governo régio
optou por concentrá-los na costa, já que, em primeiro lugar, urgia enfrentar a ameaça
francesa, ocupando todas as baías e embocaduras de rios suscetíveis de permitir a ancoragem
de navios gauleses e, em segundo lugar, as condições ideais para a cultura da cana sacarina e o
fabrico de açúcar – essenciais para viabilizar a empresa colonizadora – se conjugarem nas
proximidades da faixa marítima.

24. A estratégia lusitana de consolidação e ampliação da América portuguesa assentou, do


ponto de vista geopolítico, num tripé:

a) escolha da Bahia – região central na época quinhentista – para sede do governo geral,
funcionando, segundo as palavras de um franciscano seiscentista, como o “coração no meio do
corpo, donde todas se socorressem e fossem governadas”;

b) na fundação de São Paulo, base estabelecida no planalto de Piratininga que constituía uma
cunha para a penetração na região platina; e

c) criação de São Sebastião do Janeiro, cidade que assegurava o domínio efetivo da baía da
Guanabara, essencial, por um lado, para manter a ligação entre as capitanias do Norte e do Sul
e, por outro, através do sertão, com São Paulo, reforçando, desse modo, a segurança de
ambas as povoações.

25. Em meados de Quinhentos, a fase da economia de escambo foi superada, consolidando-se


a economia de produção em que a cultura da cana e o fabrico do açúcar – complementados
por roças de mantimentos e criação de gado – assumiram um papel primordial.

26. A opção pela agricultura de exportação, única que permitia integrar o Brasil na economia-
mundo, originou uma estrutura fundiária caracterizada pela grande propriedade e pelo recurso
intensivo a mão-de-obra escrava, primeiramente formada por indígenas que foram sendo, a
partir de meados do século XVI, gradualmente substituídos por cativos africanos.

27. Esse tipo de estrutura econômica gerou uma formação social dominada por um restrito
número de membros (os senhores de engenho) em que a massa da população era constituída
por escravos, verificando-se a existência de um setor intermédio pouco numeroso (lavradores,
mercadores e artesãos).

28. A recepção do mito ameríndio da “Ilha Brasil” – que encontra claro acolhimento na
cartografia lusa a partir de meados de Quinhentos – insere-se na estratégia portuguesa de
desenvolver a teoria de que a Província de Santa Cruz seria uma ilha “rodeada pelo oceano e
por dois grandes rios [o Amazonas e o Prata], unidos por um lago”. Tratava-se de utilizar um
argumento geográfico para burlar o Tratado de Tordesilhas.

29. A miscigenação, o escambo, a atividade missionária e o engenho desempenharam, desde


os primórdios da construção do Brasil, um papel fundamental no processo de aculturação
entre índios, portugueses e africanos.

30. Um dos elementos fundamentais do contato interétnico foi a mulher indígena,


representante das funções domésticas e principal força produtora no sustento do grupo tribal.
Ela constituiu, através da gradual e crescente ligação com o europeu, um instrumento para a
desorganização social e consequente transferência da propriedade dos meios de produção das
sociedades nativas para a emergente sociedade colonial.

31. Os laços matrimoniais entre portugueses e mulheres índias contribuíram para que os
primeiros adotassem muitos hábitos tupis (na alimentação, no mobiliário doméstico, nas
formas de sociabilidade, etc.), provocando, assim, informalmente, a aculturação dos colonos.

32. Os mestiços desempenharam um papel decisivo como agentes de aculturação,


sintetizando, numa primeira fase, os elementos das culturas europeia e ameríndia,
transmitindo-os a grupos tribais que nunca tinham entrado em contato com os portugueses.

33. A partir da segunda metade de Quinhentos, o processo de aculturação foi enriquecido com
o elemento africano, iniciando-se, então, a gradual simbiose entre as componentes euro-afro-
americana que viria a moldar biológica e culturalmente a formação da sociedade brasileira.

34. Dos contatos luso-ameríndios resultaram, nomeadamente, contributos linguísticos que se


traduziram pela incorporação na língua portuguesa de vocábulos de origem tupi-guarani
(amendoim, mandioca, tamanduá, beiju, pipoca etc.).

35. Verificou-se a rápida adoção pelos índios da tecnologia europeia nos mais variados
domínios, da caça e pesca à construção de habitações e à guerra.

36. A introdução de utensílios metálicos aumentou o rendimento das atividades indígenas: na


agricultura, através da utilização de machados no abate de árvores, de enxadas no cultivo da
terra e de facas para cortar as ramas da mandioca; na pesca, mediante o uso do anzol de
metal – o pindaré (“anzol diferente”) – e de pontas de ferro nos arpões; e, ainda, na confecção
de alimentos, pela introdução da chapa de ferro perfurada no ralador, em substituição das
pedras aguçadas, dentes ou espinhos.

37. Tendo-se revestido o processo de aculturação em terras brasílicas de um carácter


recíproco, também os portugueses assimilaram produtos, objetos, estilos de vida e, até, táticas
guerreiras aborígines, como a das emboscadas.

38. As mulheres portuguesas preparavam diversas especialidades culinárias com base nos
derivados da mandioca, como os beijus, bolos semelhantes a filhós, feitos com farinha e
condimentados com leite de coco, açúcar e bordados de canela e, a partir da tapioca (fécula
alimentícia da mandioca), a “tapioca-molhada” ou “tapioca-de-coco”.

39. Os cruzamentos étnicos de portugueses com ameríndias e negras, bem como entre as
diversas variantes possíveis, contribuíram para criar uma sociedade fortemente miscigenada,
do ponto de vista biológico, na qual os intercâmbios linguísticos, religiosos, técnicos, botânicos
e zoológicos geraram uma cultura portadora de uma profunda originalidade.

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