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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

1ª ATIVIDADE AVALIATIVA

DISCIPLINA: HISTÓRIA INDÍGENA E DO INDIGENISMO

DOCENTE: WANIA ALEXANDRINO VIANA

TURMA: 2021 DATA: 14/11/2022

DISCENTE: CLAYTON DA COSTA FERREIRA

DISCENTE: NAYRA LOHANY SANTOS DE ARAÚJO

ATIVIDADE 1: RESENHAS

SANTARÉM

2022
ALMEIDA, Maria Regina Celestino - Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas
aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 25 a
72.

RESENHA

O livro metamorfoses indígenas, traz uma perspectiva sobre os índios aldeados


no Rio de Janeiro colonial. Ancorada no rigor de sua argumentação, sua análise e seu
conhecimento, o texto vem com o intuito de informar, problematizar e discutir sobre
um pensamento estereotipado da relação entre os nativos e colonizadores, segundo
a autora [...] "trata-se de demonstrar que os índios integrados à colonização não se
diluíram nas categorias genéticas de escravos ou despossuídos da Colônia"
(ALMEIDA, 2013, p.25). Seu texto não só discorre sobre os aldeados, mas também
como a história desse povo era vista, falando a respeito do desinteresse dos
historiadores e antropólogos e a ausência de um estudo interdisciplinar a respeito da
temática indígena Almeida diz que: [...] "antropologia e história andaram distantes e
fechados em posições redutivistas que limitavam não apenas seus objetivos de
estudo, mas também as possibilidades de os interpretar e os abordar." (2013, p.26).
Os nativos eram vistos como um povo sem história, um dos motivos era o fato de não
ter uma escrita, mas isso não significava que não existia uma história a ser estudada
e compreendida.

É importante observar que a perspectiva histórica se dava pelas ações dos


Colonizadores, e os índios sendo colocados apenas como coadjuvantes em toda a
história da colonização, apenas reagindo ao que faziam os europeus, Maria Regina
declara que:

Tem-se quase a impressão de que estavam no Brasil à disposição desses


últimos, que se serviriam deles à vontade, descartando-os quando não mais
necessários: teriam sido úteis para determinadas atividades e inúteis para
outras, aliados ou inimigos, bons ou maus, sempre de acordo com os
interesses e objetivos dos colonizadores. (ALMEIDA, 2003, p.27)

O ponto inicial no texto de Maria Regina, é como os indígenas perdiam sua


identidade étnica, após perderem contra a colonização, sendo chamados de
Aculturados, a partir do momento que cediam ao sistema colonial, deixavam de ser
índios, tornando-se a mão-de-obra principal dos colonos, trabalhando na plantação,
nas construções, nas embarcações, sem contar que os nativos tinham quer se render
a Igreja. Atos que foram apagando a cultura original, e o modo de vida existente
daquele povo antes da chegada dos europeus, foi simplesmente se desfazendo.
Retomando um debate quase que teórico e metodológico sobre a historicidade cultural
e a abordagem interdisciplinar da antropologia e da história, diante de uma perspectiva
minuciosa, Maria Regina discute pensamentos e ideias de muitos estudiosos e
autores, como por exemplo, Florestan Fernandes e Evans Printchard.

Diante de novas concepções teóricas, os historiadores e antropólogos, passam


a repensar e problematizar conceitos, antes básicos, referente a cultura e história dos
nativos. Compreendendo a importância da história desse povo. Para ressaltar, Maria
Regina fala:

"A compreensão da cultura como produto histórico, dinâmico e flexível,


formado pela articulação da cultura entre tradições e experiências novas dos
homens que a vivenciam, permite perceber a mudança cultural não apenas
enquanto perda ou esvaziamento de uma cultura dita autêntica, mas em
termos do seu dinamismo, mesmo em situações de contato, quando as
transformações se fazem com muita intensidade e violência “. (ALMEIDA,
2013, p, 33.)

É importante observar e destacar que o fato dos índios ceder, colaborar com
os colonizadores e se integrar à colonização também podia significar uma forma de
resistência. E essa integração permitia aos indígenas negociar com os seus
colonizadores, em busca melhorias e possíveis vantagens. Com essa busca vem
mostrar mais sobre essa extemporânea integração, o texto de Maria Regina se divide
em partes, discorrendo justamente sobre esses índios integrados, que são chamados
de Aldeados, o processo de construção das aldeias, sua política, analisando também
a vida dos povos aldeados diante do Império Português, mostrando com base, que
teve sim, muitos conflitos e disputas, e claro, houve resistência. Diante de
pensamentos e atitudes eurocêntricas, que se perpetuam até os dias de hoje, a autora
usa seu texto e todo o seu conhecimento para quebrar paradigmas existentes a muito
tempo, discutindo a respeito de identidade étnica e cultural. 1

1
Palavras-Chave: História indígena, Colonização, Aculturação.
MOISÉS, Beatriz Perrone, " Os princípios da legislação indígena do período colonial"
- História dos índios no Brasil. São Paulo. Cia das Letras, 1992. p 115-132

RESENHA
Ao olhar para a historiografia, não é comum encontrar livros que se dediquem
ao estudo da legislação indígena, no entanto, Beatriz Perrone Moisés através do livro
"História dos Índios no Brasil", traz uma perspectiva dos princípios da legislação
indigenista em meio a colonização. Em um primeiro olhar, a legislação dos indígenas
do Brasil colonial, era vista por muitos estudiosos como uma legislação contraditória,
hipócrita e oscilante, justamente porque em um momento a legislação declarava os
índios livres, depois permitia o cativeiro legal, os entregava aos colonos como mão-
de-obra indígena ou aos missionários, por esses motivos era possível ver a legislação
como oscilante. No entanto, Beatriz vem esclarecer justamente esse ponto, para que
seja possível entender a legislação colonial, ela descreve duas categorias de índios,
os índios livres e os índios escravos, ou melhor dizendo, os índios aldeados e os índios
inimigos. E a legislação se distinguia para cada categoria. Destaca ela como " [...] uma
linha de política indigenista que se aplica aos índios aldeados e aliados e uma outra,
relativa aos inimigos, cujos princípios se mantêm ao longo da colonização"
(PERRONE, 1992 p.117). Para então mostrar a base de seu texto, a partir desse ponto
ela trata primeiro sobre os índios aldeados, destacando como funcionava esse
conceito de índios livres, trazendo informações sobre o aldeamento, trabalho feito por
eles, o salário recebido por sua mão de obra, como deviam ser tratados, e os seus
direitos previstos na legislação. Sendo garantido a liberdade ao longo da colonização.
"Afirma-se desde o início, que, livres, são senhores de suas terras nas aldeias,
passíveis de ser requisitados para trabalharem para os moradores mediante ser muito
bem tratados. Deles dependem reconhecimento o sustento e defesa da
colonia."(PERRONE, 1992 p.117)

A legislação colonial sempre dava importância ao aldeamento, pois era previsto


nele a conversão e a civilização dos índios, tendo os missionários o papel de ensinar
e fazer com que os índios fossem inseridos em meio aos portugueses. Como descreve
Perrone em seu texto “Os padres devem convencer os índios a acompanhá-lo
espontaneamente, dizendo-lhes que serão livres, senhores de suas terras nas aldeias,
e que estarão melhor nas aldeias " (PERRONE, 1992 p.118). É então uma legislação
de liberdade que estava envolta dos índios aldeados e os aliados. Os aliados eram
aqueles que não aceitavam descer para o aldeamento, mas viraram “amigos" dos
portugueses. E segundo a Lei de 10/9/1611, os índios que não eram convencidos,
não podiam ser forçados. Os índios aliados não aceitavam o aldeamento, mas
estavam dispostos a entrar em guerras pelos portugueses, contra inimigos para
proteger o território. Nesse contexto, percebe-se como os portugueses necessitavam
dos índios aldeados e aliados, pode-se dizer, que para tudo, tanto para os trabalhos,
como também, para ampliar o território colonial, e assegurar o território em seu poder.
Beatriz Perrone mostra então, a seguir, um outro caminho, outra legislação
voltada para os índios inimigos, os hostis, que eram escravizados através das guerras
justas, como chamavam os portugueses e o resgate. As leis que se aplicavam para
os aliados, não se estendiam aos hostis. Perrone relata que: " Se a liberdade é sempre
garantida aos aliados e aldeados, a escravidão é, por outro lado, o destino dos índios
inimigos”. Os direitos de guerra são objeto de grande elaboração, reconhecidos
mesmo nos momentos em que se declara a liberdade de homens que, segundo
princípios assentes de direito, seriam justamente escravizados. Nesses momentos
(Leis de 1609, 1680 e 1755), as leis expressamente consideram o direito de guerra
secundário diante da importância da salvação das almas, civilização ou defesa da
liberdade natural dos índios, constantemente ameaçadas pelos desrespeitos dos
colonos às leis."(PERRONE, 1992 p.123). Os colonos se valiam da Lei de 1680, para
escravizar os hostis, pois a prática da hostilidade contra os aliados, a recusa à fé
católica tornava-se uma causa legítima para a guerra justa. Mas era a hostilidade da
parte dos índios inimigos a principal justificativa para uma guerra. Por mais que muitas
das vezes era inventada uma imagem de índio hostil e bárbaro, para poder escravizar
os inimigos. A escravidão indígena era defendida por padres, e pela ordem
Franciscana, pois tinham para eles, que aqueles que não quisessem se converter por
livre e espontânea vontade, ao serem escravizados, iriam ceder e se converter.
Em sua Obra Perrone traz a certeza que a legislação não oscila, como de fato
parece, mas sim, existe uma diferença ao aplicar a legislação em cada situação, assim
como toda política, movimentando-se conforme as interações e reações. Pois os dois
caminhos, que levam a políticas diferentes, são apenas resultados de diferentes
reações ao sistema colonial. É importante finalizar essa análise com a fala da própria
Beatriz Perrone sobre a interação, a autora diz que:
A legislação que a define, do mesmo modo, é muito mais do que mero projeto
de dominação mascarado em discussão jurídica, e merece ser olhada com
outros olhos, para que dela se possa tirar toda informação que ela pode
fornecer."(PERRONE, 1992 p.129).2

2
Palavras-Chave: Legislação, colonização, Escravidão, Indígenas.
ALMEIDA, Maria Regina. Metamorfoses indígenas: identidades e culturas nas aldeias
coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Editora: FGV, 2013. Capítulo 4: “O
trabalho indígena” pp.217-249.

RESENHA

Muito se discute a respeito da participação dos povos originais da américa na


formação da cultura brasileira, esse aspecto influenciado pela miscigenação com
negros e europeus na colonização tem sido cada vez mais ponto de discussão e
pesquisa na historiografia. Entretanto, a história dos povos indígenas no período
colonial vai muito além de mesclas culturais, sua participação na formação do Brasil
também está diretamente ligada a seu trabalho, exploração e escravização. Esse
contexto de trabalho indígena no período colonial é explorado por Maria Regina
Celestino de Almeida no capítulo 4 de seu livro intitulado: Metamorfoses indígenas:
identidades e culturas nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Segundo Almeida
(2013, p.195) esse trabalho indígena foi um dos pilares da colonização no Rio de
Janeiro entre os séculos XVI e XIX, esses indígenas eram, segundo a autora, ou
inimigos escravizados, ou aliados que eram aldeados nas proximidades da cidade.
Um dos aspectos interessantes explorados pela autora são as leis que
regulamentavam o trabalho dos índios aldeados, em uma espécie amenização para
que os indígenas não parecessem estar sendo escravizados, mesmo que estivessem
sendo levados a trabalhos extremamente pesados as leis serviam como uma espécie
de distração para que este se sentisse dentro de uma jurisdição, mesmo que essa
fosse feita pelo próprio colono, dentro dos seus conceitos de justiça e trabalho.

Dentro do que pesquisou Almeida (2013) é interessante destacar a disputa


entre colonos e jesuítas a respeito de quem teria controle do trabalho dos indígenas
aldeados. Muito se fala sobre como os negros escravizados eram tratados como
mercadoria na colonização da América, mas isso não se restringe a escravidão
africana, os indígenas também eram vistos como meros objetos de trabalho, em um
vai e vem de reclamações sobre quem deveria ficar com o seu controle, hora
reivindicados pelos jesuítas, ora pelos colonos ou pela coroa. Nesse contexto onde os
indígenas eram tidos como propriedade, seu lugar de importância também era o
mesmo de bens materiais, como evidenciado nos relatos de pessoas que em seus
testamentos deixavam os índios como herança, definindo quem ficaria responsável
pelo seu controle após a morte do atual dono. Embora os jesuítas aparecessem muitas
vezes contrariando a disponibilização de indígenas para os colonos sua atitude estava
longe de significar preocupação com a liberdade desses povos, como apontado pela
autora os padres muitas vezes queriam reter os índios para benefício próprio, e em
um contexto que essas autoridades faziam parte de um clero católico, a imposição
religiosa se fazia sempre presente. Isso se evidencia no apego dos indígenas a
qualquer oportunidade de liberdade de costumes, como relatado no caso da família
de Sá, o indígena proclama fidelidade a família, em troca de liberdades mínimas de
exercer sua cultura, como aponta Maria Regina Celestino de Almeida : ''Afinal, foram
eles que lhes deram terras e com certeza ainda lhes garantiam algumas vantagens,
como por exemplo a de não ter religiosos residentes em sua aldeia o que
provavelmente lhes permitia viver em liberdade de costumes". (ALMEIDA, 2013,
P.192).

Embora em sua obra a autora aponte que esses indígenas aldeados no Rio de
Janeiro tinham voz ativa em seu trabalho, isso não significava necessariamente
liberdade plena sobre si mesmos. Uma das principais imposições que Almeida (2013)
cita é como o trabalho e dinheiro dentro de conceitos europeus foi implantado para os
indígenas de tal forma a passarem a fazer parte da vida dos aldeados. A autora aponta
que com o passar do tempo os indígenas passaram a trabalhar apenas para seu
sustento, não aceitando trabalhar obrigados, porém o desejo pelo dinheiro passou a
fazer parte do cotidiano dos aldeados, nesse contexto é notório o surgimento de um
pensamento indígena acerca de melhores salários, inclusive com a reivindicação
documental de aumento salarial como aponta Almeida (2013, p.222). A cultura
indígena antes baseada na cooperação, no coletivo passou a integrar um micro
sistema capitalista dentro das aldeias no Rio de Janeiro do século XVII, onde os que
antes viviam em liberdade plena, podendo exercer sua cultura sem se preocupar com
horário de trabalho ou salário, agora constituíam uma espécie de proletariado, posição
esta que lhe fora imposta pelo colonizador europeu. O trabalho indígena não significou
apenas uma exploração física, mas também uma exploração moral, com a imposição
de um sistema econômico sobre esses povos. Sobre isso Maria Regina Celestino de
Almeida aponta que:
Afinal, até o século XIX, os índios continuavam recusando serviços que não
lhes interessavam. Razões culturais, com certeza, ainda os estimulavam a
não trocar horas de lazer por trabalho quando não necessitavam dele para
sua manutenção. (ALMEIDA, 2013, p.223-224)

Mesmo com voz ativa, podendo negar certos trabalhos, esses indígenas já
estavam inseridos no contexto da necessidade de um salário para sobreviver, fugindo
ao que era seu costume e tendo que se adaptar ao que lhe fora imposto pelos
colonizadores.

Para além de toda exploração e imposição sofrida pelos indígenas levados ao


trabalho na colonização, também se pode citar importantes papéis exercidos por eles
que muitas vezes são esquecidos ao se falar do Brasil colônia. Uma das heranças
materiais mais lembradas desse período são as imponentes fortalezas e fortes
construídos em pontos estratégicos de importantes cidades daquela época e que
serviam de proteção para o caso de invasões externas. Almeida (2013, p.204) aponta
que esses importantes símbolos de força tiveram como principais construtores os
indígenas no Rio de Janeiro no século XVII, além disso a autora aponta que os
indígenas muitas vezes eram colocados à disposição para fazerem parte da defesa
da colônia em caso de invasão. Talvez essa pouca importância às vezes dada aos
diferentes papéis desempenhados pelos indígenas na colônia seja graças ao absurdo
tão grande que foi o tráfico e escravização negreiros, os indígenas acabam sendo
colocados em uma posição de coadjuvantes em um contexto de outros povos que
atravessavam o oceano para serem escravizados. O quarto capítulo do livro de Maria
Regina Celestino de Almeida (2013) consegue abordar de modo bastante claro essa
história de maior protagonismo do trabalho indígena no Rio de Janeiro colonial,
inclusive evidenciando o quão diversificado eram os papéis desempenhados por
esses povos. Nesse contexto um olhar mais amplo dentro da historiografia deve
contemplar a pluralidade de participação dos indígenas na construção de um Brasil,
deve-se valorizar suas histórias dentro de um contexto onde foram desvalorizados,
escravizados e tratados como meras máquinas de trabalho.3

3
Palavras-Chave: Trabalho Indígena, Colonização, escravidão, Rio de Janeiro.
DOMINGUES, Ângela. Quando os índios eram vassalos. Colonização e relações de
poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000. Capítulo
5- “Formas de resistência: uma reavaliação das relações entre “dominantes” e
“dominados”. pp.249-295.

RESENHA

No quinto capítulo de seu livro intitulado: Quando os índios eram vassalos.


Colonização e relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século
XVIII Ângela Domingues focam nas formas de resistência usadas pelos povos
ameríndios mediante a colonização no norte do Brasil durante a parte final do século
XVIII. Inicialmente a autora mostra em sua pesquisa que diferente do que às vezes se
pensa os indígenas não foram passíveis a colonização e se adaptaram aos mais
diversos níveis de colonização para implantar diferentes formas de resistência. É
inicialmente interessante olhar como as resistências não se apresentavam apenas em
oposição às violências físicas e trabalho pesado, mas também em contraponto a toda
imposição cultural envolvida no processo colonial sobre os povos ameríndios.
Segundo Domingues (2000, p. 256) essas resistências indígenas ''Podiam ser, ainda,
uma expressão do seu desacordo contra o processo de aculturação desenvolvido
pelas autoridades administrativas e religiosas luso-brasileiras''. Sobre isso a autora
também destaca a importância da floresta para a cultura indígena, esses habitantes
originais da região tinham uma ligação intrínseca com os elementos da Amazônia,
suas religiões, sua forma de vida, tudo dependia da floresta que os rodeava, com a
invasão promovida pelos europeus tudo isso foi modificado, assim os índios aldeados
viam a fuga para a floresta amazônica não só como uma libertação e resistência a um
cativeiro promovido pelo colonizador mas também uma forma de voltar a um espaço
onde sua cultura nasceu e poderia ser mantida.

Ao falar sobre as regiões com menor avanço da colonização, onde os conflitos


entre indígenas e colonos eram mais intensos, a autora apresenta fatos que
desmistificam a ideia de um índio passivo a colonização e massacrado pelas tidas
como “evoluídas” armas de fogo europeias. Como aponta Domingues (2000, p. 258)
os povos da região amazônica possuíam armas e táticas de batalha muito eficientes
para o contexto geográfico da região, alguns povos como os Mundurucu e os Mura
apresentavam formas de guerrear que causavam medo nos colonizadores, e ao
contrário da imagem eurocêntrica de que os povos nativos possuíam formas de
combate primitivas e inferiores, eles apresentavam táticas adaptadas ao seu espaço
de vivência, segundo a autora isso constituía entre colonos e indígenas “[...] um jogo
equilibrado de forças e as perdas sucedia-se de parte a parte". Essa forma mais
direcionada ao conflito direto com o colonizador foi sendo deixada de lado conforme
a colonização avançava e os indígenas se inserem cada vez mais em um contexto de
proximidade e convivência no meio colonial, inclusive através de aldeamentos.

A obra de Ângela Domingues (2000) também retrata um contexto onde a


colonização já estava mais avançada, e assim os meios legais eram mais propícios
para os indígenas demonstrarem sua insatisfação com toda a exploração e
aculturação que sofreram. É importante perceber como mesmo inseridos em um
contexto de convivência com os colonizadores os indígenas nunca deixaram de lutar
e resistir, apenas se adaptaram as formas que lhes pareciam mais palpáveis. Ao criar
toda uma gama de legislações para cuidar das pendências indígenas o colonizador
não os igualava a eles perante lei, mas os colocava como desamparados, mesmo que
estes estivessem em território que lhes pertenceu por inúmeras gerações, o estatuto
jurídico destinado aos indígenas era o de desprotegidos e miseráveis, como aponta a
autora esse estatuto era também “{...} concedido a viúvas, órfãos e indivíduos
mentalmente debilitados". (DOMINGUES, 2000, p. 250). Nesse contexto, os indígenas
mais inseridos na sociedade colonial perceberam como seus direitos podiam ser
minimamente mais atendidos conforme sua inserção no meio dos colonizadores, os
indígenas por vezes renegam de certa forma sua origem em busca de se colocarem
em uma posição mais próxima dos europeus para tentar conseguir seus mínimos
direitos, sobre isso a autora aponta que alguns índios: "quando se nomeavam,
tomavam por referência a povoação portuguesa que habitavam em território
amazônico, não mencionando jamais o nome da etnia a que pertenciam".
(DOMINGUES, 2000, p. 266). Nesse cenário a resistência indígena assumia um grau
mais institucional, uma resistência mais de dentro para fora, e embora inseridos em
um contexto de aculturação e imposições das mais diversas formas, os indígenas
continuavam a resistir e denunciar os abusos sofridos.

Posteriormente, o caso dos povos Mura e Mundurucu é explorado com maestria


pela autora na parte final do capítulo, esses povos constituíram uma das forças
conflitantes que mais ameaçaram o avanço dos colonizadores. Com suas tribos
numerosas e extremamente habituadas ao ambiente eles puderam conter avanço,
através de suas estratégias, armas e conhecimentos extremamente adaptados ao
contexto geográfico onde viviam. O contexto dos Mura, e principalmente dos
Mundurucu propiciava um combate mais ferrenho, onde toda sua ligação com a
floresta e suas armas, como flechas e zarabatanas, permitiam uma resistência em
batalha. Embora a força desses povos tenha se mantido mesmo após certo avanço
dos colonizadores sua dinâmica de convivência étnica tinha se modificado após a
chegada dos europeus, Domingues (2000, p.278) aponta que várias etnias ameríndias
diferentes, por vezes inimigas, faziam alianças para lutar contra o inimigo europeu,
deixando suas diferenças culturais de lado para combaterem juntas. Mesmo com as
diversas imposições e aculturação promovidas pelos colonizadores os indígenas
nunca desistiram de lutar por sua terra e sua cultura, a obra de Ângela Domingues
consegue trazer um novo panorama comtemplando o quão diversas e complexas
eram as formas de resistência desses povos, ajudando a desconstruir a visão
eurocêntrica de um “Bom selvagem” ingênuo passível a colonização.4

4
Palavras-Chave: Resistências; Indígenas; colonização; Aculturação.

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