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O BRASIL COLÔNIA: DO

SÉCULO XVI ATÉ


MEADOS DO SÉCULO
XVIII PARTE 1
Prof. TC Queiroz
sumário
• Introdução
• Ameríndios na Terra dos Papagaios
• Período Pré-colonial (1500-1530)
• A Formação do Sistema Colonial Lusitano
• A Plantation da Cana-de-açúcar e o Trabalho Escravo
• As invasões Estrangeiras no Brasil Colonial
• Considerações Finais
• Referências
Introdução
• Após a conquista de Constantinopla pelos turcos no século XV da era Cristã e
o fechamento da principal rota comercial para o Oriente no Mediterrâneo,
passou a ser imperante a procura de novas rotas marítimas, para manter o
comércio de especiarias nas Índias. Dessa forma, os países Ibéricos, Portugal e
Espanha, passaram a desenvolver projetos alternativos para alcançar o
comércio além-mar. Foi o projeto espanhol, liderado por Cristóvão Colombo,
que no afã de chegar às Índias navegando em linha reta - partindo da ideia de
que o planeta era esférico - alcançou um novo continente, a América.
• O Estado Português logo assegurou tratados com a Espanha, a fim de garantir parte do território
americano para a coroa lusitana. Em 1500 o navegador português Pedro Álvares Cabral aportou
no Brasil, marcando o acontecimento da descoberta de uma região que já comportava habitantes,
por milhares de anos, de cultura muito diversa dos cristãos europeus: os indígenas. É importante
aqui registrar que as grandes navegações tinham como objetivo primeiro a busca de especiarias e
a exploração de metais preciosos. O pioneirismo português e espanhol na Era das
Navegações deve-se à formação de Estado Absolutista prematuramente, e pela posição
geográfica favorável à execução de projeto marítimo alternativo, além de importante
experiência na arte da navegação.
Os Ameríndios na Terra dos Papagaios
• Antes do Brasil ser conquistado pelos lusitanos, o que os europeus
qualificaram como novas terras, já eram terras muito antigas para
os povos indígenas. Por aqui havia uma demografia entre dois a
cinco milhões de habitantes, divididos em diversos grupos
indígenas, tais como o microgrupo Tupi-Guarani e os Tapuias. Os
Tupi-Guarani, que habitavam o litoral, qualificaram os povos
nativos do sertão de Tapuia. Hoje sabemos, graças aos estudos
antropológicos, que todos esses povos eram possuidores de uma
sociedade complexa, de sofisticada economia e sistema cultural
avançado. Esses ameríndios estão distantes da ideia de civilização
representativa, de monumentos materiais espetaculares - palácios,
pirâmides, teatros, entretanto representam organizações societais de
monumentos imateriais, de imenso valor para a humanidade, visto
que produziram sociedades de liberdade individual e coletiva em
equilíbrio ambiental.
• Os povos nativos em regra geral, viviam da pesca, caça, coleta de frutos e, também, desenvolveram
domesticação de plantas (agricultura de coivara). Os povos nativos produziram riquezas que viabilizou
importante crescimento demográfico. No entanto, inviabilizou qualquer política de construção de Estado,
a fim de garantir a liberdade no coração da sociedade nativa, refutando o poder coercitivo. Os ameríndios
brasileiros eram os senhores da terra antes da chegada dos conquistadores portugueses. Eles sempre
mantiveram, e ainda mantém, até os dias atuais, uma existência social em equilíbrio com o ambiente
natural. O encontro entre portugueses e indígenas representou a violenta destruição da diversidade
cultural e da própria existência física dos nativos. Dos milhões de nativos existentes, hoje há apenas 200
mil indígenas, ainda resistindo à busca predatória de terras e matéria-prima, por parte das elites brancas
do latifúndio de linhagem cristã.
Período Pré-colonial (1500-1530)
• Tudo era novo para os portugueses: a fauna, a flora e os povos nativos.
Tratava-se de uma nova paisagem ora representada como o paraíso, ora
como o inferno, numa terra sem rei, sem lei e sem Deus. O Tratado de
Tordesilhas, assinado em 1494, entre Portugal e Espanha, garantia a
posse das terras encontradas pelo navegador Pedro Álvares Cabral.
Contudo, os portugueses não encontraram especiarias ou metais
preciosos para assegurar uma rápida colonização na região. O objetivo
era colonizar as novas terras, mas a partir de riqueza local para
exploração. Assim, da descoberta, datada em 22 de abril de 1500 até
1530 a exploração do Brasil ficou restrita à extração de Pau-brasil,
madeira para extração de corante com objetivo de tingir tecidos e,
também, utilizada para construção de móveis de luxo na Europa; com
menos intensidade, a fauna exótica (papagaios, macacos e outros); e
frutas tropicais. Para isso, foram criadas feitorias que conjugavam
estrutura de entrepostos comerciais e de fortaleza militar de defesa do
litoral.
• A exploração do Pau-brasil foi trabalho indígena, a
partir da prática do escambo, troca de mão-de-obra
indígena para o corte e transporte da madeira, até as
feitorias, por objetos europeus de interesse à população
nativa, como instrumentos de metal (facas, canivetes) e
espelhos.
• A partir de 1502 inicia a exploração sistemática do Pau-brasil pelos colonizadores portugueses. Apesar de
representar pouco valor no mercado europeu, diante da hegemonia do comércio das especiarias do
Oriente, o interesse pela extração foi significativo. A Coroa Portuguesa logo procurou inserir o
monopólio na extração da madeira. Tudo de acordo com as políticas mercantilistas dominantes no
período. Assim, a exploração somente poderia ser realizada pelos exploradores autorizados pelo Estado
Absolutista Português, e, a partir desse monopólio real foi garantida à Coroa o recebimento de impostos
necessários ao fortalecimento do Estado Moderno Lusitano.
• A historiografia destaca esse período como o Pré-Colonial, pois por trinta anos após a descoberta a
América portuguesa ficou praticamente abandonada, sem colonização efetiva, em virtude do ainda forte
comércio de especiarias de Portugal nas Índias. A crescente exploração do pau-brasil é o que garantia os
laços metropolitanos, entretanto, não produzia riqueza suficiente para assegurar a colonização. Então, os
traços lusitanos foram percebidos nessas décadas, exclusivamente na dinâmica das feitorias e na presença
das expedições guarda-costas no litoral. De fato, os primeiros anos dos portugueses na nova terra -
chamada Brasil, estavam ainda restritos à uma frágil colonização. Foi preciso que fatores externos à
América Portuguesa impulsionassem a ocupação sistemática da terra descoberta. Ou seja, o aumento da
concorrência internacional de especiarias no Oriente diminui a taxa de lucro dos comerciantes
portugueses, forçando a busca por novos horizontes de lucro na América Portuguesa, a partir da
montagem de Sistema Colonial.
A Formação do Sistema Colonial Lusitano
• A necessidade de sistematizar um projeto colonizador, de longa duração, foi resultado do
aumento da concorrência comercial nas Índias e da consequente queda no lucro. Assim,
tornou-se imperativo encontrar meios para manter o controle sobre as terras conquistadas e
explorar riquezas na região. Para tal fim foi necessário criar uma estrutura político-
administrativa articulada às metrópoles, para desenvolver políticas de exploração e transferir
riquezas para a península Ibérica. Portugal, depois da descoberta, inicia os primeiros passos da
colonização apenas em 1530. A partir dessa data, os portugueses paulatinamente
sistematizaram uma política colonial que persistiu por mais de dois séculos no Brasil. E é
sobre o Sistema Colonial montado na América Portuguesa que iremos estudar nesta unidade.
• Além do elemento econômico, necessidade imperativa de
produção de riqueza na América Portuguesa, havia, também,
outro de inclinação militar: colonizar para proteger o Brasil
diante das constantes ameaças de invasões estrangeiras. A
expedição de Martim Afonso de Sousa em 1530 marca o início
do que a historiografia registra como Período Colonial
brasileiro, que se estendeu até 1822 quando o Brasil rompeu
definitivamente com a Metrópole portuguesa, com a
Proclamação da Independência.
• A partir dessa expedição foi fundada a Vila de São Vicente. Logo,
ainda no contexto da expedição, Dom João III ordena a criação das
Capitanias Hereditárias, que correspondeu à divisão da América
Portuguesa em quinze partes, por linhas traçadas em paralelo ao
equador. As terras foram doadas aos chamados Capitães-donatários,
gente da baixa nobreza lusitana, que exercia influência na Coroa.
Dentre os Donatários, podemos destacar a figura do próprio Martim
Afonso, Duarte Coelho e Mem de Sá. A doação não significava a posse
definitiva das terras, mas a concessão para desenvolver formas de
exploração econômica para a produção de riqueza colonial. Dessa
forma, não havia autorização aos Donatários para vender ou dividir a
Capitania. Apesar disso, a posse fornecia aos Donatários extenso poder
de mando sobre as terras doadas, como por exemplo, o de cobrança de
impostos, de administração, concessão de sesmarias, poder militar e de
aplicação da lei.
• Dessa experiência, que marca os primeiros passos da colonização no Brasil, observamos o êxito de
apenas de duas Capitanias: a de Pernambuco e de São Vicente. As demais fracassaram por falta de
recursos, inexperiência no trato com a terra, e pela sucessiva resistência indígena à ocupação
lusitana. As duas Capitanias que prosperaram foram as que tiveram apoio financeiro e traçaram
relações amistosas com os indígenas da região. A produção de cana-de-açúcar também marcou a
singularidade do sucesso das Capitanias de Martim Afonso e Duarte Coelho. A política de concessão
de terras em sesmarias no passado foi responsável pela criação da cultura do latifúndio no Brasil,
afinal, foram imensas sesmarias, forjando uma elite da terra que se perpetua até o presente no país.
• Diante do malogro, as capitanias foram sendo retomadas paulatinamente pela Coroa
Portuguesa, ainda havia um resíduo administrativo que persistiu até a transferência completa
para o poder do Estado Português. Foi somente na segunda metade do século XVIII
• que Marquês de Pombal, inspirado na racionalização administrativa iluminista, completou a
política de transferência do poder privado dos donatários para a ordem pública. A criação do
Governo Geral em 1549, por Dom João III, foi o primeiro esboço de centralização político-
administrativa na história brasileira.
• Diante do fracasso sistêmico das Capitanias Hereditárias, ficou evidente a necessidade de constituir poder
público com razoável centralização na América Portuguesa. Tomé de Sousa foi nomeado o primeiro
Governador-geral do Brasil. Ele desembarcou na Bahia acompanhado de uma tripulação de mais de mil
portugueses. As ordens da Coroa, para execução na América Portuguesa, eram as de garantir a posse
definitiva das terras descobertas na América, colonizá-las com êxito e administrar as rendas da Metrópole.
Abaixo do Governador-geral havia a presença de Ouvidor-mor, responsável pela aplicação da justiça, do
Capitão-mor da Costa, para garantir a segurança militar frente às tentativas de invasões estrangeiras, e o
Provedor-mor, que era responsável pela arrecadação de tributos. Além disso, juntamente com Tomé de
Sousa vieram os primeiros jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega, com o objetivo de catequizar os
ameríndios da região e organizar o poder da Igreja no local. Logo, Salvador foi alçada à capital da América
Portuguesa, o que persistiu até 1763 quando, após o declínio do açúcar e da expansão do ouro, foi
transferida para a cidade do Rio de Janeiro.
• Em realidade, após o fracasso das Capitanias Hereditárias na América Portuguesa, o Estado
Geral não obteve completo êxito na centralização do poder público. Ele representou enorme
esforço de centralização da administração colonial, mas dada a imensidão das terras no Brasil
e a falta de migração para ocupar imediatamente o território, havia limitação da comunicação e
da capacidade de exercer imediatamente o poder de Estado. Assim, o isolamento dos
colonizadores favoreceu o desenvolvimento da cultura de poder local. Independentemente de
todas as dificuldades apresentadas, a colonização do Brasil, a partir de 1530, teve imenso
esforço da Coroa e seguiu com a expansão da cultura do açúcar nos séculos XVI e XVII, com
êxito
A Plantation da Cana-de-açúcar e o Trabalho Escravo

• A política da Metrópole de produção da monocultura


de cana-de-açúcar na dimensão de latifúndio trouxe
frutos econômicos que viabilizaram a acumulação de
riqueza colonial. A efetivação do Sistema Colonial
Lusitano tomou corpo definitivo com a criação de
uma Sociedade do Açúcar Portuguesa.
• O reino de Portugal criou a sociedade do açúcar na América para substituir a acumulação de
riqueza auferida das especiarias das Índias pela doçura da cana plantada na forma de
plantation no Brasil. Em larga medida, Portugal contribuiu com a universalização do desejo da
doçura no mundo. O cultivo de cana-de-açúcar espalhou-se pelos arquipélagos de Açores,
Cabo Verde e São Tomé. Foi a experiência de cultivo de cana-de-açúcar desenvolvida nas ilhas
que trouxe o potencial que favoreceu a expansão para a América portuguesa. A tarefa era a
criação de um sistema de produção agrícola em longas extensões de terra, resultando em
toneladas de açúcar para exportação e, também, desencadeando uma explosão de comércio
escravocrata no Continente Africano, a fim de atender a demanda de mão-de-obra nas lavouras
de cana-de-açúcar e, isso se traduzindo num crescente volume de acumulação de riqueza para
o reino.
• Todo o ato político-administrativo na colônia tinha como intenção o
deslocamento da riqueza da América para a Metrópole, com o açúcar não foi
diferente. O século XVII representou o de concentração da produção de cana-de-
açúcar no nordeste brasileiro. A presença de clima e solo favorável de massapê, e
a proximidade geográfica favorável ao comércio marítimo com a Europa, foram
decisivos para a concentração da produção no litoral nordestino. Assim, a Coroa
Portuguesa transferiu seu impulso econômico das Índias para o Brasil.
• Houve a construção de uma empresa poderosa que se centrava na monocultura da
cana-de-açúcar e no trabalho escravo. Na sociedade do açúcar, uma complexa
economia foi erguida para dar conta da dinâmica comercial internacional. O
aumento do volume de colonizadores e escravos também demandou uma
diversidade de produção agrícola para subsistência - plantação de mandioca, por
exemplo, e o desenvolvimento da pecuária, principalmente, para tração animal.
Além disso, na Bahia o cultivo de fumo teve um papel fundamental para atender a
dinâmica do comércio de escravos. Com efeito, a dinâmica da produção colonial na
América portuguesa estava toda articulada à produção de açúcar.
Pintura de Jean-Baptiste Debret (1834).

• Os escravos eram “os pés e as mãos do senhor de


engenho”, palavras de Frei Antonil, que sublinha a
importância da força motriz humana negra, para
assegurar a universalização do branco açúcar na
economia-mundo. Desde a chegada dos jesuítas e da
construção das missões, a Igreja representou forte
resistência à escravidão indígena.
• Desde a chegada dos jesuítas e da construção das missões, a Igreja representou forte
resistência à escravidão indígena. Isso não significa dizer que os indígenas estavam de fora da
exploração do sistema escravocrata colonial, pois quando os holandeses fecharam a rota de
escravos africanos de Portugal, os bandeirantes paulistas abriram uma enorme rota de captura
interna de indígenas, a fim de sustentar o comércio escravocrata na sociedade do açúcar. Ou
seja, os indígenas foram escravizados por um longo período no Brasil Colonial, contudo,
diante da imensa empresa colonial de produção de açúcar, foi no Continente Africano
que se desenvolveu um sistema mercantil de comércio moderno de seres humanos que
deslocou riqueza para os comerciantes e a metrópole lusitana.
• A lógica do comércio de escravos resultava na antecipação imediata da riqueza colonial para a Metrópole,
pois havia o adiantamento da força de trabalho antes da produção efetiva do valor. A Metrópole ganha tanto
com o comércio humano de carne negra, quanto com o comércio do açúcar. Graças, ao Pacto Colonial, a
riqueza criada na colônia, pouco ficava no local, os lucros navegavam, sem volta, para Portugal. Logo
surgiram comerciantes de carne humana negra na própria colônia. Esses mercadores foram identificados na
África com o termo brasileiro, apresentando a primeira distinção dos portugueses metropolitanos. Com a
invasão dos holandeses no Nordeste e o bloqueio à rota portuguesa de comércio de escravos, o acesso ao
tráfico ficou exclusivamente ao encargo dos “brasileiros”. Eles trocavam fumo, couro e aguardente por
escravos no Continente africano. Em substância, a Coroa Portuguesa criou no Brasil Colonial uma sociedade
escravocrata articulada à exploração da cana-de-açúcar. Dessa forma, a doçura do branco açúcar resultava da
superexploração do trabalho negro, aviltado pela escravidão moderna que transformou seres humanos em
coisas, objetos de exploração obscena.
• A dicotomia Casa-grande e Senzala perpassava a sociedade na sua totalidade. A Casa-grande era o local de
moradia do latifundiário, homem branco e cristão, com sua família e agregados, centro de produção da
dominação sobre os negros escravizados no espaço doméstico, no engenho e na imensa lavoura de cana-de-
açúcar. A Senzala era o depósito dos negros escravizados, local insalubre para o descanso e aprisionamento
dos corpos advindos da Diáspora africana. A sociedade do açúcar foi de baixa urbanização e centrada na
dicotomia: senhores e escravos. A riqueza produzida no América Portuguesa adoçou sobremaneira a
burguesia comercial e a Coroa Metropolitana, deixando muito pouco de seu mel para o desenvolvimento da
região. Ao contrário da sociedade do ouro, que emerge no século XVIII, em que é possível ainda hoje
observar a opulência nos monumentos arquitetônicos, a sociedade do açúcar é simples e dela temos poucos
registros.
As invasões Estrangeiras no Brasil Colonial
• Após a descoberta do Brasil – mesmo com o Tratado de Tordesilhas - a ameaça de invasões
estrangeiras foi constante. Houve questionamentos acerca do tratado bilateral da divisão luso-
espanhola do globo. A França, por exemplo, não reconhecia os tratados de partilha do mundo,
sustentando a ideia base de que a posse da terra era de quem efetivamente a ocupasse. Ao longo
das cinco primeiras décadas, após a “descoberta” do Brasil, franceses e holandeses travaram
incursões e invasões na América Portuguesa. As guerras a fim de expulsão dos estrangeiros foram
constantes, e a utilização militar dos indígenas para o combate foi comum, tanto por parte dos
portugueses como dos estrangeiros.
• Os franceses desenvolveram inicialmente pequenas invasões
para quebrar o monopólio do comércio de Pau-brasil e
praticaram incursões de pirataria, ao longo do imenso litoral
brasileiro, que as expedições guarda-costas não podiam patrulhar
com êxito. Após a efetivação da colonização portuguesas, em
momentos diversos, os franceses executaram duas tentativas de
colonização, procurando estabelecer-se no Rio de Janeiro (1555-
1560) e no Maranhão (1612-1615). As tropas portuguesas
travaram duros combates até a expulsão definitiva dos
estrangeiros do Brasil.
• A experiência de construção da França Antártica no Rio de Janeiro, apesar de sua brevidade, foi o
laboratório para a construção de uma colônia de huguenotes (protestantes) no Brasil. Os franceses foram
obrigados a fechar acordos de apoio com os tupinambás. Fundada pelo Almirante Coligny, a pequena
colônia francesa teve que estabelecer diálogo com os nativos para salvaguardar a comunidade cristã.
Posteriormente, o comando é transferido para o cavaleiro de Malta Nicolas Durand de Villegagnon,
protestante radical, que irá impor disciplina rígida de inclinação calvinista na colônia francesa
produzindo tensão entre os colonos franceses. Villegagnon passou a exigir trabalho intenso e proibiu os
homens de manter relações sexuais com a mulheres tupinambás. Quando Villegagnon retornou à França
em 1559, para justificar na corte sua política de disciplina rigorosa na França Antártica, a colônia é
reconquistada pela armada do governador português Mem de Sá.
• A França manteve luta constante contra Portugal pelo controle do comércio, articulando apoio militar dos
nativos Tupinambá e Tupiniquim. Após o malogro da experiência da França Antártica, já em 1612 os
franceses retomaram as invasões, dessa vez a cidade de São Luís do Maranhão, onde tentaram
implementar a chamada França Equinocial. A colônia surgiu sob o comando de Daniel de La Touche, um
nobre com experiência na colonização da Guiana. Da França houve o deslocamento de 500 colonos, a
bordo de três navios que desembarcaram na área do atual estado do Maranhão. A reação militar lusitana
foi proporcional à extensão do ataque. As tropas portuguesas se reuniram na capitania de Pernambuco,
entraram no povoado de “Saint Louis”, e as operações militares lusitanas culminaram com a capitulação
definitiva dos franceses em 4 de novembro de 1615. Malgrado, os franceses persistiram nas invasões e
imediatamente fizeram nova tentativa de colonização na Foz do rio Amazonas, e foram derrotados
definitivamente.
• As invasões holandesas, que ocorreram no século XVII,
representaram o maior conflito político-militar da Colônia
Portuguesa. Localizadas, essencialmente, no Nordeste, na verdade,
estavam inseridas no plano dos conflitos internacionais. A
ocupação holandesa fazia parte do quadro das tensões
mercantilistas entre países europeus, revelando a dimensão da luta
global pelo controle do açúcar e do comércio de seres humanos no
Continente Africano. A resistência às invasões, por parte dos luso-
brasileiros, representou um grande esforço financeiro e militar,
com base em recursos não só externos como locais. Foi, também, o
primeiro ensaio das forças autônomas da colônia na defesa de seus
interesses frente à uma potência europeia, embora ainda muito
longe da presença de uma identidade brasileira separada da
Metrópole. A guerra foi de defesa da sociedade do açúcar lusitana
e sustentada pela riqueza produzida pela produção de cana-de-
açúcar.
• A história das invasões holandesas está ligada à passagem do trono português à Coroa espanhola, na
chamada União Ibérica (1580-1640), quando o trono português esteve sob o comando de Felipe II, rei da
península. Como havia um conflito aberto entre a Espanha e os Países Baixos, as tensões internacionais
foram deslocadas para a América Portuguesa. Então, Felipe II desfez os laços comerciais existentes entre
holandeses e portugueses no Nordeste brasileiro, subtraindo, assim, o papel predominante que os batavos
detinham na comercialização do açúcar. A Companhia Holandesa das Índias, formada pelo Estado e por
financistas particulares, conduziu o controle das ações nas invasões holandesas. A Companhia tinha como
alvos militares principais, a ocupação das zonas de produção açucareira na América Portuguesa e o controle
do comércio de seres humanos no Continente Africano.
• As invasões holandesas iniciaram com a ocupação de Salvador, em 1624. Os holandeses em pouco mais de
24 horas conquistaram militarmente a cidade, entretanto ficaram sitiados em sua própria conquista, pois
praticamente não conseguiram sair de seus limites. Os chamados homens bons da cidade de Salvador,
latifundiários que dominavam a política local, refugiaram-se nas fazendas próximas e organizaram a
resistência militar. Utilizando-se da tática de guerrilhas, saber militar absorvido dos ameríndios, e com apoio
de reforços chegados da Europa, os colonos impediram a expansão dos invasores holandeses. Uma frota de
52 navios e 12 mil homens reforçaram a resistência militar luso-brasileira. Depois de sucessivos combates,
os holandeses se renderam, em maio de 1625.
• Cinco anos após o insucesso na Bahia, os holandeses invadiram Pernambuco em 1630 e conquistaram a
cidade de Olinda. A guerra pode ser dividida em três períodos distintos: a) Guerra de resistência, período
de relativa paz e reconquista luso-brasileira. A Guerra de Resistência (1630-1637) representou os
combates imediatos de defesa de Pernambuco que terminou com a afirmação do poder holandês sobre
toda a região nordestina compreendida entre o Ceará e o Rio São Francisco. Nessa guerra de resistência
destacou-se a figura de Domingos Fernandes Calabar, que trocou de lado no calor do combate, passou
das forças luso-brasileiras para as holandesas, transferindo informações importantes para a conquista
estrangeira da região; b) o Segundo Período (1637-1644) caracterizou-se por relativa paz na região por
meio de investimentos importantes da Companhia holandesa no Nordeste, relacionado ao governo do
príncipe holandês Maurício de Nassau; e, for fim, c) o Terceiro Período (1645-1654), insere-se na
reconquista militar luso-brasileira. O fim da União Ibérica, com a ascensão de Dom João IV ao trono
português em 1640, não pôs fim à guerra.
• O quadro das relações amistosas entre Portugal e Holanda, anterior ao domínio espanhol, se modificara. As relações
pacíficas entre os dois países, anteriores a 1580, não foi restabelecida imediatamente. Os holandeses agora tinham
conquistado o Nordeste do território do Brasil e dele não pretendiam sair espontaneamente. O principal centro da
revolta contra a presença holandesa localizou-se em Pernambuco, onde se destacaram as figuras de André Vidal
Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão. A Batalha decisiva foi, sem dúvida, a de
Guararapes (1648-1649). A guerra na Europa entre Holanda e Inglaterra, em 1652, dificultou a chegada de recursos
para as operações militares no Brasil. No ano seguinte, uma esquadra lusitana cercou o Recife por mar, chegando-se,
afinal, à capitulação dos holandeses em 1654.
• A história da ocupação holandesa é emblemática para compreender a estreita relação entre a produção
colonial açucareira e tráfico de escravos. A fim de desestabilizar o poder do inimigo, os holandeses
procuraram controlar tanto a produção açucareira, como o comércio de seres humanos escravizados do
Continente Africano. Em síntese, a produção colonial da cana-de-açúcar foi a outra face da escravidão
moderna de corpos negros. As guerras do Brasil colonial apresentaram-se como desdobramentos
imediatos na busca de controle de mercado, num contexto de indefinição internacional da posse das
terras descobertas na América e de práticas mercantilistas, a fim de deslocar riqueza da América para os
Estados Modernos. O êxito militar dos luso-brasileiros pode ser atribuído à importância da América
Portuguesa à Metrópole e à frágil dinâmica de interesses da França e Holanda, e da dificuldade para com
a efetiva colonização da América, por meio de atos belicosos, em áreas já conquistadas por europeus.
Considerações Finais

• Em síntese, a construção do Sistema Colonial foi um movimento de fora para dentro, da


Europa para América, que produziu o “mau encontro”, pois representou a destruição dos
povos nativos que aqui viviam e, ainda, transportou uma parcela significativa de seres
humanos do Continente Africano para a exploração escravocrata. De fato, o Sistema Colonial,
além do potencial moderno transformador (ou civilizatório no sentido eurocêntrico),
representou a destruição de dois continentes simultaneamente: América e África. A fim de
deslocar riqueza para a Europa no contexto de transição societal do feudalismo para o
capitalismo..
Referência

• ARRUDA, José Jobson. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru: Edusc, 2004.
• MATTOSO, Katia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. E-book
• MESGRAVIS, Laima. História do Brasil Colônia. São Paulo: Contexto, 2015. E-book.

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