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18/03/23, 18:22 Disciplina Portal

HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 1 - O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO


ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS. O SÉCULO XVI
INTRODUÇÃO

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Quando os portugueses chegaram ao que hoje se conhece como Brasil, não encontraram o ouro e a prata tão
sonhados no Velho Continente, nem reinos perdidos habitados por ciclopes e figuras que assinalavam a força que o
paganismo ainda exercia na mentalidade dos povos fervorosamente cristãos da Península Ibérica. Mas assim como os
espanhóis - oito anos antes - a frota comandada por Pedro Álvares Cabral encontrou um Novo Mundo. Assim como
testemunhado por Pero Vaz de Caminha, esse Novo Mundo era habitando por homens e mulheres pardos, que
andavam nus e que não se importavam em cobrir suas vergonhas.

OBJETIVOS

Reconhecer parte da diversidade indígena que compunha o território que mais tarde deu origem ao Brasil.

Analisar as diversas percepções construídas pelo europeu sobre os índios, visões que se diferenciam de acordo com
as relações estabelecidas;

Refletir sobre os aldeamentos jesuíticos e seu importante papel na aculturação do indígena.

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A diferenciação dos Índios pelo Portugueses


Os indígenas que habitavam a “recém descoberta portuguesa” eram muito mais diversos do que os lusitanos haviam
imaginado. Após os contatos iniciais, os colonos portugueses acabaram fazendo uma distinção da população indígena
em dois grandes grupos.

Tupi-Guarani

O primeiro, que ficou conhecido como tupi-guarani graças às semelhanças linguísticas observadas, abarcava uma série
de sociedades que vivia na extensa região litorânea desde São Vicente (no sul) até o Maranhão. Tupinambás,
tupiniquins, tupinaê e guaranis são exemplos de sociedades indígenas que faziam parte da família linguística tupi-
guarani.

Tapuias

No outro grupo estavam os tapuias (palavra tupi que significa os “fugidos da aldeia”, ou “aqueles de língua enrolada”)
que ocupavam regiões mais interioranas. Ao que tudo indica, os portugueses acabaram se apropriando da
diferenciação que os tupi-guaranis faziam em relação aos grupos que não faziam parte da sua matriz linguística,
colocando sob a mesma nomenclatura sociedades indígenas extremamente diversas como os cariris, jês, e os
caraíbas.

Ao descrever os aimorés (um dos tantos povos classificados como tapuias), o português Gabriel Soares de Souza
disse:“Descendem estes aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos quais nos tempos de atrás se
ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a um desbarate, em que os puseram seus
contrários, onde residiram muitos anos sem verem outra gente; e os que destes descenderam, vieram a perder a
linguagem e fizeram outra nova que se não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo este Estado do
Brasil”Gabriel Soares de Souza, Tratado descritivo do Brasil, 1587, pp.78-79.

Dentre os tupi-guaranis, a sociedade tupinambá acabou tornando-se uma das mais conhecidas, graças ao intenso
contato com os portugueses durante os séculos XVI e XVII. O historiador Stuart Schwartz salientou que os tupinambás
viviam em aldeias que possuíam de quatrocentos a oitocentos indivíduos. Tais aldeias eram divididas em unidades
familiares que viviam em até oito malocas. As unidades familiares, por sua vez, estavam estruturadas pelo parentesco
familiar e obedeciam à divisão sexual do trabalho: grosso modo, aos homens cabia as atividades de caça, pesca e de
guerra, e às mulheres o cuidado com a agricultura e com a casa.

A agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás dos demais povos tupi-guaranis. Para preparar o solo
para a semeadura, os tupinambás desenvolveram uma técnica que rapidamente foi incorporada pelos colonos
portugueses: a coivara (glossário) .

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Outra característica marcante dos tupinambás era seu ímpeto guerreiro. A guerra tinha funções econômicas e
simbólicas para esse povo, na medida em que viabilizava a obtenção de prisioneiros de guerra e a ampliação territorial,
além de criar uma intricada rede de status que definia diversos aspectos da vida em sociedade, sobretudo os
matrimônios.

Fonte da Imagem: Antropofagia no Brasil em 1557, segundo descrição de Hans Staden.

Junto com a guerra, os tupinambás praticavam o canibalismo ritual que causou horror e curiosidade aos colonos
portugueses. Baseado na cosmogonia tupinambá, o canibalismo era um ritual antropofágico, no qual o inimigo
prisioneiro de guerra era (depois de uma iniciação), morto pela sociedade vitoriosa, e tinha suas partes distribuídas
dentre os indivíduos do grupo vencedor. A ideia era se alimentar (simbolicamente) das características do oponente.

Como sugerido há pouco, traçar padrões culturais e sociais dos tapuias é uma tarefa muito difícil, na medida em que
eles não formavam um grupo que se identificava como tal. Estudos recentes apontam que os tapuias pertenciam a
diferentes troncos linguísticos, ou seja: eles eram os “não-tupis”, o que significa que eles eram muitas coisas. Um dos
povos tapuias mais estudados é o aimoré devido à frequente resistência imposta ao aldeamento e catequese
portuguesa. Pertencentes ao grupo etnográfico jê, os aimorés, também conhecidos como botocudos, habitavam o que
hoje é o estado do Espírito Santo e o Sul da Bahia.

Eram seminômades, praticavam a agricultura itinerante e tinham uma vida bélica muito desenvolvida, o que só se
intensificou com a chegada dos portugueses. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que, além de
protagonizarem uma das mais importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos Tamoios), os
aimorés como todos os indígenas que recusassem a catequese estavam sujeitos à escravidão por guerra justa, de
acordo com a lei promulgada pela Coroa portuguesa em 1570.

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Todavia, durante muitos anos, a diversidade indígena e a própria Ilha de Vera Cruz, pareciam não ter despertado o
interesse da Coroa portuguesa. Como apontou Manuela Carneiro da Cunha: “todo o interesse, todo o imaginário
português se concentra, à época, nas índias, enquanto espanhóis, franceses, holandeses, ingleses estão fascinados
pelo Novo Mundo” (CUNHA, 1990: 92). Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das
primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade que se apresentava.

A inocência e a ausência de elementos fundamentais que – na perspectiva europeia – balizavam a noção de


civilização marcaram os primeiros escritos sobre os índios. A despreocupação com a nudez foi reiterada diversas
vezes na Carta de Pero Vaz de Caminha, indicando que esses homens e mulheres andavam nus por lhes faltarem a
ideia de vergonha. O mesmo Caminha, assim como Vespucci e, mais tarde, Gândavo e Gabriel Soares de Souza ficaram
surpresos com o fato dos tupis não terem em seu alfabeto as letras F, L e R.

Segundo esses homens, essa ausência era a comprovação de que os índios viviam sem Justiça e na maior desordem,
pois

A Catequização dos Índios


As constatações apontadas na tela anterior serviram como norte para a atuação dos religiosos europeus. Se por um
lado a Coroa portuguesa só passou a se importar efetivamente com sua colônia americana a partir de 1530, desde os
primeiros anos de contato diversos religiosos, sobretudo os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos
indígenas que ficou conhecido como catequese. Num primeiro momento, os jesuítas visitavam as aldeias a fim de
conhecer um pouco mais a cultura, hábitos e língua dos índios, aproveitando a oportunidade para fazer pregações e
alguns batismos.

Feito o contato inicial, os jesuítas passaram para o segundo estágio da catequese: a conversão, propriamente dita, dos
índios. Para tanto, os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos. O objetivo principal era incutir
nesses índios valores e práticas europeias. Desse modo, os índios aldeados além de batizados, também recebiam os
primeiros ensinamentos católicos, além de ler e escrever.

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Segundo os jesuítas, o aldeamento era fundamental, pois apenas essa estrutura permitia que os índios, de fato,
tivessem um contato sistemático com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega foi um dos que defendeu
abertamente os aldeamentos, pois, segundo ele os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram
convertidos, logo voltavam para “sua rudeza e bestialidade”. (Padre Manoel da Nóbrega). Para facilitar a aprendizagem,
muitos jesuítas recorreram às encenações teatrais, o que deu origem a um dos primeiro gêneros literários do Brasil.

Nos aldeamentos, os índios ainda eram treinados para exercer ofícios como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Depois
do treino, muitos iam trabalhar para colonos sob a tutela dos jesuítas - que eram responsáveis, inclusive, pela definição
do pagamento dos índios aldeados. Em muitos casos, os aldeamentos acabavam se transformando em pequenas
unidades econômicas, cuja principal mão-de-obra era a indígena. Após a missa, muitos índios iam trabalhar na lavoura
que garantia a subsistência de todos. Os aldeamentos também tinham como objetivo acabar com a poligamia indígena
e com a liberdade sexual que existia em diferentes sociedades, incutindo o modelo cristão de família.

Como a preocupação maior era a conversão dos índios, os aldeamentos recebiam indivíduos dos mais diferentes
grupos e sociedades.  Dessa convivência surgiu a língua geral (baseada no tupi) que durante muitos anos foi a mais
falada em toda a colônia. Esse convívio mais intenso também possibilitou um conhecimento mais aprofundados dos
povos indígenas.

Fonte da Imagem:

Diferenças sociais e culturais existentes entre os grupos


indígenas

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As diferenças sociais e existentes entre os grupos indígenas - ilustradas com os exemplos dos tupinambás e dos
aimorés - exerceram grande influência nas reestruturação cultural que esses grupos estabeleceram com os
portugueses durante os primeiros anos de contato, e foram fundamentais na construção da tipologia indígena pelos
mesmos colonos.

Fonte da Imagem:

As obras ao lado foram feitas pelo pintor neerlandês Albert Eckhout (1610-1666) são documentos que ajudam a
analisar de forma eficiente as duas imagens de índio criadas pelos europeus durante os séculos XVI e XVII. As duas
imagens retratam índios “brasileiros”, possivelmente guerreiros, já que ambos estão armados de arcos e flechas. No
entanto, a composição das obras apontam que tratavam-se de “tipos” distintos de índios. De um lado, está o tapuia,
representado por um homem nu, com brincos e cocares que, em tese, seriam típicos desse povo. Do outro, vê-se um
índio tupi, que já tem suas vergonhas escondidas e não utiliza nenhum adorno.

Observa-se então, que o tapuia representa o índio selvagem, que nu e cobertos de plumas e penas vive no meio da
selva. Já o tupi aparece como o índio domesticado, aquele que é passível de salvação e que por isso mesmo já vive em
outra “selva”, numa floresta mais civilizada, na qual é possível (ao fundo) ver outros índios trabalhando.  Como bem
apontado por Manuela Carneiro da Cunha “Em 1500, Caminha viu “gente” em Vera Cruz. Falava-se então de homens e
mulheres. O escambo povoou a terra de “brasis” e “brasileiros”. Os engenhos distinguiram o “gentio” insubmisso do
“índio” e do “negro da terra” que trabalhavam. [...] Pelo fim do século, estão consolidadas, na realidade, duas imagens
de índios que só muito tenuamente se recobrem...” (Cunha: 1990, 109)

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Glossário
COIVARA

Essa técnica consistia na abertura de clareiras em determinadas áreas florestais, que em seguida eram queimadas. As cinzas
resultantes desse processo eram utilizadas como fertilizantes do solo que, em seguida, era semeado pelas mulheres da aldeia.
Dentre os gêneros cultivados estavam o feijão, milho, abóbora, algumas frutas e, principalmente, a mandioca - base da
alimentação tupinambá e, mais tarde, de toda a colônia.

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 2 - O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO


ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS: O APRESAMENTO
INDÍGENA
INTRODUÇÃO

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Pretende-se com essa aula analisar a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente
para a economia paulista, bem como compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de
apresamento indígena. Em seguida, será realizada uma reflexão a cerca do apresamento dos guaranis como fator de
ocupação do planalto paulista e da região sul do Brasil. Por fim, serão examinados os embates entre colonos e jesuítas
nas relações com os índios.

OBJETIVOS

Perceber a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente para a economia paulista;

Compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de apresamento indígena;

Refletir sobre os aldeamentos jesuíticos e seu importante papel na aculturação do indígena;

Compreender os embates entre colonos e jesuítas nas relações com os índios.

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Fonte da Imagem:

Extração de Pau-Brasil no Século XVI


Como bem se sabe Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro
anos do século XVI os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio feito no Oceano Índico, no
qual produtos de grande valor como ouro, prata, seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se
preocupar, de fato, com suas terras americanas a partir de 1530.

Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo foram marcados pela atuação dos jesuítas na
conversão dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos
portugueses que estavam interessados, sobretudo, na extração do pau-Brasil, obtido por meio do trabalho indígena.

Fonte da Imagem:

Capitanias Hereditárias
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico trouxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também
começavam a ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da
Coroa lusitana no outro lado do Atlântico a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da
recente aquisição.

A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em
dezesseis grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias.

Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário) que deveria construir
vilas, arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a terra para quem pudesse cultivá-la. No entanto, muitos
donatários não cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras
brasileiras.

A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Em 1548
foi instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa.

Fonte da Imagem:

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O primeiro Governador Geral


A fim de consolidar o domínio português no litoral, Tomé de Souza foi nomeado como primeiro governador-geral do
Brasil.

O primeiro governador geral, Tomé de Souza, ficou responsável pela construção da cidade de Salvador, na capitania da
Bahia, que seria a sede do governo-geral. Além de ser um ponto relativamente mais próximo da metrópole, a capital
colonial estava localizada num ponto estratégico, perto das principais regiões produtoras do açúcar, produtor que anos
mais tarde seria considerado o “ouro branco” da colônia. Isso facilitava o controle da produção e exportação do açúcar,
garantindo assim, o exclusivismo da Coroa Portuguesa.

A mão-de-obra escrava nos engenhos açucareiros


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Por questões geomorfológicas (solo fértil e água abundante) e políticas, durante séculos XVI e XVII, a
produção açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, principalmente na Bahia de
todos os santos e em Pernambuco. Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indígenas
compuseram parte significativa da mão-de-obra escrava dos engenhos açucareiros. Na realidade, o
intervalo entre os anos de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização indígena nesses engenhos.
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No entanto, a descoberta de uma “nova humanidade” criou debates filosóficos extremamente
profundos em toda a Europa. Os missionários católicos e protestantes que haviam entrado em
contato com os diferentes grupos indígenas das Américas, lideraram discussões acerca da natureza
desses homens e mulheres “recém-descobertos” que marcaram o cenário intelectual do século XVI.
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Seguindo as determinações tomadas pela própria Igreja Católica, em 1570, a Coroa portuguesa
sancionou a lei que proibia a escravização do gentio – cujo fragmento vimos no início desta aula.
Com exceção feita aos aimorés – que se recusavam militarmente à conversão católica, os índios
ficavam sob a tutela da Companhia de Jesus, não podendo mais servir como escravos nos engenhos
de açúcar.
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Em tese, após 1570, as questões indígenas passavam a ser decididas apenas pelos missionários
responsáveis por sua evangelização.
No entanto, por trás dessa decisão da Coroa lusitana também estavam interesses econômicos de
muitos fidalgos portugueses que, há muito, estavam envolvidos com o tráfico de negros da guiné.
Esses africanos escravizados substituiriam os indígenas na produção de açúcar. A partir da
promulgação da “lei de liberdade dos gentios”, houve a substituição crescente de índios por africanos
escravizados.
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No entanto, essa mudança ocorreu principalmente nas capitanias que mais produziam açúcar e que,
justamente por isso, eram mais vigiadas pelo Estado português.

Como será analisado na próxima aula, é preciso assinalar que, embora a entrada de africanos tenha
se intensificado sobremaneira a partir do último quartel do século XVI, durante todo o período de
vigência da escravidão, parte significativa dos grupos indígenas também foi reduzida à condição de
cativeiro, muitas vezes subjugados pelos próprios missionários.

As capitanias do Sul

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Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei
de rei D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como
gentios (ou seja, eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente
os grupos autóctones (glossário) rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os
indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram como mão-de-obra fundamental na expansão territorial
levada a cabo pelos colonos paulistas.

Ao analisar a relação entre índios e bandeirantes na origem de São Paulo, o historiador John Monteiro mostrou que a
colonização foi um processo plural. Ainda que boa parte da América portuguesa tenha vivenciado experiências
comuns advindas do encontro entre colonos e índios– encontro este que foi marcado pela desintegração de muitas
sociedades indígenas e pelo processo de catequização daquelas que conseguiram sobreviver -, a partir de meados do
século XVI, a relação entre ambos tomou rumos distintos.

No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra
morta. De acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que
assaltavam aldeias indígenas transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” (MONTEIRO: 1994,
57). Isso porque, diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no
circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se
lançarem para o mar, os paulistas se embrenharam sertão adentro.

As Expedições
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros europeus que se lançaram ao mar no século XV, e que
em parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o
desejo de muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeiras expedições para as
regiões interioranas da colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza
armou uma série de expedições em busca de metais preciosos.  A vertente paulista, chefiada por João Pereira
Botafogo conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No
entanto, as expedições subsequentes não corresponderam ás expectativas criadas pelos colonos.

A Escravidão Indígena
Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um
produto extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco
voltou a Portugal com o intuito de colocar em prática um projeto que visava fomentar a economia das capitanias
sulistas da colônia. Com inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo era articular diferentes setores
econômicos (mineração, agricultura e indústria), tendo como base o uso da mão-de-obra indígena (MONTEIRO: 1994,
59).

Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Mas a proposta do antigo governador
acabou redimensionando os objetivos das expedições para o interior.  A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento
de índios. Embora os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava
inúmeras leis proibindo a escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se
transformaram em verdadeiras empreitadas escravizadoras.

A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha, que rapidamente criou-se uma intricada rede de
negociações nas capitanias do sul. Praticamente toda a mão-de-obra dessa localidade da colônia era formada por
índios escravizados. Os lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas.

Colonos x Jesuítas
Além das sociedades indígenas, os maiores opositores das expedições foram os missionários e demais religiosos
responsáveis pela evangelização dos índios. Embora os indígenas trabalhassem em condições muito ruins nas
missões e aldeamentos, ali não havia o discurso nem a prática efetiva da escravização. Soma-se a isso, nessas

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organizações, os índios recebiam instruções religiosas para que se convertessem ao cristianismo e passassem a
seguir um padrão europeu de vida e de relação com o trabalho. Nenhuma dessas preocupações pautou a organização
das expedições nos séculos XVII e XVIII.

Centenas de aldeias foram destruídas, e milhares de índios foram reduzidos ao cativeiro. Segundo Monteiro, o padre
Montoya afirmava que as expedições haviam destruído 11 missões, o que significava o apresamento de praticamente
50 mil índios. Ao descrever as expedições no Rio de Janeiro, o padre Lourenço de Mendonça apontou quem 60 mil
guaranis foram escravizados e levados para São Paulo (MONTEIRO: 1994, 73-74). Tais índios eram utilizados,
sobretudo, na reposição da força de trabalho da região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana.

Graças às bandeiras que identificavam as expedições, as campanhas organizadas por colonos paulistas em busca de
índios ficaram conhecida como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento ocorreu na segunda metade do
século XVII, momento em que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam
reconhecimento em toda colônia. Jorge Velho foi, inclusive, convocado pela Coroa Portuguesa para sufocar a rebelião
indígena chefiada por Canindé (Rio Grande), além de ter sido um dos responsáveis pela desarticulação do Quilombo
dos Palmares.
, À medida que as bandeiras aumentavam, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos
missionários. Amparados pela letra da lei, esses religiosos recorreram diversas vezes ao rei português
a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos colonos paulistas. Outro fator que começou a
dificultar o movimento foi o aumento das distâncias. O sertão era cada vez mais distante, o que
encarecia muito a organização das expedições (que necessitam de pólvora, chumbo, correntes e
índios escravizados)., , Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator que levou à
diminuição significativa das expedições de apresamento (que praticamente deixaram de existir a
partir do século XVIII) foram diferentes movimentos de resistência dos grupos indígenas. Revoltas
individuais, migrações para regiões ainda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas
despontaram nesse contexto.

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Glossário
AUTÓCTONES

Grupos naturais da região

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 3 - MÃO-DE-OBRA INDÍGENA E AFRICANA


E A FORMAÇÃO DO SISTEMA ESCRAVISTA
INTRODUÇÃO

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18/03/23, 18:24 Disciplina Portal

Essa aula tem como objetivo principal mostrar compreender que a introdução dos escravos africanos não acabou
imediatamente com a escravidão indígena, ambas conviveram, em certos casos, até o século XIX. Para tanta serão
seguidos três eixos centrais: a)Refletir sobre as especificidades de cada uma dessas escravidões; b)perceber as
consequências do contato entre colonos e negros e entre índios e negros; c)analisar as estruturas econômicas e
sociais que derivam desses contatos.

OBJETIVOS

Compreender que a introdução dos escravos africanos não acabou imediatamente com a escravidão indígena, ambas
conviveram, em certos casos, até o século XIX;

Refletir sobre as especificidades de cada uma dessas escravidões;

Perceber as consequências do contato entre colonos e negros e entre índios e negros;

Analisar as estruturas econômicas e sociais que derivam desses contatos.

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Ouro branco: foi assim que muitos colonos passaram a chamar o produto advindo do processamento do caldo de
cana-de-açúcar, sendo o primeiro gênero produzido em larga escala na América portuguesa.

A escolha do açúcar teve duas razões principais:

• Em primeiro lugar, o açúcar produzido da cana era um gênero tropical e por isso mesmo teria grande demanda na
Europa;

• Em segundo lugar, os portugueses já possuíam conhecimento do fabrico de açúcar de cana graças à colonização das
ilhas Canárias, Madeira, Açores e Cabo Verde, todas localizadas no Atlântico Norte.

Ainda no século XVI, iniciaram-se as construções dos primeiros engenhos de açúcar em diferentes localidades da
América portuguesa. Contudo, a região nordeste da colônia acabou se tornando a principal produtora de açúcar devido
às suas condições naturais.

Veja algumas delas:

• Grandes propriedades de terra;


• Clima quente;
• Chuvas constantes;
• Solo fértil;
• Abundância de rios;
• As árvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;
• A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado consumidor do produto – a Europa

Um engenho de açúcar. Pormenor de um atlas do século XVII

Veja também as diferentes partes do engenho (unidade produtiva do açúcar):

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• Canavial – onde a cana era cultivada;


• A casa da moenda – onde era extraído o caldo de cana;
• A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço;
• A residência do senhor – conhecida como Casa-Grande;
• A residência dos demais trabalhadores.

Todavia, para que todo esse empreendimento desse lucro de fato – sobretudo frente ao monopólio de exportação
exercido pela Coroa portuguesa – era necessário que a produção fosse a mais barata possível.

A escravização
Foi no contexto da lógica mercantilista que a escravidão apareceu como a melhor opção para a produção do açúcar.
Além disso, o uso de escravos vinha coroar uma série de questões filosóficas colocadas pelos europeus desde o início
das Navegações (no século XV), quando a Europa entrou em contato com sociedades da África-subsaariana e das
Américas.

A “nova humanidade” que se apresentava para os europeus seria classificada e ordenada por eles. A escravidão foi
uma instituição que ordenou boa parte das dinâmicas da sociedade da América portuguesa.

Na obra Cultura e opulência do Brasil, o padre André Antonil (1649- 1716) pontuou bem a importância que a escravidão
tinha no funcionamento dos engenhos açucareiros.

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A escravização no Brasil
Durante muitos anos a escravidão no Brasil foi vista de forma sistêmica. De um lado estavam os índios escravizados,
utilizados em sua grande maioria em pequenas e médias produções, quase todas voltadas para a subsistência da
colônia. Do outro estavam os africanos escravizados e seus descendentes utilizados nas atividades envolvidas com o
mercado externo, como a produção de açúcar e a mineração.

Ainda que essa sistematização esteja pautada em uma série de análises qualitativas da economia colonial, é
importante ressaltar que tal assertiva não se aplica a todo o período de fabrico do açúcar.

Ao analisar o início da produção açucareira, Stuart Schwartz chamou atenção para um fenômeno pouco estudado: o
uso massivo de indígenas escravizados nos engenhos. Grande parte desses índios tinha origem tupi, embora alguns
povos tapuias tenham sido encontrados nos registros.

A análise de Schwartz se circunscreve à província da Bahia que, durante os séculos XVI e XVII, foi uma das maiores
produtoras de açúcar da América portuguesa.

Baseado em registros paroquiais e inventários, o autor apontou que a lógica que regeu a escravidão indígena na
produção açucareira foi muito semelhante àquela que ditaria o ritmo de trabalho de africanos escravizados anos mais
tarde.

Graças à preferência senhorial, 60% dos escravos eram homens adultos e jovens. Todavia, as práticas religiosas
incentivaram o casamento de muitos desses homens, fazendo que famílias escravas tivessem significativa presença
nesses engenhos.

Tendo que se adaptar às condições de trabalho impostas pelos colonos, os índios escravizados deveriam realizar o
cultivo extensivo da cana e depois processar seu caldo a fim de obter o açúcar.

A partir do último quartel do século XVI, a escravidão indígena passou a ser, em parte, substituída pelos africanos
escravizados.

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Tal substituição tinha duas razões principais:

Além disso, em meados do século XVI, o valor do escravo africano era relativamente baixo, o que o tornava acessível
para muitas pessoas. E, mais do que uma propriedade, o escravo africano representava um investimento, pois, depois
de três ou quatro anos, o senhor conseguia recuperar, por meio do trabalho do escravo, o que havia pagado por ele e
continuava usufruindo do seu trabalho por muito mais tempo. Não podemos esquecer que o fato de trabalharem em
uma terra totalmente desconhecida também dificultava fugas e possíveis revoltas dos africanos escravizados.

O trabalho compulsório dos africanos


Esses aspectos foram fundamentais na hora de escolher o trabalho compulsório de africanos em detrimento dos
indígenas – embora muitos índios tenham trabalhado como escravos na América portuguesa, só que em menor
escala. Fora isso, existiam ainda argumentos religiosos. Na época, a Igreja católica acreditava que os negros africanos
não tinham alma. Por isso, o trabalho como escravo seria uma espécie de purgatório em vida para que depois da morte
esses homens e mulheres pudessem subir ao reino dos céus.

O fato é que a partir de 1580, africanos de diversas localidades do continente passaram a desembarcar em peso na
América portuguesa para trabalhar como escravos em diferentes atividades econômicas. Os africanos que vieram
escravizados para o Brasil tinham origens diversas. O mapa ao lado mostra as diferentes rotas do tráfico de escravos
do continente africano para terras brasileiras. Se olharmos o mapa com atenção veremos que existem quatro grandes
rotas de comércio.

Rota do tráfico negreiro para o Brasil

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Após a longa travessia,  quando finalmente desembarcavam nos portos da América portuguesa, a situação de boa
parte dos africanos era péssima. Aqueles que tinham conseguido aguentar a viagem passavam por um breve exame
médico e eram rapidamente vendidos. Os africanos mais fragilizados, principalmente aqueles que haviam contraído
escorbuto, passavam por um processo de quarentena em galpões localizados na região portuária.

Nesses locais eles recebiam uma alimentação especial para recuperar suas forças o mais rápido possível. Assim que
estivessem mais fortes, eram levados para os mercados onde seriam comprados. A partir de então, o destino desses
africanos estava atrelado a de seu senhor e, em muitos casos, eles tinham que continuar a viagem, só que agora pelo
interior do Brasil.

Nem todos os africanos recém-chegados resistiam ao período da quarentena. Por isso, era comum encontrar
cemitérios nas proximidades do porto. Além dos maus tratos e das doenças adquiridas durante a travessia, muitos
escravos boçais, isto é africanos recém-chegados, sofriam de banzo –, uma doença que parecia atacar a alma de
alguns africanos que, tomados por uma tristeza profunda, se deixavam morrer.

Para muitos deles era preferível morrer a trabalhar como escravo, pois acreditavam que a morte significava o retorno à
sua terra natal, junto a seus ancestrais.

No entanto, a maior parte dos africanos sobrevivia à travessia do atlântico. Dessa forma, o escravo boçal rapidamente
era introduzido à sua nova sociedade.

Em seguida, ele recebia ensinamentos básicos do catolicismo, como deveriam se portar perante seu senhor, bem como
algumas palavras em português. A partir de então o escravo boçal se juntava ao ladino e ao crioulo na execução das
mais variadas tarefas.

A Jornada de trabalho dos escravos


Para conseguir cumprir a demanda da produção em larga escala, os escravos enfrentavam jornadas de trabalho que
variavam de doze a dezoito horas e eram constantemente vigiados por feitores e capatazes para que otimizassem seu
tempo de trabalho.

No ápice da produção do açúcar (século XVI) e do café (século XIX), e no auge do período aurífero (século XVIII), a
exploração do escravo era tamanha que a média de vida ativa do cativo variava entre sete e dez anos. Contudo,
estimativas apontam que, mesmo nesse curto tempo de vida ativa, o escravo “pagava” para seu proprietário a quantia
que havia sido desembolsada no momento da sua compra e ainda gerava benesses.

A partir do terceiro ano de trabalho, tudo o que era produzido pelo cativo representava lucro ao senhor. Este retorno
financeiro relativamente rápido fez com que o escravo fosse visto como uma boa forma de investimento, o que
fomentou o tráfico intercontinental de africanos por três séculos.

Essa lógica da exploração total do trabalho escravo intensificou ainda mais a violência inerente à escravidão. Além da
obrigação em labutar horas a fio de baixo de sol quente, chuva forte ou em dias frios, o constante reabastecimento de
africanos escravizados nos portos do Brasil fez com que muitos proprietários fossem negligentes com os cuidados
despendidos aos cativos.

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As péssimas condições que viviam os escravos


Apesar de cuidados com alimentação, moradia e vestimenta serem de responsabilidade senhorial, a fácil reposição
dos escravos ajuda a explicar as péssimas condições de vida que os proprietários ofereciam a seus cativos. A
alimentação que os escravos recebiam costumava ser composta apenas por farinha de mandioca ou de milho, uma
porção de carne salgada e, por vezes, um pouco de feijão: o básico para o sustento humano. As roupas desses cativos
eram feitas de panos de algodão simples e deveriam durar ao menos um ano.

Muitos escravos que adoeciam eram deixados à própria sorte, pois, como vimos, muitas vezes era mais vantajoso
comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo.

Junto à rígida e pesada disciplina de trabalho no eito e às chibatas recebidas quando não alcançavam a quantidade
estipulada de feixes de cana ou cestos de grãos de café, os escravos e escravas ainda enfrentavam outros dois
grandes problemas: os acidentes e as condições insalubres de trabalho.

Os acidentes foram comuns nos engenhos de açúcar, mais especificamente:

• Na casa da moenda, onde era extraído o caldo da cana, os cativos que não tomassem cuidado podiam ter o braço
inteiro triturado pelas engrenagens ao colocar os feixes de cana na moenda;

• Na casa de purgar, onde o caldo era transformado em melaço, que normalmente era o local de trabalho das escravas,
havia sempre o perigo de queimaduras.

As regiões mineradoras também foram palco de acidentes de trabalho. Mesmo que muitos dos africanos escravizados,
principalmente os oriundos da Costa da Mina, tivessem conhecimentos milenares sobre mineração aprendidos na
África, em diversas ocasiões as minas subterrâneas, que haviam sido cavadas, desabavam, matando dezenas de
cativos. Quando tragédias como essas não ocorriam, os escravos eram obrigados a passar o dia inteiro com parte do
corpo submersa nos rios e córregos para realizar o garimpo do ouro.

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Glossário

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 4 - A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO -


RELIGIOSIDADE
INTRODUÇÃO

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A religiosidade foi - de diferentes formas - um importante elemento de resistência à escravidão na América Portuguesa.
Essa aula tem como objetivo compreender alguns dos diversos usos que as práticas religiosas tomaram em meio ao
processo colonial destacando: a)o papel da Igreja católica na implementação do projeto colonial; b) a importância da
conversão ao catolicismo como meio de inserção social; c) o reconhecimento das religiões africanas e as religiões
indígenas; para, for fim, refletir sobre como a religião foi usada por ambas as etnias como forma de resistência: o
sincretismo religioso.

OBJETIVOS

Compreender o papel da Igreja Católica na implementação do projeto colonial;

Identificar a importância da conversão ao catolicismo como meio de inserção social;

Reconhecer as religiões africanas e as religiões indígenas;

Refletir sobre o uso da religião por ambas as etnias como forma de resistência: o sincretismo religioso.

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Festa de Nossa Senhora do Rosário – patrona dos negros

A imagem é uma litogravura pintada pelo viajante alemão Johann Moritz Rugendas, que viajou pelo Brasil entre os anos
de 1822 e 1825. Nela, o viajante registrou um evento comum na história do Brasil escravista: as festas das irmandades
negras.

Tais festividades reuniam negros e mestiços, escravos e libertos, na comemoração do Santo Padroeiro. Era um dos
poucos momentos em que esses homens e mulheres podiam se reunir e festejar, pois essas festividades tinham o aval
da Igreja para ocorrer.

Fonte da Imagem:

A Igreja Católica foi uma das mais importantes instituições da história do Brasil. É possível afirmar que ela foi uma das
responsáveis pela chegada dos portugueses no Novo Mundo, bem como por parte das políticas coloniais adotadas
pela metrópole.

Dito de outra forma, a colonização das Américas também era um movimento de conversão, de catequese dos
autóctones do continente e, mais tarde, dos africanos escravizados que aqui chegavam. O fervor religioso chegou,
inclusive, a colocar Igreja Católica e Coroa portuguesa em posições antagônicas (como no uso de indígenas como
escravos).

Dessa forma, todos os que habitassem a América portuguesa – índios, africanos, portugueses, escravos e livres –
deveriam ser católicos. As intervenções da Inquisição durante o período colonial apontam que a Igreja levava a sério a
obrigação de cuidar de seu e de assegurar que ninguém desviaria dos propósitos divinos.

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Fonte da Imagem:

Diferentes grupos indígenas passaram (muitas vezes, à força) pelo processo de catequese. Já os africanos recém-
chegados eram batizados e recebiam um nome cristão que deveriam levar até a sua morte e, quando comprados por
senhores religiosos, recebiam os primeiros ensinamentos católicos.

No entanto, se a Igreja tinha seus propósitos, africanos e indígenas souberam ler nas entrelinhas o que era dito e
pregado, dando outro significado às práticas religiosas como formas de resistência.

Em alguns casos (como nas irmandades negras), tais práticas pareciam conviver com o sistema escravista, mas, em
outros, a escolha religiosa transformou-se em ferramenta efetiva de luta e resistência.

Resistência
A resistência foi uma constante na vida de índios e africanos escravizados. Ainda que as formas, tidas como clássicas,
de resistir à escravidão passem pela luta aberta ― que muitas vezes levavam ao embate físico.

A instauração do sistema escravista na colonização da América portuguesa (e sua manutenção no Império do Brasil)
acabou abrindo flanco para outras formas de resistências; formas essas que, muitas vezes, utilizavam as instituições
coloniais como muleta.

Para a grande maioria, a resistência ao cativeiro se fazia dia a dia, da hora em que se levantava para trabalhar até o
momento de se recolher para dormir. Onde quer que tenha existido escravidão também houve resistência escrava. E tal
resistência foi experimentada em diferentes níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.

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No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência foi o isolamento. Depois dos primeiros anos de
contato, das mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da catequização e da escravização, muitas
sociedades indígenas decidiram rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Contudo,
conforme anunciado, muitos índios resolveram ir para a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma.

Fonte da Imagem:

Religiosidade
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem responsável pelos cultos
religiosos.

Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, graças à sua relação com forças sobrenaturais, ele gozava de
posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do movimento de catequese. Ainda
que os missionários tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés tinham, eles não
conseguiram desconstruir o panteão e os rituais religiosos de muitas sociedades indígenas com as quais entraram em
contato.

Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas indígenas originou-se a
“Santidade” (nome dado pelos portugueses). Esse fenômeno era um culto sincrético e messiânico, no qual os índios
questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. Segundo Schwartz e Vainfas, esse
movimento era uma combinação de crenças dos tupinambás no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do
cristianismo. Havia o culto em ídolos com poderes sagrados feitos de cabaça (glossário) e pedra que, segundo os
seguidores, dotariam os fiéis de força para lutar contra os brancos.

Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas. Para tanto, era
necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam durar dias seguidos (regados do alto consumo de bebidas
alcóolicas e infusão de tabaco), muitas vezes levando os fieis ao estado de transe. O mais interessante é reconhecer
as contribuições católicas deste movimento.

Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como “papas”, chegando a
nomear bispos e organizar os “missionários”, que tinham a incumbência de difundir o culto em outras localidades.
Houve até mesmo um caso no qual os seguidores da Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”.
(SCHWARCTZ:1993, 54-55)

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Fonte da Imagem:

A “Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram em contato com os
portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãs sob uma nova ótica. Visão que lhes favorecia e que
questionava as bases do sistema colonial que estava sendo montado. Com o passar dos anos, a morte crescente por
epidemias e a entrada cada vez mais volumosa de africanos escravizados, a “Santidade” foi perdendo parte de seus
seguidores, dando lugar a outras formas de resistência indígena, que serão abordadas na próxima aula.

Fonte da Imagem:

Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As irmandades negras
ainda garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros.

Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram formadas por africanos
escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se reuniam e formavam uma irmandade,
reforçando, assim, identidades oriundas do outro lado do Atlântico.

Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas africanas ou atribuíam as
mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a forte relação estabelecida entre
São Jorge e o orixá Ogum.

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Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na luta pela liberdade de
muitos escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter sua liberdade graças à poupança feita por
seus “irmãos” de credo. Assim que comprava a alforria de um membro, a irmandade começava uma nova poupança
para ajudar outra pessoa.

Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais importante de cada
irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa solene e grande festa com muita música,
dança e batuque. Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse era
um momento de grande prestígio frente a seus companheiros.

A devoção de escravos e libertos fez com que algumas irmandades negras ganhassem muito prestígio e se
transformassem em organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no fato de que, no Rio de Janeiro, tanto
a Igreja de Nossa Senhora do Rosário como a Igreja de São Elesbão e Santa Efigênia terem sido construídas na região
central da cidade.

Famílias
Mais do que a formação de famílias segundo o modelo ocidental (ou a família nuclear composta pelo casal e seus
filhos), os africanos e crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de família muito próxima daquela
encontrada em diferentes regiões africanas: a família extensa.

Já que os laços de parentesco originais haviam sido rompidos pelo processo de escravização, muitos cativos
encontraram no apadrinhamento uma forma eficaz e legítima (frente os olhos dos senhores, da Igreja Católica e do
Estado) de reconstruírem suas redes de parentesco.

Escravos e libertos batizavam os filhos de seus companheiros sob o juramento de se responsabilizar pela criança caso
algum incidente ocorresse com seus pais. O compadrio também foi utilizado como uma das estratégias na luta pela
liberdade, tendo em vista que os padrinhos e madrinhas, principalmente os alforriados e livres, se comprometiam em
empenhar-se pela obtenção da liberdade de seus afilhados.

Diferentes deuses e entidades africanas


As famílias extensas também estiveram presentes em muitas das religiões de matriz africana criadas em solo
brasileiro. Africanos que vinham de regiões islamizadas da África, como o Golfo da Guiné, continuaram acreditando em
Alá e, quando chegaram em solo brasileiro, fizeram o possível para encontrar outros muçulmanos e cultivar suas
tradições e costumes. Os escravos e libertos islamizados criaram verdadeiras redes de contato e, em diversas
situações eles, aqui no Brasil, sabiam de episódios importantes que estavam acontecendo em território africano ou em
outras colônias e países da América.

Religiões que cultuassem diferentes deuses e entidades africanas também foram comuns ao longo da história
brasileira, embora os senhores, a Igreja Católica e as autoridades governamentais tentassem proibir essas práticas.

No Maranhão, africanos minas iniciaram o culto dos voduns; na Bahia, africanos jejes e nagôs reverenciavam os orixás.
Tanto os voduns como os orixás eram deuses ancestrais ou heróis de diferentes sociedades africanas.

Conforme ocorria na religião de diversos povos africanos, cada pessoa tinha um orixá que lhe acompanhava durante
toda a vida e, para entrar em contato com seu orixá, a pessoa deveria passar por um ritual de possessão que era
acompanhado de música e dança.

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Durante o período em que estava em transe, a pessoa entrava em contato com a força divina e, muitas vezes,
conseguia resolver os problemas que lhe afligiam. Muitos escravos e libertos faziam isso. Aos poucos, a crença nos
orixás foi se desenvolvendo e, no século XIX, deu origem ao Candomblé. Essa religião era formada por “irmãos de fé”
― pessoas que acreditavam nos orixás e que se reuniam em torno a uma mesma casa ou terreiro. Nesse espaço,
comandado por uma mãe de santo ou um pai de santo, além de realizar suas cerimônias religiosas, entrar em contato
com seus deuses e buscar repostas por meio de jogos de adivinhação (como o jogo de búzios), muitos escravos e
libertos conseguiram formar outra família, que muito se assemelhava com as grandes linhagens existentes em
diversas localidades africanas.

Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período escravista e foram fortemente
combatidas, como o caso da Umbanda. Os especialistas não sabem ao certo a origem da Umbanda (que mistura
cultos religiosos de matriz africana, indígena e kardecista), mas as pesquisas levam a crer que os primeiros cultos
surgiram no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.  Juca Rosa ― liberto e filho de uma escrava da Costa
ocidental africana ― é apontado pela historiografia como um dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde,
daria origem à Umbanda. Tido como feiticeiro, Juca Rosa era visitado não só por escravos e libertos, mas também por
muitas pessoas ilustres da Corte do Império do Brasil que recorriam às suas “feitiçarias” para curar doenças do corpo e
da alma.

Sua fama logo ganhou a cidade e Juca Rosa passou a ser perseguido pelas autoridades. Assim como Juca Rosa,
outros homens e mulheres negros fizeram da religião não só uma ferramenta de construção de identidade, mas
também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.

//cap-dep.blogspot.com/2009

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Glossário
CABAÇA

substantivo feminino

1.
angios design. comum a plantas da fam. das cucurbitáceas e a uma da fam. das bignoniáceas, cujas cascas dos frutos, muito
duras, são us. no fabrico de diferentes objetos; cabaceira, cabaceiro.

2.
angios design. comum aos frutos dessas plantas, ovoides nas bignoniáceas e, nas cucurbitáceas, subglobosos ou elipsoides, e
ainda mais freq. dotados de dois bojos globosos, de tamanhos bastante desiguais, unidos por uma seção estreita; cabaço

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 5 - FORMAS DE RESISTÊNCIA AO PODER


ESCRAVISTA
INTRODUÇÃO

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

Índios e afro-descendentes empreenderam formas de resistência, algumas similares e outras diferentes. Entre as
similares, podemos citar a permanência de práticas religiosas, a recusa em desempenhar tarefas determinadas pelo
senhor, as rebeliões, as fugas e a permanência em quilombos. Adotadas apenas pelos afro-descendentes, podemos
pensar no banzo, na “feitiçaria” e “pragas” rogadas, nos envenenamentos de senhores e na recusa das amas de leite
em amamentar os filhos de seus donos. O objetivo dessa aula é explorar as diferentes formas de resistência à
escravidão na longa duração da instituição escravista no Brasil.

OBJETIVOS

Identificar a existência de diferentes formas de resistência de índios e afrodescendentes ao projeto colonial;

Apresentar as diversas formas de resistência que indígenas e afrodescendentes adotaram;

Relacionar essas múltiplas formas de resistência com os ditames do sistema colonial;

Compreender que, apesar de parecer contraditório, muitas vezes, negociação e tolerância foram adotadas por todos os
atores históricos como forma de sobrevivência para uns e de continuidade do processo colonizador para outros.

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

Formas de resistência

Conforme visto na aula anterior, onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência. Na história brasileira, isso
não foi diferente: grupos indígenas, africanos escravizados e crioulos criaram diferentes formas de resistir à escravidão
e, em alguns momentos, ao sistema escravista que ditava o ritmo de suas vidas.

Fonte da Imagem:

Fugas
A fuga foi uma das formas mais utilizadas para resistir à escravidão, sendo uma estratégia de resistência tão frequente
que os senhores utilizaram diferentes formas de lutar contra ela. Nas regiões rurais era comum que os senhores
contratassem os capitães do mato – homens especializados em recapturar escravos fugidos.

Já nos grandes centros urbanos, a captura de escravos ficava sob a incumbência da polícia. Os jornais das vilas e
cidades eram repletos de anúncios feitos pelos senhores que não só denunciavam as escapadas dos escravos, como
ofereciam a descrição física do fugitivo e muitas vezes algum tipo de recompensa para quem o encontrasse.

Quando a captura do escravo fugido ocorria, os senhores costumavam aplicar castigos físicos violentos e obrigar o
escravo a usar uma gargalheira que servia como símbolo de escravo fugido. No entanto, a despeito das punições, a
fuga foi uma estratégia amplamente praticada por aqueles que viviam no cativeiro.

Anúncio de fuga escrava no jornal


De forma geral, é possível afirmar que existiram dois tipos de fuga na história da escravidão no Brasil:

- No primeiro caso, encontram-se as fugas que tinha como objetivo a reivindicação escrava por melhores condições de
vida. Escravos que estivessem trabalhando mais do qual o habitual poderiam realizar pequenas escapadas e só
retornar à propriedade do seu senhor mediante algum tipo de negociação. Cativos que eram impedidos de festejar ou
de visitar sua família também recorriam a esse tipo de fuga para conseguir estabelecer acordos com seus senhores;

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

O segundo tipo de fuga era aquele que pretendia negar a escravidão. Nessas circunstâncias, os escravos
abandonavam a propriedade senhorial e, individualmente ou em grupo, iam buscar formas alternativas de viver fora do
cativeiro. Muitos cativos se embrenhavam no meio do mato e lá construíam pequenas comunidades que ficaram
conhecidas como quilombos ou mocambos.

Outros preferiam tentar a vida em lugares mais distantes, principalmente nas grandes cidades, pois nesses espaços o
escravo fugido poderia se passar por um negro liberto.

Os quilombos

Em muitos casos, as fugas coletivas acabam transformando-se em uma outra forma de resistência à escravidão: os
quilombos também conhecidos como mocambos – comunidades formadas por escravos fugidos. Nessas
comunidades, os escravos refaziam suas vidas a margem cativeiro. Lá, construíam famílias, estabeleciam laços de
amizade, plantavam, criavam animais e chegavam a comercializar com povos indígenas que habitavam as redondezas
ou, então, com os vilarejos próximos.

Apesar de ser uma organização que foi duramente combatida pelos senhores e pelas autoridades governamentais, os
quilombos não eram comunidades isoladas. Os documentos de época mostram que muitos quilombolas faziam trocas
comerciais clandestinas com os engenhos, fazendas e cidades próximas.

Em alguns casos, os quilombolas aproveitaram o cair da noite para visitar familiares e amigos que viviam sob o
cativeiro. Em outras situações era o inverso que ocorreria: os escravos realizavam pequenas fugas e passavam
algumas horas, ou até mesmo dias, nas festas que aconteciam no mocambo.

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Grande parte dos quilombos que foram identificados estava localizada próxima a regiões com grande concentração de
escravos. Palmares, o mais conhecido quilombo da história brasileira, se formou durante o século XVII nas adjacências
da zona da mata pernambucana, local de intensa produção de açúcar e, consequentemente, significativa concentração
de cativos.

A região das minas, que possuía a maior concentração de escravos no século XVIII, também foi palco da formação de
muitos quilombos. Além do controle da tributação sobre todo ouro e diamante que era extraído da província, as
autoridades coloniais ainda se viram obrigadas a combater a criação dessas comunidades que, na maior parte dos
casos, estavam muito próximas.

Os quilombos mineiros não só expunham a fragilidade do controle de escravos na região, mas também causavam
grandes transtornos para as vilas e cidades. As autoridades de Vila Rica (que mais tarde seria a cidade de Ouro Preto)
recebiam constantes queixas de que quilombolas haviam roubado propriedades ou então estavam impedindo a
passagem em alguma estrada que ligava o perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios.

Esses mesmos quilombolas também faziam incursões às fazendas e pequenas propriedades para resgatar familiares
e amigos, e nesse vai e vem construíram redes de comércio com pequenos negociantes e produtores.

Na tentativa de destruir essas comunidades, as autoridades praticamente instituíram o capitão do mato como figura de
poder, armaram milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram que comerciantes negociassem com os
quilombolas. Em momentos de crise, chegou a ser autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas
mãos decepadas.

Fonte da Imagem:

Relações estreitas entre quilombolas e pequenos negociantes também foram frequentes nos mocambos e quilombos
que se formaram nos arredores do Rio de Janeiro, no período em que a cidade era capital do Império. A região que hoje
é conhecida como baixada fluminense foi um dos locais de maior concentração dessas comunidades. Era para lá que

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

muitos escravos que trabalhavam no perímetro urbano da Corte fugiam, pois, ao mesmo tempo em que a região estava
afastada do grande centro, sua localidade ainda permitia um contato frequente com a cidade.

Na realidade, essa proximidade foi uma espécie de estratégia de sobrevivência para muitos desses mocambos, pois
permitiu que os quilombolas conseguissem negociar os alimentos e cestarias que produziam garantindo assim seu
sustento. Junto à região que era banhada pelo rio Iguaçu, muitos cativos também se refugiaram nas matas da Floresta
da Tijuca.

Revoltas e conspirações  
Tal rebelião começou anos antes, quando o colono João Ramalho – amigo de Brás Cubas que, na época, era o
governador da capitania de São Vicente - casou-se com Bartira, a filha de Tibiriçá, cacique dos Guaianazes da região.
Conforme os costumes dos guaianases, o casamento de Bartira foi tomado como uma aliança do grupo com os
portugueses, a ponto dos guaianases colaborarem com os colonos no processo de aprisionamento e escravização dos
tupinambás que viviam no litoral, entre os atuais Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Apesar de menos frequentes do que as fugas e a criação de comunidades quilombolas, as revoltas também foram
estratégias de luta utilizadas pelos escravos. Na realidade, mais as conspirações de possíveis revoltas escravas do que
as revoltas propriamente ditas inquietaram senhores e autoridades de todo Brasil, pois elas representavam a
possibilidade do fim total da escravidão. 

O contato e o processo de aldeamento indígena foram responsáveis por diversas revoltas no período colonial. Ocorrida
entre os anos de 1554 e 1567, a Confederação dos Tamoios foi uma revolta dos tupinambás contra a tentativa de
escravização levada a cabo pelos colonos portugueses.  

As investidas dos portugueses e seus aliados obrigou a resistência dos Tupinambás que, liderados por Aimberê,
organizaram-se e formaram a Confederação dos Tamoios (que em Tupinambá, significa o “mais velho”). A primeira
batalha foi vencida pelos Tamoios, resultando na morte de Tibiriçá.

Os conflitos foram interrompidos por um ano de paz, resultante das ações dos padres Manuel da Nóbrega e José de
Anchieta, que estavam receosos da onda de violência criada pelos confrontos. Todavia, durante esse ano de trégua, os
colonos portugueses se armaram e reiniciaram o processo de escravização dos índios tupinambás.

Nesse segundo momento de confronto, os Tamoios contaram com a ajuda dos franceses desembarcados no Rio de
Janeiro, em 1555, e que, comandados por Villegaignon, tinham o intuito de fundar uma França Antártica. As batalhas
duraram quase um ano e os portugueses só conseguiram vencer depois do reforço oferecido por Mem de Sá,
governador-geral do Brasil.

A rebelião teve fim em 20 de janeiro de 1567, quando o líder Aimberê foi morto. 

Confederação dos Tamoios 


A história brasileira está repleta de outras tentativas de resistência indígena. Ainda no século XVI é possível destacar a
Guerra dos Aimorés (1555-1673) e a Guerra dos Potiguares (1586-1599). Na centúria seguinte ocorreram o Levante dos
Tupinambás (1617-1621) e a Confederação dos Cariris (1686-1692). Esses são apenas alguns exemplos de que os
grupos indígenas não ficaram passivos ao processo de escravização dos colonos portugueses e que, em muitos casos,
fizeram da luta coletiva sua principal arma de resistência.  

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Revolta dos Malês  


Esse movimento, que teve a participação de escravos e libertos africanos de diferentes origens, guarda a
particularidade de ter comportado um grande número de africanos nagôs na sua organização. Os nagôs eram
africanos muçulmanos e por isso muitos deles sabiam ler e escrever em uma época em que a maioria dos homens
brancos e livres não sabia assinar o próprio nome. 

Após diversos encontros e reuniões marcados em becos ou em casas sublocadas da cidade, a revolta foi marcada
para o dia 25 de janeiro de 1835, dia de Nossa Senhora da Guia. A data foi especialmente escolhida porque as festas
religiosas permitiam que os escravos pudessem andar com mais facilidade pelas ruas de Salvador, o que despistaria
as autoridades.  

No entanto, na noite anterior, a revolta foi delatada para a polícia que imediatamente iniciou a busca pelos revoltosos:
diversas patrulhas foram colocadas nas ruas e depois de algumas buscas os policiais encontraram sessenta africanos
reunidos no porão de um sobrado. Pegos de surpresa, os africanos tiveram que antecipar o momento da batalha e
saíram às ruas chamando os demais escravos para a luta. 

Embora o número de escravos que aderiu à luta tivesse sido alto, as autoridades (que estavam preparadas)
conseguiram controlar o levante. Depois do reconhecimento dos principais líderes ― três escravos e dois libertos,
todos africanos ―, os revoltosos receberam diferentes punições.

Os líderes do movimento foram fuzilados, diversos africanos livres foram deportados para a África e a maioria dos
escravos foi açoitada em praça pública e depois entregue aos seus senhores. Mesmo com um desfecho trágico para
seus participantes, o levante dos Malês fez com que as autoridades redobrassem sua atenção e o controle sobre a
população escrava, sobretudo na província da Bahia.

O levante de São José do Queimado   


Quatorze anos após a rebelião dos Malês, um levante de escravos assustou as autoridades da pequena freguesia de
São José do Queimado, que hoje faz parte do município da Serra, no Espírito Santo. Em 1844, chegou à freguesia o
capuchinho italiano Gregório José Maria de Bene, cuja principal obrigação era catequizar os índios da região.   

Para viabilizar sua missão, o capuchinho conseguiu arrecadar fundos para a construção de uma igreja que foi
construída com o trabalho de muitos escravos da região ― que chegaram a trabalhar aos domingos e feriados em prol
da construção da igreja. No ano de 1846, ela foi batizada de igreja São José.

Com o intuito de acelerar a construção, Gregório Bene havia prometido a alforria para os escravos que ajudassem na
edificação, argumentado para isso que tinha grande proximidade com a Família Real.   

Temerosos de que o capuchinho não cumprisse sua promessa, na manhã em que ocorreria a missa inaugural da Igreja
(19/03/1849), cerca de duzentos escravos foram ter com o padre exigindo as assinaturas das cartas de alforria. Como
era de se esperar, Gregório Bene não assinou nenhuma das cartas, o que levou os escravos a iniciarem um levante na

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freguesia.

No meio da tarde outros cem escravos se uniram ao movimento e caminharam para as fazendas a fim de obrigar que
os senhores assinassem as cartas. A população livre, temerosa, trancou-se em casa.  

Rapidamente as autoridades de Vitória ficaram sabendo do ocorrido e, no dia seguinte, o chefe de polícia,
acompanhado de uma milícia armada já estava na freguesia. Contando com o apoio da população livre, as autoridades
foram eficazes no único confronto armado que tiveram com os escravos, que saíram em retirada se embrenhando
pelas matas próximas.

A partir de então, iniciou-se uma verdadeira caçada aos cativos. À medida que eram capturados, os escravos eram
entregues aos seus senhores que se encarregaram pessoalmente das punições.

Apenas 36 dos 300 escravos envolvidos foram presos e julgados:

6 foram absolvidos;

25 foram condenados aos açoites (que variaram entre 300 e 1000 chibatadas);

e 5, tidos como os líderes, foram condenados à forca. 

Porém, a história não acabou por aí. Na madrugada anterior à execução da pena capital, 3 dos 5 líderes conseguiram
fugir da cadeia e nunca mais foram vistos.

Segundo informações à época, um dos escravos possuía um amuleto capaz de fazer

Nossa Senhora da Penha ouvir suas preces. Muitos acreditaram que ela ouviu mesmo e ajudou na fuga.

Todavia, João e Chico Prego, os dois escravos que não conseguiram fugir, foram enforcados. O padre Gregório acabou
cedendo ao vício da bebida e, em setembro de 1849, embarcou para a Corte. 

Os exemplos de resistência à escravidão são inúmeros. Tratamos aqui de alguns deles, que permitem vislumbrar como
a complexidade que caracterizou a escravidão no Brasil também gerou formas igualmente complexas de resistência.

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Glossário

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 6 - Teorias raciais e interpretações sobre o


Brasil
INTRODUÇÃO

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Em fins do século XIX e início do século XX, teóricos como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha,
estudaram a sociedade brasileira e construíram um discurso que possibilitou o surgimento de teorias raciais científicas
que desvalorizavam/inferiorizavam negros e mestiços. Pretende-se com essa aula conhecer as teorias raciais do
século XIX, bem como refletir sobre o contexto histórico no qual elas foram elaboradas para, por fim, empreender uma
análise crítica a respeito do “mito das três raças”.

OBJETIVOS

Conhecer as teorias raciais do século XIX e início do século XX.

Refletir sobre o contexto histórico no qual elas foram elaboradas.

Examinar as interpretações feitas pelos intelectuais brasileiros da época.

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Fonte da Imagem:

Moema de Vitor Meirelles


A tela ao lado foi pintada por Vitor Meirelles, em 1866 ― momento no qual havia um importante debate sobre a
construção da Identidade Nacional Brasileira. À época, o Império do Brasil era uma das poucas sociedades americanas
que ainda dependia da mão de obra escrava (em sua maior parte de africanos e seus descendentes) para a
manutenção da produção agroexportadora do café.

O uso dos braços escravos ainda se fazia sentir em diferentes aspectos da sociedade, inclusive nos primeiros pelotões
que compuseram o exército brasileiro no confronto bélico que mudaria os rumos da história do Império: a Guerra do
Paraguai (1864-1870). Esse também foi um período de intenso debate sobre a identidade brasileira.   

Os primeiros institutos históricos e geográficos estavam sendo abertos no Império do Brasil, que precisava construir a
história e escolher a memória que iria guardar, e o herói que iria representá-las.  

O movimento indianista foi, assim, uma das peculiaridades do Romantismo no Brasil. Na falta do cavaleiro medieval,
coube ao índio (aldeado e civilizado) cumprir o papel de “bom moço” da história brasileira, mostrando ao mundo que o
Brasil não só tinha um herói, como tinha um herói tipicamente brasileiro, e, por isso mesmo, autêntico.  

Tal movimento trouxe para o cenário intelectual da época importantes debates sobre a questão indígena na história
brasileira, embora a figura vencedora pouco se assemelhasse aos rebeldes Aimberê e Canindé. Foi ainda a fonte
inspiradora para autores magistrais da literatura brasileira, como José de Alencar e Gonçalves Dias e pintores como

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Vitor Meirelles.

No entanto, ao consagrar o índio domesticado como símbolo do Brasil, o indianismo elegia uma determinada memória
que, por sua vez, deixava de lado grande parcela da população brasileira, que passava a ser vista, biologicamente,
como inferior.

Um dos grandes desafios em trabalhar com o estudo das relações raciais no Brasil é que tal temática acompanhou as
primeiras tentativas de construção da identidade brasileira independente e soberana. 

Até a produção das primeiras análises da década de 1930, praticamente todas as obras que se propunham examinar a
sociedade ou a história brasileira esbarravam no problema da raça. Na realidade, como demonstrou cuidadosamente
Lilia Schwarcz (SCHWARCZ: 1993), o conceito raça foi peça fundamental das ciências sociais no Brasil e no mundo.

Fonte da Imagem:

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O primeiro estudioso a usar o termo raça no discurso


científico foi George Cuvier, no início do século XIX. Como
bem lembra Lilia Schwarcz, neste momento a visão
Iluminista de humanidade ― que pressupunha certa
unidade e, consequentemente, uma possível igualdade
entre os homens ― aproximava a ideia de raça aos debates
sobre cidadania.
Essa contradição entre a definição científica de raça e os ideais igualitários herdados da Revolução Francesa acabou
reacendendo os debates sobre a origem, ou origens da humanidade. O principal embate se dava entre monogenistas e
poligenistas. 

Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as diferenças entre eles era
resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja Cristã), os poligenistas, baseados
em recentes estudos de cunho biológico, acreditavam na existência de diversos núcleos de produção correspondentes
aos diferentes grupos humanos.

A vertente poligenista possibilitou, ainda no século XIX, o


fortalecimento de disciplinas baseadas no discurso
científico. Veja alguns exemplos desse movimento:

• Antropologia criminal - que considerava a criminalidade algo genético;


• Frenologia e antropometria - que calculavam a capacidade humana de acordo com o estudo do tamanho do cérebro
de indivíduos dos diferentes grupos humanos;
• Craniologia – estudo do crânio.

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Nomes de cientistas como Andrés Ratzius, Cesare Lombroso e Paul Broca ficaram conhecidos na época, graças à
ampla divulgação de seus estudos. Entretanto, o debate tomou novo fôlego com a publicação do livro A Origem das
Espécies de Charles Darwin, em 1859.

A partir de então, o termo raça sofreu duas significativas alterações. De um lado, a ideia de raça ultrapassou o campo
da biologia, estendendo-se às discussões culturais e políticas. Por outro, o termo passou a imprimir a noção de
evolução às duas correntes científico-filosóficas que discutiam a origem do homem (monogenismo e poligenismo)
que, na tentativa de defender suas teses, desvirtuaram ou “adaptaram” as teorias darwinistas da maneira que lhes foi
mais conveniente.

Lembrando que esse era um momento no qual grande parte dos dogmas da Igreja Católica estava sendo questionada
pelo discurso científico ― que se afirmava, cada vez mais, como sinônimo da verdade ―, não é de estranhar que os
poligenistas tenham “saído na frente” de seus rivais no que diz respeito ao uso das teorias de Darwin. A sociologia
evolutiva de Spencer, a história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento imperialista europeu eram provas
disso.

Os poligenistas passaram a tratar a espécie humana como o gênero humano; a diversidade cultural passou a ser
entendida como diferença entre espécies. O homem fora dividido e hierarquizado, e, quanto mais longe uma “espécie”
se mantivesse da outra, melhor para todos.

Tudo estaria relativamente bem resolvido se os poligenistas não tivessem que responder as seguintes perguntas: o que
fazer, então, com os grupos miscigenados? Como adequar a miscigenação à evolução das raças humanas?

A maior parte dos estudiosos e cientistas europeus e estadunidenses ― como Broca, Gobineau e Le Bon ―
consideravam a miscigenação um erro, uma quebra das leis naturais, uma subversão do sistema. Os inúmeros
impasses causados pela publicação de Charles Darwin e a formulações de novas perguntas sobre a evolução da
humanidade criaram a necessidade de novos sistemas explicativos.

Uma das disciplinas gestadas neste momento foi a antropologia cultural (também conhecida como etnologia social ou
evolucionismo social), que restituía a ideia de uma origem comum do Homem, ao passo em que entendia as diferenças
sociais como etapas de um mesmo processo evolutivo.   

Junto com a antropologia cultural, duas perspectivas de cunho determinista também foram criadas nesse momento:  

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A primeira delas, a escola determinista geográfica de Ratzel


e Buckle, afirmava que o desenvolvimento ou não de uma
nação estava totalmente condicionada pelo meio físico;  

A segunda, mais conhecida como “darwinismo social” ou


“teoria das raças”, considerava a miscigenação algo
negativo, na medida em que pensava ser impossível a
transmissão de características adquiridas; em outros
termos, as raças seriam imutáveis.  

Tais escolas acreditavam na existência de três raças bem distantes, o que invalidava a mestiçagem. O mundo dividido
culturalmente seria consequência da divisão de raças. Se isso não bastasse, as escolas deterministas também
defendiam a hierarquização das raças, ou seja, a superioridade de uma delas. Dessa escola saíram homens que
ficaram famosos e exerceram forte influência sobre intelectuais brasileiros, dentre eles Le Bon, Renan, Taine e o conde
de Goubineau.

As premissas da escola determinista, principalmente a que defendia a existência da superioridade de uma das raças,
serviram de base para um movimento existente até hoje: a Eugenia. Tal ciência partia do pressuposto que o progresso
só seria possível em sociedades puras (sem miscigenação), e que apenas uma raça (a ariana) estava fadada à
perfectibilidade; sendo assim, a mestiçagem era vista como algo irracional, contra todas as “leis naturais”.

A eugenia vinha de encontro aos interesses políticos da Europa e dos Estados Unidos. Os europeus acreditavam que
compunham um grupo humano puro, livre de hibridização, muito mais perto da perfeição e, justamente por isso, seriam
responsáveis pela civilização dos demais grupos ― argumento que justificou e legitimou tanto a colonização
americana como o “Imperialismo Europeu” e o sentimento do fardo do homem branco.

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Fonte da Imagem:

Já os estadunidenses, mesmo tendo sido colonizados pela Grã-Bretanha, comprovaram seu desenvolvimento,
principalmente por terem evitado a miscigenação entre o branco dominador e o negro escravizado; por isso, também
estavam fadados ao progresso e à civilização.

Independentemente de certa tradição mazomba do Brasil ― que, vale ressaltar, até 1822 era uma colônia portuguesa
― foi impossível evitar as repercussões da afirmação da ciência como chave explicadora do mundo e da humanidade.

Fonte da Imagem:

Na realidade, a vitória do discurso científico caminhou a pari passu com a construção de uma identidade nacional
brasileira. A primeira ideia de Brasil (entendido como uma unidade nacional soberana e desvinculada politicamente de
Portugal) foi construída com os primeiros museus, institutos históricos e geográficos, faculdades de direito e de
medicina em terra brasilis. Durante o século XIX, nacionalismo e ciência fundiam-se e confundiam-se.

Todavia, a importação desse sistema explicativo científico trazia no seu bojo ― conforme visto acima ― uma questão
deveras espinhosa para a elite intelectual brasileira: o problema da mestiçagem. A constatação (por parte dos
cientistas) da existência de hierarquia entre as raças humanas não era algo tão estranho a uma sociedade que
escravizava, sem muitos conflitos morais ou religiosos, os elementos indígenas e negros da sociedade. Na realidade, a
ideia da supremacia branca frente às demais raças ou “espécies” humanas parecia corroborar a realidade brasileira de
então.

Entretanto, a massa de mulatos, cafuzos, caboclos, pardos e cabras, lembravam, a todo o momento, que o Brasil era
uma nação majoritariamente mestiça ― o que inviabilizava que o país galgasse o estágio supremo da civilização.
Como outras localidades da América Latina, o Brasil tornou-se uma espécie de laboratório vivo, onde cientistas
procuraram comprovar na prática o que compuseram, e onde “ilustrados” brasileiros buscaram desesperadamente uma
unidade, uma homogeneidade para definir o povo brasileiro.

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

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Importantes cientistas como Thomas Buckle, Arthur de Gobineau e Louis Agassiz analisaram o fenômeno da
mestiçagem brasileira, tendo inclusive visitado o país. Infelizmente, suas conclusões sobre o futuro do Brasil não eram
muito esperançosas. De tal modo, aceitar, copiar e reproduzir essas teorias iria interromper um projeto de construção
nacional brasileira que mal tinha começado. Os homens de ciência do Brasil tiveram que achar uma resposta original,
adaptando essas teorias, utilizando o que combinava e descartando o que era problemático para a construção de um
argumento racial no país (SCHWARCZ: 1993, 37).

Fonte da Imagem:

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Os embates científicos se agravaram quando o Brasil proclamou a abolição da escravidão. Até então, o problema
parecia ter sido parcialmente resolvido: os indígenas, em uma espécie de recompensa por sua dizimação, foram
eternizados pelos românticos brasileiros como símbolo de pureza nacional; os negros (grande parte deles) pagavam
com a escravidão a sua ligação direta com o continente africano.

Ainda que os Abolicionistas defendessem a liberdade dos negros escravizados, nem todos estavam certos quanto à
igualdade de direitos que defendiam, tendo em vista o contexto racialista em que viviam.

Porém, quando as discussões sobre raça e mestiçagem passaram a fazer parte da agenda dos assuntos ligados à
cidadania brasileira, a simples importação de análises científicas feitas por europeus e estadunidenses deixou de ser
suficiente.

Enquanto nação que se forjava no seio da Liberdade, da Igualdade e da República, o Brasil precisava construir suas
próprias teorias.  

Neste momento, marcado pela a abolição da escravidão, a proclamação da República, a entrada em um novo século e
a necessidade de criar uma unidade nacional, o termo raça, sobretudo a raça negra, se torna um problema para os
intelectuais brasileiros. Como bem formulado por Renato Ortiz, tais homens se viam diante do seguinte dilema; “como
tratar a identidade nacional diante da disparidade racial?” (ORTIZ: 1985, p.20).  

Neste contexto, três intelectuais brasileiros se destacaram no quadro das ciências sociais do país: Silvio Romero, Nina
Rodrigues e Euclides da Cunha. Homens das ciências, esses intelectuais se incumbiram da árdua missão de pensar e,
principalmente, de colocar o Brasil no caminho da civilização.

As obras desses intelectuais são de tamanha riqueza e complexidade que seria praticamente impossível esgotar suas
análises e seus desdobramentos. Todavia, no caso específico deste, é importante ressaltar que a mestiçagem, de
forma geral, e o elemento negro, em particular, foram os pontos cruciais na interpretação desses cientistas e,
consequentemente, na formação de uma determinada ideia de Brasil.

Mesmo partindo de lugares diferentes (o direito, a medicina e o jornalismo), Silvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides
da Cunha identificaram a diversidade racial ― principalmente a forte presença negra no país ― como o entrave para
que as palavras ordem e progresso, estampadas a bandeira do Brasil República, de fato se transformassem em prática
social.

Na realidade, respondendo ao debate racialista internacional, os três autores viam a fusão das três raças como o
elemento causador da desigualdade e do atraso brasileiro. Tal perspectiva serviu ainda como base para a formulação
de políticas que procuravam viabilizar o desenvolvimento no Brasil: o branqueamento foi a principal delas.

Atividades
1 - Em fins do século XIX e início do século XX, teóricos como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha,
estudaram a sociedade brasileira e construíram um discurso que possibilitou o surgimento de teorias raciais científicas
que desvalorizavam/inferiorizavam negros e mestiços. Qual foi a forma de pensamento existente que fundamentou
tais teorias?

O Relativismo
O Funcionalismo

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

O Idealismo

O Iluminismo
O Evolucionismo

Justificativa

2 - A respeito das teorias citadas na questão anterior, podemos afirmar que: 

Herdeiras do Evolucionismo, essas teorias raciais definiram, no Brasil, uma identidade nacional pautada na superioridade
branca, legitimaram o passado escravista recente, e explicaram a não inserção política e social de determinados grupos,
mesmo após a proclamação da República.
Herdeiras do Evolucionismo, essas teorias foram logo descartadas pela dificuldade em comprová-las.
Herdeiras do Evolucionismo, essas teorias, no Brasil, vigoraram apenas entre o grupo citado, pois não foi possível disseminá-la
em amplos setores da sociedade.
Herdeiras do Relativismo, essas teorias serviram como base para explicar a colonização brasileira.
Herdeiras do Iluminismo, essas teorias explicaram a diversidade étnica e cultural do Brasil.

Justificativa

3 - Sobre a formação da identidade brasileira podemos afirmar que: 

Índios, negros e brancos desempenharam um papel semelhante, pois a relação entre as três etnias se deu de forma pacífica.

Sem negar a contribuição cultural de brancos e negros, a cultura indígena prevaleceu sobre ambas, porque os índios, enquanto
nativos, tinham um conhecimento maior da terra.
Sem negar a contribuição cultural de negros e índios, o português, por ser o colonizador, impôs sua cultura sobre as duas
outras etnias, eliminando qualquer traço das mesmas.

Sem negar que diferentes culturas deram origem ao brasileiro é, entretanto, necessário perceber que as relações entre esses
diferentes povos não foi pacífica. Conflitos, hierarquizações, desigualdades, injustiças e discriminações ocorreram.

A junção das três culturas originou um povo mestiço e orgulhoso do fato das relações entre os três povos terem acontecido de
forma pacífica, sem conflitos, hierarquizações, desigualdades, injustiças e discriminações.

Justificativa

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18/03/23, 18:25 Disciplina Portal

Glossário

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 7 - Mestiçagem como saída?


INTRODUÇÃO

Na última aula vimos que o cientificismo deu o tom das discussões sobre raça e formação social no Brasil durante os
últimos anos do século XIX e os primeiros anos do século XX.

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18/03/23, 18:26 Disciplina Portal

No entanto, é importante ressaltar que, neste período, alguns intelectuais apresentaram interpretações distintas sobre
a presença negra e a herança africana no pais. Entre eles, Manoel Bomfim merece destaque.

OBJETIVOS

Avaliar parte da trajetória do Modernismo Brasileiro e como ele reelaborou a mestiçagem do Brasil;

Reconhecer parte dos debates travados entre intelectuais culturalistas e estruturalistas, no que diz respeito à
mestiçagem do Brasil;

Refletir sobre a construção e a desconstrução do mito da Democracia Racial Brasileira.

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Um pouco sobre Manoel Bomfim


Médico e educador, em 1905, Bomfim publicou um estudo no qual desvinculava o atraso do Brasil (e do restante da
América Latina) à ideia de inferioridade racial.

Embora fizesse uso de termos médicos e científicos, o autor propôs uma leitura sociológica da pretensa inferioridade
do Brasil em relação aos países desenvolvidos da Europa. Era a primeira vez que a "incivilidade" brasileira não passava
por questões relacionadas à diversidade racial que compunha o país.

De tal forma, Bomfim não só defendia a miscigenação brasileira, como desacreditava na inferioridade das raças e
assegurava que o Brasil só conseguiria mudar os rumos de sua história caso fizesse uma revolução baseada na
universalização da educação.

Apesar de ser um homem respeitado no quadro intelectual brasileiro (tendo ocupado cargos importantes no Rio de
Janeiro), sobretudo no que diz respeito à educação nacional, as ideias de Bomfim se depararam com um forte critico:
Silvio Romero.

Ainda em 1905, Silvio Romero publicou um livro com o mesmo titulo do estudo de Manoel Bomfim, no qual refutava
todos os argumentos apresentados pelo médico.

A notoriedade e a forte influência de Silvio Romero acabaram encerrando um debate no mínimo interessante sobre as
interpretações da história brasileira, deixando a perspectiva de Manoel Bomfim esquecida por muitos anos (AGUIAR,
2000). Seus argumentos e sua perspectiva só foram retomados por outros cientistas sociais décadas depois.

Ainda nos anos de 1920 e 1930, despontou no cenário intelectual brasileiro um médico baiano que se dedicou, entre
outros assuntos, a estudar a questão racial ou cultural do Brasil.

Arthur Ramos de Pereira Araújo nasceu em Alagoas no ano de 1903, estudou medicina na Bahia e, com 23 anos, se fez
médico ao defender a tese intitulada Primitivo e Loucura — obra que recebeu elogios de importantes especialistas no
assunto, como Sigmund Freud e Levi-Brhul.

Desde cedo Arthur Ramos estreitou suas relações com a intelectualidade internacional e, durante a década de 1920,
lecionou em diferentes universidades estadunidenses.

Defensor ferrenho da Antropologia Participativa e utilizando inúmeros recursos metodológicos da psicologia e


psiquiatria, Ramos atuou em diferentes áreas das ciências humanas, consagrando-se como um grande estudioso da
cultura brasileira.

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No que diz respeito à questão do negro no Brasil, Arthur Ramos não só trouxe importantes contribuições, como
também chamou atenção para a desigualdade socioeconômica vivida por este setor da população brasileira.

Segundo Luitgarde Barros, ao repudiar qualquer tipo de explicação biologizante (glossário) dos comportamentos
sociais, Arthur Ramos fez uma análise critica da obra de Nina Rodrigues, ao mesmo tempo em que foi seu principal
divulgador.

Em 1934, um ano após Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, Ramos publicou O Negro no Brasil (1940). Nele, o
autor demonstrou a grande importância do negro na formação da sociedade brasileira, dando especial relevo à
mestiçagem e ao sincretismo religioso.

Gilberto Freyre
Ainda na década de 1930, contemporâneo de Arthur Ramos, despontou no cenário intelectual brasileiro o
pernambucano Gilberto Freyre, com uma abordagem diferenciada sobre a história do Brasil, sobretudo no que diz
respeito às relações raciais.

Falar sobre Gilberto Freyre e Casa Grande e Senzala é uma tarefa no mínimo polêmica. Sua obra teve um impacto
tremendo nas ciências sociais brasileiras e durante muitos anos foi tomada como a interpretação mais completa sobre
as relações raciais no país.

Por isso, seguindo a estrutura que permeia esse estudo, é fundamental compreender ao menos dois lados de Gilberto
Freyre:

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Filho de importante família da aristocracia rural pernambucana, o escritor concluiu seus estudos na Faculdade de
Ciências Políticas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Lá entrou em contato com novas perspectivas
analíticas das ciências sociais, principalmente com os estudos da Antropologia Cultural de Franz Boas, que defendia a
ideia da igualdade racial.

À forma menos determinista de compreender os processos sociais, Freyre adicionou as histórias que ouvira quando
menino e uma dose cavalar de fontes documentais pouco exploradas até então. O resultado disso foi uma análise da
sociedade e da história brasileira feita pelo e para o Brasil.

Dito de outra forma, Freyre introduziu uma ideia de civilização genuinamente nacional, na qual as ascendências
indígena e africana compartilhavam com a europeia o protagonismo na trajetória brasileira.

Publicado em 1933, Casa Grande e Senzala não só rompeu


com o discurso racialista reinante nas ciências sociais
brasileiras, como também apontou um novo olhar sobre o
país.

Uma das premissas básicas de Freyre dizia que a formação


brasileira era um processo resultante do equilíbrio de
antagonismos, fossem eles econômicos, sociais, políticos
e até mesmo geográficos (FREYRE, 1933, p.116).

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Todavia, Freyre frisou que o maior e mais profundo antagonismo do Brasil era o existente entre escravos e senhores.
Vê-se logo, que a escolha do título Casa Grande e Senzala não foi aleatória.

É possível afirmar também que a grande inovação de Gilberto Freyre residiu, justamente, no exame equilibrado dos dois
extremos da sociedade brasileira. Era a primeira vez que um estudo analisava as contribuições dos escravos negros e,
consequentemente, das heranças africanas no Brasil - na mesma chave utilizada para falar de brancos e indígenas.

Junto com essa nova abordagem, a forma por meio da qual Freyre construiu sua análise também o distanciava dos
cientistas sociais da época. Escrito de forma ensaística, com uma narrativa que muitas vezes se confunde com
romances do século XIX, Casa Grande e Senzala é um verdadeiro inventário da vida íntima brasileira.

Segundo o autor, o Brasil nascera da tecnologia indígena empregada na produção da mandioca, do leite das amas
negras que alimentaram os meninos das famílias patriarcais, das experiências sexuais desses mesmos meninos com
as mulatas do país.

A intimidade brasileira estava impregnada pela mestiçagem e isso não fazia o Brasil menos civilizado do que os países
europeus. Na realidade, a mestiçagem era a brasilidade.

Longe de esgotar as possibilidades de interpretação da polêmica obra clássica de Gilberto Freyre - o que seria uma
tarefa hercúlea -, é importante pontuar o impacto que Casa Grande e Senzala trouxe para o cenário intelectual
brasileiro.

Se por um lado Nina Rodrigues foi o primeiro intelectual a fazer um estudo sistêmico da presença africana no Brasil,
Freyre foi o primeiro que apresentou essa herança africana de forma positiva e em profundo diálogo com as demais
esferas formativas do país.

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Ainda que a análise de Freyre guarde um tanto de ineditismo e inovação para o período em que foi publicada, por todas
as razões levantadas a pouco, é preciso salientar que, mesmo recuperando de forma positiva a herança africana e o
elemento negro, Gilberto Freyre determina muito bem os locais sociais e políticos dos atores da história brasileira. Uma
vez mais, é forçoso lembrar que a escolha pelo titulo não foi aleatória: aos senhores, cabia a casa grande; aos
escravos, a senzala. A harmonia residia, justamente, nesta dicotomia.

Ao privilegiar a noção de harmonia, a narrativa freyriana acabou suavizando a violência inerente das relações de gênero
e sociais características da história brasileira que pautaram a vida de grande parte das mulheres negras e/ou escravas.

Na realidade, as críticas ao modelo de análise freyriana são inúmeras. É possível reler toda a obra do autor e rediscutir
os pontos por ele levantados. Todavia, o cerne da crítica reside, justamente, na noção de que o Brasil seria composto
por um equilíbrio de antagonismos que pende para a harmonia. Como bem apontado por Renato Ortiz, a ideologia do
sincretismo de Freyre, bem como a ideia do Brasil como um "cadinho das três raças", retira todas as contradições e
toda a violência que marcaram a trajetória social brasileira desde os tempos coloniais (ORTIZ, 1989, p.94-95).

A construção de uma interpretação na qual a sociedade brasileira não apresenta muitos conflitos, e que as relações
dos diferentes sujeitos históricos estava pautada em uma harmonia fundante das relações sociais, permitiu a leitura de
que o Brasil estava desprovido de racismo. A maior prova disso seria a mestiçagem: característica maior da sociedade
brasileira.

Intencionalmente ou não, o exame de Freyre ofereceu os dados necessários para a construção da ideologia da
Democracia Racial (glossário).

O modelo de análise de Gilberto Freyre foi bem recebido em grande parte do círculo intelectual brasileiro e
internacional. Muitos cientistas sociais estrangeiros, sobretudo estadunidenses, passaram a usar o Brasil como padrão
positivo de relações raciais, e realizaram estudos de caso a fim de comprovar a existência do que seria um "paraíso
racial".

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Projeto UNESCO
Os horrores da Segunda Guerra também chamaram a atenção para a problemática do racismo em escala mundial. Na
década de 1950, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) patrocinou um
conjunto de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil.

Conforme sugerido antes, a origem deste projeto estava associada à agenda antirracista formulada pela UNESCO no
final dos anos 1940, sob o impacto do Holocausto.

A aparente harmonia racial no Brasil fazia do país uma espécie de "laboratório vivo". De tal modo, os objetivos do
Projeto UNESCO era determinar os fatores econômicos, sociais, políticos, culturais e psicológicos que favoreciam ou
não a existência de relações harmoniosas entre raças e grupos étnicos.

Para tanto, jovens cientistas sociais brasileiros e estrangeiros se incumbiram de analisar a significativa mobilidade e
integração do negro na sociedade brasileira (GUIMARÃES, 2004).

Antônio Sérgio Guimarães pontuou duas grandes contribuições deste Projeto para os estudos das questões raciais no
Brasil:

Parte dos estudos patrocinados pelo Projeto UNESCO comprovou a inexistência da Democracia Racial no Brasil. No
entanto, os trabalhos feitos na década de 1970 realizaram importante critica a tais estudos, ao mostrar que os fatores
econômicos que protagonizavam as análises não eram suficientes para responder as razões que levariam à
discriminação racial no Brasil.

Dito de outra forma, os estudos que se iniciaram na década de 1970 afirmavam que a raça (como construção social)
era, sim, um fator de distinção na sociedade brasileira; o pertencimento a determinada classe não dava conta de
explicar o racismo no Brasil.

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Florestan Fernandes
Inúmeros trabalhos ligados ao Projeto UNESCO apontaram que o Mito da Democracia Racial era infundado. Um dos
estudos mais importantes neste período foi feito por Florestan Fernandes.

Em A integração do Negro na sociedade de Classes (1964), Florestan analisou os meios pelos quais parte da
população negra da cidade de São Paulo integrou-se à sociedade capitalista.

Ao trabalhar com inúmeros estudos de caso, o sociólogo mostrou que a maior parte dos homens e mulheres egressos
do cativeiro teve uma modesta inserção na sociedade capitalista graças à cor da sua pele e à evidente preferência dos
patrões por funcionários brancos.

Oracy Nogueira
No campo da antropologia culturalista, destacou-se o trabalho pioneiro e inovador de Oracy Nogueira grande seguidor
dos ensinamentos de Pierson.

Em certa medida é possível afirmar que Nogueira ampliou os estudos de seu professor, ao questionar as conclusões
de Pierson sobre a inexistência do racismo tatu senso, no Brasil. Se o professor norte-americano negou a
discriminação racial em detrimento da discriminação socioeconômica, é possível afirmar que Oracy Nogueira
demonstrou que os dois sistemas discriminatórios conviviam no Brasil.

Grosso modo, as conclusões de Oracy Nogueira apontavam que negros e mestiços compunham a grande maioria da
população que exercia atividades subalternas, enquanto os brancos ocupavam lugar de destaque.

De acordo com o próprio autor:

"cor branca facilita a ascensão social, porém, não a garante, por si mesma; de outro lado, a cor escura implica antes
numa preterição social que numa exclusão incondicional de seu portador " (NOGUEIRA, 1998).

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Observa-se, então, que, segundo as pesquisas de Oracy Nogueira, a cor da pele tinha forte influência no desempenho
socioeconômico dos indivíduos.

Ao se desvencilhar da comparação com o modelo de relações raciais dos Estados Unidos, Oracy conseguiu
desenvolver dois conceitos-chave das relações raciais no Brasil: o preconceito racial de marca e o preconceito racial de
origem.

Ainda que os dois trabalhos apontados tenham seguido métodos analíticos distintos, ambos foram eficazes em
apontar que a harmonia das três raças brasileiras era uma farsa.

Embora o negro tenha sido o principal objeto de análise dos trabalhos citados (é necessário frisar que Florestan
Fernandes fez importantes trabalhos sobre povos indígenas do Brasil, como os Tupinambás), a desconstrução do mito
da democracia racial, ou do "cadinho das três raças", permitiu que novas questões fossem colocadas na agenda de
debates da sociedade brasileira.

Os movimentos sociais incorporaram parte do debate acadêmico e passaram a fazer novas exigências para o estado
de um país que, sabidamente, estava longe de ser um paraíso racial.

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Glossário
BIOLOGIZANTE

Em que predomina a visão biológica ou que se refere a aspectos biológicos.

DEMOCRACIA RACIAL

Esta ideologia serviu muito bem aos interesses políticos do governo getulista (marcado pelo nacionalismo e pelo populismo), que,
embora difundisse a ideia do Brasil como um país desprovido de discriminação racial, deixava muito claro que cada raça tinha um
lugar determinado a ocupar na sociedade brasileira. Só assim, a harmonia defendida por Freyre continuaria "reinando".

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História dos Povos


Indígenas e
Afrodescendentes

Aula 8: Herança Indígena e a sua inserção


efetiva no Brasil contemporâneo
INTRODUÇÃO

Nessa aula será analisada a questão indígena na contemporaneidade brasileira.

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OBJETIVOS

Avaliar alguns aspectos da história do índio brasileiro.

Conhecer a política e a legislação indigenista brasileira, analisando a atuação de órgãos como o Serviço de Proteção
aos Índios (SNI) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

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ECO 92
Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, que ficou conhecida como ECO 92. A Conferência inaugurou o conceito de desenvolvimento
sustentável e contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente
de responsabilidade dos países desenvolvidos.

Reconheceu-se, ao mesmo tempo, a necessidade dos países em desenvolvimento receberem apoio financeiro e
tecnológico para avançarem em direção ao desenvolvimento sustentável.

A questão indígena também ganhou espaço no debate, pois qualquer reflexão sobre meio ambiente no Brasil precisa
levar em consideração as diferentes etnia desses sujeitos.

No entanto, o Brasil tem uma questão a ser resolvida em relação a essas sociedades, que é a sua definição. O critério
da auto identificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena.

Na década de 1950, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II
Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto "Culturas e línguas indígenas do
Brasil", o indígena como:

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Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei n° 6.001, de 19/12/1973), que norteou as
relações do Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.

Nessa aula será analisada, então, a questão indígena na contemporaneidade brasileira.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram um número significativo de povos autóctones a quem
chamaram índios. Ainda que eles julgassem estar frente a uma raça diferente, ainda nos primeiros anos de
colonização, os lusitanos conseguiram encontrar traços específicos que diferenciavam essas sociedades, apontando
parte da complexidade que regeu a vida desses grupos. O processo colonial foi extremamente violento com as
sociedades indígenas. As estimativas apontam que no início do século XVI existiam entre 1 e 10 milhões de índios, no
que hoje é o Brasil. Esses habitantes se dividiam em diferentes povos, com culturas, crenças e línguas diferentes.

Vimos nas primeiras aulas do curso que dezenas de milhares de índios morreram em decorrência da colonização da
América portuguesa. Gripe, sarampo, tuberculose e varíola mataram sociedades indígenas inteiras, contribuindo para
aquele que foi o maior genocídio da história da humanidade. Junto com a mortandade causada pela falta de imunidade
indígena, a efetivação do sistema colonial trouxe muitas mudanças nos padrões organizacionais desses povos.

Resumidamente, as sociedades indígenas que habitavam o Brasil tinham sua economia organizada em modos de
produção de uso, ou seja, produziam o suficiente para o consumo interno.

Ainda que pesquisas recentes apontem a presença de moeda em algumas sociedades indígenas que habitavam a
bacia amazônica, grande parte das trocas realizadas entre esses grupos ocorria por meio do escambo. A instauração
do aparelho colonial, a produção do açúcar, o movimento das bandeiras e a criação de gado fizeram com que tais
sociedades tivessem que se adaptar a um ritmo de trabalho extremamente pesado, o que, uma vez mais, acarretou na
morte de milhares de índios e na desestruturação das sociedades que entraram em contato com os colonos europeus.

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A catequese foi outro instrumento de colonização e, justamente por isso, um processo que desestruturou boa parte
dos povos indígenas. Embora muitos missionários objetivassem levar a verdadeira fé aos índios, e em muitos casos
tenham (na sua perspectiva) defendido os indígenas, a conversão ao catolicismo, a criação de uma língua geral e até
mesmo os movimentos de resistência eram indícios de que o contato entre portugueses e índios estava criando novas
formas de sociabilidade, sobretudo para os últimos, que estavam subjugados dentro do sistema colonial que se
forjava. Estudos recentes apontam que, atualmente, os únicos grupos que não tiveram suas línguas alteradas pelo
contato com os portugueses foram os Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa
Catarina). Interessante notar que nenhuma das sociedades apontadas pertence à família Tupi, mas estão ligadas ao
tronco Macro-Jê. Durante todo o período colonial, os portugueses e colonos nascidos na América utilizaram os índios
não só como mão de obra barata (ou então escrava), mas também fizeram uso de seus saberes. A técnica da coivara
foi levada a proporções imensas. A região das minas foi encontrada graças a ajuda indígena; remédios eram feitos
com base nos saberes de pajés e xamas e a mandioca transformou-se na base da alimentação da colônia durante 300
anos.

Findo o período colonial, os índios continuaram fazendo parte da história brasileira. Em meados do século XIX, uma
determinada ideia de índio foi criada pelos intelectuais brasileiros, que a utilizaram como ícone de herói nacional.

No final desse mesmo século e no início do século seguinte, os índios que habitavam a região norte do país foram
fundamentais para as atividades extrativistas. Sociedades indígenas inteiras foram — direta e indiretamente —trabalhar
na busca pelo látex, bem como nos movimentos exploratórios da região amazônica. Foi nesse contexto que o
positivista Marechal Rondon despontou no quadro nacional.

MARECHAL RONDON

Nascido em maio de 1865 no Mato Grosso, Cândido Rondon era de origem indígena. Seus familiares de parte de mãe
eram descendentes de Bororo e Terena, enquanto seu bisavô paterno era Guará. Foi criado pelo tio até ingressar na
Escola Militar no Rio de Janeiro.

Anos mais tarde, tornou-se o responsável pela Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Goiás ao Mato
Grosso. Para cumprir essa missão, Rondon abriu caminhos e desbravou terras entrando em contato com diversos
povos indígenas como os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariquemes, Boca Negra, Paca ás Novo,
Macuporé, Guaraya e Macurape.

Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir
a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi
denominada Comissão Rondon.

Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta mesma época estava sendo construída a ferrovia Madeira-

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Mamoré, que junto com o desbravamento e integração telegráfica de Rondon ajudaram a ocupar a região do atual
estado de Rondônia. Nesse meio tempo, Rondon organizou e dirigiu o Serviço de Proteção aos Índios (1910). O objetivo
principal da SPI era proteger os índios frente à escravização que estava ocorrendo no norte do país, bem como
promover a integração dos mesmos, tendo em vista que tal órgão acreditava que o "índio" era um estágio transitório
que precisava ser tutelado até transformar-se em um proletário rural ou urbano.

Como chefe da SPI, o Marechal Rondon comandou e traçou o roteiro da expedição que o ex-presidente dos Estados
Unidos, Theodore Roosevelt, fez pelo interior brasileiro entre 1913 e 1914, que ficou conhecida como a Expedição
Roosevelt-Rondon. Cândido Rondon passou a ser assim, o principal intermediário entre o Estado brasileiro e os grupos
indígenas. Embora essa relação nem sempre fosse pacífica, graças aos esforços e a mediação de Rondon, inúmeras
expedições foram feitas na bacia amazônica, o que apresentou uma diversidade ainda maior dentre os índios do Brasil.

Ele publicou o livro Índios do Brasil, em três volumes, editado pelo Ministério da Agricultura. Incansável defensor dos
povos indígenas do Brasil ficou famoso por sua frase: "Morrer, se preciso for; matar, nunca".

Rondon teve sua importância reconhecida inúmeras vezes pelo governo brasileiro, recebendo diversas homenagens,
como nome dado ao estado de Rondônia. Marechal Rondon morreu em 1955, aos 92 anos de idade.

MOVIMENTOS EXPLORATÓRIOS DA AMAZÔNIA

A partir das décadas de 1920 e 1930, os movimentos exploratórios da Amazônia despertaram não só interesses
econômicos, mas também chamaram a atenção de muitos intelectuais brasileiros.

Conforme visto em aulas anteriores, nesse período havia um forte debate sobre a identidade nacional brasileira, que
passava a encarar a mestiçagem de forma positiva. Embora boa parte dos estudos históricos e sociológicos se
detivesse ao exame do legado africano no Brasil, os antropólogos (brasileiros e estrangeiros) iniciaram uma série de
análises sobre os grupos indígenas. Foi graças a esses trabalhos que o arquétipo de índio construído no século XIX foi
desmontado. Em primeiro lugar, os estudos antropológicos apontaram que era impossível falar de índio no singular. O
contato com os portugueses e demais colonos havia transformado padrões socioeconômicos e culturais. O estudo
das línguas indígenas demonstra isso.

Segundo os estudos da FUNAI:

Texto na íntegra disponível em: www.funai.gov.br (glossário)

Tais estudos criaram novas demandas estatais.

Em 1939 foi instituído o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI, Decreto n° 1.794, de 22 de novembro de

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1939), órgão que permitiu que antropólogos destacados atuassem na formulação das políticas indigenistas brasileiras.
Era preciso reavaliar a política "sertanista" do SPI que, em certa medida, dava continuidade às premissas coloniais
como a distribuição de presentes, a defesa de vestir os índios, ensinar-lhes a tocar instrumentos e a comportar-se
como ocidentais.

O "governo dos índios" exigia ainda uma boa formação científica e "espírito de dedicação à causa pública". A produção
de informações cartográficas e ambientais era fundamental para subsidiar as atividades de conquista e exploração
comercial do interior.

Além disso, a proposta de registrar minuciosamente as expedições acabou por contribuir com a formação da
antropologia no Brasil e das coleções de cultura material indígena dos museus brasileiros e estrangeiros. Tal política já
vinha sendo questionada pelos irmãos Villas-Boas que ficaram famosos por suas expedições na região central do
Brasil entre as décadas de 1940 e 1960.

Nesse contexto, antropólogos importantes como Heloísa Alberto Torres, Darcy Ribeiro, Roberto Cardoso de Oliveira,
Eduardo Galvão, tentaram levar ao SPI as premissas antropológicas da época, questionando os cânones e práticas
sertanistas. Embora considerassem inevitável a integração dos índios à sociedade nacional, defendiam que o órgão
indigenista não se comprometesse a estimular este processo. As discussões que propunham estavam em
consonância com os debates latino-americanos e internacionais mais amplos realizados no âmbito da Organização
das Nações Unidas (ONU), que, em 1957, promulgou, através da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a
Convenção nº 107 “Sobre a Proteção e Integração das Populações Indígenas e outras Populações Tribais e Semitribais
de Países Independentes”, que apenas foi ratificada pelo Brasil em 1966 (Decreto nº 58.824/66). Os poucos recursos
destinados ao SPI e o baixo grau de profissionalização dos seus funcionários (muitos deles militares e trabalhadores
rurais que não tinham qualquer conhecimento frente às questões indígenas) e acusações de genocídio levaram à
extinção do órgão juntamente com o CNPI.

FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI)

Em 1967 foi criada a Fundação nacional do Índio (FUNAI) cujo principal objetivo era servir como tutora dos índios
brasileiros. A partir de então, cabe à FUNAI promover a educação básica aos índios; demarcar, assegurar e proteger as
terras por eles tradicionalmente ocupadas; estimular o desenvolvimento de estudos e levantamentos sobre os grupos
indígenas.

A Fundação tem, também, a responsabilidade de defender as comunidades indígenas; promover o interesse da


sociedade nacional pelos índios e suas causas; e gerir o seu patrimônio e fiscalizar suas terras, impedindo ações
predatórias de garimpeiros, posseiros, madeireiros e quaisquer outras que ocorram dentro de seus limites e que
representem um risco à vida e à preservação desses povos.

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DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS

Uma das questões mais trabalhadas pela FUNAI é a demarcação das terras indígenas. Na legislação brasileira terra
indígena é “a terra tradicionalmente ocupada pelos índios, por eles habitada em caráter permanente, utilizada para as
suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e
para à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. Atualmente, para uma terra ser
reconhecida e demarcada como indígena, ela precisa passar por um longo processo:

Observa-se que esse é um processo longo e burocrático, e que ainda tem que se deparar com outros obstáculos. De
um lado, os interesses econômicos, sobretudo a exploração madeireira e a derrubada sistemática da floresta
amazônica para a criação de gado e a produção de soja têm colocado sociedades indígenas, a FUNAI e os grandes
proprietários de terra em constante embate. De outro, a noção de terra e território dos grupos indígenas é muito mais
fluida do que a lei brasileira determina. Conforme visto nas primeiras aulas do curso, a maior parte das sociedades
indígenas era nômade ou seminômade o que, por si só, já aponta outros usos e significados da terra para esses povos.

MAPA DAS TERRAS INDÍGENAS BRASILEIRAS

Percebe-se, então, que as questões referentes às populações indígenas ainda estão longe de uma solução que agrade
os diferentes sujeitos, principalmente os índios. Embora a presença indígena e o legado por eles deixado na história e
nos costumes do Brasil sejam cada vez mais reconhecidos, ainda falta muito para que sua integração seja feita de
forma efetiva, levando em consideração não só os interesses da União, mas a diversidade indígena em suas múltiplas
facetas.

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Glossário

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HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 9 - Movimento Negro e a Busca de Outra


Memória Afrodescendente

INTRODUÇÃO

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Nessa aula serão estudados diferentes momentos da trajetória da luta dos afrodescendentes na construção de outra
memória brasileira. O objetivo é recuperar questões levantadas desde o começo do século XX por atores
reconhecidamente afrodescendentes, analisando as muitas direções que tais movimentos tomaram durante cem anos
de luta.

OBJETIVOS

Reconhecer as diferentes facetas do Movimento Negro;

Analisar os diferentes momentos da trajetória da luta dos afrodescendentes na construção de outra memória brasileira;

Analisar as lutas enfrentadas por afrodescendentes na busca por igualdade socioeconômica no Brasil República.

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João Cândido
O ano de 1910 foi marcado pela luta dos marinheiros brasileiros pelo fim dos castigos corporais. Embora o uso da
chibata como castigo na Armada brasileira já houvesse sido abolido em um dos primeiros atos do regime republicano,
na prática, os marinheiros, cuja grande maioria era formada por homens negros e mestiços, continuavam a receber as
punições. Era um claro resquício da escravidão.

O estopim da Revolta ocorreu no dia 16 de novembro de 1910, quando foi publicado em diferentes jornais brasileiros
que o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes havia sido punido com 250 chibatadas aplicadas na frente de toda a
tripulação do Encouraçado Minas Gerais. Seis dias depois, lideradas pelo marinheiro e filho de ex-escravos, João
Cândido, tripulações de diferentes embarcações em todo Brasil fizeram um levante por meio do qual reivindicavam a
abolição da chibata na marinha, com o lema:

“nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não


podemos mais suportar a escravidão na Marinha
brasileira”.

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Foram quatro dias de muita tensão. A cidade do Rio de


Janeiro estava sob a mira dos canhões da marinha e, caso
as reivindicações não fossem atendidas, a cidade seria
atacada. Todavia, após inúmeras negociações, os
marinheiros conseguiram fazer com que as autoridades
brasileiras se comprometessem a acabar com as punições
e terminaram o levante.

Porém, a história não acabou aí. Ainda que o Congresso brasileiro tenha votado pela anistia dos marinheiros
envolvidos, logo depois de se entregarem, grande parte dos sublevados foi presa ou morta pelas próprias autoridades.
O líder, João Cândido, passou alguns anos preso na Ilha das Cobras e depois foi expulso da marinha. Ele faleceu em
janeiro de 1969, aos 89 anos, esquecido por seus contemporâneos.

A trágica história de João Cândido é uma das tantas que demonstra a luta que milhares de afrodescendentes tiveram
que experimentar em busca de melhores condições de vida em um país marcado pelas diferenças raciais.

O movimento abolicionista no Brasil


Existe uma vertente historiográfica que defende que o Movimento Negro surgiu ainda sob a égide da escravidão, por
meio da participação negra no movimento abolicionista. Fundado na Inglaterra, no início do século XIX, o abolicionismo
foi um movimento que pregava o fim do cativeiro. Tal movimento existiu em diferentes partes do mundo e foi
fundamental para a abolição da escravidão em diversos países americanos. No Brasil não foi diferente.

No caso brasileiro, a manutenção da escravidão e do tráfico, mesmo após a independência em 1822, fez com que o
movimento abolicionista só ganhasse força dentre as classes dirigentes do Império a partir da década de 1860. Neste
período, o tráfico já havia sido extinto — por meio da Lei Euzébio de Queiroz, aprovada em 1850 — e debates sobre o
futuro da escravidão, que eram pautas de praticamente todos os jornais do país.

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A incerteza quanto à manutenção da escravidão facilitou a propagação dos ideais e práticas abolicionistas.
Profissionais e intelectuais que eram contrários à escravidão no Brasil organizaram associações e jornais por meio dos
quais pudessem divulgar suas ideias. Conforme mencionado, muitos descendentes diretos da escravidão fizeram parte
deste movimento.

Periódicos como A Gazeta da Tarde, cujo editor era José do Patrocínio, e A Redenção foram instrumentos importantes
na luta abolicionista. Em pouco tempo, o número de associações abolicionistas cresceu. Tais organizações não
apenas faziam denúncias contra a escravidão por meio dos artigos escritos nos jornais, dos discursos feitos em praça
pública e das peças teatrais encenadas em importantes teatros do Brasil, realizavam também festas e reuniões nas
quais arrecadam dinheiro que seria usado na compra da alforria de alguns escravos.

Lei nº 2040 - A Lei do Ventre Livre


No ano de 1871, o Senado brasileiro aprovou a Lei nº 2040, mais conhecida como a Lei do Ventre Livre, determinando
que a partir daquela data (28\09\1871) todas as crianças nascidas de ventre escravo seriam livres.

Para garantir que receberiam bons cuidados e que não seriam separados das mães, todos os senhores deveriam ficar
com os recém-nascidos até eles completarem oito anos de idade. Depois disso, o senhor de sua mãe poderia escolher
receber 600 mil réis do governo e dar a liberdade total para a criança ou então utilizar os serviços dessa criança até ela
completar vinte e um anos.

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A Lei nº 2040 ainda reconheceu que todo escravo que


tivesse o dinheiro necessário poderia comprar sua
liberdade, independentemente da vontade senhorial de
conceder ou não a carta.

Ainda que as condições de liberdade garantidas pela lei fossem de médio prazo e que permitissem aos senhores
utilizar os filhos de suas escravas durante o período em que eles tinham grande potencial de trabalho, a garantia do
Estado brasileiro sobre a liberdade de todos aqueles que nasceram após 28 de setembro de 1871 deu mais força para
os abolicionistas.

Iniciativas importantes

1879
Em 1879, André Rebouças fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e Joaquim Nabuco, junto com José do
Patrocínio, criou a Confederação Abolicionista, ambas na cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. Os
poemas de Castro Alves que denunciavam as atrocidades da escravidão também foram armas importantes na luta
abolicionistas.
Além do jornais e associações, o abolicionismo também virou ação. Casos de violências extremadas contra cativos
passaram a ser defendidos por importantes advogados, homens e mulheres de diferentes localidades começaram a
fazer doações com o intuito de comprar alforrias. As fugas massivas de escravos e a formação de quilombos
passaram também a contar com a ajuda de intelectuais brasileiros.

1883
Participação Popular
A população aderiu ao movimento de diferentes formas. O caso mais emblemático ocorreu no Ceará, em 1883, quando
jangadeiros liderados por Francisco José do Nascimento e João Napoleão, ex-escravos, se recusaram a transportar os
cativos que desembarcavam no porto cearense.
Essa manifestação rapidamente ganhou mais adeptos e teve tanta repercussão que obrigou as autoridades locais e
decretaram o fim da escravidão no Ceará em 1884, quatro anos antes da extinção nacional da escravidão. Nesse

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mesmo ano, a província de Amazonas também a aboliu.

Ações rebeldes
Embora os senhores e o governo brasileiro ameaçassem e até mesmo entrassem em confronto com abolicionistas, a
pressão contra a escravidão aumentava a cada dia e os escravos intensificaram suas ações rebeldes.

1884
As fugas em massa para cidades e a formação de quilombos foram as principais estratégias utilizadas pelos escravos.
Neste período, o quilombo de Jabaquara, próximo a Santos, e o quilombo do Leblon tornaram-se famosos em todo pais
devido às suas estreitas relações com o movimento abolicionista.
No vale do Paraíba e no Oeste Paulista, principais regiões econômicas do Brasil naquele período, os escravos também
iniciaram atos violentos contra seus senhores e suas propriedades.

1885
Lei do Sexagenário
Mais uma vez, o Estado brasileiro tentou apaziguar a situação decretando mais uma lei abolicionista. Em 1885, foi
promulgada a lei do Sexagenário que determinava que todos os escravos, homens e mulheres, com mais de sessenta
anos estariam automaticamente livres. Todavia, essa lei pouco mudou o quadro social fomentado pelos abolicionistas
e escravos.

1888
Lei Áurea
Se não bastasse todo o alvoroço interno causado pelo abolicionismo, as autoridades brasileiras ainda tinham que lidar
com a Inglaterra, que desde o começo do século XIX pressionava as autoridades brasileiras a acabar com a
escravidão. Em meio a um contexto tão conflituoso, não havia mais nenhuma forma de mantê-la.
Deste modo, em 13 de maio de 1888, a princesa Izabel, filha do Imperador D. Pedro II que estava ausente, assinou a Lei
Áurea, na qual foi "declarada extinta desde a data dessa Lei a escravidão no Brasil".

A abolição da escravidão
A abolição da escravidão causou uma verdadeira comoção na população brasileira. Missas e festas foram realizadas
para comemorar o feito que, além de acabar com o escravismo, não ressarciu nenhum proprietário. Estava totalmente
extinta uma instituição que vigorou por mais de trezentos e cinquenta anos.

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A luta por igualdades sociorraciais no Brasil


A abolição da escravidão era apenas uma das etapas na luta por igualdades sociorraciais no Brasil. Conforme visto nas
aulas 6 e 7, junto com a República brasileira nasceu a busca por uma identidade que a diferenciasse do Império
escravista, mas que, ao mesmo tempo, desse conta do debate racialista internacional.

A fim de combater práticas racistas, ou de lutar por melhores condições de vida e de trabalho, entre o final do século
XIX e começo do século XX, trabalhadores e intelectuais negros de diferentes localidades do Brasil começaram a se
organizar para discutir a discriminação sofrida, pensar alternativas para a melhoria da condição de vida dos afro-
brasileiros e proporcionar momentos de lazer que até então eram negados para essa parcela da população.

Associações e Grêmios
Um dos primeiro movimentos foi criar associações e grêmios que permitissem não só o encontro, mas o debate.  Em
São Paulo, que na época já era o principal centro econômico do país, foram fundados o Centro Cultural Henrique Dias, a
Associação Protetora dos Brasileiros Pretos e o Grêmio Dramático Recreativo e Literário “Elite da Liberdade”.
Associações e grêmios semelhantes foram criados nas demais cidades brasileiras. Nessas organizações eram
realizados diversos tipos de atividades como festas, bailes e reuniões ¯ ocasiões em que havia diversão, discussão e
diversas redes de solidariedades e amizade eram estabelecidas.

Imprensa Negra
Todavia, as questões experimentadas pela população negra não ficaram restritas às associações e grêmios. Como os
meios de comunicação da época apenas reproduziam os padrões de beleza europeus e estampavam a população
negra como “criminosas em potencial” ― reforçando, assim, o racismo ―, diversas das organizações negras que
compunham as associações e grêmios se articularam e fundaram jornais voltados para a população negra. Não por
acaso tais jornais ficaram conhecidos como: imprensa negra.

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Esses jornais, em parte influenciados pelos periódicos escritos pelos e para os imigrantes, eram direcionados a uma
elite de homens e mulheres negros e mestiços, que, mesmo pequena, tinha representantes em diferentes localidades
do Brasil. Alguns deles eram jornais muito semelhantes aos produzidos no restante do país e pouco, ou quase nunca,
tocavam na problemática do racismo. Nesses casos, os periódicos traziam ofertas de emprego, anúncios de
concursos de beleza e outras notícias cotidianas.

No entanto, em periódicos como O Clarim d´Alvorada, A Liberdade, a Sentinela, O Alfinete, e O Baluarte, jornalistas e
intelectuais negros não só denunciavam situações de preconceito racial, como também usavam o jornal para ajudar na
educação e aumentar a autovalorização da população negra e mestiça ¯ questões que não tinham espaço nos outros
jornais brasileiros. Alguns periódicos chegaram a abrir espaços para que seus leitores publicassem poemas e contos.
E não foi por acaso que muitos jornais da imprensa negra faziam menção constante aos abolicionistas brasileiros.

Jornal A Voz da Raça


Em geral, havia uma grande preocupação em transmitir mensagens morais que pregavam contra a vadiagem e
enalteciam o trabalho e o trabalhador negro. Produzidos em pequenas gráficas e muitas vezes contando unicamente
com o financiamento de seus editores ou com o dinheiro angariado em rifas, a grande parte desses jornais tinha uma
pequena tiragem e era distribuída gratuitamente ou então vendida a custos baixos nas organizações e agremiações
frequentadas pela população negra. Porém, uma vez mais, a solidariedade entre os membros da comunidade negra se
fez sentir.

Frente Negra Brasileira (FBN)


Em 1931, foi fundada em São Paulo a Frente Negra Brasileira. A FNB, como ficou conhecida, era uma organização que
objetivava integrar a população negra na sociedade, seguindo os padrões vigentes.

Tal organização se empenhou em criar as condições necessárias para que a população negra pudesse ingressar no
competitivo mercado de trabalho. Em pouco tempo, outras filiais dessa organização foram criadas em todo país.

A FNB proporcionou a alfabetização de centenas de negros e criou cursos de costura para que as mulheres negras
pudessem se inserir no mercado de trabalho. Era lá que operários negros se encontravam para debater assuntos
referentes a seu trabalho e à discriminação que sofriam e ainda recebiam assistência médica a preços acessíveis.

A Frente Negra Brasileira teve papel fundamental na ampliação de redes de solidariedades entre negros de todo o
Brasil e no combate contra o racismo, provando a capacidade intelectual da população negra. Todavia, graças a sua
vertente partidária, a FNB, assim como os jornais da imprensa negra, foi fechada a mando de Getúlio Vargas em 1938.

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Teatro Experimental do Negro (TEN)


Porém, o fechamento da FNB e dos jornais da imprensa negra não representou o fim da luta da população negra. Em
1944, Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro. Além de recuperar heranças africanas como o
candomblé, o TEN promoveu congressos e, principalmente, provou que o Brasil tinha talentosos atores, poetas,
bailarinos e músicos negros, incomodando muitas emissoras de televisão e jornais do Brasil.

Jornal Quilombo
Quatro anos depois, Abdias do Nascimento e outros intelectuais negros fundaram um dos jornais mais famosos da
imprensa negra: o Quilombo, publicado entre 1948 e 1950. Diferentemente dos outros periódicos, o Quilombo contava
com a participação de jornalistas negros e brancos, tinha forte diálogo com intelectuais negros do Caribe, África e
Estados Unidos e dava especial atenção à cultura afro-brasileira, sobretudo às manifestações artísticas e culturais
realizadas pelos negros do Brasil.

Por meio da exaltação de importantes personagens negras da história brasileira, o Quilombo permitiu que muitos
negros, especialmente aqueles que estavam na classe média, criassem uma identidade negra que tivesse um respaldo
histórico. Muitos dos intelectuais que fizeram parte do corpo editorial do jornal Quilombo tinham grande diálogo com
os movimentos internacionais que combatiam o racismo, inclusive com o Pan-africanismo, e com importantes
lideranças negras dos Estados Unidos envolvidas na luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses.

Panteras Negras
Além de exaltar a cultura negra, esses movimentos passaram a fazer reivindicações constantes contra o racismo e a
favor da igualdade de oportunidade entre negros e brancos. Na década de 1980, foi fundando o Movimento Negro
Unificado que, com outras organizações parecidas, inclusive movimentos e ONGs que trabalham com a dupla
discriminação sofrida pelas mulheres negras, tem lutado para que negros e mestiços tenham a mesma oportunidade
que o restante da população brasileira.

As denúncias e o combate desses movimentos fizeram com que intelectuais negros e brancos tivessem que revisitar a
história brasileira para acabar com a ideia de que o Brasil era um país sem racismo. As provas da discriminação racial
no Brasil serviram de base para a exigência de melhorias urgentes na vida dessa parcela da população e na adequação
do racismo como crime inafiançável. Mesmo assim, essa luta ainda está longe de terminar.

Outra importante ação desses movimentos foi recuperar importantes figuras negras da história do Brasil, como Zumbi
dos Palmares que, atualmente, é considerado um dos heróis brasileiros.

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Vamos testar seus conhecimentos até


aqui...

Atividades
1) Sobre a luta dos afrodescendentes no Brasil república é incorreto afirmar que:

a) Surgiu na década de 1980, com a formação do Movimento Negro Unificado.


b) Foi possível ver seu gérmen ainda no período escravista, com a atuação dos abolicionistas.

c) A Frente Negra e o Teatro Experimental do Negro foram importantes ferramentas.

d) A Imprensa Negra teve papel fundamental nas primeiras décadas do século XX.
e) Teve inúmeras adversidades ao longo do século XX, inclusive advindas das autoridades governamentais do país.

Justificativa

2) Com relação à estrutura administrativa da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), tem-se que o departamento ao qual
compete coordenar o desenvolvimento de ações, objetivando a regularização e o registro das áreas indígenas, os
procedimentos de levantamento, indenização e entrosamento das áreas indígenas, emitir certidões e estabelecer
sistemas de controle do Patrimônio Territorial Indígena, denomina-se:

a) De Patrimônio Indígena e Meio Ambiente


b) De Desenvolvimento Comunitário

c) Fundiário

d) De Demarcação

e) De Identificação e Delimitação

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Justificativa

3) Para os efeitos da Lei, índio ou silvícola é:

a) Todo indivíduo de origem brasileira que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da sociedade nacional.

b) Todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo
étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional.
c) Todo indivíduo de origem e ascendência sul-americana que se identifica como pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da sociedade nacional.
d) Todo indivíduo de origem e ascendência colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico
cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional.

e) Todo indivíduo de origem e ascendência estrangeira que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico
cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional.

Justificativa

Glossário

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18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

HISTÓRIA DOS POVOS


INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES

Aula 10 - Somos Racistas?


INTRODUÇÃO

Nessa aula pretende-se compreender a importância da Constituição brasileira de 1988 para o reconhecimento de
direitos há muito pleiteados pelo Movimento Negro e por representações indígenas. Objetiva-se também perceber que
o fato do repúdio ao racismo estar no contexto da Constituição acima citada possibilitou a elaboração e a

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18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

implementação de inúmeras políticas públicas garantidoras de seu cumprimento, sobretudo o sistema de cotas nas
universidades brasileiras.

OBJETIVOS

Compreender a importância da Constituição brasileira de 1988 para o reconhecimento de direitos há muito pleiteados
pelo Movimento Negro e por representações indígenas;

Analisar o fato do repúdio ao racismo estar no texto da Constituição brasileira de 1988 e ter possibilitado a elaboração
e a implementação de inúmeras políticas públicas garantidoras de seu cumprimento, sobretudo o Sistema de Cotas
nas Universidades brasileiras.

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Introdução

Em 2007, o relator especial sobre execuções extrajudiciais,


sumárias e arbitrárias observou que o homicídio era a
principal causa de mortes entre pessoas com idade entre
15 e 44 anos, com 45 mil a 50 mil homicídios cometidos
todo ano”, diz documento. “As vítimas são, em sua maioria,
jovens do sexo masculino, negros e pobres.”
"O relatório com observações de 22 ONGs alerta para altos
índices de discriminação racial e sexual e enfatiza o
problema da violência. Também chama a atenção para a
distância entre a legislação e sua prática. A Anistia
Internacional afirma que, com a Constituição de 1988, o
Brasil adotou 'as leis mais progressistas para a proteção
dos direitos humanos da América Latina'. `No entanto,
persiste um enorme fosso entre o espírito dessas leis e sua
implementação', diz a organização."

Fonte: Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2008.

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A reportagem acima apresenta um fato conhecido por boa parte dos brasileiros: a persistência do racismo em
diferentes esferas no Brasil. Em tese, tais práticas deveriam ter sido extintas ou, no mínimo, severamente controladas e
punidas pelas autoridades estatais que, desde 1988, tem como ferramenta a Constituição brasileira. Porém, o racismo
no Brasil é repleto de sutilezas que muitas vezes impedem que a lei seja cumprida.

Em 2009, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo concluiu que o Brasil não é um país racista, mas um
lugar onde existe racismo. Dentre as pessoas entrevistadas, 97% afirmaram não ter nenhum tipo de preconceito racial,
mas 98% afirmou conhecer alguém que pratica ou já praticou discriminação racial. Tal constatação é uma contradição,
que acaba se tonando a base das relações raciais no Brasil.

Nessa aula será abordada


parte da luta contra o
racismo no país, bem como
as ações estatais que tentam
alcançar esse objetivo.
Entendendo um pouco da influência do
Samba...

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18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

O samba
Os tempos idos
Nunca esquecidos
Trazem saudades ao recordar
É com tristeza que eu relembro
Coisas remotas que não vêm mais
Uma escola na Praça Onze
Testemunha ocular
E junto dela balança
Onde os malandros iam sambar
Depois, aos poucos, o nosso samba
Sem sentirmos se aprimorou
Pelos salões da sociedade
Sem cerimônia ele entrou
Já não pertence mãos à Praça

Tempos Idos - Cartola


Já não é mais o samba de terreiro
Vitorioso ele partiu para o estrangeiro
E muito bem representado
Por inspiração de geniais artistas
O nosso samba de, humilde samba

Foi de conquistas em conquistas


Conseguiu penetrar o Municipal
Depois de atravessar todo o universo
Com a mesma roupagem que saiu daqui
Exibiu-se para a duquesa de Kent no Itamaraty

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Ao retratar a trajetória do samba no Brasil, o cantor e compositor Cartola mostrou que o ritmo musical que nasceu com
as quitandeiras baianas na Praça Onze conseguiu vencer os preconceitos e ganhar o estrangeiro. Hoje, o samba é uma
das marcas do Brasil.

Quando se fala em uma


comida tipicamente
brasileira, qual a primeira
palavra que vem à cabeça? E
um ritmo musical? E o
esporte?
A feijoada e o samba, que se tornaram símbolos do Brasil, são heranças diretas dos africanos que para cá foram
trazidos. A capoeira, que no passado foi responsável pela prisão de muitos escravos e libertos, hoje se transformou em
sinônimo de esporte brasileiro.

Os africanos também trouxeram diferentes tipos de tambores e outros tantos instrumentos musicais que permitiram
que a música brasileira se tornasse tão diversificada. Tambores, atabaques, agogôs, cuícas, berimbaus, zabumbas são
alguns dos instrumentos presentes em diferentes ritmos musicais brasileiros. Tão diversificado quanto os
instrumentos são os tipos de músicas brasileiras que herdaram a harmonia, o ritmo ou a cadência de diferentes
regiões da África.

O samba (palavra que também tem origem africana e significa divertir-se) talvez seja o maior exemplo disso. Ele foi
criado na segunda metade do século XIX, na Pedra do Sal, que ficava no Morro da Conceição, situado na região central
do Rio de Janeiro. Nesse local, escravos e libertos, africanos e crioulos se encontravam no final do dia para fazer
música e conversar.

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Já no século XX, o samba sofreu influências de outros ritmos musicais, como o maxixe, e introduziu outros
instrumentos, transformando-se no que se conhece hoje.

O samba proporcionou a criação de uma ampla rede de amizade e solidariedade entre pessoas negras, principalmente
nos morros cariocas. Porém, o ritmo do samba foi tão contagiante que costuma se dizer que ele “desceu o morro” e
revelou grandes músicos brasileiros como Cartola, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila e Paulinho da Viola; tornando-se,
assim, uma música tipicamente brasileira.

Atualmente existem diferentes tipos de samba, como o samba-enredo, tocado pelas escolas de samba, e o samba de
roda, mais encontrado em regiões rurais do Brasil, onde as pessoas tocam e dançam em forma de roda.

Arte e Cultura
Maxixe, forró, maculelê, baião, frevo, pagode e o afoxé são outros ritmos musicais criados a partir de instrumentos e
ritmos vindos da África e recriados no Brasil. Essas músicas criadas com as heranças africanas eram acompanhadas
por tipos diferentes de danças e festividades.

O Carnaval
O Carnaval é uma das festividades mais importantes do Brasil. Desde o período colonial, o Carnaval também era
brincado por, escravos e libertos, que viam nesse festejo uma das poucas oportunidades de diversão concedidas por
seus senhores.

Com o passar dos anos, o Carnaval foi influenciado por cada região brasileira. As escolas de samba tornaram-se a
marca registrada do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na Bahia, os blocos de carnaval e os trios elétricos
levam multidões ao som de afoxés e da axé music. Já Recife é embalado pelo som do frevo. Os bailes e os blocos são
encontrados em todo o Brasil.

Artes plásticas
A música e as festas populares brasileiras não são as únicas manifestações culturais que apontam o legado africano
no Brasil. No campo das artes plásticas também é possível observar forte presença da população negra, seja ela
objeto ou sujeito das obras.

Resultado das heranças


Observa-se, então, que aquilo que hoje é chamado e mundialmente conhecido como cultura brasileira é em grande
parte fruto de heranças africanas e de reinvenções feitas pela população negra no Brasil. Não existiria Brasil sem as
Áfricas que dele fazem parte.

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As populações indígenas também deixaram importantes legados na formação do Brasil República, embora tal herança
seja menos visível, ou seja, mais regionalizada, melhor dizendo.

Boa parte das festas populares descritas nesta aula é, na verdade, fruto da mistura de práticas africanas com
costumes indígenas. Isso fica mais evidente quando se tomam as regiões norte e centro-oeste do país, locais em que a
presença indígena está claramente estampada nos rostos brasileiros.
, O maracatu é um exemplo de dança que tem muita herança indígena. Na região amazônica, festas como Parintins vêm se
tornando cada vez mais conhecidas em todo o país. Do ponto de vista cultural, é possível afirmar que há um reconhecimento
significativo da pluralidade brasileira e que tal pluralidade é organizada a partir das heranças deixadas pelos “três povos” que
fundaram o Brasil: o indígena, o português e o africano. Contudo, essa pretensa harmonia cultural não se estende aos campos
socioeconômicos e políticos do país.

A desigualdade
Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (como o IBGE e o IPEA) indicam que a população brasileira está
cindida por uma significativa desigualdade que se expressa por meio da cor. Os índices mostram que a diferença
salarial, a população carcereira, a entrada nas Universidades públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo
racial.

Nas aulas anteriores foi visto como afrodescendentes e grupos indígenas vêm lutando para mudar esse quadro. Nos
últimos 40 anos essa população começou a contar com a ajuda de muitos intelectuais e até mesmo com o apoio do
Estado nacional.

Lei CAÓ
Em 1985, foi aprovada a Lei nº 7.437, também conhecida como Lei CAÓ, em homenagem ao seu formulador.

Esta lei:
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado
civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 ― Lei Afonso Arinos.

Art. 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de
cor, de sexo ou de estado civil.

Art. 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na
prática referida no art. 1º desta Lei.

Das Contravenções
Art. 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito
de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de referência
(MVR).

https://estudante.wyden.com.br/disciplinas/unifavip_7505328/temas/10/conteudos/1 8/11
18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

Art. 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer gênero ou o atendimento de clientes em restaurantes,
bares, confeitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado
civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de
referência (MVR).

Art. 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento público, de diversões ou de esporte, por preconceito de raça,
de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de
referência (MVR).

Art. 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de
referência (MVR).

Art. 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de
raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1(uma) a três) vezes o maior valor de referência
(MVR).

Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde
que apurada em inquérito regular.

Art. 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou
de estado civil.

Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente da
repartição de que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.

Art. 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista, empresa concessionária de
serviço público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade
de economia mista e empresa concessionária de serviço público.

Art. 10º - Nos casos de reincidência havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena
adicional de suspensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três) meses.

Art. 11º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 12º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 20 de dezembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY 
Fernando Lyra
A necessidade de formular e aprovar essa lei aponta que as práticas racistas ainda vigoravam no país. Mas tal
necessidade não parava por aí. Quando a liberdade política foi reinstaurada e um novo acordo social foi firmado, a luta
contra o racismo foi apontada em diferentes momentos da Constituição brasileira de 1988.

Como visto na reportagem que abre essa aula, a Constituição brasileira está longe de garantir a extinção do racismo,
mas serve como um importante instrumento de luta.

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18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

Sistemas de cotas em universidades


públicas

Além disso, tal garantia legal serviu de suporte para uma série de ações afirmativas no Brasil, sendo a instauração do
sistema de cotas nas universidades públicas a mais conhecida.

Tal sistema reservaria uma parcela das vagas oferecidas pelas universidades para pessoas que se auto classificassem
como negras, pardas ou indígenas.

De toda forma, a tentativa e a instauração do sistema de cotas revigorou o debate sobre o racismo no país e serviu
como holofote para outras questões importantes, como a demarcação das terras indígenas e quilombolas.

Porém, essa é uma questão que ainda está longe de ser encerrada e, cujo debate, é fundamental para a criação de um
Brasil que não faça distinções de seus habitantes.

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18/03/23, 18:27 Disciplina Portal

Glossário

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