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O POVO GUARANI: RESSIGNIFICAÇÕES LITERÁRIAS EM SEPÉ TIARAJU: ROMANCE

DOS SETE POVOS DAS MISSÕES

Toni Juliano Bandeira1

RESUMO
Este artigo tem como objeto de análise o romance histórico Sepé Tiaraju: romance histórico dos sete povos
das missões, de Alcy Cheuiche (1984). Nossa reflexão, a partir do romance, procura problematizar como
se deu a convivência da cultura Guarani juntamente ao modelo proposto pelos jesuítas. Assim, serão
levantados, também, alguns aspectos históricos das missões jesuíticas, buscando entendê-las no contexto
de colonização do continente americano, um processo que causou o genocídio e o etnocídio de centenas de
povos indígenas. Neste sentido, analisaremos como se deu a imposição dos valores europeus em
detrimento de crenças e costumes nativos que, transmitidos pela oralidade, norteavam o universo dos
Guarani, focalizando a importância da valorização dos costumes deste povo.

Palavras-chave: Romance Histórico. Povo Guarani. Sepé Tiaraju: romance dos sete povos
das missões.

ABSTRACT
The analysis' subject of this article is the historical novel Sepé Tiaraju: romance histórico dos sete povos
das missões, by Alcy Cheuiche (1984). Our reflection from the novel problematizes how was the
coexistence of Guarani culture along the model proposed by the Jesuits. So, are also collected some
historical aspects of the Jesuit missions, seeking to understand them in the context of American
continent’s colonization, a process that caused the genocide and ethnocide of hundreds of indigenous
peoples. In this sense, we analyze how was the imposition of European values to the detriment of native
beliefs and customs, which, orally transmitted, guided the universe of Guarani, focusing on the importance
of valuing the customs of this people.

Keywords: Historical Novel. Guarani People. Sepé Tiaraju: romance dos sete povos das
missões.

AS MISSÕES JESUÍTICAS E OS GUARANI: BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS

No período em que as missões jesuíticas estavam por ser implantadas no


território Guarani, é importante observar como se dava a relação entre os colonizadores
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espanhóis, os portugueses, os jesuítas e os Guarani. Os espanhóis se aproveitavam da


Página

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras – Área de Concentração Linguagem e


sociedade, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Bolsista Capes. E-mail:
tonibandiera@hotmail.com.

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força do índio da forma que podiam, com grande ênfase para as encomiendas, enquanto
que os portugueses lhes atacavam cruelmente para escravizá-los. Por outro lado, os
jesuítas tomaram partido em defesa dos indígenas, ainda que movidos por interesse
muito distinto: a evangelização. Assim, na realidade em que estavam inseridos, poderia
se imaginar que dificilmente os Guarani sobreviveriam, ou que, se sobrevivessem, sua
organização social seria bastante transformada.
No início do século XVII, período em que se estabeleceram as primeiras reduções
no Guairá, os jesuítas passam a ser um problema para os encomendeiros e bandeirantes.
Segundo Schallenberguer:

Os conflitos entre missionários e encomendeiros fizeram com que os jesuítas


afirmassem, cada vez mais, opção preferencial pelos índios. Esses conflitos
denotam uma ruptura ao nível de superestrutura do sistema colonial,
ameaçando, inclusive, o controle hegemônico do estado sobre o processo de
colonização. As missões tiveram sua função determinada no sentido de
solucionar os conflitos originados da relação encomendeiro/índios. Mas o
trabalho dos missionários havia encontrado limites quase intransponíveis. O
relativo êxito inicial das reduções de Loreto e Santo Inácio defrontou-se com os
problemas ocasionados pela profunda reorganização espacial e social que o
agrupamento da população em grandes povoados ocasionava. Por outro lado, a
agressão externa dos encomendeiros e dos mamelucos pôs-se como obstáculo
ao natural desenvolvimento das reduções (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 73).

Com os ataques dos bandeirantes à Cidade Real do Guairá, em 1612, as relações


entre jesuítas e colonos tornaram-se ainda mais complicadas, tanto que o problema
mereceu intervenção de Roma. O padre Geral da Companhia de Jesus orientou os
jesuítas da então Província do Paraguai a procurar manter boas relações com os
governadores, para poderem, assim, seguir suas obras. Nos dez anos seguintes, os
jesuítas mantiveram no Guairá as missões de Loreto e Santo Inácio, e no ano de 1622
iniciou-se uma grande expansão do espaço missioneiro, expansão na qual teve destaque
o trabalho de evangelização do padre Antônio Ruiz de Montoya, o qual dedicou-se,
também, e com bastante profundidade, ao estudo da língua guarani
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(SCHALLENBERGUER, 2006). Assim, “diante da promíscua relação dos encomendeiros e


bandeirantes com os índios, tanto na subtração de sua força de trabalho quanto no seu
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apresamento para o comércio humano, o território guarani do Guairá passou a ser cada
vez mais premido pelo colonialismo interno” (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 75).

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Os jesuítas pensavam criar um espaço de liberdade para os Guarani em meio à
colonização iberoamericana. Schallenbeguer afirma que “as reduções jesuítico-guaranis
resultaram, pois, da conjugação dos interesses missionários de defesa do índio e das
autoridades coloniais da sua preservação enquanto potencial humano do futuro
colonial”. (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 76). No entanto, a ambição portuguesa não
compartia interesses com os ideais utópicos dos jesuítas, não tardando estes a
perceberem a inviabilidade da manutenção das reduções no Guairá, isso devido às
investidas que os bandeirantes efetivaram na região. Ainda conforme Schallenbeguer
(2006), entre 1615 e 1619 duas expedições portuguesas percorreram a área à procura
de índios, expedições estas que passaram a ser mais frequentes a partir do ano de 1623.
Desta forma, o território que os jesuítas pretendiam transformar em espaço de liberdade
para os índios vinha se tornando inviável, com uma progressiva destruição.
Em muitos relatos, durante a conquista da América, os índios são tratados como
se não soubessem ou não gostassem de trabalhar. Destas considerações, Bertoni cita
indiretamente o padre Pedro Lozano, escrevendo que, segundo este, “los españoles
siempre vivieron en América como verdaderos parásitos, y allí donde los indios no les
mantenían, se morían de hambre […] De modo que, en la opinión del historiador, los
españoles eran los que no querían ni sabían trabajar; no los indios”2 (BERTONI, 1954, p.
21, grifos do autor).
O canto e a dança dos Guarani, na época da chegada dos jesuítas, ocupavam na
esfera social um papel relevante. Várias cerimônias e rituais envolviam esses dois
elementos culturais e eram movidos por esses costumes, sendo, assim, parte de uma
organização na qual elas eram hábitos fundamentais. Os jesuítas, percebendo que na
vida Guarani essas manifestações eram de cunho sagrado, logo as adequaram às suas
necessidades, como elemento que poderia contribuir de maneira propícia na difusão dos
“bons costumes” e das “verdadeiras” ações que deveriam ser praticadas. Para tanto, os
padres coletaram cantos do espaço místico Guarani e utilizaram sua melodia como base
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para uma nova letra que, desta forma, fixava-se na mente do povo. Outras vezes ficaram
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no entrave entre substituir não somente a letra, mas também a composição da melodia,

2Nossa tradução: Os espanhóis sempre viveram na América como verdadeiros parasitas, e ali onde os
índios não os mantinham, morriam de fome [...] De modo que, na opinião do historiador, os espanhóis
eram os que não queriam nem sabiam trabalhar; não os índios.

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porém essa tentativa enfrentava dificuldades em obter um bom resultado, posto que as
novas composições eram desconhecidas e como a tradição musical que os Guarani
tinham era insubstituível, os índios não conseguiam entender o motivo pelo qual teriam
que incorporar essas novidades em sua cultura.
Assim, vê-se que os próprios hábitos sociais e culturais dos Guarani
possibilitaram a atuação missioneira. Dentro da nova concepção que se impunha, os
pajés – antes vistos como guias espirituais da tribo – foram ditados como bruxos pelos
jesuítas, sendo que suas práticas foram consideradas diabólicas. Pode-se entender, pois,
que a permanência destes no seio da cultura nativa atrapalharia o modelo jesuíta, posto
que, sendo eles os líderes espirituais dos grupos, era evidente que tinham uma grande
influência nas concepções religiosas de seus integrantes e assim poderiam atuar de
forma eficaz na manutenção de uma contrariedade aos preceitos pregados pelos clérigos
do Velho Continente. Desta forma, trabalhou-se para que essa figura mítica do universo
nativo deixasse de integrar a vida comunitária.
Outros vários costumes dos Guarani foram considerados como pecaminosos
durante o período em que as reduções jesuíticas conseguiram manter-se no território de
tais nativos. Destarte, entende-se o motivo pelo qual cada missão estava provida de um
“Livro de Ordens”, já que seria natural que o Guarani, após haver se inserido na redução,
comportar-se-ia em consonância com os seus próprios costumes, estes, evidentemente
inaceitáveis pelos sacerdotes da Companhia de Jesus. Assim, quando algum nativo
desrespeitava alguma regra, era punido, o que geralmente acontecia publicamente, para
que servisse de exemplo aos outros indivíduos do grupo. A mais comum das punições
era o castigo corporal, por meio de açoites. Também foram construídas prisões para
manter a disciplina local, neste caso, o preso era levado amarrado nas celebrações da
missa, que aconteciam todos os dias.
Característica que também merece atenção está relacionada à importância que os
jesuítas atribuíram à educação das crianças. Acreditavam que os adultos já tinham
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arraigadas as práticas “incorretas”, o que fazia com que estes tivessem maiores
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dificuldades na incorporação das “boas” ações. Por isso, implantou-se um rígido sistema
em relação aos ensinamentos catequéticos para as crianças, pensando-se que estas
aceitariam sem muitas contraposições as normas da nova vida.

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Uma técnica que foi utilizada pelos bandeirantes para capturar os indígenas
Guarani consistia em disfarçarem-se de padres, como os jesuítas, adentrando nos
povoados com cruzes e pregando a religião católica. Como essa ação era muito
semelhante ao modo como agiam os jesuítas, sendo que também levavam para os
nativos remédios e objetos de ferro, muitos dos Guarani se convenceram de que os
bandeirantes eram realmente sacerdotes e, desta forma, seguiam-lhes. No entanto, esse
método não deu conta das necessidades dos portugueses, fazendo com que os ataques às
reduções começassem a ser levados de forma mais violenta, fato que causou o
desaparecimento de milhares de indivíduos (OLIVEIRA, 2004, p. 63).
Como os jesuítas do Guairá, por volta do ano de 1631, não conseguiam conter as
invasões dos bandeirantes, decidiram transferir as duas missões que ainda restavam –
Loreto e San Ignacio Mini – para a região que naquela época era denominada Paraná,
mais ao sul, sendo que as outras onze reduções daquela região foram destruídas pelos
portugueses. Após esse fato, os jesuítas decidiram deslocar-se para oeste, no Itatin, onde
conseguiram formar várias outras reduções. No entanto, estas seriam também, já no ano
de 1632, atacadas pelos bandeirantes, e pouco delas restaria. Percebendo que nestas
duas regiões a construção de novos povoados estaria vulnerável às ações das bandeiras,
os jesuítas partiram na direção sul, onde seus projetos teriam os maiores resultados.
Analisando-se a situação das primeiras missões frente aos ataques portugueses,
nota-se que, já no início, o projeto jesuítico trouxe graves problemas para os Guarani,
posto que nos ataques que os povoados sofriam muitos dos nativos eram mortos e
outros capturados. Desta forma, a sociedade idealizada dos inacianos, na qual reinaria
paz e felicidade, já começa derramando o sangue dos índios, configurando-se, assim, o
quanto os propósitos dos religiosos europeus seriam prejudiciais ao povo Guarani.
Contudo, mesmo integrando, ao menos fisicamente, o projeto da Companhia de
Jesus, percebe-se que o modo de ser do povo Guarani manteve, dentro deste, as
características peculiares da nação. Eles demonstraram ser grandes guerreiros, como
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notou-se ao ver a resistência que ofereceram às forças luso-espanholas no conflito que


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ficou denominado como Guerra Guaranítica. Apesar da derrota evidente, posto que os
recursos bélicos europeus eram superiores em quantidade e qualidade, os Guarani

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atuaram de forma heróica até o último momento para defenderem seus povoados, não
aceitando deixarem suas moradias pacificamente.
Pensando-se nesse choque que sofreu a civilização Guarani, pode-se refletir a
situação de várias outras sociedades que se veem, a partir da chegada de Colombo às
terras americanas, ante o projeto dos conquistadores, projeto esse que não permitiu que
se estabelecessem relações harmônicas entre as culturas que se encontravam, pois
estava fixado em uma base essencialmente colonialista e que não trazia novas
concepções para serem conhecidas, mas sim para serem implantadas.

SEPÉ TIARAJU: ROMANCE HISTÓRICO DOS SETE POVOS DAS MISSÕES – UMA VISÃO
FICCIONAL DA CATEQUIZAÇÃO GUARANI

A literatura e a história têm buscado registrar, de diferentes maneiras e ângulos,


pelo uso da linguagem (que é carregada de significados), os avanços humanos ao longo
dos séculos. Assim, ambas têm compartilhado procedimentos estruturais e discursivos
que nos possibilitam o acesso à compreensão dos fatos passados. Segundo Prieto (apud
FLECK, 2008), o fato de que a história se configure em estruturas narrativas implica que
os eventos que realmente ocorreram no passado foram selecionados pelo historiador e
inscritos numa trama que os ordena, hierarquiza e lhes confere um sentido (ideológico,
político, moral). Desta maneira, a construção do discurso histórico e do discurso
ficcional segue os mesmos mecanismos estruturais, diferenciando-se apenas
pragmaticamente.
Deste modo, tanto a leitura histórica como a leitura ficcional são meios para uma
tomada de consciência por parte do sujeito no sentido de empreender novas visões a
respeito de um determinado fato. Na busca de uma consciência histórica crítica, destaca-
se a leitura do romance histórico, em particular do romance histórico contemporâneo
em suas diferentes modalidades, que vão desde a continuação do modelo clássico – com
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poucas alterações –, às manifestações do que Aínsa (1988) e Menton (1993) classificam


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de “novo romance histórico latino-americano”, às mais recentes obras de “metaficção


historiográfica”, segundo a nomenclatura proposta por Linda Hutcheon (1991) e ao que,
atualmente, denomina-se “romance histórico de mediação” (FLECK, 2008).

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Considerando as múltiplas formas de ocorrências do romance histórico, percebe-
se o quanto este viés literário pode contribuir para um olhar desmistificador em relação
ao discurso histórico oficial. Este tem sua manutenção devido ao fato de que em todo
sistema social as classes dominantes criam metodologias eficazes para a pregação de um
discurso que, obviamente, venha em favor de seus ideais. O que não é de estranhar,
então, é que as etnias minoritárias tenham seus aspectos culturais relegados ao
esquecimento e que, por consequência, sejam oprimidas pelo discurso oficial.
Na América Latina, em especial, o romance histórico destaca-se como meio para
uma reflexão mais crítica a respeito da conquista da América, de como ocorreu o projeto
europeu de imposição cultural frente aos povos nativos americanos, propondo novas
análises desse embate histórico. A história do descobrimento do Novo Mundo é um fato
histórico registrado apenas sob a visão dos europeus. Estes – desde Colombo aos demais
conquistadores –, ao relatar suas façanhas, escreviam aquilo que lhes convinha perante
os monarcas a quem serviam.
Diante de estudos recentes sobre o discurso histórico que relata a descoberta,
conquista e colonização da América, o assunto tem sido alvo de constantes reescritas da
ficção. Essa temática tem alimentado um número extraordinário de romancistas. Estes,
baseando-se nos registros feitos pelos envolvidos no fato, revelam, pela arte literária e a
liberdade que esta lhes proporciona, novas perspectivas aos relatos considerados
oficiais, inovando, inclusive, as concepções do próprio romance histórico.
Analisar esta fase importante na história da humanidade pelo viés da ficção é
uma tentativa singular, capaz de agregar às visões já existentes, tanto em um como em
outro campo de saber, novas contribuições. Isso, seguramente, pode ocorrer também ao
se pensar nas representações da Nação Guarani, a partir do discurso histórico que
mostra essa nação como uma das que foi mais eficazmente cristianizada pelos Jesuítas
no sul da América, confrontando tais visões com as imagens ficcionais decorrentes da
análise da obra Sepé Tiaraju: romance histórico dos sete povos das missões, de Alcy
178

Cheuiche (1984).
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Ao refletir-se sobre o discurso ficcional dos anos oitenta, percebe-se o interesse


pelo romance histórico. Os escritores latino-americanos, depois das obras complexas e
experimentais que caracterizaram as produções romanescas dos últimos decênios,

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necessitaram aprofundar-se na própria história, incorporando o imaginário coletivo e
individual do passado à ficção (AINSA, 1991, p. 82).
Dentre as produções literárias que se inserem no gênero híbrido romance
histórico, foi caracterizada por Fleck (2007) uma nova modalidade expressiva do
mesmo: o “romance histórico contemporâneo de mediação”, exatamente porque
apresenta, em um só texto literário, características mais tradicionais mescladas com um
experimentalismo presente nos novos romances históricos latino-americanos e nas
metaficções historiográficas (FLECK, 2011). Essa categoria de romance histórico é
trabalhada por Fleck (2011), que aponta que na mesma é possível notar a manifestação
de tentativas de conciliação entre as modalidades antecedentes. Neste tipo de romance:

Não se abandonam os processos que constituem as características essenciais do


novo romance histórico hispano-americano [...] Além disso, há a incorporação
de algumas questões fundamentais da metaficção historiográfica, ou seja, a
problematização do conhecimento do passado, bem como os comentários sobre
o processo de produção do discurso. No entanto, o texto volta a ser mais linear,
já que o emprego das estratégias que constituem as produções
experimentalistas, como as anacronias exageradas, os tempos sobrepostos, as
hiperestruturas pluriperspectivistas, a carnavalização e tantas outras, passa a
ser mais moderada. Isso torna seu processo de leitura mais acessível (FLECK,
2011, p. 82).

A problematização do passado, destacada por Fleck (2011), é uma das


características mais importantes da obra que, a seguir, será analisada, o romance
histórico Sepé Tiaraju: romance dos Sete Povos das Missões (CHEUICHE, 1984). Esta
obra apresenta uma temporalidade linear e não é elaborada por meio de anacronias
exageradas, tempos sobrepostos ou emprego da carnavalização, paródia e ironia,
embora proceda à leitura crítica do passado, valendo-se de outras estratégias narrativas
menos desconstrucionistas. Tais características a colocam, pois, na nova modalidade do
romance histórico contemporâneo, o de mediação.
O romance de Cheuiche (1984) se constitui no relato de um padre, já velho, em
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seu aposento, que traz da memória sua experiência de vida, desde seu nascimento, em
Amsterdam, passando por toda uma reflexão até sua chegada na América e seu trabalho
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nas missões jesuíticas. Tem-se como enfoque principal o índio Guarani Sepé Tiaraju que,
na realidade, é considerado como um herói devido a sua liderança na luta contra os

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portugueses e os espanhóis no século XVIII, em um conflito que ficou denominado no
Brasil como Guerra Guaranítica.
No romance, pela visão do Jesuíta que rememora sua experiência, a visão sobre o
indígena está conduzida por uma ideologia substancialmente preconceituosa. Este olhar
que tem predominado até os nossos dias está bem perceptível em vários momentos da
narrativa. Servem, como exemplo dessa perspectiva, as palavras do padre Miguel,
quando este conta a seu filho histórias de seu passado, de sua trajetória como
marinheiro, momento em que chegou a conhecer as terras brasileiras na época em que
os holandeses exploravam, com algum êxito, a costa que, teoricamente, era território
português. Veja-se o olhar característico do período em relação ao indígena no
fragmento selecionado a seguir:

Quando o Príncipe de Nassau conquistou o Brasil, meu avô estava lá. Ele lutou
em Guararapes e espetou na sua espada muitos índios e portugueses antes de
morrer. Estupidez maior da ignorância não houve e nem haverá. O príncipe foi
como um pai para aqueles filhos da puta de nativos. Meu avô, muitas vezes, lhe
disse a verdade, mas ele não quis escutar. Não adianta levar a cultura da
Holanda para estas feras! O melhor é riscar-lhes o lombo a chicote para que
conheçam e respeitem a nossa força (CHEUICHE, 1984, p. 16-17).

Esta representação propõe a necessidade em repensar-se a concepção histórica


sobre os primeiros habitantes das terras americanas. Hoje, depois de muito haver-se
estudado sobre os aspectos culturais de distintas etnias da América, os estudiosos
compartilham a ideia de que o modo de vida desses povos está estruturado de maneira
peculiar em cada um deles, assim, a concepção de um único “índio” é, quando pouco,
equivocada.
Neste sentido, entenda-se que todas as culturas sofrem processos
transformacionais que lhes permitem renovar-se dentro de suas concepções. O povo
Guarani, ao aceitar a vida nas missões jesuíticas, passa a criar contínuas táticas de
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resistência cultural. É provável que a maior experiência dos jesuítas na América foi junto
aos Guarani. Os escritos sobre esse povo são em número bastante grande, os quais se
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tratam de simples descrições de viajantes e cronistas a estudos mais elaborados,


dicionários e gramáticas sobre a língua. Estes estudos são, hoje, fonte de conhecimento
histórico sobre a etnia Guarani, permitem estabelecer relações entre sua história nas

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missões e a vida deles na atualidade. Na realidade, a própria religiosidade dos Guarani é
que permitiu, em parte, a possibilidade dos inacianos trabalharem com eles. Isso é
exposto, por exemplo, por Schallenberguer (2006):

O cristianismo encontrou na mística da religião guarani espaço propicio para a


sua difusão. [...] A religião guarani, de essência impessoal, mas
sacramentalizada no canto e na dança sob a inspiração dos feiticeiros era
fundamentalmente ritual. E não foi na permuta das práticas rituais que a
religião cristã sofreu maior resistência, mas na substituição dos líderes
religiosos tradicionais pelos padres. Tanto os movimentos messiânicos,
liderados pelos pajés, quanto o cristianismo missionário propunham frear a
desorganização dos Guarani, com a diferença de que aqueles buscavam
preservar o antigo e milenar modo-de-ser, enquanto os padres buscavam uma
transformação cultural no sentido da libertação do índio da sua escravidão dos
colonos e do estado natural em que vivia (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 72).

Na obra Sepé Tiaraju: romance dos sete povos das missões, texto, a ficção está
atrelada à historia. O padre Miguel passa a interar-se acerca da estrutura das missões
jesuíticas, para isso tem a ajuda de um sacerdote de nome Catanneo, quem lhe dá uma
ideia de como deve ser a vida de um jesuíta:

Nenhum jesuíta tem o direito de demorar-se num lugar, enquanto existam


índios pelas matas entregues à ignorância da Mensagem de Cristo e à rapina
dos escravagistas mamelucos. Tão logo me seja permitido, quero penetrar mais
adentro da margem oriental do Uruguay. Lá já temos sete reduções donde a
mais afastada é São Miguel Arcanjo, onde irás viver. Para adiante é terra de
ninguém, ou melhor, é terra dos índios que a receberam de Deus (CHEUICHE,
1984, p. 58).

Neste fragmento destaca-se, já, a problemática da religião. Como já se afirmou, o


povo Guarani é uma das nações que mais tem suas práticas cotidianas direcionadas para
a religiosidade, de maneira que haveria de existir um conflito entre seus costumes e os
ideais dos missioneiros. Nesta passagem acima destacada, percebe-se a ideia de que os
nativos não possuem nenhuma forma de religiosidade, o que não poderia ser distinto,
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devido ao fato de que os jesuítas precisavam impor um outro modo de vida aos índios. O
que se pensava dos povos indígenas na época da conquista é bem demonstrado numa
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afirmação de Pero de Magalhães Gândavo: “A língua de que usam toda pela costa é uma
[...] Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela f, nem l, nem R, cousa digna

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de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei: e desta maneira vivem
desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso, nem medido”.3
Isto também nota-se, no discurso ficcional de Sepé Tiaraju: Romace dos sete povos
das missões (1984), quando o padre Catanneo fala a Miguel a respeito da missão de Santa
Maria:

Santa Maria já está na casa dos 7 mil habitantes. Um pouco mais e passaremos
de São Nicolau. Temos cerca de mil rapazes e mil raparigas com menos de
quinze anos seguindo as aulas de catecismo. Como é de hábito fazê-los casar
bem cedo, logo, logo teremos muitas crianças para batizar. (CHEUICHE, 1984, p.
58).

O batismo cristão, neste contexto, representa toda a negação das concepções


religiosas dos Guarani, da mesma maneira que se fez desde o início da conquista. Um
exemplo disso temos no seguinte texto do período da colonização:

Hallaron los misioneros unos indios los más bárbaros, sangrientos e incultos del
mundo. No tenían pueblos en forma, sino algunos aduares de cabañas de paja
debajo de algún cacique, a quien daban alguna obediencia. No sembraban sino
alguna cosa corta, que les duraba pocos días. Vivían de la caza y de la pesca.
Andaban casi del todo desnudos. Tenían continuas guerras unos caciques contra
otros. A los que mataban, luego los asaban y se los comían. […] Sus vicios
dominantes eran la lascivia y lujuria de bestias, la embriaguez, la venganza y la
hechicería (CARDIEL apud OLIVEIRA, 2004, p. 20).4

Embora muitos estudos destaquem os benefícios trazidos à América pelos


jesuítas, as ações da Companhia de Jesus causariam um grande impacto nas tradições do
povo Guarani, posto que sua presença buscava implantar comunidades baseadas em
sistemas totalmente avessos aos elementos culturais de tal povo. Fundada em 1534, por
Inácio de Loiola, a Companhia de Jesus tinha como um de seus objetivos reconquistar os
fiéis que haviam deixado os dogmas católicos, influenciados pela reforma de Lutero.
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3Disponível em:
<http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/revistas/Escritos_3/FCRB_Escritos_3_3_ Sergio
_Alcides.pdf>. Acesso em: 18 de julho de 2013.
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4Nossa tradução: Acharam os missioneiros uns índios os mais bárbaros, sangrentos e incultos do mundo.

Não tinham povoados organizados, apenas alguns aduares de cabanas de palha sob a ordem de algum
cacique, a quem prestavam alguma obediência. Não plantavam senão pouca coisa, que lhes durava poucos
dias. Viviam da caça e da pesca. Andavam praticamente nus. Tinham contínuas guerras uns caciques
contra outros. Aos que matavam, logo os assavam e os comiam. [...] Seus vícios dominantes eram a lascívia
e luxuria de bestas, a embriaguez, a vingança e a feitiçaria.

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Após ter sua missão apostólica aprovada pelo Papa Paulo III, na bula Apostólicas
Regimini militant is Ecclesiae, de 27 de setembro de 1.540,5 a Companhia se dispersou
por toda a Europa e, já na segunda metade do século XVI, chegou a América.
Obviamente, o interesse da coroa, ao permitir que os jesuítas se instalassem na
colônia americana, não era somente o de difundir a religião católica, sendo estipulado
que os nativos teriam a obrigação de pagar tributos. Por isso, a Companhia de Jesus teve
facilidade em obter concessões para poder atuar junto aos autóctones do continente
americano, já que a coroa teria significativos lucros com esse sistema.
Ao território paraguaio, os jesuítas chegaram no ano de 1585, após o qual
começaram o trabalho de conhecimento da região. Nas palavras de Schallenberguer
(2006, p. 85):

Aos olhos dos jesuítas, o Paraguai apresentava-se como um espaço dominado


pelo demônio que, com o seu poder, escraviza os índios das mais diversas
formas. A construção do espaço missioneiro implicava, portanto, na
substituição desse poder pelo divino, mediado pela ação evangelizadora da
Companhia de Jesus. A estrutura quase mística da teologia, própria da época,
visualizava a redução como um espaço de proteção dos índios, de onde se fazia
sistematicamente guerra a satanás. Pelo sistema reducional, os jesuítas
propunham: a conversão do índio ao cristianismo, a salvação do índio diante da
exploração do sistema colonial e a pacificação dos povos, muito embora estes
objetivos, em vista da apologética cristã, tivessem altos custos sociais e
culturais. A sua consecução estava condicionada, porém, à política da
segregação étnica e espacial.

Assim, os religiosos europeus, em um primeiro momento, atuaram de forma


ambulante, sem a construção de reduções. Tendo-se realizado os primeiros contatos
entre os religiosos europeus e os aborígenes, os jesuítas utilizaram vários métodos para
convencer os indígenas a viverem nas reduções. Uma maneira que surtiu efeito foi a
distribuição de objetos feitos de ferro. Como este material era até então desconhecido
para aquele povo, causou grande admiração, posto que lhes ajudava muito no trabalho
da agricultura. Esse foi um dos recursos utilizados pelos inacianos para fazer com que os
183

Guarani acreditassem que nas reduções teriam grandes benefícios, sendo também
pregado que desta forma estariam livres de todas as formas de trabalho forçado
Página

impostos pelos exploradores. Essas ações tinham como alvo principal os caciques das

5Disponível em: <http://www.jesuitasaragon.es/documentos/formula1540.pdf>. Acesso em: 25 de julho


de 2013.

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tribos, pois com o auxílio deles se poderia conseguir uma resposta positiva de todo um
grupo.
Outro método importante para a aceitação por parte dos Guarani em viver com os
jesuítas diz respeito ao idioma utilizado por estes em tal processo. Percebendo que a
língua espanhola traria uma série de dificuldades nas relações com os índios, os padres
decidiram aprender o idioma destes, para, deste modo, tentar estabelecer relações mais
próximas com eles e atraí-los para que aprendessem e praticassem os dogmas do
catolicismo. Perceba-se que os estrangeiros tomam o idioma do povo Guarani para uma
aproximação que tinha como intuito apenas a imposição de novos valores. Essa foi,
talvez, a maior das pretensões dos jesuítas ao aprenderem a nova língua, solidificar por
meio do código linguístico o modelo religioso que tencionavam implantar.
Como explicitou-se anteriormente, a própria aceitação dos Guarani em viver nas
reduções está ligada à intensa religiosidade de tal povo, portador de um rico universo
mítico no qual as ações da sociedade encontravam fundamentos. Assim, os Guarani,
entrando em contato com um povo dotado de características muito peculiares, passaram
a se interessar rapidamente por conhecer vários aspectos que lhes eram estranhos.
Porém, nesse contato, não poderiam imaginar que a intenção daquela nova gente não
era outra senão a de encobrir suas manifestações culturais com concepções e ideologias
que iam de encontro ao seu universo espiritual.
Neste sentido, encontra-se no romance outra explicação do padre Catanneo a
Miguel que parece bastante significativa, mostrando como se tentava levar aos índios a
religião Católica, tratando-se, neste excerto, das missões do Guairá:

A muitas léguas daqui, numa região bordada de pinheirais que chamamos de


Guaíra, os padres Cataldino e Maceta iniciaram, no começo do século passado, a
catequese dos silvícolas indomáveis às tentativas aliciantes ou armadas dos
espanhóis do Paraguai. ‘Ad eclessiam et vitam civilem reducti’ foi seu lema. E, de
fato, reconduziram à Igreja e à vida comum, milhares de nativos condenados à
exterminação (CHEUICHE, 1984, p. 59).
184
Página

De acordo com Schallenberger (2006), a região do Guairá “compreendia a região


localizada entre o rio Paraná na vertente oeste, o Paranapanema ao norte, o Iguaçu ao
sul e a leste a linha de Tordesilhas” (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 53), uma região de

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terras férteis e clima adequado para atividades agropecuárias. Ainda que a natureza
oferecesse as condições necessárias para o bom desenvolvimento dos planos dos
inacianos, as missões não se tornaram prósperas de um dia para outro. Os jesuítas
tiveram muito trabalho e enfrentaram vários conflitos durante a execução de seus
projetos. Os povos indígenas sempre resistiram aos novos modelos de sociedade
europeus, e pode-se dizer que neste fato residiram as primeiras grandes tarefas dos
jesuítas, ou seja, convencer os índios das possíveis vantagens da vida nas missões. Neste
sentido, antes da fundação das reduções, necessitou-se trabalhar na formação de
núcleos populacionais. Nesta tarefa, os padres jesuítas perceberam a importância da
aliança com os caciques, pois, na cultura Guarani, a comunidade segue as orientações
desta liderança, ainda que toda decisão sempre seja tomada de acordo com os anciãos da
comunidade.
Schallenberger (2006) aponta que, nessa missão, os jesuítas se utilizaram de algo
que chama de “apalavramento”, conceito caracterizado como “processo de
convencimento, através do anúncio da mensagem cristã salvacionista (messianismo),
dos benefícios da redução dos índios” (SCHALLENBERGUER, 2006, p. 53).
Nas reduções do Guairá, os Guarani sofreram os primeiros ataques dos
bandeirantes, os quais adentraram nas missões na captura e apresamento de índios para
serem levados como escravos para a costa brasileira. Como os jesuítas haviam reunido
milhares de Guarani em grandes povoados, os bandeirantes paulistas acharam, com
acerto, que seria mais proveitoso atacar esses agrupamentos do que lançar-se nas selvas
desconhecidas em busca de grupos esparsos. Nesses ataques, milhares de índios foram
mortos. No romance de Cheuiche (1984), essa temática também é exposta, como pode-
se ver no fragmente a seguir:

A piedosa obra de José Cataldino e Simon Maceta desapareceu sob o tacão dos
bandeirantes em menos de três anos. Encarnación, San Pablo, S. Francisco
Xavier e, uma a uma, todas as quatorze reduções foram saqueadas e maioria
185

dos índios cristãos que sobreviveram, arrastada para os mercados da costa


onde seriam vendidos para apodrecer na escravidão. Maceta, que fora a
Paratininga, o covil dos mamelucos, clamar por justiça, foi maltratado e jogado
Página

numa masmorra. O capitão Raposo Tavares, chefe da expedição que assassinara


milhares de inocentes e raptara 60 mil cristãos, respondeu ao padre Mendonça
que lhe perguntava em nome de que direito exterminava e reduzia a escravos
os seus fiéis: “É Deus quem nos dá a ordem no Livro de Moisés: Combatei as
nações pagãs” (CHEUICHE, 1984, p. 60).

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É neste contexto conflituoso que se situa o desenrolar da trama do romance de
Sepé. O menino Guarani aparece pela primeira vez na narrativa, quando é levado, pelos
seus pais, ao hospital da Missão de São Luiz Gonzaga, com sintomas da doença que, em
poucos minutos, seria identificada pelo padre Miguel: a escarlatina. Os esforços do cura
para salvar o menino da morte foram muitos e, ao final, bem sucedidos. Os pais do
menino, no entanto, foram contagiados pela doença e, uma semana depois, antes de
morrerem, recomendavam o filho aos cuidados de Miguel, o qual jurou cuidar-lhe da
melhor maneira que pudesse. Desta forma, a infância de Sepé Tiaraju apresenta aspectos
que já demonstram as dificuldades que viria a enfrentar.
Simbologia importante, também, refere-se ao próprio nome “Sepé”, pois seu
primeiro nome era José, tal qual o de seu pai. Aconteceu ao menino restar-lhe, na testa,
uma cicatriz da escarlatina, a qual foi vista por dois índios em uma noite em que
estavam, juntamente ao padre Miguel, acampados próximos a um pequeno arroio. Neste
episódio, o menino havia ido buscar água em um riacho, e quando voltava, um dos índios
disse: “Olhe, Pe. Miguel! Ele tem um raio de lua na testa. Ele brilha no escuro como um
facho de sepé! [...] O que tenho, padre? Que feitiço tem na minha testa? É o Anhangá-
Pitã?” (CHEUICHE, 1984, p. 78). O padre, então, o tomou nos braços, dizendo que “[...] O
Anhangá-Pitã, o terrível Diabo Vermelho, já tinha fugido do seu corpo com a água santa
do batismo” (CHEUICHE, 1984, p. 78). Depois que o menino adormeceu, narra-se um
diálogo entre o padre e os dois índios, no qual o cura tenta convencê-los do erro que
haviam cometido:

– Deviam envergonhar-se do que fizeram. Amanhã cedo vão confessar os seus


pecados para obter o perdão no corpo de Cristo. O que ele tem na testa nada
mais é do que a cicatriz que lhe deixou a doença. Por um estranho fenômeno,
que ainda não sei explicar, ela brilha no escuro como os olhos dos gatos.
Estarão todos os gatos possuídos pelo demônio?
Um dos guaranis pareceu aceitar a explicação mas o mais velho deles
186

comentou, antes de abandonar-se ao sono:


– Se não foi o Anhangá-Pitã, foi Tupã que lhe acendeu a luz na fronte. De hoje
em diante, vou chamá-lo de Sepé, o facho de luz. Se Deus deu-lhe esse lunar, foi
Página

para ser nosso guia na noite (CHEUICHE, 1984, p. 79).

Desta forma, ainda criança, o menino Sepé é marcado para liderar os índios da
redução de São Miguel Arcanjo, para onde ele e Miguel partiriam mais tarde. A figura do

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padre é mostrada sempre como alguém que se entrega na missão de catequizar os
indígenas, demonstrando, acima de tudo, o amor que sente pelo seu povo.
Na imagem criada pelo narrador do romance, Sepé, então com 22 anos, é
colocado como um “homem de cultura”, no sentido de que seguia os ensinamentos dos
jesuítas, contribuindo como intermediário entre os padres e os Guarani. Descreve-se sua
personalidade da seguinte forma:

Sepé virou homem. Aconselhado e treinado por Nhenguiru, instruiu-se no


manejo das armas onde chegou a superar o próprio mestre. Trespassava uma
folha de laranjeira a 200 pés de distância, com um único flechaço, e manejava a
lança e a espada com perícia admirável. Saia a campo para laçar potros bravios
e mantinha-se no lombo dos mais ariscos, segurando apenas um tufo das
espessas crinas, mesmo quando a sucessão de corcovos parecia interminável.
Amanhava sua própria gleba de terra, contribuindo sempre com bons
excedentes para o Tupã-baé, em cujas lavouras comunais labutava aos sábados
e segundas-feiras. Era dado a longas leituras que consumiam todas suas horas
de lazer. No último ano de nossa estada em Conceição, começou a aprender o
português com o Ir. Antônio de Cintra que fora tipógrafo junto ao famoso Pe.
Restivo, em Santa Maria Maior. Já dominando além do guarani e do ibirajara, o
castelhano e o latim, tornou-se um homem bem acima da média (CHEUICHE,
1984, p. 99).

Nota-se, por meio do fragmento acima exposto, a presença, de certa maneira, de


um índio idealizado segundo valores europeus. Isso, na realidade, não é recorrente na
obra de Cheuiche e pode ser entendido como uma tentativa de descrever Sepé Tiaraju da
forma como alguns missioneiros poderiam ter pretendido: uma configuração que
representasse os Guarani como seguidores fiéis da doutrina inaciana. De acordo com os
relatos do romance, no contato com os padres da Companhia de Jesus e com líderes
Guarani de outras reduções, como Nicolau Nhenguiru, Sepé Tiaraju vai se tornando o
grande líder da população de sua redução, sendo eleito, no ano de 1749, corregedor do
Cabildo, o mais alto cargo da missão de São Miguel Arcanjo. O cacique Guarani, segundo
relata o narrador, no ato da investidura faz um discurso interessante. Veja-se abaixo um
fragmento dessa parte da narrativa:
187

Recebo a missão de dirigir o novo Cabildo para o ano da graça de 1750, com a
Página

humildade de um crente e orgulho natural de chegar a tão elevado cargo pela


vontade de um povo livre e soberano. Mantê-lo livre para arar suas terras, criar
seu gado e educar seus filhos no temor a Deus será minha única recompensa.
[...] Foram os Santos Padres que nos ensinaram a amanhar a terra, a plantar e a
tecer o algodão pra vestir nossos corpos, a criar os animais para nosso sustento,

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a ler e a escrever, a construir instrumentos musicais e extrair-lhes música
divina, a amar os nossos semelhantes e com eles dividir o nosso pão. Foram os
Santos Padres que nos deram organização social e nos ensinaram a eleger
livremente os nossos governantes. Muitos deles, como o Pe. Roque Gonzales,
foram martirizados pelos Nheçús ignorantes da Fé ou batidos e humilhados
pelos bandeirantes escravagistas. Nunca recuaram, em sua missão de levar o
Evangelho aos mais distantes rincões e tem misturado seu suor com o nosso na
construção duma verdadeira Comunidade Cristã. (CHEUICHE, 1984, p. 105)

Pode-se notar, no fragmento acima, o discurso de que os dogmas inacianos


perpassaram a cultura Guarani, firmando-se nela com bases concretas para o seu
desenvolvimento. No entanto, como será possível notar no desfecho do romance em
análise, os índios, sob a liderança de Sepé, tomaram frente da Guerra Guaranítica – que
se inicia em 1750 – decidindo os rumos do que aconteceria com a redução de são Miguel
Arcanjo.
Sabe-se que, nos primeiros séculos da colonização ibérica na América, as
fronteiras territoriais moviam-se constantemente, em decorrência da ambição de
portugueses e espanhóis. Como bem se conhece, o Tratado de Tordesilhas, por ser
traçado “às escuras”, já que não se imaginava as dimensões das novas terras, havia sido
bastante desfavorável aos lusitanos, os quais, conforme acordado, ficaram com uma
porção de terras consideravelmente menor que a dos seus vizinhos espanhóis. Porém,
nos estudos históricos, raramente aparece a visão dos povos ocupantes tradicionais das
terras em disputa. Pelo Atlântico, as leis vinham desenhadas à pena, demoravam meses
para chegarem à América e aqui deveriam ser cumpridas à risca. No meio dos mandos e
desmandos dos europeus, as etnias sobreviventes da Conquista iam se defendendo da
forma como podiam, algumas vezes guerreando, outras aliando-se aos próprios
conquistadores contra tribos rivais e, em outros casos, fugindo do contato, o que se dava,
e ainda ocorre, com povos isolados da Amazônia, por meio do adentramento às florestas
nativas.
Um dos episódios marcantes do autoritarismo europeu foi a efetivação do
188

Tratado de Madrid, no qual decidia-se, entre outras coisas, que a Colônia do Sacramento,
erguida pelos portugueses defronte a Buenos Aires, seria trocada pelas Sete Missões
Página

jesuíticas do Uruguai, naquela época território português. Precisamente neste ponto


estava o grande problema para os Guarani e os jesuítas, o qual ganha destaque no

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romance de Cheuiche. Em determinada parte do Tratado de Madrid, conforme traz o
romance, constava o seguinte:

Art. XIV – Sua Majestade Católica, em seu nome e de seus Herdeiros e


Sucessores cede para sempre à Coroa de Portugal todas e quaisquer povoações
e estabelecimentos que se tenha feito por parte da Espanha no ângulo de terras
compreendido entre a margem setentrional do Rio Ibicui e a oriental do
Uruguai.
Art. XVI – Das povoações ou Aldeias que cede sua Majestade Católica na
margem oriental do Uruguai sairão os Missionários com todos os móveis e
efeitos, levando consigo os índios para aldear em outras terras de Espanha; e os
referidos índios poderão levar também todos seus móveis e semoventes, e as
Armas, Pólvora e Munições que tiverem; em cuja forma se entregarão à Coroa
de Portugal, com todas suas Casas, Igrejas e Edifícios e a propriedade e posse do
terreno... (CHEUICHE, 1984, 112).

Ao saber da notícia, o posicionamento de Sepé diante da situação foi bem


definido. Para ele, transferir os Sete Povos para a banda ocidental do rio Uruguai era
uma afronta ao seu povo e estava decidido a organizar os índios para a guerra. Em uma
das reuniões junto aos padres da redução, Sepé demonstra que a remoção dos índios
não aconteceria sem conflitos. Ele disse ao padre Balda, ao qual perecia melhor que
obedecessem ao Tratado de Madrid:

– Sabe o Senhor Cura que neste território vivem quarenta mil guaranis e em
nossas fazendas mantemos quase dois milhões de cabeças de gado? Já imaginou
o que representaria arrancar dos seus lares toda essa gente e caçar pelos matos
todo nosso gado para levá-lo a lugares onde não terão pasto suficiente para
comer? Deixaríamos mais da metade dos nossos animais para os portugueses e
devoraríamos os restantes antes que as novas terras estivessem preparadas
para produzir o sustento de nosso povo.
– Eu sei que vai ser difícil, mas...
– Não vai ser difícil, Senhor Padre Cura, porque não será necessário fazê-lo.
Nenhum homem de vergonha sairá destas terras sem derramar seu sangue
para defender nossos direitos (CHEUICHE, 1984, 122).

Nesta passagem, é possível notar uma característica das mais importantes da


cultura dos Guarani: a valorização do lugar onde nascem. Ainda que, tradicionalmente,
189

os Guarani fossem seminômades, eles sempre viveram em um território delimitado e, na


velhice, o indivíduo, sempre que possível, retorna para o lugar onde nasceu, pois é ali
Página

que deve ser enterrado. Dada a importância da terra para os Guarani, Sepé afirma:
“Antes que iniciem a demarcação dos limites, devem saber pela minha voz que

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estaremos alertas na fronteira de nosso território. Nenhum soldado, português ou
espanhol, pisará sem luta nas Missões Orientais” (CHEUICHE, 1984, 124).
Desta forma, a leitura do romance trata do que pode ser, talvez, o maior problema
das comunidades Guarani da atualidade: a expropriação territorial. Na época das
reduções, o contexto histórico era outro, mas, tal como hoje, os índios não tinham
participação nas decisões mais importantes que a eles se referiam. Sepé Tiaraju se
destaca, portanto, como liderança singular em relação à luta que se travaria na Guerra
Guaranítica, não aceitando deixar sua terra pacificamente, podendo ser o símbolo
representativo da frase que vêm sendo repetida insistentemente pelos Guarani do
século XXI: “ko yvy oguereko ijara”, ou seja, “esta terra tem dono”.
Antes do início dos combates, nos campos do rio Jacuí, o general português
Gomes Freire havia convidado Sepé para uma suposta proposição de paz, mas isso não
seria possível. Ao retornar ao acampamento improvisado pelos índios próximo ao forte
lusitano chamado de Rio Pardo, Sepé relatou aos companheiros o resultado da
negociação com os portugueses: “O general é astuto como uma raposa. Tentou comprar-
me com presentes e promessas de honrarias. Oferece a paz em troca da nossa rendição
[...] Nunca mais aceitaremos nenhum Rei. Nem de Portugal, nem de Espanha.
Fecharemos as fronteiras das Missões a todos os europeus. Não nos deixaremos
transformar em sombras de homens” (CHEUICHE, 1984, 165).
Conhecendo bem o terreno e a natureza da região, os Guarani puderam resistir
até o mês de fevereiro do ano de 1756. O narrador do romance, no processo de descrição
dos acontecimentos, elabora uma representação que apresenta Sepé como o maior dos
guerreiros Guarani, de certa forma, até bastante idealizada. Na verdade, é comum na
sociedade brasileira dois opostos em relação ao índio, um que o trata como selvagem,
sem civilização e outro que o coloca como se fosse e vivesse em um mundo perfeito. São
duas imagens irreais, pois o universo desses povos apresenta aspectos tão variados
quanto o mundo não autóctone, com a diferença, é claro, de que a estrutura dessas
190

culturas é baseada em princípios distintos dos da cultura nacional.


Página

De qualquer modo, Sepé mostra, no romance, coragem e liderança na organização


do contingente Guarani que enfrentaria portugueses e espanhóis. No dia 7 de fevereiro
de 1756, ocorreu o maior combate da Guerra Guaranítica, assim descrito no romance:

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O combate é uma loucura de sangue. Gritos e imprecações cortam os ares. Meus
olhos esbugalhados procuram localizar o cavalo branco de Sepé. Os dragãos
portugueses atacam os índios pela retaguarda. Vão morrer todos, meu Deus! A
fuzilaria redobra de intensidade. Já poucos guaranis restam de pé no campo de
batalha. Sepé reúne os remanescentes e parte para uma nova carga. Sua lança
levanta da sela um dragão português. Três, quatro soldados inimigos o cercam.
Uma lança o atinge pelas costas. Seu corpo tomba sobre o pescoço do cavalo [...]
A poucos passos do corpo inanimado de Sepé, um tiro de mosquete o atinge em
pleno peito. (CHEUICHE, 1984, 175).

A morte de Sepé aconteceu três dias antes da batalha de Caiboaté, na qual


morreram aproximadamente 1500 índios. No entanto, o líder Guarani se transformaria
em mito para o seu povo. Dois dias antes de sua morte, ele havia pedido para ser
enterrado em um local determinado, próximo a uma aldeia dos índios Charrua, não
muito distante do município de Caçapava. Sobre esta passagem, o narrador aponta:

Sepé previra sua morte próxima. Na mente dos índios sobreviventes começava
nascer a lenda que o iria santificar. Três dias depois de sua morte, as tropas de
Nhenguiru foram massacradas nas coxilhas do Caiboaté. Lanças e flechas contra
arcabuzes e canhões. Os índios jogavam-se contra a metralha gritando o nome
de Sepé Tiaraju. Os poucos que sobraram da carnificina juraram tê-lo visto a
ordenar a carga, surgindo entre as nuvens de pólvora em seu cavalo branco,
uma lança de fogo nas mãos, o lunar a brilhar-lhe na testa em pleno dia.
Levávamos para o túmulo um pobre corpo rasgado pelas lanças esburacado de
balas. A alma do grande cacique já ganhava forma divina na imaginação dos
guaranis (CHEUICHE, 1984, 177).

Em qualquer sociedade, seus integrantes têm a necessidade de criar seus mitos


e heróis, explicações para acontecimentos difíceis de serem entendidos, para situações
que não são elucidadas por meio, somente, da visão da realidade. Há uma necessidade de
entender-se aspectos que, em dado momento histórico, não poderiam ser
compreendidos, surgindo, assim, os mitos, tal como aconteceu com Sepé Tiaraju.
No desfecho do romance, não se aborda como ficou a vida dos Guarani depois da
guerra, ficando para o leitor um espaço aberto para sua reflexão. Conta-se, ao final da
191

obra, acerca do enterro de Sepé Tiaraju, em um lugar escondido, posto sob uma pedra, a
qual guardaria “para sempre o seu segredo” (CHEUICHE, 1984, p. 179). Apesar de não
Página

esclarecer sobre o destino dos Guarani, o romance é encerrado com tom de tragicidade,
no sentido de fazer entender que o fim da guerra representaria, também, o fim do povo.
Veja-se:

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Sepé morrera aos trinta e quatro anos de idade pelas mãos de homens que
nunca o conheceram. Com ele morria também a grande nação guarani. A
própria Companhia de Jesus foi proscrita em todo o mundo. Expulsos de
Portugal, de Espanha, de todas as colônias, os jesuítas pagaram pelo crime de
não ter abandonado os guaranis. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Não.
Ninguém me convenceria jamais que os homens foram feitos à semelhança de
Deus (CHEUICHE, 1984, 179).

A grande nação Guarani, com certeza, não tinha seu fim em meados do século
XVIII, mas, gradativamente, as condições de subsistência dentro de seu modo tradicional
de vida iriam tornar-se cada vez mais precárias. Desta forma, a obra em análise é uma
criação literária significativa para se pensar a trajetória de resistência do povo Guarani
em meio ao processo de colonização de seus territórios tradicionais.
Assim, nota-se a importância da literatura na construção de uma identidade
múltipla, que preze pelo respeito a diferentes valores culturais. Como se viu, os Guarani
possuem uma maneira de ser específica, mas vivem em uma organização social
extremamente complexa, daí a necessidade de entender-se que devem ter o direito
garantido de viverem conforme seus costumes, entendimento que está presente em
vários textos literários.

REFERÊNCIAS

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192

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Página

FLECK, G. F. A Conquista do “entre-lugar”: a trajetória do romance histórico na


América. Gragoatá, Niterói, n. 23, p. 149-167, jul./dez. 2007.

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_______. O romance, leituras da história: a saga de Cristóvão Colombo em terras
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_______. Gêneros híbridos da contemporaneidade: o romance histórico contemporâneo de


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Artigo aceito em dez./2014

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