Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A MULHER NEGRA AFRICANA ESCRAVA: UMA


LEITURA DE CASA GRANDE & SENZALA

Abril, 2017
Montes Claros/ MG
KEILA SANTOS

SAMARA ABREU SILVA

A MULHER NEGRA AFRICANA ESCRAVA: UMA


LEITURA DE CASA GRANDE & SENZALA

Artigo apresentado ao prof. Dr. Gustavo Dias como requisito para


obtenção parcial de nota na disciplina de Sociologia - 3° período do
curso de Graduação em História, da Universidade Estadual de Montes
Claros – Unimontes.

Abril, 2017
Montes Claros/MG
A MULHER NEGRA AFRICANA ESCRAVA: UMA
LEITURA DE CASA GRANDE & SENZALA

Keila Santos; Samara Abreu

Resumo: O presente artigo trata da questão da mulher negra africana representada na


obra de Gilberto Freyre. A mulher negra escrava na formação da família patriarcal teve
um papel particular e progressivo na história dessa constituição da formação da
sociedade brasileira. Essas mulheres chegaram ao Brasil, sem esperanças, falavam
apenas seus dialetos, foram submetidas a violências e ao trabalho escravo, muitas
tiveram destinos terríveis e inevitáveis diante das circunstâncias de violências, porém
muitas sobressaíram adaptaram-se a nova realidade através de sua experiência e cultura
trazidas da África. Tomando o livro Casa Grande & Senzala como principal fonte deste
trabalho esperamos contribuir nossas ideias às discussões referentes aos estudos
sociológicos e da própria historiografia na obra freyreana.

Palavras-chave: Mulher negra; Escravidão; Gilberto Freyre

INTRODUÇÃO

Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Hollanda, dentre outros,
ícones da sociologia e historiografia brasileira, são habitualmente apresentados como os
pensadores que no século passado, maior influência exerceram sobre o pensamento
histórico em nosso país. A profissionalização do historiador brasileiro passou, assim, e
continua passando, pelo estudo detalhado desses pensadores da formação do povo
brasileiro, em torno dos quais surgiu uma profícua bibliografia apresentada em
inúmeras pesquisas, dissertações de mestrado, teses de doutorados, artigos em revistas
especializadas, biografias, seminários e conferências.
Gilberto Freyre, teórico selecionado para a presente discussão, é imediatamente
associado ao estudo da família, destacando, na clássica associação entre a casa-grande e
a senzala, as suas raízes patriarcais e, não menos importante, entre os sobrados e os
mocambos, a decadência do patriarcalismo na sociedade brasileira. De sua formação
acadêmica norte-americana, é possível destacar a influência da Sociologia e da
Antropologia, disciplinas que encaminharam sua intensa pesquisa em diversos tipos de
documentos e/ou fontes originais. Freyre fundamento os seus estudos em uma extensa
bibliografia internacional, textos de viajantes, crônicas descritivas da realidade, seguidas
de pesquisa em arquivos públicos e particulares (conventos, hospitais, colégios, papéis
particulares e jornais).
Publicada em 1933, a obra analisada neste trabalho, teve origem da intenção do
autor em estudar as raízes do Brasileiro e do seu povo, buscando interpretar alguns dos
aspectos mais significativos da nossa formação, tendo se tornado uma referência no
assunto. Casa Grande & Senzala trata dos registros étnicos e raciais nacionais, além da
formação pré-capitalista brasileira. A família patriarcal tem importante papel na obra,
sendo o ponto de partida para o desenvolvimento da obra. O papel da Casa Grande na
formação sociocultural brasileira e da Senzala, que seriaum complemento da primeira,
são objetos de destaque. Observa-se no decorrer da obra que Freyre busca mostrar a
influência do escravo, índio e português na estruturação da população brasileira.
A perspectiva do autor se diferencia da criada, por exemplo, por Oliveira Vianna, com
uma concepção voltada para um melhoramento do "patrimônio genético dos grupos
humanos", por meio de incentivos à imigração do europeu para o Brasil, enquanto
Gilberto Freyre analisa esse processo de miscigenação que deu origem ao povo
brasileiro que reconhecemos hoje e as suas implicações culturais.
Segundo o historiador José Carlos Reis, Casa grande & senzala é a obra de
interpretação do Brasil mais conhecida no país e mais traduzido e editado no exterior.
Sua obra é reconhecida como uma referência superior da ciência social pelos mais
importantes cientistas sociais do mundo sociais do mundo: L. Febvre, F. Braudel, R.
Berthes e outro. Entretanto, ele jamais aceitou ser classificado como um “especialista”
das ciências sociais, antropólogo, sociólogo ou historiador, e sempre se apresentou
como escritor ou ensaísta (Freyre, 1968). Sua obra foi um grande progresso para
conhecermos a história do Brasil. Em Casa grande & senzala Freyre penetra na
sociedade colonial brasileira e recria com criatividade a vida coletiva e afetiva da
sociedade açúcar.
Muito já se escreveu sobre o sociólogo Gilberto Freyre e suas obras, mas a partir
da nossa pesquisa percebemos que a obra Casa Grande & Senzala, mesmo com as
diversas críticas e questionamentos teóricos, ainda proporciona discussões importantes
para o ofício do historiador e, também da sociologia. Por isso, o nosso interesse pelo
tema.

A mulher negra escrava na obra Casa Grande & Senzala

Tanto o branco quanto o negro tiveram papéis fundamentais na formação da


sociedade brasileira, e Freyre utiliza esse pressuposto como base para o
desenvolvimento da obra, assim como os locais em que estes grupos estavam inseridos
socialmente.
As relações de poder, a vida doméstica e sexual, os negócios e a religiosidade
forjavam, no dia-a-dia, a base da sociedade brasileira. Nesse contexto, a casa grande
teria uma posição de centro social e político, local onde ocorreria a coesão da sociedade
e, consequentemente, não havia sociedade fora da casa grande, ou, pelo menos, muito
pouco. Com isso, o autor quer dizer que não existia vida social fora das grandes
propriedades.
Tomando então a casa grande como ponto de partida, verificamos que a nação
como um todo se constituiu em torno da estrutura patriarcal da família, herança da
colonização portuguesa. O senhor patriarcal, segundo Freyre, seria o ponto fundamental
para a implantação de um novo processo de civilização no país. Entretanto, o autor não
deixa de lado as mazelas morais e a violência presentes nesse contexto, já que são os
senhores patriarcais que mandam nas terras, engenhos e homens e poderiam se utilizar
de meios contundentes para defesa de suas posses, ou simplesmente no modo de tratar
seus submissos.
Apesar de existir um sistema hierárquico entre os indivíduos dessa estrutura
social, uma aproximação acabava por acontecer, seja por meio emotivo ou sexual (como
exemplo as relações sexuais que não raramente aconteciam entre senhores e as
escravas). Essa aproximação que ocorria pode explicar toda a diversidade racial que
nosso país tem hoje em dia. Ao contrário de outros pesquisadores, Freyre busca na
miscigenação uma justificativa pela diversidade racial,considerando que sua linha de
pensamento é voltada para o cultural, pois para Freyre, o choque de culturas
proporcionaria uma identidade brasileira. Logo depois, isso daria o surgimento do que
ocorreria no Brasil, a criação conceito introduzido pelo Estado Novo de "democracia
racial", que diferentemente de outros países, teria escapado do racismo que ocorreu, por
exemplo, nos Estados Unidos. Sendo assim, o autor relata a importância das etnias
dominadas, para a formação do país. Percebemos também que Freyre não coloca a
“culpa” pela escravidão mais amena ou menos cruel, segundo ele, praticada no Brasil,
em cima de um maior teor cristão do colonizador português em relação aos espanhóis,
holandeses ou ingleses. Mas sim, no contato dos portugueses com o tipo de escravidão
árabe, ou maometana, nas palavras do próprio autor. Essa sim, de tradição mais
“familiar” no tratamento com os escravos.
A importância dos negros seria superior até mesmo que a dos seus donos. O
autor comenta a tamanha força vital dos escravos que possuíam boas habilidades
técnicas e agrícolas, aliadas a grande capacidade de resistência que os mesmos tinham.
À época de lançamento da obra, isto cairia mal para a sociedade como um todo, mas
hoje existe esse reconhecimento do papel civilizatório do negro na formação do Brasil.
Da mesma forma, o índio também teve sua parcela de contribuição fundamental à noção
de sociedade brasileira. Em muitos aspectos o índio poderia ser considerado superior ao
conquistador branco, como exemplo no que diz respeito à higiene pessoal. Os índios
chegavam a banhar-se dez vezes ao dia, ao passo que o europeu possuía precários
hábitos de higienização. Freyre considera os índios vítimas histórica, não só dos
colonizadores portugueses, mas também dos jesuítas, queteriam sido responsáveis por
uma espécie de extermínio indireto das populações locais e modificando hábitos e
costumes das tribos.
O homem negro, entretanto, além de possuir maior importância que a dos
colonizadores portugueses, como já mencionado, teria essa superioridade também em
relação ao índio, considerado introvertido e de difícil adaptação (foi substituído pelo
negro na mão de obra dos engenhos, por exemplo), ao passo que o negro já era
considerado o "tipo do homem fácil, plástico, adaptável". Notava-se uma maior
evolução do povo africano em relação à sociabilidade em relação aos índios. Gilberto
Freyre considerava o homem negro como sendo o agente melhor integrado no clima e
nas condições de vida apresentadas pelo Brasil, podendo ser considerado a mão direita
da formação brasileira, enquanto o português e o índio seriam a mão esquerda.
A retratação da mulher negra escrava em Casa Grande & Senzala, é
demasiadamente, senão naturalmente exposta de forma "a vida como ela é", para alguns
uma infâmia de conduta moral para outros uma diversão cotidiana.
Assim, Gilberto escreveu sobre o intercurso do negro na constituição da
sociedade brasileira. O que seria demasiado na obra refere-nos ao período que foi
lançado para uma sociedade estritamente conservadora e preconceituosa da época. E o
que naturalmente seria exposto nessas relações entre escravos e senhores
desencadeariam os movimentos sociais posteriores.
O remoto caráter português de flexibilidade para as relações comerciais
transformou-lhe em um povo com cultura antagônica com diversos elementos das
culturas africana, maometana e católica.O português como já dissemos como nenhum
outro colonizador deu tanta importância para a pureza de raça, disseminando a
mestiçagem. A plasticidade social do português sobrepôs qualquer preconceito de raça,
de cor inicial, limitando-se a apenas ao preconceito religioso, mesmo assim sendo
profilático nesta questão para a conversão dos pagãos ao cristianismo como segundo o
autor:
[...] Portugal, situado entre África e a Europa, deu lhe uma
constituição social vulcânica que se reflete no quente e plástico do seu
caráternacional, das suas classes e instituições, nunca endurecidas nem
definitivamente estratificadas. (FREYRE. 1933 Pag. 278).

A mulher negra escrava na formação da família patriarcal teve um papel


particular e progressivo na história dessa constituição da formação da sociedade
brasileira. Essas mulheres chegaram ao Brasil, sem esperanças, falavam apenas seus
dialetos, foram submetidas a violências e ao trabalho escravo, muitas tiveram destinos
terríveis e inevitáveis diante das circunstâncias de violências, porém muitas
sobressaíram adaptaram-se a nova realidade através de sua experiência e cultura trazidas
da África.
Diferente das indígenas, ingênuas e submissas às negras africanas tinham seus
conhecimentos em negociar, existia para elas uma cultura material determinada de
valor. Com a vantagem de sua cultura e com a desvantagem de estarem em terra
estranha ao passar pelo período trágico de adaptação nos trópicos, os negros passam a
ter uma unidade dentro da sociedade. As negras trazidas da África desempenharam
funções para a sociedade brasileira de elevada importância, ao tratar-se de que os
portugueses (senhores e senhoras) eram preguiçosos, relapsos com o trabalho e com a
própria vida.
O serviço doméstico asseado viria das mãos dessas negras, assim como cuidado
com os filhos dos senhores, a predominância na cozinha e dos os afazeres. Em
CasaGrande & senzala Freyre coloca, os negros como condutores de todo trabalho duro,
remeteria a dependência psíquica e física que os senhores patriarcas tinham com os
negros e com a mulher negra essa relação seria transferida para núcleos mais íntimos
entre casa-grande e a senzala.
Em seu estudo sobre a formação da família brasileira Gilberto Freyre enfatiza a
importância da negra no processo da miscigenação ao contrario do homem negro
utilizado apenas como mão de obra, a escrava tinha como principal objetivo além do
trabalho, colaborar para a povoação do novo continente. Para compreender a maneira
como os portugueses tinham seus interesses sexuais, Freyre diz que chegando ao Brasil
os portugueses encontrou nas índias um tipo parecido com a moura-encantada de pele
escura e longos cabelos negros banhando-se em rios. Que estas tinham também os olhos
e os cabelos pretos, o corpo pardo pintado de vermelho, tanto quanto as nereidas
mouriscas eram doidas por um banho de rio onde se refrescasse sua ardente nudez e por
um pente que pentear o cabelo. (FREYRE, Gilberto, 2001, pág 84)
O português trouxe para a colonização do Brasil, essa heterogeneidade de
cultura moura e negra, a poligamia, da atração pela mulher de cor, a cultura moura
presente na cultura moral e material.
Segundo FREYRE (1933, PAG. 299) “outro traço de influência moura se pode
identificarno Brasil: o ideal de mulher gorda e bonita de que tanto se impregnaram as
gerações coloniais e do Império.” Toda essa fusão dos portugueses com outras raças e
culturas fez dele um cosmopolita, em Casa Grande & Senzala Freyre afirmar em sua
tese essa adaptabilidade do português essa aceitação do outro mesmo que os fins
sejam econômico-comerciais.
A mulher negra escrava para sociedade patriarcal tecnicamente seria o elemento
procriador. Em casa Grande & Senzala Gilberto Freyre retrata essa mulher como
importante na sociedade, mesmo que sua condição perante a sociedade seja inferior,
sem ela seriam os rumos da formação nacional outros. A mulher branca de fato é
superior na sociedade colonial, mas a glorificação da mulher de cor como se refere
FREYRE (1933, PAG 72). Aliás, o nosso lirismo amoroso não revela outra tendência
senão a glorificação da mulata. Ainda mais seria gosto pela mulher exótica, desde
tempos em relação às mulheres árabes. Que segundo FREYRE (PAG. 71 1933) “pode-
se, entretanto, afirmar que a mulher morena tem sido a preferida dos portugueses para o
amor, pelo menos para o amor físico”.
As negras escravas assim como as mulheres gentias seriam as procriadoras de
uma nação como afirma FREYRE (PAG.325) “os interesses de procriação abafaram não
só os preconceitos morais como os escrúpulos católicos de ortodoxia”.
Foram elas quedifundiram os elementos culturais existentes na cultura brasileira
ate os dias hoje. A mulher negra escrava é objeto de analise em muitos estudos, pois sua
expressão na historia na formação da sociedade brasileira faz-se muito determinante
para o percurso social brasileiro, legitimou um Brasil sem igual com dimensões
culturais enriquecedoras.
A mulher escrava substituiria a mulher gentia no trabalho domestico, devido
suas habilidades para as funções, ela também cuidaria dos filhos dos senhores, e serviria
muito deles aos deleites da carne como cita o autor:
Da escrava ou sinhá que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que
nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de
comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de
bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico
e nos transmitiu, ao ranger da cama de vento, a primeira sensação
completa de homem. (FREYRE, PAG. 367)

As relações entre escravas e patriarca e portugueses deu uma energia a esses


portugueses como diria Freyre, quase sempre melancólicos, preguiçosos, e deu a eles
uma energia na vida sexual que lhes faltava. E seria as negras e a mulatas as prediletas
para tal energia. Freyre compara os portugueses com
[...] don-juan das senzalas desadorado atrás de negras e molecas.Essa
relação entre patriarca e escrava dava-sedesde menino, quando estes
são cuidados por suas mães pretas, devido em alguns casos a própria
mães biológicas brancas faltavam-lhes, sendo que essas são mães
biológicas casam-se muito crianças aos treze, quatorze anos, vindo a
morrer no parto ou tendo uma vida reduzida ao punhado de filhos que
são metidas. (1933 pag. 266)

Em Casa Grande & Senzala, a mulher africana é desmitificada como sendo a que
corrompe a vida sexual dos senhores brancos desde meninos, Freyre explica a diferença
da mulher negra africana e da escrava.Essa diferença está relacionada com as estruturas
da sociedade escravocrata nos trópicos. Formou-se uma sociedade déspota, sádica
através dessas relações entre senhores e escravos. Não seria de fato o negro que trouxe o
sadismo para o Brasil colônia, mas sim as relações entre senhores e escravos. Freyre
exalta a alegria dos africanos, como eram adaptáveis ao clima dos trópicos, mas não
seriam eles os depravados.
A escrava seria o símbolo de corrupção sexual para os conservadores patriarcais,
clérigo, autores, relatores, dos pobres moços aristocratas, Freyre afirma que desde
meninos estes já revelavam os sadismos em suas brincadeiras com outros
meninos/meninas que eram lhe dados de presente como brinquedos. A relação sádica
transformou a casa grande e a senzala em um covil de abuso. Freyre (pag. 400) relata
que muitas [...] negras eramentregues virgens, ainda molecas de doze e treze anos, a
rapazes brancos já podres das sífilis das cidades.
A depravação que ocorria no Brasil escravocrata deixou essas escravas a mercê
de doenças, principalmente a sífilis, essa depravação viciosa, sadista da sociedade
patriarcal tinham interesses absolutamente de poder, o poder econômico, pois quanto
mais gerassem os ventres das escravas aumentaria o capital do senhor, o poder de
autoridade, o poder infame do prazer com a passividade das escravas. A promiscuidade
patriarcal chega a ponto de casos de incestos, de sinhôs-moço da casa grande e
mulatinhas da senzala que seriam irmãos e teriam relações sexuais gerando outros
filhos, como infere Freyre: e que não tardasse em emprenhar negras, aumentando o
rebanho e o capital paterno. Se este foi sempre o ponto de vista da casa-grande, como
responsabilizar-se a negra da senzala pela depravação precoce do menino nos tempos
patriarcais? O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade
de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem
(FREYRE, pag. 456).
Todo contexto da historia da escravidão no Brasil esta associado ao exacerbado
sexo promiscuo atribuído a culpa a escrava. Freyre defende a ideia como já citado
anteriormente de que elas não teriam outra opção a não ser acatar as ordens deseus
donos.
Freyre (1933, pagina 462) contesta o professor antropólogo (NINA
RODRIGUES) que considerou a mulata um tipo anormal de superexcitada e também
refuta o escritor (JOSE VERÍSSIMO) que disse sobre a mestiça brasileira “um
dissolvente de nossavirilidade física e moral” afirmando que:
A verdade, porém, é que nós é que fomos os sadistas; o elemento ativo
na corrupção da vida da família; e moleques e mulatas o elemento
passivo. Na realidade, nem o branco nem o negro agiriam por si,
muito menos como raça, ou sob a ação preponderante do clima, nas
relações do sexo e de classe que se desenvolveram-se entre senhores e
escravos no Brasil. Exprimiu-se nessas relações o espírito do sistema
econômico que nos dividiu, como um deus poderoso, em senhores e
escravos. Dele se deriva toda exagerada tendência para o sadismo
característica do brasileiro, nascido e criado na casa-grande,
principalmente em engenho. (FREYRE, PÁGINA 462)
Ainda na obra, Gilberto Freyre, fala sobre as escravas de Minas Gerais no século
XVIII. De acordo com seus registros seriam elas uma finura de mulher de encantar
qualquer homem por sua beleza, dotes domésticos e também pelo sexo tornando se
preferidas como donas de casas, amantes, mucamas e cozinheiras. Havia de certo na
relação sadista entre senhores escravas em alguns casos uma excessiva
dependência Segundo Freyre conhecem-se casos no Brasil não só de predileção, mas de
exclusivismo: homens brancos que só gozam com negra. Para aqueles que tomavam
escravas como suas esposas amasiavam-se não concretizando o casamento religioso,
devido às leis portuguesas e preconceitos religiosos.
A mulher negra trouxe para a família patriarcal sua influência, religiosa que
cultua os deuses orixás, a sua sensualidade na dança, até mesmo despropositada de
excitação sexual e sim como um rito de sua cultura, sincretizou-se com o cristianismo a
fé. Na culinária enriqueceu a cultura alimentar colonial tão pobre de proteínas, com seus
temperos deixou na historia pratos até os dias de hoje saboreados como vatapá, a
feijoada, azeite de dendê. Foram elas que educaram os meninos das casas grande que
lhe ensinaram as primeiras palavras que foi diante de seu analfabetismo a interlocutora
de muitas histórias.
Freyre destaca ainda as amas em sua obra, retratando-as como mulheres que não
poderiam passar despercebida na família patriarcal. Suas influência na vida dos
senhores, senhoras, crianças, sinhazinhas da casa grande foi intensa. Elas seriam
responsáveis pela primeira educação da criança, o linguajar, os mimos, higiene, o
aleitamento seriam elas que contariam as sinhás-moças as primeiras histórias de amor
sendo suas confidentes, essas mulheres escravas negras tornavam-se muitas vezes
senhora de respeito no seio patriarcal, como relata FREYRE:
Quanto às mães pretas, referem às tradições o lugar verdadeiramente
de honra que ficavam ocupando no seio das famílias patriarcais.
Alforriadas, arredondavam-se quase sempre em pretalhonas enormes.
Negraa quem se faziam todas as vontades: os meninos tomavam-lhe a
bênção; os escravos tratavam-nas de senhoras; os boleeiros andavam
com elas de carro. E dia de festa, quem as visse anchas e enganjentas
entre os brancos de casa, havia de supô-las senhoras bem-
nascidasnunca ex-escravas vindas da senzala. (FREYRE 1933 PAG
435)
CONCLUSÃO

No Brasil os antagonismos culturais são elementos que enriquecem a cultura


nacional. A negra escrava de qual nos fala Gilberto Freyre é canal de diversificado
elementos que enriqueceram a nossa cultura. Seu valor diante da sociedade patriarcal e a
sociedade contemporânea são ligados a suas condições de escravidão, simplesmente
escrava.
Freyre, dar merecido valor a essa escrava, a negra, a mestiça ele não afirma que
elas foram complacentes as condições de escravidão, ao sadismo de seus donos, mas
sim foram elas que grandiosamente fizeram a história da formação do brasil. Fizeram
com sua cultura, com seus ritos, conhecimentos, culinária, vocabulário.A escravidão
anulou a vida dessas mulheres e seus descendentes. Elas não tinham autonomia com
seus destinos, serviriam no Brasil escravocrata apenas para servirem. A retração da
escrava negra em Casa Grande & Senzala é um balanço dessa servidão, é um ensaio da
violência contra a mulher negra escrava e como as condições do meio influenciaram as
estruturas sociais do Brasil.
Infelizmente a imagem da mulher negra brasileira no século XXI não foi
dissociada a da escrava dos séculos XVII, XVIII, XIX carregando consigo as
consequências de seus antepassados, nos mais diversos núcleos da sociedade
contemporânea brasileira.
Os preconceitos que as cerca está ligado ao fato da historiografia brasileira ter
relato em diversas obras a sua passividade e contemporização com os senhores
patriarcais. A contemporização faria delas um tipo de mulher fácil, isso se torna uma
questão discriminatória de gênero feminino e principalmente da cor negra.
Deve-se analisar no campo sociológico de que essas mulheres foram vítimas de
sua condição de escravas na sociedade sendo manobra de capital monocultor patriarcal,
usadas na maioria das vezes como animais para procriarem. Todos esses mestiços que
nasceram e assim suas gerações foram marginalizados, foram-lhe negados os direitos.
Historicamente e socialmente nos registros historiográficos, cinematográficos,
na literatura e outros a mulher negra escrava, forra e mulata mestiça nada mais é que
objeto sexual acessível complacente ao uso e abuso de homens brancos. Cabe a nós,
rompermos com essas leituras e visão, levando para a sala de aula e outros locais, o
respeito e a real história dessas mulheres, principalmente a partir de obras como Casa
Grande & Senzala.
REFERÊNCIAS

CARVALHO, Maria Alice de Rezende. “Casa grande & senzala e o pensamento social
brasileiro”. In: Gilberto Freyre. Casa grande & senzala. 2002. p. 887-908.

DAMATTA, Roberto. “A originalidade de Gilberto Freyre”. In Boletim Informativo e


Bibliográfico de ciências sociais BIB, Rio de Janeiro, n. 24, 1987, pp. 3-10.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998, 34ª
edição, pág. 372.

IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos da historiografia brasileira.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG/IPEA, 2000.

REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagem a FGC. Fundação Getúlio


Vargas. Editora – Rio de Janeiro, 2003, p.p 50-82.

SOUZA, Jessé. Gilberto Freyre e a singularidade cultural brasileira. Tempo Social; Rev.
Sociol. USP, São Paulo, 12(1): 69-100, maio de 2000. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ts/v12n1/v12n1a05.pdf

VAINFAS, Ronaldo. “Sexualidade e cultura em Casa grande & senzala”. In: Gilberto
Freyre. Casa grande & senzala. Idem nota 2 p.771-785.

Você também pode gostar