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Professor: Rogério Ferreira Silva Lustosa

Aluno (a): Ismael Ribeiro Freitas Junior Nº________Turma: 1821

Data: 03 / 11 / 2023

Avaliação de Sociologia

III Unidade

(UEL/2008-Adaptado) Leia atentamente o texto abaixo.

A formação cultural do Brasil tem como eixo central a miscigenação. Autores, como por exemplo
Gilberto Freyre, destacaram que a mistura de raças/etnias europeias, africanas e indígenas
configuraram nossos hábitos, valores, hierarquias, estilos de vida, manifestações artísticas, enfim,
a maioria das dimensões da nossa vida social, política, econômica e cultural. Entretanto, outros
pensadores consideravam-na um aspecto negativo em nossa formação e tentaram ressaltar as
origens europeias de algumas regiões, como o intelectual paranaense Wilson Martins afirmou:

“Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova
dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem
escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira.
Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua
história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem
alardes, impor o predomínio de uma ideia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde,
sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade
humana a que não ascendeu à própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná”.

MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São
Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.

O preconceito em relação às origens africanas e indígenas criou uma ambiguidade no


processo de autoafirmação dos indivíduos em relação às suas origens. A partir dessa
constatação, analise como a Sociologia brasileira do século XX compreendeu a questão
racial e sua relação com nossas características como nação.
A sociologia brasileira do século XX apresentou diversas abordagens em relação a questão racial.
Fazendo um paralelo com o momento vivido na época, diversos estudiosos do campo das
ciências sociais, se empenharam em interpretar esses fenômenos, trazendo uma perspectiva
particular que molda e ajuda a explicar a sociedade brasileira.

Wilson Martins ficou reconhecido pela sua visão sobre a região sul do Brasil e especificamente o
estado do Paraná. Pode-se notar a preocupação em suas obras com os processos de aculturação
envolvidos nas origens do país. Com sua interpretação de “civilização original” no Paraná ele
acaba destacando a influência europeia e negando a presença de elementos africanos e
indígenas, mesmo a população preta e parda sendo equivalente a 35% da população do Estado
do Paraná na época. A intenção era destacar justamente as diferenças que distanciavam o estado
do resto do país, idealizando um padrão ilusório.

Gilberto Freyre por sua vez, destacava a miscigenação como elemento central na formação
cultural nacional. Para Freyre, a miscigenação não era só um fenômeno demográfico, mas um
fator positivo que influenciou diretamente hábitos, valores e expressões artísticas brasileiras. Sua
interpretação, a qual celebra a miscigenação, constrata com perspectivas que enfatizam aspectos
europeus e rejeitavam a herança negra e indígena. Ele vai na mestiçagem uma força integradora
capaz de superar barreiras raciais e culturais, contribuindo para uma sociedade mais harmoniosa.

Em contrapartida, levantou-se também no século XX sociólogos como Florestan Fernandes, que


abordou a questão racial de maneira crítica, destacando as desigualdades sociais e a
descriminação enfrentada por negros e indígenas. Fernandes se preocupou também em dá o
devido destaque ao povo indígena e africano na formação do país, buscando a valorização de
suas identidades e a luta intensa e institucional contra o preconceito. Uma prova disso é a teoria
da inexistência de uma “democracia racial”, muito atuante em obras de outros sociólogos como
Gilberto Freyre e dissipado pelos órgãos governamentais do Brasil na época.

Em síntese, a sociologia brasileira do século XX reflete um panorama complexo e multifacetado


em relação à questão racial. Enquanto Wilson Martins, ao destacar a “civilização original” no
Paraná, enfatizava a influência europeia e negava a presença de elementos africanos e indígenas,
Gilberto Freyre celebrava a miscigenação como força integradora na formação cultural nacional.
Essas perspectivas contrastantes evidenciam a diversidade de interpretações sobre a identidade
brasileira.A crítica de sociólogos como Florestan Fernandes, que ressaltaram as desigualdades
sociais e a discriminação enfrentada por negros e indígenas, contribuiu para uma análise mais
realista e crítica da sociedade brasileira. Fernandes desafiou a ideia de uma “democracia racial”
proposta por Freyre, enfatizando a necessidade de reconhecer e valorizar as identidades
afrodescendentes e indígenas.

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