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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

Prof. Tiago Hermano Breunig


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FICHAMENTO

Diógenes Lucas da Silva


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ORTIZ, Renato. Cultura brasileira & identidade nacional. 2° ed. São Paulo: Brasiliense,
1986.

Em sua obra intitulada “cultura brasileira e identidade nacional”, o autor propõe


reflexões acerca do que viria a ser o produto nacional, tratando especificamente de cultura
genuinamente brasileira. Através de dados históricos, o autor apresenta personagens influentes
que contribuíram para a constituição da identidade nacional em termos culturais, juntamente
com fatos e adversidades que também colaboraram para o processo.

Capítulo 1 - Memória coletiva e sincretismo científico: as teorias raciais do século XIX.

Abordando diversos conceitos na composição da sua pesquisa, no primeiro capítulo o


autor expõe os paradigmas da identidade nacional atrelados às relações raciais, correlacionando
a alguns autores que foram pioneiros das ciências sociais no território nacional.

“Tomemos como objeto de estudo alguns autores, como Sílvio Romero, Nina
Rodrigues e Euclides da Cunha. Esta escolha não é arbitrária, ela privilegia justamente
os teóricos que são considerados, e com razão, os precursores das ciências sociais no
Brasil. O estatuto de precursor revela a posição desses autores que na virada do século
se dedicaram ao estudo concreto da sociedade brasileira, seja analisando suas
manifestações literárias, seja considerando as tradições africanas ou os movimentos
messiânicos.” (ORTIZ, Renato. pag. 14).

Relacionado às concepções do positivismo de Comte, do darwinismo social, e o


evolucionismo de Spencer, Sílvio Romero conceitua fatores que contribuíram para a identidade
nacional em termos sócio territoriais e evolução histórica de povos. Analisando através de uma
perspectiva política, é notório que o evolucionismo privilegia a Europa em consolidação com

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Doutor em Letras e professor da disciplina cultura brasileira 1, do Departamento de Letras, do Centro de Artes
e Comunicação, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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Aluno do 3º período, do curso de Letras - Bacharelado, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
a expansão do capitalismo mundial, no qual se questiona como pensar a realidade de uma nação
emergente, neste contexto, advindo daí a preocupação de muitos teóricos em compreender o
“atraso” do Brasil. Entretanto, vigente as singularidades que diferenciam o Brasil da europa,
como por exemplo fatores topográficos, climáticos e raciais, tais características contribuíram
para a construção da identidade nacional, desconsiderando a possibilidade de uma cópia em
relação às metrópoles europeias.

“(...) São fatores importantes para os intelectuais brasileiros, na medida em que


exprimem o que há de específico em nossa sociedade. Quando se afirma que o Brasil
não pode ser mais uma "cópia" da metrópole, está subentendido que a particularidade
nacional se revela através do meio e da raça. Ser brasileiro significa viver em um país
geograficamente diferente da europa, povoado por uma raça distinta da europeia. Sílvio
Romero, compreende claramente esta situação quando considera o meio e raça como
“fatores internos que definiriam a realidade brasileira.” (ORTIZ, Renato. pag. 17)

No tocante às questões étnicas, os cruzamentos raciais são pontos simbólicos no


processo de consolidação de uma identidade nacional, afirmando assim, que a miscigenação e
as características territoriais, ou seja, o meio e a raça, são fatores que definiram a realidade
brasileira, contrapondo as influências que possibilitam a hipótese de imitação da cultura
europeia. Manoel Bonfim procura diagnosticar os males da América latina, em analogia aos
conceitos biológicos e sociais, na qual há uma relação de parasita e parasitado entre o
colonizador e o colonizado. Todavia, apesar da conotação negativa que essa analogia supõe, é
válido ressaltar que os elementos negativos herdados dos colonizadores, foram reorganizados
pelos colonizados, de uma maneira produtiva no processo do identitário nacional.

"(...) Paralelamente a essas qualidades negativas transmitidas pelo colonizador, mas


reelaboradas pelo colonizado, outras, de origem indígena e negra, se integram ao
espírito brasileiro. Porém, contrariamente a Nina Rodrigues, Sílvio Romero e Euclides
da Cunha, o autor considera a mistura racial como “renovadora”, no sentido de que
tenderia a reequilibrar os elementos negativos herdados do colonizador. Não nos
façamos, porém, grandes ilusões. Dentro do pensamento positivista da época, Manuel
Bonfim toma partido pelo progresso, isto é, pela civilização europeia. O caráter
“renovador” das culturas negra e índia não possui, como o da cultura portuguesa, as
qualidades que possibilitam orientar o progresso se dá sem que se faça apelo às teorias
racistas vigentes.” (ORTIZ, Renato. pag. 17).

O dilema dos intelectuais, no fim do século 19, era a construção de uma identidade
nacional, e efetivamente cultural. O país se encontrava num momento de modificações como a
abolição da escravatura e imigração estrangeira, somado à evolução decisiva da economia
brasileira, o que afetaria diretamente no despertar nacional. Acrescido também aos dilemas
raciais, como a visão ideológica da busca pelo branqueamento da população brasileira.

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