O ano de 2004 marca uma efeméride na história das Ciências Sociais no Brasil:
Há setenta anos o médico psiquiatra e psicanalista alagoano, Arthur Ramos, se projeta
no mundo intelectual brasileiro e estrangeiro como antropólogo, com o lançamento do
livro O Negro Brasileiro, em 1934.
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Meses antes, em 1934, Gilberto Freyre lançara Casa Grande e Senzala,
expurgando o complexo de inferioridade nacional pela presença do então nominado
“sangue negro” da população, apontando elementos otimizadores do comportamento
social do brasileiro, a partir de características do negro, do índio e do branco, caldeadas,
de forma lúdica e libidinosa em sua concepção, pelas relações entre os grupos
formadores.
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corrente intelectual se constituiu entre estudiosos de vários países, em poderosa rede de
conhecimentos científicos, para planejar e lutar pela construção de uma nova civilização
baseada na paz. Esse novo mundo incorporaria numerosos estoques populacionais de
negros, mestiços e indígenas de todos os continentes, o que exigiria um esforço
concentrado para o estudo dos problemas da humanidade, fossem antropológicos,
geográficos, econômicos e sociais, principalmente nas regiões tropicais do mundo.
Produto desse esforço é a coleção “Problemas de Ecologia Tropical”, dirigida em Paris
pelo cientista brasileiro Josué de Castro, então presidente do Conselho Executivo da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Castro convidou
Arthur Ramos a escrever o primeiro volume da Coleção, dirigida a leitores europeus,
com o objetivo de esclarecê-los sobre a importância do mundo tropical, não só pela
riqueza de elementos naturais (florestas, água potável), como pela população mestiça
que habita e constrói esse universo plural, onde a humanidade vive a concretude das
relações étnicas e culturais, desde o século XVI.
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A partir de “O Negro Brasileiro: Etnografia religiosa e psicanálise”, até
“Mestiçagem no Brasil”, Ramos produzirá extensa bibliografia sobre temas ligados a
raça, cultura, adaptação cultural, sincretismo religioso e, finalmente, as relações entre
racismo, violência e guerra, quando da explosão, de 1939 a 1945, dos conflitos
generalizados na Europa, Ásia e África, com envolvimento das Américas.
1942 - “A Aculturação Negra no Brasil.” São Paulo, Cia Editora Nacional (Biblioteca
Pedagógica Brasileira. Série V: Brasiliana, vol 224) 376 p.
1944 - “Las poblaciones del Brasil” México. Fondo de Cultura Econômica. 212 p
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1946 - “A mestiçagem é favorável ao Brasil”, in Revista Brasileira da Medicina Pública
nº 10, ano II, Rio de Janeiro, novembro-dezembro, 5-23 p.
1952 - “Le métissage au Brésil”. Paris, Hermann et fils Éditeurs. 142 p (Edição
póstuma)
1943 - “Escola livre para o estudo das ciências do homem e da cultura”, in O Jornal.
Rio de Janeiro, 13/6
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S/d - “Ainda Gobineau” ( Coluna Movimento Cultural do Jornal Diretrizes, do Rio de
Janeiro) (FBN – Seção de Manuscritos: Arthur Ramos – Inventário Analítico)
38, 4, 32
S/d - “Mito do século XX. FBN, Seção de Manuscritos: Arthur Ramos – Inventário
Analítico. 38, 4, 52
S/d - “As origens feudais do racismo”. FBN, Seção de Manuscritos: Arthur Ramos –
Inventário Analítico. 38, 4, 54
1948 - “Qual será o destino da raça negra no Brasil?”, in Gazeta – São Paulo, 05/10
S/d - “Os racistas e Guilherme II”. FBN, Seção de Manuscritos: Arthur Ramos –
Inventário Analítico. 38, 4, 63
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os testes de QI empregados na avaliação dos alunos da Rede Pública, muitos dos quais
eram classificados como anormais, o que os impedia de freqüentar as escolas, por serem
vistos como incapazes de aprendizado.
Abrindo prontuário para cada aluno, Ramos incorpora o estudo das condições
sócio-econômicas de suas famílias, ampliando os elementos componentes do perfil
classificatório dos estudantes. Com essa metodologia o foco de análise do rendimento
escolar estudantil ultrapassa os dados exclusivamente biológicos, o que leva a uma
revisão drástica dos diagnósticos estudantis das escolas, numa proporção significativa.
Bibliografia
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(Org) Forasteiros Construtores da Modernidade. Rio de Janeiro, Editora
Terceiro Tempo, 2003. p 40-65
Sarmento, Carlos Eduardo – “O Rio de Janeiro na era Pedro Ernesto. Rio de Janeiro,
F.G.V, 2001