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O ESPETÁCULO
DAS RACAS
CIENTISTAS, INSTITUIÇÕES
E QUESTÃO RACIAL NO BRASIL
1870-1930
1871 Começa, com a Lei
do Ventre Livre, o desmantelamento
do escravismo e a construção de instituições
assentes em uma igualdade política.
A hierarquia social vai encontrar refúgio
e apoio ideológico em um discurso racial.
O Brasil, de 1870 a 1930, é assim,
a um tempo, liberal e racista: racismo
de folhetim, sorvido de manuais
1
e de autores de segunda categoria,
e talvez por isso mesmo tão
abrangente. Mas as mesmas teorias
que servem à hierarquia interna
condenam, por ser mestiço, o país ao
fracasso: nos jovens centros brasileiros
de saber histórico, jurídico e médico, a
ambição de se constituir uma nação viável Lilia M oritz Schwarcz é professora
será resgatada, através de acomodações livre-docente no Departamento de
sui generis das doutrinas racistas. E o Antropologia da Universidade de São
grande mérito de Lilia M oritz Schwarcz: Paulo. Publicou os livros: Retrato em branco
ter percebido a importância dessas e negro - Jornais, escravos e cidadãos
doutrinas no Brasil de fins do século XIX em São Paulo no final do século XIX;
em sua curiosa mestiçagem com o As barbas do Imperador - D. Pedro II,
liberalismo, e ter evidenciado, com talento um monarca nos trópicos (prêmio Jabuti
e etnográfica perspicácia, a desenvoltura 1998); O Império em procissão - Ritos
dos intelectuais no manejo eclético de e símbolos do Segundo Reinado; 1890-
correntes científicas, para a maior glória 1914 - N o tempo das certezas (com
da nação. A país mestiço, ciência Angela M. da Costa); Racismo no Brasil;
mestiça. e A longa viagem da biblioteca dos reis
(com Angela M. da Costa e Paulo Cesar
M anuela Carneiro da Cunha de Azevedo). O rganizou os livros Raça
e diversidade (com Renato Queiroz);
Negras imagens (com Letícia V. Reis);
Antropologia e história — Debate em
região de fronteira (com Nilma L. Gomes);
e o quarto volume da coleção História
da Vida Privada no Brasil. O espetáculo
das raças foi editado nos Estados Unidos
em 1999, pela Farrar, Straus & Giroux.
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ISBN 85-7164-329-6
9 788571 643291
Copyright © 1993 by Lilia M oritz Schwarcz
Capa:
H élio de A lm eida
Preparação:
M areia Copola
índice onom ástico:
B eatriz Calderari de M iranda
Revisão:
Cecília Ram os
Carmen S. da Costa
Bibliografia.
ISBN 85-7164-329-6
93-2040 CDD-305.80981
2004
A gradecim entos..............................^.............................................. 9
Introdução: O espetáculo da miscigenação............................ 11
U m a H is tó r ia d e
“ D ife r e n ç a s e D e s ig u a ld a d e s ”
A s d o u t r in a s r a c ia is d o s é c u lo X I X 1
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E N T R E A E D E N IZ A Ç Ã O E A D E T R A Ç Ã O
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UMA HISTÓRIA DE DIFERENÇAS E DESIGUALDADES
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UMA HISTÓRIA DE ‘D I F E R E N Ç A S E DESIGUALDADES
N A T U R A L IZ A N D O A S D IF E R E N Ç A S
A emergência da “raça”
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UMA HISTÓRIA DE “ DIFER ENÇAS E D E SIG UA LDA DES”
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GONSUMPTION AND O VHER MAL ADIES
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E studos de
craniologia técnica
(Curso de frenologia,
1836, Bruxelas)
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M useus de frenologia
UMA HISTÓRIA DE ‘‘D I F E R E N Ç A S E D E SIG UA LDA DES’
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Crânios das catacumbas egípcias {G. M orton, 1844)
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UMA HISTÓRIA DE DIFERENÇAS E D E SIG UA LDA DES’
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w a r n in g o f r e m e d ia b la f a n lt» in d n v n lo p r a e n t, o r to
le a r n th « i r p o w e r» .
a. F o r k e e p io g a m e tb o d ic a l r e g ia t e r o f t h e p r i n
c ip a l m e a s u r e m e n t* o f e a c h p e r a o n , o f w h ic h h a
m a y a t a n y f u tu r e tim e o b ta in a c o p y u n d e r r e a s o n -
b e e n te r e d in t h e r e g ia te r . b u t n o t h ia n a m e . T h e
n a m e s a r e in d e x a d in a a c p a r a t e b o o k .
j . F o r t u p p l y i n g I n f o r m a tio n o n t h e m e th o d a .
p r a c tic e , a n d u a e a o f h u m a n m e a s u r e m e n t.
4. P o r a n t h r o p o o te tr ic e x p e r im e n t a n d r e a e a r c b ,
a n d f o r o b ta in in g d a t a f o r « ta tla tte a l d ia c u a a io n .
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/I núncio do Laboratório A ntropométrico de Galton, oferecendo às pessoas a possibilidade
de detectar seus defeitos e virtudes a partir da m edição craniológica
(parte integrante da Exposição Internacional de Saúde,
realizada em Londres em 1884)
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século xix, com as teorias das raças, que a apreensão das “ diferen
ças” transform a-se em projeto teórico de pretensão universal e glo-
balizante. “ N aturalizar as diferenças” significou, nesse momento,
o estabelecimento de correlações rígidas entre características físicas
e atributos morais. Em meio a esse projeto grandioso, que pretendia
retirar a diversidade hum ana do reino incerto da cultura para localizá-
la na m oradia segura da ciência determinista do século xix, pouco
espaço sobrava para o arbítrio do indivíduo. D a biologia surgiam
os grandes modelos e a partir das leis da natureza é que se classifica
vam as diversidades.
Certamente essa não era a única versão que explicava, naquele
momento, as sociedades em seu com portamento. É possível dizer,
no entanto, que os modelos deterministas raciais foram bastante po
pulares, em especial no Brasil.29 Aqui se fez um uso inusitado da
teoria original, na medida em que a interpretação darwinista social
se combinou com a perspectiva evolucionista e m onogenista. O m o
delo racial servia para explicar as diferenças e hierarquias, mas, fei
tos certos rearranjos teóricos, não impedia pensar na viabilidade de
um a nação mestiça. Este já é, porém, um debate que pressupõe a
reflexão sobre a excelência da cópia e a especificidade desta no pen
samento nacional — o que será feito mais adiante.
No entanto, na m edida em que esse tipo de teoria se transfor
mou, no Brasil, em um a espécie de jargão comum até os anos 30,
torna-se quase impossível o estudo da totalidade dos intelectuais na
cionais que opinaram sobre a questão racial. A opção será, dessa
maneira, tom ar os autores não de form a isolada, mas vinculados às
diferentes instituições das quais participavam e que representavam,
por sua vez, seu contexto m aior de discussão intelectual. Nesses lo
cais de pesquisa é que esses “ homens de sciencia” encontravam es
paços privilegiados para a produção de idéias e teorias, e para seu
reconhecimento social. Apesar de diversos em suas características in
ternas, distintos em sua atuação, esses estabelecimentos mostraram-
se apropriados para a compreensão das diferentes interpretações aqui
produzidas e dos próprios pensadores que, no mais das vezes, dialo
gavam entre si, reconhecendo e destacando seus pares. A análise de
diferentes instituições de saber de finais do século xix, entendidas
enquanto instâncias específicas de seleção e consagração intelectual,
propiciará um amplo panoram a das elites ilustradas nacionais da épo
ca, bem como a recuperação da lógica de recriação desses modelos
raciais.
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A b r e v ia t u r a s
IN ST IT U IÇ Õ E S
R E V IS T A S E J O R N A IS
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F ontes e
B ib l io g r a f ia
F O N TE S
B IB L IO G R A F IA
adam s, William
1832 The modern voyager and traveller. London, H enry Fisher son.
a d o r n o , Sergio
1988 Os aprendizes do poder. O bacharelismo liberal na política brasileira. São Paulo,
Brasiliense.
a g a s s i z , Louis (1807-73)
1868 A journey in Brazil. Boston, s. e.
a i m a r d , Gustave
1888 Le Brésil nouveau. Paris, E. D entú editeur.
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