Você está na página 1de 2

Atividade Semana 10 - Teoria da literatura II – poesia

Prof. Tiago Hermano Breunig

Diógenes Lucas da Silva1

No meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra


Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento


Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

A semana de arte moderna de 1922 representou um marco na história da literatura


brasileira, apresentando uma nova forma de enxergar e tratar a arte através da ruptura dos
padrões tradicionais, consagrando assim, essa revolução artística como o movimento
modernista no brasil. Carlos Drummond de Andrade foi um dos maiores nomes da segunda
geração do modernismo, sendo o precursor da chamada “poesia dos 30” que consistia numa
poesia mais madura, com uma abrangência temática em virtude da racionalidade. O poema “no
meio do caminho” foi publicado em 1928 na revista de Antropofagia, e posteriormente foi
publicado juntamente com vários outros poemas no livro “algumas poesias” em 1930.

1
Aluno do 2º período, do curso de Letras - Bacharelado, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
A respeito da forma, é notório que as características estruturais se destoam dos padrões
tradicionais, o que é considerado um traço marcante do modernismo, pois o poema é composto
em versos livres, isentos de metrificações e rimas, composto por 10 versos distribuídos em duas
estrofes, especificamente uma quadra e uma sextilha, com cavalgamento no 5° verso.

Analisando, agora, o conteúdo do poema, é perceptível que há uma redundância na ideia


evocada através da repetição dos versos, evidenciando que os obstáculos que obstruem o
caminho (as pedras), sempre se fazem presente nessa trajetória, ao qual pode ser compreendida
como a própria vida. A ideia de que sempre haverá pedras no caminho, reforçada através da
repetição, demonstra uma reflexão acerca da nossa própria história, sugerindo que somos
viajantes percorrendo e traçando diversos caminhos durante a nossa vida, e em todos eles
haverão pedras, que irão demandar que façamos escolhas de parar diante delas e deixar que nos
impeçam de prosseguir, ou optar por tentar retira-las do caminho e continuar seguindo até
inevitavelmente encontrarmos outras pedras em meio ao nosso caminho.

O verbo “tinha” flexionado no passado, que aparece com recorrência nos versos, denota
um significado de lembrança, presente em todo o poema, no qual é destacado nos primeiros
versos da segunda estrofe, que propõe uma imagem relativa ao cansaço de toda uma trajetória
de vida já percorrida, em que os momentos vividos ficaram para sempre na memória, como
marcas das pedras que um dia obstruíram o caminho, mas que de certa forma, o moldaram e
auxiliaram na trajetória. Os versos ainda sugerem uma interpretação mais pessoal de um
acontecimento traumático na vida do próprio autor, em meios as adversidades já experenciadas
por suas retinas, agora já fatigadas, esse acontecimento destaca-se em sua memória como uma
pedra especifica que esteve em seu caminho e sempre será lembrado como um evento
traumático.

De modo geral, o poema do Carlos Drummond, evoca a imagem da pedra como uma
representação das tribulações que são inerentes a própria vida, e que sempre se farão presentes
em todo e qualquer caminho que decidimos trilhar. Através de uma linguagem simples e
cotidiana, o poema propõe uma reflexão sobre as pedras encontradas em meio aos caminhos já
percorridos, que atrapalharam e tornaram o caminho cansativo, mas que de toda forma,
naturalmente fizeram parte do caminho.

Você também pode gostar