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Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN

Faculdade de Letras e Artes - FALA


Departamento de Letras Vernáculas - DLV
Componente Curricular: Literatura Potiguar
Docente: Alexandre Bezerra Alves
Discente: Deyse Dayane Dantas Freire da Silva
Suiane Alves de Souza

Análise crítica do Poema “Remanescente”, do autor potiguar Jorge Fernandes

Segundo o artigo “DOS PROCESSOS DO POEMA AO POEMA/PROCESSO: O


Vanguardismo Semiológico de Moacy Cirne” escrito por Medeiros (2017) a literatura
impressa do Rio Grande do Norte tem como ponto de partida, um jornal chamado “Recreio”,
que circulou na capital do estado a partir de 1861. Nesse jornal e na revista “ A Tribuna"
foram publicados versos de Lourival Açucena (1827-1907), o primeiro poeta potiguar.
Falamos “literatura impressa” , por que a literatura já estava no meio da população
que, embora a cidade fosse pequena, a vida cultural era bastante agitada com serenatas pelas
ruas da cidade, onde os moradores se reuniam em rodas de violão, e se confraternizavam com
familiares, realizando saraus e apresentações artísticas em suas casas.
As discussões sobre a literatura Potiguar exercem um papel fundamental na formação
do desenvolvimento do indivíduo, não apenas pelo entretenimento dos seus romances, mas
também como uma contribuição para o conhecimento, através da reflexão sobre a vida em
sociedade, sua origem e identidade do povo norte-rio-grandense. Segundo Araújo (2015)

O conhecimento dos autores regionais e das produções destes proporciona o olhar


panorâmico das letras e o desenrolar literário na região geográfica em que o
estudante vive, ou seja, nas proximidades dos discentes, influindo em novas escritas
contextualizadas com os autores pátrios. Além do mais, essa materialidade cultural
representa a identidade literária do estudante, com a qual esse precisa conhecer e
explorar para que possa compreender a formação da sociedade que está à sua volta.
(ARAÚJO et al, 2015, p. 7)

Visto no blog “Natal das antigas” (2020), até 1930, a literatura potiguar focava muito
na poesia, tinha exceções claro, com a criação por exemplo, de prosa ou crônica e o romance
só se popularizou no século XX. Tal escolha pode ter algo a ver com o meio culto potiguar,
que via na poesia uma forma literária maior e que atraia a todos para esta obra.
No Brasil, como lemos na obra “Livro de poemas de Jorge Fernandes”, escrito por
Garcia (2008), é apenas nos anos 1920 que o modernismo começa a tomar forma, na época da
Semana de Arte Moderna, através das influências das vanguardas europeias. A Semana de
Arte Moderna foi realizada de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São
Paulo.
De acordo com o site "PreParaEnem", na publicação escrita por Guimarães, com a
temática sobre o modernismo, a “Semana de Arte Moderna" foi exposta a concentração de
novos direcionamentos, para guerrear com a arte tradicional. Tinham a intenção também, de
ter visibilidade em todo o país, alcançando um máximo de artistas modernistas que não eram
unidos. De acordo com Bosi (1994)

A Semana foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das várias tendências que
desde a I Guerra se vinham firmando em São Paulo e no Rio, e a plataforma que
permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e manifestos,
numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural. (BOSI, 1994, P. 340)

Em conformidade com Candido (1999, p. 68), o Modernismo foi além de movimento


literário, foi uma mudança do ponto de vista nacional, tanto cultural como social, que fez com
o que a sociedade brasileira revisassem o que era considerado “cultura brasileira”. Dessa
forma, “Coincidindo também com outros fatores importantes, como no terreno político e
artístico, gerando assim uma visão de que na altura do Centenário da Independência (1922) o
Brasil efetuava uma revisão de si mesmo, abrindo caminhos para novas perspectivas.”
(CANDIDO, 1999, P. 68). Nas palavras de (CANDIDO, 1999, P. 69).“O Modernismo
Brasileiro foi complexo e contraditório, com linhas centrais e linhas secundárias, mas iniciou
uma era de transformações essenciais.”
Parafraseando a fala de Candido (1999, p. 69), o Modernismo após ter sido
considerado uma afronta ao bom gosto, tornou-se um grande fator de renovação e ponto de
referência da atividade artística e literária no Brasil. Trazendo uma maturidade suficiente para
assimilar com originalidade as sugestões das matrizes culturais, produzindo assim, em larga
escala uma literatura própria brasileira, tendo como contribuição fundamental a defesa da
liberdade de criação e experimentação. Na página seguinte subscreve Candido (1999)

[...] os modernistas valorizaram na poesia os temas quotidianos tratados com


prosaísmo e quebraram a hierarquia dos vocábulos, adotando as expressões
coloquiais mais singelas, mesmo vulgares, para desqualificar a solenidade ou a
elegância afetada. Neste sentido, combateram a mania gramatical e pregaram o uso
da língua segundo as características diferenciais do Brasil, incorporando o
vocabulário e a sintaxe irregular de um país onde as raças e as culturas se misturam.
( CANDIDO, 1999, p.70)

Observamos no site "Toda Matéria" [s.d.], que as características predominantes do


Modernismo estão presentes na linguagem, forma e conteúdo. Contendo uma linguagem
sintética, fragmentada, com predominância da linguagem coloquial, com sintaxe simples e
concisa, tendo um pontuação usada a serviço do sentido, mesmo contrariando a norma-
padrão, com presença irônica e humorística, e principalmente incluindo a liberdade de
expressão. A forma diverge na prosa e no poema, no poema há predominância de versos
livres, na prosa o predomínio é do gênero romance. Os conteúdos tratados no Modernismo
estão ligados a temáticas nacionais, do cotidiano, com revisão crítica do passado histórico-
cultural brasileiro.
Dadas as características do modernismo, apresentamos o autor potiguar, Jorge
Fernandes. Em seus versos podemos observar abordagens sobre o dia a dia dos tempos
passados, mas ao mesmo tempo com o ar da modernização que ocorria na época, observamos
também que não há métrica ou presença de rimas em seus poemas, seus versos dialogam em
formato de sons.
Como afirma o blog “LETRAS IN. VERSOS E RE. VERSOS” publicado por
Fernandes no ano de 2008, a poesia de Jorge incorpora as mais virtuosas pretensões do
espírito modernista. O poema “Remanescente” se destacou e chamou a atenção do poeta
paulista Mário de Andrade, recebendo elogios, destaque que só foi possível graças à relação
favorável que Câmara Cascudo mantinha com os sulistas. Jorge elaborou uma obra poética,
na qual abrange uma realidade poética de todos, pois pontuava a veracidade de situações e
lugares que ele nunca esteve, sendo que o que ele conhecia era apenas a realidade local.
Como citado no título deste texto, realizaremos a análise crítica do poema
“Remanescente”, primeiro poema da obra “livro de Poemas: de Jorge Fernandes.”

REMANESCENTE
(significado: o que restou)

Sou como antigos poetas natalenses


Ao ver o luar por sobre as dunas...
Onde estão as falanges desses mortos?
Observando esses três versos, vimos com a utilização dos termos “antigos poetas” ,
“falange desses mortos” ,o que Jorge pretendeu fazer, foi mostrar a familiaridade do velho e o
novo, o antigo e o atual.
Quando ele diz “como os antigos poetas…” “ao ver o luar da lua” vemos um hábito
do homem em meio a natureza ganhando um ar de eterno (ultrapassando gerações), e como
poeta é preciso mostrar algo que se encaixe em qualquer época em que sua arte seja vista.
quando ele fala "falanges dos mortos" sinaliza a transição do tempo: os antigos poetas se
foram, a procura angustiante permanece. É esta busca que dá a Jorge Fernandes a consciência
de que permaneceu.
E as cordas dos violões que eles vibraram?
-Passaram…
Sempre mostrando que os antigos poetas e toda sua história já passaram
E a lua deles ainda resplandece?
Por sobre a terra que os tragou
E a terra ficou
E eles passaram!
A lua como já foi citada “Ao ver o luar por sobre as dunas…” afirma que por mais
que os poetas tenham passado e morrido, feito algum marco, algumas coisas e fatores
permanecem o mesmo, a lua brilhar sobre a terra onde os poetas mortos foram enterrados, é
uma delas.
E as namoradas deles?

E as namoradas?
São espectros de sonhos...
Foram braços roliços que passaram!
Foram olhos fatais que se fecharam!
E nesse trecho ja vemos que existem fatores que se foram juntos com eles, que nao se
perpetuam na terra como no poema diz “São espectros de sonhos…”, ou seja, somente as
lembranças das histórias passadas.
Ah! Eu sou a remanescença dos poetas
Aqui analisando esses versos trouxemos o viés considerado um pouco irônico já que
estamos falando de Jorge Fernandes no Modernismo. Quando ele fala que é “a
remanescença” ele quer dizer que é o que que sobrou dos poetas passados, possa ser ser que
não somente cronologicamente, mas como ele cita no início do poema “Ao ver o luar por
sobre as dunas…”, mas também nos hábitos, em como ver o mundo, porém deixando claro
sobre o hoje, o novo,

Que morreram cantando...


Que morreram lutando...
Talvez na guerra contra o Paraguai!
Novamente aqui , novamente podemos ter dois viés, o da ironia e o do sofrimento,
Jorge pode ter ironizado a guerra que ocorreu em 1864 e como ele mostrava o cotidiano da
época, ele escolheu citar este acontecimento.
Também podemos analisar pelo lado de que ele realmente sentiu ou perdeu
companheiros literários por conta dessa guerra e que ele “sobrou”.
REFERÊNCIAS

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AULA:: preservando a identidade cultural e literária. 2015. 12 f. TCC (Graduação) - Curso
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