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identidade brasileira
Apresentação
A antropologia é caracterizada como o estudo holístico, biocultural e comparativo da humanidade
e tem como objetivo geral a investigação da diversidade biológica e cultural humana. Como área do
conhecimento,
a antropologia se estabelece a partir do financiamento das elites europeias, cujas intenções eram
conhecer para dominar os povos
dos países subdesenvolvidos.
No Brasil não foi diferente. Os primeiros estudos nessa área são promovidos por pesquisadores
estrangeiros, mas, com o passar
do tempo, se estabelece uma antropologia genuinamente brasileira.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá como a antropologia se estabelece como área no
Brasil, bem como a sua contribuição para
a compreensão e a constituição identitária do País.
Bons estudos.
Neste Infográfico, você verá alguns cuidados necessários com relação ao etnocentrismo, ao
relativismo e à antropologia sociocultural.
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Conteúdo do livro
O nascimento da antropologia no Brasil se relaciona intimamente com a construção da identidade
brasileira. Os primeiros estudos e pesquisas realizados na área — ainda por pessoas leigas —
contribuíram para a construção da identidade tanto para os brasileiros como para os estrangeiros.
Boa leitura.
ANTROPOLOGIA
DA RELIGIÃO
Antropologia no
Brasil: construção da
identidade brasileira
Adriane da Silva Machado Möbbs
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O objeto de investigação da antropologia é o ser humano e, por isso, ela se cons-
titui como a área na qual investigador e objeto investigado coincidem. Por sua
especificidade e metodologia, a antropologia possibilita a compreensão de nós
mesmos pelo olhar do outro e que nos situemos diante dos diferentes mundos
culturais e sociais, compreendendo-os melhor.
A antropologia surgiu com o objetivo de resolver os problemas e encontrar
soluções para a urbanização, a industrialização e a expansão europeia. Ao contrário
da sociologia, por exemplo, desenvolvida no séc. XVIII para compreender melhor
as sociedades europeias, com o objetivo de um “olhar interno”, para dentro de sua
sociedade, a antropologia foi desenvolvida com foco no “olhar externo”, visando
a melhor compreender os povos colonizados na África, na Ásia e na Américas.
Assim, floresceu por meio de pesquisas financiadas pelas elites europeias, pela
2 Antropologia no Brasil: construção da identidade brasileira
O desenvolvimento da antropologia
no Brasil
No Brasil, a antropologia surgiu entre as décadas 1930 e 1940. Muitos aspectos
favoreceram seu surgimento e desenvolvimento no Brasil, e acabaram por
caracterizar o pensamento antropológico brasileiro por um longo período.
Podemos considerar o alemão Curt Nimuendajú (1883–1945), nascido
Curt Unckel, o “pai da Antropologia brasileira”. Tido como um expoente
em estudos indígenas no País, o etnólogo dedicou mais de 40 anos de sua
vida ao estudo dos povos indígenas brasileiros. Sem formação acadêmica,
mudou-se para o Brasil aos 20 anos e, dois anos depois, juntou-se aos
Apapokuva, povo guarani do interior de São Paulo (atualmente conhecido
como Nhandeva). A partir dessa imersão, que deu origem à obra As len-
das da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos
Apapocúva-Guarani, publicada em 1915, começa o desenvolvimento da
etnologia brasileira. Incialmente, a antropologia era reconhecida por sua
prática e, assim, considerada uma etnologia.
Desde seus primórdios, a antropologia brasileira esteve presa a seus
objetos reais de investigação, como afirma Cardoso de Oliveira (1988, p. 230):
Talvez seja uma ironia adequada a esta disciplina que se quer uma ciência do outro
que ela tenha criado, em quase toda a parte, tradições antropológicas nacionais
fundadas por estrangeiros: Franz Boas nos Estados Unidos, Curt Nimuendajú no
Brasil, Bronislaw Malinowiski na Inglaterra.
As tradições aqui inventadas, se não o foram apenas por estrangeiros, tiveram uma
forte participação deles nessa invenção: se olharmos atentamente o mapa etno-
lógico de Curt Nimuendaju, quase poderemos ver as sombras dos pesquisadores
que as estudaram projetando-se sobre os contornos das comunidades indígenas
por eles estudadas até a década de 40, projeção que nos ajudaria mais, entretanto,
a entender a distribuição deles, pesquisadores, num território disciplinar comum,
do que a de seus objetos de interesse.
Etnografia Etnologia
Exige trabalho de campo para coletar Utiliza os dados coletados por uma
dados série de pesquisadores
Os três momentos são, eles mesmos, exemplares: nas décadas de trinta e quaren-
ta, com a chegada do cinema falado (como lembra Almir de Castro, 1977), entrou
também no país a modernidade da língua inglesa — belas cartas de amigos de
Eduardo Galvão, dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, sugerem o impacto
do modo de vida norte-americano sobre os brasileiros, assim como o registram
os cronistas da época; na década de cinqüenta, o espírito de desenvolvimento
vigente no país se expressou também na institucionalização dás ciências sociais
e, na década seguinte, muitas das iniciativas dos anos anteriores amadureceram,
não obstante os obstáculos políticos conhecidos.
“Brasil e Oceania”, longo texto em que, baseado nos cronistas, ainda que de modo
não exaustivo, apresenta uma descrição dos índios do litoral brasileiro, seguida
de uma descrição resumida das populações da Oceania, para finalmente discutir o
problema de qual das duas populações estava mais apta para receber a civilização
cristã. No fim do trabalho Gonçalves Dias propõe que, ao lado do incentivo à colo-
nização estrangeira, haja uma retomada da catequese dos índios. Gonçalves Dias
não estava à frente das idéias de seu tempo: aceitava uma hierarquia das raças e
admitia, como Martius, que os índios estavam em decadência, não motivada, mas
apenas acentuada pelo contato com os brancos.
O primeiro se refere a uma viagem que realizou em 1863 e contém dados sobre
índios das vizinhanças do Araguaia e Tocantins. No segundo apresenta esboços
de classificação das raças, que hierarquiza, e das línguas indígenas; lendas indí-
genas, sem dizer exatamente quem narrou cada uma, mas indicando que obteve
uma delas em Belém e que coligou outras entre soldados indígenas do Exército.
Defende a ideia de assimilar os índios, aprendendo-lhes a língua para se poder
ensinar-lhes o português, de modo a evitar seu extermínio futuro. Esse cuidado
estaria relacionado à sua previsão de que a seleção natural iria eliminar os índios,
mas aconselhava a se tomar o cuidado de misturá-los com os brancos antes que
isso acontecesse, a fim de que estes criassem resistências ao ambiente físico
do Brasil. O melhor mestiço seria o branco com um quinto de sangue indígena.
8 Antropologia no Brasil: construção da identidade brasileira
Categorias/ Antropologia da
tradições Etnologia indígena Sociedade Nacional
Foi entre os anos 1930 e 1960 que se desenvolveram os estudos acerca das
interpretações gerais do Brasil e os estudos de mudança social, cultural e/ou
aculturação, e quando houve a predominância do funcionalismo no estudo
das culturas e sociedades indígenas. Durante as décadas de 1940 e 1950,
foram realizados os chamados estudos de comunidade, nos quais se realiza
a observação direta de pequenas cidades ou vilas, utilizando as técnicas
desenvolvidas pela etnologia no estudo das sociedades tribais.
Houve, ainda, a abordagem funcionalista do folclore. Entre os vários
trabalhos, destacam-se aqueles realizados por Florestan Fernandes e a pes-
quisa de Cristina Argenton Colonelli, cuja bibliografia arrolou cerca de 4.919
trabalhos sobre o folclore brasileiro (MELATTI, 1983).
Salienta-se a importância de Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Sérgio
Buarque de Holanda e Roberto DaMatta para a antropologia no Brasil, mas
suas contribuições serão abordadas na seção seguinte, em que vamos falar
da identidade brasileira e da antropologia a partir dos anos 1960.
Vejamos um pequeno excerto de sua obra, em que menciona como sabe que é
brasileiro, reunindo várias características de nosso povo e retratando nossa
diversidade cultural (DAMATTA, 1986, p. 16):
Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer
feijoada e não hamburguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros pa-
íses, sobretudo costumes e ideias; porque tenho um agudo sentido de ridículo
para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro e não em
Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo música popular,
sei distinguir imediatamente um frevo de um samba; porque futebol para mim é
um jogo que se pratica com os pés e não com as mãos; porque vou à praia para
ver e conversar com os amigos, ver as mulheres e tomar sol, jamais para praticar
um esporte; porque sei que no carnaval trago à tona minhas fantasias sociais e
sexuais; porque sei que não existe jamais um “não” diante de situações formais
e que todas admitem um “jeitinho” pela relação pessoal e pela amizade; porque
entendo que ficar malandramente “em cima do muro” é algo honesto, necessário
e prático no caso do meu sistema; porque acredito em santos católicos e também
nos orixás africanos; porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no
estudo, na instrução e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada
posso negar a minha família; porque, finalmente, sei que tenho relações que não
me deixam caminhar sozinho neste mundo, como fazem meus amigos americanos,
que sempre se veem e existem como indivíduos!
Como o povo brasileiro era composto por povos oriundos de três origens distintas
— indígenas, europeus e africanos —, muitos estrangeiros acessavam informações
da relação entre esses povos a partir da produção da literatura brasileira sobre
o assunto. E um dos livros de referência foi a obra Casa Grande e senzala, do
sociólogo Gilberto Freyre. Ali, ele apresentou o negro escravizado desfrutando de
certo conforto material, beneficiando-se de regalias e até sendo visto como pessoa
de confiança dos senhores e das sinhás. Portanto, esse livro deixou de lado os
horrores do trabalho compulsório e da relação de submissão dos escravizados,
fazendo crer que houvesse uma miscigenação generalizada, tranquila e natural
entre os índios, brancos e negros. Assim, foi interpretado que, no Brasil, havia uma
democracia racial. ainda que o autor não tenha dito com essas palavras, como se
as pessoas de diferentes origens fossem tratadas e percebidas da mesma forma
(BARROSO, 2017a, p. 82).
Referências
BARROSO, P. F. Cultura e identidade brasileira. In: BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ,
R. Q. de M. Antropologia e cultura. Porto Alegre: Sagah, 2017a. p. 69–78.
BARROSO, P. F.; BONETE, W. J.; QUEIROZ, R. Q. de M. Antropologia e cultura. Porto Alegre:
Sagah, 2017b.
CARDOSO DE OLIVEIRA, R. O que é isso que chamamos de antropologia brasileira? In:
________________. Sobre o pensamento antropológico. Rio de Janeiro/Brasília: Tempo
Brasileiro/CNPQ, 1988. p. 109–129. (Biblioteca Tempo Universidade, 83).
CORRÊA, M. Traficantes do excêntrico. In: ___________. Traficantes do simbólico &
outros ensaios sobre a história da antropologia. Campinas: Unicamp, 2013. p. 15–34.
DAMATTA, R. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
KOTTAK, C. P. Um espelho para a humanidade: uma introdução à antropologia cultural.
8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
MARCONI, M. de A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2010.
MELATTI, J. C. A antropologia no Brasil: um roteiro. Brasília: UNB, 1983. (Série
Antropologia).
Leitura recomendada
OLIVEIRA, M. M. de. Florestan Fernandes. Recife: Massangana, 2010. (Coleção Educadores).
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Na prática
Uma das características presentes na identidade brasileira, ou seja, que faz parte do DNA, é a
diversidade cultural. E a diversidade cultural de uma sociedade é, geralmente, acompanhada da
diversidade religiosa. O sincretismo cultural faz parte da formação da identidade brasileira.
Veja, Na Prática, como João, professor do Ensino Médio, trouxe para uma aula, cujo tema era
antropologia, um exemplo real que une diversidade cultural e sincretismo cultural, dando origem à
identidade religiosa brasileira.
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Antropologia e cultura
Nesta obra, de autoria de Priscila Farfan Barroso, Wilina Junior Bonete e Ronaldo Queiroz, você
compreenderá a história do Brasil e das pesquisas antropológicas aqui desenvolvidas por
antropólogos brasileiros sobre as várias culturas e povos.