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Antes de tudo, faz-se importante apresentar o que é o trabalho de campo e a sua importância

para as pesquisas antropológicas, sendo indispensável ressaltar a visão de Bronislaw Malinowski,


enquanto precursor desta apresentação da metodologia de pesquisas em campos no livro Argonautas
do Pacifico Ocidental; as ideias de François Laplantine, apresentadas no livro "Aprender
Antropologia"; e, sobretudo, as vivências de William Foote-Whyte no livro Desvendando Máscaras
Sociais.
O entendimento antropológico só acontece quando, de fato, o pesquisador adentra o seu
objeto de estudo profundamente. Isso acontece quando, por exemplo, o antropólogo decide estudar um
grupo social de determinado lugar – assim como fez William Foote-Whyte no 3º capítulo, Treinando a
Pesquisa Participante, do livro Desvendando Máscaras Sociais –, o qual precisa viver similarmente o
seu modo de vida, sendo necessário, portanto, aprender a sua língua e os seus costumes, aprender as
suas práticas e viver e entender os seus cenários, resumidamente. Esta familiarização torna-se
importante na prática da pesquisa de campo porque o pesquisador tem a possibilidade de acompanhar
por completo o seu objeto de estudo, fazendo com que a sua pesquisa seja, de certa forma, mais rica
possível e, claramente, se destacando, também, como assertiva.
Ora apresentado o trabalho de campo e a sua importância para as pesquisas antropológicas,
acredito que haja a necessidade de entender o que é a antropologia nas concepções de François
Laplantine, para que, assim, estejam alinhados com o que, de fato, é a antropologia.
Primeiramente, Laplantine acredita na subdivisão da antropologia em 5 grupos: a antropologia
biológica, que consiste nos estudos dos caracteres dos homens no espaço e no tempo: a antropologia
pré-histórica que consiste no estudo dos homens a partir das análises presentes no solo; a antropologia
linguística que consiste no estudo da língua, da expressão dos valores e dos pensamentos das
sociedades; a antropologia psicológica que consiste nos estudos dos processos dos desenvolvimentos
psíquicos humanos; e a antropologia social e cultural que consiste em tudo o que constrói a sociedade.
Além disso, ainda acredita que a antropologia é o estudo do homem por completo, e o estudo do
homem em todas as sociedades, levando em consideração as múltiplas dimensões das relações sociais
e culturais do ser humano, além de, em seu livro, passar pelas transições de pesquisas, pelos métodos
de pesquisas, da antiguidade e do hodierno.

A antropologia não é sendo um certo olhar, um certo enfoque que consiste em a) o


estudo do homem inteiro e b) o estudo do homem em todas as sociedades, sob todas
as atitudes em todos os seus estados e em todas as épocas.
LAPLANTINE, François, 1996, Aprender Antropologia. PP, 16.

Para finalizar, há a importância, de fato, de voltarmos ao aprendizado sobre o trabalho de


campo e, portanto, entendermos o porquê dele ser tão importante para as pesquisas antropológicas.
Em segunda análise, o trabalho de campo, ao mesmo momento que aproxima o pesquisador
ao seu objeto de estudo, ele dá a possibilidade ao antropólogo de conhecer profundamente a cultura,
os costumes, as vivências e as práticas cotidianas de seu determinado grupo de estudos, isso porque
esta metodologia de pesquisa oferta as ferramentas sociais e pessoais, o que gera pertencimento ao
antropólogo dado pelo seu objeto estudado.

O etnocentrismo tem raiz na etnia e traz consigo a pseudo ideia de que a nossa cultura, por
exemplo, é superior a outras culturas e, mais do que isso, apresenta, de certo modo, que nós podemos
julgar o outro a partir de nós mesmo, isso porque temos práticas, crenças e costumes diferentes;
acredita que esta diferença étnica é o que faz um grupo social, uma determinada comunidade, um país,
ou o que seja, ser superior, importante e, até mesmo, o mais correto dentre inúmeras outras
comunidades, fazendo, então, com que o estranhamento do grupo A para o grupo B seja a real e não
relativizado.
E o etnocentrismo acontece porque as pessoas não buscam conhecer outras culturas, a não ser
aprofundar-se mais da sua, e isso, quando buscam, assim que conhecem o mínimo de outra, causa
estranhamento e repúdio – muitas das vezes repúdio, porque o estranhamento, por si, gera inúmeros
conflitos entre o grupo que estranha, o grupo A, e o grupo que está sendo estranhado, por ventura, o
grupo B –, o que, enfatizando, gera amarras, armadilhas, estereótipos deturpados e preconceito sem
fundamentações legítimas no respeito e na inclusão de um povo para com o outro.
As armadilhas do etnocentrismo sempre estiveram enraizadas na sociedade, principalmente na
época do nazimo e do fascismo, em que só, e somente só, a raça ariana era a perfeita dentre todas as
outras etnias/raças. Claramente, isso gerou inúmeros conflitos, como o holocastro, a perseguição aos
judeus – inclusive, pautado inteiramente no Diário de Anne Frank –, mas não só isso: no Brasil ainda
aconteceu a aculturação dos povos indígenas, que foi quandos os ocidentais chegaram às terras
brasileiras e implantaram a sua cultura, as suas crenças e os seus costumes nos nativos, mostrando, à
força, a ideia de que a sua cultura era superior, porque a dos indígenas era estranha – após este triste
processo da história do Brasil, os ocidentais ainda propagaram a ideia de que os indígenas eram
não-civilizados, enfatizando as consequências do etnocentrismo.
Já o relativismo, por outro lado, traz a percepção de que todas as culturas são válidas dentro
de seus costumes e devem ser respeitadas e relativas, porque a compreensão de variação de cultura
deve ser unânime do grupo A para o grupo B. Assim, também, acontece o combate ao etnocentrismo;
mais do que isso: o olhar, o se colocar na cultura do outro para estranhar a sua própria cultura, é o
fator determinante da diferenciação, portanto, entre essas duas ideias contrárias que são o
etnocentrismo e o relativismo cultural.
O relativismo cultural, por outra lógica, apresenta que é possível conhecer outras culturas,
práticas e costumes ao se colocar numa determinada cultura e estranhá-la com o mínimo de
interferência possível da sua.
Portanto, o relativismo é o oposto ao etnocentrismo, porque eles se relacionam nessa linha de
oposição enquanto ideias contrárias. Portanto, um se preocupa unicamente em superiorizar uma
determinada cultura – etnocentrismo – e o outro, porventura, quer relativa-la, em legitimidade do seu
espaço e do seu povo, relativa-la ao lugar em que ela está inserida – relativismo.
O livro "Ritos Corporais Entre os Naciremas", do autor Pedro Rocha de Souza, é uma grande
e belíssima crítica ao etnocentrismo, porque ao mesmo tempo em que o autor apresenta as atividades
cotidianas dos americanos, ele faz alusão a cultura dos indígenas, mostrando que quando as nossas
atividades são relativizadas e exercidas por outros povos, de outras culturas, nós exercemos o
etnocentrismo. O livro ainda respeita as duas culturas e as apresenta, com base no entendimento do
leitor, como válidas, independentemente de suas diferenças.

Em "Aprender Antropologia", François Laplantine, 1943, debruça a navegação extraordinária a


respeito da história da antropologia e de suas origens, resplandecendo na apresentação das mais
diversas tensões encontradas ao longos de seus estudos de antropologia e de como a antropologia,
de fato, é caracterizadas uma ciência social.

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